De Traços Abertos – Baba Vacaro

Page 1



Cristina Ramalho

Design & Processo Baba Vacaro De traรงos abertos 180 degrees



Agradecimentos

Baba Vacaro

Morro de medo de escrever um agradecimento e esquecer de nomear alguma das tantas pessoas que tornam meu trabalho possível. Me consola pensar que já as agradeci, e agradeço sempre, a cada empreitada, a cada insanidade minha em que embarcam, a cada novo desafio, quase sempre urgente. Agradeço ao Rogério, que me aguenta diariamente há 25 anos — isso não deve ser fácil. Agradeço a todos que trabalharam, trabalham e estão diariamente ao meu lado, pela mão na massa e pelas ideias que sempre somam. A todo mundo de todas as fábricas por onde já passei e de todas as empresas para quem já trabalhei e trabalho. A todos os designers e outros profissionais com os quais já tive o prazer de trabalhar. A Adelia, Alberto, Claudia, Marc, Pedro, Ronaldo e Tereza, pelas palavras tão gentis. À Alessandra Friedmann e ao Sergio Buchpiguel, por acreditarem que valeria a pena fazer esse livro. À Cris Correa que me convenceu a fazê-lo e ao Carlinhos, padrinho do projeto. E agradeço especialmente a duas mocinhas incríveis, responsáveis por fazer acontecer esse livro com tanto carinho, em tão pouco tempo: Cristina Ramalho, por cuja escrita sensível e bem humorada me apaixonei, e Elisa von Randow, que abraçou o projeto e soube traduzi-lo lindamente em imagens.


Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil

De traços abertos: Baba Vacaro Cristina Ramalho Tradução/translation: Solange Souza São Paulo: C4, 2012 Coleção Design & Processo 4

Edição bilíngue: português/inglês

1. Desenho industrial 2. Design 3. Designers – Brasil 4. Designers de mobiliário I. Título. II. Série. 12-09864

CDD-749.25

Índices para catálogo sistemático 1. Designers de mobiliário: Design industrial: Artes 749.25

Foi feito o depósito legal Impresso no Brasil 2012 © Cris Correa Editorial Ltda Todos os direitos reservados R. Dr. Albuquerque Lins, 537 / 163 01230-001 São Paulo, SP www.editorac4.com.br


Sumário

Editorial 13 Apresentação 15 De traços abertos 19 English version 116


8


9


10


11


12


Editorial

Cris Correa

A Editora C4, especializada em publicações de arquitetura, idealizou, há quatro anos, a coleção Design & Processo com o intuito de socializar, como disse Adélia Borges, autora de nosso segundo volume: “a amplitude da produção de design no país, a variedade de abordagens e partidos e suas diferentes manifestações”. Pretendíamos também mostrar que esta é uma atividade multidisciplinar, que tangencia as artes visuais, de um lado; a engenharia do outro, permeando ainda a antropologia, a sociologia, a psicologia e a cultura. Apesar do grande crescimento e sofisticação do setor nos últimos anos — com o reconhecimento de sua capacidade de agregar valor e oferecer melhor qualidade de vida, com a proliferação de escolas especializadas e profissionais capazes, com a incorporação de recursos tecnológicos e de várias atribuições historicamente sob o cuidado das belas-artes — o design brasileiro ainda não foi objeto de estudos o suficiente para delinear sua história em profundidade.

13

Nossa intenção é evidenciar o papel do design em nosso cotidiano, mesmo quando este não é sequer percebido. Ser designer na contemporaneidade passa por criar objetos que, além de atenderem à sua função de origem — a cadeira para sentar, o talher para comer, o avião, o carro e o barco para deslocar, a luminária para iluminar, etc. —, aproximem o usuário da beleza e da arte. Significa trazer para o cotidiano lembranças de um tempo, de uma experiência, de uma pessoa querida, da vida. Significa transformar a criação num parque de diversões, no qual o usuário é também criador à medida que a usa como bem entende, criando novas utilidades e propondo, à criação, novos significados. Apesar de cada tema ser um universo particular, acreditamos que o recorte proposto apresenta ao grande público um pouco do que há de mais interessante do que convencionamos chamar design contemporâneo brasileiro e, assim, concluímos nossa primeira etapa: selecionar cinco temáticas distintas — design de barcos, de luminárias, de mobiliário e multidisciplinar, além do design gráfico dos livros, que dialogam e complementam o conteúdo apresentado e se configuram, portanto, como o quinto elemento — dentro de infinitas possibilidades.


14


Apresentação

Cristina Ramalho

Não há preguiça maior do que ouvir algum desses chatos que bastam ter alguma história nova para contar e já saem dizendo que sua vida daria um livro. Baba Vacaro é da categoria oposta — foi convidada para ser tema de livro da coleção Design & Processo, idealizada e dirigida por Cris Correa, e, à sua maneira discreta, chegou a ter dúvidas se merecia virar publicação. Baba quis saber se eu topava a missão. Ô, mas é claro. Estávamos na casa dela, olhei ao redor e dei de cara com a poltrona Mandacaru. Taí a resposta: a Mandacaru, com seu formato em flor, tão moderna e tão brasileirinha, tão bem pensada e tão simples, aberta a todos os jeitos de sentar, trazia no formato o conteúdo da sua designer. Afinal, Baba, aberta a tudo, faz design não apenas nos móveis e luminárias — também escreve, dá aulas e palestras, faz programa de TV, curadorias, reedita as peças dos mais importantes designers brasileiros. Seu estilo de ser designer é uma forma de contar o país. E assim imaginei este livro: como uma flor que trouxesse, nas suas pétalas-capítulos, os vários processos que inspiram o trabalho de Baba. Cada capítulo é uma espécie de crônica que escrevi contando de onde brotam as ideias: de uma memória que grudou na infância, do amor à síntese, da vontade de criar aconchego, das pessoas que ela conheceu pelos livros ou ao vivo, das viagens, da vontade de espiar as casas dos outros.

15

E os processos práticos, o como-foi-feita-cada-peça ou cada edição de coleções, são descritos em aspas pela própria Baba, que correm ao longo do livro. É a voz dela pontuando as cenas. Outras vozes, de nomes especiais do design que conviveram com Baba em algum momento, aparecem também em pequenos depoimentos. Na direção visual, Elisa von Randow amarrou tudo lindamente, criando essa cara meio cinematográfica, documental, viva, transbordante de alegria — uma profusão de imagens, como é a cara da Baba, que faz de tudo um pouco e fotografa tudo que vê nas viagens, nos trabalhos, nos instantes inspiradores. E a Cris Correa, na produção geral, deu o fecho conduzindo o essencial acabamento, encaminhando tradução, revisão, impressão. Então, com justeza poética, a equipe mandacaruzou-se, um olhar 180 graus, uma roda animada, todo mundo no ritmo, mostrando que o design, aquele assinado ou o mais espontâneo, que brota na rua, de traços abertos, está no futebol, na moda, na novela, nos amores de todo brasileiro. O trabalho da Baba deu foi samba. Eu agradeço por estar nessa roda afinada — Cris, Elisa, Baba. E dedico o livro a outra roda, sempre essencial: Nina, Vitor, Gladys (soprando umas brisas divinas) e, mais do que nunca, Tarcisio.


16


Pronta para tudo

17


18


"À sua volta abre-se um Nordeste em minha sala, lembrança de vaqueiros, cangaço, Lampião e Graciliano. Ele me religa com uma natureza sem exuberâncias, sem românticas esperanças ecológicas, mas uma natureza viril, discreta, me trazendo um sentimento de coragem. E eu não estou mais sozinho." Arnaldo Jabor, O Mandacaru na sala de jantar1

Como é que um cacto que não precisa de água, nunca, nem de sol, tem esses braços abertos para o mundo, generosos, que convidam a gente a uma vã filosofia? A pergunta brotava na crônica escrita por Arnaldo Jabor, que escreveu sobre o mandacaru, uma flor-cacto que ele levou para a sala de casa e, forte como boa sertaneja, ficava ali elegante, imóvel, sem pedir nada, só esperando. E fazendo o autor pensar com profundidade sobre a natureza das coisas. Baba Vacaro, que sempre gostou de pensar sobre a natureza de todas as coisas, leu a crônica no jornal e abriu um sorriso. Ficou com o mandacaru na cabeça. Nunca tinha visto a flor, mas achou da maior ternura a ideia de uma planta de braços abertos para a vida, simplicidade absoluta, capaz de adaptar-se a qualquer situação. Então, um dia, Baba imaginou uma poltrona que dispensasse percinta, madeira, e se mantivesse em pé, sem a estrutura básica, meio sem a água e o sol que dão estabilidade à existência. Desenhou apenas um miolo essencial. Dele saíam pétalas — na forma de seis almofadas que, dependendo de como eram apoiadas, convidavam a sentar, deitar, recostarse para ler. Seis almofadas que podiam se abrir em leque, 180 graus ao gosto do freguês, e se deixar levar com certa poesia. Uma poltrona-flor, tão brasileira no jeito “fique-à-vontade”, quase prima da Mole de Sergio Rodrigues, ou da rede que cabe em qualquer canto e embala o corpo. Uma poltrona democrática, sem frescuras, capaz de encaixar-se naturalmente no cenário. Baba lembrou-se da flor do mandacaru. E do Jabor. E batizou sua criação.

1 JABOR, Arnaldo, O Mandacaru na sala de jantar, O Estado de S. Paulo, 2004

19

A poltrona Mandacaru foi criada em 2005, para a coleção Dpot de mobiliário brasileiro. Recebeu menção honrosa no 19º Prêmio Design, no Museu da Casa Brasileira, no mesmo ano — e foi parar, logo depois, na capa do livro Design Brasil, 101 anos. A Mandacaru acabou se tornando a criação mais famosa de Baba Vacaro — que, nos seus quase 20 anos de carreira, criou poucas peças e sempre se esquecia de inscrevê-las em concursos —, talvez, porque a sua forma, se a gente for ver bem, revela espontaneamente o conteúdo da designer. Baba sempre foi assim, 180 graus de curiosidade sobre o mundo, disposta a mudar de posição e, tal qual uma flor do sertão, brasileiríssima na capacidade de adaptar-se ao momento. Não que ela seja da turma conceitual que extrai mobília do improvável, fazendo mesa e cadeira com o que está à mão, de pneus a ripas de madeira e ursos de brinquedo, tirando um sorriso encantado de quem vê e reconhece o momento doce da vida.


20


21


22


“Gosto de trabalhar com tecido. É uma mania, não sei bem de onde vem. Me atrai a ideia de transformar o material plano em tridimensional, assim, simplesmente com geometria, corte e costura. Esse raciocínio me levou a muitos produtos: móveis como a Mandacaru e o sofá Lona e tantas luminárias que já perdi a conta. A Mandacaru saiu assim de estalo, mistura mental de um rabisco de flor que faço sem pensar, desde menina, com a crônica do Jabor — que li justo na época em que elaborava a coleção Dpot 2005. Isso tudo fervendo na cabeça, uma hora olhei o rabisco e vi a poltrona.”

23

Baba é de outra cepa, a do amor à lógica: seus desenhos são enxutos, precisos, inspirados no racionalismo da Bauhaus, e naquela filosofia “o-chique-é-simples” que vemos nos móveis escandinavos. Peças para serem usadas. Como as que ela viu, ainda no primeiro ano da faculdade, quando passava pela Avenida Brigadeiro Faria Lima, com um ar vagaroso, abraçada aos livros, de olho nas vitrinas da antiga Forma. Ali estava o que Baba queria fazer um dia: móveis funcionais, aparentemente tão fáceis, mas cheios de beleza, movimento, inteligência. Ela sentou-se no sofá Maralunga — o sofá mais feliz da sua vida — e se deslumbrou pelo estilo do italiano Vico Magistretti: “Ele era um racionalista mais humano, tinha um lado lúdico”, diz.

Deu nela a sensação da beleza inesperada que é a simplicidade, igual à que experimentou quando, criança, leu as crônicas da coleção Para Gostar de Ler. Quem passou dos 40 vai se lembrar: crônicas de Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Carlos Drummond de Andrade, Rubem Braga — autores geniais que escreviam de um jeito leve, arejado, como um bate-papo de chope na mão e nenhuma palavra fora de lugar: “Descobrir que era possível escrever como se fala foi algo incrível para mim”. Sim, era possível ser prática e alegrar a vida. À sua maneira, Baba também embrulha a memória afetiva em soluções concisas. A crônica do Jabor que deu em poltrona, a gelatina colorida da avó (que inspiraria sua mesa Gelatina também, criada para uma coleção da Dpot), as roupas dos japoneses Rei Kawakubo e Issey Miyake (que serviriam de impulso para os lustres de tecido da Dominici). Moda, pedaços de acrílico colorido, literatura, a conversa na mesa vizinha, a cantoria com a amiga Márcia, o instante bom naquela viagem. Todos os assuntos cabem no imenso repertório dela — mas não importa muito se vão render peças com a sua assinatura.


24


Baba entendeu sua verdadeira vocação: editar tudo o que lê, vê, ouve e sente. Botar começo, meio e fim na história. Com tanto no mundo para prestar atenção, ela não se contentava em ficar só rabiscando o que desse na cachola. Queria avançar numa escala industrial, calcular os custos, dar realidade aos produtos. Queria entender desejos e facilitar a vida das pessoas. “Nunca quis ser a designer autoral, inventar do nada uma cadeira. Sempre pensei em fazer o que faço: criar para uma empresa, a partir de um briefing, entender e traduzir as necessidades de uma marca”.

“A ideia na Basica Design era criar móveis simples, seriados, com bom aproveitamento de recursos e processos. O banco Ribs, por exemplo, usa apenas 4 elementos, cortados a partir de madeira estreita: uma mesma peça repetida faz o assento, outra faz os pés e outras duas, retas, fazem as travessas. Furos repetidos, uma barra roscada que passa, e porcas aparentes. Pronto. Na época já usávamos madeira nativa proveniente de manejo sustentável, madeira de reflorestamento, fomos atrás de madeira certificada. Muito pouca gente falava nisso, fomos pioneiros.”

25

Desde os 16 anos, quando entrou no curso de design industrial na FAAP, ela sonhava em ser contratada para desenhar para o patrão (tudo bem, desde que ele a deixasse fazer o que quisesse) e resolver problemas. A menina que havia estudado em colégio só de garotas e se enfurnava numa oficina na edícula de casa para desmontar o motor da moto do irmão, cresceu respondendo aos porquês. Se fosse menino e jogasse futebol, Baba seria o Dadá Maravilha do campinho — era só lhe dar a problemática que ela viria com a solucionática. Adolescente, tempo de sobra, em vez de ficar rabiscando pendurada no telefone até a hora do jantar, ela pedia para passar as tardes na fábrica de papelão do pai e organizar as notas, toda a papelada. Mais tarde, recém-casada, faria o mesmo na empresa do marido — chegou a inventar um completo sistema operacional para agilizar o funcionamento do negócio.

Fazia tudo isso por puro amor ao raciocínio — e pela falta de um lugar para exercer seu ofício. Afinal, quando se viu com o diploma na mão, meados dos anos 80, não havia porta para bater e pedir trabalho. Lojas de design eram pouquíssimas, nomes como a Forma, Design Store, Interdesign, Teperman, com o fino do mobiliário europeu e quase nada de novo no front nacional.

Até que, em 1996, um amigo, dono de uma fábrica de réplicas de móveis ingleses, pediu-lhe uma mãozinha para modernizar o negócio. “É para já”. Em 40 dias, desenhou uma linha inteira com onze jogos de móveis, a Básica Design. E inventou uma profissão: diretora de marca. Dali em diante, sua missão seria botar ordem em outras casas: primeiro, na Dominici, onde foi contratada, em 1999, para dar uma cara mais O Brasil andava em mais uma fase de competitiva à empresa de luminárias. complexo de vira-lata. Com exceção Baba resgatou, nas caixas do passado, do rock coloridíssimo da Blitz, Ultraje lustres sensacionais das décadas de a Rigor, Titãs, não nos orgulhávamos 50, 60 e 70, puxando um fio condutor muito de nossas produções — e na história da iluminação brasileira. design era, no máximo, coisa de casa Também achou que estava na hora da e camisa dos yuppies, aquilo que a Dominici entrar na moda, e mesmo gente via em Nove e Meia Semanas sem conhecer ninguém do ramo, de Amor. O jeito era riscar em outras pegou o telefone atrás da nata dos superfícies. Baba, ao sair da faculdade, estilistas e convidou uma turma boa topou por um tempo pintar tecidos e para criar uma coleção especial. Um fazer umas roupas cheias de bossa deles, Ronaldo Fraga, botou na cúpula com a amiga Sonia, num ateliê que as da luminária versos do Drummond duas dividiam: o Canteiro que ele leu quando criança. Ora, tinha de Obras. Divertia-se. A dupla chegou tudo a ver — Drummond, como a vender para a C&A. Mas roupa não Ronaldo, como a própria Baba, era a praia de Baba. sempre refletiu o mundo à sua volta.


Baba cintilou. Então, estava no caminho certo. Logo depois ela foi cuidar também da direção da Dpot, e novamente lançou um olhar carinhoso no passado para dar futuro à loja: organizou o acervo, trouxe de volta à glória nomes como John Graz, Fulvio Nanni, Geraldo de Barros e inventou coleções que traduzem, com apuro e poesia, um jeito de ser brasileiro nos móveis. Seu papel de curadora foi se estendendo: a cada ano, ela vem propondo novos temas de coleções, chamando designers célebres, ou jovens transbordando talento. “O grande patrimônio são as pessoas que a gente reúne ali”. Assim ela ajudou a definir o caráter da Dpot: o de narradora da história do Brasil em mobília.

O que Baba projetou, sobretudo, foi a importância do design. Em seu escritório, Design Mix, que fica no mesmo pedaço da casa onde era a edícula em que desmontava geringonças, elabora peças novas, alinha identidade de marcas, prepara as aulas para cursos específicos, as palestras, os textos deliciosos, matérias para revistas sobre tudo um pouco: as viagens, os livros, as pessoas formidáveis com as quais esbarra, os designers que busca pelo mundo inteiro atrás de uma ousadia, um sujeito lá da Nova Zelândia que faz luminária em madeira, nada lhe escapa. Quando anda na rua, ela espia pelas janelas e imagina a vida que acontece dentro das casas que não pode visitar.

Outras empresas esticariam o olho para o trabalho dela, e lá foi Baba cuidar da tradicional prataria St. James — ali propôs a coleção Pequenos Luxos Cotidianos, na cabeça a frase de Frank Lloyd Wright (“Jantar é, e sempre foi, uma grande oportunidade artística”), e entre seus convidados a desenhar, estava até o sushiman Jun Sakamoto. Fez tapetes lindos para a Avanti. E já que ela curte uma geometria, por que não inventar tecidos com os mosaicos daquela viagem a Veneza? Surgiu, então, a coleção para a Casa Rima.

Ah, as casas. Por ideia do amigo Alberto Renault, com quem trabalhou nas cenografias para as exposições da Dpot, Baba topou fazer uma série de televisão, Casa Brasileira, no GNT. “Nunca tinha feito nada disso, mas não tenho medo de aprender”. Encaixou o quesito “roteirista de televisão” no currículo. Com Alberto e o patrocínio da Dpot, ela viaja pelo Brasil visitando as moradias de grandes arquitetos, artistas, ou de desconhecidos que conversam de porta aberta e cafezinho na mesa. Como um mandacaru em salas de jantar, salas de estar, quartos, cozinhas, Baba testemunha o espírito da casa brasileira. “É o conforto prático da vida moderna com o conforto emocional, a mistura do popular e do erudito, passado e presente, as sensações do café com pão de queijo, a memória do quintal”, escreveu uma vez.

Alguém percebeu que ela falava tão bem quanto pensava e convidou Baba para soltar a voz na rádio Eldorado, spots curtinhos sobre o design que passa despercebido no nosso dia a dia e pode ser tão essencial.

Planeja fazer uma rádio para a Dpot, que traduza a alma da marca, além-fronteiras pela internet, o celular, todas as mídias. Seu caminho está mais para a comunicação do que para o desenho. Mandacaruzando-se, Baba quer se abrir em 180 graus para o mundo inteiro, mostrando que o design, mesmo nas coisas menos importantes, pode trazer um momento de aconchego, uma sensação boa, qualquer coisa de inesperado — e a vida fica até mais fácil. Porque a verdadeira função de Baba Vacaro é essa: a de alegrar, informar, informar o que funciona, a beleza, ou uns momentos de afeto.

“O projeto e a reflexão caminham lado a lado na trajetória de Baba Vacaro. Ela é uma designer que pensa, e uma pensadora que projeta. Acho que essas duas dimensões se juntam com rara felicidade em sua atuação como diretora de arte de empresas. Essa função ainda pouco praticada no Brasil é necessária para fazer a ponte entre designers e empresários, e dotar cada empresa de um portfólio de produtos coerentes com a sua missão e marca. Nessa atividade, Baba também tem encorajado as empresas a ousarem mais, a não temerem a inovação — um atributo indispensável na contemporaneidade” Adélia Borges, jornalista, escritora e curadora de design, 2012

26


27


28


Sobre as Ondas

29


“Comecei a fotografar nos tempos da faculdade, com uma Nikon FG, que eu adorava. Logo depois montei em casa um pequeno laboratório de revelação e ampliação, equipamento de meu amigo Matangra, que também foi quem mais me ensinou sobre foto. Desde o início gostei do instantâneo, olhar e clicar, e da composição, o enquadramento imediato. Olhando para trás, percebo que já gostava do repertório de coisas que clico obsessivamente até hoje. A fábrica de papel do meu pai fotografei muito. Gostava da fumaça da água evaporando, gostava das texturas, da coisa meio precária dos materiais.”

