Limeriques dos tremeliques Tatiana Belinky ilustraçþes Rubens Matuck
Tatiana: um pratinho de céu Tatiana apareceu na porta da casa dela toda de papisa, traquinas, puríssima de afetos. E eu vi. Tatiana escreveu um livro, depois outro, mais de cem. E eu li. Tatiana me disse, nada baixinho, para “não se levar a vida a sério”. E eu quis muito ouvir e ouvi. Tatiana toda de Tatiana me acolheu de cor-de-rosa na casa dela. E eu entrei feliz como quem entra numa história sem fim. Na casa de Tatiana tem de tudo, é só procurar, mas sem lanterna. Só “com olhos de ver”. Magia? Quem sabe, mas que tem, tem. Tem “ogro”, “rabanetes enormes”, “caracol e lesma” apaixonadíssimos, cadeiras voadoras, as “Mentiras e mentiras” mais verdadeiras do mundo. Tem tanta coisa. Tem sol mesmo nos dias de chuva, tem chá, chocolate, licor, a casa de Tatiana é toda de sabor. Tem uma biblioteca enorme e é por isso que a casa dela “tem alma”. Tatiana lê em cada brechinha do tempo o tempo todo. Ela rabisca o tempo com uma caneta bic ou com uma máquina de escrever que fica sempre acordada no seu colo. É possível ouvir os livros conversando silenciosamente com ela e sai deles “pó de pirlimpimpim” que é o jeito de ela ler. Na casa de Tatiana tem imaginação que não acaba mais. Vem da vida, sua única inspiração. E é por isso tudo e muito mais que nem dá para escrever que Tatiana é “um pratinho de céu”, como seu pai dizia pra ela quando uma parte deliciosa da vida estava quase-quase na palma da mão da gente, pronta para acontecer. “É misterioso viver e é tão simples”, Tatiana me diz sem palavras e eu escuto com tudo. Clarice Lispector escreveu que “Dar a mão a alguém é tudo que esperei da alegria”. Tatiana não espera, ela é a alegria. Uma vez ou outra, um pouquinho triste, mas alegria mesmo. “Tatiana, posso ficar mais um pouco com você?” Ela me olha abrindo uma outra porta para o mundo e nem precisa dizer que sim. “Que bom, Tatiana, você nasceu de uma varinha mágica, mas existe aqui tão perto de nós”. Tatiana virou as costas, não gosta de muito lenga-lenga. E eu entendi. É agora mesmo que eu vou ler os “Limeriques dos tremeliques”, os “Bicholiques” dizendo sempre para Tatiana “Sete vezes sim”. Jorge Miguel Marinho
Um poema que é “Limerique” Pode ser bem brega ou ser chique Mas quem fala agora Alto e sem demora Com vocês, sou eu, o “tremelique”.
Eu ataco os preocupados Nervosinhos, meio assustados, Que olham em redor Com certo temor Volta e meia sobressaltados.