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MISTÉRIOS DA
Copyright © 2000 by Marion Villas Boas e Ricardo Vilas
Projeto gráfico e ilustrações Marcelo Pimentel Acompanha encarte do CD Ricardo Vilas canta Mistérios da Pindorama 6ª edição – 2011 Parceria Cultura Mestiça Produções Culturais e Educacionais
CATALOGAÇÃO NA FONTE DEPARTAMENTO NACIONAL DO LIVRO V697m Villas Boas, Marion. Mistérios da Pindorama / Marion Villas Boas; músicas: Ricardo Vilas; projeto gráfico e ilustrações: Marcelo Pimentel. – Rio de Janeiro: CultMix; Biruta, 2000. 64 p.; il.; 21 x 26 cm. ISBN 978-85-87914-02-6 ISBN 978-85-88159-02-0 1. Educação Ambiental – Literatura infantojuvenil. I. Pimentel, Marcelo. I. Titulo. CDD - 808.899282
Edição em conformidade com o acordo ortográfico da língua portuguesa. Todos os direitos desta edição reservados à Editora Biruta Ltda. Rua Coronel José Euzébio, 95 – Vila Casa 100-5 Higienópolis – cep 01239-030 São Paulo – sp – Brasil Tel: (011) 3081-5739 fax: (011) 3081-5741 E-mail: biruta@editorabiruta.com.br Site: www.editorabiruta.com.br A reprodução de qualquer parte desta obra é ilegal e configura uma apropriação indevida dos direitos intelectuais e patrimoniais do autor.
Marion Villas Boas
MISTÉRIOS DA
Músicas Ricardo Vilas Projeto gráfico e ilustrações Marcelo Pimentel Altamente Recomendável Categoria Criança FNLIJ – 2001 The White Ravens Bilbioteca de Munique – 2001
SUMÁRIO TERROR NA MATA.............................................................07 O CURUPIRA......................................................................12 VINGANÇA DE IARA.........................................................18 O BOTO..............................................................................24 INCÊNDIO NA FLORESTA.................................................32 CUIDADO COM A COBRA-GRANDE...............................36 PROTEGENDO OS ANIMAIS: ANHANGÁ........................43 PROTEGENDO OS ANIMAIS: CAAPORA.........................46 A MORTE DO ARAGUAIA.................................................50 PRECE A TUPÃ...................................................................56
PREFÁCIO
Q
ue prazer aprender ecologia nas lendas e histórias do folclore brasileiro! E ainda mais musicadas com o talento de Ricardo Vilas, permitindo um cantar coletivo das aventuras dos personagens mitológicos da nossa cultura regional, como o Curupira, o Saci-Pererê e o Caapora, defendendo nossas florestas, fauna, rios. Esta concepção moderna e arrojada da autora Marion Villas Boas rompe com a tradição árida da “decoreba” e introduz elementos lúdicos, atrativos, na educação ambiental. Nos contos e canções, as entidades místicas das florestas intervêm, com seus poderes misteriosos, enfrentando agressões à flora, aos bichos, aos mananciais, cometidas por agentes gananciosos e especuladores, semelhantes às que sucedem na vida real e que implicam a destruição criminosa da natureza. As estórias estimulam a imaginação criativa e mostram que a soma das vontades pode fazer algo em defesa da vida, que o esforço coletivo pode mais que o desânimo ou o individualismo na preservação dos ecossistemas e espécies ameaçadas. As lendas e músicas nos fazem passear pelas diferentes regiões do país, revivendo o mito e a beleza de Iara, rainha das águas, enfrentando a contaminação dos rios e igarapés pela poluição dos garimpos. O fantástico e sensual Boto dos rios amazônicos, que se transforma em rapaz e seduz as moças, combate com sagacidade o tráfico de tartarugas. As queimadas que destroem as florestas e os bichos são fiscalizadas e impedidas pelo Boitatá. A caça predatória no Pantanal é enfrentada pelo Caapora, índio imenso e destemido que ilude e apavora os caçadores clandestinos. A mensagem que permeia estas façanhas dos heróis de nossa mitologia é clara: se Saci, Iara e Curupira fazem a sua parte, temos que fazer a nossa, com consciência e determinação. Assim, de forma muito agradável e original, os Mistérios da Pindorama nos encantam, instruem e nos convocam para as atividades de defesa do meio ambiente. Isso tudo em cenários reais e imaginários da rica biodiversidade das regiões do Brasil, contados em verso e prosa, com as cores da imaginação e da tradição oral e escrita do folclore brasileiro.
Carlos Minc CARLOS MINC é professor adjunto do Departamento de Geografia da UFRJ, doutor em economia regional pela Sorbonne, prêmio Global 500 da ONU para o meio ambiente. Deputado estadual pelo PT do Rio de Janeiro, atualmente, é secretário estadual do Meio Ambiente. Autor de seis livros, dentre os quais o paradidático Ecologia e Cidadania, pela Editora Moderna.
TERROR NA MATA
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ra uma vez... Assim começam as histórias, não é? Pois esta também começa assim: era uma vez, há muitos e muitos anos, uma terra cheia de palmeiras, tão linda, tão linda, que seus habitantes a chamavam de Pindorama, a Terra das Palmeiras. Coberta de matas, cortada por rios, com extenso litoral, a terra oferecia aos homens que ali moravam as condições necessárias para viver com seu trabalho, em harmonia com a natureza.
