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CULTURA

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FAMÍLIA S.A

FAMÍLIA S.A

POR LUÍS COSTA

Em seu centenário de nascimento, uma exposição virtual relembra a contribuição de um dos mais influentes e extraordinários pensadores que o Brasil já teve

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Um dos mais importantes intelectuais brasileiros, Darcy Ribeiro teria completado 1oo anos em 2022. Para celebrar seu legado etnográfico, uma exposição virtual está disponível na plataforma Google Arts & Culture desde o início deste mês e traz as fotografias feitas por Darcy em pesquisas de campo com os povos kadiwéu, urubu-ka’apor e ofayé. Com curadoria de Milton Guran e programada pelo Museu do Índio, a mostra é uma adaptação da exposição física O Olhar Precioso de Darcy Ribeiro, realizada na Caixa Cultural do Rio de Janeiro, em 2010.

Os ensaios com os três povos remontam às primeiras incursões do jovem antropólogo do Serviço de Proteção aos Índios (SPI), recém-formado pela Escola de Sociologia e Política da USP, no fim dos anos 1940. “Com os kadiwéu foi que, de fato, aprendi a ser etnólogo porque assim como eu os estudava, eles estudavam a mim e, por meu intermédio, a minha gente”, escreveu Darcy em sua autobiografia. Os registros têm grande valor histórico, principalmente no caso dos Ofayé, já que quase não há documentação e eles foram praticamente dizimados. As fotos de Darcy (morto em 1997, aos 74 anos) que integram a

PODER É

ANTÓNIO ZAMBUJO

Um dos cantores portugueses mais celebrados de sua geração, António Zambujo lançou no fim de outubro o álbum Best Of, disco panorâmico que celebra 20 anos de carreira. É de Zambujo a voz que faz dueto com a conterrânea Carminho na canção “O Meu Amor”, de Chico Buarque, que integra a trilha da novela Travessia, da Rede Globo. O músico já dedicou um álbum inteiro a canções de Chico – Até Pensei que Fosse Minha, de 2016. No Brasil, o artista nascido em Beja já foi parceiro de Roberta Sá, Ivan Lins e Ney Matogrosso.

POLÍTICA NA VEIA

exposição fazem parte do acervo do SPI, órgão criado em 1910 e extinto em 1967, dando origem à Fundação Nacional do Índio (Funai). O acervo é classificado pela Unesco como Memória do Mundo por sua relevância histórica, social e antropológica. “Esse reconhecimento dá a dimensão da importância desses registros documentais únicos no seu tempo. O Museu do Índio presta um grande serviço aos povos originários e à nação brasileira na salvaguarda impecável desse patrimônio memorial”, diz Guran. A coleção completa reúne mais de 2 mil fotos do antropólogo, das quais 50 foram selecionadas para a exposição, que também exibe registros de Berta Ribeiro, antropóloga e companheira de Darcy. “O que faz das fotografias de Darcy algo tão especial é que ele, no ânimo da descoberta e na busca do conhecimento, deixou-se contaminar pela singularidade dos encontros com o outro, aquele que é portador de uma cultura totalmente diversa da sua”, avalia Guran. “É essa dupla camada de vida que faz com que seu olhar seja realmente precioso”.

São fotografias diretas, cândidas, que, embora cumpram sua função na pesquisa, expressam sobretudo a relação humana do contato, como se fossem fotos de família. Da grande família que os povos originários foram para Darcy.”

BALA DESEJO

Depois de se apresentar no Rock in Rio e no Coala Festival, a banda Bala Desejo, novidade na cena musical brasileira em 2022, continua com a agenda cheia no fim do ano. Este mês, o grupo formado pelos músicos Lucas Nunes, Julia Mestre, Dora Morelenbaum e Zé Ibarra está em Portugal para apresentações em cidades como Porto, Coimbra e Lisboa. Amigos desde a época do colégio, os quatro começaram a chamar a atenção após participações nas lives temáticas no Instagram da cantora Teresa Cristina. Em janeiro deste ano, eles lançaram o álbum Sim Sim Sim, indicado ao Grammy

Latino 2022 na categoria melhor álbum pop contemporâneo em língua portuguesa.

Ferino, falante e com humor afiado, Darcy foi um intelectual incomum que se converteu em um político visionário. Ex-aluno de medicina, saiu de sua Montes Claros, em Minas Gerais, passou pela capital mineira e por São Paulo, embrenhou-se nas matas amazônicas, planejou a Universidade de Brasília, foi ministro da Educação, chefe da Casa Civil de João Goulart, exilado político, vice-governador e senador. Como indigenista, foi o responsável pela criação do Museu do Índio, em 1953, com a ideia de combater a visão colonialista que tratava os povos originários como selvagens ou primitivos.

