Série Os Invencíveis
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Ana Cristina Massa
O SEGREDO DO COLECIONADOR Série Os Invencíveis
Copyright © Ana Cristina Massa
O SEGREDO DO COLECIONADOR
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Capa e projeto gráfico Rex Design Revisão Elisa Zanetti – Editora Biruta Editoração Eletrônica Monique Sena Coordenação Editorial Editora Biruta Fotografia Ismar Ingber 2a edição – 2007
Dados Internacionais para Catalogação na Publicação (CIP) do Departamento Nacional do Livro M414 Massa, Ana Cristina. O segredo do colecionador / Ana Cristina Massa. – – São Paulo : Biruta, 2006. 160p. ; 21 cm. – (Os invencíveis) ISBN 978-85–88159–54–9
1. Literatura infantojuvenil. I. Título. 06-1232 CDD-028.5
Índices para catálogo sistemático 1. Literatura infantojuvenil 028.5 2. Literatura juvenil 028.5
CDD-808.899282
Edição em conformidade com o acordo ortográfico da língua portuguesa. Todos os direitos desta edição reservados à Editora Biruta Ltda Rua Coronel José Eusébio, 95 casa 100-5 Consolação CEP 01239-030 São Paulo - SP Brasil Tel (11) 3214-2428 Fax (11) 3258-0778 E-mail biruta@editorabiruta.com.br www.editorabiruta.com.br A reprodução de qualquer parte desta obra é ilegal e configura uma apropriação indevida dos direitos intelectuais e patrimoniais do autor.
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Sumário
MAU COMEÇO 07 MANIAS DE PROFESSOR17 “SIGA AQUELE CARRO” 21 UM LIVRO DIFERENTE 31 O SEGREDO DA PASTA VELHA 45 DESCOBERTAS E DESCOBERTAS 55 BALADA DO “G” 65 “UM POR TODOS, TODOS POR UM” 75 MISTÉRIO DESVENDADO 87 FUGA DESESPERADA 99 FIM DO PESADELO 111
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mau começo
Eles eram amigos íntimos, os cinco. Gostavam desta intimidade, embora soubessem que não é fácil conquistá-la. Colegas e conhecidos todo mundo tem um monte, amigos também podemos ter vários, mas amigos íntimos, não. Esses são escolhidos com cuidado, fazem parte da nossa vida, conhecem todos nossos segredos. Amizades assim podem nascer na infância ou em qualquer época da vida. Não existe regra, mas uma coisa é certa: intimidade leva tempo, não é de repente, não. É muito bom poder opinar, discordar, concordar e até brigar sem que haja nenhum problema. Com eles era assim. Estavam sempre juntos, nas gargalhadas, nas discussões e, principalmente, na internet. No mundo virtual, não eram Eugênio, Jonas, Goma, Sofia e Isadora. Eram um grupo, um só nome. Ninguém superava os Invencíveis. Ganhavam os jogos mais variados, desde campeonatos de matemática até stop!. Mas, algumas vezes, a intimidade é tanta que pode atrapalhar a amizade. Quando, por exemplo, queremos ficar
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sozinhos, curtindo uma tristeza, e lá está o querido amigo tentando de qualquer jeito nos animar. Ou, então, precisamos conversar, desabafar, e estão todos ocupados. Aí é a hora de entender, ter paciência, saber ouvir e calar. E as situações inesperadas, imprevisíveis? Amigos de verdade têm direitos que os outros não têm. Podem até dar um telefonema no meio da madrugada, interrompendo o sono e despertando o mau humor do outro. Quinta-feira, 2h O telefone tocou com insistência. Depois de algum tempo, Eugênio, ou melhor, Gênio, atendeu, com voz rouca e preguiçosa: – Alô? – Gênio? Cara, desculpa a hora, mas amigos são para essas coisas, né? Te acordei? – O que você acha? Claro, né, Jonas! O que aconteceu? – Insônia, não consigo dormir de jeito nenhum... já tentei de bruços, barriga pra cima, perna dobrada, esticada... Gênio acendeu a luminária ao lado da cama: – Agora somos dois com insônia! Eu não acredito que você me acordou por isso. Vai ler um livro, ver TV, ou contar carneirinhos, mas me deixa dormir! Jonas tinha a voz embargada: – Gênio,... eu tô com medo. Gênio sentiu uma aflição na voz de Jonas. Era realmente estranho. Se ainda fosse o Goma, que sempre fazia drama, tudo bem, mas o Jonas? Admitir que estava com medo?
