Revista Poder | Edição 112

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ISSN 1982-9469

00112

R$ 14,90

DEZEMBRO 2017 | JANEIRO 2018 N.112

SELVA DE PEDRA

Tanto aqui como nos Estados Unidos, altos executivos estão fora do peso, com o colesterol nas alturas e a um passo da depressão – e o pior: não têm a menor ideia disso

PAU A PAU

A consultora DENISE DAMIANI ensina mulheres a assumir as rédeas da própria carreira e a ganhar dinheiro como seus colegas homens

DEU TILT

Os ataques cibernéticos que estão derrubando os sistemas das companhias mundo afora – e tirando o sono (e bitcoins) dos empresários

SALDÃO

Como philipp povel transformou a Dafiti em um negócio bilionário e no maior e-commerce de moda da América do Sul E MAIS

NAMÍBIA inacreditável; os 50 anos de carreira de ARAQUÉM ALCÂNTARA, o fotógrafo que apresentou a

Amazônia ao mundo; brinquedinhos aquáticos – e muito caros – para aproveitar a vida al mare; e presentes que são puro luxo

POSEIDON

O campeão de surfe de ondas gigantes CARLOS BURLE ainda bate um bolão


poder

ĂŠ


Como chegar ao futuro antes que ele chegue a vocĂŞ?

Quanto melhor a pergunta. Melhor a resposta. E melhor se torna o mundo de negĂłcios.

Š 2017 EYGM Limited. Todos os direitos reservados.

ey.com.br/digital




FOTO PEDRO DIMITROW

28

SUMÁRIO 8 10 14

EDITORIAL COLUNA DA JOYCE ADMIRÁVEL MUNDO NOVO

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Com um dos desertos mais antigos do mundo, a Namíbia é uma viagem imperdível

Dafiti e os tempos digitais, em que lucro já não importa tanto 20

ALMOÇO DE PODER

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Denise Damiani e a dificuldade que as mulheres têm para gerir carreira e orçamento 26

BRASIL EM SINTONIA

Sergio Buchpiguel, da Dpot, celebra o design nacional 28

38

46

O GRANDE ANFITRIÃO DO CEARÁ

Arialdo Pinho e seu trabalho à frente da Secretaria de Turismo

É DE PODER SELEÇÃO UPSCALE

Top presentes de Natal? Rolex e Hermès só para começar 64

VEM, VERÃO

O negócio é aproveitar o calor a bordo de iates e barcos de luxo 68

72 74 78 79 80

PHILIPP POVEL POR ROBERTO SETTON

VERDURA PURA

Rúcula é tudo de bom e tem apenas 13 calorias em cada 100 gramas. Para cair de boca

AGENTES DO MAL

A vulnerabilidade do mundo virtual a ataques cibernéticos 49

60 62

SÍNDROME DE CEO

Sobrepeso, colesterol alto e risco iminente de depressão – ossos do ofício de quem é dono ou comanda uma empresa

NO ALVO

A Trigg lança cartão de crédito com cashback e wearable para fazer pagamentos

O GIGANTE DAS ONDAS

O surfista Carlos Burle pendura a prancha e lança biografia

NO MEIO DE TUDO, NO MEIO DE NADA

HIGH-TECH CULTURA INC. ESTANTE CARTAS ÚLTIMA PÁGINA

NA REDE: /Poder.JoycePascowitch @revistapoder @revista_poder


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PODER EDITORIAL

P

or quantos minutos você consegue ficar sem checar e-mail, WhatsApp, Messenger, Twitter ou Instagram? O tempo que as redes sociais subtraem de nossa vida é motivo de preocupação de empresários, altos executivos, médicos, psicanalistas, pais, professores, guias espirituais – de todo mundo. Mas, hoje, viver sem isso não é uma opção. Empresas de tecnologia são as que têm o maior valor de mercado do planeta. A Amazon, símbolo da Era Digital, equivale a dois Walmart. A Dafiti, principal e-commerce de moda da América do Sul, revelou-se um grande sucesso: no primeiro ano de vida, em 2011, conquistou o continente e hoje fatura cerca de R$ 1,5 bilhão. Um de seus fundadores, o brasileiro Philipp Povel, de 35 anos, é um executivo que cresceu junto com a internet e sabe como poucos tirar proveito da rede. Tirar proveito dela, aliás, é o que vêm tentando hackers do Brasil à Coreia do Norte, como mostrou o ataque do vírus WannaCry e tantos outros que não param de pipocar, história que PODER conta em reportagem especial. Vírus de computador podem causar enormes prejuízos às empresas, mas vírus reais, também. O repórter Chico Felitti conta como CEOs brasileiros e norte-americanos sofrem de males relacionados ao trabalho. Obesidade, sobrepeso e risco de depressão são comuns, assim como certa dificuldade de reconhecer que estão pisando em campo minado. O mundo corporativo ainda continua muito masculino, e a engenheira e consultora Denise Damiani, fundadora da primeira empresa de home banking do país (que vendeu por alguns milhões de dólares), precisou lidar e aprender com eles para se tornar expert em finanças para elas. Já o surfista Carlos Burle, clicado por Pedro Dimitrow, teve de aprender com elas – as ondas, muitas gigantes, de até 25 metros – para se tornar campeão em um esporte em que concentração, planejamento, coragem, temperança e bom senso são fundamentais para vencer. Ou seja: ele poderia ser um CEO. O único senão (ou não!) é que, quando está no mar, Burle não consegue navegar na internet. Com isso, é provável que perca algumas ofertas maravilhosas da Dafiti.

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TUDO AZUL 1

Não é novidade que as coisas não andam nada bem na Petrobras, sufocada por escândalos e pela concorrência multinacional das chamadas Big Oil – como é conhecido o conjunto das seis maiores petrolíferas do mundo – desde que o governo Temer cancelou o leilão do pré-sal e cassou a exclusividade da empresa brasileira na exploração dos campos recém-descobertos. Entretanto, seu presidente, PEDRO PARENTE, parece estar vivendo um momento cor-de-rosa: ele foi visto aos beijos com uma bela loira de 30 e poucos anos em uma festa de casamento de um magnata de fundos em São Paulo. PODER entrega: a nova namorada misteriosa é carioca, divorciada e tem dois filhos, um de 4 e outro de 6 anos.

TUDO AZUL 2

A ex-mulher de Parente, Lucia Hauptman, também vive bom momento pessoal – e também profissional. Mãe de primeira viagem numa concepção 3.0, digamos assim, com barriga de aluguel nos Estados Unidos e material genético doado pelo ex-marido quando já estavam separados, ela tem curtido muito o filho recém-nascido. E à frente de seu escritório de investimentos focado em assessorar famílias abastadas, vê sua carteira de clientes – alguns tucanos paulistas de alta plumagem entre eles – crescer sem parar. A exemplo do colega de governo do ex-marido, Henrique Meirelles, que mantém sua fortuna pessoal no exterior a despeito de vender otimismo nas coletivas de imprensa do Ministério da Fazenda, Lucia tem alertado seus clientes para a incerteza nacional e já tem oferecido algumas opções de investimento fora do país aos menos propensos a risco.

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Os amigos contam que o médico ROBERTO KALIL FILHO nunca foi afeito nem a férias, nem a animais com penas. Pois desde que foi presenteado com um galo de raça pura ele tomou gosto pela coisa: adora ir para a casa de campo que mantém no condomínio Quinta da Baroneza, nos arredores de São Paulo, para se dedicar à criação – que, diga-se, vicejou. Indignado com os ataques de raposas que habitam os bosques das cercanias e com a impossibilidade de combatê-las por conta das leis de proteção, doutor Kalil tem se empenhado muito para garantir a segurança de suas aves: ele acaba de construir um galinheiro-bunker em seu quintal.

FOTOS JOSÉ CRUZ/AGÊNCIA BRASIL; DANIEL ARATANGY

COCORICÓ


FOTOS FABIO RODRIGUES POZZEBOM/ AGÊNCIA BRASIL; GUSTAVO PELLIZZON; LULA MARQUES/AGÊNCIA PT; DIVULGAÇÃO

despacito

Apesar de a candidatura ainda não estar firme e o resultado nas pesquisas de intenção de voto não ser nada animador, HENRIQUE MEIRELLES tem se mexido para tentar ser presidente da República. Entre os diversos compromissos como ministro da Fazenda de um país em crise, Meirelles tem encontrado tempo para articular. Ele já até começou a consultar vários publicitários para decidir quem cuidaria de sua eventual campanha. Eduardo Fischer foi um dos procurados.

AMPULHETA

O criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, o KAKAY, que está em todas, estuda encabeçar outra disputa jurídica ruidosa: um advogado da Paraíba o procurou para que ele se junte a um grupo de juristas que impetrará um mandado de injunção no Supremo Tribunal Federal para que o Congresso seja obrigado a legislar sobre o direito à morte digna. Para o grupo, que provavelmente contará com a assinatura de Kakay, há muito a ser elucidado: não só sobre até que ponto a medicina deve prolongar a vida, mas também sobre o direito de escolha do paciente e da família. Para o grupo, o Legislativo tem sido omisso sobre o tema.

VAQUINHA 1 VAQUINHA 2

CHOCOLATE

A saída do fundador da Lew’Lara\ TBWA, LUIZ LARA, que pretende dar um tempo da publicidade, deixou o mercado em polvorosa. Conhecido por ter algumas das mais rechonchudas contas do Brasil, Lara deixará uma série de “viúvas” – que as outras agências já estão se digladiando para conquistar.

O mais polêmico ministro do Supremo Tribunal Federal, GILMAR MENDES, tem espírito de Natal: ele tem pedido a amigos e recomendado a conhecidos a adesão ao projeto humanitário da Promovida, iniciativa da paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, do Lago Sul de Brasília. Quem se dispõe a ajudar – ou quer ficar bem com o ministro – recebe uma cartela para pagar R$ 150 por mês. Com a soma atual, R$ 26 mil mensais, a igreja consegue amparar cerca de 300 crianças carentes.

A paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, de Brasília, também recolheu doações nada convencionais no Tribunal Superior Eleitoral, presidido por Gilmar Mendes. Foram 15 togas usadas por juízes tão diferentes quanto Teori Zavascki, ministro do Supremo Tribunal Federal morto em janeiro de 2017 em um desastre aéreo, e Ellen Gracie, a outrora musa da corte, nomeada por FHC. O tecido das vestes será usado para fazer calças e camisas para a garotada que a Promovida auxilia.

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NEW KID ON THE BLOCK

A sofisticadíssima rede de hotéis Aman já anunciou que chegará em Nova York em 2020. O hotel ocupará 22 andares do famoso Crown Building, na Quinta Avenida, na altura da rua 57, e terá quartos e apartamentos privativos – incluída a cobertura com vista para o Central Park que sairá pela pechincha de US$ 100 milhões.

3 PERGUNTAS PARA... VAHAN AGOPYAN, professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, que assumirá a reitoria da instituição no dia 25 de janeiro, sobre os desafios de comandar a USP, uma das melhores instituições de ensino do mundo

uma grande responsabilidade, mas me sinto tranquilo por termos sido apoiados por um grupo grande de professores, grupo que cresceu ao longo da campanha. Assim, são quase 200 pessoas que assumiram comigo a responsabilidade de conduzir a universidade. Não somos apenas eu e [Antonio Carlos] Hernandes: estamos representando um grupo de colegas que compartilham os mesmos ideais que a gente.

