Iris Soriano Nunes Miglio
ISBN 9788584253913
ISBN 978-85-8425-391-3
editora
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evandro pechir
natural de Teófilo Otoni/M.G. Segundo dos 10 filhos de Lourival Pechir. Casado, 3 filhos e uma neta. Trabalhou no Serviço Social do Comércio de T. Otoni. Foi Assessor de Imprensa da Prefeitura Municipal de Teófilo Otoni e por 12 anos, Secretário Municipal de Ação Social e Habitação. Ingressou na radiodifusão nos anos 80, como locutor e programador da Rádio Teófilo Otoni AM. Trabalhou por mais de 20 anos ao lado do pai na emissora, de quem foi assessor direto e se tornou sócio. Atualmente, é Diretor Executivo da Rádio – Administrativo e Comercial, programador geral e, editor e apresentador do programa de jornalismo “Correspondente Ramos” – noticiário referência da emissora.
lourival pechir: um estúdio, um microfone, uma voz
Evandro Pechir é
“Ao lado das lembranças aqui registradas, de companheiros de trabalho, de amigos, que conviveram com ele, e destacaram sua inteligência e bondade, para resolver problemas e ajudar o próximo, gostaria de lembrar que Lourival, para mim foi, também, um grande ator para contar anedotas! Eram engraçadas, nunca marcadas pela vulgaridade. Muitas vezes, surpreendi meu esposo, Petrônio, que foi seu companheiro em viagens, dando gargalhadas ao telefone. Quando perguntava, quem é? Ele dizia: ‘claro que é o Lôro, com suas últimas piadas...’”
lourival pechir
um estúdio, um microfone, uma voz
A história de um gênio da comunicação, pioneiro da radiodifusão do Nordeste mineiro. “Eu sempre procurei fazer a minha parte.”
evandro pechir
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lourival pechir: um estĂşdio, um microfone, uma voz
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Copyright © 2017, D’ Plácido Editora. Copyright © 2017, Evandro Pechir.
editora
Editor Chefe
Plácido Arraes
Editora D’Plácido Av. Brasil, 1843, Savassi Belo Horizonte - MG Tel.: 3261 2801 CEP 30140-002
Produtor Editorial
Tales Leon de Marco Capa e Projeto Gráfico
Letícia Robini de Souza Diagramação
Letícia Robini de Souza Revisão
Elmo Pechir Iris Soriano Francisco Soriano Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida, por quaisquer meios, sem a autorização prévia da D`Plácido Editora. As fotos e registros presentes neste livro pertencem ao acervo privado da família Pechir.
Catalogação na Publicação (CIP) Ficha catalográfica PECHIR, Evandro. Lourival Pechir: um estúdio, um microfone, uma voz -- Belo Horizonte: Editora D’Plácido, 2017. Bibliografia ISBN: 978-85-8425-391-3 1. Lourival Pechir 2. Biografia 3. Homenagem I. Título II. Biografia CDU 929
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CDD 920
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Cresci sendo orientado que a vida ĂŠ feita de escolhas.
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gratidão R
econheço e exponho essa verdade. A rigor esse trabalho não alcançaria essa conotação, que já se desenha de interesse público, não fosse o carisma do personagem e os relatos fidelíssimos que o seleto grupo de parentes e amigos e até de pessoas distantes, algumas que já se foram, e dos que ainda sobrevivem para enriquecer esses apontamentos. Foram fontes caudalosas de informações, arquivadas na memória do meu convívio diário com esses cidadãos, nos fornecendo relatos espontâneos, contidos no bojo dessa coletânea. Temos consciência de que muitos desses pormenores são naturalmente mais difusos, faltando oportunidade de conhecê-las para avigorar mais tributo à memória do radialista.
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E ainda, gostaria de agradecer: À Deus, por conceder-me tal sabedoria e oportunidade. Aos meus irmãos,Vanessa, pelo riquíssimo acervo de fotos e registros de manisfestações, e ao Elmo, pela primeira revisão e coordenação do livro. À Paraíba fotógrafo, Ronei Wagner Araújo, pelos inúmeros cliques, mesmo a contragosto do senhor Lourival. Aos irmãos conterrâneos, Francisco Soriano, economista e escritor, e Iris Soriano, professora e escritora, pelas revisões seguintes. Ao também conterrâneo Doutor Jeferson Botelho, jurista, escritor e professor, por entusiasmar-me na reta final. E aos novos amigos, Plácido, Tales e Letícia, da D’Plácido Editora, por concretizarem este sonho.
