luiz antonio aguiar Ilustraçþes
Marta Ignerska
luiz antonio aguiar Ilustrações
Marta Ignerska
São Paulo – 2011 3
Título Bruxas, beijos e outros encantos Copyright texto © Luiz Antonio Aguiar Copyright ilustração © Marta Ignerska Projeto gráfico Monique Sena Coordenação editorial Elisa Zanetti — Editora Biruta 1ª edição — 2011
dados internacionais de catalogação na publicação (cip) (câmara brasileira do livro, sp, brasil) Aguiar, Luiz Antonio Bruxas, beijos e outros encantos / Luiz Antonio Aguiar; ilustrações Marta Ignerska. — São Paulo: Biruta, 2011.
ISBN 978-85-7848-065-3
1. Literatura infantojuvenil I. Ignerska, Marta. II. Título.
10-11209
CDD-028.5
Índices para catálogo sistemático: 1. Literatura infantojuvenil 028.5 2. Literatura juvenil 028.5
Edição em conformidade com o acordo ortográfico da língua portuguesa. Todos os direitos desta edição reservados à Editora Biruta Ltda. Rua Coronel José Euzébio, 95 — Vila Casa 100-5 Higienópolis — Cep 01239-030 São Paulo — SP — Brasil Tel: (011) 3081-5739 Fax: (011) 3081-5741 E-mail: biruta@editorabiruta.com.br Site: www.editorabiruta.com.br A reprodução de qualquer parte desta obra é ilegal e configura uma apropriação indevida dos direitos intelectuais e patrimoniais do autor.
Oi, leitor! Oi, leitora! Atenção! Cuidado! O sujeito que escreveu estas histórias é avô, tem dois netos e 55 anos, mas não é um adulto. Na verdade, ele é um agente infiltrado no mundo dos adultos, que se finge de adulto, mas escreve contos sobre bruxas, beijos e outros encantos. Daí, saem essas coisas: receita de pastel de forno de bruxa... a história de um beijo nervosinho, de um barco aventureiro... de uma carta, com envelope e selo, neste mundo de e-mails e outros cliques... São contos rapidinhos para você rir muito, torcer muito... e se divertir tanto como se estivesse caindo de fazer cócegas num vovô bem grandão. Olha, um último segredo então: tudo o que tem aqui é (quase) de brinquedo!
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S贸 faltava um minuto.
Um minutozinho, nada mais: e agora menos, menos, menos... “Ai, que pena!”, pensou, ao olhar o rosto da meninazinha adormecida. “Ela parece estar tão feliz! Ai... Que pena!” Mas, tinha de fazer o seu trabalho. Sabia — bem que sabia! — a raiva que sentiam dele. “Nunca que um escritor vai escrever uma história e fazer de mim o seu herói. Nunquinha mesmo!”
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Sentia também inveja da menina. Do rostinho de quem estava sonhando. Um sonho gostoso. “Como seria?” Só que ele tinha de fazer... o que tinha de fazer. Por quê? Por que tinha de fazer o que logo faria? Não sabia direito. Algo dentro dele. Não dependia dele, da vontade dele. Era como... se uma coisa estivesse dentro dele. Daí, de repente, feito um susto, a coisa era solta... E ele fazia! “Pobre menina!” Tão feliz ainda. Sem saber que faltavam somente uns segundozinhos. “Uns segundozinhos de nada! Que pena, que pena!” Mas não havia o que pudesse fazer. Se pudesse segurar o tempo, segurava. Mas (logo ele!) não podia. Era o tempo que o punha para andar. E, já bem agora, ele sentia: o tempo dentro dele, todo ansioso, mal-podendo esperar, cochichando: Quase lá! Quase lá! Então: menos tempo, menos, menos... Tá na hora! “Sinto muito, meninazinha!”
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m a r c o o a r
[para Marisa]
Ele era um barquinho de papel.
Se fossem lhe perguntar, diria que surgiu no mundo sendo do jeito que era. Tanto que tinha certa ideia do que fosse o mar. Do que fosse o vento, o balanço das ondas, os murmúrios dos peixes, subindo lá das profundezas. Sim, ideia de tudo isso, ele tinha. Nunca pensou em perguntar de onde vinham essas ideias, nem onde estavam o mar, que não molhava seu casco, o vento e as ondas, que não o faziam balançar de um lado para o outro, nem os peixes, que não vinham cumprimentá-lo. O fato de ser de papel não lhe parecia estranho. Barco era, barco sempre foi o que quis ser. Quando barco nasceu, já nasceu sabendo ser barco, e mais nada. E se ali, naquela superfície onde estava atracado, via-se cercado de objetos nada marítimos, nem ligava. Ora, não os conhecia! Eram canetas, um bloco de notas de folhas sem pauta — daquelas boas para se fazerem barquinhos de papel quando não vêm outras ideias — e um computador emburrado, que não aguentava mais de tanto seu dono, um escritor maluco, escrever, ler, reler em voz alta, reescrever de novo e de novo... uma história sobre barcos atravessando mares, nos quais ele, o escritor, jamais havia estado.
Mas o barquinho de papel nada tinha a ver com isso. Barco era, no mar navegava, e nada mais lhe dizia respeito.
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