COMO O SENHOR AVALIA A ÚLTIMA GESTÃO, QUANDO FOI VICE-REITOR?

O principal objetivo era evitar o risco financeiro que corríamos. Paralelamente, tivemos alguns outros avanços importantes como, por exemplo, a regulamentação para impedir que reitores em exercício pudessem trazer novos riscos dessa natureza à universidade. Nesse sentido, a criação da controladoria e a definição dos parâmetros de sustentabilidade da universidade, que são as diretrizes para a controladoria atuar, são medidas de precaução pa-

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ra evitar futuros desmontes. Além disso, tivemos a descentralização, dando poder às próprias unidades, mudamos as regras de acesso pelo vestibular, tivemos grandes mudanças na graduação e na pós-graduação, e a própria pesquisa teve um maior apoio dos órgãos centrais para que os pesquisadores percam menos tempo com a burocracia. QUAL A SENSAÇÃO DE ESTAR PRESTES A ASSUMIR O CARGO DE REITOR DA MAIOR UNIVERSIDADE DO PAÍS?

É uma responsabilidade muito grande. É uma tarefa delicada, que envolve

Como pró-reitor dava para conciliar, já como vice-reitor comecei a ter dificuldades. Já não dava aula de graduação e comecei a me afastar da pós-graduação também. Agora como reitor, devo confessar que a universidade é muito grande e não dá para se manter na vida acadêmica, que é o que todo professor gosta de fazer. Vou tentar me manter atualizado com meu grupo de pesquisa, co-orientar alguns alunos – orientar sozinho é difícil por falta de tempo. Nos tempos de pró-reitoria e de vice-reitoria meus colegas me substituíam na pós-graduação quando surgiam imprevistos, mas percebi que isso prejudicava os alunos. Infelizmente, a função administrativa prejudica muito as atividades docentes e de pesquisa.

FOTOS MARCOS SANTOS/ USP IMAGENS; DIVULGAÇÃO

AO ASSUMIR UM CARGO ADMINISTRATIVO, O SENHOR SE AFASTA TOTALMENTE DE SUAS ATIVIDADES ACADÊMICAS – AULAS E PESQUISAS – OU AINDA CONSEGUE ENTRAR EM SALA DE AULA?


EM DEZEMBRO E JANEIRO, A MULHER E O HOMEM DE PODER VÃO... bagagem de volta vários blends – os fantasías con té – da Sans & Sans, a casa de chá mais charmosa da cidade

Avant première

O presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, deputado CAUÊ MACRIS, pode se tornar um dos mais jovens governadores da história do estado. Se os planos de Geraldo Alckmin de se candidatar à Presidência da República em 2018 se concretizarem, ele terá que abrir mão do cargo em favor do vice, Márcio França, do PSB, seis meses antes do pleito. Assim, caso França se ausente, candidate-se ou viaje, Macris seria o primeiro na linha de sucessão e sentaria na principal cadeira do Palácio dos Bandeirantes com apenas 35 anos.

BANHO DE LOJA

FOTOS DIVULGAÇÃO

O Edifício Cap Ferrat, o mais conhecido prédio da avenida Vieira Souto, na orla de Ipanema, onde mora Alexandre Accioly e tantos outros ricos cariocas, vai ganhar retrofit nos próximos meses. O projeto revestirá o prédio com 3,8 mil metros de dekton, tipo de pedra industrializada que é o material da moda no momento.

• Ver onde o pianista Nelson Freire vai tocar mundo afora e encaixar na agenda. Experiência única • Conferir a mostra EY Exhibition: Impressionists in London: French Artists in Exile (1870-1904). Obras de Claude Monet, Camille Pissarro e Alfred Sisley e de mais 97 impressionistas vão estar na Tate Britain até 29 de abril. O projeto, criado há seis anos, é uma parceria entre EY e Tate para divulgar grandes expoentes da arte mundial. O próximo da fila é Pablo Picasso • Assistir ao Palavras em Série, novo programa do diretor Alberto Renault no GNT sobre poesia – um bálsamo em meio a tempos tão esquisitos • Apresentar num jantar em família aquela top receita que foi testada durante o ano. Dotes de chef de cozinha são bem valorizados hoje em dia • Dar uma passadinha em Barcelona para revisitar Gaudí, jantar no Bar Cañete e trazer na

• Pedir para o personal trainer uma planilha de treinos para os dias de férias no fim do ano

• Programar uma viagem para a Suíça em junho para ver Beatriz Milhazes na Art Basel, a feira de arte mais importante do mundo, ou garantir o livro que a Taschen lança sobre a artista carioca no mesmo mês • Fazer um check-list dos apetrechos de verão – prancha de SUP, nadadeiras, máscara e snorkel • Ler pelo menos um dos livros do Nobel deste ano, Kazuo Ishiguro • Convocar os amigos para testar uma receita nova de drinque de fim de ano – com direito a especiarias, gengibre e gim, porque ninguém é perfeito

Nenhuma sociedade que esquece a arte de questionar pode esperar encontrar respostas para os problemas que as aflige ZYGMUNT BAUMAN com reportagem de fábio dutra e aline vessoni PODER JOYCE PASCOWITCH 13


ENCOMENDA

ADMIRÁVEL

MUNDO NOVO O brasileiro de origem alemã Philipp Povel, CEO e cofundador da Dafiti, maior e-commerce de moda da América do Sul, personifica o empresário destes tempos digitais, em que gerar lucro não é a maior tarefa por paulo vieira fotos roberto setton

ual é a grande distorção do capitalismo? A pobreza indizível? As crises cíclicas? Os derivativos? As ações preferenciais da Petrobras? Ou seria o valor estratosférico que vem atingindo algumas empresas da nova economia, aquelas que nunca dão lucro? No mundo digital, lucro é muito “yesterday”, como diria até o mais sisudo dos analistas. A Amazon, epítome dos novos tempos, reportou em boa parte de seus 20 anos de vida prejuízos contínuos, trimestre após trimestre. Mesmo assim, é a quarta maior companhia do mundo em valor de mercado, estimado em mais de US$ 500 bilhões – o dobro do que vale o Walmart, com seus 2,2 milhões de funcionários. Lucro, como se vê, não é mais boa régua para medir o sucesso de um empreendimento. Há outros indicadores pertinentes – audiência, taxa de conversão, capacidade de atração de fundos de investimento.Criada em 2011, a Dafiti, maior e-commerce de moda da América do Sul, jamais gerou lucro, mas “performa” em todos esses critérios, e seu jovem CEO e cofundador, o brasileiro Philipp Povel, 35 anos, parece bem à vontade com as linhas em vermelho. “É muito raro que uma empresa de e-commerce se torne rentável em menos de cinco anos, e o Brasil não é exceção. A Índia é um dos maiores mercados mundiais e todos perdem dinheiro

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lá. Você tem de pensar que crescer hoje custa menos do que irá custar daqui a cinco anos”, disse Povel a PODER na sede da empresa localizada num novíssimo prédio defronte ao Allianz Parque, o estádio de futebol do Palmeiras, em São Paulo. Por falar nas linhas em vermelho dos relatórios da Dafiti, elas vêm se tornando menos encarnadas: a rentabilidade (medida pelo Ebitda em relação à receita líquida) ficou em menos 6% em 2016, marca digna de celebração diante dos 25,2% negativos do ano anterior. E há ainda os números escritos com tinta azul céu de brigadeiro. O faturamento de 2016 foi de R$ 1,26 bilhão, 15,1% maior que o de 2015. Já no segundo trimestre de 2017, a empresa reportou alta de 17,3% na receita líquida. Como pano de fundo, para ejetar mais otimismo, de janeiro a junho de 2017 o varejo on-line de moda no Brasil mostrou força, crescendo 37,8% em faturamento; o convencional, off-line, avançou 8,2%. Povel não está no setor de moda por acaso. Sua família paterna, de origem alemã, teve negócios na área têxtil naquele país desde o século 19. Seu pai, que migrou para o Brasil para cuidar de uma empresa multinacional do setor e acabou por montar aqui seu próprio negócio de surfwear (vendia a famosa marca OP, entre outras), regressou por motivos de saúde para a Alemanha quando o filho tinha 8 anos. Sem ainda ima-


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“Em 2010 0s investidores pensavam que o Brasil seria a próxima China, ninguém imaginava que uma crise tão profunda estava por vir”

ginar que um dia reestabeleceria laços com o Brasil, Povel cursou administração de empresas em Colônia, na Alemanha, e desde então viajou como um cigano. Estagiou na consultoria BDO no Brasil, na Volkswagen da China e na Basf do Chile para, em seguida, obter seu MBA na Argentina. De volta à Alemanha, trabalhou no mercado financeiro e finalmente começou a empreender, fundando, em 2009, com sócios a MyBrands, um outlet virtual de moda. Com apenas um ano de vida, seu e-commerce seria vendido a uma empresa de colegas de universidade, a hoje hipervalorizada Zalando, e ele ficou lá cuidando da incorporação.

CRISTO VOADOR Mas o Brasil era na época a bola da vez, e a famosa capa da revista The Economist de 12 de novembro de 2009 com a manchete “Brazil takes off ” (Brasil decola)

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– com a imagem do Cristo Redentor a ganhar os céus como um foguete –, deu a bênção que faltava para Povel decidir que era hora de reencontrar seu país de infância (menos de quatro anos depois a mesma publicação voltava a exibir o Redentor na capa, dessa vez de cabeça para baixo e prestes a explodir no choque inevitável com o solo, mas essa é outra história). Em 2010, com outros três sócios, os alemães Malte Horeyseck e Malte Huffmann e o francês Thibaud Lecuyer, Povel pesquisou rapidamente o mercado brasileiro e não teve dificuldade para conseguir R$ 50 milhões com o fundo de investimento Rocket Internet para lançar a Dafiti. O site começou a operar em janeiro de 2011. “Naquele tempo, os investidores pensavam que o Brasil seria a próxima China, ninguém imaginava que uma crise tão profunda estava por vir“, diz. “Era muito fácil captar, diferentemente de hoje. Éramos jovens querendo fazer uma empresa que ainda nem nome tinha.”