30


“Não é o ângulo reto que me atrai. Nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem. O que me atrai é a curva livre e sensual. A curva que encontro nas montanhas do meu país, no curso sinuoso dos seus rios, nas nuvens do céu, no corpo da mulher amada. De curvas é feito todo o universo. O universo curvo de Einstein.” Oscar Niemeyer2

2 NIEMEYER, Oscar, As curvas do tempo - memórias, Editora Revan, Rio de Janeiro, 1998

31

Baba olhava as ondas, aquele espanto, mais ou menos como quem vê o mar pela primeira vez. Era qualquer coisa de imenso, de inesperado. Só que o cenário não poderia ser menos ensolarado: em vez de mar, uma fábrica de papelão, aquele cheiro meio estranho do papel entrando liso e saindo da máquina, formando as ondinhas, e ondas, e mais ondas. Ela devia ter uns sete anos, a respiração apressada, o pensamento lá longe. Não era o desenho, não era o formato, a graça estava na mágica da transformação. Esse milagre do papel velho renascer papel novo, as aparas seguindo na esteira, entrando no cilindro, o cheiro da massa batendo como se batesse um bolo, a dissonância festiva de máquinas girando, esquentando, ondulando, anunciando a química com pitada poética.

É sua memória de infância. Chegou fim de semana, enquanto os amigos se divertiam na praia, Baba brincava de esconde-esconde no pátio da fábrica de papelão do pai, em Porto Ferreira, onde a família também tinha um sítio. Ela zanzava pelos tanques de papel, então ia espiar o jardineiro colher na horta o que ia parar no prato, pedia para pegar um pedaço da massa da caseira que fazia o pão de manhã. Não demorou a acreditar que a melhor parte das histórias estava na produção. É ter uma ideia, juntar uma coisa na outra e fazer uma terceira. Tudo se reduz a uma simplicidade cartesiana.


Assim, Cristiane Babadopulos ia testando suas habilidades na base da tentativa e erro. Aprendeu a ler sozinha aos quatro anos, aos cinco já estava escrevendo na escola, seguindo os irmãos mais velhos, e ali, no jardim da infância, gostou do apelido Baba, que grudaria tão bem até com o sobrenome do marido, Vacaro. Desde menina, ela achava que nunca ia se casar, ia era rodar o planeta, a curiosidade pela paisagem humana e as respostas na ponta da língua, como a Mafalda dos quadrinhos. Casou-se novinha, nunca morou fora, mas atravessou fronteiras e ondas em quase todos os oceanos. Se bem que, com seu temperamento, bastava ficar no quarteirão de casa que logo arrumaria algo para se ocupar (crochê, tricô, costurar, chulear, desmontar motores, cozinhar, pergunte que ela se vira) e assunto para conversar. Como fazia quando, adolescente, sentava-se para ouvir a avó. Ou as avós dos amigos.

32

Nenhum artista, desenhista ou “O design tem de trazer emoção”, ela inventor na família. Gente séria, repete, sempre. Mães bordadeiras, conservadora, trabalhadeira. Da mãe por exemplo, seriam artistas ao lado dona de casa, que entrava com a de grandes designers na exposição doçura, a firmeza, a bronca, ela Bordando Design, na Galeria Vermelho, herdou a mania de não parar quieta; em 2011, curadoria de Baba com do pai, com DNA grego e libanês, Claudia Moreira Salles. E a busca do acostumado a receber os amigos com que significa a moradia, o acolher, a comidinhas, tâmaras, um pão para memória foi o tema para a coleção passar no molho, “só mais uma Imaginários, da Dpot, em 2010, bebidinha”, veio o gosto pela mesa quando Baba convidou 20 designers farta, de fazer a visita se sentir em para pensarem a mobília a partir do casa. Bem mais tarde, essa alma seu repertório pessoal, as próprias familiar do cotidiano, como acontece sensações de casa, as melhores com todos nós, iria reaparecer de lembranças. outros jeitos. Como na pronta sensibilidade de Baba para as coisas do afeto, combinando a limpidez do pensamento com os trabalhos artesanais, em que o que vale é a identidade, a mão de quem fez, a história que conta.


33


A vida vem em ondas como o mar e, na hora de escolher o tema do seu trabalho de conclusão de curso na faculdade de design, Baba lembrou-se da fábrica de papelão. Se o seu pai fazia caixas de papelão duro, por que não criar móveis disso? Nunca tinha ouvido falar nos móveis de papelão que o grande designer Frank Gehry fez nos anos 1970. Também, não lhe ocorreu que a moda poderia pegar e, no futuro, os Campana subverteriam o coração da matéria, criando sofás para cenários chiques, Domingos Tótora faria seus móveis levíssimos, impensáveis, de uma pasta de papelão triturado que ele inventou, Nido Campolongo construiria uma carreira com papel no mobiliário. Baba só seguiu, como de hábito, a lógica. Papelão aguenta peso e fica firme. Se é possível fazer uma caixa com separação para botar as coisas, e ele continua duro, mesmo que uma pessoa suba em cima, e por ela entender tão bem de caixa, da dobra, do corte, pareceu-lhe muito natural fazer uma linha de móveis de papelão para eventos, feiras, estandes de convenções. Que fosse prática, pudesse ser customizada, adaptada ao momento. Baba e a amiga Sonia montaram uma linha inteira, criaram uma história — uma feira de moda —, fizeram cenário com araras de roupas e ganharam ótimas notas. Dali o papelão encerrou a carreira, voltando às caixas. Moderno demais. “Em 1986, papelão era muito pobre, aquilo não atraiu ninguém, os professores gostaram só da originalidade do projeto”, ela conta.

34

“O projeto dos móveis de papelão fiz com minha amiga Sonia Guggisberg na faculdade. Influência óbvia da fábrica do meu pai, da facilidade que isso dava para quem precisava fazer um produto, construir um protótipo, essas coisas. Na época era muito difícil a gente conseguir uma fábrica para poder fazer de parque de diversões. Ninguém chamava designer para nada, ninguém dava estágio. Fizemos móveis simples, com o processo de corte e vinco típico das cartonagens,

não podia ter muita invencionice. Máquina bateu, cortou-vincou, tá pronto. No máximo uma colagem. Mesmo com baixo recurso industrial, fizemos um bom projeto, viável, barato, com uma boa variedade de peças — mesa, cadeira, poltrona. Montou, usou, desmontou, reusou — olha que moderno para a época. E as peças ainda podiam ser customizadas pelo usuário. Acho que mesmo hoje em dia seria um bom projeto.”


Fato é que originalidade nunca foi problema para Baba — quando não é a dela, pode ser a dos outros, que ela observa, gosta, quer saber, mostrar para o mundo. Deve ser a conjunção astral — dê uma espiadela na história e talvez se explique o pendor da moça para as boas sacadas. Baba nasceu em 1966, garota papo firme como a da música de Roberto Carlos que estourou nas paradas no mesmo ano (“Essa garota é papo firme/ ela mesmo é avançada e só dirige em disparada/manda tudo pro inferno e diz que hoje isso é moderno”). O próprio Brasil andava moderníssimo desde que JK havia aberto o país para as indústrias de fora. Niemeyer tinha deitado curvas sensuais e líricas no pensamento de Le Corbusier, criando Brasília, e, aqui em São Paulo, o desenho sinuoso do Edifício Copan (cuja obra, que demorou anos e trocou de mãos na régua T e compasso, indo para o arquiteto Carlos Lemos, foi finalmente inaugurada em... 1966).

Yes, nós tínhamos design puro, charmoso, enxuto, até sobre quatro rodas: em 1966 foi lançado o Puma, que levou o prêmio de Melhor Design da revista Quatro Rodas, então um acontecimento, e ganhou o aposto de “a mais bela carroceria já desenhada no Brasil”. Na verdade, em outros pontos do mundo, 1966 foi um ano de safra espetacular em desenho. Na Itália, era fundado por Francesco Morelli o Istituto Europeo di Design, que mais tarde se espalharia por oito cidades, São Paulo incluída, formando um punhado de jovens criativos que, como a própria Baba, foram traçar seus caminhos nas indústrias. Na Alemanha, o grande mestre da luz, Ingo Maurer, que tinha acabado de montar seu estúdio Design M, via em 66 sua primeira luminária, a Bulb, entrar para o acervo do MoMA (Museum of Modern Art). Era um primor de síntese: uma lâmpada fixa na mesa, design clássico, celebrando a simplicidade e genialidade de Thomas Edison. E até o pós-moderno movimento Memphis, que começou a inventar suas curvas em 1981, foi batizado a partir de uma canção de Bob Dylan, Stuck Inside of Mobile with the Memphis Blues Again, composta em... 1966. São essas coincidências que rendem as boas histórias.

“Baba tem um perfil único no cenário do design brasileiro. É curiosa, criativa e generosa. Acontece e faz os outros acontecerem”. Claudia Moreira Salles, designer, 2012

35


bordado na cúpula interna

A mão é a janela para a mente* Baba Vacaro Em artigo recente para o New York Times, John Gabler discorre sobre o momento pós-iluminista em que vivemos: “Numa época em que sabemos mais do que nunca, pensamos menos a respeito disso. Graças à internet, parece que temos acesso imediato a qualquer coisa que se possa querer saber. No passado, por outro lado, coletávamos informações não apenas para saber as coisas, mas também para convertê-las em algo maior e eventualmente mais útil do que meros fatos -em ideias que davam sentido à informação. Buscávamos não só apreender o mundo como também compreendê-lo, o que é a função primária das ideias. Grandes ideias explicam o mundo e nos explicam.” Alinhavo meu pensamento: o inconformismo que gera intenção e ação é um dos grandes motores deste projeto. Uma proposta que valorize a liberdade, a igualdade, a experiência como forma de conhecimento e os direitos que todos temos em relação à vida é em si um retorno ao mundo das idéias, um contraponto a este momento em que vivemos sufocados pela superficialidade da informação. O que se vê como resultado deste projeto são histórias de um otimismo iluminista kantiano, que se contam através de produtos.

*Richard Sennet, no livro O Artífice, atribui essa frase a Immanuel Kant, a partir do livro The Hand: a philosophical inquiry into human being, de Raymond Tallis Texto publicado originalmente, em 2011, no catálogo do projeto Bordando Design

36

A história nos mostra que o bordado sempre se encarregou de construir narrativas e identidades, o que tem se tornado também uma característica do design contemporâneo. Em cada um desses produtos o bordado não constitui um ornamento aleatório aplicado a uma forma. Ao contrário, bordado e produto funcionam como a dinâmica troca de energia entre corpos físicos, em que ambos sentem a necessidade de ceder e receber calor para atingir o equilíbrio térmico. Juntos, criam um vinculo estreito entre finalidade prática e função simbólica. Não são produtos de consumo fácil, nem nunca foi esta sua proposição. São, ao contrário, peças que precisam do resguardo do tempo, do silêncio e da contemplação para que adquiram sua completude.

sombra do bordado projetada na parede

Bordado projetado no tecido externo


“Já tinha acontecido em 2008 um projeto chamado Bordando Arte, quando Susana Steinbruch convidou artistas incríveis a criarem obras com os bordados feitos pelas mães da ACTC (Associação de Assistência à Criança e ao Adolescente Cardíacos e aos Transplantados do Coração), que foram leiloadas com muito sucesso — o dinheiro da arrecadação ajudou-os a conseguir uma segunda casa, para os adolescentes. Então, no ano seguinte, Teresa Bracher e Susana, da diretoria da ACTC, convidaram minha amiga Claudia Moreira Salles a criar um projeto semelhante, o Bordando Design. Claudia me procurou para ajudá-la com a curadoria e com todas as questões de ordem prática. Convidamos Antonio Bernardo, Carlos Motta, Estudio Manus (Caio de Medeiros e Daniela Scorza), Fernando e Humberto Campana, Isay Weinfeld, Jacqueline Terpins, Jun Sakamoto, Kimi Nii, Marcelo Rosenbaum, Nido Campolongo, Rodrigo Almeida e Sergio Rodrigues. Susana, e mais Maguy Etlin e Cris Macedo organizaram todo o trabalho com as mães e estiveram presentes o tempo todo, sempre que os designers visitavam a ACTC. Claudia e eu dividimos o trabalho, vimos juntas todos os projetos, discutimos as questões técnicas com os designers sempre que necessário. Eu também me encarreguei de detalhar tecnicamente e fabricar de algumas peças com patrocínio da Dominici — as luminárias do Jun e dos Campana — e também de ir atrás de outras doações — a Dpot doou os bancos Mocho, de Sergio Rodrigues e a Claudia conseguiu o tecido com o Zeco Beraldin para fazer as almofadas. Alguns designers se encarregaram sozinhos de produzir as peças ou de conseguir com seus parceiros. Também criei uma luminária bem singela, branca, um bastidor de bordado sobre uma base de aço inox — peguei uma peça minha que iria entrar em linha na Dominici e usei como base para o projeto. O tecido bordado caía como uma cúpula e a luz projetava a sombra dos bordados na parede. A mãe bordadeira foi Maria Teresa de Sousa Agra. Depois de dois anos de trabalho, conseguimos fazer um lindo catálogo, uma exposição na Galeria Vermelho e um leilão. O dinheiro que conseguimos para a ACTC não foi tão grande como o do Bordando Arte, mas superou nossas expectativas.”

37


38


Senta que lรก vem histรณria

39


40


"Quando eu penso no futuro não me esqueço do passado" Paulinho da Viola, Dança da Solidão, canção de 1972

O futuro não parecia exatamente promissor para Enrico se ele continuasse naquela casinha em Bolonha, depois da morte do pai ator. A mãe, cantora lírica, mal tinha tempo de trocar de vestido na saída do teatro — em casa, os filhos a esperavam de boca aberta. Dinheiro não havia nenhum. Era 1922, a Itália não andava fácil — Mussolini, que acabara de inventar o fascismo, tinha assumido o poder e tratava de acabar com a alegria de quem não estivesse do seu lado da história. Enrico, então 13 aninhos, achou que estava na hora de ser um a menos na mesa a disputar os tortellonis contados. Trocou as calças curtas por uma roupa mais séria e foi se ajeitar em outra freguesia. Em Genova, conheceu um leiloeiro e aprendeu a vender. Sabia enxergar os melhores produtos e captar, numa olhadela, quem estava disposto a pagar por eles. Lábia também nunca lhe faltou. Ele voltaria a Bolonha dez anos depois, terninho bacana, vontade de abrir seu negócio. Sentado no histórico café Zanarini, Enrico anteviu seu destino ao observar um cidadão que fechava uma loja, de partida para a Roma. Propôs ajudá-lo a empacotar a mudança e, no fim de tudo, ficou com o estabelecimento. Assim, Enrico Furio Dominici abriu uma loja linda, três vitrinas com o melhor do artesanato italiano, objetos, pequenos móveis, peças dos grandes vidreiros de Murano, e batizou-a, com orgulho, com o sobrenome da família.

41

Do clássico, esticaria o olho para a vanguarda: conhecera, em Veneza, o designer Pietro Chiesa e o arquiteto Giò Ponti, que faziam, na empresa Fontana Arte, um laboratório de ideias para luminárias sensacionais. Chiesa desenhou em 1933 a sua Luminator, exemplo de concisão, essa mesma que faz bonito em qualquer sala do século 21. Ponti, que então editava a revista Domus e logo criaria o edifício da faculdade de matemática de Roma, inventou, em 1931, a Bilia (um círculo de luz sobre um cone de metal, um quê de art deco e até hoje impressiona pelo futurismo), e seria um dos três ou quatro arquitetos mais importantes do mundo no século 20. A loja Dominici vendia uma turma desse naipe para cima — nomes como Chiesa, Ponti e Gino Sarfatti, sujeitos para lá de modernos, mezzo racionais, mezzo líricos, desenhando um novo jeito de ser e pensar a Itália e, principalmente, de botar design funcional, porém lindo, em escala industrial. Quando a crise esquentou e as bombas da Segunda Guerra Mundial quase estouravam nas suas portas (na porta de Lina Bo Bardi estourou uma de fato), cada um correu como pôde e aqueles que ficaram por lá acabaram ajudando na reconstrução do país. A partir de 1946, a Itália derramou investimento no design de ponta e começou a brilhar com a criação da motoneta Vespa e na crescente e elogiada indústria automobilística — Ponti, por exemplo, engordou o caixa desenhando escritórios para a Fiat. Começava o que seria decisivo para o sucesso do design italiano: a aproximação do designer com a indústria. Já Enrico Furio tinha pressa de mudar. Fechou sua Dominici italiana, enfiou os cristais em 35 caixas, pegou a esposa e os dois filhos pequenos pela mão e embarcou no primeiro navio, o Barão de Jaceguai, a caminho do sol e do bom humor.


“Logo no início, quando o Marc me contratou, pedi para consultar a história da marca. Ele me disse que existiam caixas e caixas, álbuns, fotos, catálogos, guardados na antiga loja da Cidade Jardim. Foi uma arqueologia, que faço até hoje, e adoro. Limpei todos os álbuns, botei em plásticos para segurar da poeira. Descobri nos croquis e nos álbuns a cronologia das peças. Procurei pessoas que pudessem ajudar com suas memórias. O Toni Dias, que cuidava da fábrica naquela época, começou aprendiz com o Sr. Furio na Treze de Maio. Ele ajudou muito porque lembrava dos moldes, o que ainda existia, os artesãos que faziam os vidros, essas coisas. Só depois fui conhecer o Sr.Furio, mas não para saber desses assuntos práticos, fui ouvir as histórias, conhecer a alma da marca."

Seus vizinhos de cabine eram Lina (que, por sinal, havia trabalhado com Giò Ponti) e Pietro Maria Bardi. De início, seguiram roteiros semelhantes. Os Bardi estavam levando para o Rio a Exposição de Pintura Italiana Antiga, montada no Ministério da Educação e Saúde, e Dominici organizou uma mostra do seu estoque de lustres e peças de design para os cariocas no Copacabana Palace. Vendeu um punhado de peças. O Rio, capital federal, era irresistível com seus cassinos e suas pernas de fora. Mas São Paulo, endinheirada, já vinha desde a década de 20 ensaiando os passos para a modernidade: Pietro Bardi, com as bênçãos do patrão Assis Chateaubriand, inaugurava, em 1947, o Masp (Museu de Arte de São Paulo) no centro da cidade, na rua Sete de Abril, num andar projetado por sua Lina dentro de um prédio do célebre arquiteto francês Jacques Pilon. Lina, que já tinha umas ideias tão despenteadas quanto seus cabelos, quebrou paredes, abriu espaços, antecipando seu gosto pelos vãos livres e pelo conceito de vazios a serem preenchidos no dia a dia, a vida nascendo por quem fosse usá-los.

42

Enrico Furio Dominici também abriu sua primeira loja no mesmo ano, ali pertinho: a Dominici Iluminação Moderna, na vizinha Xavier de Toledo, ao lado do Mappin. Combinou a ousadia do projeto com deslumbrantes lustres de cristal de Murano, o que lhe valeu “fiu-fius” de admiração até de Oscar Niemeyer. Assim como Lina, Dominici entusiasmava-se com o espírito tudo-por-fazer neste país de cultura tão recente, o frescor que faltava na Europa. Era uma geração com o pensamento lá na frente, um mundo para se inaugurar. Afinal, para onde os italianos olhassem ali pelo centro de São Paulo, só havia prédios em construção. Auguri! Dominici iluminaria São Paulo, depois o Rio, um pouco mais tarde, Belo Horizonte, e o resto do Brasil. Inaugurou, na Copacabana dos anos de 1950 uma filial, e seus lustres foram parar nos tetos dos novos cinemas da Cinelândia, que eram então o fino da bossa. Seu nome corria como sinônimo de sofisticação e da vanguarda europeia.


Algum tempo depois as importações foram restringidas no país, e a saída seria fabricar as próprias peças. Dominici montou um estúdio e sua primeira fábrica no segundo andar de uma loja, na Rua 13 de Maio, em São Paulo. Era um businessman que, intuitivamente, já fazia o que pregam hoje as consultorias de marca: antecipava os desejos dos clientes, engajava os funcionários (foi amigo de muitos deles, com quem trabalhou por décadas, e formou uma linhagem de designers de iluminação no Brasil), e criou um conceito de marca. Bolava projetos especiais para os arquitetos modernistas. Seus anúncios, publicados nas revistas Acrópole e Habitat, eram como seus produtos: enxutos, modernos, traduzindo a identidade de uma marca chique, cosmopolita, que tinha até gráfica própria.

43


E a Dominici cresceu, cresceu, cresceu, brilhou por décadas: nos anos de 1970, sua logomarca foi redesenhada pelo grande escultor e artista plástico argentino Antonio Lizárraga. E quem não tivesse um lustre Dominici em casa era melhor que nem convidasse alguém mais fino para o jantar. Apartamentos que anunciassem “com lustres Dominici” custavam mais caro. Baba ficava impressionadíssima com esses anúncios. Achava os lustres divinos. Jamais adivinharia que, anos depois, toda essa história também faria parte do seu script pessoal — e de certa forma seria resgatada por ela. Porque na gangorra econômica, e tome ditadura, plano Collor, outros planos, a Dominici acabou vendida, em 1998, para a DL Iluminação. Foi aí que Baba e Dominici entrelaçaram as mãos. Em 1999, depois do sucesso das linhas de móveis que criou para a Básica Design, ela acabou sendo convidada pelo novo proprietário da marca, o empresário francês Marc Van Riel, para recuperar a imagem de glamour da Dominici. Com sua alma de editora, Baba resolveu passar em revista os fatos para dar sentido ao negócio. Saiu abrindo caixas, cadernos e álbuns de fotos da empresa, toda uma biografia esparsa que se caísse de um caminhão de mudança iria embora com o vento. Ficou de boca aberta. Era muito melhor do que imaginava.

