Meu amigo indiozinho

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Dados Internacionais para Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil) Aguiar, Luiz Antonio Meu amigo indiozinho / Luiz Antonio Aguiar, — São Paulo : Biruta, 2008.. ISBN 978-85-7848-007-3 1. Literatura infanto-juvenil I. Título. 08-05486 Índices para catálogo sistemático: 1. Literatura infanto-juvenil 2. Literatura juvenil 028.5

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Apresentação


Crianças que chegam à escola, ao bairro e são olhadas com desconfiança e curiosidade por todos. Quem não viveu, viu em algum filme, ou leu num livro, uma situação como essa? Em Meu amigo indiozinho, Luiz Antonio Aguiar — autor premiado de extensa obra voltada para o público infantil e juvenil — aborda, com sensibilidade, a chegada de um grupo de crianças indígenas em uma escola situada em algum rincão de nosso extenso país. Ao falar de inclusão, aborda, por extensão, o outro lado da história: exclusão, preconceito, ignorância. O que sabemos sobre a diversidade de povos indígenas no Brasil, suas culturas, suas línguas? O que conhecemos das suas lutas pelo direito a terra e a uma escola diferenciada? Durante séculos, prevaleceu a ideia de integração. O conceito de inclusão propõe uma revisão: incluir é respeitar as diferenças. E, no caso das escolas diferenciadas, a garantia é de uma educação bilíngue, com professores indígenas. No momento em que a lei 11.465/08, amplia a 10.639/03, que instituiu o estudo da cultura afrobrasileira e africana nas escolas, preconizando também o estudo da história e da cultura indígena, nada como uma bela história de amizade e respeito para nos fazer pensar em todas essas questões. Mas, muitas leis, como sabemos, para saírem do papel têm de antes tocar corações e mentes. E essa é uma das funções primordiais da literatura. Rogério Andrade Barbosa


Foi logo na primeira semana de aula que os indiozinhos chegaram na nossa escola. Eles estavam do lado de fora, a um tanto de distância do portão, olhando a gente entrar. Achei gozado que eles estavam tão grudados uns nos outros, que alguns tinham de esticar a cabeça para nos espiar. A gente foi passando por eles e estranhando, olhando para eles, eles olhando para a gente, alguns deles assustados, outros de olhos tão arregalados que era como se estivessem com fome. Tinha um índio mais velho com eles. O rosto todo enrugado, como se fosse casca de árvore. E ele estava mesmo imóvel como se fosse uma árvore, plantada ali naquele chão. Uma árvore muito, muito antiga. Quase dessas que fazem mágicas. Nem sei dizer para onde o índio velho estava olhando. Parecia que viera tomar conta dos pequenos.


Minha mãe balançou a cabeça bem quando passamos por eles. Não gostou nada de ver os indiozinhos ali. — Não sabia que eles já vinham hoje ­­— disse ela. — O pessoal da escola devia ter avisado a gente. E ela disse isso num tom de quem não queria mesmo é que eles tivessem vindo nem naquele dia nem em dia nenhum. Fiquei envergonhado, pensando que um dos indiozinhos, ou o índio velho, poderia escutar minha mãe e ficar ofendido. Que deu para ouvir, deu, sim, mas eles nem piscaram. Minha mãe me empurrou depressa para atravessar o portão e entrar na escola. Ela não era a única mãe a olhar com cara feia para os indiozinhos.


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