Os primeiros anos da companhia foram explosivos. Em 2011, o faturamento foi de R$ 400 milhões e, em novembro daquele ano, o site recebeu 3,6 milhões de visitantes únicos. Logo veio a expansão para Argentina, Chile, Colômbia e México – nesse último país, que se revelaria “pouco promissor”, a operação seria vendida. Em 2013, o volume de vendas já crescia muito em relação ao início, o que propiciou investimentos em soluções digitais inovadoras. Como os avatares e aplicativos que ajudam o consumidor a “provar” virtualmente a roupa que pretende comprar. Dessa maneira, a proverbial desconfiança do brasileiro de que a roupa não serviria quando finalmente chegasse foi sendo reduzida. Hoje, a Dafiti comercializa 4 mil marcas e 390 mil produtos nos quatro países em que opera, tem 2 mil funcionários e, sob o nome Dafiti Group, incorpora desde 2015 os e-commerces Tricae, de moda infantil,

e Kanui, de roupas e de acessórios para esportes de aventura. É um dos maiores anunciantes de mídia digital do Brasil e consegue ter preços finais muito atraentes, ou grandes “deals”, como diz Povel, por conta da escala do negócio. “Estamos entre os dois ou três maiores compradores de marcas brasileiras. Por conta disso, a gente consegue deals muito bons.” Com tudo isso, a Dafiti é uma empresa discreta diante de gigantes do varejo eletrônico brasileiro como B2W, Magazine Luiza e Ricardo Eletro, marcas que tiram proveito de sua operação física e trabalham com diversas outras categorias de produtos. É também menor que a Netshoes, essa, sim, uma puro-sangue do e-commerce, que, aliás, vem negando especulações de que tem interesse em comprar justamente a Dafiti. Estima-se que o e-commerce no Brasil represente de 3% a 4% de todo o volume de vendas do varejo no PODER JOYCE PASCOWITCH 17


“O brasileiro médio é mais empreendedor que o alemão e o consumidor aqui mais disposto a testar”

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país, embora em certas categorias de produtos, como FIRST WHO eletrônicos e smartphones, o desempenho seja muiMesmo com sua pouca idade, Povel tem dificuldades to melhor. Para Silvio Laban, professor e especialista em citar gurus que admira e segue. Um deles é o norteem varejo do Insper, o espaço para o crescimento do americano Jim Collins, cujo conceito “first who, then comércio eletrônico no Brasil é muito grande, tanto what”, desenvolvido no livro Empresas Feitas para Venquanto para o varejo convencional. “A ideia de que a cer, endossa de olhos fechados. Na metáfora de Collins, loja física vai deixar de existir é ficção, não é realista”, primeiro se acham as pessoas certas, depois se decide diz. E completa: “As empresas enfrentam aqui muitos para onde levar o ônibus. Entre os brasileiros, Povel problemas de logística, mas as regiões mal atendidas destaca a gestão de custos “extremamente agressiva” têm muito potencial de cresdo grupo 3G, dos ubíquos cimento a ser explorado”. O Lemann-Telles-Sicupira, mas A MODA VENDE pressuposto amplamente coacha que ela não é panaceia Principal termômetro do e-commerce brasilementado de que o consumidor para todos os males adminisiro, a pesquisa WebShoppers, da Ebit, mostrou brasileiro se acostumou com trativos. “Quando se começa um crescimento consistente do varejo eletrônico no primeiro semestre de 2017, 10,3% quando o frete gratuito e isso seria um uma empresa do zero, muito comparado ao mesmo período do ano anterior. grande entrave para as empremais importante é a construO valor médio (tíquete) das compras ficou em R$ sas de e-commerce operarem ção da marca. Eles gostam de 418 e a categoria de produtos mais comercializada por aqui também parece não pegar uma marca forte, um é justamente moda e acessórios. Mas esse segencontrar amparo na realidanegócio que já foi criado, que mento, nicho da Dafiti, gera apenas 6,4% do faturamento global, que é liderado pelos celulares. de. Na Dafiti, o frete gratuito já teve investimento.” CurioA pesquisa também destaca o crescimento vale para compras acima de samente, o ano de 2017 para de 178% de produtos novos e usados e itens de R$ 99,90 na capital paulista. a Dafiti vem sendo de grande artesanato vendidos em marketplaces como E, curiosamente, Povel não empenho em redução de cusMercado Livre e Enjoei. Ter vendas cada vez mais endossa as críticas generalizatos. No último relatório corsubstanciais feitas em marketplace – quando o site vira uma espécie de supermercado para das à logística nacional. “Dos porativo destinado aos shamarcas que não são as da casa – é uma tendência países emergentes que conhereholders do GFG, publicado do setor na opinião do CEO da Ebit, Pedro Giusti. ço, o Brasil é onde é mais fácil em setembro de 2017, é des“O marketplace já é 35% de todo o movimento da terceirizar o transporte. Na tacado o “foco no controle de B2W”, diz, fazendo alusão à gigante do setor, conRússia, só dá para usar frota custos” da marca brasileira. trolada majoritariamente pela 3G. própria e no México há outro problema, a pouca penetração dos cartões de crédito.” A menção à Rússia não é casu- BRASIL X al, já que desde 2014 a Dafiti é uma das cinco empresas ALEMANHA controladas pelo Global Fashion Group (GFG), que Tendo crescido, estudado e iniciado sua vida empresarial opera em 24 países do Leste Europeu, Sudeste Asiáti- na Alemanha, Povel é capaz de tecer comparações acuradas co, Oceania, Oriente Médio e América do Sul. A marca entre os dois países. Lá, segundo ele, há mais acesso a talenLamoda, presente na Rússia, Cazaquistão, Ucrânia e tos e um custo de tecnologia menor. “Se eu quiser comprar Belarus, é a estrela, com a Dafiti, do portfólio do GFG. um servidor [de internet] no Brasil, vou pagar o dobro do Para Povel, não houve qualquer mudança, em termos preço alemão.” E a mão de obra mais barata daqui termina de gestão, quando a Dafiti passou a integrar a GFG, por não ser uma vantagem competitiva quando são acrescicujos grandes investidores, os fundos europeus Ro- dos os encargos sociais. Mas há compensações. Para ele, o cket Internet e Kinnevik, já estavam na brasileira. “A brasileiro médio é mais empreendedor que o alemão, apesar grande diferença é que posso telefonar para outros da ideia bastante aceita de que nos trópicos há uma certa CEOs do grupo a qualquer momento e receber e com- “aversão ao risco”. “E o consumidor é mais disposto a testar. partilhar informações. Em outra situação elas seriam O começo da Dafiti no Brasil foi muito fora da curva, acho bem mais protegidas. que em outros países não daria tão certo”, diz. n PODER JOYCE PASCOWITCH 19


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+MULTIPLICAÇÃO

DENISE DAMIANI Com uma belíssima trajetória em grandes empresas e um pé-de-meia idem, essa engenheira reuniu vasto material sobre como as mulheres lidam com a carreira e a vida financeira. Agora, dona da própria consultoria, também ajuda outras profissionais a transitar melhor entre trabalho e cifrões por márcia rocha fotos andré giorgi

G

eneralizar é sempre um risco, mas dá para dizer com tranquilidade que Denise Damiani é uma engenheira que foge do estereótipo nerd. Gosta de gente e é o oposto de Sheldon, personagem da série The Big Bang Theory, que tem QI de Einstein e traquejo social zero. Denise é extrovertida, falante, tem tiradas rápidas e é ligada em coisas que fogem do universo dos números, das planilhas e dos gráficos. “Não sei se sou atípica, já conheci muitos engenheiros doidos. Eu, por exemplo, acredito em intuição, em energia”, diz a paulistana, graduada em engenharia de sistemas digitais na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, a Poli-USP, uma das mais conceituadas faculdades do país, e com MBAs na Harvard Business School e no International Institute for Management Development, na Suíça. Um de seus interesses mais recentes tem a ver com física quântica, telepatia, telecinese [capacidade de mover objetos com o poder da mente]. O filho Leonardo, de 26 anos, gêmeo do arquiteto Stefano, é engenheiro da Poli, como a mãe. E, assim como ela, ligado em assuntos dignos de filmes de ficção científica: leu todos os livros de Thomas Warren Campbell, mais conhecido como Tom Campbell, físico norte-americano que ganhou notoriedade por sua obra que mistura metafísica, física quântica etc. No Brasil, segundo Denise, Gabriel Guerrer, doutor em física e um estudioso da consciência, está conduzindo uma série de testes na USP para ver se a mente tem o poder de alterar a matéria. “Tenho muito interesse em como se muda a dinâmica de uma situação a partir do campo energético – e não só por meio de coisas mais cartesianas”, revela, completando que no caminho para o restaurante A Figueira

Rubaiyat, em São Paulo, onde aconteceu este almoço, trocou várias mensagens com Leonardo e que se ofereceu como voluntária para os testes de Guerrer, porque acredita que há muitas coisas que a gente sabe que tem que mudar, que precisa fazer, mas que não consegue por causa de emoções e de crenças limitantes. Saber o que é preciso fazer e não conseguir dar o primeiro passo, principalmente quando se trata de carreira e de dinheiro, é a tônica do trabalho que Denise realiza com algumas mulheres – várias vezes sem cobrar nada. Para ela, é como se o racional e o emocional não conversassem. No caso da vida financeira, por exemplo, existem money blocks, situações ou mesmo emoções que atravancam o orçamento. “Se você eliminar isso, consegue seguir adiante.” Denise considera a psicoterapia um bom jeito de remover as pedras do caminho. “Fiz dos 18 aos 53 anos sem parar”, diz ela, que hoje tem 56. “Eu acho que a genPODER JOYCE PASCOWITCH 21


te sempre tem que melhorar. Estudei cabala um tempão e, nos últimos anos, tenho lido bastante sobre física quântica, que ajuda a fazer esses desbloqueios de maneira mais rápida, energeticamente falando.” A MULHER QUE CALCULAVA Denise tinha 27 anos quando saiu da IBM, no fim dos anos 1980. Na época, pensou com cabeça de engenheira: fez algumas projeções e percebeu que chegaria um momento em que as agências bancárias não iriam dar conta de atender a tantos clientes, que a situação ficaria insustentável. “Quando estava na IBM, trabalhava para os bancos. Então, sabia quanto tempo levava e o custo de uma operação realizada na boca do caixa. Como era da área de tecnologia, já programava. Resolvi pedir demissão para desenvolver um software que foi precursor do home banking.” Pegou todo o dinheiro que tinha – segundo ela, cerca de US$ 70 mil – e investiu no negócio. Acontece que nenhum banco achou graça na história. “Diziam que era loucura, que ninguém iria confiar em fazer pagamentos ou outras transações remotamente.” Mesmo assim, o Banco Bandeirantes [fundado em 1971 e adquirido pelo Unibanco, em 2000] a deixou utilizar sua plataforma. “Não porque eles acreditassem no projeto, já que isso aconteceu antes que a internet chegasse ao Brasil. Eles só me chamaram porque acharam que o conceito era moderno e que valia a pena fazer anúncios em cima disso, mostrando para o mercado como o banco estava à frente de seu tempo.” Em troca, Denise poderia apresentar seu software para quem estivesse interessado. “Depois de um ano, estava quebrada, sem um tostão, ninguém botava fé no software. Aí, um amigo resolveu apostar em mim e me emprestou US$ 70 mil a fundo perdido. Com fôlego financeiro, as coisas começaram a dar certo. Consegui , finalmente, vender o software e ganhei uma ‘baba’.” Ela não revela o valor da transação, negociada em dólares – mas estamos falando de milhões. Na hora de devolver o empréstimo para seu “investidor-anjo”, um amigo judeu, ele disse: “Guarde e use o mesmo valor para ajudar gente na mesma situação em que você estava. Foi exatamente o que fiz. Acredito que as coisas retornam não necessariamente das pessoas que você ajuda, mas do universo, de algum outro jeito”, revela, completando que também se considera bem católica. “Mas daquele tipo que acredita em reencarnação e monta o próprio catolicismo. Rezo, vou muito à igreja e sou devota de Nossa Senhora de Fátima.”

