Série Os Invencíveis
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o mistÉrio da ilha de d. joão vi
Ana Cristina Massa
O Mistério da ilha de d.joão vi Série Os Invencíveis
São Paulo, 2009
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o mistério da ilha de d.joão vi
Copyright © Ana Cristina Massa Capa Rex Design Revisão Sandra Miguel Editoração Eletrônica Rex Design Coordenação Editorial Editora Biruta Fotografia Nando Dias – Ilha de Paquetá Kleber Saba – Imagens cedidas pelo Real Gabinete Português de Leitura Dados Internacionais para Catalogação na Publicação (CIP) do Departamento Nacional do Livro M414
Massa, Ana Cristina. O mistério da ilha de D.João VI / Ana Cristina Massa. – São Paulo : Biruta, 2009. 160p. ; 21 cm. – (Os invencíveis) ISBN978-85-7848-041-7
1. Literatura infanto-juvenil. I. Título. II. Série Os invencíveis)
CDD-808.899282 Todos os direitos desta edição reservados à Editora Biruta Ltda. Rua João Moura, 166 – Jd. América 05422-050 – São Paulo – SP – Brasil Tels.: (11) 3081-5741 / 3081-5739 E-mail: biruta@editorabiruta.com.br Site: www.editorabiruta.com.br A reprodução de qualquer parte desta obra é ilegal, e configura uma apropriação indevida dos direitos intelectuais e patrimoniais do autor.
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Sumário
Fim dos Invencíveis...
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Piratas e corsários
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O segredo da escultura
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Encontros e desencontros
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A ilha misteriosa
91
Louca perseguição
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Enganos e trapaças
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De tocaia
155
“A gente não vê tudo”
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Bzzzzzz
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Fim dos Invencíveis...
Jonas teve dificuldade para sair da cama. Acordou
assustado e ainda sonolento. Ele apoiou os pés no chão e segurou o joelho esquerdo, que latejava de dor. O chão de pedra guardava sempre uma temperatura fria. Os dedos se encolheram, mas ele teimou em andar mesmo assim. Um passo após o outro, devagar, finalmente chegou até a sala. O som nervoso da campainha era alternado por toques curtos e compridos, como uma música sem nenhum ritmo. Jonas não podia andar mais rápido, então só restou gritar: – Calma aí!! Já vai!! Calmaaaaaaa!!! O som parou imediatamente. Ele abriu a porta, com o rosto duro, uma mistura de raiva e dor: – O que foi, seu Cesário? Tanta pressa para quê? O porteiro era antigo no prédio, querido por todos os moradores. Era um homem calmo e muito competente:
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– O seu amigo deixou esta carta para você. Disse que era urgente... Carta?....O que aconteceu com o e-mail, garoto??? Jonas não prestou a menor atenção ao comentário do porteiro. Ele estendeu a mão e pegou o envelope: – Quem? – O Eugênio. – E por que ele não subiu? – Não sei, ele estava esquisito, com os olhos inchados. Disse que era urgente, e só. Jonas olhou para o envelope, não tinha nada escrito nele. – Você andou brigando, meu filho?? Foi com o Eugênio, não foi? – Como assim, seu Cesário? – Ele também se machucou, tem um curativo no braço e uns arranhões no rosto, mas você está pior. Como pode? Dois amigos brigando... Sua mãe sabe disso? Enquanto o porteiro falava sem parar, Jonas buscava qualquer lembrança dessa briga, mas não encontrava nada. Queria ler a carta imediatamente: – Valeu, seu Cesário! Tchau! O porteiro se virou, balançando a cabeça, desgostoso com a briga dos meninos. Jonas fechou a porta, sentou no sofá da sala e achou um bilhete na mesa de centro: Jonas Tem lasanha na geladeira. Precisamos conversar. Volto logo. Mãe
Ele leu o bilhete sem demonstrar nenhum interesse pelas palavras da mãe. Estava com os olhos vidrados na
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carta de Gênio. Mesmo com as mãos suadas, rasgou o envelope com muito cuidado para não rasgar também o manuscrito. Jonas sabia que o assunto era sério. Os Invencíveis sempre usavam telefone, e-mail, ou então se reuniam na casa de um deles para conversar. Cartas e bilhetes só eram usados em raríssimas situações. E ainda por cima o fato de Gênio não subir e de os dois estarem machucados, só piorava as coisas. Jonas fixou os olhos no papel, não queria perder nenhuma vírgula: Meu irmão Estoupéssimo,culpadoetriste.Seiquetodaaresponsabilidadedo queaconteceuéminha.Nãovoumefazerdevítima,muitomenos achar outro culpado. Assumo o que houve. Eu não tive escolha naquele momento, sinto muito. AcheiqueosInvencíveisnuncaacabariam,masestavaerrado.Não posso continuar, não sou líder de mais nada. Fracassei! E logo no nosso mais importante mandamento: “Um por todos e todos por um”. Vou para Petrópolis, ficar com meu avô e com o Barão uns dias. Esquecer tudo! Mostre a carta para a galera. Por mim, mudava de escola, de casa, de nome. Mudava de corpo. Não me procurem mais. Adeus, Gênio
Jonas nem piscava. Não conseguia entender nada, não sabia do que Gênio estava falando. Lembrava de estar numas