44


“A Dominici contratou uma agência de comunicação, a Maverick, que já vinha revendo o repertório visual da marca. Marcelo Bicudo, o diretor de criação da agência, e eu, na época conversávamos muito a respeito do patrimônio que tínhamos nas mãos: a história da marca, e como ela merecia muito respeito. A primeira coleção que propus para a marca, New Classics, fiz muito rápido, coisa de quatro meses, porque consegui na fábrica algumas ferramentas antigas que misturei com peças mais fáceis de fabricar. Marcelo teve uma idéia super bacana: pegou uma das fotos antigas, da exposição que inaugurava uma Dominici no Rio de Janeiro dos anos 50, e em cima dela produziu uma ilustração para o anúncio da coleção. Além disso ele bolou uma cenografia, numa casa modernista, e chamamos a imprensa toda. Foi um marco na revitalização da Dominici."

45


"Vieram outras reedições, e um tempo depois foi a vez da coleção Vintage. Consegui na fábrica refazer os vidros antigos, redesenhei alguns modelos, mudando as proporções, e é uma coleção de sucesso até hoje, já faz dez anos, apesar das cópias genéricas que existem no mercado. Já vi até de plástico, acredita?"

46


47


“Sempre vejo aparecerem nas lojas clientes que querem restaurar seus lustres. É tão bacana saber a história de cada um, perceber como as pessoas valorizam seus antigos Dominici, que nos deu vontade de estimular ainda mais. Bolamos uma ação, que chamamos de Dominici Review. Clientes poderiam trazer para análise suas peças antigas, de valor histórico, que seriam trocadas por crédito na compra de peças novas. Essas peças, quando aparecem, nós restauramos e colocamos à venda na loja. Há quem goste de peças de época, há quem goste de reedições, há quem prefira design estalando de novo e na Dominici essa convivência tem harmonia. Usamos na comunicação os velhos álbuns, fotos retocadas à mão, a capa de um antigo catálogo. Usamos aqueles monóculos pequeninhos de plástico, que distribuímos aos clientes. E a vitrine ficou linda, feita com projetores, que trocavam automaticamente imagens dos produtos antigos. Tudo criado pelo Theo Siqueira, que atualmente assina a comunicação da marca.”

48


Naquelas pilhas de arquivos ela reconheceu, docemente, o repertório dos seus sonhos. A sua formação. Ali estavam as luminárias feitas pelos seus heróis dos livros da faculdade: a Bilia, de Ponti; a Arco (1962), de Achille Castiglioni; a Falkland (1967) de Bruno Munari; a Ariette (1973) de Tobia Scarpa, e mais peças de Vico Magistretti, Richard Sapper... Personagens que ela conhecia de cor, racionalistas que criavam grandes soluções, traçando, com três ou quatro elementos, o essencial de uma peça. Baba entendeu que o melhor jeito de dar futuro a essa marca seria resgatar seu maravilhoso passado. Na sua primeira coleção, batizada de New Classics, em 2000, ela reeditou clássicos do acervo dos anos de 1950 da Dominici e, dois anos depois, lançaria a coleção Vintage, reeditando um dos modelos mais famosos de todos, com vidros artesanais em forma de J. Mais um tempinho e ela faria especialmente o lustre Bouquet, um deslumbre de 185 botões de cristal moldado à mão, inspirado nos famosos lustres de cristal com rosetas da marca, que iluminaram salões nos anos dourados. A Dominici cintilou.

49


50


"Sabe aquela melhor aluna da classe? É a Baba. Ela é extremamente racional, objetiva, faz tudo muito bem. E faz tudo com tanta intensidade que já virou referência na área de curadoria de design. Eu a conheci quando comprei a Dominici, em 1999, e além de trabalharmos juntos por tanto tempo, ficamos amigos." Marc Van Riel, empresário, sócio da Dominici

Baba foi a Florianópolis conhecer, ao vivo e em cores, o homem que viveu — e vendeu — boa parte da história do design do século 20. Piacere, Enrico Furio Dominici. Ficaram amigos para sempre. Pertenciam ao mesmo território. Ele já passara dos 90 anos e contaria com gosto para ela tudo isso que você acabou de ler — e com muito mais riqueza de detalhes. Trocavam cartas, bilhetes, elogios — um convívio breve, espaçado, mas afetuoso, sempre ao lado da Cleusa, segunda esposa, que atendia ao telefone com açúcar na voz, e comentava com Baba como andava a saúde do marido. Como fez Dominici lá no começo da história, ela continuou buscando o inovador, nos materiais, na tecnologia, para melhorar o cotidiano. Designers que hoje criam com uma leveza infalível, como o David Trubridge, que lá na Nova Zelândia faz estruturas delicadíssimas de madeira para suas luminárias, inspiradas na arquitetura de barcos. Ou o japonês Toyo Ito, com sua luminária-casulo de fibra de vidro, que parece flutuar. Ou Angus Hutcheson, da Tailândia, que faz luz com casulos de seda. Ela viaja o mundo, fuça atrás dessa turma do mesmo jeito que Enrico Furio Dominici sabia que a graça das coisas está no prazer da descoberta.

51

Baba estenderia esse amor pelos personagens e a filosofia de uma empresa quando foi convidada para trabalhar também para a Dpot, em 2004. Ali tratou de reeditar os móveis de Fulvio Nanni, Geraldo de Barros, Michel Arnoult e outros, para dar uma cara à marca, a de referência em mobiliário brasileiro. Trazer para o convívio do público peças históricas que haviam desaparecido do mercado. Mas, também, para um sentido muito maior, o de contar o Brasil que nunca sai de moda: exuberante, aconchegante, grato à vida, real. De botar o orgulho no ar. É o olhar carinhoso no que veio antes que abre novos capítulos para o futuro. Quando criou a coleção de 2007, em homenagem aos 60 anos da Dominici, Baba chamou os designers brasileiros e estrangeiros mais modernos, escolheu peças de altíssima tecnologia e usou o slogan "60 anos à frente do seu tempo". Estava apenas fazendo jus à intuição certeira de Enrico Furio Dominici, que, quando inventou seu negócio, parecia saber as coisas muito antes dos outros. O fato de ser um homem ligado ao que vai pintar por aí não o impediu de soltar uns suspiros de saudade. Na noite de lançamento da coleção, Baba recebeu um bilhetinho de Enrico Furio, já perto dos cem anos e impossibilitado de viajar (ele morreria em 2010, aos 102 anos): “Non mi giudichi un romantico ma solo un nostalgico...sarò presente col cuore” ("Não me julgue um romântico, mas apenas um nostálgico: estarei presente com o coração").


“Foi em 2005 que bolei esta coleção para a Dominici. Eu estava num processo de experimentação e fiz uma luminária chamada Flowers. Fui brincando de enrolar paninhos, fiz uma fitinha enrolada que parecia uma rosa, colei a fita num pano e olhei contra a luz. Então imaginei um monte de fitinhas iguais formando flores de organza e, vendo-as todas juntas, aquilo me lembrou uma sainha. Guardei a ideia. E tive outra: por que não aproveitar e criar luminárias com tecido, brincando com luz e moda? Desenhei um tripé bem simples, básico, e convidei estilistas para criarem “sainhas”, ou melhor, cúpulas para aquele tripé. Chamei Adriana Barra, Cris Barros, Jum Nakao, Mario Queiroz, Neon (Dudu Bertholini e Rita Comparato), Rita Wainer e Ronaldo Fraga. Fizemos uma vitrine linda e uma exposição, que marcou a inauguração da nova loja da Dominici na Alameda Gabriel Monteiro da Silva. Um tempo depois leiloamos as peças, 25 luminárias exclusivas, num evento no Museu da Casa Brasileira, com a Fernanda Lima como mestre de cerimônias. A renda foi para a Fundação Abrinq. E só bem depois disso lancei a minha luminária Flowers”.

52


53


54


Com açúcar, com afeto

55


56


"Quem coleciona selos para o sobrinho (...) quem chora no cinema ao ver o reencontro de pai e filho; (...) quem diz a uma visita pouco familiar, já quebrando a cerimônia com um início de sentimento: 'meu pai só gostava de sentar-se nesta cadeira'; (...) todos eles são presidiários da ternura e, mesmo aparentemente livres como os outros, andarão por toda parte acorrentados, atados aos pequenos amores da grande armadilha terrestre." Paulo Mendes Campos3

3 CAMPOS, Paulo Mendes, crônica Pequenas Ternuras, O anjo bêbado, ed. Sabiá, Rio de Janeiro, 1969, pág. 105.

57

Não tinha replay: o sorriso doce de Era uma sensação: o Brasil feliz, Neide Aparecida, a garota propaganda industrializado, pronto para o dos anos de 1950, antes do videotape, progresso. Niemeyer, com seus surgia na TV mostrando as maravilhas traços levíssimos, refletia a de um sofá-cama (só que na hora H impaciência com o tempo presente e de exibir praticidade, o sofá abria uma alvorada no coração do país. simplesmente não funcionou, e a Tudo o que o Brasil — e o mundo pobre Neide sorriu amarelo). Aí ela inteiro no otimismo do pós-guerra — oferecia uma geladeira. Um televisor. queria era ser moderno. Esbanjar O fino da alta tecnologia doméstica. tecnologia. “Viver 50 anos em cinco”, "Neide se apaixona pelo aspirador de como apregoava JK. Mais de pó do anunciante com a ingenuidade cinquenta anos depois, os sofásque fez dos personagens de Madame camas quase não enguiçam mais. Delli a delícia da mamã de vocês. E E se enguiçarem, os liquidificadores, como é volúvel a Neide Aparecida! geladeiras, TVs, todas as coisas são Logo depois ela passa o aspirador de trocadas num zás-trás. Nesses pó para trás com um liquidificador, ou últimos 20 anos que valeram por 200, fica apaixonada por uma enceradeira", tudo é high tech, globalizado, escreveu o gozador Stanislaw Ponte rapidamente substituído por um mais Preta ao justificar, na sua coluna na up-to-date que vem quentinho da revista Mundo Ilustrado, porque é que China. É como se o mundo fosse um a brejeira Neide merecia o prêmio de grande showroom — assim, qual é a melhor atriz do ano. Quem conta essa graça? Não temos nenhuma relação história é o jornalista Joaquim Ferreira com os objetos. Então, continuamos dos Santos, no seu livro Feliz 1958 sonhando com algo que nos traga um — O ano que não devia terminar. teco de felicidade, como anunciava "O debochado Stanislaw estava muito docemente a Neide Aparecida. perto e por isso não conseguia ver. Mais do que liquidificador e sofá-cama, A grande mudança neste século 21 Neide estava vendendo a felicidade de acontece na alma do negócio: a gente não quer só eficiência e rapidez. Quer viver em 1958", escreve Joaquim. emoção. Dá vontade de um replay dos nossos momentos mais simples.


Imaginários Dpot 2010 Baba Vacaro

A casa é uma imagem tão forte, mas tão forte, que você é capaz de se esquecer de um lugar, um nome, uma data, mas sabe descrever direitinho onde ficava a cristaleira na sala da avó — ou da avó do amigo, conversa diante do bolo — qual o objeto preferido de criança, o sofazão bom de deitar, a cor daquela mesa em que se sentou de mãos dadas com alguém e fez grandes planos. E quando se está mais distraído, bate uma saudade que não é de nada em especial, é de tudo, do cheiro da cozinha, do abajur que ficava aceso no corredor, dos azulejos que você achava horrorosos e hoje os bem-pensantes da estética enxergam uma graça danada neles e chamam de vintage. Um dia qualquer, você mesmo bate o olho no azulejo e ele transborda de sentido. Talvez porque o desenho antigo parece contar o tempo às avessas: é ver a peça velha e se enxergar menino, o sorrisão de um instante bom. Não se trata somente de brincar com o flashback. Aquele objeto está lhe contando uma história, tanto faz se é real ou não. Taí o novo papel dos designers: fazer da memória afetiva um playground. Aflorar momentos que rimam com o consumidor. É o novo luxo emocional, como batizou Gilles Lipovetsky, o filósofo francês autor de A Era do Efêmero, que explica que vivemos a hipermodernidade. “A época contemporânea vê afirmar-se um luxo de tipo inédito, um luxo emocional, experiencial, psicologizado, substituindo a primazia da teatralidade social pela das sensações íntimas".

Sim, luxo, a gente aprendeu, é o objeto exclusivo, da categoria só-umprivilegiado-pode-ter. O luxo emocional é o que desperta algo em nós, cutuca nossos sentidos, um privilégio — e por qualquer razão o objeto, mesmo que seja um eletrodoméstico recém-saído da fábrica, ganha alma e exclusividade. Cadeiras retrô, o bordado com cara de antigo na luminária modernosa, a geladeira top de linha de desenho igualzinho ao daquela bojuda que havia na casa da sua tia, o portacelular que imita uma velha fita cassete, são fragmentos de enredos. Trazem aquele conforto de algo conhecido, fácil de gostar porque é tão familiar, como uma dessas pessoas que se acha uma simpatia e se fica amigo logo. Luxo é também o artesanal, porque o que é feito com as mãos nunca sai exatamente igual, e pode trazer uma mensagem de vida com mais graça, sensualidade, afeto. E o bordado das mães de uma ONG, o tapete feito no Piauí, o fuxico que uma família reunida fez na hora da novela, essas artes tão pessoais, tão peculiares de um pedaço de terra distante, também tornam-se um pouco nossas de algum jeito. "O mundo ficou tão veloz que você precisa de um resgate emocional, de algo que ficou na memória, ou então pode pegar emprestada uma memória que nem é a sua. Por exemplo, quase todo mundo hoje sonha com um fogão a lenha. A pessoa não teve um fogão a lenha na casa da avó, e morou a vida inteira em apartamento, mas a ideia de um desses em casa traz para ela a lentidão, o papo furado, o aconchego”, diz Baba Vacaro.

Desde que assumi a direção de criação da marca Dpot, tenho procurado de diversos modos estimular os designers e o mercado a valorizar o bom design brasileiro em suas diversas manifestações. Apresentamos hoje uma nova série na qual, pela primeira vez, não houve a primordial preocupação em viabilizar industrialmente um produto. São mais de 20 peças únicas, experimentos e protótipos, que expõem as relações de proximidade e as fronteiras entre design, arte e técnica, discussão instigante nesse universo que, tendo sempre sido multidisciplinar, é hoje cada vez mais o reflexo de nosso mundo de diferenças, da cultura híbrida em que vivemos, misturada de gêneros, pessoas, lugares, interesses, talentos, conhecimentos. No imaginário de cada um destes criadores convivem o popular e o erudito, o passado e o presente, o casual e o palaciano, o funcional e o emocional. É o humor desse diálogo que trazemos em mais esta celebração do design brasileiro, que só poderia acontecer por iniciativa da Dpot. Gosto de traduzir o texto abaixo para o design; além das ciências sociais, como diz Canclini, penso nos objetos com os quais convivemos diariamente: “Assim como não funciona a oposição abrupta entre o tradicional e o moderno, o culto, o popular e o massivo não estão onde estamos habituados encontrá-los. É necessário demolir essa divisão em três pavimentos, essa concepção em camadas do mundo da cultura e averiguar se sua hibridização pode ser lida com as ferramentas das disciplinas que os estudam separadamente: a história da arte e a literatura que se ocupam do “culto”; folclore e a antropologia, consagrados ao popular; os trabalhos sobre comunicação, especializados na cultura massiva. Precisamos de ciências sociais nômades, capazes de circular pelas escadas que ligam esses pavimentos. Ou melhor: que redesenhem esses planos e comuniquem os níveis horizontalmente.” Nestor Garcia Canclini, Culturas híbridas Texto escrito para a exposição Imaginários, 2010

58


"A Baba tem uma coisa que poucos conseguem, e que eu acho o principal desafio do designer no mundo contemporâneo: ela consegue que o design tenha uma digital em todos os seus processos, na construção e no resultado. Isso é emocionante, porque criador e criaturas são como uma extensão no trabalho dela, desenho e desenhador se encontram, é isso o que faz todo o sentido." Ronaldo Fraga, estilista e designer, 2012

59


“Em todas as coleções anteriores que fiz para a Dpot, o caráter industrial dos produtos era determinante. Os produtos precisavam ser viáveis, industrializáveis. Depois de alguns anos, comecei a pensar que era tarefa da Dpot estimular o imaginário dos designers, quer isso resultasse em produtos viáveis ou não. Lembrei que Sergio Rodrigues, nos tempos áureos de sua loja-galeria Oca, no Rio, fez uma exposição que tratava do móvel como obra de arte. Foi nos anos 60. E foi aí que ele criou a poltrona Chifruda, que considero o embrião da coleção Imaginários. Quando Fernando Mendes me disse que a peça histórica seria editada em série numerada, achei que era um sinal, e fui adiante. Minha ideia era fazer os designers pensarem livremente, presente e futuro. Eu queria abordar o nosso conceito de morar, de casa brasileira, as memórias. Todos os trabalhos são incríveis, encantadores. Ronaldo Fraga fez o Carrim, que era um carrinho de chá que ele já tinha, com outra roda, e a ideia dele era aplicar as suas memórias naquela memória. E ainda fez uma coleção de peças de mesa em ferro esmaltado, com as mesmas estampas que colheu pelo rio São Francisco, que chamou de Caixeiro Viajante. O Paulo Alves fez uma mesa, Paraitinga, que parece um telhado. O Isay Weinfeld, hipocondríaco assumido, inventou uma farmacinha que é uma poesia concreta. O armário de memórias de Jum Nakao é uma memória encaixotada, para levar a qualquer lugar — agora mesmo está numa exposição em Londres. O Alfio Lisi criou a cadeira Bonfim, verdadeiro Maracatu. A Flavia Pagotti fez uma chaise poética, Depois da Feira. Com a mesma inspiração o Guinter Parschalk fez a estante CeCasa — fomos juntos ao Ceasa para escolher as caixas de frutas, aproveitamos e fizemos um ensaio de fotos incrível. Para Fernando Prado pedi que desenhasse um móvel — coisa que ele nunca faz, por falta de tempo e de oportunidade — e ele criou um aparador levíssimo, que ajudei a viabilizar. E tem tantos outros, com peças incríveis, o Porfirio Valladares, a Amelia Tarozzo, o Ari Lyra, a Claudia Moreira Salles, o Rodrigo Almeida, a Isabela Vecci, o Gustavo Pianetti, a Heloisa Crocco, a Roxanne Duchinni, designers sensacionais, e eu me emocionei com o trabalho de cada um. Eu fiz a mesa Gelatina quase por acaso. Não ia fazer nenhuma peça, até que vi aqueles pedacinhos, restos de acrílico colorido num tonel da fábrica, e me lembrei da gelatina da infância. Achei que se encaixava no meu próprio briefing. Fizemos uma exposição no MuBE, a terceira da Dpot com cenografia do Alberto Renault e iluminação do Maneco Quinderé. Nesse dia lançamos também a série Casa Brasileira, do GNT, que, afinal, tinha nascido no dia em que Alberto e eu fizemos a primeira reunião de briefing da cenografia desse evento. Uma coisa leva sempre a outra coisa.”

60


61


Ela se lembra dos charutos de folha de uva sendo enrolados, a coalhada pingando no pano, o café turco sem coar, a rosca que saía quente do forno no sítio, Baba pedindo para passar a calda de açúcar. É que cozinhar, comer, conversar traz sempre um fato inédito — e porque o design não podia falar dessas coisas que vão direto ao coração da audiência? A mesa farta, onde sempre cabia mais um, resultou na coleção Pequenos Luxos Cotidianos, de 2007, para a prataria St. James. Baba convidou designers como Claudia Moreira Salles, o decorador Ari Lyra e o sushiman Jun Sakamoto (arquiteto de formação, por sinal) para desenharem seus desejos em objetos de mesa.

62

Ela própria também misturou a elegância da prata ao visual quase singelo de um graveto, talheres com um quê de artesanais, bom humor na nobreza do metal. Noutro dia espiou as grandes panelas de barro de fazer moqueca, lá do Espírito Santo, e criou uma versão idêntica em prata, anunciando que a ternura da comida não foi esquecida. "O pessoal da empresa reclamou que a prata estava fora de moda. Mas eu pensei o contrário, me lembrei desses momentos do ritual da comida, que é o que dá sabor à vida, e do objeto de prata, que é durável, costuma ficar nas famílias por gerações. Criei um jeito de usar a prata no cotidiano, porque tem tudo a ver comigo que adoro comer, cozinhar, ficar 20 horas na mesa conversando. Adoro alimentar o outro”.

Formada nos frios anos de 1980, do design limpo, sem fazer alarde, Baba demorou um pouco para demonstrar que todos os objetos cabem em seu amor. "Eu olhava uma torneira e achava generosa, mas imaginava que me achariam louca se eu dissesse isso". Aos poucos, foi percebendo que muito mais gente via o mundo com essa lógica amorável — uma listinha de respeito, como a espanhola Patricia Urquiola (seus móveis, um deslumbramento, têm o apuro de um vestido de altacostura), o holandês Marcel Wanders (que faz maravilhas artesanais, como sua cadeira de macramé), ou o brasileiro Ronaldo Fraga (seus desfiles vêm com enredo e personagens, como se as roupas tivessem vida própria — e as peças que ele cria para a casa seguem pelo mesmo caminho). Uma turma que, como Baba, persegue a delicadeza.

“Uma das melhores coisas do design é pensar que algo que você cria pode melhorar a vida das pessoas, de alguma maneira, real ou subjetiva. Objetos que melhorem a experiência do dia a dia, que inspirem as pessoas, que tragam prazer, são minha motivação ao criar produtos. Quando comecei a trabalhar com a St.James, tentei entender o caráter particular do material — a prata — e como ela tem um poder simbólico importante. A prata é um material com grande durabilidade, que faz uma ponte entre passado e futuro. Isso me fez pensar na importância de um dia a dia mais lento e inspirador, com a mesa posta, a conversa, a energia boa do encontro com os amigos. Ideais de conforto e viver bem. Começaram a aparecer na minha cabeça as formas imperfeitas da natureza, o barro, a areia, o seixo, a pedra, o graveto.”