“Aprendi com meus pais a viver com o que ganho. Sempre quis ganhar muito para viver bem. Por isso tinha dois empregos” Falando em devoção, ia muito a uma igreja na avenida Dr. Arnaldo [em São Paulo) quando voltava do escritório de um cliente muito difícil, que atendeu durante o tempo em que trabalhou na Accenture [também foi sócia da Bain & Company e vice-presidente de estratégia da Itautec]. Fez isso durante um ano, pedindo força, iluminação e sabedoria para tomar boas decisões. Só depois de um tempo é que se deu conta que ia rezar na Paróquia de Nossa Senhora do Rosário de Fátima. Sem falar que 13 de maio é o dia da santa e também do aniversário de sua avó, Maria, que adorava e era seu esteio emocional. “Minha vida é assim, cheia de sincronicidades.” CÉU DE BRIGADEIRO Na adolescência, o sonho de Denise era ser aeromoça, mas o pai, além de torcer o nariz para os planos da filha, também não tinha condições de pagar o curso de inglês. “Venho de uma família classe média. Somos três irmãos, eu sou

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BOA DE GARFO

“Como boa taurina, adoro comer, mas se a comida estiver ruim, deixo no prato.” A mãe, Conceição, que sempre foi dona de casa, não permitia que a filha pisasse na cozinha. “Ela dizia que eu não tinha nada para fazer ali, que tinha que estudar, trabalhar, ganhar meu dinheiro.” Aprendeu a fazer doces sozinha e, quando se casou com Luigi, teve a sogra como professora de forno e fogão. “Ela gostava muito de mim. Foi a primeira dona de galeria de arte no Brasil, a Galeria Domus. Era uma mulher interessante, descolada e cozinhava divinamente.” Denise acabou se tornando expert em comida italiana. Os pratos que mais gosta de preparar é um macarrão com berinjela “incrível de bom” e um peixe de carne branca cozido em água, que, “modéstia à parte, também é uma delícia”. No dia do almoço com PODER, pediu um peixe grelhado com legumes e suco de tangerina. Pulou o café e a sobremesa e saiu voando para outro compromisso.

a do meio, nunca faltou nada em casa, mas não tinha essa de mesada. Sempre quis ter meu próprio dinheiro”, lembra. Para pagar o curso de inglês, fazia peças de tricô que vendia na escola, além de dar aulas particulares. “Com 12 anos já era fluente”, conta ela, que também fala francês e italiano, idiomas que estudou por vontade própria, e espanhol, que aprendeu por conta do trabalho. Depois que vendeu sua empresa de home banking, Denise mudou de patamar em termos de patrimônio. Mas sempre teve dinheiro guardado. “Na minha família ninguém gasta mais do que tem.” E ela aprendeu direitinho a lição: comprou seu primeiro imóvel aos 20 anos por um valor equivalente a US$ 35 mil e o vendeu anos depois por US$ 250 mil. “Aprendi com meus pais a viver com o que ganho. Mas sempre quis ganhar muito porque quero viver bem. Durante vários anos tive dois empregos – à noite, dava aulas, fazia consultorias ou algum trabalho extra. E guardava tudo, porque morava com meus pais.” Aos 19, conheceu o primeiro marido, o italiano Luigi, pai de Leonardo e de Stefano. Na época, tinha acabado de entrar na Poli, e trabalhava no serviço federal de processamento de dados. Por ser a única da equipe fluente em francês era convocada para reuniões do alto escalão. “Isso era impensável para alguém com um cargo como o meu, mas fui me tornando conhecida. Cresci bastante na carreira por causa de coisas desse tipo.” Denise conta que Luigi e ela se encontraram pela primeira vez no aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro. Estavam na sala de embarque que, naquela época, era feito por ordem de chegada. No fim das contas, sentaram lado a lado no voo, começaram a conversar e pouco tempo depois estavam casados. “O Luigi nasceu em Nápoles, imagine uma mistura PODER JOYCE PASCOWITCH 23


“Muitas mulheres acreditam que alguém ou algo vai resolver a vida financeira delas como um milagre. É o que chamo de ‘pensamento mágico’” de carioca com italiano, é difícil resistir. Tinha namorado na época. Mesmo assim, o Luigi me ligou todos os dias durante seis meses, insistindo para sair comigo”, conta, sobre o agora ex-marido, um arquiteto 23 anos mais velho que trabalhou com o renomado Paulo Mendes da Rocha e assinou os projetos das empresas mais bacanas de São Paulo. Ficaram juntos 14 anos e os gêmeos nasceram quando Denise estava com 30 e se separou dois ou três anos mais tarde. Ela conta que o ex-marido lhe ensinou uma grande lição: “Quando nos casamos, eu tinha certeza que ele iria me sustentar. Mas ele se recusou, disse que eu tinha muita capacidade para me virar”. Ela conta que, na época, ficou meio decepcionada, porque a maior parte das mulheres sonha com um provedor. “Falo no meu livro sobre isso, o que chamo de ‘pensamento mágico’: muitas mulheres acreditam que alguém ou algo vai colocar sua vida financeira em ordem como um milagre.” Já tinha 35 quando entrou na Accenture, consultoria em que trabalhou durante 15 anos – foi a primeira mulher a se tornar sócia no Brasil e na América Latina. “Uma vez, o Roger [Ingold, presidente da empresa na época] me pediu para conversar com os outros sócios e contar como eu conseguia manter um relacionamento extraordinário com os clientes, via oportunidades, convencia, vendia, motivava o time etc.”, lembra. Para ela, era meio óbvio: expertise à parte, tratava a equipe como trata os filhos. “Tinha regra, eles tinham que trabalhar muito, mas também tinha muito abraço. Recebi e-mails incríveis de quem trabalhou comigo.” Uma vez, por conta de um projeto enorme, sua área

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precisou virar a noite durante um feriado – ela não só ficou na empresa, como foi ao supermercado comprar comida para todo mundo. “Não sou boazinha nem faço força para isso, sou heavy metal. Mas eu bato e assopro, cuido das pessoas genuinamente”, afirma, lembrando-se de quando passou três dias no hospital acompanhando uma cliente e ajudou outra a escolher o vestido de noiva. O trabalhou que fez quando ocupou a cadeira de chief diversity officer (CDO) serviu de base para Ganhar, Gastar, Investir - O Livro do Dinheiro para Mulheres, que ela escreveu com a jornalista Cynthia de Almeida e foi lançado ano passado pela editora Sextante. Seu desafio no cargo era aumentar o número de sócias mulheres, causa que abraçou com força: entre 2000 e 2006, a ala feminina saltou de 3% para 30%. Durante o processo, Denise entrevistou várias colaboradoras e ex-colaborado-


TRETA À VISTA

“Tem muita mulher que ganha mais que o marido e, sem perceber, se boicota para não progredir na carreira.” Para Denise, essa história de que o homem deve ser o provedor da casa é uma questão delicada, mas que ela resolve com o pé nas costas. “Adoro ser provedora, não tenho problema nenhum com isso.” E segue: “Os homens brocham com mulheres muito fortes. Em algum momento, eles precisam se sentir superiores no relacionamento. É bem complexo, mas é preciso fazer o jogo e, isso, às vezes, é muito chato. Mas eu acho que tudo tem o lado bom e o lado ruim. Então, o negócio é escolher que parte do ruim você quer, porque perfeição não existe. Na vida, tudo se modifica a partir daquilo que eu decido conservar. Eu, por exemplo, optei por manter minha liberdade e pago um preço por isso”.

ras. “Eu tinha muita curiosidade de entender a alma feminina porque as mulheres sempre trabalham muito e estão sempre na sombra, nunca aparecem, não ganham bem, não têm méritos. Fui um ponto fora da curva na minha trajetória profissional, quebrei o telhado de vidro [termo usado para denominar a barreira invisível que impede as mulheres de crescer na carreira].” Denise lembra que ouvia mais ou menos as mesmas coisas durante as entrevistas. Quando perguntava “quem cuida do seu dinheiro”, na maior parte das vezes a resposta era: “Meu marido”; poucas sabiam dizer quanto ganhavam ou gastavam por ano. “Se eu questionava por que elas não queriam progredir na empresa, a resposta ia na linha do ‘é difícil, quero ter qualidade de vida’, como se isso e sucesso profissional fossem excludentes. Durante esses bate-papos, percebi que não era uma questão de inteligência , de nível social ou de instrução, mas uma questão cultural de gênero. Todas as mulheres repetem o mesmo padrão”, conclui.

Em sua consultoria, entre outras áreas, Denise atua nas de estratégia, de revisão financeira e de posicionamento de mercado. Seu portfólio de clientes inclui grandes empresas e famílias de empresários. A consultoria também conta com a divisão Mulheres & Finanças. Com a metodologia Ganhar, Gastar, Investir (GGI), ela ajuda as clientes a ter uma relação mais saudável com carreira e dinheiro. Com o nome Denise Damiani Ativismo, a terceira divisão é focada no empoderamento feminino por meio de cursos, workshops e palestras, além de participar de entidades afins. Como Denise não faz parte da ala exata dos engenheiros, coloca na agenda absolutamente tudo o que precisa fazer durante o dia. “Foi o jeito que encontrei de me disciplinar porque, se eu acordar e tiver que pensar no que tenho pela frente, me dá uma preguiça louca”, confessa. n

CHECKLIST DIÁRIO Depois que saiu da Bain & Company, consultoria em que trabalhou após a Accenture, Denise começou a pesquisar empresas que precisavam de ajuda e que nunca pagariam um profissional “carésimo”. Por conta disso, é dona de uma consultoria-butique, a Denise Damiani Business Consulting, faz parte dos conselhos de administração de algumas empresas – que, de preferência, tenham mais de 50% do controle nas mãos de uma mulher. PODER JOYCE PASCOWITCH 25


ESPELHO

Ao entrar no site da Dpot, o internauta se depara com as abas convencionais de apresentação de produtos, conhece designers de objetos e mobiliário e agora também dá de cara com uma inesperada surpresa: a rádio dpot, que, entre uma música brasileira e outra, traduz um jeito de ver – e ouvir – o país. Nada mais alinhado com uma marca que trabalha com designers conceituados que imprimem em suas criações a essência da brasilidade. De Lina Bo Bardi a Ruy Ohtake, passando por jovens como Susana Bastos e Marcelo Alvarenga, ambos do estúdio mineiro Alva Design, a Dpot foi pioneira em investir em reedições de peças criadas por mestres do design, mas nunca perdeu de vista o trabalho dos mais jovens. O empresário SERGIO BUCHPIGUEL está à frente da Dpot desde 1987, quando a empresa, fundada por sua família, já contava 18 anos no mercado. “Antes disso, trabalhava no ramo da engenharia civil. Mas a cabeça não para e sempre estou querendo fazer coisas novas. Hoje, cuido da área estratégica e administrativa, buscando inovação”, explica. Segundo Buchpiguel, o objetivo da Dpot é fomentar e desenvolver o mobiliário nacional. “Mas não a qualquer custo. Exigimos o uso de madeiras de reflorestamento ou certificadas”, conta. O executivo diz que a crise que marcou os últimos anos no país não abalou a empresa porque há uma contínua valorização do design brasileiro. “O mercado está aberto para o design nacional”, afirma. Não é por outra razão que, entre os planos futuros, está a abertura de uma fábrica no interior de São Paulo. POR ALINE VESSONI

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FOTOS DIVULGAÇÃO

BRASIL EM SINTONIA


PODER INDICA

HISTÓRICO E CONTEMPORÂNEO Polo financeiro e cultural de São Paulo, a região da avenida Paulista foi o local escolhido pela Stan para dar vida a mais um empreendimento de sucesso: o PJM 109. Na esquina da rua Padre João Manuel com a alameda Santos, o projeto, assinado pelo escritório Botti Rubin Arquitetos Associados, põe em cena mais uma bonita parceria entre o vintage e o moderno. A fim de preservar a história cultural da cidade, o novo empreendimento optou pelo

restauro do casarão do início do século 20 presente na antiga propriedade, que assim emprestará charme à vizinha torre corporativa de 15 andares. O comprometimento da Stan com a cidade e sua história não se encerra na restauração do imóvel – entre a torre e o casarão, entre o antigo e o moderníssimo – um lindo jardim se abrirá para desfrute da população. + STAN.COM.BR/PJM-109