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sumário 11 17 18 19 20 prefácio
origem libanesa
vendedor de peles
sem infância
retornando a teófilo otoni
22 25 28 31 33 amor á primeira vista
após as núpcias
recebendo nasce a paixão distinção de pelo rádio conde italiano
serviço de alto falante
36 37 49 51 56
transmissão da copa do mundo
noca pechir é premiado na loteria
novos empreendimentos
evitando tragédia
volta da estrada de ferro bahiaminas
58 60 64 66 72
fascínio pela fonte luminosa
rádio teófilo otoni em crise
posto de trabalho administrativo
novo tempo
textos publicitários
73 74 75 76 77
jornal falado X-7
comendas de destaque
discriminação
casos e anedotas
teria sido verdade?
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78 79 80 81 81
tropeço na gramática
entusiasmados discursos
transmitindo partida de futebol entre patrícios
recordando minúcias
brigas que devem ser evitadas
não era superstição
passando trotes
82 83 84 85 85
pegadinha com fernando gomide
folclórica figura
nomenclatura de ruas
86 87 88 89 90 explosão do wc
no restaurante amigo do rei
show na convenção nacional do lions clube
a bailarina de itaobim
imitando o alemão
rejeitando carona
no aguardo do namorado
90 91 92 93 93 ouvinte intrusa
escolinha no ar
o inventor
94 95 95 96 98 gravidez na linha
premiado na loteria
compra de um sítio
solidarizando-se conhecendo com excluídos josé de paula maciel
99 100 100 101 103
chegando de táxi na total chevrolet
balim blocos
inesperada reação
oração de são francisco
relacionamento com funcionários
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104 106 110 111 112 lúcio guedes (referência à parte)
mensagem à primogênita
embevecido com noites enluaradas
bela paisagem: o parto da lua
manias
113 120 122 125 127
caminho da nova gestão: eterna morada sucessão 11/abril/2004 familiar (domingo de páscoa)
correspondente ramos: o fenômeno
vera herzog: fiel secretária
honras póstumas
146 164 outros registros
epílogo
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prefácio E
stamos diante da narrativa extraordinária do caminhar de um homem simples que, depois de inúmeras tentativas de trabalho em algumas profissões, encontrou na atividade de radiodifusão, a paixão de sua vida. E trouxe para o Vale do Mucuri, como pioneiro, na década de 1950, a primeira rádio a levar para todos os seus rincões, conhecimentos vários, contribuindo, enormemente, para seu progresso. Isso, numa época de carência de comunicação e noticias das comunidades da região. Falo da Rádio Teófilo Otoni. Quem conta essa história é um de seus dez filhos, o consagrado radialista Evandro, que, buscando na memória afetiva e pesquisando muito, neste livro fez emergir a figura carismática do seu valoroso pai, Lourival Pechir, aqui biografado. Vamos desfrutar o prazer de conhecer o comunicador extraordinário, dotado do dom da alegria contagiante, da fé, da perseverança, a vencer todos os obstáculos, que não foram poucos, para atingir seus sonhos. Descendentes de libaneses, pelo lado paterno, certamente que o exemplo de coragem, espírito de luta e cordialidade de seus ancestrais, ajudaram a forjar sua personalidade.