63


64


65


"Quero fazer as pessoas felizes. Não faço uma cadeira para mim, faço para as pessoas. Vou atrás de uma cadeira que seja boa, útil, mas que também tenha um componente emocional". Nem é intencional, mas cada peça sua traz, lá no fundo, a sensação de felicidade que foi ver seu pai trazendo um dia para casa a Peg Lev, do Michel Arnoult, encantado porque a peça vinha toda desmontada numa caixa de papelão, e a família se reunia para montar, Baba na frente, claro. Era um modernê que ela guarda até hoje. Ou como a mesa Gelatina, que Baba criou quando viu, numa fábrica, restos de acrílico colorido num tonel, separou os pedaços vermelhos e inventou a composição para a mesa, muito clean, contemporânea, mas transbordante de alegria. Tinha a cara da gelatina psicodélica da avó dela, feita aos pedaços, creme de leite misturado, aquele gosto de sobremesa favorita, igualzinha à da sua casa, da minha, das casas de todo mundo. Uma mesa que convida a sentar, bater um papo, partilhar um momento — como é a própria Baba. Porque se a Baba fosse uma casa, ela seria como aquela usada por Drummond para definir seu amigo Aníbal Pinheiro: "Ele era todo uma casa, de mesa posta e luz acesa".

66


67


68


Tempos modernos

69


Curto e simples. O escritor Rubem Braga assim ensinava a quem pretendia escrever: "Se estiver em dúvida entre duas palavras, escolha a mais simples. Se ainda assim continuar em dúvida, pegue a mais curta, e pronto”. Tudo bem, faltou dizer que ele era um dos três maiores autores brasileiros de todos os tempos — mas o chantilly da sua imensa sensibilidade estava mesmo na síntese. “Andei lendo livros, e descobri que aquelas cores todas não existem na pena do pavão. Não há pigmentos. O que há são minúsculas bolhas d’água em que a luz se fragmenta como em um prisma. O pavão é um arco-íris de plumas. Eu considerei que esse é o luxo do grande artista, atingir o máximo de matizes com o mínimo de elementos. De água e luz ele faz seu esplendor; seu grande mistério é a simplicidade", Rubem escreveu em O Pavão, uma de suas tantas obrasprimas de pouco texto e sobre o tema do cotidiano.

Foi por essa época, 1929, que Le Corbusier sobrevoou o Rio de Janeiro de avião, ao lado de Saint-Exupéry, e espalhou pelo Brasil as ideias que já vinha botando em prática por quase toda a Europa: por uma arquitetura limpa, em pilotis, tudo branco, voando de tão leve, a construção repleta de janelas, propondo arejar a vida. Era o pensamento funcionalista que defendia o mínimo de traços e o máximo de praticidade. Para ser acessível ao maior número de pessoas. Corbusier, com seus oclinhos de aros escuros, o ar de sujeito espartano, riscado à régua, queria mesmo abrir o compasso, fazer um mundo mais justo. E clean.

Podia ter mais ou menos poesia aqui e ali, o fato é que na década de 1920 não havia tempo para firulas. A industrialização chegava ditando as regras e o mundo teve de se virar para assimilar as linhas de montagem, os carros nas ruas, os gestos ágeis como a nova era da mecanização. O modernismo se desdobrava em dezenas de movimentos artísticos e Para que mais? Sem a cerimônia das políticos, na música, na pintura, na palavras, a vida fica mais arejada e filosofia, uns inclusive estapeando os todo mundo se entende. As histórias outros, mas ao menos no que tocava assim chegam fáceis a qualquer canto. à vida cotidiana, era preciso pensar Rubem começou a publicar suas rápido e enxugar os excessos. Até as crônicas em 1927 — já desbancando saias perderam tecido e subiram a pretensão do verbo e da alma, um pelas canelas, revelando novas jeito moderno e lírico de escrever que mulheres que, a essa altura, uns colegas de ofício sensacionais resolveram cortar também os cabelos, também partilhavam (nomes como livrar-se dos espartilhos e, de quebra, Mario de Andrade e Carlos da dependência dos homens (bem, Drummond de Andrade). E que daria essas sempre foram raras em origem, na geração seguinte, a uma qualquer época). Chanel criou linhagem genial — Fernando Sabino, seu vestido pretinho básico em Paulo Mendes Campos, Otto Lara 1926, botou por cima um fio de Resende, a turma da leveza verbal nas pérolas — e ela própria dizia que, se crônicas. fossem falsas, tudo certo —, e redefiniu o conceito de elegância feminina: chique era ser simples.

70

"Eis aqui este sambinha feito numa nota só. Outras notas vão entrar, mas a base é uma só. Esta outra é consequência do que acabo de dizer. Como eu sou a consequência inevitável de você. Quanta gente existe por aí que fala tanto e não diz nada, Ou quase nada. Já me utilizei de toda a escala e no final não sobrou nada, Não deu em nada. E voltei pra minha nota como eu volto pra você. Vou contar com uma nota como eu gosto de você. E quem quer todas as notas: ré, mi, fá, sol, lá, si, dó. Fica sempre sem nenhuma, fique numa nota só." Tom Jobim e Newton Mendonça, Samba de uma nota só, canção de 1959


71


Lá da Alemanha o pessoal da Bauhaus já tinha mandado dizer que a forma seguia a função — e estava dado o pontapé inicial para a aproximação da tecnologia com a arte. Dali em diante os designers suariam para descomplicar os móveis, os objetos, a vida doméstica. Foi nesse vai da valsa histórico que nasceu Vico Magistretti, em 1920, em Milão. Ao sair da faculdade de arquitetura, no pósguerra, o design italiano florescendo, Magistretti tinha na ponta da língua os mandamentos dos seus ídolos, Le Corbusier e Frank Lloyd Wright. Assinava embaixo do "menos é mais" de Mies Van Der Rohe, tirando o verniz de tudo o que bolava, com um refinamento inacreditável. Não era fácil. "A simplicidade é muito complicada", Magistretti disse uma vez, e ilustrou sua teoria com um toque poético, exibindo um guardachuva: havia peça mais complexa e simples? Ele acabaria sendo um dos pioneiros a aproximar o trabalho do designer com o dos executivos, e a fazer um trabalho primoroso de design industrial — como Baba faria, anos mais tarde, inspirada por ele. "Incrível como uma pessoa, mesmo a grande distância e sem se dar conta, pode influenciar o destino de outra. Posso dizer, sem constrangimento, que sou designer por culpa dele", Baba escreveu em artigo-homenagem sobre Magistretti para a revista Arc Design. Não foi apenas a beleza das peças que levou Baba a se encantar por ele — se bem que o primeiro móvel que ela comprou, ao se casar, foi um sofá lindo com a assinatura do italiano. “Eu me encanto como o Magistretti resolvia os desafios: fazer um objeto que cumpre tal função. E ele fazia isso maravilhosamente, com soluções incríveis, acolhedoras, e que à primeira vista parecem tão simples”.

72

É disso que Baba se lembra na hora de dar realidade aos produtos. E ela acabou fazendo da síntese o seu estilo, que pode ser resumido em três caminhos principais:

Na indústria Ela gosta de conversar com o pessoal que bota a mão na massa, pedir sugestões, aprender que tal peça ou ajuste é melhor que outro e entoar o mantra “tirar, tirar, tirar, ommmm”. Vai a muitas fábricas — são vários os fornecedores para lojas como Dominici e Dpot. Baba chega com o desenho, faz uma modelagem em 3D, avalia os pré-custos, uma rotina que acha essencial para qualquer designer — afinal, como criar algo só no desenho, sem saber se aquilo é possível na vida real? Foi numa dessas passeadas pelo chão de fábrica que ela teve a ideia para a sua luminária mais conhecida, a Bob. Quando estava reeditando os lustres Dominici para a coleção New Classics, Baba viu uma ferramenta de moldar aquelas luminárias anos 50, em formato de corneta. Achou que poderia inventar uma luminária de mesa com o mesmo desenho, que usasse a antiga ferramenta para dar o molde, mas com uma cara mais moderna. Num zás-trás desenhou os pés largos, leves, que podem ser articulados e dançar conforme a música. A Bob pode ser pendurada na parede, ficar no chão, na mesa, de cabeça para baixo, fácil como o seu próprio nome, que de qualquer lado que se leia dá no mesmo. Usar uma ferramenta que já existia para moldar a peça, em vez de criar alguma especialmente para produzir a luminária, enxuga os custos, economiza tempo, facilita a vida. Simples.

“O mínimo do mínimo. Foi essa minha intenção no projeto dessa família de luminárias de parede: peças muito simples de fabricar e de instalar, o que significa servir para qualquer tipo de projeto, não apenas quando uma casa está em construção e quase tudo é possível. São peças que parecem sair da própria parede, como se a massa fina estivesse deslocada, descascada, e a luz saindo suavemente de dentro dela. Quando lançamos a primeira, o Carlos Fortes criou para as lojas uma instalação muito instigante, uma repetição infinita das peças que criava um efeito quase hipnótico. Muito legal.“


73


74


“O antigo modelo usado para fabricar essa peça, na fábrica chamavam de bobina. O molde bobina prá lá, o molde bobina prá cá... a danada acabou ganhando nome de Bob. Esse tipo de refletor era uma forma clássica, muitas fábricas fizeram pelo mundo, com hastes meio espetadas, palitos, bem anos 50. Eu pensei aproveitar aquele modelo e fazer uma base mais harmônica, que acomodasse a cabeça e a deixasse girar dentro dela, assentando o conjunto. Uma ideia simples que também daria versatilidade para usar sobre a mesa, pilha de livros, apoiada no piso, pendurada na parede. Funcionou e agradou. Já fizemos brilhante, fosca, muitas cores, virou um novo clássico. Adoro a foto que o Marcelo Bicudo da Maverick Media criou para o anúncio no lançamento dela.”

75


“A luminária Essayage parece uma roupa em ponto de prova, com as costuras ainda aparentes, que mostram a modelagem. Antes dela os tecidos das minhas luminárias, mesmo soltos, funcionavam como revestimento, a estrutura interna é que dava grande parte da forma final. Nela, o tecido é solto, um balão, apoiado numa estrutura muito delgada, simples. Um cone refletor, por dentro, estica a boca inferior do balão; quando puxado para cima pelo próprio fio, faz mudar a forma da peça.”

76


No material Magistretti tem razão: simplificar dá um trabalho danado. Veja você, Baba queria trabalhar com tecido, mas cismou de deixar que ele falasse por si, sem mais elementos. Algo como ser capaz de cortar um pedaço de pano em quatro e, com princípios cartesianos, fazer uma luminária de sonhos. Assim ela criou luminárias que lembram saias balonês (ideia inspirada no raciocínio oriental, no volume, no caimento, na economia de exageros de estilistas como Issey Miyake). Dá impressão que a ideia saiu espontânea, de um jato, mas teve suor até limpar a estrutura. Enfim chegou a um tecido de algodão, dobrou-o formando uma saia godê, que parou em pé como se o drapeado dançasse sozinho. Dentro dele há um cilindro também de tecido que segura a estrutura. Um tubo de vidro separa o tecido da lâmpada e... voilá! A saia se sustenta certinha, sem mais delongas. A mágica está na geometria da coisa. "O meu raciocínio foi perseguir a forma que se sustentasse sozinha, buscar a experimentação e criar uma peça que tivesse um efeito dramático, mas que fosse fácil de fabricar".

“Depois do lançamento do Essayage, mergulhada até a raiz do cabelo na geometria da modelagem de tecido — com a ajuda preciosa dos cálculos e desenhos da Rita Wulf — o Marc lançou o desafio: porque é que as cúpulas de abajur tem que ser como são, sempre a mesma coisa — um arame sempre um pouco torto, sustentando um tecido colado ou costurado como antigamente? Desafio aceito, passamos a experimentar novos tecidos,

77

novas formas de criar estruturas tridimensionais a partir da geometria do corte e da costura. Ficamos obcecadas. Resultou numa família de difusores, em várias versões e tamanhos, todos com nomes de mulher. Chamei a coleção de Dress to Impress, e fizemos até tag como aqueles de roupa, pendurado com alfinetinho. A gente trabalha duro, mas se diverte com essas bobeiras.”

Esgotar a possibilidade do tecido como material era sua meta. Fez também o sofá Lona, em que o tecido é dobrado diversas vezes até ficar durinho, compacto e estrutura-se em si mesmo. Inventou a poltrona Manacá, um pedaço de pano preso a um disco de arame, quase uma rede circular e nada além. E foi mais longe ainda na sua poltrona Mandacaru, quando se deu ao luxo de chutar para lá a estrutura e as regras.


“Essa luminária é contemporânea das outras de tecido, saiu da experimentação com um nylon de uso industrial, para filtração, que tem a trama muito fina, logo uma transparência muito legal, mas também é ao mesmo tempo macio e armado, e mantém a forma depois de costurado. O efeito de luz é muito interessante, se dá pela sobreposição das camadas do tecido. Fiz de brincadeira algumas versões especiais usando a seda da Safira, quando a Eliane Gamal me convidou para um coletivo que ela apresentou na loja.”

78


“O sofá Lona veio em 2005, logo depois da Mandacaru, resultado da pesquisa para simplificação da estrutura, como também acontecia nas luminárias. Retângulos e quadrados, cortados em tecido de lona encerada, ganham forma pelas costuras. No encontro das faces o tecido é costurado, virado, pespontado. Fica como um canto vivo, durinho.”

“Essa poltrona de 2007 já era a pesquisa da folha solta no espaço, como nas arandelas que vieram tempos depois. Aqui a resistência vem do material usado para reforço em carros de corrida. Mais uma vez, o mínimo do mínimo: duas curvas unidas, de um lado cadeira, de outro chaise de deitar no chão. Mas como não podia faltar um paninho, vai nela um colchonete de lona. A brincadeira está no nome: batizei de Truck, porque é pintada com tinta automotiva e tem colchonete de lona de caminhão. Mas o truque mesmo são as posições de sentar.”

79


Na edição Editar é cortar, certo? É o que Baba faz, por exemplo, na Dpot. É preciso avaliar o conjunto da obra dos designers, selecionar as peças que cabem em determinadas coleções, fazer as contas e cuidar da produção. É bater um papo ao vivo com o designer e discutir o melhor jeito de produzir a peça, encaixar certas medidas nas ferramentas que já existem, sem comprometer a criação nem amuar o criador. Ou sugerir materiais mais viáveis quando o caixa está pedindo contenção. Na hora de reeditar peças de designers que já faleceram, o jeito é redesenhar o croqui — e, sem alterar a ideia do autor, adaptar a produção de uma peça feita nos anos 1940 aos novos tempos. É necessário conhecer a alma de quem cria, as sutilezas do seu ritmo, o pensamento por trás de cada peça. É como se o móvel fosse um poema em outra língua, que tem de ganhar nova tradução sem que seu autor revire no túmulo. Quer um exemplo? "Um móvel que usava jacarandá, que não existe mais. Temos de pensar numa madeira substituta que mantenha a beleza da peça e se comporte da mesma forma”, Baba diz. E a cada reedição, lá vai ela mergulhar no trabalho do designer em questão. Assim Baba vai fazendo as transições do antigo para o atual, da ferramenta para a peça final, do raciocínio para a intuição, permitindo a convivência entre contrários, construindo histórias numa linguagem que fala direto ao público. O amor pelo comedimento da cultura japonesa, o dia a dia na fábrica, o Magistretti, a Bauhaus, a leveza, o básico da Chanel, as crônicas, isso tudo ela foi puxando de um fio solto da própria vida — e foi polindo, numa Mandacaru aqui, numa mesa acolá, na exploração dos materiais, nas curadorias, nas reedições de peças, um repertório despretensioso e enxuto como uma canção bossa-nova. De traços abertos para todo mundo entender. Mas sem nenhum rabisco fora de lugar.

80

“Essa graciosa cadeirinha de John Graz editamos na primeira coleção histórica Dpot, em 2005. O maior presente foi conhecer a viúva de John, Annie Graz. E tomar alguns cafés com ela, fuçar seus guardados, um acervo de desenhos sensacionais que ela mantinha em casa — naquela época ainda não estava estabelecido o Instituto John Graz, gerido pela Claudia, neta dela, que hoje tenho o privilégio de ser conselheira. No processo de edição, Angélica Santi, Ideo e Caio Bava selecionaram esta peça, que adaptaríamos do conceito de “exclusivo”, típico do trabalho de John Graz, para o conceito de “seriado”, traduzindo o pensamento do autor aos materiais de hoje. Neste momento estou de novo mergulhada no acervo, localizando e selecionando algumas outras preciosidades que editaremos pela Dpot brevemente.”


81


82


“Geraldo de Barros, para mim, significa muito. Eu nem tinha nascido nos tempos da Unilabor, que adoraria ter conhecido, mas lembro muito bem da Hobjeto. Meu quarto de criança era de lá. Lembro da loja da Faria Lima, lembro de como se fazia a montagem de um ambiente, com papel quadriculado e móveis em escala. Eu nem sabia o que era escala, nem planta, mas achava sensacional aquele jeito de brincar com os móveis. Um dia soube que haveria uma exposição de Geraldo de Barros no Maria Antônia e fui lá, me apresentei para a família e disse que queria muito editar os móveis. Fui recebida de braços abertos, e decidimos fazer as três versões da cadeira de madeira da Unilabor. A edição foi e é um sucesso. Desde então tenho uma relação gostosa com Fabiana e Lenora de Barros, uma sintonia boa, e já estamos reeditando mais alguns produtos que vamos lançar ainda em 2012: o sistema modular de estantes, genial, e a cadeira geométrica com estrutura de ferro e quadros de madeira e palhinha.”

83


84


“A poltrona Rampa eu namoro há muito tempo e sempre tive vontade de editar, de trazer ao mercado. Acho uma síntese do pensamento do grande mestre Sergio Bernardes: engenhosa, inovadora, liberta de tudo que é pré estabelecido — sua forma é uma quebra de paradigma. Como disse Lauro Cavalcanti, ela não é aquela forma melancólica à espera do usuário, como toda cadeira é. Ela é uma forma plena, mesmo quando vazia. E foi assim, um dia, quando acompanhava a gravação da entrevista de Thiago Bernardes para a série Casa Brasileira, aproveitei uma deixa e pedi: me deixa fazer a cadeira do seu avô? Ele na hora topou e começamos a dar nossa ajudinha para a história. Foi uma trabalheira, é uma peça muito complexa. Para mim é um grande orgulho, agora a Rampa está aí, editada, prontinha, lançada, acho que o Sergio ia gostar de ver. Já estou trabalhando na próxima edição, a poltrona Rede, também uma criação dos anos 70, com todo o suporte da Kykah Bernardes, viúva de Sergio, que é a guardiã do acervo.”

85


“Brevemente lançaremos também uma série de produtos da arquiteta carioca Aida Boal, contemporânea de Sergio Rodrigues. Faz tempo que eu tenho esse desejo. Ano passado Zanininho fez a ponte e entrei em contato com ela e com a filha, Angela. Já tenho duas cadeiras em fase de protótipo, e uma terceira a caminho. Aida fabricou seus móveis artesanalmente, por um longo tempo, agora ela se cansou, mas juntas teremos a oportunidade de lançá-los numa escala um pouco maior.”

"Eu me lembro de uns 15 anos atrás estar passando pela Vila Madalena, e ter visto uma loja com móveis sofisticados, lindos, o que na época não era comum na Vila. Era a Básica Design. Fiquei impressionado com o trabalho, perguntei quem eram os designers e me responderam: 'É uma só, ela se chama Cristiane Babadopulos'. Nunca tinha ouvido falar dela e adorei. Logo depois escrevi um artigo para a revista Casa Claudia, "De onde saiu Baba Vacaro"? Também me impressionei com outra faceta dela, quando reeditou os clássicos da Dominici. E na mesma época que ela resolveu reeditar os móveis brasileiros para a Dpot, eu estava levantando a história dos móveis brasileiros para um trabalho, Design Brasil, que depois virou um livro, que tem até a Mandacaru na capa. Então a Baba me surpreendeu sempre com seus múltiplos talentos, e ela ainda fotografa bem, escreve bem, cozinha bem." Pedro Ariel Santana, jornalista, 2012

86


“Outro grande orgulho foi a reedição, em 2005, da cadeira Raio 23 e da poltrona Sand, criadas por Fulvio Nanni nos anos 80. Ele foi para mim uma grande inspiração — nos tempos da Nanni Movelaria eu estava saindo da faculdade de design e ele já era uma referência: editava seus próprios produtos — que subverteram as regras e marcaram época — e também abriu espaço para lançar produtos de outros jovens designers.”

87


88


PĂŠ no jato

89


90


"Eu ia lhe chamar enquanto corria a barca abre a porta e a janela e vem ver o sol nascer eu sou um pássaro que vive avoando..." Moraes Moreira, Pepeu Gomes e Luiz Galvão, Novos Baianos, Preta pretinha, canção de 1972

91

Está nos livros de história: a Rainha Elizabeth I fez da Inglaterra do século XVI um primor de inovação — além dos cofres enriquecidos pela pirataria, do uso da tecnologia nos navios, do jeito novo de comercializar, os ingleses estavam com tudo na cultura: eram os tempos de William Shakespeare, de Francis Bacon. Talvez por isso aquela turma andasse de nariz para cima — e para reforçar o ar de donos do mundo eles ainda vestiam umas golas duras, os rufos, cheias de ondinhas adornando o pescoço e elevando o ego. Ao ver uma dessas golas exibidas no Momu, o Museu da Moda de Antuérpia, Bélgica, Baba não pensou muito nisso. Gostou foi das ondas e, desculpem o trocadilho irresistível, teve uma luz. Achou que aquela gola vista de baixo para cima renderia um belo lustre.