Terno e gravata Ricardo Almeida, camisa Aramis


ENSAIO

O GIGANTE DAS ONDAS

Na ativa aos 50 anos, Carlos Burle lança autobiografia para dar o exemplo: a vida é mais que dinheiro, baladas e belas mulheres – e talvez até mais que as ondas da altura de um prédio de dez andares que surfa por fábio dutra fotos pedro dimitrow styling cuca ellias (odmgt)


E

le já foi incluído no livro dos recordes ao surfar uma parede de água de quase 25 metros; já foi campeão mundial da primeira edição do campeonato de ondas grandes na remada, sem o auxílio de jet skis como na modalidade tow-in (a das métricas que parecem impossíveis); já foi o primeiro surfista a ir ao programa do Faustão; já salvou da morte a filha do folclórico jornalista e político Fernando Gabeira – o da tanguinha de crochê –, Maya, sua parceira no esporte, quando ela levou um caldo daqueles; e também já se estropiou feio em Jaws, no Havaí, e por quase um ano andou com muletas – mas voltou com tudo ao surfe, sem traumas ou medos. Esperávamos encontrar, portanto, um alucinado por adrenalina, desses acelerados que pretendem fazer 50 anos em 5, para lembrar o slogan de Juscelino Kubitschek. Ledo engano. Carlos Burle é muito ativo, “vivo” como se diz Brasil afora, detém a perspicácia dos bons malandros, e passa longe de demonstrar ansiedade. É mais baixo e menos musculoso do que o imaginário popular suporia ser um domador de tsunamis, mas parece controlar cada pequena parte do corpo com invejável destreza. Simpático e de fácil trato, não titubeou para aceitar a proposta mirabolante de posar para este ensaio imerso em água gelada numa fria manhã paulistana, valendo-se de suas apuradas técnicas de respiração para manter a calma; séries de flexão de braço serviram também para aquecimento antes de cada clique. “De terno é mais difícil, no mar congelante temos aquelas roupas térmicas de borracha. E xixi, fazemos muito xixi na água”, ri. Aos 50 anos (seu aniversário foi no dia seguinte ao deste ensaio fotográfico), Burle não se incomoda com o envelhecimento e a iminente aposentadoria: “Envelhecer é abrir mão da performance, da virilidade, do poder, mas isso dá lugar à sabedoria, que é mais importante”, filosofa. Para celebrar, lançou uma autobiografia (Carlos Burle - Profissão: Surfista, editora Primeira Pessoa) em parceria com o jornalista André Viana, em que transmite aos fãs e atletas mais jovens o que aprendeu em mais de 30 anos de surfe. “É outra geração, não vou ficar pregando, dizendo o que deve ser feito, gosto de dar meu exemplo sem perturbar a meninada, o livro é um pouco isso, é assim também que procuro educar meus filhos”, conta Burle, que, quando, na obra, parece estar a ditar regras, faz questão de ressalvar que cada um faz o que quer. Como quando explica o que tirou dos acidentes e da proximidade da morte: “Quando isso acontece você pensa na vulnerabilidade, pensa ‘quer ser garotão pra sempre?’. O ego adora as conquistas, mas o que ensina são as quedas, é aí que você pensa no que faz sentido”. E segue: “Se você fica no mundano, no dinheiro, precisa trocar de carro ou de mulher para se sentir bem ou mais jovem, esquece, não vai se satisfazer nunca”, completa. “Mas nada contra quem troca de mulher, às vezes é por amor...”, brinca. Burle explica que tem sim um grande ego e busca técnicas como respiração, oração, ioga e reiki para ir além da superfície. Mas que ainda jovem, quando estava deslumbrado com festas, carros, mulheres, “mecha no cabelo e tudo”, percebeu que a vida era mais. “Cara, dei uma sorte imensa porque o meu esporte tem o tamanho certo: dá alguma fama, pequena, dá um dinheiro bom, mas não excessivo, e, por conta dos interesses envolvidos não serem tão grandes, permite independência para me expressar”, divaga. Recifense e torcedor do Sport, aproveita a ocasião para perguntar se o time tem chance de ficar na primeira divisão este ano – ficou – e se manifesta revoltado com o que chama de ‘sistema’. Diz que ele é muito cruel, sobretudo com os mais jovens e vulneráveis, que se tornam fãs de tudo que consomem – por isso, lixo neles. “Tenho meus patrocinadores, claro, mas não quero apontar o que as pessoas devem comprar só para eu lucrar, dinheiro só serve para dar conforto, acesso à saúde e à educação, nada além disso”, explica. Burle diz que a proximidade da morte, algo tão próprio de seu esporte, faz qualquer um se sentir muito vivo, dá paz e vontade de continuar. Tal sensação leva a refletir sobre o racional e o instintivo e a buscar valores como família – e ele, apaixonado pela mulher e pelos dois filhos, traz o tema à baila a todo momento. Mas é preciso dominar o ego – olha ele aí de novo – para não se sentir o bamba por praticar uma modalidade difícil. “É o que eu aprendi: primeiro transforme você mesmo”, cita, visitando o clichê. Seus ídolos? Madre Teresa de Calcutá, Nelson Mandela, Mahatma Gandhi, Buda e papa Francisco, bien sûr. E completa: “O resto, eu sei: é tudo fruto do sistema, que nem eu!’’. n


Costume, camisa e gravata Z Zegna , sapato Sapataria Cometa


“Envelhecer é abrir mão da performance, da virilidade, mas isso dá lugar à sabedoria ”


Terno e gravata Ricardo Almeida, camisa Aramis


Terno e gravata Ricardo Almeida, camisa Aramis Beleza: Jô Castro (Capa MGT) Assistente de produção: Catarina Gavassi Assistentes de fotografia: Guilherme Crippa e Rodrigo Beraldo


Rio de Janeiro - Av. Atlântica, 1782 lojas G/H Edifício Chopin - Copacabana / +21 2255 0325 / 2236 4574 São Paulo - Rua da Consolação, 3058 - Jardins / +11 3062 6224 | www.arnaldodanemberg.com.br


PODER INDICA

TRANSFORMAÇÃO DIGITAL: TODOS FALAM, POUCOS ENTENDEM

Numa era em que todas as empresas terão de ser, de alguma forma, empresas de tecnologia, é preciso fazer convergir estratégia, inovação e engenharia de sistemas

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expressão é repetida no mundo corporativo como um mantra, propagada como um abracadabra, ora sussurrada entredentes, ora gritada a plenos pulmões. Seja como for, nem todos que a difundem sabem direito do que se trata. “Transformação digital”, a tal expressão, não significa simplesmente alterar um ou outro processo administrativo, transferir dados para a nuvem, atualizar o ERP com o melhor fornecedor do mercado. É preciso mais. “Todas as empresas terão de ser, em sua essên-

cia, empresas de tecnologia”, disse Marc Andreessen, o homem que criou o Mosaic e ajudou a moldar a internet do jeito que conhecemos. Andreessen talvez não tenha ido tão longe na reflexão, mas resta saber se as empresas de tecnologia vão permitir que as companhias de outros setores tenham tempo de se tornar empresas de tecnologia. Exemplos? Google e Facebook como recipientes da maior parte do investimento de mídia da Terra; Amazon com o dobro do valor de mercado da Walmart, uma varejista que


EYBrasil

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“A única chance está na completa reinvenção do Saiba mais: ey.com.br/digital negócio ao redor de uma nova arquitetura, que é, em sua natureza, digital”

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A trajetória de consolidação desse regime conta muito, pois criou lock-ins na maneira de se fazer as coisas. As empresas ficaram travadas no modo analógico. Isso, no mundo digital, acaba limitando a própria capacidade de as firmas enxergarem o que é preciso mudar e como aplicar as novas tecnologias, que possuem uma essência tão diferente que alteraria os próprios fundamentos da firma. Nos últimos anos vimos este fenômeno consagrar novos gigantes, que já nascem sob a lógica digital e levam à obsolescência empresas com a antiga estrutura - independentemente do esforço destas para incorporar novas tecnologias (e não é o Tableau que vai fazer uma gravadora tradicional competir com o Spotify). Assim como as tecnologias da segunda revolução industrial, e as inovações associadas a elas, moldaram o ambiente econômico que temos hoje, as novas tecnologias vão provocar uma mudança de igual proporção. O ponto em que estamos seria o equivalente a um industrial, em 1890, se perguntando se esse negócio de energia elétrica ia mesmo ser importante. E a essência da transformação não estava em colocar lâmpadas, mas em repensar completamente o modo de produção - e o que produzir, com quem produzir, para quem produzir - com máquinas elétricas.

Nenhuma empresa sobreviveu muito tempo com lâmpadas elétricas iluminando um galpão de produção repleto de máquinas a vapor.

Outro setor que experimenta uma forte transformação é o de serviços financeiros. Os bancos tradicionais têm visto diversas startups de tecnologia, as Fintechs, capturando serviços que antes estavam encapsulados em suas hierarquias, como meios de pagamento, cartões de crédito, investimentos e mesmo empréstimos. A ansiedade dos que hoje estão sendo atropelados por concorrentes que vieram sabe-se lá de onde tem levado a um entendimento errado também das soluções.

No mundo digital, a ansiedade é a mãe de todos os hypes.

DENIS BALAGUER, EY

Isso acontece porque o grau de ansiedade é diretamente proporcional ao nível de ignorância em relação aos fundamentos e, especialmente, à resposta do desafio górdio: quando tudo virar digital, para que a empresa vai continuar existindo? Fazer um roadmap de P&D, abraçar o ecossistema de startups ou criar um grupo de inovação não vai resolver.

A única chance está na completa reinvenção do negócio ao redor de uma nova arquitetura que é, em sua natureza, digital. A transformação digital das firmas ocorre apenas na convergência da estratégia, inovação e engenharia de sistemas.

Transformação Digital

A natureza das tecnologias digitais que estão emergindo, com as arquiteturas abertas e lógica de microsserviços, impõe uma reformulação completa da própria natureza das firmas. Sob o desafio colocado por Marc Andreessen no famoso artigo “Software is eating the world”, todas as empresas terão de ser, em sua essência, emprega mais 2 milhões funcionários; fintechs empresas de de tecnologia. Este é ode azimute da transformação.

tornando-se novos um bancos atédemesmo em países em Há nessasos tecnologias potencial aplicação amplo, com impacto em do todossetor os setores, da mesma que que atransformacional concentração passa longemaneira de padrões ocorreu com o vapor, a eletricidade e o automóvel nas gerações razoáveis. “Se uma firma não tem uma maneira única anteriores. de criar valor por meio da coordenação de transações A transformação, novamente, provocará a reconfigurações das e atividades, ela está condenada à extinção”, diz Denis cadeias de valor, com empresas sólidas vendo seu negócio ser Balaguer, diretor do Centro da traz EY,uma que engolido. E o interessante é quede estaInovação reconfiguração dinâmica competitiva distinta. As empresas não são ameaçadas vem ajudando empresas e corporações mundo afora por competidores semelhantes, com uma proposta de valor um a colocarem os dois pés na transformação digital. “A pouco melhor. única chance está na completa reinvenção do negócio A regra do jogo é a convergência e a desintermediação. As empresas ao redor de umaverão nova que em sua natuestabelecidas seuarquitetura, almoço ser comido emé, fatias... um pedaço reza, digital.” do negócio sendo capturado de cada vez, por empresas diferentes, de segmentos mesmo até então Paravindas fazer frente distintos a esseoumomento tãoinexistentes. conturbaO setor de Mídiainspirador, é o canário na mina, evidenciando hoje oconverque deve do, ainda que é preciso fazer ocorrer nas outras indústrias. Facebook e Google, duas empresas de gir estratégia, inovação e engenharia de sistemas. tecnologia, formam um duopólio no mercado de publicidade,

WWW.EY.COM.BR/DIGITAL mudando completamente a dinâmica das cadeias de valor e redefinindo fronteiras de negócio.

