O peregrino

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O Peregrino Uma viagem deste mundo atĂŠ o mundo por vir



John Bunyan

O Peregrino Uma viagem deste mundo atĂŠ o mundo por vir

Traduzido por Robert Reid Kalley

Capinzal 2015


2015 by Editora FAEST Título: O Peregrino, uma viagem deste mundo até o mundo por vir - Ilustrado Traduzido do original: The Pilgrim´s Progress, de John Bunyan Todos os direitos em língua portuguesa reservados por:

Editora FAEST Rua Aparício Ribeiro, 221 - Capinzal, SC Cep: 89.665-000 - F. (47) 9998-2999 / (49) 3555-6986 www.lojafaest.com E-mail: editora@faest.com.br

Diretor Executivo Agissé Levi da Silveira Gerente Editorial Reginaldo de Souza Tradução: Robert Reid Kalley (1857) Edição do Texto: Reginaldo de Souza Ilustração: Edmilson Cotrim Capa: Anthony Levi Silveira Diagramação: A. Levi Silveira Revisão: Reginaldo de Souza As citações bíblicas foram extraídas da NVI - Nova Versão Internacional, 2000 © da Sociedade Bíblica Internacional. Salvo por autorização expressa e formal, é proibida a reprodução integral ou parcial do texto que compõe esta obra. 823 B942p

Bunyan, John, 1628-1688 O peregrino : uma viagem deste mundo até o mundo por vir / John Bunyan ; traduzido por Robert Reid Kalley. – Capinzal, SC : FAEST Editora, 2015. 195 p. Tradução de: The pilgrim’s progress. ISBN: 978-85-62246-xx-x 1. Ficção inglesa. 2. Ficção cristã. 3. Peregrinos e peregrinações cristãs – Ficção. I. Título.

Elaboração: Josiane Liebl Miranda (CRB-14: 1023)


Índice

Apresentação........................................................................ Cristão e sua família............................................................ Cristão e Auxílio no Pântano da Desconfiança.................... Cristão encontra Sábio-conforme-o-mundo......................... Cristão chega à porta estreita............................................... Cristão recebe ensinamentos de Intérprete.......................... Cristão fica livre do seu fardo.............................................. Cristão encontra estranhos no caminho............................... Cristão enfrenta dificuldades............................................... Cristão luta contra Apoliom................................................. Cristão no Vale da Humilhação............................................ Cristão encontra Fiel............................................................ Cristão e Fiel encontram Falador......................................... O nobre Fiel morre na Feira da Vaidade.............................. Interesse-Próprio alcança Cristão......................................... Cristão e Esperança na prisão............................................... Cristão e Esperança nas montanhas das Delícias................. O homem amarrado por demônios....................................... Cristão e Esperança encontram Ateu................................... Ignorância revela seus pensamentos.................................... Entrando na Cidade Celestial...............................................

07 11 15 23 33 38 44 47 55 67 75 82 93 102 116 131 142 148 161 173 186



Apresentação

O Autor

J

ohn Bunyan (1628-1688) era um homem de pouca instrução escolar. Ele seguiu a profissão do pai de consertar tachos e panelas e serviu no exército parlamentar de 1644 a 1647. Bunyan se casou em 1649 e viveu em Elstow até 1655, quando sua esposa morreu. Mudou-se então para Bedford e casou-se novamente em 1659. Ele foi recebido na igreja batista de Bedford pelo batismo por imersão em 1653. Em 1655, Bunyan tornou-se diácono e começou a pregar, alcançando grande sucesso. Em 1658, ele foi indiciado por pregar sem ter licença. As autoridades foram tolerantes com ele por um tempo e ele não sofreu impedimentos ou prisão até novembro de 1660, quando foi levado para a prisão de Silver Street, Bedford, onde ficou confinado (com algumas exceções semanais em 1666) por 12 anos, até janeiro de 1672. Bunyan tornou-se posteriormente pastor da igreja de Bedford. Em março de 1675 ele foi novamente preso por pregar publicamente sem licença, neste tempo ficou confinado na torre da prisão. Após seis meses foi libertado não sendo mais importunado pelas autoridades. O Peregrino é reputado como o livro mais publicado 9