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O surpreendente das adversidades advindas de seu trabalho é verificar que, durante a tormenta, contou, sobretudo, com o auxilio de forças espirituais. Assim, fica-se sabendo, que, por duas vezes, a ajuda financeira chegou, através de bilhete de loteria premiado. Testemunho de sua fé em Deus e devoção à mãe de Jesus, foi o programa que sempre manteve na Rádio Teófilo Otoni, a Hora do Ángelus, com um texto e oração, proporcionando momentos de espiritualidade para os lares da cidade. A fé religiosa de Lourival Pechir era seu escudo, a família, sua inspiração. Admirável sua convivência, cheia de momentos alegres, com sua bela esposa Sonora e filhos. Em um dos depoimentos de amigos, vimos o homem de volta de viagem, e logo cedo, acorda os filhos para ver o sol nascer e, em seguida, vão todos sentar-se à mesa para o café com pães fresquinhos trazidos pelo pai... Ao lado das lembranças aqui registradas, de companheiros de trabalho, de amigos, que conviveram com ele, e destacaram sua inteligência e bondade, para resolver problemas e ajudar o próximo, gostaria de lembrar que Lourival, para mim foi, também, um grande ator para contar anedotas! Eram engraçadas, nunca marcadas pela vulgaridade. Muitas vezes, surpreendi meu esposo, Petrônio, que foi seu companheiro em
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viagens, dando gargalhadas ao telefone. Quando perguntava, quem é? Ele dizia: “claro que é o Lôro, com suas últimas piadas...” Deixo com você, leitor, o prazer de conhecer a saga desse homem, que sempre esbanjou alegria por onde passou, deixou registrada sua marca, ao colaborar em importantes e exitosos em projetos da nossa cidade, como a criação do Corpo de Bombeiros, a instalação da Companhia Telefônica, o Frimusa e por haver dotado nossa cidade da Rádio Teófilo Otoni, motivo de orgulho nosso. Parabéns, a Evandro Pechir por este trabalho, feito com amor e seriedade, em alto estilo. Esta sua obra vem preencher a lacuna da história de vida desse excepcional personagem. Além do resgate histórico, leva o exemplo de uma existência, construída com fé e muitas lutas, que há de inspirar, positivamente, tanto a nossa, como as futuras gerações.
Iris Soriano Nunes Miglio Presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Mucuri
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N
ada é tão grande que não possa ser realizado e, o homem só se completa em seu decurso terreno observando três fases na vida: tendo filhos, plantando árvores e escrevendo livros. Os dois primeiros foram fáceis de levar a cabo: um cumprindo o plano do criador, ter filhos, o outro pelo amor à natureza. E me gabo de ser um ambientalista e de ter praticado loucuras pela preservação do meio ecológico, com episódios de rico conteúdo cabível numa outra obra literária. O último desejo, escrever um livro, permaneceu latente nos escaninhos do meu espírito, no aguardo de uma oportunidade para fazê-lo. A ideia estava concatenada no cerne da minha frágil cultura. O enredo foi aos poucos sendo alinhavado, à medida que a imaginação era aguçada, pela compilação de uma apaixonante história da vida real. Difícil começar, muito mais continuar, mas, se não começasse acabaria antes do tempo com aquilo que eu precisava e deveria ter feito. Riqueza de informações foram os empecilhos encontrados para o início da obra. Eram frugais meus conhecimentos a cerca da vida dele, de certa forma restrita, fora do ambiente doméstico. O cidadão que teve capítulos de notoriedade ortografados em compêndios da
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literatura mineira não merecia ter a fama postergada pelo egocentrismo tumular. O privilégio de conhecer a história de uma colossal figura humana, prodigioso empreendedor, introdutor do revolucionário progresso de radiodifusão no interior de Minas, não poderia ater-se unicamente à geração que testemunhou seu extraordinário feito. É necessário que o transcurso de sua iluminada vereda alcance gerações futuras, até mesmo por motivo de pesquisa escolar. Na galeria dos imortais, essa obra de exaustiva pesquisa popular há de perpetuar na memória dos que lhes sobrevivem, ainda que seja um suplício de saudade aos íntimos, como ocorreu com este seu filho ao ouvir os relatos espontâneos de munícipes pela paisagem urbana. Assim me capacitei para contar em emocionantes capítulos, a história de um dos mais proeminentes empresários da radiodifusão brasileira, meu pai... Lourival Pechir.
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Gustavo Pechir
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origem libanesa
Líbano não é um país de grande extensão territorial no mundo, mas encheu o mundo de libaneses. Para reforçar essa lenda, conta-se que os russos perguntaram aos americanos o que encontraram quando pisaram no solo lunar. De pronto a resposta ao interlocutor: “páginas de um jornal libanês”. Uma forte alusão de que foram os libaneses os primeiros a chegar à lua (ideias lunáticas ?). Um desses imigrantes, natural da cidade de Bsebdine, se juntou à leva de compatriotas peregrinos, viajaram por meses em compartimentos de navios, com destino ao Brasil, aqui chegando em 1899, se dispersando no desembarque, cada qual com destino diferente. Um deles, Gustavo Pechir, filho de pais libaneses, aportou em Teófilo Otoni com poucos recursos financeiros, enfrentando desafios de toda sorte, até mesmo de preconceitos, como valentes desbravadores em continentes longínquos, à cata de aventuras. Gustavo Pechir casou-se com a mineira Maria Augusta Pechir. O casal teve oito filhos. Lourival Pechir, o terceiro deles, nasceu em 9 de setembro de 1917, em Poté. Gustavo era mascate. Vendia roupas e joias na região de Malacacheta e Setubinha. Não bebia, mas fumava muito. Deixou tudo para explorar uma lavra de cristal rosa em Malacacheta. Anos depois resolveu tentar o comércio em Pirapora, no norte de Minas. Levou apenas os filhos menores. Dos que o acompanharam, Lourival era o mais velho.
