Nossa narrativa histórica e cronológica dos caminhos do desenvolvimento da psiquiatria no século XX assinala, logo de início, a atuação de Kraepelin no cerne da dominante psiquiatria alemã, além de ser essa a nação preponderante no número de hospitais psiquiátricos e com fervilhantes estudos de neurologistas ilustres, tais como Hoche, Alzheimer e Nissl, particularmente na Universidade de Heidelberg, sobre as moléstias mentais. Ali perto, na Áustria, germinava, sob a tutela de Freud, outro baluarte da psiquiatria do século XX, o movimento que se tornou poderoso por décadas, a psicanálise, protagonizada inicialmente por grandes mestres, como Adler, Jung, Abraham e Stekel. No Brasil, a psiquiatria dava os primeiros passos com Teixeira Brandão e Juliano Moreira. Já na França, destacavam-se os estudos sobre hipnose, bem como outras descobertas com Binet e Janet, além de Sérieux e seus alunos, entre os quais Capgras, que descreviam novas formas de psicoses interpretativas crônicas. Na Rússia, por sua vez, pesquisas sobre reflexologia eram capitaneadas por Pavlov e Bekhterev. Narramos também o progresso da psicopatologia na Universidade de Heidelberg, com expoentes da psiquiatria alemã, como Kretschmer, Jaspers e Schneider. No Brasil, o local de estudo da psicopatologia foi o Hospital do Juqueri, criado por Franco da Rocha em conjunto com seus ilustres componentes, entre os quais Pacheco e Silva. No fim da primeira metade do século, a psicanálise foi se firmando com Anna Freud, Klein e Jones, enquanto Wagner-Jauregg descobriu a malarioterapia para o tratamento da sífilis cerebral. Logo, em seguida, surgiram a insulinoterapia, com Sakel, o cardiazol, com von Meduna, e a eletroconvulsoterapia, com Cerletti, para tentar melhorar os sintomas psiquiátricos. Mas foram os primeiros calmantes bem como a descoberta da clorpromazina por Delay e Deniker e do lítio por Cade que levaram os hospitais a um significativo esvaziamento, enquanto prosseguia a psiquiatria de consultório em larga escala, particularmente nos Estados Unidos, com projeção nacional de Menninger. O progresso da psicofarmacologia se deu com descobertas de inúmeros benzodiazepínicos, diversos tipos de antidepressivos, antipsicóticos e estabilizadores de humor, enquanto a psiquiatria clínica respondia cada vez mais aos ataques do movimento da antipsiquiatria, iniciado por Cooper. Assinalamos ainda todas as linhas psicoterápicas que foram sendo criadas: o psicodrama, com Moreno; as psicoses, com Schilder; a psicopatologia fenomenológica e o crescimento da fenomenologia existencial, com Binswanger; a abordagem corporal, com Reich; a fenomenologia francesa, com Henri Ey; a logoterapia, com Frankl; a Gestalt, com Perls; e a psicoterapia interpessoal, com Klerman. Por fim, destacamos o aparecimento das classificações diagnósticas e suas implicações, bem como salientamos os últimos progressos do século XXI, inclusive o Prêmio Nobel de Kandel.
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Marcos de Jesus Nogueira - Coordenador Psiquiatra clínico, membro titular da Sociedade Brasileira de História da Medicina, autor de vários livros de Psiquiatria com apelo visual de arte gráfica e ênfase pedagógica, mantém nesta obra uma visão cronológica da História da Psiquiatria.
Maurício Eugênio Oliveira Sgobi Psicólogo clínico, especializado em Transtornos de Substância e do Controle dos Impulsos, também é autor de outros livros juntamente com o coordenador desta obra.
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