Na volta, ela espiou as fotos da viagem e o rufo ganhou novo ângulo. Resultou na Ruffle, uma luminária pendente que é pura inovação, lançada pela Dominici em 2010. É, na verdade, um quadrado de acrílico suspenso por cabos de aço. Dentro dele, Baba dispôs o papel, perfeito difusor de luz, formando ondas como as da gola elisabetana. A experimentação, o gosto pela moda, a aula de história, tá tudo na luminária: o resumo de um bom passeio pela Bélgica.

“Parece coisa de gente doida, olhar uma gola e ver uma luminária. Mas foi assim mesmo. Na hora me vieram à mente as roupas de papel daquele desfile histórico do Jum Nakao. Como sempre, anotei no caderninho para não esquecer o insight. Depois, liguei para ele, perguntei qual era o papel e fui atrás. Daí para frente, o processo de sempre: mil experimentações, montanhas de desenhos e alguns protótipos depois, a luminária ficou pronta.”


É curioso isso, o que uma viagem pode provocar, aquele instante de deixar algo para trás e voltar outro. E a mesma viagem que transforma um, que retorna com outro cabelo, outras ambições, o inevitável sonho de dar uma banana para o patrão, não provoca nada na pessoa que viajou junto. Ou cutuca mudanças de outro naipe — é o caso da Baba, que sai fotografando compulsivamente gente, casas, ruas, igrejas, detalhes, sem hierarquia, sem previsão de história ou geografia — alguma surpresa sempre pode surgir daí. Em Belo Horizonte ela subiu e desceu as ladeiras registrando curvas, o espírito Niemeyer & cia. No Rio, gostou dos cobogós. Pensou em brincar com bolas. Propôs os tapetes de bolas para a Avanti, mas a realização seria complicada. Ela optou pela profusão de geometria das imagens, os desenhos do Edifício JK, e acabou criando para a Avanti a coleção Elementos, uma homenagem ao raciocínio modernista. Batizou os tapetes de Tabique, Gradil, Cobogó e, em cada um, revelou o seu jeito de enxergar Portinari, Burle Marx, Niemeyer.

92

“Meu trabalho na Avanti não previa o desenvolvimento de uma linha de tapetes, mas sim a curadoria de lançamentos e exposições das linhas tradicionalmente desenvolvidas pela Bia Lettiere e pela Márcia Bergmann, que desenham todas as coleções. Na comemoração dos 30 anos da marca, fizemos um lançamento lindo, com uma cenografia do Marton que se chamava 5ª estação. A coleção criada por elas foi inspirada em elementos da natureza, eram tapetes bastante complexos. Mas, sabe como é, quando você é designer e está dentro de uma fábrica, as ideias teimam em aparecer, e minha velha vontade de simplificar resultou nessa coleção — em que transpus alguns elementos do vocabulário plástico da arquitetura, que é uma referência visual muito forte para mim, para uma coleção que fosse bem simples de fabricar e reproduzir.”


93


O refinamento dessa turma da arte e da arquitetura modernas, poucos rabiscos dizendo tudo, bateu lá no coração de Baba mais ou menos na mesma sintonia que a elegância dos escandinavos (lá na Escandinávia ela teve uma síncope de felicidade, tudo tão perfeitamente simples) e o discreto charme dos japoneses. Quando foi a Tóquio pela primeira vez, em 2006, um velho sonho de adolescência — e é verdade, ela tentou aprender japonês para espanto da família, e só conseguiu mesmo aprender a fazer uns tsurus, aquelas dobraduras de papel em formato de pássaros da boa sorte —, Baba quase se sentiu em casa. A simplicidade nas formas, o comedimento nos gestos e na voz baixa, as proporções agradáveis, tudo em Tóquio lhe encantava. Foi lá que ela viu ao vivo a moda dos geniais Yohji Yamamoto, Rei Kawakubo, Issey Miyake, capazes de vestidos tão precisos como um haikai. De alguma forma, esse lirismo matemático iria reflorir nas luminárias de tecido que ela fez para a coleção Dress to Impress.

94

E Baba deitou poesia nesse tour japonês, tanto nas fotos (como o registro da banquinha de loteria, colorida, simplória, diante da fachada clean da joalheria Cartier, ou as imagens que são quase estamparia, de tábuas sagradas ou de pilhas de barris de saquê) quanto nos textos. Escreveu reportagem de turismo sobre o Japão para a revista Le Lis, da qual é colunista de viagens (sim, a Baba multimídia faz isso também). No texto dela, derretido, a pergunta que define Tóquio e nos faz questionar nossos modos: como um povo pode ser ao mesmo tempo tão hi-tech e tão zen?

Um pulo na Basílica de São Marcos, em Veneza, e, na volta, ela desenha os padrões geométricos de tecidos para a Casa Rima. Uma voltinha pelas panelas de barro do Espírito Santo deu nas baixelas de prata da St. James. A consultoria para a associação Trapos e Fiapos da comunidade de Santa Rita, no Piauí, quando Baba visitou as oficinas, ouviu a Tereza e a Nara junto dos teares, rendeu tapetes lindos (Baba na verdade deu uma consultoria de como melhorar ainda mais os produtos das moças, que já eram bons) tecidos pelas artesãs. As dezenas de casas, das mais simples às mais luxuosas, que ela visita para a série de programas Casa Brasileira; as feiras de design em Paris, Milão, Frankfurt, Londres; as cores intensas de Bogotá, onde se deslumbrou com o Museo del Oro, ou do México, que merecia sozinho um capítulo; os passeios sem pressa pelo sul da França, o interior da Inglaterra; o outro mundo que era a Cuba em meados da década de 1980 para onde Baba foi em lua de mel porque-oRogério-tinha-esse-sonho; esse imenso à vontade que ela sente de conversar com qualquer um em qualquer lugar, e o que é trabalho, e o que é só passeio, tudo vem batido no mixer e, de um jeito ou de outro, vira design.

Foi uma sensação quase tão forte quanto a daquela vez que ela foi para a Grécia — e é preciso dizer que, quando viu que não ia conseguir falar japonês, Baba tentou aprender grego, e guarda cadernos com as lições até hoje. Mas era grego demais até para ela — e Baba contentou-se em conhecer a cultura pelas comidas, os cheiros, tudo tão parecido com almoços do clã Babadopulos. Ali na Grécia, um dia, ela olhou no mar e enxergou o DNA: todo mundo tinha uma cara tão familiar, e as pessoas lhe paravam na rua, puxando conversa, como se ela fosse uma local. Na Turquia não foi muito diferente: kebabs, chás, os doces, as tâmaras, voar de balão na Capadócia, ouvir os chamados para as rezas, tomar um Talvez porque tudo ainda não é tão banho no hammam em Istambul, diferente da primeira viagem que olhar o Bósforo — e a cidade tão grudou na memória, aos oito anos, diferente já parecia um pouco dela. quando ela chegou numa cidade tão velha, tão impressionante, com tantos cheiros e um mar azul. Era Salvador. Dali pra frente alguma coisa mudou.

"Quando a nossa associação ganhou um prêmio do Sebrae, a gente podia escolher um designer para trabalhar conosco. Eu vi o trabalho da Baba Vacaro na Avanti e quis que fosse ela, mas me disseram que ela era muito cara. Pedi o telefone da Baba, liguei direto para ela, que na hora topou tudo, topou até ficar na minha casa. Eu disse que morava na zona rural do Piauí, ela falou que não tinha problema. Quando chegou lá em casa ficamos tomando cachaça na varanda, conversando até 2h da manhã, ela sempre super simples, sem exigir nada. Viu o nosso trabalho, elogiou, e não quis sobrepor o conhecimento dela, ela só limpou os excessos do nosso trabalho, e nos ajudou em 3 coleções. Também nos ajudou quando montamos nossa lojinha, e a participação dela foi fundamental para a gente, sempre. E ficamos sempre em contato." (Tereza do Carmo Melo, tecelã e diretora da associação Trapos e Fiapos, de Santa Rita, PI)


95


96


97


98


99


100


101


102


103


104


Boca no trombone

105


106


"Tenho de inventar o meu brinquedo Mola saltando no meu íntimo alegria gerada por mim mesmo é fácil, fluida, pluma, pétala..." (Brinquedos para Homens, poesia de Carlos Drummond de Andrade em Amar se Aprende Amando, 1985, Ed. Record)4

4 ANDRADE, Carlos Drummond, Brinquedos para Homens, Amar se Aprende Amando, Ed. Record, Rio de Janeiro, 1985)

107

Era uma provocação. E cosmopolita. A Klaxon, revista-manifesto que anunciou a Semana de Arte Moderna de 1922, botou São Paulo não apenas falando para o mundo, mas batendo um papo com o melhor do mundo. O nome Klaxon vinha do inglês, definição daquelas buzinas externas dos automóveis da época. O visual enxuto, racional, parecia saído direto das pranchetas alemãs da Bauhaus, e ainda com o luxo extra de ilustrações de Brecheret e Di Cavalcanti. E os textos traziam poemas franceses, italianos, espanhóis, publicados nos idiomas originais. Em português, então, o conteúdo era o fino, escrito por Mario de Andrade (praticamente o diretor de redação da revista), Oswald de Andrade, Guilherme de Almeida, Sergio Buarque de Hollanda, Manuel Bandeira, Menotti Del Picchia — esse último explicava a revista como "uma buzina literária fonfonando nas avenidas da Arte Nova".

Buzinar, como a gente sabe, é o jeito mais rápido de ser ouvido. Era também uma imagem avançada naquele tempo, quando começavam a se ver, nas ruas, os primeiros carros. Bem antes da Klaxon, o Almanaque Fon Fon berrava sua modernidade nas páginas, também ilustradas por Di Cavalcanti, Nair de Teffé, J Carlos... A Fon Fon, e pela onomatopeia já dá para se notar, era uma buzina mais brasileirinha, alardeando fatos cotidianos, mas igualmente moderna nos traços, gozadora, irônica, pronta para incomodar quem se levava muito a sério. Nossa Baba Vacaro, que é moça séria, mas sabe adorar uma irreverência, um dia olhou o cartaz da primeira Klaxon e achou que a buzina-logotipo da revista era a cara da sua luminária Bob. O mesmo formato cônico, leve, um megafone quase petulante no desenho. O conteúdo da sua mensagem também falava direto ao coração de Baba: aquele logo era uma síntese de design e comunicação, como afinal é todo o trabalho dela. Baba resolveu customizar sua Bob com listras pretas, diagramação idêntica à da revista, e apresentou-a em 2012 numa exposição que comemorava o aniversário da Semana de 22. E explicou: "Uma inevitável associação de imagens — reais e metafóricas — me levou a produzir esse trabalho, misto de assimilação, conjunção, apropriação, criação, homenagem".


Não faltavam motivos na Klaxon para inspirar a designer: o gosto pelo racionalismo; a abertura às ideias do mundo sem perder de vista a valorização do nacional; e, num toque poético, mais subliminar, até a curiosa coincidência com o mandacaru. Os modernistas amavam o mandacaru, o cacto que Tarsila do Amaral pintou na mais famosa tela brasileira, o Abaporu, de 1928, e ele apareceria tanto na série de gravuras que Lasar Segall fez sobre o mangue quanto no título do primeiro livro de poesias de Raquel de Queiroz, igualmente de 1928. Raquel andou dizendo que escolheu o nome do cacto nordestino porque ela mesma vinha do Nordeste, e queria colaborar no novo projeto de brasilidade estética que estava começando naquela década. Tudo bem, Baba não atinou em nada dessas coisas ao batizar sua poltrona mais famosa, tantos anos mais tarde. Mas o espírito modernista, brasileiríssimo, perambulava no ar quando ela criou a sua Mandacaru. Agora, a buzina também não estava tão longe. Quando Baba era menina, ali pelos anos 1970, não era o Chacrinha quem dominava a cena na TV balançando a pança, comandando a massa e buzinando as moças com o bordão “quem não se comunica se trumbica”? E dá-lhe fom-fom. Baba nunca teve dúvidas. Desde pequena optou por se comunicar.

108

Assim que despontou como designer os jornalistas perceberam que ela era tão boa de verbo quanto de croqui. Acabou convidada a redigir artigos, fazer reportagens e críticas de design nas revistas especializadas, como Arc Design, Casa & Jardim, Casa Claudia. E já que ela adorava viajar pelos quatro cantos do globo, poderia escrever a sua visão antenada e inteligente de cada destino... virou colunista de viagens. Fez rádio. Só faltava a TV. E veio o programa Casa Brasileira, no GNT. Tudo começou com os móveis. Baba planejava o lançamento da sua primeira coleção na Dpot, com o creme do mobiliário brasileiro, que ela pesquisou, foi atrás, reeditou e imaginou a cenografia da festa com Alberto Renault. Ele propôs fazer vídeos com as peças em lugares inusitados — enfiou uma poltrona Mole do Sergio Rodrigues no meio de uma feira livre, frutas, caixotes e verduras emoldurando nosso espírito tropical, a brasilidade saltando da cadeira, do cenário, da bagunça — uma alegria que se podia tocar. A projeção aconteceu em três telas simultâneas, que se cruzavam, enchendo de cor as paredes de concreto do MuBE (Museu Brasileiro da Escultura, em São Paulo), a iluminação de Maneco Quinderé, a produção de Cacá Ribeiro, a verba um tantinho assim, mas tudo nota 10 nos quesitos alegoria, harmonia, abre-alas.

Da outra vez, para a coleção Imaginários na Dpot, Alberto se empolgou e botou até baiana fritando acarajé no MuBE, painel de Sonia Braga em Gabriela, tropicalismo puro. Mas quando ainda estavam bolando essa última, Baba e Alberto conversavam sobre o que fazer, na antiga loja da estilista Isabela Capeto, que tinha ao fundo uma parede forrada de fotos de pessoas. Alberto olhou a parede e sacou a ideia: "Podíamos colher depoimentos de pessoas, mostrar as casas delas, contar sobre o morar, e isso podia virar uma série de televisão!". Levaram a ideia para o Sergio Buchpiguel, dono da Dpot. E não é que ele gostou? Baba e Alberto não queriam apresentar um projeto para o pessoal do GNT pensar a respeito. Queriam mostrar o programa formatado. Sergio, o patrão-topa-tudo, bancou cinco programas sem ter certeza se eles iriam para o ar. Foram. E a audiência adorou. O Casa Brasileira já gravou três temporadas, vinte e cinco programas, é possível comprar seus DVDs. Nesse tempo, Baba e Alberto seguiram por diversos estados, botaram no ar a casa de Regina Casé feita por Sergio Rodrigues, o edifício Cinderela do Artacho Jurado, a poesia em madeira do Zanine, a fazenda restaurada pelo Isay Weinfeld, a casa da Nilza logo ali na frente — as pautas que brotam de surpresa.

“Em Novembro de 2009 começa a tomar forma um delicioso projeto: Casa Brasileira, uma série para TV sobre o jeito brasileiro de morar na visão dos mais importantes nomes da arquitetura e design do país. Alberto Renault generosamente me transforma em aprendiz de roteirista. E de saída me ensina: se for gostoso de fazer, certamente será gostoso de assistir. Foi. É. Falamos do Brasil através do morar, numa bem humorada viagem pela intimidade das pessoas, ricas e pobres, célebres ou anônimas. Falamos do homem ao falar de arquitetura. Abrimos as portas de mansões e barracos, casas e apartamentos. Hoje, quase três anos depois, estreamos a terceira temporada e chegamos a 21 episódios – os 13 primeiros, das temporadas 2010 e 2011, acabam de ser lançados em DVD pela Globo Marcas. Rodamos seis estados e algumas dezenas de cidades pelo Brasil. Apartamentos e casas na cidade, praia e campo somam mais de uma centena. Neste passeio pelos nossos hábitos, tradições e particularidades, ao visitar pessoas tão diferentes, percebo que há algo em comum entre elas: o desejo de habitar uma casa que seja um conjunto de suas memórias. Uma casa que recenda a café sendo coado; uma casa com quintal, quer ele exista de verdade ou seja apenas um desejo, um vaso e um terraço. Uma casa para se sentir à vontade dentro da própria pele. Esse é o maior luxo que se pode ter. Durante as gravações, em Salvador, caminhando pelas ruas do Santo Antonio além do Carmo, percebi que as fotos viraram uma obsessão, ainda mais que Alberto resolveu usá-las na edição. Capturo as fachadas, os gradis, as correntes, as venezianas, os azulejos. Enquanto passamos pela rua olho pelas janelas e imagino a vida dentro de cada uma dessas casas. E lembro que Regina Casé contou que, quando criança, apertava todos os botões dos andares para que o elevador parasse e ela, com sorte, conseguisse espiar dentro da casa de cada morador.”


109


O programa ainda revelou o Chacrinha que mora dentro da alma da Baba. Não que ela seja espalhafatosa, muito pelo contrário. Baba quer morrer se achar que está aparecendo mais do que deve. Ah, mas ela não se trumbica: é uma comunicadora que pergunta, entra na casa, aprende, a curiosidade de menina começando história nova. Virou até bordão uma expressão de Alberto, "fazer a Baba". É apurar as sutilezas do olhar, do tato, do papo, do ouvido, do paladar. Deixar o entrevistado à vontade — e o programa inteirinho se enche de graça e fica mais lindo por causa do amor. Está aí o sucesso. Em cada casa mostrada, das mais simples às mais luxuosas, o que se vê é a identidade do Brasil, até nos seus estereótipos mais celebrados. A bossa. O jogo de cintura. Uma fruteira em formato de abacaxi. O calor humano, mesmo nas salas embaladas com cadeiras assinadas e poder de síntese. "Algum dia vamos fazer um episódio do programa só sobre bolos. Em todas as casas por onde passamos, de todos os estilos, nos ofereceram café com bolo", contam Baba e Alberto. Baba já escreveu que escolheu ser designer das coisas de casa porque é "onde pessoas e objetos se confundem intimamente". Assim vem misturando pessoas e objetos de todos os estilos, mostrando que o design, mesmo aquele não assinado, faz parte da vida de todos nós, está nas casas, na moda, na novela, no futebol. Nos amores de todo brasileiro.

110


“Demorei um pouco a aprender a não atrapalhar. Devo manter meu posicionamento, ficar no lugar certo durante as entrevistas. Assim: câmera no meio, som de um lado, Alberto do outro. Eu fico sempre atrás, para não desviar os olhos do entrevistado. Esta é minha visão mais freqüente.”

“A Baba é sempre curiosa. Ela olha atrás daquela porta, daquela janela, é um olhar não só atrás do que é visual, é um olhar em busca das sensações, das formas. Ela gosta de ver as casas, os moradores, as histórias. Acho que isso é especial nela, a curiosidade, a criatividade.” Alberto Renault, diretor do programa Casa Brasileira, 2012

111


112


113


"Um dia, andando à pé pelo Horto aprendi um novo significado para a palavra cobertura. Cobrir significa traduzir em imagens as falas de um entrevistado. O que para mim também significa fotografar. Muito. Tudo. Fachadas, janelas. Hoje me encantei com números. E placas. E com a casa 15, da Nilza."

114


115


Editorial

Cris Correa

C4 Publisher, specialized in architecture publishing, idealized four years ago a collection Design & Process, aiming at socializing, as Adélia Borges, author of our second volume, said: “the amplitude of design production in the country, the variety of approaches and trends as well as their different manifestations”. We also wanted to show that this is a multidisciplinary activity that focuses on visual art to one side and on the engineering to the other side, permeating, in passing, anthropology, sociology, psychology and culture. Despite the sector´s great growth and sophistication in the last years — through its recognition and capacity of adding value and offer better life quality, the proliferation of specialized schools and qualified professionals, the incorporation of technical resources and due to several historical attributions under the care of the Art´s performance — the Brazilian design has not yet been subject of enough studies capable of tracing its history in depth.

116

Our intention was to put the role of the design into evidence in our everyday life, even when this role is not perceived. Being a designer in contemporary days means being able to create objects that besides fulfilling their original function — a chair is meant to sit, a fork is meant to eat the same way that a car, a boat or an airplane are meant to move, a luminary has to illuminate, etc… — such creation must also approach the user of beauty and art. That means bringing to the everyday life the memories of a past time, of an experience, of a beloved person or of life itself. It means transforming the creature into a fun park in which the user is also co-creator once he or she is supposed to use the object as it pleases them, and adding to this very object new applications and new significances. Even though each theme being a universe in particular, we believe that the angle proposed presents to the great public a little of what there is of most interesting of what we conventionally call contemporary Brazilian design, and this way we concluded our first stage: select five distinct themes — boat design, luminaries, furniture and multidisciplinary, besides the book´s graphic design that dialogs and complements the contents presented and is this way the fifth element — within infinite possibilities.


Presentation

Cristina Ramalho

There is nothing lazier than listening to one of those boring people that whenever they have any new story to tell the go about saying that their lives would make up a book. Baba Vacaro belongs to the opposite category — she was invited to be part of the collection Design & Process, idealized by Cris Correa, and in her discrete manners Baba doubted she deserved to become a publication. Baba wanted to know whether I accepted the mission. Oh, sure! We were in her house, I looked around and right there in front of my eyes was — the Mandacaru armchair. There was the answer: the Mandacaru, with its flower shape, so modern and so Brazilian, so well thought of and so simple, open to all sitting styles. That chair brought in its shape the contents of its designer. After all, Baba is open to everything. She designs not only furniture and luminaries — she also writes, lectures, makes a TV program, she is a curator and re-edits pieces of the most important Brazilian designers. Her style as a designer is a way of talking about Brazil. So I imagined this book: as a flower that would bring chapters in its petals; the several processes that inspire Baba´s work.

