Denis Winston Brum Daniel Argento
Copyright texto © Denis Winston Brum Copyright ilustrações © Daniel Argento Projeto gráfico e editoração eletrônica Monique Sena Preparação de texto Beatriz Crespo Dinis Revisão Elisa Zanetti Machado Consultoria técnica Rafael Bonel Coordenação Editorial Beatriz Crespo Dinis – Editora Biruta
1a edição – 2010
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip ) (Câmara Brasileira do Livro, sp , Brasil) Brum, Denis Winston
As quatro linhas: a hora da virada
Denis Winston Brum; ilustrações Daniel Argento. --
São Paulo: Biruta, 2010.
isbn
1. Futebol - Literatura infantojuvenil
2. Literatura infantojuvenil I. Argento, Daniel. II. Título.
978-85-7848-047-9
10-04459 cdd -028.5
Índices para catálogo sistemático:
1. Futebol : Literatura infantil 028.5
2. Futebol : Literatura infantojuvenil 028.5
Edição em conformidade com o acordo ortográfico da língua portuguesa.
Todos os direitos desta edição reservados à Editora Biruta Ltda. Rua Coronel José Euzébio, 95 – Vila Casa 100-5 Higienópolis – cep 01239-030 São Paulo – sp – Brasil Tel (011) 3081-5739 Fax (011) 3081-5741 E-mail: biruta@editorabiruta.com.br Site: www.editorabiruta.com.br A reprodução de qualquer parte desta obra é ilegal e configura uma apropriação indevida dos direitos intelectuais e patrimoniais do autor.
Com muito amor para a Cris e a Olinda: obrigado por sempre acreditarem. Denis
oi leitor, oi leitora!
Só de olhar para este livro, você teve certeza de que é uma história sobre futebol, não é? E aposto que, depois de uma espiadinha bem rápida nas orelhas, você concluiu que estamos falando de um pessoal que decidiu montar um time porque cansou das provocações e resolveu dar o troco. Bom, se você já sabe dessas coisas, não preciso falar mais nada! Arranje um lugar confortável – mas não muito perto do campo, para não correr o risco de uma bola que saiu pela lateral acertar o seu copo de limonada – e vire a página. Não espere até o segundo tempo para descobrir o que acontece entre As quatro linhas!
01 As palavras de Matias
– Em agosto acontece a festa de quarenta anos da nossa escola. Teremos
muitos eventos. Eu estou organizando um torneio de futebol. Ele será dividido em duas categorias: a primeira reúne times de sexto e sétimo anos, a segunda é para as equipes do oitavo e do nono. Organizem os times como quiserem, misturem jogadores de turmas e anos diferentes, não tem problema. Claro que os times têm que respeitar as categorias do torneio. Não pode misturar jogador de nono ano em time de sexto e sétimo e vice-versa. Vocês podem inscrever onze titulares e cinco reservas. O torneio é só para os alunos da escola. Escolham os nomes e os uniformes dos times. Importante: tem que ter uniforme! E uniforme numerado! Ou eu desclassifico a equipe e ainda faço pagar cem apoios. Os campeões de cada categoria vão ganhar troféu, medalhas para titulares e reservas e um passeio surpresa. Eu prometi um grande torneio para a diretora Solange. Vocês têm quase dois meses para se organizar. Não me decepcionem. Isso é tudo! O aviso do professor de educação física Matias provocou uma discussão animada entre os guris no pátio de esportes da Escola Estadual de Ensino Fundamental Bento Gonçalves de Rio Raso ou “o Bentinho”, como eles chamavam. Júnior escorou- -se na parede de um dos seis pavilhões que cercavam o pátio de esportes. Arrancou um capim do chão e mordeu. Sabia o que aconteceria agora. Os bons de bola iriam se reunir, mon6
tar o time deles e, então, deitar e rolar sobre os outros. Não ia ter para ninguém. E nem adiantava querer ficar no banco de reservas. Sabia que não o escolheriam. Nunca o escolhiam. E ele não queria. Tinha se cansado da arrogância deles. Dado andou lentamente até Júnior, parecendo cansado. Por ser gordo, Dado sempre parecia cansado. – Acho que a gente vai sobrar nessa – Dado arrastou as palavras. – Com certeza. – Júnior jogou a franja castanha para trás. – Assim sobra mais tempo para a lan house. – Não estou nem aí para a lan house. Júnior irritou-se. Queria dar um tempo nas idas à lan house. Não, não era bem isso. Alguma coisa o estava incomodando e ele não sabia o que era. Ou será que sabia? Matias fazia anotações em sua prancheta, respondendo às perguntas dos alunos com frases curtas e impacientes. Percebeu Júnior e Dado isolados em um canto. Colocou a prancheta embaixo do braço e foi até eles: – Não vão nem tentar participar, não é? Vão ficar aí só reclamando porque não foram escolhidos. Quando é que vocês vão crescer? Atrás de Matias, Hique, que se achava “o cara” do nono ano e do Bentinho, sorria debochado. Júnior ficou quieto, mas Dado respondeu sem pensar: – Eles nunca escolhem a gente, professor. – As bochechas brancas ficaram vermelhas. – E eu não ia escolher também! – Matias disparou impiedosamente. – Vocês não querem se esforçar, só reclamar. De vez em quando a gente tem que levantar a bunda do chão para conseguir alguma coisa nessa vida, sabiam? – Afastou-se. Júnior odiou aquelas palavras mais do que tudo naquela tarde nublada de junho. 7
02 A caminho de casa
Júnior caminhava com a voz de Matias ecoando em seu pensamento: “De
vez em quando a gente tem que levantar a bunda do chão...” Sabia que estava sendo tolo. Não tinham chance. Os craques da escola não os chamariam nem para lustrar o banco de reservas com os calções. Mas, o pior de tudo: Matias havia exposto sua situação. Seu rosto ficou quente ao ouvir tudo aquilo. A bronca de Matias martelava a sua cabeça. Júnior chutou uma lata de Pepsi para Dado. – Devolve. Dado atendeu ao pedido. Júnior estava no nono ano. Mais alguns meses de ensino fundamental, e o jogo mudaria. Chutou a lata. Não queria sair da escola parecendo um mané. Dado devolveu. Se ninguém iria mesmo escolhê-los, eles poderiam escolher a si mesmos. Chutou a lata com força, chegando a sentir dor no dedão. – Vamos fazer o nosso time? – Entusiasmou-se. – Nós? – Dado perguntou abatido. – É. Vamos fazer um time. Entrar no torneio! – A gente só vai perder – suspirou Dado. – Azar. Pelo menos a gente joga. Nesse momento, passou um jipe com Hique no banco do carona e seu irmão mais velho na direção. – Vocês têm mais é que chutar lata mesmo. Não vão ver a cor da bola! Naquele instante, Júnior tomou a sua decisão. 9