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e lido em toda a história, depois da Bíblia. Trata-se de uma fascinante alegoria que conta a história de Cristão rumo à Cidade Celestial. Seu caminho é realizado em etapas, e, em todas elas, Cristão experimenta vários tipos de sofrimento e lutas intensas, passando pelo “pântano do desânimo”, pelo “monte da dificuldade”, pelo “vale da humilhação”, pelo “vale da sombra da morte”, pelo martírio de Fiel, pelo “castelo da dúvida”, até chegar ao rio que não tem ponte. Bunyan escreveu muitos outros livros, incluindo um que discutia sua vida particular e revelava sua preparação para a obra, designado Graça abundante para o maior dos pecadores (1666). Ele tornou-se um pregador popular bem como um autor muito prolífico, embora a maior parte de sua obra consista de extensos sermões. Na teologia, ele foi puritano. Não foi um erudito, exceto na Palavra de Deus, que ele conhecia inteira e profundamente. Ele também foi muito influenciado pelo Comentário da Epístola aos Gálatas, de Martinho Lutero. Em uma viagem a Londres, Bunyan ficou acometido de uma severa gripe e veio a morrer na casa de um amigo em 31 de agosto de 1688. Foi enterrado em Bunhill Fields, Londres.

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Crist達o observando a cidade celestial


Cristão e sua família


Capítulo 1

Cristão e sua família

A

ndando pelo deserto deste mundo, parei num lugar onde havia uma caverna; deitei-me ali para descansar. Logo adormeci e tive um sonho. Vi um homem coberto de roupas velhas, de pé, e com as costas voltadas para a sua moradia, tendo sobre os ombros um pesado fardo e nas mãos um livro (Isaías 64.6; Lucas 14.33; Salmo 38.4; Habacuque 2.2). Olhei para ele atentamente e vi que abria o livro e o lia; e, à medida que o lia, chorava e tremia, até que, não podendo reprimir-se por mais tempo, soltou um doloroso suspiro e exclamou: “Que devo fazer?” (Atos 2.37 e 16.30; Habacuque 1.2-3). Neste estado de espírito, ele voltou para sua casa, esforçando-se para reprimir-se o máximo possível, a fim de que sua mulher e seus filhos não notassem a sua aflição. Como, porém, o seu mal-estar aumentasse, não pôde por mais tempo dissimulá-lo, e, abrindo-se com os seus familiares, falou-lhes assim: — Minha querida esposa e meus filhos do coração, não posso aguentar por mais tempo o peso esmagador deste fardo. Sei com certeza que a cidade em que vivemos vai ser destruída pelo fogo do céu, e todos morreremos em tão horrível catástrofe se não encontrarmos um meio de 13


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escapar. O meu medo aumenta com a ideia de não conseguir encontrar esse meio. Ao ouvir estas palavras, sua família ficou grandemente assustada, não porque julgasse que aquela predição viesse a realizar-se, mas por se convencer de que o seu chefe não tinha as suas faculdades mentais em perfeito juízo. E, como a noite se aproximava, todos o fizeram ir para a cama, na esperança de que o sono e o repouso lhe acalmariam a mente. No entanto, as suas pálpebras não se fecharam durante toda a noite, que passou em lágrimas e gemidos. Pela manhã, quando lhe perguntaram se estava melhor, respondeu que não, e que o mal cada vez mais o afligia. Continuou a falar com eles, e a família, em vez de demonstrar compaixão por tamanho sofrimento, tratava-o com dureza. Esperava, sem dúvida, que esse modo de agir alcançasse o que a doçura não conseguira até ali: algumas vezes zombavam dele; outras, o repreendiam; e quase sempre o desprezavam. Só lhe restava o recurso de se trancar no seu quarto para orar e chorar a sua desventura, ou o de sair para o campo, procurando na oração e na leitura algum alento para dor tão indescritível. Certo dia, em que ele andava passeando pelos campos, percebi que se achava muito triste, lendo, como de costume, e ouvindo-o exclamar novamente: “Que devo fazer para ser salvo?”. O seu olhar desnorteado se voltava para um e outro lado, como em busca de um caminho para fugir; mas, não o encontrando de imediato, permanecia imóvel, sem saber para onde se dirigir. Vi, então, aproximar-se dele um homem chamado 14