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Mas outros homens vieram, de terras distantes, e, ambiciosos, começaram a explorar a rica Pindorama, dela tirando tudo que podiam. Eram os brancos de Portugal, da França, da Inglaterra, até da Holanda! O tempo foi passando e, sempre, as riquezas de Pindorama eram exploradas, sem que os exploradores se importassem com o que ia ficando para trás. Com o correr dos tempos, os homens brancos foram dominando tudo, matando muitos dos índios que ali habitavam, para invadir suas terras. Até que acabaram, também, misturando-se com os índios e com os negros que vieram da África, mais tarde, para trabalhar como escravos. Criaram um novo povo: o povo brasileiro. Mas a destruição continuava... Cidades foram surgindo, cada vez maiores. E as florestas, diminuindo, diminuindo... e chegou um tempo em que até esse restinho de mata está correndo o risco de desaparecer... E, agora, os povos das matas estão em pânico! Por toda parte, a invasão, a morte, a destruição! O fogo crepita nas queimadas, as motosserras falam mais alto que os ruídos da floresta. Onde havia árvores, hoje surgem pastos sem fim, ou solos áridos onde a vida é impossível. As estradas rasgam a mata virgem e deixam a terra nua. As árvores, muitas vezes centenárias, tombam junto com a vegetação exuberante, dando lugar à devastação. E os rios? Numa região em que eram a própria vida, fertilizando o solo, abrigando os peixes, base da alimentação daqueles povos... bem, os rios agora carregam o mercúrio, resultado dos garimpos, veneno que mata os peixes e os homens que comem os peixes. E muitos outros “lixos” são jogados nos rios e lagos da região, poluindo suas águas. Os animais estão fugindo; muitos adoecem e morrem. Não há mais o que pescar; não há mais o que caçar... E agora? Índios e sertanejos choram a perda de suas aldeias, de seus roçados, de seu modo de viver... e choram a morte de filhos, parentes e amigos, por fome e doenças antes desconhecidas, que não sabem de onde vêm. 10
– Deus! O que esta acontecendo? Para onde fugir? Nunca conseguem prever de onde vem o perigo. Ele surge, de repente, ora como máquina barulhenta, que tudo arrasa em pouco tempo, ora como explosão, jogando tudo para o ar, ora como o fogo que devora ou como a água que inunda... – É o terror! O mundo vai se acabar! Os povos das matas não compreendem o que está acontecendo. Até então, homens, plantas e animais conviviam em harmonia, respeitando o espaço uns dos outros. Quando isso não acontecia, tinham várias formas de resolver os conflitos. Mas agora... agora, não sabem o que fazer. Como lutar com um inimigo de mágica tão forte? Não; contra ele não têm defesa! – Tenho uma ideia! Vamos fazer uma grande assembleia, convocar todos os povos das matas! – falou o cacique de uma tribo. – É isso mesmo; vamos reunir todos para encontrar uma saída!
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E todos foram chamados: E a motosserra serrando... Cada árvore vai tombando: maçaranduba, aroeira, cerejeira, jatobá, pau-ferro, jacarandá... ...e o deserto em seu lugar.
Alerta, mata! Alerta, mata! O homem vem desmatar. Alerta, mata! Alerta, mata! O homem vem devastar! Bem-te-vi trouxe a notícia, contou para o Sabiá. Cambaxirra, Jacutinga, Juriti-da-mata-virgem por toda parte voaram, para o aviso espalhar.
Basta! Ecoa o grito. Por toda parte se ouviu. O povo que habita a mata pra luta se reuniu.
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E assim, num entardecer, numa clareira preparada pelas árvores, aconteceu uma assembleia nunca vista: homens e bichos, juntos, para discutir seus problemas. De toda parte chegavam índios, negros e caboclos. Onças pintadas, guarás, jaguatiricas, cutias, pacas, tatus, capivaras, antas e tamanduás; araras e seriemas, uirapurus, sabiás... animais de todo tipo vieram também protestar. Primeiro, narraram suas experiências. O problema era geral: quando não era o fogo, era a explosão, ou o veneno, ou a motosserra... mas ninguém sabia quem era o responsável. Como iriam se proteger de um ser tão poderoso e sobrenatural? Foi aí que o velho pajé de uma tribo falou: – Só tem um jeito. Nóis tem que chamar os protetô das matas. – Mas isso é muito perigoso! Eles num gosta de sê chamado assim. Eles é que escolhe a hora de aparecer! – Num tem perigo. Nóis vai chamá eles de acordo cum os rituá. Cum a batida do atabaque! Assim eles vêm. – É, cum a música que eles gosta, tarvez eles vêm. – E se eles ficá zangado cum nóis? – Se nóis tudo morrê, eles morre também... E, assim, convocaram as entidades mágicas, nativas e protetoras da floresta, cada qual com seu ritual de chamada. Estavam com muito medo. Qual seria a reação delas? As entidades poderosas vão chegando, uma a uma, desconfiadas: o Curupira, o Caapora, o Boitatá, o Saci, a Iara e muitas outras. A princípio reticentes e arredias, elas logo perceberam que sua própria existência, somente real no imaginário daqueles povos, está também ameaçada. E prometeram tomar providências. Afinal, quem são esses novos deuses que pensam poder destruir assim seus protegidos? Se você quer saber o que aconteceu então... leia as outras histórias.
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