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vendedor de peles E
m Pirapora, cidade banhada pelo rio São Francisco, trabalhavam com peles de animais silvestres (cobra, jaguatirica, caititus, lontras). Compravam-as de caçadores e as revendiam a uma empresa do Rio de Janeiro. Comercializavam ainda borrachas de mangaba (látex), resina de jatobá, penas de ema e crina de animais. Tudo destinado à exportação. Tais atividades demonstram o quanto a natureza, à época desses fatos, sofria agressões com a caça predatória. Mantinham na cidade loja de tecidos e calçados. Lourival fez curso para juiz de futebol. Estudou com o professor Abílio Lopes de Almeida, anos mais tarde nomeado árbitro da Fifa. Mas os negócios fracassaram. A família teve de voltar. Fixou-se em Queixada, povoado de Novo Cruzeiro.
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sem infância
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ourival Pechir, praticamente, não teve infância, visto que, já no verdor de sua adolescência acompanhava as pegadas do pai, intrépido libanês, de comportamento austero na educação dos filhos. Sem nenhuma posse, mas como todo asiático, trazia no sangue a vocação pelo comércio e permanecia pouco tempo no lugar, onde fixara residência. Migrava sempre para os municípios vizinhos com atividade itinerante. Já no começo da sua juventude, Lôro, como era carinhosamente chamado, auxiliava o pai no comércio de bugigangas, atraindo muitos clientes pela sua facilidade no trato com eles, sempre cortês. Reclamava com a família a falta de oportunidade para estudar, e o máximo que conseguiu foi cursar o primário, em uma escola de poucos recursos pedagógicos. O marasmo cotidiano o incomodava muito; o espírito provinciano dos municípios, restrito a quase nenhum progresso, com pouca vontade de crescer, pelas próprias condições de carência desses núcleos populacionais, mais voltados para atividades agrícolas. Com uma prole de muitos filhos, o povoado de Queixada, de limitadas condições de trabalho, incomodava os Pechir, sobretudo Lourival, o mais impetuoso deles. À época, Teófilo Otoni experimentava um crescente desenvolvimento em quase todo ramo da atividade produtiva. Já com o comércio bastante promissor, polo de atração de grande leva de investidores, notadamente no agronegócio, plantio de café e agricultura, implementados pelos imigrantes alemães, acrescentadas, mais tarde, ao comércio de gemas coradas.
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retornando a teófilo otoni
onvencido de que Teófilo Otoni ganhava contornos de uma metrópole fadada ao avanço rápido na sua estrutura urbana, pilar imprescindível para ampliar o desenvolvimento no comércio e na indústria, Gustavo Pechir decidiu por convicção própria e até mesmo pensando em uma melhor educação para os filhos, retornar à cidade do “Amor Fraterno”. Como progredir em outra atividade se a única profissão foi vender miudezas, aprendida em companhia do pai, em comércio ambulante? Era esse o dilema do então jovem Lourival. Sem oportunidade de estudar por falta de condições financeiras, foi obrigado a optar por uma profissão autônoma, representante comercial, segmento do que ele houvera aprendido nos primórdios de suas atividades. Opção iluminada, divina e abençoada, proveniente de sua força espiritual, luz para o foco dos seus desígnios. Começava ali a trajetória promissora e brilhante daquele que se tornaria um dos maiores gênios da radiodifusão brasileira. Com uma tabela de preços na bagagem e um imaginário diploma que a escola da vida lhe ofertou, sem as cerimônias protocolares de formação acadêmica, ele rompeu os limites da tolerância protetora dos pais e foi conhecer os grandes centros urbanos como Belo Horizonte, Rio de Janeiro e
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São Paulo. Este último lhe serviu como estágio de desmedida grandeza. Experiência que não se aprende nos bancos acadêmicos. Antes, adquiriu uma bicicleta e, em companhia do irmão Norival Pechir, o Noca, merecedor de destaque nesta história, parceiro inseparável de sua trajetória, percorria casas e comércios da cidade oferecendo mercadorias em condições de objetos consignados. Em curto espaço de tempo, nosso obstinado visionário arrebanhou uma freguesia tão seleta de clientes, que causou espanto aos patrões, que confiavam nele seus negócios de vendas domésticas. O mercado interno saturado e já pequeno, motivou seu deslocamento para outras praças de negócios, fora do domicílio.