Inovação & XD

Estratégia

Ressignificar o propósito

Engenharia de Sistemas

Redefinir a atuação

Redesenhar a arquitetura

• O viés estratégico traz a construção de um novo entendimento sobre o propósito da empresa, o que a torna única e quais são as suas fronteiras. • A inovação, junto ao design de experiências (XD), trata de redesenhar a maneira como o valor é criado e entregue, em uma busca que envolve um espírito de experimentação e desprendimento. • A engenharia de sistemas foca na construção de uma

arquitetura empresarial modular e escalável, baseada em tecnologias digitais, que cristaliza essa natureza econômica. Esta é a transformação.


DIAGNÓSTICO

SÍNDROME DE CEO Ser dono ou conduzir uma grande empresa tem um custo para a saúde – bastante alto, para alguns. PODER fez um check-up para descobrir qual é o preço de ocupar a cadeira do presidente por chico felitti

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“D

eviam pagar adicional insalubridade quando oferecem o emprego.” Quem faz a queixa não é um trabalhador de uma usina nuclear, mas, sim, o CEO de uma empresa de alimentos naturais na região de São Paulo. O administrador de 43 anos descobriu, há menos de um, que está com os discos da coluna vertebral ressecados, algo que equipara sua espinha dorsal à de um senhor de 80 anos. “E sabe por que aconteceu, né?”, pergunta, enquanto aponta para a sua sala com as mãos espalmadas. O problema de saúde desse homem pode parecer peculiar para os melhores médicos, mas ele não está sozinho no panteão corporativo. Uma pesquisa conduzida com dados do sistema de saúde norte-americano mostrou que, entre 2015 e 2016, 69,23% dos CEOs estavam em “más condições de saúde”, segundo avaliação dos profissionais que os atenderam. O mesmo relatório, compilado pela faculdade de medicina de Harvard, faz uma lista de presidentes que morreram em serviço: Charlie Bell (do McDonald’s, aos 44 anos, de câncer de cólon), Ranjan Das (da SAP India, aos 42 anos) e Jerald Fishman (da Analog Devices, aos 67 anos) – esses dois últimos vítimas de infarto. Dados compilados com exclusividade para PODER pelo hospital Albert Einstein, em São Paulo, exibidos ao longo desta reportagem, mostram que a história é bem parecida por aqui: 62% dos empresários e executivos que passaram pelas salas de exame em 2016 estavam com sobrepeso ou obesos, e 19% deles apresentavam risco de sofrer depressão. Curioso é que 75% não se diziam estressados. “O estresse é benéfico porque nos empurra para oferecer o melhor resultado possível, e maléfico quando rouba a energia, fazendo a produtividade despencar”, afirma Raquel Conceição, gerente médica do serviço de check-up do Einstein. Ser presidente de uma empresa é para quem gosta de tensão, gosta muito de trabalhar e gosta mais ainda de viver com a adrenalina correndo no sangue, como um piloto de Fórmula 1. Que afirma isso é Steve Tappin, que entrevistou 150 chefões para o seu livro The Secrets of CEOs, ainda sem tradução para o português. Metade das pessoas com quem ele falou se declarou à beira de um ataque de nervos.

71% 29%

SÃO HOMENS

SÃO MULHERES

CLÍNICA DE WORKAHOLICS Como tudo no mercado, as doenças de CEO acabaram virando nicho com direito a centros especializados de tratamento. Um exemplo é a Cooper Clinic, na cidade texana de Dallas, que está para doenças de empresários e de altos executivos assim como a Nasa para viagens aeroespaciais. “É aqui que eles vêm parar quando estão prestes a pifar”, brinca o médico Tyler Cooper, herdeiro do negócio que leva seu sobrenome, e que conta com suítes de luxo – e centros médicos capazes de rodar em poucas horas baterias de exames que levariam dias para ficar prontas em qualquer hospital. Cooper afirma que pressão e certa dose de obsessão fazem parte do ofício de liderar uma corporação. Mas, com a chegada dos smartphones, diz o médico, ficou mais difícil se desconectar – portanto, eles trabalham mais. A clínica dos workaholics faz uma devassa na agenda de trabalho do paciente até encontrar brechas para meia hora diária de exercícios físicos e 15 minutos reservados

36% DELES TÊM ENTRE 40 E 49 ANOS


19%

ESTÃO EM VIAS DE RECEBER DIAGNÓSTICO DE DEPRESSÃO

21%

CORREM RISCO DE SOFRER APNEIA DO SONO

9%

6%

MOSTRAM ALTO RISCO DE DESENVOLVER PROBLEMAS CARDIOVASCULARES

25%

APRESENTAM ALTERAÇÃO NO NÍVEL DE TRIGLICÉRIDES

34%

TÊM NÍVEL ALTERADO DE COLESTEROL

11%

62%

ESTÃO COM SOBREPESO OU OBESOS

4%

APRESENTAM AUMENTO NA CIRCUNFERÊNCIA ABDOMINAL

SOFREM RISCO MUITO ELEVADO DE ABUSAR DE BEBIDAS ALCOÓLICAS

à contemplação. “A maioria dos executivos do alto escalão afirma ter problemas de ansiedade porque se trata de um cargo que se aprende na prática. Não há treinamento para ser CEO”, diz Steve Tappin, que, além de autor, também é CEO. É a chamada solidão do poder. “Não tenho com quem discutir minhas decisões. Os outros CEOs são meus concorrentes, e meus funcionários são meus funcionários”, revela o executivo da empresa de alimentos naturais citado no início deste texto, completando que não conta com um conselho ou com qualquer outra instância para apoiá-lo em seu cargo.

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FUMAM

Tappin, que escreveu o livro sobre os segredos dos CEOs, se uniu com um neurocientista para conduzir exames nos cérebros de homens poderosos. O resultado, em um grupo de 150, mostrou que eles passam 80% do tempo útil sob a influência do cortisol, o hormônio do estresse. “A ciência ainda não desvendou com precisão o papel do estresse no aparecimento de doenças cardiovasculares e de câncer, mas tudo indica que existe ligação”, explica Tyler, da Cooper Clinic. Uma coisa que a medicina já sabe: picos constantes de adrenalina (hormônio que coloca corpo e mente em alerta, acelerando a


75% AFIRMAM

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NÃO SE SENTIR ESTRESSADOS

frequência cardíaca e aumentando a pressão sanguínea, entre outros efeitos) e de cortisol (hormônio do estresse que aumenta o nível de açúcar no sangue para dar ainda mais força ao corpo em uma eventual situação de perigo) podem levar a um esgotamento conhecido como síndrome de Burnout. Quando esses dois hormônios passam anos nadando na corrente sanguínea em níveis elevados podem acabar provocando o efeito inverso, gerando cansaço físico e mental, incapacidade de produzir e até mudanças de corportamento. Isso sem falar na tensão pós-expediente. Casamentos desfeitos, mudanças constantes de cidade e, muitas vezes, de país, fazem parte da rotina desses profissionais. No livro, o ex-CEO da gigante da mineração Rio Tinto conta que morou com a família em 19 casas diferentes durante os dez anos em que esteve à frente da empresa. Ele recomenda que o supersalário e os bônus polpudos sejam investidos em uma rede de apoio. “Por

que não contratar um psicólogo e um personal trainer, e se cuidar? Até porque a saúde é um asset na vida de um líder.” Segundo Claudio Pinho, professor de administração de empresas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), quando começaram os boatos de que Steve Jobs tinha um câncer terminal, houve uma revolução no mercado. “Em alguma medida, a saúde do CEO é a saúde da empresa.” Para fazer o frio na barriga trabalhar a seu favor, a doutora Conceição, do Einstein, recomenda a prática regular de atividades físicas, dormir bem e táticas de “esvaziamento de problemas”, como meditação e ioga. Tappin afirma que descobriu um jeito infalível de convencer seus pacientes a assumir a gestão da própra saúde com o mesmo compromisso que têm com empresa. “Eles saem daqui convencidos de que saúde em dia e equilíbrio emocional e bons resultados andam juntos. É isso que motiva um CEO a se cuidar. E só isso.” n PODER JOYCE PASCOWITCH 41


PODER INDICA

Com três décadas de existência – duas delas no Brasil – o prêmio EY Empreendedor do Ano já prestigiou mais de 10 mil empreendedores mundo afora. Em 2018, Rubens Menin Teixeira de Souza, da MRV Engenharia, vai representar o país na final internacional, em Mônaco

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EMPREENDEDORISMO EM GRANDE ESTILO


EDGARD CORONA, EMPREENDEDOR DO ANO BRASIL 2016

C

riado há três décadas nos Estados Unidos, o Empreendedor do Ano prestigiou mais de 10 mil empreendedores e, hoje, inclui concorrentes de 60 países e de mais de 145 cidades. Trata-se de um dos maiores eventos de incentivo ao empreendedorismo do mundo. A seleção dos empresários que fazem parte da premiação é rigorosa e são escolhidos aqueles que conduzem negócios inovadores que geram empregos e fazem a economia do planeta girar. O projeto está totalmente alinhado com o propósito da EY – construir um mundo de negócios melhor – e empreender é a base disso. A estreia do Empreendedor do Ano no Brasil aconteceu em 1998. O país foi o primeiro da América Latina a fazer parte do projeto e o 14º a entrar para a lista. No dia 30 de novembro, a EY organizou um jantar na Casa Charlô, em São Paulo, para uma dupla comemo-


SERGIO ROMANI


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RUBENS MENIN TEIXEIRA DE SOUZA

ração: celebrar os 20 anos do prêmio por aqui e anunciar o vencedor da categoria Master, a mais importante: Rubens Menin Teixeira de Souza, da MRV Engenharia, uma das maiores construtoras do país. Menin vai representar o Brasil na final internacional e concorrer com finalistas de outros 59 países. Ano passado, foi a vez de Edgard Corona, fundador e presidente do Grupo Bio Ritmo. Entre os dias 13 a 17 de junho de 2018, o EY World Entrepreneur of the Year (EY WEOY) acontece em Mônaco, em grande estilo. Além de reunir a nata do empresariado mundial, o WEOY oferece uma rara oportunidade de fazer network e uma programação com palestras sobre o que há de mais atual no mundo contemporâneo. MAIS INFORMAÇÕES EM EY.COM.BR/EOYBRASIL

LUIZ SERGIO VIEIRA, SERGIO ROMANI, EDGARD CORONA E LEONARDO DONATO


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BOOT

AGENTES DO MAL O vírus WannaCry fez muito barulho em 2017 e mostrou que empresas em todo mundo estão extremamente vulneráveis a ataques cibernéticos. E, como era de se esperar, o Brasil está bem longe de ser um porto seguro por paulo vieira