Each chapter represents a kind of chronic that I wrote telling about where the ideas came from: memories that were stuck in Baba's mind since her childhood, her love for synthesis, her desire to generate comfort, people she met through books or in person, her travels and her desire to spy on other people's houses. The practical processes, how each piece was made or each collection edited, are quoted by Baba herself throughout the book. It is her voice punctuating each scene. Other voices, of special names of the design who related with Baba at any time also appear in short statements. In the visual art direction, Elisa von Randow put everything together beautifully, creating this almost cinematographic face, documental, live and abounding happiness, so as Baba is herself: a profusion of images, inspiring moments she collects around the world, travelling, working. And Cris Correa, in the general production, gave it its final touch with great essence, sending the material to be translated, revised and printed. So, with poetic justice, the team opened its arms widely as a mandacaru, eyeing and performing this job at 180 degrees, a cheerful team, everyone in the right place, showing that design, the one that is signed or the most spontaneous one, that is born in the streets with open traces is there in the football, fashion, in the soap opera and in the loves of every Brazilian. Baba´s work became music, it became samba. I would like to express my gratitude for being part of such refined team — Cris, Elisa, Baba. And I dedicate this book to another team, always essential: Nina, Vitor, Gladys (blowing some divine breeze) and above all to Tarcisio.

117


180 degrees

Cristina Ramalho Baba Vacaro

Ready for Everything Around the living room the Northeast style is revealed, the memories of cowboys, and the outlaws who banded together to reinforce their own type of justice, represented in the figure of their legendary leader Lampião, and well expressed by their local distinguished author Graciliano Ramos. The Northeast reconnects me to a plain landscape that lacks romantic ecologic hope but it displays a vigorous nature although discrete which is capable of bringing me a sense of courage and the feeling that I am no longer alone”. (The mandacaru in the living room, by Arnaldo Jabor) How come that a cactus that does not ever need either water or sun has such generous open arms to the world, that invites us to a philosophical thinking? The question spouted out of a chronic written by Arnaldo Jabor who wrote about the mandacaru, the flower-cactus that he had taken to his living room, strong as any folk from the Northeast, that remained elegant and still, asking for nothing, just waiting and waiting, and making the author think deeply about the nature of things. Baba Vacaro, who always enjoyed thinking about the nature of all things, read the chronic in the morning paper and smiled thoughtfully. She kept the mandacaru on her mind. She had never seen that flower, but found it greatly touching, the idea of a plant with its arms wide open to life, the pure simplicity that could be adapted to any other situation. So one day Baba imagined a chair that did not use any spring or wood and still would stand on its basic structure. That was something like imagining life without sun and water. She drew only the core essence, six cushions in the shape of flower petals that, depending only on how they were arranged, would allow one to sit, lay or lean on them for reading. Six cushions that could open like a fan, 180 degrees to attend the desire of the user to rest comfortably, lay there completely relaxed and seduced by its poetic forms.

118

A flower-chair, so Brazilian in a sense of making people feel comfortable, almost a cousin of the Mole armchair by Sergio Rodrigues. As easy as a hammock that can be hung in any corner of a room, where one can lay and swing gently. It was a democratic chair that dispensed any formalities, a chair capable of fitting naturally to any environment. Baba named her creation after the name of that kind flower-cactus, Mandacaru. Mandacaru chair was created in 2005 for one of the collections of Dpot — Brazilian furniture. It was, in the same year, granted with an honorable mention during the 19 th Casa Brasileira Museum award and just after that, appeared in the cover of the a book, Design Brasil. That chair turned into Baba Vacaro´s most famous creation — mainly because over her 20 years of career she created only a few pieces, and never remembered to enroll them in any competitions. If we take a closer look, perhaps this is due to the fact that her forms clearly reveal the designer´s essence. Baba has always been like that; open to new things, ready to change, extra curious about what was going on in the world, incredibly capable of adapting, just like a native flower. Like most Brazilians, Baba has a great sense of improvisation and the ability to adapt to any situation. That did not mean she belonged to those conceptual groups that create furniture out of the improbable, making chairs out of what is available around such as tires, pieces of wood, teddy bears, just for the amusement of someone who is able to recognize some sweet moments of life. Baba is of a different breed, the one that is devoted to logic: her drawings are precise and clean, inspired by Bauhaus rationalism, and in that concept of chic and simple that we find in the Scandinavian furniture where the pieces are meant to be used. Furniture like the pieces she saw in the windows of the design shops as she walked slowly along the sidewalk, holding to her books on her way to college. She was especially attracted by the pieces displayed at a famous shop named Forma, that no longer exists.

There, in the windows of that shop, were the seeds for the pieces of furniture that she dreamed of creating in her future. Those pieces seemed easy and functional, but filled with style, grace, intelligence and movement. She once sat on a Maralunga, the happiest sofa of her life — she was fascinated by the style of the Italian designer Vico Magistretti. “He was a more human rationalist”, says Baba. She was given the impression of the sudden beauty that lies in simplicity, such as the feelings she had experienced when she was a child and read the stories of a book collection called Para gostar de ler (To Enjoy Reading). Any Brazilian over his or her forties will remember: The stories written by Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Carlos Drummond de Andrade, Rubem Braga — all talented authors, who had a light writing style that seemed more like a relaxed conversation among friends in a bar, after a glass of beer, and yet with all the words carefully put in the right sentences and ideas. “Finding out that it was possible to write in the same way we speak was something really magical to me” says Baba. Surely it was possible to be practical and to make life happier. In her unique way, Baba manages to wrap her emotional memories together with concise solutions. That chronic by Arnaldo Jabor about the flower-cactus, turned into a chair, her grandma´s colored jelly would inspire her Jelly Table, (also created for one of Dpot´s collections), the clothes of the Japanese Rei Kawakubo and Issey Miyake served as an impulse for the lampshades made of fabric for Dominici. Things like fashion, pieces of colored glasses, literature, a conversation at the neighbour´s table, singing with her friend Marcia, the memory of a good moment of a trip, all together find their own place in Baba´s style, and it does not matter if they will turn into pieces carrying her signature.


Baba understood her own inclination: to edit everything that she reads, sees, listens to and feels. She is meant to set a beginning and an end to each and every story. With so many things to be noticed in the world, she was never happy enough by just sitting there and simply drawing whatever came to her mind. She wanted to move into the industry, estimating costs, giving a sense of reality to the products. She wanted to understand people´s desires and give life to them. “It has never been my desire to invent a chair out of nothing. I always wanted to do what I do: creating for a company from a briefing, understanding and translating the brand´s needs”, says Baba. Since she was 16, when she started her industrial design course at FAAP, she dreamed of being hired by someone (provided he let her do whatever she found worth doing) she also dreamed of being able to solve problems. After all, that girl who, despite studying at a school for girls, used to disassemble engines in her house´s backyard room that served as a workshop. Once she disassembled her brother´s motorcycle engine, just because she was concerned about finding answers to the many questions she had. Had she been a boy and played soccer, Baba would have become Dadá Maravilha (a unique Brazilian football player) of the soccer field. In fact all she was after was a problem so that she could come up with a solution. She was a problem solver. Unlike most teenagers she did not enjoy hanging hours with her friends on the phone; otherwise, she asked to spend her afternoons at her father´s cardboard factory, organizing the documents and papers: later when she was recently married she would do the same at her husband´s enterprise — she even worked on a complete operational system to improve the everyday running of the business.

119

She did things that way because she loved reasoning and also because she lacked a place where she could work out her real talent. When she finally got her degree, in the middle 80´s, there were not many places to go looking for a job. In Brazil there were very few design shops, most of them such as Forma, Design Store, Interdesign and Teperman offered the finest European furniture but almost nothing designed in Brazil. Brazil was still undergoing the classical complex of inferiority and submission to foreign culture, products and technology with exception to the national rock bands and musicians who seemed to know exactly how to please a generations thirsty for their own style of music which owed nothing to the incredible hits from abroad. Apart from that, Brazilian people was not very proud of their own productions — and design, to say the least, was nothing but some house stuff and yuppies shirts. Something like people saw in the motion picture 9 ½ Weeks of Love. Baba knew she would have to dive into unknown waters. For a while, soon after finishing college, Baba worked hand painting fabric. She shared a studio with her friend Sonia, a kind of workshop for new ideas. She had some fun and the two partners managed to sell their creation to C&A magazine - which meant good money - however Baba did not feel much of herself doing that. Making clothes was not for her and she knew it. In 1996 things began to change when a friend, who owned a factory that produced English furniture replica and asked her for some help to modernize his business. Needless to say that Baba was more than happy to accept such a challenge. In just 40 days she created the whole collection, 11 different sets of furniture, and also the brand name, Básica Design (The Basic Design). She also invented a new job title: “Brand Director”. From that point onwards her target was to set order to any other businesses that were in the same mood for modernization.

She first moved to Dominici where she was contracted in 1999 with the mission to bring a more competitive face to the lighting business. Baba rescued from the boxes of the past some awesome luminaries of the 50´s, 60´s and 70´s bringing about the storyline of lamps in Brazil. She also thought that it was the time for Dominici to go into the fashion scenery. Although she knew no one in the area she went after the crème de la crème of fashion designers and invited them to create a special collection. Among them there was Ronaldo Fraga, who made a lamp printed with poems by Drummond which he had read as a child. The chemistry couldn´t be better: Drummond, just like Ronaldo, just like Baba, was always focused in showing the poetic side of the world. Baba simply shone. So it was true, she was on the right track. Later she became the creative director of Dpot, and again she looked into the past to redefine the brand´s future: she brought back to glory names such as John Graz, Fulvio Nanni, Geraldo de Barros, and invented collections that translate Brazilian way of life with poetry and precision. Her role as a curator grew and grew and year after year she suggests new topics for the collections. She invites from the most famous designers to young blooming talents. “The most valuable asset are the people we put together in these events”, says Baba who helped define the profile of Dpot as the narrator of the history of modern Brazilian furniture. Many other companies kept an eye on Baba´s work, and so she took care of the traditional St. James silverware manufacturer — where she introduced the collection Pequenos Luxos Cotidianos (Small Daily Luxuries), having in mind Frank Lloyd Wright´s statement: “Dinner is, and always was, a great artistic opportunity”, and among the professionals she invited to design the collection there was even a sushi man, Jun Sakamoto.

Baba made beautiful carpets for Avanti. And since she was so keen on geometry she thought it could be a good idea to create fabrics prints with those mosaic patterns that she had seen on her last trip to Venice. So she created a collection for Casa Rima. It did not take long for people to realize that she was very eloquent and she was invited to speak her mind on the local and very famous radio station Eldorado, where she would have a short broadcast telling hints about everyday life design, almost always unnoticed by most of us. What Baba projected, above all, was the importance of design. In her office, Design Mix, located at the same backyard studio where she used to disassemble engines, she creates her products, aligns brands´ identities, prepares special courses, lectures, and writes articles for magazines about design, travels, books and the nice people she comes across, such as designers met around the world in her research for daring ideas, like a guy in far New Zealand who makes poetic lamps out of pieces of wood. Nothing escapes her astute eye. When she walks around the streets, she looks inside the open windows and wonders what goes on in those houses that unfortunately she cannot visit. Oh, the houses. Invited by Alberto Renault, with whom she worked in the scenography for Dpot´s exhibitions, Baba accepted to work on a television series called “Casa Brasileira” (Brazilian House) on GNT Channel. She had never done anything like that before, but, willing to accept the challenge, she added the title “TV screenwriter” in her resumé. With her friend Alberto and the sponsorship of Dpot, she travels around Brazil visiting wonderful houses of great Brazilian architects, artists or even ordinary people´s houses, which doors are open as a mandacaru in the living room. As if all that were not enough, Baba plans to have a radio station for Dpot, with programs that translate brand´s soul, going beyond borders through the Internet, mobile phones and all kinds of media. Apparently her new route is pointing more to communication than to design.


Similarly to the Mandacaru chair, Baba wants to be able to open at 180 degrees to the world and show to everyone, everywhere, that design, even in the most simple things, can bring comfort, good feelings or the unexpected — and that can even make life easier. That is Baba´s true meaning in life: she wants to spread happiness, information, portray the beauty of things, provide a few moments of affection. “The project and reflections walk side by side throughout Baba Vacaro´s career. She is a designer who thinks and a thinker who projects. I believe that these two dimensions join together with a rare touch of happiness in her performance as an Art Director for the companies where she works. This job, although not abundant in Brazil, is necessary to build a bridge between company owners and designers, and it is also a way to provide each company with a portfolio of coherent products aligned with their mission statements as well as with their brands. In this regard, Baba has also been encouraging the companies to dare a bit more and not to fear innovation — an attribute that cannot be missing in contemporary life.” (Adélia Borges, journalist, writer and curator of design).

About the Waves “It is not the straight angle that attracts me, nor the straight line, hard, inflexible, created by men. What attracts me is the free and sensual curve. Curves that I find in the mountains of my country, in the winding course of its rivers, in the clouds in the sky. It is in the body of the loved woman. Of curves is the Universe made. The curved universe of Einstein.” (Oscar Niemeyer) Baba looked at the waves, amazed, more or less like someone who sees the sea for the first time. It was so immense, so unexpected. Only the scenery could not possibly be less sunny: instead of the sea, a cardboard factory, that smell, kind of weird of the plain cardboard getting into the machine and coming out with waves, waves and more waves.

120

She was about seven years old, her thoughts far away. It was not about the design, it was not about the shape. The grace was in the magic of the transformation. That miracle of an old piece of paper being reborn again, with its edges trimmed and moving through the treadmill, getting into the cylinder, the smell of that mixture blending as if it was a cake, the happy dissonance of the machines moving, warming, undulating, announcing the chemistry with a poetic touch. Those are her childhood memories. The weekend coming, while her friends enjoyed themselves on the beach, Baba played hide and seek in the yard of her father´s cardboard factory, in the city of Porto Ferreira where her family owned some land. She moved around the paper containers. Then she would spy on the gardener growing vegetables for their meals. She would ask the maid for some fresh bread dough she was still going to bake. It did not take long for her to realize that the best part of any story was the production. It is about having an idea, putting things together to generate a third one. Everything could be reduced to this Cartesian simplicity. That way Christiane Babadopulos kept testing her abilities based on attempts and errors. She taught herself to read at the age of 4, when she was 5 she could already write, just following her older brothers, and in the kindergarten she enjoyed when she was given her nick name Baba, which would match even her husband´s last name, Vacaro. From a child she had never thought she would marry, instead she would travel around the planet. The curiosity for people and things plus her quick tongue, like Mafalda in the cartoons. She got married very young, though, never lived abroad, but she managed to trespass the frontiers and waves of all oceans. Surely with her temper It would take only a short walk in the neighbourhood to find something to occupy herself (crochet, knitting, sewing, embroidering, disassembling engines, cooking, whatever, she would always manage) and find something to talk about. As a teenager she would sit around her grandmother or any of her friends´ grandparents just to listen to their stories.

The family had no records of an artist, designer or inventor. They were hardworking, very serious and conservative people. From her mother, a kind but firm and strict housewife, Baba inherited the lack of quietness; from her father with a Greek and Lebanese DNA, used to receiving his friends with typical food, fresh fruit and plenty of drinking, she took over the habit of the abundant table so that guests would be welcome and feel at home. Later, these habits inherited from her family would manifest in other ways such as in her inclination for affection along with her clear thoughts in her artistic pieces in which identity is what matters. The story and who made them, this is what matters. “Design must carry emotion”, she keeps repeating. Mothers who are embroiderers, for instance, would be artists side by side with great designers at the Bordando Design exhibition, at Galeria Vermelho (Red Gallery), in 2011, curators Baba and Claudia Moreira Salles. The search for the meaning of a home or a cozy environment were the main subject of the collection Imaginarios (imaginary) for Dpot, in 2010, when Baba invited 20 designers to think about furniture based on their own personal experiences, their own perceptions of home, their best memories. Life comes as waves in the sea, and when the moment came for her to choose the theme for her last term project for product design degree, Baba remembered the cardboard factory. If her father could make hard cardboard boxes, why could not she create furniture out of cardboards too? She had never heard of the cardboard furniture created by the great Frank Gehry during the 1970´s. Also, it had not occurred to anyone that it could become popular in the future when the Campana brothers, subverting the material, would create sofas for refined environments; Domingos Tótora would make his light pieces, unthinkable, invented out of shredded cardboard; Nido Campolongo would build a career in paper furniture.


Baba pursued, as always, the logic. Cardboard supports heavy weights and stays firmly in place. If it is possible to make a hard box with internal partitions to keep objects, and it stays still, even if a person stands on it, and as she knew so much about cardboard boxes manufacturing process, it occurred to her that it would be rather possible to create a line of furniture to be used in fairs, conventions and other events. Practical furniture, that could be customized and adapted to any occasion. Baba and her friend Sonia assembled an entire line, and created a theme and a story — a fashion show. They produced a scenery with clothes hangers and they got an excellent grade. From there, cardboard furniture ended its career, getting back to boxes. Too much ahead, one could say. “In 1986 cardboard was considered so poor that would not attract anyone, our teachers appreciated the originality though”, she remarks.

As a matter of fact, all around the world 1966 was a spectacular year for design. In Italy Francesco Morelli founded the Isituto Europeo di Design, which later would spread through 8 cities, São Paulo included, forming a number of creative young people, who would set their route in the industries. In Germany, the great master of light, Ingo Maurer, who had just opened his studio Design M, saw in 66 his first lamp, the Bulb, become part of MoMA´s permanent collection. It was a feat of synthesis: a lamp fixed on a table, a classic design, celebrating the geniality of Thomas Edison. And even the post-modern Memphis movement, that started inventing its curves in 1981, was baptized over the name of a song by Bob Dylan, Stuck Inside of Mobile with Memphis Blue Again, written in 1966. Coincidences always make up good stories.

Inspired by these words, I come up with my own: the inconformity that generates intention and action is one of the great motivators of this project, acknowledging the value of freedom, equality, cognition as a path to knowledge and the rights that each and every one of us have to life is in itself a return to the world of the Ideas, a counterpoint to this moment in which we live suffocated by the superficiality of information. What we see as a result of this project are the stories of optimism, as in Kant´s Illuminism, which are told through the products. History has shown us that embroidering has always been responsible for building narratives and identities, subject that is turning into a major characteristic of contemporary design. In each of these products the embroidering does not constitute a random ornament applied to the shape. Rather the contrary, embroidering and product function as the dynamic exchange of energy between the physical bodies, in which both need to give and receive heat in order to reach a thermic balance. Together, they create a tight connection between practical purpose and symbolic function.

“Baba has a unique profile in the Brazilian scenery . She is curious, generous and creative. She happens and let others The fact is that originality was never a happen too” problem to Baba — if not hers, someone (Claudia Moreira Salles, designer) else`s. Things she observes, enjoys and wants to show to the world. I must be some kind of astral conjunction — have a look at the story and this might explain The hand is a window on to the mind* (original article written by Baba Vacaro for the girl´s inclination for good deeds. the exhibition Bordando Design, 2010) Baba was born in 1966, a cool girl, like They are not products of easy in the great hit of Roberto Carlos, a consumption neither has it ever been In a recent article for the The New York song which said (this girl is cool, she their proposition. They are, on the Times, John Gabler writes about the is really modern and drives fast/ she contrary, pieces that demand being post-illuminist moment that we are sends everything to hell and says that set apart from time; they need silence living: “We live in the much vaunted Age this is fashion nowadays). In fact Brazil and contemplation to acquire their of Information. Courtesy of the Internet, was modernizing since president JK had completeness. we seem to have immediate access to opened the country to foreign industry. anything that anyone could ever want *Richard Sennet, in his book The Craftsman, Niemeyer had laid sensual and lyric to know. We are certainly the most attributes this sentence to Immanuel Kant, curves over Le Corbusier´s thoughts by informed generation in history, at least from the book The Hand- a philosophical creating Brasilia, and here in São Paulo quantitatively. There are trillions upon inquiry into human being, by Raymond Tallis. the sinuous design of Copan building trillions of bytes out there in the ether — (project that had taken years to be so much to gather and to think about. accomplished and had changed from T ruler and compass going to the hands of And that’s just the point. In the past, we the architect Carlos Lemos, was finally collected information not simply to know finished and inaugurated in 1966). Yes! things. That was only the beginning. We We finally had pure design, charming also collected information to convert and clean, even on four wheels. In 1966, it into something larger than facts and the car model Puma was launched and it ultimately more useful — into ideas that won the best design award made sense of the information. We by a magazine named Quatro Rodas sought not just to apprehend the world (four wheels), a great achievement, and but to truly comprehend it, which is the it also won the title of best car ever primary function of ideas. Great ideas designed in Brazil. explain the world and one another to us.”

121

Storytellers “When I think of the future I never forget my past” (Dança da Solidão — The Dance of Solitude — song by Paulinho da Viola, Brazilian singer and composer) After his father´s death, Enrico thought that the future would not be exactly promising if he carried on living in that little cottage in Bologna. His mother, a classical singer, hardly ever had time to get changed before leaving the theatre and hurry home for her hungry kids after her presentations. Money was scarce. It was the year of 1922, and things were not running easily in Italy. Mussolini, who had just invented fascism, had taken over power and was determined to end the happiness of anyone who did not support his regime. Enrico, who was 13 in those days, thought it was about time to be one less at the table fighting for the limited portions available to feed themselves. He put on some more serious clothes and went risking his chances somewhere else, Genova more precisely, where he met an auctioneer and learned his skills. Curiously he knew how to spot the best products, just at a glance and sensed who were willing to pay well for them. He also knew how to say the right words to the right person. He would return to Bologna a decade later, well dressed and dreaming of starting his own shop. He sat at a table at the historical Café Zanarini and visualized his future when heard of a guy who was about to close his shop and move to Rome. Enrico offered to help him pack, his eye on the shop which later he managed to buy. That was how Enrico Furio Dominici started his beautiful shop, three windows displaying the best Italian pieces of crafts, objects, small pieces of furniture, and Murano glass pieces. He proudly named the shop after his family name. Enrico expanded from the classic to the vanguard pieces: in Venice he met the designer Pietro Chiesa and the architect Gió Ponti who together created sensational lamps for Fontana Arte. Chiesa designed his Luminator in 1933, exemple of concision, that still remains a success in any living room of the 21st century.