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Gênio não se importou mais em estar acordado tão tarde: “amigos são para todas as horas, mesmo na madrugada”, pensou. Decidiu acalmar o Jonas: – Cara, foi só um sonho, não foi? Esquece! Jonas sussurrava, sem prestar atenção no que Gênio dizia: – Ele está me perseguindo! E eu não consigo fugir! Fico paralisado! – Ele quem, Jonas? Foi um pesadelo! – Eu não consigo ver quem é!!! Não tem rosto!!! Mesmo sonolento, Gênio tinha uma memória de elefante africano. Ele lembrou que não era a primeira vez que Jonas tinha sonhos esquisitos. Nas férias que passaram em Petrópolis, eles dormiram no mesmo quarto e Jonas teve um pesadelo igual: – Jonas, por acaso esse pesadelo não é aquele?... Antes que Gênio completasse a frase, Jonas interrompeu: – É. Sempre ele. Mas agora acontecem outras coisas. Pouco antes de o homem me pegar, eu ouço uma voz dizendo: você é invisível, não se mexa! – E aí, Jonas? – Nada, ou melhor, eu acordo. Ensopado, sufocado. Não sei o que acontece depois. O que isso quer dizer? Por que esse pesadelo me persegue? Gênio não tinha a resposta, mas teve uma ideia para deixar Jonas mais tranquilo: – Eu acho que você é que persegue o pesadelo. Jonas não entendeu nada: – Como assim?
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– Você fica querendo saber como vai terminar, como se fosse uma história em capítulos. Aí, pronto, sonha de novo! Jonas não se conformou: – Mas eu não quero ter pesadelos. Gênio rebateu: – Mas quer saber o final desse, não quer? Jonas aceitou: – Pô, isso eu quero. Assim ele acaba e não volta mais. – Viu? Esquece isso! Você já desistiu de assistir um filme porque o começo era muito ruim ou, então, não terminou de ler um livro chato? Claro que já, né? Jonas tinha a voz mais calma: – É, alguns filmes eram ruins... e uns livros também... – Então, esse pesadelo é uma porcaria. Você não precisa ir até o fim, nem para saber o final. Acabou! Jonas bocejou. Fez-se um longo silêncio, suficiente para os dois cochilarem. Quinta-feira, 3h Jonas estava com o corpo tão pesado que mal falava. O sono invadiu com tamanha vontade que ele agradeceu com uma voz comprida, nem esperou Gênio responder: – O pesadelo acabou... Valeu, Gênio. Click. – Boa noite, Jonas. Click. Jonas terminou a noite entre gols e comemorações. Foi uma partida incrível. Ele, é claro, ganhou. Foi um sonho muito parecido com a realidade. Jonas continuava craque de bola e artilheiro do time do colégio.
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Para Gênio, a noite foi mais longa. Os pensamentos resistiram ao sono. Até que ele desistiu de dormir e esperou pelo dia, sentado em frente à janela do quarto. As estrelas perdiam a luz, enquanto o amanhecer se apressava em clarear o dia. Um azul mais claro invadia o céu. No silêncio do quarto, uma sensação sinistra teimava em invadir Gênio. Ele sabia que um filme ou um livro, mesmo ruins, tinham um final. O pesadelo de Jonas também deveria ter. Mas era melhor Jonas não tentar descobrir. Gênio ainda ficou cismado: por que um sonho ruim insistia em voltar? E por que com um homem sem rosto? O que isso tudo queria dizer? Fazia tempo que Gênio não perdia uma noite de sono. Fazia tempo também que os Invencíveis levavam uma vida “normalzinha”. Jonas namorava Sofia; ela e Isadora continuavam sendo melhores amigas; Goma ainda estava com aparelho nos dentes, com um sorriso quase perfeito, mas ainda com o terrível vício dos chicletes; e Gênio, cada vez mais internauta. Ele cuidava do blog dos Invencíveis, trabalho que consumia um bom tempo. Em compensação, era o blog mais visitado e comentado entre a galera da escola. Quinta-feira, 7: 15 h Na manhã seguinte, Jonas em nada lembrava o garoto assustado da madrugada anterior. Estava disposto e animado. Chegou cedo ao colégio e logo foi procurar a namorada. Sofia bebia um suco de laranja na cantina, junto com os outros Invencíveis, inclusive Isa, que agora também estudava ali. Gênio viu Jonas se aproximar: – E aí, cara? Tudo bem? Tá melhor?