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Evangelista (Atos 16.30-31; Jó 33.23) que lhe falou algo, travando-se entre ambos o seguinte diálogo: Evangelista: Por que você está chorando? Cristão (esse era o seu nome): Porque este livro me diz que estou condenado à morte e que, depois de morrer, serei julgado (Hebreus 9.27), e eu não quero morrer (Jó 16.21-22), nem estou preparado para comparecer em juízo! (Ezequiel 22.14). Evangelista: E por que não quer morrer, se a sua vida é cheia de tantos males? Cristão: Porque temo que este fardo pesado que tenho sobre os ombros me afunde para além do sepulcro, e eu venha a cair no Lugar das chamas (Isaías 30.33). E, se não estou disposto a ir para este cárcere horrível, muito menos para comparecer em juízo ou para esse tormento. Eis a razão do meu choro. Evangelista: Então, por que se detém, agora que chegou a esse estado? Cristão: Não sei para onde ir. Evangelista: Tome e leia. (E apresentou-lhe um livro em que estavam escritas estas palavras: Fugi da ira que se aproxima ─ Mateus 3.7). Cristão (Depois de ter lido): E para onde vou fugir? Evangelista (Indicando-lhe um campo muito amplo): Você vê aquela porta estreita? (Mateus 7.13-14). Cristão: Não vejo. Evangelista: Não vê uma luz brilhando no além? (Salmo 119.105; 2Pedro 1.19). Cristão: Parece-me vê-la ao longe. Evangelista: Não a perca de vista; vá direto a ela, e você encontrará uma porta; bata, e ali lhe dirão o que deve fazer. 15


Cristão e Auxílio no Pântano da Desconfiança


Capítulo 2 Cristão e Auxílio no Pântano da Desconfiança

C

ristão começou a correr na direção que lhe fora indicada; mas sua mulher e seus filhos, ao veremno fugir, seguiram atrás dele, implorando que voltasse para casa. Cristão não lhes atendeu, e, correndo com mais velocidade, gritava assim: “Vida, vida, vida eterna!” (Lucas 14.26). E, sem olhar para trás (Gênesis 19.17; 2Coríntios 4.18), prosseguiu até ao meio do campo. Vieram também os seus vizinhos (Jeremias 20.10). Alguns zombavam dele, outros o ameaçavam, e outros ainda lhe gritavam que voltasse. Entre esses últimos havia dois que estavam determinados a ir agarrá-lo e trazê-lo à força para casa. Chamavam-se Obstinado e Flexível. Apesar de o fugitivo encontrar-se a uma grande distância, os dois vizinhos, duplicando esforços, conseguiram alcançá-lo. ─ Que querem de mim? ─ perguntou-lhes Cristão. ─ Queremos que volte conosco ─ responderam. ─ É impossível ─ respondeu Cristão. ─ A cidade em que vocês habitam, e onde eu também nasci, é a cidade da Destruição. Se morrerem lá, vocês serão sepultados num lugar mais fundo do que o sepulcro, lugar onde arde fogo e 17


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enxofre. Portanto, vizinhos, animem-se e venham comigo. Obstinado: Que diz? Deixaremos os nossos amigos e o nosso conforto? Cristão: Certamente, amigo: porque tudo isso nada é, em comparação com a menor parte do que eu procuro desfrutar (Romanos 8.18). Se me acompanharem, desfrutarão de tudo isto juntamente comigo, porque no lugar para onde vou há muito, e para todos (Lucas 15.17). Venham, e confirmem isso. Obstinado: Mas que coisas são essas que você procura, em troca das quais abandona tudo o que há no mundo? Cristão: Procuro uma herança que jamais poderá perecer, macular-se ou perder o seu valor (1Pedro 1.4), reservada com segurança no céu (Hebreus 11.16), para ser dada, no devido tempo, aos que a buscam ativamente. Assim o afirma o meu livro; leia-o, se quiserem, e se convencerão da verdade. Obstinado: Ora, deixe para lá essa questão de livro; você quer voltar para a sua casa, ou não? Cristão: Isso jamais; porque já coloquei a mão no arado (Lucas 9.62). Obstinado: Nesse caso, vizinho Flexível, deixemo-lo partir, e vamos voltar para casa. Há muita gente sem juízo que, metendo algo na cabeça, é bastante para que se julgue mais sensato do que os sete sábios da Grécia reunidos. Flexível: Nada de ofensas. Se o que ele diz é verdade, não pode haver dúvida de que as coisas que busca alcançar são incomparavelmente superiores às que possuímos. O coração me diz que ele está muitíssimo certo no que afirma, e eu me sinto inclinado a acompanhá-lo. Obstinado: Então, você perdeu a razão também? Ora, 18