Ponti, who was the editor of Domus magazine and would soon create the building for the Mathematics University of Rome, invented in 1931 the Bilia (a globe of light over a cone of metal, with a touch of art deco which impresses people even nowadays for its futurism). Ponti would turn into one of the three most important architects of the world.

He sold everything. In that time Rio was the federal capital, and there was plenty of entertainment like casinos and night clubs, and girls walking on the beach showing their beautiful legs. But São Paulo, where tradition and money abounded, had in the 20´s given its first steps towards modernity and was still moving on.

The Dominici shop sold only the most distinguished names such as Chiesa, Ponti, Gino Sarfatti, modern designers, mezzo rational, mezzo lyric, who designed for the new way of life in Italy, introducing functional design at an industrial scale, without loosing grace and beauty.

Pietro Bardi, with the blessings of his employer Assis Chateaubriand, inaugurated in 1947 The Masp (The Museum of Arts of São Paulo), downtown on a famous street named Sete de Abril. It was located on one floor of a building created by the French architect Jacques Pilon. The museum was projected by Lina, his wife. Lina´s daring ideas were ahead of the time. She tore the walls down, and opened room for the museum, as an anticipation for her taste for large open environments. All she wanted was a large empty and free area to be filled day by day by those who would use them.

When the crisis increased and the bombs of the World War II started exploding at their doors (one indeed blew at Lina Bo Bardi´s door), each of them ran their own way. Many left the country. The ones who stayed helped rebuilding what had been left standing. From 1946, Italy began investing in design and started to shine with the creation of the motorcycle Vespa and also with the ever growing and well seen automobile industry — Ponti, for example, met great wealth by drawing offices for Fiat. That was the decisive beginning for the success of the Italian design: the proximity of design to the industry. Enrico Furio was in the mood for change, and he wanted to change fast. He closed his Italian Dominici shop; thrust all his pieces into 35 boxes, and with his wife and two young children embarked on the first ship, the Barão de Jaceguai, towards the sun and the good mood. On the same ship, next to his cabin, some familiar passengers; Lina (who had worked with Gió Ponti) and Pietro Maria Bardi. At first they all followed the same route. The Bardis were taking to Rio an exhibition of Ancient Italian Painting, sponsored by the Ministry of Health and Education, and Dominici organized an exhibition for his lot of pieces of design at Copacabana Palace hotel.

122

In the same year, Enrico Furio Dominici opened his first shop: Dominici Modern Lighting, on Xavier de Toledo Street, next to the massive department store Mappin. He combined the project´s daringness with the astonishing luminaries of Murano crystal. That rendered him compliments and admiration of many architects, but especially of Oscar Niemeyer. Similarly to Lina, Dominici was an enthusiast about the fact that this was a country where everything was still to be done, particularly in their field. Brazil was a country of a very recent culture, the freshness that Europe lacked. That was a generation that looked ahead, that dreamed of a new world that was yet to come. Wherever the Italians laid their eyes, right there in the very center of São Paulo, there were buildings being constructed. Auguri! Dominici would first open his shops In São Paulo, then Rio, sometime later, Belo Horizonte, and the rest of Brazil. He opened a shop in Copacabana on the 50´s, and his lamps and chandeliers were on the ceilings of the new movie theaters of Cinelândia, a big fashion spot then. His name would spread as a synonym of the European design vanguard.

Sometime later when the importations were restricted in the country, Dominici realized that he would have to make his own pieces, so he built a studio and his first small factory on the second floor of a shop on 13 de Maio Street, in São Paulo. He was the kind of businessman who intuitively did what some brand consulting offices do nowadays. He was able to anticipate the costumers´ desires and align his work with those desires and ideas. He was a friendly boss who worked for decades with the same staff; some of them became his friends. He formed an entire breed of lamps and lighting designers in Brazil and also introduced a concept of brand for the area. He created special projects for the modernist architects. His advertising campaigns, published in Acrópole and Habitat magazines resembled his products; they were clean and modern translating the identity of a distinguished brand, cosmopolitan, that even had its own printing workshop. Dominici grew and grew and shone for decades: in the 70´s its logo was redesigned by the great Argentinean sculptor and artist Antonio Lizárraga. It would be a shame for anyone willing to cause good impression not to have a Dominici lamp at home. Any real estate that had an original Dominici would fetch a higher price. Baba felt really impressed when she saw any of those advertisements in the papers, back in the 70`s. She thought the lamps were simply divine. It never crossed her mind that, years later, they would be part of her own story and more, that she would be the one who would rescue them from their dusty boxes. Because of the country´s several economic crisis, dictatorship and a long and painful period of transition, Dominici faced difficulties and it was eventually sold in 1998 to DL Lighting. That was when Baba and Dominici joined together. In 1999, after the success of the furniture she had created for Basica Design, Baba was invited by the new owner of the Dominici brand, the French entrepreneur Marc Van Riel, to recover the image and glamour of Dominici. Using her soul of an editor she decided to dive into the past to give a new sense and perspective to the business.


She surveyed the company´s history. She opened boxes, read old notebooks and studied the photo albums. There was so much to be told. She was amazed, everything was far much better than she could possibly have ever thought. Right there, right in front of her eyes, she the matter of her dreams. A lot of what she had studied was lying there in piles of old files and boxes. There were the lamps made by her heroes from her college books: Bilia, by Ponti; Arch (1962), by Achille Castiglioni: Falkland (1967) by Bruno Munari; Ariette (1973) by Tobia Scarpa and other pieces by Vico Magistretti, Richard Sapper…. names that she knew by heart. The rationalists that had created great solutions by drawing with three or four essential elements. Baba immediately understood that the best way to give a future to that brand was to rescue its wonderful past. In her first collection named the New Classics, in 2000, she reedited the classic pieces of Dominici´s lot from the 1950´s and 1960´s. Two years later she launched a collection named Vintage, reediting one of the most famous models of all, with J shaped glass pieces. Just a while later and she would especially make the Bouquet pendant, an astonishing handmade piece made of 185 crystal buttons, inspired in one of the most famous crystal lamps that illuminated the ballrooms of the golden years. Dominici shone again. Baba decided to go to Florianopolis to meet in person the man who had lived and sold a great deal of the design history of the 20 th century — Enrico Furio Dominici, they remained friends forever. They belonged to the same land. He was over his 90´s, and happy enough to tell her everything that you have just read with much more richness of details. They wrote letters to one another, short notes expressing appreciation. It was a relation lived from the distance and for a short time, but it was filled with affection. He was then married to Cleusa, his second wife, who was always kind on the phone and shared her concerns about his health with Baba, whenever she called.

123

Inspired by Dominici´s style in his early days creating history, Baba kept searching for innovation, new materials and technologies. She came across designers that presently create their pieces with untouchable lightness. Designers like David Trubridge from New Zealand who creates refined and delicate wooden structures for his lamps. Or the Japanese Toyo Ito, with his glass fiber cocoon luminary so light that it seems to float. Or Angus Hutcheson, from Thailand, who makes light with silk cocoons. Baba travels around the world in search of these new guys the same way Enrico Furio Dominici knew that the grace of things is in the pleasure of discovering them. Baba would extend this love for finding a brand´s inclination when she was also invited to work for Dpot, in 2004. There she reedited the furniture of Fulvio Nanni, Geraldo de Barros, Michel Arnoult and others, helping turn the brand into a focal point in the Brazilian furniture market. Not only did she intend to make Brazilian public familiar with some historical pieces that had long disappeared from the market but she also meant to achieve a greater goal which was to tell the history of a Brazil that is never out of fashion and it is exuberant, cozy, thankful to life and real. In other words, she wanted a sense of pride in the air. It was a kind eye towards the things that had come prior to open the new road ahead. When she created the 2007 collection to honor the 60 years of Dominici, Baba called the most modern Brazilian and foreigner designers and chose pieces with the highest technology. She used the slogan “60 years ahead of its time”. She was only honoring Enrico Furio Dominici´s keen intuition when he invented his business and apparently was able to envision the future far before anyone else would do. The fact that he was a man tuned with what is yet to come never prevented him from being nostalgic though. On the night of the collection´s launch Baba received a quick message from Enrico, who was about to be 100 years old and therefore unable to travel such distance (he died in 2010, at the age of 102): the message said: “Do not take me for a

romantic but only for a nostalgic: I will be present with my heart”. “Remember that best student in class? That is Baba. She is extremely rational, objective and does everything well. And she makes everything with such intensity that she has already become a reference in the design curatorial field. I met her when I bought Dominici, in 1999, and after working together for so long, we also became friends.” (Marc Van Riel, entrepreneur and owner of Dominici)

With sugar, with affection “The one who collects stamps for his nephew; who cries at the cinema when sees the reencounter of a father with his son; who holds a lizard, fearlessly and caresses it with his finger; who says to an unfamiliar visitor, already breaking the protocol with a burst of a feeling: “my father enjoyed sitting at that chair, only”; those are all captive of tenderness and, even apparently being as free as the others around, they shall move around in chains, tied to the tiniest feelings of affections posed by the great terrestrial traps” (Little Tendernesses, Paulo Mendes Campos) There was no replay: The sweet smile of Neide Aparecida, the advertising girl of the 1950´s, before the videotape invention, appeared on TV showing the wonders of a bed-sofa (but in the very moment of the presentation, the sofa simply did not work out, and the poor Neide had to give a half-hearted smile). She would then offer a fridge or a television, the finest new inventions of high technology for house appliances. “Neide falls in love with the hoover that she announces with the same ingenuity that made the characters of Madame Delli the dearest of all the mothers. And being so easy as she was, Neide Aparecida quits her passion for the hoover, this time, to fall for a blender, or even for the floor polisher machine”, that´s what the rather humorous writer Stanislaw Ponte Preta wrote in his column for Mundo Ilustrado magazine to justify why he believed that that naïve Neide deserved to be granted with the year´s best actress award.

This story is told by the journalist Joaquim Ferreira dos Santos in his book Happy 1958 — The year that should not end. “The big teaser Stanislaw was too close, so he could not see that far beyond the blender and the bed-sofa, Neide was selling the happiness for living in 1958”, writes Joaquim. It was such a sensation: Brazil was happy, paving the road to industrialization and ready for the progress. Niemeyer, with his well known curves, reflected the impatience towards the present time and inaugurated a new dawn in the heart of the country. All that Brazil — and the entire world in the post war optimism — wanted, was to be modern. Abound technology. Live 50 years in 5, as heralded president JK. More than 50 years later and those bed-sofas no longer show flaws. And, if by any means any house appliance breaks down they can be replaced in a flash. In the past 20 years, which were worth 200, everything is high tech, globalized or quickly replaced by the up to date or any new gadget coming from China. It looks as though the world has become a big showroom — thus being, there´s no fun. We no longer relate with objects, we are seduced by having them but not getting attached to them, still we keep dreaming about something that will bring us some happiness, as Neide Aparecida sweetly announced in those live TV advertisements of the 50´s. The big change of the 21st century happens in the core of the business: we do not seek for efficiency and agility. We need emotion. We want to have a replay of our dear moments. The memory our homes is so strong, so deeply strong, that we are capable of forgetting a place, a name, a date but we are usually capable of recalling the place where the China´s cabinet at our grandmother´s house used to be or your mother´s big sofa, so good to flop on. In the moments of pure idleness we long for something, nothing special but everything at same time, things like the smell of a baked cake, the lamp that stayed lit in the corridor hall, old mosaic tiles that you once found dreadful and that nowadays are so well regarded and named “vintage”.


Then, one day, you will have a glimpse of one of those mosaics and suddenly it makes sense, maybe because the old design is showing the time backwards: so when you see the piece you also see the boy or the girl you used to be, you remember the laughter of a good moment. It is not only a matter of playing tricks with your flashbacks. In fact, that object is telling you a story, and it does not make any difference whether it is true or not. That is the new role of the designers: to tell stories, to turn the affective memory into a playground and bring to the memory of the consumers, flashes of the moments that best reveal themselves. It is a new emotional luxury, as named by Gilles Lipovetsky — French philosopher author of “L´Empire de Ephémère” in which he explains that we live the hypermodernity. “The contemporary times watches a new type of luxury taking place, the emotional luxury, experimental, psychological, replacing the misters of social theatricality by intimate sensations” Luxury as we have learned is the exclusivity upon the object, things can be owned by a single owner, a privileged-power of owning. The emotional luxury however is what awakes our feelings. Retro chairs, an antique embroidering on a rather modern lamp, a top line refrigerator similar to the bulky one from your aunt´s house, the mobile phone holder that emulates a cassette tape, these are all fragments of a script. They all bring the self comfort of something we know, something familiar. Like those people we feel empathy for at first sight. Luxury is also the art craft, for what is handmade never comes out exactly the same and it might bring a message of a more graceful and affectionate life. Then, the mothers´ embroidering from a NGO, or the carpet made in Piaui, the handcraft that a family made when they gathered together to watch the soap opera on TV, all these types of personal arts, so peculiar of a remote area also become a bit of our own somehow.

124

“The world has become so fast that you need an emotional rescue, your own memories, or maybe a borrowed memory from someone else. For example, almost everyone dreams of a coal stove. The person´s grandmother may have never had a coal stove and have always lived in an apartment, but the idea of a coal stove might bring him the feeling of slowness, the memory of a relaxed conversation and the cozy feeling that apparently the coal stove brought to the people who used them in the past”, says Baba Vacaro. She remembers the Lebanese food being made, the curdled milk draining slowly through a piece of cloth, the Turkish coffee, bread coming out very hot from the oven of the cottage where she used to spend the weekends, and asking for some caramel syrup to spread over them. The fact is that cooking, eating and spending time at the table always brings a feeling — and why, then couldn´t design talk to an audience about these things that come straight from the heart? A table plentiful of home made food that always bring good feelings ended up in the Collection Pequenos Luxos Cotidianos (small luxuries of everyday) in 2007 for St. James silverware company. Baba invited designers such as Claudia Moreira Salles, the interior designer Ari Lyra and the sushi man Jun Sakamoto (a graduate architect) to transform their desires into table-ware. She herself also mixed the silver elegance to the simplicity of a twig, cutlery with an art craft touch, good humor brought into the stainless steel nobility. She also transformed traditional clay pans, popular for cooking fish in the Brazilian state of Espirito Santo, to a silver tableware, announcing that the tenderness of the food has not been forgotten. “People at St. James claimed that silver was no longer fashionable, but I thought exactly the opposite, I remembered that those moments devoted to food are the ones that give flavor to life and, as silver is such a durable material it could remain in a family for generations to come. I then crated a way of using silver on a daily basis, bringing the feeling of the good moments at the table. I like to cook, to feed people”.

Graduated in the cold years of the 1980´s, years of minimalism, very quietly Baba took some time to notice that all the objects fit in her love. “I looked at a faucet and found it generous but I thought people would find me crazy if I said so”. Slowly she started realizing that many more people saw the world through that same loving logic — some respectful people indeed as the Spanish Patricia Urquiola (her pieces of furniture were astonishing, as if they were a refined fashionable dress), the Dutch Marcel Wanders (who makes wonderful design crafts such as his macramé chair) or the Brazilian fashion designer Ronaldo Fraga (his fashion shows bring in its essence a script and roles as if the pieces of cloth had a life of their own — and the objects he creates follow the same path). A group of people that, like Baba, pursue kindness. “I want to make people happy. I do not make a chair for myself, I make them for people to enjoy. I try to create a chair that it is good enough, useful, but also a chair that could carry something emotional”. It is not even intentional but each one of her products bring deep inside the feeling of happiness which she felt when, back in the 70´s, her father brought home a Peg Lev chair by Michel Arnoult. He was amazed by the fact that the entire piece came completely disassembled inside a cardboard box, and the family joined together to assemble it, Baba first, of course. It was a touch of modernity that she keeps in her memory until today. Or the jelly table that Baba created after seeing pieces of colorful acrylic in a factory, she then separated the red pieces and invented a composition for a table, very clean and contemporary but overflowing with happiness. It looked like her grandma´s rather fancy jelly dish made with little pieces of jelly mixed with single cream that tasted so good. A table that invites people to sit around it to talk, to share a moment — as Baba likes it to be. Yes, if Baba were a house she would be like the one used by Drummond to define his friend Aníbal Pinheiro: “He was all a house with the table set and the lights on”


“Baba has something that very few can manage, which I think is the main challenge of design in the contemporary world: she manages to make design have its own digital in all its processes, in the construction and in the results. This is very touching, for creator and creature act like an extension of one another in her work, design and designer meet, and that is what makes all the sense.” (Ronaldo Fraga, designer)

Modern Times This is just a little samba, Built upon a single note/Other notes are bound to follow, But the root is still that note/ Now this new one is the consequence, Of the one we’ve just been through/ As I’m bound to be the unavoidable consequence of you There’s so many people who can talk, And talk and talk and just say nothing, Or nearly nothing I have used up all the scale I know, and at the end I’ve come to nothing, Or nearly nothing So I come back to my first note, As I must come back to you / I will pour into that one note, All the love I feel for you / Anyone who wants the whole show, Re mi fa sol la si do / He will find himself with no show, Better play the note you know (One note samba, song by Tom Jobim and Newton Mendonça, 1959) It is short and simple. The writer Rubem Braga would teach those willing to write: “If you are in doubt between two words choose the most simple. If the doubt still persists pick the shortest one and that’s it.” O yeah, we did not mention that he was one of the three biggest Brazilian writers of all times — but the chantilly of his immense sensibility was in the synthesis. — I have been reading books, and I found out that all those colors do not exist in the peacock´s feathers. There are no pigments. What exists is tiny water bubbles through which the light fragments forms a prism. The peacock is a rainbow of plumes.

125

I considered that this is the luxury of the great artist: reach the maximum with a minimum amount of elements. With light and water he makes his splendor; his great mystery is the simplicity”, Rubem Braga wrote in The Peacock, one of his many master-pieces of short text about the everyday life.

all excesses. Even the skirts lost some That´s what Baba remembers in the cloth and became shorter, went up to moment of giving birth to her products. the knees, revealing new women, who She turned synthesis into her style which then decided to have their hair cut, get can be represented in three main fields: rid of their corset belts and become Industry independent from men (well, these ones have always been rare at any time). She likes to talk to the workmen. She Chanel created her little black dress asks them for suggestions, she learns in 1926, acessorized it with pearls — from them, and she repeats the mantra Why more? Without a ceremony of and used to say; “no problem if they “take out, take out, take out, ommmmm”. words life becomes lighter and everyone are fake” — going back to basics, she She goes to factories all the time; there understands one another. This way the reinvented fashion: simplicity is the are several suppliers for Dominici and stories go easily anywhere. Rubem keynote of all true elegance. Dpot. Baba arrives with a drawing, started publishing his chronics in 1927 makes a model in 3D and evaluates — already defeating the pretension of In Germany the Bauhaus school had the pre-costs. A routine that she finds words and soul, a modern and lyric style already sent the message - shape essential for any designer — after all, of writing shared by some colleagues, follows function — setting the initial how can someone possibly create sensational writers such as Mario de kick off for the merge between art and something only through the drawings, Andrade and Carlos Drummond de technology. From that point onwards without knowing whether that is really Andrade. Style that would give birth to a the designers would sweat to simplify possible to be constructed in real life? It next breed of genial writers — Fernando furniture, objects and the domestic was in one of those walks through a plant Sabino, Paulo Mendes Campos, Otto life. At this point, Vico Magistretti that she had the idea for her most known Lara Resende, a new breed of verbal was born, in 1920, in Milan. When he lamp, Bob. When she was re-editing and writing lightness. finished the architecture university, in some Dominici lamps for New Classics post war times, when Italian design It was about this time, 1929, that Le collection, Baba saw a molding tool was flourishing, Magistretti knew by Corbusier flew over Rio de Janeiro on of the 50´s, in the shape of a trumpet. heart the commandments of his idols; a plane, next to Saint-Exupéry, and She thought she could invent a table Le Corbusier and Frank Lloyd Wright. spread all over Brazil the ideas that he lamp with the same forms by using the He endorsed Mies Van Der Rohe´s had already been putting into practice same old tool for the molding but with words “less is more”, getting the throughout Europe: ideas for a clean a new look, a more modern one. Very most of everything he created, with architecture, with slender columns, all quickly she drew the light articulated an unbelievable refinement. It was not white, so light that could fly. A building structure which allows the lamp to dance easy. “Simplicity is rather complicated”, filled with windows with the intention according to the music. Bob may be Magistretti said once and he illustrated of breezing everyone´s life. It was the hung on the wall, stay on the floor, on his theory with a poetic touch by functional thought that defended the exhibiting an umbrella: was there a more the table, upside down, easy as its name least traces to the maximum practicality. complex and yet simpler apparatus? He that can be read backwards. Using an It was meant to be something to be existing tool to make a new piece instead would become one of the pioneers to accessed by a greater number of people. approach designers and enterpreneurs. of inventing a new one, certainly cuts What Corbusier, a kind of fellow who down costs, saves time and makes life He would also perform a brilliant job in seemed to have been drawn with easier. That simple. industrial design — as Baba would do a ruler, with his little dark framed years later inspired by him. Material glasses, wanted indeed was to open his compass and draw a more adjusted “It is amazing how a person even at a Magistretti is right: simplifying is a world, and clean. great distance, without realizing it, can hard work. Baba wanted to work with influence the destiny of someone else. I cloth and also fancied that the material It was possible to find some poetry can affirm, without any embarrassment could speak for itself without any extra now and there, but in fact the 20´s did that I am a designer because of him”, element. Something like being able of not allow much room for fussy things. Baba wrote once in an article in honor cutting a piece of cloth into four parts Industrialization was setting the rules to Magistretti for Arc Design magazine. through Cartesian plan and make the and the world had to adapt itself to It was not the beauty alone that made dream lamp. So she created luminaries them by assimilating mass production, Baba fall for him — although the first that resemble balloon skirts (inspired Streets plentiful of cars, brisk moves piece of furniture she bought when she by japanese fashion designers like Issey imposed by the new automation era. got married was a beautiful sofa signed Miyake). They give the impression of Modernism unfolded into dozens of Magistretti. “It enchants me how he suiting naturally and easily, but there different manifestations: artistic, politics, solved challenges: making an object was a great deal of sweating and music, painting, philosophy, some that fulfills its functions. He did that fighting one another, but at least as far wonderfully, with amazing solutions, cozy thinking to reach such result and clear the structure. as everyday life was concerned it was and very simple at first sight”. necessary to think quickly and cut down


She found a cotton fabric that she folded like an open skirt; inside there is a cylinder also made of cloth that holds the frame. A glass diffuser separates the cloth from the bulb and voilà! The skirt holds itself firmly in place with no extra parts. The magic is in the geometry. “I pursued a shape that would be held in place by itself, I meant to produce a piece that would have a dramatic impact, but that could also be produced easily”.