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amor à primeira vista Suas viagens passaram a ser constantes, de idas e vindas, ensejando invariáveis prosperidades nos negócios. Em uma dessas incursões de visitas às empresas, ele foi recebido por uma funcionária das Casas Pernambucanas, de Figueira do Rio Doce, hoje Governador Valadares. Moça de uma beleza escultural, impressionava pelo par de olhos azuis, rosto de contorno perfeito, pele aveludada, ligeiramente rosada como uma singeleza de uma pétala. Os cabelos loiros cobriam parte de sua expressão facial, de angelical candura. – Seu nome? – perguntou Lourival, tomado por certa dose de emoção. – Sonora... Sonora Viana, respondeu a donzela, fixando o perfil do interlocutor. Entreolharam-se em breve silêncio, com afagos de mãos e despedida saudosa; e completou a curiosidade do formoso visitante, assomando que era descendente de pai português e mãe espanhola, mais tarde a eles apresentado. Retirou-se fascinado com a beleza daquela bela representante da sociedade valadarense. Não houve nenhuma promessa de um dia voltar. Só eles eram testemunhas do que houve naquele encontro contemplativo: Amor à primeira vista! Um ano depois desse encontro, já com visitas periódicas, o jovem casal contraiu matrimônio, em 25 de Fevereiro de 1944, ele com 26 anos e ela com 19. Foi uma cerimônia simples, mas de iluminadas bênçãos, tão simples como a condição financeira de ambos. E assim, viveu o casal harmonicamente,
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durante 60 anos. Uma união que gerou 10 filhos, 5 mulheres (nomes com a letra V) e 5 homens (nomes com a letra E):Vera,Vânia,Vanúsia,Vanísia,Vanessa e Evandro, Eduardo, Élbio, Elmo, Evânio. Sobre a conquista de sua linda e querida esposa, Sonora Viana Pechir, olhos azuis da cor do céu, que segundo amigos contemporâneos de Valadares, uma das mulheres mais bonita da cidade, costumava dizer em verso e prosa:
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após as núpcias
eu roteiro naquele mês era de viagens a São Paulo, onde recebera a proposta de representar empresas como Cinzano, Máquinas D’Andrea, Fogos Caramuru como o único autorizado no nordeste mineiro. Naquela época, Lourival gerenciava, em Teófilo Otoni, um depósito de macarrão e trigo de propriedade de Teófilo Rocha, seu padrinho de casamento. A empresa repassava o produto para o Moinho Inglês do Rio de Janeiro, mas acabou sofrendo intervenção do exército. Assim, o depósito teve que encerrar suas atividades. Isso pouco afetou o ímpeto do jovem representante comercial, que voltava suas vistas para as promissoras propostas advindas de São Paulo. Prenúncio de realização de promitente sonho, movido por uma força superior que sobrepujava todos os obstáculos, que o impulsionavam para cima. Repetia sempre, que o caminho pelo qual você atrairá o desejo é a senda da fé e da mentalização. Frisava, com frequência, que o destino não existia, nós é que o traçávamos, através dos nossos atos e pensamentos. Tinha irrefreável vocação pela leitura, especialmente as de auto ajuda. Certamente aprendeu com o filósofo Maquiavel, que empreendedores são aqueles que entendem que há uma pequena diferença entre obstáculos e oportunidades, e são capazes de transformar ambos em vantagens. Quem se adapta a esses conceitos não tem receios de enfrentar os desafios.