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siga o meu conselho, e venha para casa comigo. Sabe lá onde esse doido seria capaz de levá-lo? Ande daí. Cristão: Deixe-o falar, amigo Flexível; venha comigo e terá não só a prova do que já lhe disse, mas ainda muito mais. Se não acredita na minha palavra, leia este livro; daquele que é seu Autor (Hebreus 9.17-21). Flexível: Amigo Obstinado, a minha decisão está tomada; vou acompanhar este homem e juntar a minha sorte à dele. Mas você sabe (dirigindo-se a Cristão) qual é o caminho que leva ao lugar que buscamos? Cristão: Quem me indicou o caminho foi um homem chamado Evangelista. Segundo o que ele me disse, encontraremos uma porta estreita, lá, mais adiante, e aí nos dirão o caminho que devemos seguir. Flexível: Então, caminhemos! E os dois se puseram a caminho. Obstinado voltou sozinho para a cidade, reprovando os erros e as fantasias dos dois vizinhos. Estes continuaram a caminhar pelo campo afora e conversavam nestes termos: Cristão: Amigo Flexível, eu ainda não tive ocasião de me informar da sua saúde. Não imagina quanta satisfação me traz a sua companhia. Se o pobre Obstinado sentisse, como eu, o poder e os terrores do invisível, e a grandeza das coisas que nos esperam, por certo não se teria afastado de nós tão precipitadamente. Flexível: Agora que estamos sós, explique-me o que são essas coisas de que me fala, como vamos desfrutá-las e para onde é que nos dirigimos. Cristão: Tenho mais facilidade em compreendê-las com o entendimento do que em expressá-las por palavras. No entanto, se você tem grande desejo de saber o que penso a respeito delas, vou ler para você o meu livro. 19


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Flexível: E tem certeza de que as palavras do livro são verdadeiras? Cristão: Tenho sim; porque o seu Autor é Aquele que não mente (Tito 1.2). Flexível: Então, leia-o para mim. Cristão: Possuiremos um reino que não terá fim, e teremos vida eterna, para podermos possuí-lo para sempre (Isaías 65.17; João 10.27-29). Receberemos coroas de glória, e vestes tão resplandecentes como o sol no firmamento (2Timóteo 4.8; Apocalipse 22.5; Mateus 13.43). Não haverá ali choro nem dor (Isaías 25.8; Apocalipse 7.16-17, e 21.4), porque o Senhor daquele reino enxugará todas as nossas lágrimas. Flexível: Quadro belo e magnífico! E a quem teremos por companheiros? Cristão: Estaremos com os querubins e serafins (Isaías 6.2; 1Tessalonicenses 4.16-17; Apocalipse 5.11), criaturas cujo brilho nos deslumbrará; também encontraremos milhares e milhares que para ali foram antes de nós, todos inocentes, amáveis e santos, que vivem na presença de Deus para sempre. Veremos os anciãos com suas coroas de ouro (Apocalipse 4.4), harpistas entoando suaves cânticos ao som das suas harpas de ouro (Apocalipse 14.1-5), homens a quem o mundo cortou em pedaços, outros que foram queimados em público ou devorados pelas feras, ou lançados nas profundezas dos mares, por amor do príncipe daquele reino; todos vivendo felizes, e revestidos da imortalidade (João 12.25; 2Coríntios 5.2,3,5). Flexível: A simples descrição arrebata-me de entusiasmo. E gozaremos esses bens? Que faremos para conseguir partilhar deles? Cristão: O Senhor do reino declara neste livro (Isaías 20