That way Baba moves on making the transition of the old to the new, from the tool to the final piece, from the reasoning to the intuition and allowing the relation between the contraries. Building stories with a new language that speaks directly to the public. Her love for the Japanese contempt, the day to day life at the factory, Magistretti, the Bauhaus, the lightness, the basic of Chanel, the tales, all that she made emerge from her own life and refined it all gradually through every new production, like a Mandacaru chair, a new Jelly table, a new research in any material, in an unassuming style that is as pure as a bossa-nova song. It is a kind of art of open traces so that everyone can understand it, but still it comes about without a single line out of place.

Her target was to exhaust the possibilities of a piece of cloth. She also made a couch, Lona (canvas) in which the fabric edges are folded several times until they get pretty rigid, becoming the structure itself. She invented Manacá chair, which consists of a round piece of fabric held to a wire and nothing else, almost like a circular hammock. And she “I remember that some 15 years ago I went even further with her Mandacaru was walking around Vila Madalena and chair when she allowed herself the saw a new shop with sophisticated luxury of eliminating structures and rules. furniture, beautiful pieces, which were not very usual for that neighborhood. It Edition was Basica Design. I got impressed by the work and asked who the designers Editing means cutting, right? This is were. The answer was: “It is just one, what Baba makes, for example, at Dpot. her name is Cristiane Babadopulos”. I It is necessary to evaluate the designers’ had never heard of her and I adored. projects, select the pieces that best Soon after that I wrote an article for suit a collection, make accounts and Casa Claudia magazine, “Where does take care of the production, talk face Baba Vacaro come from?” I also got to face with the designers and discuss impressed about another facet of hers with them the best way of producing when she re-edited the classic pieces of each piece, without compromising the Dominici. And, in the same period, when creations nor displeasing the creator. Or she decided to re-edit Brazilian furniture even suggest materials more feasible for Dpot, I was researching the history of when the budget is demanding so. Brazilian furniture for a job, Design Brasil, which later became a book with her When it comes to re-editing pieces Mandacaru chair on its front cover. Then of designers who have already died, Baba surprised me with her multiple the only alternative is to redesign the talents, plus she photographs well, original sketch — and, without changing writes well, cooks well.” the author´s original idea, adapt the (Pedro Ariel Santana, Journalist) production of a piece produced in the 1940´s to the present times. It is necessary to understand the soul of those who create, their subtleness, the thought behind each piece. Just as if a piece of furniture was a poem in another language that has to gain a new version. Do you want an example? “A piece of furniture made in the past with a type of wood that no longer exists. We must think of a substitute wood capable of preserving the piece´s beauty and that behaves in the same way”, says Baba. In each re-edition she has to dive into the designer´s world.

126

Welcome aboard I was going to call you/while the boat sailed/open the door and the window/ and come to see the sun rise/I am a bird that spends life flying…” (Preta pretinha, song by Moraes Moreira, Pepeu Gomes and Luiz Galvão, Novos Baianos, 1972) It is in the history books: Queen Elizabeth I turned the England of the XVI century a master of innovation — besides filling their safes with wealth from piracy, the use of new technology in their ship fleet and new trading businesses, the English were far ahead in culture: those were the days of William Shakespeare and Francis Bacon. Maybe that is the reason the English stalked around with their noses pointing up — and to reinforce the feeling of being in the top of the world they wore hard collars ornamenting their necks and faces and sending their self-esteem up high. When Baba saw one of those ornaments — the ruffs — exhibited at the Momu, Museum of Fashion of Antwerp, Belgium she did not think much about the history itself. She enjoyed the waves, and if I may say so, she was enlightened. She thought that type of collar seen from bottom to top could become a beautiful lamp. When she returned, she looked all the photos she had taken and those neckbands gained a new angle which resulted in her Ruffle, a hanging lamp which is pure innovation, launched by Dominici in 2010. In fact it is square made of methacrylate suspended by steel cables. Inside Baba placed paper, a perfect light diffuser, forming waves as the ones of the Elizabethan collars. The experimentation, the taste for fashion and the history classes are all present in the lamp: a brief of a nice trip to Belgium. It is curious that what a trip can evoke, so as you leave something behind and come back with something new. The same trip that changes someone who gets back home with a new hair style or the desire of saying goodbye to the boss, may not cause any change in your travel companion nor instigate memories of the same type — that is Baba´s case.


She compulsively goes around shooting photos of people, houses, streets, churches and of any details, regardless their hierarchy and with no forecast about the geography or of the history — but there is a chance of some surprise coming out of that. In Belo Horizonte she went up the hills registering the curves and the spirit of Niemeyer. She liked the architectural elements. She thought of playing with balls. She proposed to Avanti a carpet with balls. She knew it would be difficult to execute. She opted for the geometrical images, the drawings of the JK Building, and created the collection Elements for Avanti; a homage to the modernist reasoning. The refinement of these guys artists and architects, whose few scratches said everything, touched Baba´s heart more or less in the same form that the Scandinavian elegance (in Scandinavia she was stricken by great happiness; everything was so perfectly simple). How about the discrete charm of the Japanese? When she went to Tokyo for the first time, in 2006, making an old dream from her adolescence come true — and it is true that she tried to learn Japanese for the amazement of her family. The only thing she managed to learn though was how to make some tsurus, those fortune birds made of folded paper — Baba felt almost at home. The simplicity of shapes, the contempt of their gestures, the low voice and the nice proportions, everything in Tokyo enchanted her. There she saw for the first time the great designers Yohji Yamamoto, Rei Kawakubo, Issey Miyake who were capable of making dresses as precise as a haikai. Somehow this mathematical lyricism would come about in her lamps made of fabric, the collection she named Dress to Impress. And Baba added poetry to this Japanese tour, in the photos (such as the betting kiosk, colorful and plain in front of the clean façade of the Cartier Jewelry shop or in the images that look like a pattern, of sacred tables or the piles of sake barrels) and in her texts.

127

She wrote an article about Japan for the Le Lis magazine, she happens to have a travel column in this magazine (yes! the multimedia Baba does it too). In her fine article the question that defines Tokyo and makes us question our own manners: How can Japanese people be so hi-tech and so Zen at the same time?

Her slow promenades through the south Blowing the whistle of France and UK countryside; the other “I have to invent my own toy/Springs world that was Cuba in the midst of the 1980´s where Baba went on a honeymoon jumping in my inner side? Happiness generated by myself/ it is easy, fluid, since that was Rogério´s dream; this plume, petal….” in-depth feeling for being at easy that (Toys for Men, poem by Carlos makes her want to talk to anyone Drummond de Andrade in Amar se anywhere, and what is work, what is only Aprende Amando, 1985, Ed. Record) a walk, it comes all blended together and, It was such a similar strong sensation one way or another, turns into design. It was a provocation — and cosmopolite. that she felt when she traveled to It was 1922. Klaxon, a manifestGreece — it is necessary to say that Maybe because everything is not so magazine that announced the Modern when Baba realized she would not different from her first trip, still retained Art Week, put São Paulo in the world speak Japanese she tried to learn in her memory, at the age of eight, map but also spoke to the most Greek. She keeps her notebooks with when she visited a city that was so old, interesting people in the world. The the lessons until today. But Greek was so impressive, filled with a variety of english word Klaxon fitted perfectly the a bit too much for her — and Baba smells and a deep blue sea. That city intent. Its clean shape, rational, seemed accepted to better understand their was Salvador da Bahia. From that point to have come out direct from the culture through the food, the smells, on, something changed in her soul. Bauhaus drawing boards and also with everything so similar to the lunches in “When our association was awarded an extra bonus, illustrations by Brecheret the Babadopulos Klan. with a Sebrae prize, we were allowed and Di Cavalcanti. The texts brought There in Greece she stared at the ocean to choose a designer to work with us. I Italian, French and Spanish poems and realized the DNA: everyone had a saw the work Baba Vacaro produced printed in their original language. In familiar face, and people would stop for Avanti and I wanted her, but they Portuguese the content was high quality, her in the street to start a conversation said she was too expensive. I asked written by Mario de Andrade (in practice as if she were a local. In Turkey things for her phone number and called her the director of the magazine), Oswald de were not much different: Kebabs, directly. She immediately accepted my Andrade, Guilherme de Almeida, Sergio teas, candies, flying in a balloon in proposal and she even agreed to stay in Buarque de Hollanda, Manuel Bandeira, Cappadocia, listen to the calls for the my house. I told her I lived in the rural Menotti Del Picchia — the latter prayers, bath in the hamman in Istambul, area of Piaui and she said there were explained the magazine as a “literary look at the Bosphorus — and the city so no problems. When she arrived in my horn blowing through the avenues of the different seemed a bit like hers. house we drank some cachaça in the New Art”. terrace, and talked until 2 am. She was A quick visit to the St. Mark´s Basilica Blowing a horn, as we all know, is the always so simple, never demanding in Venice, and when she returns she quickest way to be heard. It was also anything. She saw our work, praised draws the geometrical fabric patterns for an advanced image for that time, when it and never wanted to impose her Casa Rima. A quick view of the deep clay the streets began to see the first cars. knowledge, she only removed the pan from Espirito Santo and she made Long before the Klaxon, the Fon Fon excesses in our work and helped us the silver ware for St. James. Some Almanaque yelled its modernity on its with three collections. She also helped consulting for Trapos and Fiapos of Santa pages, also illustrated by Di Cavalcanti, us to assemble our little shop and her Rita´s community in Piauí when Baba Nair de Teffé, J. Carlos….the Fon Fon participation was fundamental to us and visited the workshops, heard Tereza and was a pretty Brazilian horn, spreading it still is. We keep in touch regularly.” Nara tell stories beside the looms, making (Tereza do Carmo Melo, weaver and around some daily news, but equally beautiful carpets (in fact Baba helped modern in traces, teaser, ironic, ready director of the association Trapos e the girls improve their own carpets to disturb whoever wanted to take it too Fiapos of Santa Rita, PI) which were already good). The dozens seriously. of houses, from the simplest to the most Our Baba Vacaro, despite being a luxurious ones that she visits for the serious lady, knows how to be irreverent, program series Casa Brasileira (Brazilian looked at a Klaxon poster from its first Houses); the design fairs in Milan, Paris, edition and found that the horn-logotype Frankfurt, London; the intense colors of of the magazine looked very much like Bogota, where she was fascinated by her Bob lamp. The same cone shape the Museo del Oro, or Mexico that alone head, a megaphone, very petulant in its would deserve an entire chapter. design.


The content of its message also spoke to the heart of Baba: that logo was the synthesis of design and communication, as most of her work is about, after all. Baba decided to customize her Bob with black strips, just like the patterns in the magazine, and showed it in 2012, in an exhibition dedicated to the celebration of the Modern Art Week of 1922. She explained: “One inevitable association of images — real and metaphorical — made me produce this work, blending assimilation, conjunction, appropriation, creation, homage”. There were plenty of reasons in Klaxon to inspire our designer: her fondness for rationalism; her way of being open to external influences, without losing track of her own cultural values; and, a poetic subliminal touch, even the curious coincidence with the mandacaru. The modernists loved the mandacaru. It was a mandacaru cactus that Tarsila do Amaral painted in her most famous painting, the Abaporu, in 1928, and it appeared in the series of engravings that Lasar Segall made about the mangrove swamps as well as in the title of the first book of poems by Raquel de Queiroz, in the same year. Raquel said that she picked the name of the Northeastern Brazilian cactus because she herself came from that part of the country and thus she wanted to contribute with the new project for Brazilian roots aesthetics that was just beginning in that decade. All right, Baba did not think of all these things when she named her most famous chair so many years later. But the modern Brazil spirit was in the air when she created her Mandacaru chair. There is another horn blowing coincidence in this story. When Baba was a girl, in the 1970´s, Chacrinha (a famous TV character at that time) was moving his big belly around, commanding the masses and blowing a particular horn he held hanging on a string, with the tagline “communicate or die”. So, fon fon (beep beep). Baba never doubted. Since she was a little girl she decided to communicate.

128

As soon as she started her career as a designer the journalists realized that she was as good at speaking as she was at drawing. She was invited to write articles, conduct reports and critics about design for specialized magazines such as Arc Design, Casa & Jardim and Casa Claudia. And since she adored travelling through all corners of the world, she could write about her impressions of each destination. She became a travel columnist. She also broadcasted design on the radio. The only work missing was on TV, and the opportunity came with the series Casa Brasileira (Brazilian Houses) on GNT cable channel. Everything started with furniture. Baba was planning the exhibition of the first collection for Dpot with the best of the Brazilian furniture, which she had researched, found and re-issued. She was planning the details of a scenography with Alberto Renault, whilst he suggested to produce short films of the pieces of furniture in surprising places — he put the Mole armchair by Sergio Rodrigues in the middle of an open air market along with fruit, boxes of vegetables framing the tropical spirit, the Brazilian atmosphere coming out from the chair in the middle of a big mess, the kind of happiness that could be touched. The projection was exhibited simultaneously in three screens, fullfilling the walls of MuBe (Brazilian Museum of sculptures, in São Paulo) with colors, along with a lighing design project created by Maneco Quinderé, everything produced by Caca Ribeiro. The budget was short but everything exceeded the expectations. Some time after that, planning another collection scenery, Imaginarios, Alberto was so enthusiastic that he put a Baiana frying acarajé at the museum, and a poster of Sonia Braga in Gabriela (famous novel/soap opera), pure tropicalism. But while they were still planning this last one, Baba and Alberto, drinking a cup of coffee at fashion designer Isabela Capeto´s shop, looked at a back wall covered with photos of all kinds of people.

Alberto came with an idea: “Why don´t we collect people´s statements, show their houses, their stuff, their furniture, talk about the Brazilian way of life, somehow this could become a TV series!” They took the idea to Sergio Buchpiguel, the owner of Dpot. And he liked it. Baba and Alberto did not want to present a briefing of the project to the TV staff beforehand. They wanted to show the program in its final version. Sergio, the cool boss, produced 5 episodes without even being sure that they would be broadcasted. Eventually they were, and the audience adored. Nowadays they have already recorded 25 programs and it is possible to buy the DVDs. During this time Baba and Alberto travelled all over Brazil and showed houses like actress Regina Casé´s project by master Sergio Rodrigues, the Cinderela building by Artacho Jurado, the poetry made out of wood by architect Zanine Caldas, a historical farm restored by Isay Weinfeld, or Nilza´s house right across the street, just like other themes that come about unexpectedly. The TV program revealed the Chacrinha that lives inside Baba´s soul. No, she is neither fussy nor noisy, on the contrary. Baba feels like dying when she thinks she is over exposed, but still she refuses to be quiet: she is a kind of communicator who asks lots of questions, goes inside the houses´ stories and people, listens to them with the same curiosity of a little girl. Such style has become an expression created by Alberto, “do like Baba” which means to refine the subtleness of the eyes, of the touch, deepen the conversation, discover the taste of things. Make the guest feel comfortable and the whole program fills itself with grace, like a samba that swings so cool and sways so gentle.


This is the magic formula. In each and every house, from ordinary to luxurious, what you see is the cultural identity of Brazil, even in its most celebrated stereotypes. The bossa nova; the improvisation; a pineapple shaped fruit bowl; the human warmth found even in fancy living rooms, bearing designers chairs and synthesis. “One day we will make a whole program based on cakes. In every house we have been, regardless the style, people offer us delicious coffee and home made cake”, say Baba and Alberto. Baba once wrote that she chose to be a designer of households because there is “where people and objects blend intimately”. Thus, she has been mixing people and objects of all sorts, showing that design is part of all of us. It is in the houses, in fashion, in the soap operas and in the football field. It fits the love of every Brazilian soul. “Baba is always curious. She looks behind that door, that window, it is a kind of look that it is not only after what is visual; it is a look in search of sensations and shapes. She likes to see the houses, the people who live in them, listen to their stories. I think that this is very special about her: curiosity and creativity.” (Alberto Renault, director of the TV program Casa Brasileira)

Cristina Ramalho is a journalist and writer. She started at Jornal da Tarde newspaper and, as a reporter, she worked at O Globo, Veja, Folha de S.Paulo and Brasil Econômico, writing about art, culture and behavior. As a freelancer she wrote for the magazines Serafina, Mag!, Vogue, Elle, RG, Marie Claire, Época, Icaro and several other customized magazines, besides international publications such as EnRoute and In. She is also author of ten books, among them Aprendí com minha Mãe (ed. Saraiva Versar, 2006); O Brasil Genial da Oficina de Agosto (LusteEditores), finalist of Jabuti Prize in 2009 in the Architecture and Urbanism, Photography, Communication and Arts category; the collection Comida Que Cuida which won the prizes Lupa de Ouro 2008 and Top Social 2011. She is currently editor for the V magazine, collaborator for the column of culture for Valor Econômico newspaper and has a site of chronics, called Ramalhetes.

Acknowledgements I get afraid of writing my acknowledgements and leave out the names of so many people that make my job possible. It comforts me the fact that I have already thanked them, and I always do it in everything that I assume, every time they embarked aboard my insanities, in every new challenge, almost always on a short notice. I thank Rogerio, who has stood by my side on a daily basis for the past 25 years — this must not be an easy thing to do. I thank everyone who have worked, and still work with me every day for mucking in and by their ideas that have always added value to what I do. Thank you all from the factories where I have been and from all the companies I have ever worked for. Thanks to all the designers and any other professionals whom I had the pleasure of working with. Thank you Adelia, Alberto, Claudia, Marc, Pedro, Ronaldo and Teresa for your kind words. Thank you Alessandra Friedmann and Sergio Buchpiguel for believing that this book was worth it. Thank you Cris Correa who convinced me to make it and thank you Carlinhos, paranymph of this project. I especially thank two incredible young ladies, responsible for making this book with such great care in such short time: Cristina Ramalho, whose humorous and sensitive writing I fell in love with and Elisa von Randow who embraced this project and knew how to beautifully translate it into images.

Baba Vacaro

129


Graduated in product design at FAAP in 1986, Baba Vacaro works at her own practice, where she develops projects and products, gives consultancy and acts in the strategic design management for several companies. She has been a frequent lecturer in events and seminars, spreading the design culture in the Brazilian market, and also guest writer for several magazines in the design and decoration fields. She worked for Radio Eldorado from 2010-2011 where she presented the broadcast Eldorado Design. Since 2009 she has been working as researcher and writer for the TV series (GNT channel) Casa Brasileira, directed by Alberto Renault. She was product curator for the textile company Avanti, in Rio the Janeiro and also for St. James, a manufacturer of silver plated tableware. For over ten years she has been working as creative director for Dominici, in research and development of lamps in Brazil and also in the selection of lighting products created by international designers around the world. Since 2004 she has been the creative director for Dpot, pioneer in the investment in brazilian furniture design.

130


Formada em design de produto pela FAAP em 1986, Baba Vacaro mantém um escritório próprio em que faz projetos de produtos, presta consultorias e atua em gestão estratégica de design. Tem sido palestrante frequente em eventos e seminários ligados à cultura do design no mercado brasileiro, é articulista convidada de veículos impressos especializados em design e decoração e também no rádio, onde apresentou o boletim Eldorado Design em 2010-2011. Desde 2009 atua como roteirista da série de TV (GNT) Casa Brasileira, dirigida por Alberto Renault. Foi curadora de produtos da empresa têxtil Avanti, sediada no Rio de Janeiro, e também da St.James, metalúrgica do segmento de mesa e presentes. Há mais de dez anos responde pela direção de criação da marca Dominici, atuando no desenvolvimento de produtos nacionais e na seleção de produtos internacionais de iluminação. Desde 2004 é diretora de criação da Dpot, empresa pioneira no investimento em design brasileiro de mobiliário.

131


Coordenação e idealização da coleção Cris Correa Texto e Edição Cristina Ramalho Tradução Solange Souza Revisão Ateliê de Textos Projeto gráfico da coleção Dárkon V Roque Design Elisa von Randow Foto da capa Ruy Teixeira Fotos de produtos Andres Otero Cacá Bratke Calazans Carlos Emilio Julio Menezes Marcelo Trad Pierre Refalo Ruy Teixeira Thiago Calazans acervo Aida Boal acervo Dominici acervo Fabiana e Lenora de Barros acervo Instituto John Graz acervo Sergio Bernardes Fotos acervo pessoal Baba Vacaro Retrato Rogerio Vacaro Imaging Marcio Mettig Rocha Impressão e acabamentos Intergraf

Patrocínio


Cristina Ramalho

Design & Processo Baba Vacaro De traรงos abertos 180 degrees



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.