A exposição virtual é uma das homenagens que Darcy recebeu pelo seu centenário, comemorado no dia 26 de outubro. Em curtíssima temporada, a Biblioteca Parque Estadual do Rio de Janeiro recebeu a mostra Darcy Ribeiro: Dos Kadiwéu ao Quadrup, parte do projeto “100 anos Darcy Ribeiro”, que divulgou um edital com distribuição de cinco prêmios de R$ 50 mil destinados a empreendedores culturais do Rio de Janeiro que apresentem propostas relacionadas à vida e à obra do antropólogo.

PÁTRIAS BRASILEIRAS MARINA RHEINGANTZ Obras inéditas de MaDocumentário de Felipe Hirsch reflete sobre a rina Rheinmultiplicidade das línguas que existem em nosso país gantz estão em exposi-

A beleza e o terror da língua portu- ção no Galguesa, seus muitos encontros e sua pão da Forviolência estão no documentário Nossa tes D’Aloia Pátria Está Onde Somos Amados, do di- & Gabriel, retor Felipe Hirsch. Produzido pela Ca- em São Paulo. A mostra Sedimenfé Royal, o longa já passou pelo Festival tar é um marco na trajetória da do Rio, pela Mostra de São Paulo e por artista paulista, um mergulho na Curitiba. Filmado em maio deste ano abstração – das pinturas em granno Museu da Língua Portuguesa, na ca- de formato, por vezes em escala pital paulista, o filme acompanha ges- monumental, às aquarelas, bortos e vozes como as do artista Kadu dados e tapeçarias. “Em sua noOri (que picha no relógio va exposição, Marina Rheingantz da Central do Brasil a fra- não facilita. Faz pinturas dense que nomeia o trabalho), sas, carregadas de tinta. Pela dos pensadores indígenas primeira vez, é possível relacioAilton Krenak e Davi Kope- nar o que a artista faz à abstranawa e do escritor e advoga- ção informal”, escreve o crítico do Silvio Almeida. Tiago Mesquita. Marina já parti-

O documentário é como cipou de exposições na Holanda um desdobramento do es- e na França e essa é sua primeira petáculo Língua Brasileira, mostra individual este ano. Até montado a partir de música 21 de dezembro. homônima de Tom Zé, do álbum Imprensa Cantada, de FOTOGRAFIA ANALÓGICA 2003. Lançado no começo O 1º Festival Carioca de Fotogradeste ano, o espetáculo contava a gló- fia Analógica vai celebrar a história e o horror da língua portuguesa, a ria e a vitalidade da fotografia em um só tempo esplendor e sepultura, filme nos dias 3 e 4 de dezembro, como diz o soneto “Última Flor do Lána Cinemateca do Museu de Arcio”, de Olavo Bilac. “Há línguas que te Moderna do Rio de Janeiro foram apaga- (MAM Rio). Haverá exposição, das e ou- oficinas, exibição de filmes, metras que sas-redondas e palestras, com a resistem presença de nomes ascendentes brava- no mundo analógico e outros já consagrados. O diretor de fotografia Walter Carvalho e a pesquisadora Ivana Bentes são alguns dos debatedores confirmados. .+ analogicodejaneiro.com.br

mente. Essas tragédias geram também esplendores no encontro da cultura europeia com a africana, com a nativa. Mas antes de falar sobre isso, é preciso ter consciência desse lugar fundado sobre duas tragédias que se perpetuam nos nossos dias – o extermínio dos povos nativos e a escravidão.” A transição para o documentário viria com o convite da curadora do Museu da Língua Portuguesa, Isa Grinspum Ferraz, para ocupar os salões da instituição em maio deste ano, na comemoração do Dia Mundial da Língua Portuguesa. Na obra, o cenário é o interior do próprio museu. “Ouvindo aquela diversidade imensa de vozes, soube que tinha um material muito forte, inclusive para desenvolver algumas fixações minhas, como essa ideia de pátria, que está ali no último capítulo do Triste Fim de Policarpo Quaresma, quando ele é preso e questiona toda essa noção”, comenta Hirsch. “Essa ideia de uma língua que unificaria um país continental como o Brasil é um desvio da verdade. Temos 200 línguas sendo faladas, várias nações, várias pátrias”, afirma. O filme agora deve cumprir uma agenda de festivais, inclusive no exterior. Hirsch revela entusiasmo com o FESTin, o Festival de Cinema Itinerante da Língua Portuguesa, em Lisboa. “O documentário vai estrear em Portugal e depois cumprir um itinerário Felipe Hirsch por todos os países de língua portuguesa. Acho isso um grande caminho, um grande destino para esse filme.”

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