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55.1-2; João 4.37; e 7.37; Apocalipse 16.6; 22.17) quais são os requisitos; eles se resumem nestas palavras: “Se verdadeiramente os desejamos, ele no-los concederá de graça”. Flexível: Muito bem, amigo. O meu coração se regozija; continuemos o nosso caminho e apressemos o passo. Cristão: Infelizmente não posso andar tão depressa como gostaria, porque este fardo que tenho às costas é muito pesado. Conversavam ambos assim, quando os vi chegar à beira de um pântano lamacento, que havia no meio da campina, onde os dois caíram por não o terem visto, entretidos que estavam na conversa. Era o Pântano da Desconfiança. Coitados! Atolaram-se na lama, e Cristão afundava-se cada vez mais por causa do seu pesado fardo. ─ Onde é que nós estamos metidos? ─ exclamou Flexível. ─ Ignoro ─ respondeu Cristão. ─ Então ─ replicou Flexível ─, esta é a felicidade de que você tem falado? Se assim começarmos a viagem, não posso predizer-lhe bom fim. Mas eu prometo que, se ficar livre desta lama, eu dispensarei de bom grado a parte que poderia pertencer-me do tal enaltecido país. E, fazendo um pequeno esforço, conseguiu alcançar a margem do pântano que ficava para o lado de sua casa. Logo que se viu fora de perigo, disparou a correr na direção de sua casa, e Cristão não mais tornou a vê-lo. Entretanto, Cristão se debatia no meio da lama, esforçando-se para chegar à margem oposta; mas o pesado fardo que carregava, atrapalhava-o muito e ele teria irremediavelmente morrido, se não tivesse chegado ali, bem 21


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na hora, um homem chamado Auxílio, que lhe perguntou o que fazia naquele lodaçal. Cristão: Senhor, um homem chamado Evangelista ensinou-me este caminho para eu chegar à porta estreita, dizendo que lá me livrariam da ira por vir. E, quando vinha andando, caí aqui inesperadamente. Auxílio: Bem. Mas por que você não seguiu por aquelas pedras que ali estão colocadas para se atravessar o pântano com mais facilidade? Cristão: Apoderou-se de mim tal receio que, sem reparar em coisa alguma, segui pelo caminho mais curto e caí na lama. Auxílio: Vamos. Dê-me, pois, a sua mão. Cristão viu os céus abertos. Segurou a mão de Auxílio, saiu daquele terrível lugar, e, uma vez em terreno firme, continuou a sua jornada, conforme o seu libertador lhe havia indicado. Aproximei-me, então, de Auxílio, e lhe perguntei: – Ora, sendo este caminho direito entre a cidade da Destruição e essa porta, por que não mandam arrumar este lugar melhor para comodidade dos pobres caminhantes? ─ É impossível ─ respondeu ele; ─ este é o lodaçal para onde correm todas as fezes e imundícies dos que se dirigem para a convicção do pecado, por isso se chama o Pântano da Desconfiança. Quando o pecador desperta e passa a ter conhecimento das suas culpas e do seu estado de perdição, surgem em sua mente dúvidas, temores, apreensões desconsoladoras que se ajuntam e se condensam neste lugar. Eis a razão por que ele é tão esquecido e tão impossível de ser melhorado. Por certo que não foi da vontade do rei que ele ficou em tão mau estado (Isaías 35.3-4). Muitos operários têm, por ordem superior, e sob a direção dos 22


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seus superintendentes, durante muitos séculos, envidado todos os seus esforços para o melhorarem. É incalculável o número de carros e os milhões de saudáveis lições que para aqui têm sido enviados de todas as partes e domínios do rei. Mas, apesar da opinião dos especialistas que garantem ser estes os melhores materiais para se realizar o almejado saneamento moral, ainda não foi possível realizá-lo, nem o será para o futuro. O Pântano existe e continuará a existir! Fez-se tudo que se podia fazer. Por ordem do Legislador, foram colocadas no meio do pântano umas pedras fortes e sólidas, por onde é possível passar mais facilmente; mas, quando o lodaçal se agita, o que sempre acontece nas mudanças de tempo, exala odores fétidos que sufocam os viajantes, e estes, não vendo as pedras, caem no atoleiro. O que lhes vale é que, quando conseguem alcançar a porta, já encontram terreno bom e firme. Depois vi que Flexível chegava à sua casa e que os seus vizinhos afluíam, em alvoroço, para o verem. Uns o chamavam sábio, porque abandonara a tempo aquele projeto; outros o censuravam por se haver deixado iludir por Cristão, e alguns o chamavam de covarde porque, uma vez no caminho, não deveria ter voltado atrás pelo fato de lhe terem surgido umas pequenas dificuldades. Flexível sentiuse abatido e envergonhado, mas pouco depois, achava-se dono de si, e, então, todos em coro zombavam de Cristão, na sua ausência. E, assim sendo, creio que não falarei mais de Flexível. SE VOCÊ DESEJAR ADQUIRIR ESTE LIVRO ACESSE A LOJA VIRTUAL www.lojafaest.com a partir de fevereiro já estará a disposição. 23


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