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O

nome era bem apropriado: WannaCry. O vírus de computador ou, para usar a linguagem técnica, malware, que derrubou sistemas internos de computação de diversas empresas pelo mundo, Brasil incluído, fez um barulho dos diabos no fim de maio, quando apareceu. Para ficar num único e comezinho exemplo, o Hospital de Câncer de Barretos teve 3 mil consultas e exames suspensos por conta do ataque. Os autores agiram exatamente como sequestradores: pediram resgates para solucionar o mal que eles próprios haviam infligido, mas não em notas novas e pequenas. A solicitação foi em bitcoins, a moeda digital cujo rastro é muito difícil seguir. Como à vítima basta acionar o pessoal de TI para resolver o problema, a colheita dos bandidos não foi proporcional ao transtorno causado: cerca de US$ 150 mil. Mas ficou a dica, como se diz. O ataque, apenas um entre tantos que vêm acontecendo com frequência contra empresas e organizações, privadas ou públicas, suscitou temores em cascata. O fato de boa parte das ações, como se apurou, ter como origem a Coreia do Norte, país em que todos os computadores são controlados pelo governo, cimentou em muita gente a incômoda convicção de que vivemos em plena Era do Terror Digital. Por aqui as notícias também não são alvissareiras. O Brasil é campeão numa modalidade de ciber-ataque, o phishing. Um e-mail com descrição de um assunto atraente ou pertinente serve de isca para que o anexo ali contido seja aberto. Feito isso, o chamado “agente malicioso” ganha a rede da empresa, que passa a ser controlada remotamente pelo bandido. A solução parece PODER JOYCE PASCOWITCH 47


tros de segurança, é sempre possível enganar quem usa o computador. E temas que muita gente tem interesse, eleições e acidentes naturais, por exemplo, são excelentes vetores”, diz Marco Gomes, fundador da empresa de marketing digital Boo-Box e hoje envolvido com projetos de big data nos Estados Unidos. Numa de suas colunas recentes no jornal Folha de S.Paulo, o advogado Ronaldo Lemos, diretor do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro chamou a atenção para o atraso do Brasil em relação à legislação de proteção de dados, algo extremamente preocupante num momento em que vazamentos por conta dos ataques digitais são a regra. “Vivemos num tempo em que não há mais empresa, ONG ou órgão

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governamental que possa se dar ao luxo de não fazer nada sobre segurança da informação”, escreveu. A história de nossa vulnerabilidade digital, de qualquer forma, vem de longe. Em 2009, o programador paulistano Vinícius Camacho acessou os dados dos usuários da operadora Telefônica (hoje Vivo) para, segundo ele, expor o quanto era necessário avançarmos nesse assunto. Em troca, Vinícius ganhou um pro-

cesso da empresa. “O Brasil está atrás de outros países em cibersegurança, tanto em mentalidade como em capacitação acadêmica”, diz. Em entrevista a PODER, manifestou outra inquietação. “Há uma informação meio abafada aqui, mas o Brasil também é campeão em invasões de sites governamentais.” Segundo ele, o movimento se intensificou a partir das manifestações de rua de 2013 e hoje são 70 ataques diários. Protesto político e busca de notoriedade entre a comunidade hacker são as motivações principais dos invasores, ao menos aqueles que decidem se exibir. “O número real de invasões é desconhecido, pois não se sabe quantos buscam copiar dados de sistemas públicos para revendê-los no mercado negro ou utilizá-los em golpes na internet como o phishing.” Como se tudo isso não fosse suficiente, a julgar por um boletim produzido pela Kaspersky Lab, 2018 promete. No Brasil, segundo a empresa russa, há possibilidades de “ataques múltiplos contra bancos” e também a fintechs, quem sabe com a cooperação de insiders – ‘‘funcionários com conhecimento da infraestrutura interna”. Feliz Ano-Novo. n

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estar distante. “As empresas faturam como pessoa jurídica mas se protegem como pessoa física”, diz Roberto Rebouças, country manager Brasil da Kaspersky Lab, a renomada companhia russa de cibersegurança. “A proteção é tratada como commodity, e o fato de o TI ser visto como um departamento que não gera receita, apenas despesa, não ajuda.” Rebouças trabalhou 11 anos em TI de bancos, e esse setor é mais um em que o Brasil coleciona uma marca notável: é líder em “trojan” – o Cavalo de Troia –, que entra no computador do usuário também via phishing. Mas mesmo que as empresas invistam cada vez mais em segurança e os desenvolvedores reduzem as falhas de softwares e aplicativos, o usuário final deve seguir sendo o alvo predileto. “Por mais sofisticados que sejam os parâme-


ESPELHO

FOTO ALEX UCHOA/DIVULGAÇÃO

O GRANDE ANFITRIÃO DO CEARÁ Ainda bem que ARIALDO PINHO, o homem à frente da Secretaria de Turismo do Estado do Ceará, gosta de viajar. Afinal, o cargo exige cerca de quatro saídas por mês, uma delas para o exterior. O Ceará investiu maciçamente em publicidade e também em participações em feiras de turismo, o que ajudou a gerar ótimo resultado: em 2016, o estado recebeu cerca de 3,3 milhões de turistas, 300 mil deles estrangeiros. “A gente vem tendo um crescimento constante. Conseguimos mais voos, e mais voos significam mais turistas. A ideia é fazer do Ceará uma das portas de entrada do Brasil”, conta. Em 2017, a secretaria participou de 17 feiras internacionais e de outras 14 por aqui. E Pinho fez questão de estar presente em boa parte delas. Além disso, ele vai muito a Brasília, onde costuma se reunir com a Anac e companhias aéreas. Enquanto isso, no Ceará, o movimento também não para. Em seu estado, a ênfase é na melhora da infraestrutura turística. Até 2018, o investimento deve chegar a R$ 800 milhões. “O turismo é uma vocação natural da região e, de 40 anos para cá, uma saída econômica para o estado. Além disso, o cearense trabalha para atender bem quem nos visita”, explica. Ao se afastar da sociedade no Beach Park, parque aquático que é uma das principais atrações do Nordeste, Pinho foi convidado a assumir a chefia da Casa Civil do Ceará, cargo com status de secretário que ocupou por oito anos. Depois migrou para o turismo, colecionando novos números expressivos para o estado. Mas o trabalho nunca termina, e Pinho não demonstra nenhum incômodo em continuar em um setor com o qual tem afinidade. Agora ele está ajudando a implantar novos polos turísticos muito além da capital: de sol e mar, em Jericoacoara e Aracati, um histórico-cultural próximo à gruta de Ubajara, outro mais no vale do Cariri. Com novos voos, estradas e aeroportos, o Ceará está a se tornar um estado para se conhecer muito além da capital, Fortaleza. n

por aline vessoni


VIAGEM

NO MEIO DE TUDO, NO MEIO DE NADA

Com a costa oceânica ocupada pelo deserto mais antigo do mundo, a Namíbia se destaca, principalmente por seus cenários à la National Geographic, com direito a lodges inacreditáveis que dão ao viajante uma certeza: Deus existe! texto e fotos corinna sagesser

IMENSID Ã Visitar um O deserto é sempre um Na Namíb a ex ia, ir de carro a viagem se intensifi periência revelado , pode dirig ca, já que , ra. se ir com alma viva. Outr centenas de quilôm você optar em a opção é et ro s se m ir de avião monomoto cruzar r

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Namíbia tornou-se um país independente há apenas 27 anos. Até o início da Primeira Guerra Mundial, o território era dominado pela Alemanha, que perdeu espaço para as tropas britânicas baseadas na África do Sul. Por conta disso, é comum encontrar por lá uma grande miscelânea étnica e de sotaques, embora se trate de um dos países menos povoados do mundo (com pouco mais de 2 milhões de habitantes). E, ao cruzar seus desertos de carro, é bom torcer para não ter problemas com o veículo, já que é grande a possibilidade de não encontrar ninguém no caminho. Não por acaso, a palavra Namíbia é derivada de namib – que, na língua africana nama, significa “lugar onde não há mais nada”. n

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INACREDITÁVEL O Fish River Canyon pode se parecer com outros que você já viu na vida. A diferença é que aqui, prova velmente, você não cruzará com mais ninguém. E a imensidão da paisagem se torna ainda maior. Para encher os olhos e a alma

MUNDO ANIMAL

A vantagem de fazer um safári no Etosha National Park é a mesma de fazer turismo na Namíbia: não encontrar lugares lotados, não enfrentar filas, como em outros parques bastante concorridos no restante do continente africano. E os animais passam o tempo todo em busca de água

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PAÍS DAS FOCAS Estima-se que a costa namibiana contabilize uma população de cerca de 20 milhões de focas. Preservação animal é um assunto levado a sério na Namíbia. E, apesar de a caça ser liberada no país, a legislação que controla isso é bem rigorosa

PANOR Â Uma da MICA s forma s de che Sossusv ga le Nationa i – uma região r ao d l nesses a Park com suas o Namib-Nauk d lu v a infrae iões de peque unas incríveis – ft no str é melhore utura do aero porte. Embo ra po s, a vista compe rto não seja da nsa s

SWEET HOME

TURISMO CONSCIENTE

É possível aproveitar as vistas espetaculares de diversos recantos remotos em boa parte do continente africano, sem prejudicar a fauna e a flora locais. Desde 1983, a operadora de ecoturismo Wilderness Safaris está engajada em beneficiar as comunidades locais, assegurando proteção para o meio ambiente e para as próximas gerações. O lema, que virou política empresarial, resume-se na seguinte frase: “Conservação sustentável por meio de um turismo responsável”. + br.wilderness-safaris.com

Para se preparar para aventuras em terras namibianas, é fundamental encontrar um lugar confortável e aconchegante no fim do dia. E o país tem lodges excelentes para compensar as cenas de tirar o fôlego que o turista certamente vai ver durante o dia


ESPELHO

NO ALVO

As fintech, empresas de tecnologia que prestam serviços na área financeira, estão cada vez mais na pauta do dia. A Trigg é uma delas. Criada em março deste ano, tem um cartão de crédito digital que funciona no esquema cashback, ou seja: o dono pode receber até 1.3% do valor gasto de volta na próxima fatura ou optar por contribuir para start-ups com alto impacto social. “Cumprimos a meta e chegamos ao fim deste ano com 55 mil cartões ativos”, comemora MARCELA MIRANDA, cofundadora e presidente. Ainda na faculdade, Marcela, que é paulista de Sorocaba, foi estagiária da Compaq, posteriormente adquirida pela HP. Nessa época, morava em Campinas, cidade onde ficava a sede da empresa e onde cursava administração de empresas na PUC Campinas. De lá, foi para a BRQ, um das maiores desenvolvedoras de softwares B2B do país. “Lá, a pegada era menos hardware e mais estratégia, tudo a ver comigo”, diz ela, que ficou na companhia de 2004 a 2009. Além de Marcela, a Trigg conta com outros dois sócios: os cariocas Guilherme Müller e Alexandre Pereira, ex-BRQ como ela. Na verdade, o trio já tinha empreendido antes: criaram o Beer Box, site de cervejas importadas, depois abriram um bar com o mesmo nome, que também funcionava como depósito para as bebidas. Venderam o bar e, em 2011, fundaram a Grumft Mídia House & Content, agência de publicidade especializada em gestão de campanhas digitais. Como a Trigg vai indo muito bem, começou a ficar difícil cuidar das duas empresas e a Grumft ganhou outro sócio: Bruno Bocchi. Atualmente, a Trigg conta com 150 funcionários. Marcela diz que o público-alvo tem entre 18 e 47 anos, mas que a idade não é o foco da empresa. “Não pensamos em clientes da geração X ou Y, por exemplo. Para nós, comportamento é o que importa“, explica. Em outubro, foi lançada a Trigg Band, pulseira de silicone que funciona como cartão de crédito e não precisa sair do pulso nem na hora do banho. Em cerca de um mês mais de 3 mil clientes pediram a sua. n

por márcia rocha foto andré giorgi PODER JOYCE PASCOWITCH 53


Rubens Menin Teixeira de Souza

SÓ SUCESSO A Ernst & Young (EY) pilotou jantar animado na Casa

Charlô, em São Paulo. Além de celebrar os 20 anos do Prêmio Empreendedor do Ano no Brasil, foram anunciados os vencedores das categorias Master, a mais importante da premiação, Emerging, Sustentável, Executivo Empreendedor e Family Business. Rubens Menin Teixeira de Souza, da MRV, vai representar o Brasil na final mundial em Mônaco, em 2018