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Lera todas as obras do escritor americano Marden, associado ao movimento do novo pensamento, que recomendava leituras de consagrados escritores, com William James, Bristol, Emily Caue.Todos estudiosos da mente, com destaque para Mind Control, sistema americano de meditação dinâmica de José Silva. Sem dúvida, extraordinário método de ensino das aplicações práticas da projeção sensorial efetiva controlada. Participou, em 1976, do curso internacional sobre o tema.
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Alcançou estágios tão avançados na prática desses ensinamentos, que extirpava dores de cabeça com forte concentração e imposição das mãos. O que diferenciava esse promotor de vendas dos seus semelhantes era o caráter de cidadão otimista, determinado, impetuoso, esperançoso, convicto da fé, obstinado leitor da literatura de elevação do moral, razão da sua paulatina ascensão cultural. Debruçou-se em leituras de inúmeras obras, dos mais proeminentes escritores. Exemplares que combatiam o fracasso financeiro, a decadência social, o pessimismo que aniquila as vocações, reprimem e obstrui o caminho que nos conduz ao sonho almejado. Quando suas forças pareciam exauridas pela dureza do trabalho, tinha pronta uma frase do mestre Emily Caue: “todos os dias, sob todos os pontos de vista, estou cada vez melhor.” Praticava ensinamentos do profeta Davi: Abyssum invocat (pensamentos negativos atraem pensamentos negativos). Talvez, por influência de sua premente necessidade de estreitar relacionamentos, com o fito de alavancar vendas, algo novo aflorou à sua conduta pessoal, o dom da comunicação. Os empresários com os quais Lourival mantinha vínculos comerciais, dentre eles altos executivos das firmas que representava, nutria pelo mesmo grande afeição. Em seus roteiros de viagens, em visita a clientes, fora incluídas cidades da grande São Paulo como Lindóia, Limeira, Campinas, Porto Ferreira, Santo André, Ribeirão Preto e outras mais.
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recebendo distinção de conde italiano
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ourival nutria verdadeira paixão por São Paulo e era capaz de passar horas e horas descrevendo jubilosamente seus monumentos, praças, jardins, ruas e indústrias que o fascinavam pelo progresso. Com tal experiência, ele forjou o líder carismático. Foi um avanço extraordinário na sua profissão de representante comercial. Em pouco tempo, batia recordes de vendas, sobretudo, das Bebidas Cinzano, da qual foi agraciado com uma Kombi adesivada da empresa, pela habilidade e confiança no trato com os clientes.
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Até um conde italiano, sócio da bebida, ficou impressionado com o carisma e talento dele no convencimento para concretizar bons negócios. Como recompensa, lhe outorgou diplomas de mérito e distinções honrosas, sob intensos aplausos, nas assembleias de elogios e merecimentos pessoais. O curioso nessa história é que conseguia todas essas proezas sem nunca ter provado uma dose da bebida. Semelhante conduta tiveram os outros patrões, ao receber das mãos do Lourival os relatórios mensais,
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constatando considerável elevação das vendas de Fogos Caramuru, cujos slogans eram: “Não tendo a cabeça do índio, não é Caramuru”; e “Fogos Caramuru, os únicos que não dão chabu” E, da mesma forma, com as máquinas agrícolas D’Andrea. Como explicar a atuação de significativas conquistas de um modesto propagandista do interior mineiro, em relação aos seus colegas dos grandes centros como São Paulo, por exemplo? A força do seu desprendimento, da sua determinada fé, de acreditar que quando se traça metas, emite-se uma corrente magnética, uma sintonia que atrai a realidade infalivelmente? Com os cursos do Mynd Control, se aprende: “você é aquilo que pensa ser e a mente cumpre fielmente os princípios da sua crença”. É uma verdade bíblica.
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natural de Teófilo Otoni/M.G. Segundo dos 10 filhos de Lourival Pechir. Casado, 3 filhos e uma neta. Trabalhou no Serviço Social do Comércio de T. Otoni. Foi Assessor de Imprensa da Prefeitura Municipal de Teófilo Otoni e por 12 anos, Secretário Municipal de Ação Social e Habitação. Ingressou na radiodifusão nos anos 80, como locutor e programador da Rádio Teófilo Otoni AM. Trabalhou por mais de 20 anos ao lado do pai na emissora, de quem foi assessor direto e se tornou sócio. Atualmente, é Diretor Executivo da Rádio – Administrativo e Comercial, programador geral e, editor e apresentador do programa de jornalismo “Correspondente Ramos” – noticiário referência da emissora.
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