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pedras, e do mar batendo. Era noite, e ele sentia os pés escorregando no limo, e só. “Levei um baita tombo”, pensou, enquanto olhava para o joelho todo esfolado. Dobrou a carta com cuidado e guardou no bolso da bermuda que, de tão velha, já era usada como pijama. Esticou o corpo e agarrou o telefone. Ligou para Goma, que atendeu de pronto: – Alô? – Goma! – E aí? Peraí, vou cuspir este chiclete horrível de goiabada com Catupiry. O queijo acabou, sobrou a goiabada, muito doce. Quase enjoei. Pronto. E aí, cara? Como você está? – Não sei... O joelho tá ruim, mas a cabeça tá pior! – Como assim, Jonas? Ih, deixa eu pegar outro chiclete para tirar o gosto de goiabada da minha boca! Hum... deixa eu escolher... – Chega, Goma!!! É sério!! Não lembro direito como eu caí. – Ah, calma Jonas! Eu não sei, acho que você escorregou no precipício, né? Só te vi depois. Foi um baita susto, cara. – Desmaiei? – Pô, foi! A Isa te encontrou desmaiado. – Goma, precisamos conversar. Chama as meninas! Tô indo praí! – Vou ligar para o Gênio também. Aliás, alguém sabe dele?? Jonas deu um berro: – Não!!!! – Como assim, Jonas? – NÃO, Goma! Não liga pra ele! Eu explico depois. Desligou na cara do Goma, que, mesmo sem entender,
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fez o que Jonas mandou. Ele levantou do sofá, suando frio de dor e, quando já estava na porta, encontrou a mãe, chegando: – Oi, mãe! Tchau! Tô indo pra casa do Goma. Ela, que estava com uma cara de “poucos amigos”, fez uma cara de “nenhum amigo”, e puxou-o pela orelha: – Não senhor! Quero saber exatamente o que aconteceu ontem. Você chegou com o joelho neste estado! E com uma cara esquisita! Você brigou?! – Mãe, eu só caí... depois eu... Ela não o deixou terminar: – AGORA! Pode começar, e com detalhes!! Quero ouvir todos os detalhes. Enquanto ela fazia um curativo com bastante gaze e esparadrapo, Jonas pensava numa história que fosse convencer a mãe: – Pô, tava rolando uma pelada, eu tava dominando o jogo, aí... – Ah, foi no futebol?? – Claro, né, mãe! O que você imaginou? Que eu estava num precipício, caí e fui parar no mar? Que eu desmaiei? – Nossa, Jonas! Não precisa fantasiar tanto. Que exagero meu filho! Futebol é assim mesmo. Pronto, acabei com seu joelho. Vamos almoçar? – Ué! Agora que eu ia começar a contar os detalhes da partida?! – Meu filho, eu não vou entender futebol nunca! Um bando de homens atrás de uma bola, comendo os “esses” nas entrevistas, maltratando os verbos... Ah, e a culpa sempre é do juiz ou do bandeirinha!! Malditos impedimentos!
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A mãe do Jonas, Joana, era divertida, sempre de bom humor. Ela adorava a língua portuguesa. Só fazia cara feia quando via alguém, principalmente na TV, falando errado. Corrigia o erro em voz alta, imediatamente. Jonas chegou a pensar que ela talvez entendesse mais de futebol do que ela própria imaginava. Dona Joana olhou para ele com um sorriso esperto, e deu um beijo na bochecha do filho: – Então, chega de futebol. Vamos almoçar? – Agora não, o Goma tá me esperando. Posso ir? A mãe ficou tranquila: – Tá! Vai! Mas não joga bola hoje, hein? Ele concordou com a cabeça e saiu apressado, com o joelho todo enfaixado. Agora, além do joelho doendo e da memória falhando, se sentia ainda pior por ter mentido para a mãe. Mas não teve escolha no momento. Ele se lembrou da carta, Gênio escreveu “não tive escolha”. O que isso significava exatamente? Jonas torcia para que Isa e Sofia se lembrassem mais do que ele próprio. Goma abriu a porta, olhou para o joelho de Jonas: – Ah, achei que você tava pior! Ontem não reparei, tava escuro. – Não é o seu joelho, né?... E você não viu sem a faixa! – Irc...Tá carne viva? – Viva mesmo, latejando e ardendo. Mas vou sobreviver. E as meninas? – Entra, vamos pro meu quarto. Elas estão lá. Era a primeira vez que se reuniam sem Eugênio, mais conhecido por Gênio. Os Invencíveis resolviam tudo juntos,
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cada um sempre dava sua opinião sobre qualquer assunto. A última palavra era do líder, mesmo nos casos mais complicados. E o líder sempre foi Gênio. Isadora chegou à liderança uma vez, no caso do Museu Imperial, mas por pouco tempo. Agora estavam ali, sem a presença do criador do grupo. Jonas entrou no quarto, sentou na cama com uma perna esticada, contorceu o rosto de dor, e pegou a carta do bolso da bermuda. Sofia olhou para o namorado e passou a mão pelo cabelo dele. Jonas olhou para ela e, com um sorriso tímido, abriu a carta. Isa não aguentou a tensão no ar: – O que é isso, Jonas? Ele respondeu com a voz trêmula: – Uma carta do Gênio, Isa. – Do Gênio? Que estranho, Jonas. Cadê ele? Por que ele mandou uma carta? O que diz aí? Jonas olhou nos olhos de Isa, que agora estava bem agitada: – Para, Isa! Antes me diz: o que aconteceu comigo ontem? Na hora que eu caí? O que você viu? Sofia e Goma olharam para ela curiosos, mas Isa congelou: – A gente não vê tudo, só o que os olhos enxergam. Jonas perdeu a paciência: – Essa é a sua resposta?! Não acredito que você está fazendo isso comigo! Goma interferiu: – Ontem ninguém te perguntou nada, mas agora você tem que contar o que viu. Até líder você virou, não foi?! O que aconteceu com Gênio??