Luiz Sérgio Vieira

Edgard Corona

Luiza Helena e Frederico Trajano

Pedro Lima

Marcelo Carelli


Sergio Romani

Marly Parra

Sônia Hess de Souza

Samara Braga e Janete Vaz

Gabriela Baumgart

José Roberto Nogueira

FOTOS BRUNA GUERRA

Patrícia e Amarílio Macêdo

Alcione Albanesi e Ricardo Yolle


Andreas Marquardt

Leandro Giacon

LUXO CLEAN

Leandro Rodrigues

Arnaldo Danemberg

Paulo Tadeu

Cayenne S E-Hybrid

FOTOS BRUNA GUERRA

PODER e Porsche organizaram um encontro para mostrar o novo Panamera 4 E-Hybrid, que chega este mês ao mercado nacional. Com autonomia de 50 km, o carro, que tem motor híbrido (elétrico e gasolina), está isento de rodízio e tem redução no IPVA na cidade de São Paulo. Em 2016, a montadora alemã trouxe para o Brasil a versão híbrida do Porsche Cayenne, luxuoso SUV da marca.


Maria Zilda AraĂşjo

Mariana Romero

Lucilla Mesquita e Luiz Paulo Andrade

Panamera 4 E-Hybrid

Paulo Humberg

Mauro Finatti

Sergio Israel e Amelia Whitaker


Geyze e Abilio Diniz

Em novembro, o Masp comemorou em dobro: com a festa beneficente que acontece todos os anos e com a celebração dos 70 anos da instituição, com shows de Daniela Mercury, Mariana Aydar e Mestrinho.

Andrea e José Olympio Pereira

Angela e Ricard Akagawa

Bruno Garfinkel

Carmo e Jovelino Mineiro

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Rose e Alfredo Setubal

Ana Maria Igel e Mario Leonel

Maguy Etlin

Sabine e Carlos Lovatelli

Renata Paula

FOTOS PAULO FREITAS

CAUSA NOBRE


FOTOS EVANDRO SILVA

Stefan Neuding André Neuding Filho

REAL ESTATE

Os irmãos André e Stefan Neuding, da Stan, receberam convidados para apresentar o novo lançamento da incorporadora, o edifício comercial PJM 109, a um quarteirão da avenida Paulista. À localização mágica soma-se a reforma do casarão centenário do imóvel.

Claude Tillier

Marc Lube e Paulo Neves

João da Cruz e Maria Vicente de Azevedo

Ricardo Aydar, Izabel Esteves e Manoel da Costa Santos

Maria Fernanda Vicente de Azevedo com Glorinha e Elazir Vicente de Azevedo

Cesar Peduti Neto e Ana Heynen

Arnaldo Halpern


É DE PODER POR ANA ELISA MEYER

SAPATO Giorgio Armani R$ 4.050 armani.com

MAIÔ Água de Coco R$ 699 aguadecoco.com.br

MADE IN PHARRELL

Não basta ser cantor, compositor, produtor e ainda amigo dos dois caras do Daft Punk. Pharrell Williams, que assina looks para a adidas Originals, ainda faz sucesso na moda. Sua mais nova colaboração para a marca desembarcou no Brasil para a alegria dos fashionistas. A coleção Hu Hiking, que faz parte da série Hu, tem por base os esportes de natureza e a camuflagem. Já os consagrados sneakers chegam com solado diferente inspirado nos tênis de trilha e em quatro modelos pop. A linha tem moletons, t-shirts, body, leggings, vestidos, jaquetas, calças e acessórios e, para completar, bonés, mochilas e gym bags. Para homens e mulheres com muito estilo.

* PREÇOS PESQUISADOS EM NOVEMBRO. SUJEITOS A ALTERAÇÕES

Quando o ladrão de carros, vivido por um Richard Gere no auge de sua fama de símbolo sexual em A Força do Amor (Breathless), diz que Valérie Kaprisky o deixa sem fôlego, trata-se muito mais do que um trocadilho. Com seus olhos verdes e seu corpo mignon e irretocável, a atriz francesa, então com 21 anos, protagoniza cenas quentes com o ator norte-americano que são, como quer o clichê, de tirar o fôlego. Refilmagem o clássico absoluto da nouvelle vague Acossado, de JeanLuc Godard, A Força do Amor, de 1983, foi um sucesso de bilheteria e o casal protagonista ainda é lembrado como um dos mais bonitos e quentes das telonas.

FOTOS GETTY IMAGES; DIVULGAÇÃO

RICHARD GERE E VALÉRIE KAPRISKY


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CONFORTO MÁXIMO

Cadeira é o tipo de produto que você precisa experimentar para comprar, certo? Dependendo da marca, não. A partir deste dezembro, a norteamericana Herman Miller lança o seu e-commerce no país e, a julgar pelo sucesso das vendas virtuais em lugares como Estados Unidos, Japão, China, Índia e Inglaterra, o Brasil não vai fugir repetir a regra. O reconhecimento global da Herman Miller está no fato de alinhar conforto e design em peças com a assinatura de designers consagrados como Ray e Charles Eames, Yves Béhar, Alexander Girard, só para fazer uma lista bastante sucinta. STORE.HERMANMILLER.COM.BR

BRINCOS Tiffany & Co. R$ 1.865 tiffany.com

BOLSA Bottega Veneta R$ 12.100 bottegaveneta.com PODER JOYCE PASCOWITCH 61


CONSUMO

SELEÇÃO UPSCALE

Sugestões para presentes de Natal verdadeiramente primeiro time? Rolex e Hermès para começar POR ANA ELISA MEYER

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MOTOR

VEM, VERÃO Quer lugar mais perfeito para passar a melhor estação do ano do que na água? Pode ser mergulhando ou a bordo de um destes brinquedinhos por aline vessoni

SPADOLINI - ROSETTI 85

Uma das líderes globais em engenharia naval, a Rosetti Marino SpA uniu-se ao conceituado designer italiano Tommaso Spadolini para desenvolver uma frota inteiramente nova de embarcações de até 85 metros. O ponto alto é este iate com motorização de 2.200 GT, composto de máquina principal com sistema de propulsão fornecida pela Rolls-Royce. O superiate da Rossetti é totalmente customizável e o preço começa em 60 milhões de euros.

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BAYLINER 310

FOTOS DIVULGAÇÃO

O 310 é barco para toda a família. A cabine espaçosa comporta até seis pessoas para passar a noite – ou dez curtindo o sol. Uma inteligente distribuição do mobiliário otimiza a circulação a bordo, além de equilibrar o peso adequadamente. O espaço externo conta com um solário rebatível, geladeira no cockpit e uma ampla plataforma. A partir de R$ 380 mil.

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ROLLS-ROYCE - CRYSTAL BLUE

Além do conforto desconcertante, o novo superiate da Rolls-Royce, o Crystal Blue, faz bonito em desempenho e correção ambiental. Como combustível, utiliza gás natural e energia elétrica. Tem 62 metros de comprimento, suficientes para que 12 passageiros e 12 tripulantes naveguem com tranquilidade. O posto de comando fica abaixo dos deques, permitindo que uma grande área da embarcação seja utilizada para uso privativo. Ainda tem átrio de dois níveis com cobertura de vidro.

HEYDAY WT-1

A ideia da Heyday ao projetar o WT-1 foi levar ao mercado um barco barato, econômico e facilmente atracável. E, principalmente, que servisse de suporte e transporte para quem pratica esportes aquáticos. O conceito é levado ao extremo, vide o despojamento e minimalismo da embarcação. Não há nada nele que não tenha como finalidade facilitar a vida de quem vai ao mar para fazer wakeboard e outras atividades semelhantes. A partir de US$ 40 mil.

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ARCADIA SHERPA PANTA REI III

Navegar no Arcadia é uma oportunidade de admirar a natureza de um ponto de vista privilegiado. Desenhado para que os passageiros tenham uma fruição a bordo notável, ele promove sensações visuais próximas a de uma piscina de borda infinita. Pode (e deve) ser plenamente costumizável. A partir de 1,5 milhão de euros.

SEA-DOO GTX LIMITED

FOTOS DIVULGAÇÃO

Com seus 3,45 metros, o GTX Limited da Sea-Doo comporta até três pessoas. A nova versão desse jet ski aparece com o banco mais estreito, o que, em conjunto com o apoio para os joelhos, faz com que o piloto assuma uma posição muito natural de condução. Além disso, o GTX conta com um sistema de áudio bluetooth, área à prova d’água para o smartphone, entre outras bossas. A partir de R$ 98.790.

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COZINHA DE PODER POR FERNANDA GRILO F O T O S G I O VA N N A B A L Z A N O

VE RDUR A

P URA

Da mesma família da couve e do brócolis, só para citar dois “primos”, a rúcula, assim como outros vegetais verde-escuros, é rica em ferro, cálcio e fibras. E como cada 100 gramas tem apenas 13 calorias, dá para cair de boca. Sem culpa

A

ssim como outras hortaliças de tonalidade verde-escura, a rúcula é fonte de ferro, de cálcio e de fibras. “Sem falar que também é rica em vitaminas e minerais que contribuem para reforçar o sistema imunológico e em substâncias antioxidantes que, por sua vez, amenizam os efeitos nocivos dos radicais livres no organismo”, explica Thais Eliana Carvalho de Lima, nutricionista clínica do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. Originária da região mediterrânea da Europa e do leste da Ásia, a rúcula é da família Brassicaceae, a mesma da couve, da couve-flor, do brócolis e do repolho, só para citar alguns exemplos. Tem apenas 13 calorias em cada 100 gramas e pode ser consumida crua, em saladas dos mais variados tipos, ou refogada. Vai muito bem com queijos, azeitonas, tomates, orégano, azeite de oliva, carnes, peixes e cogumelos frescos. Se quiser tentar um jeito diferente, Thais sugere um suco verde delicioso e facílimo de preparar: polpa de maracujá batida no liquidificador com água gelada, folhas de rúcula e um pouquinho de gengibre. Tome sem coar para aproveitar os benefícios das fibras. n

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NHOQUE COM RAGU DE LULA, TOMATE CONFIT E RUCOLA

SALVATORE LOI E PAULO BARROS, MODERN MAMMA OSTERIA 4 PORÇÕES INGREDIENTES NHOQUE • 500 g batata asterix cozida e espremida • 100 g farinha de trigo • 2 gemas • 50 g grana padano • noz-moscada • sal

MOLHO • 150 g de molho de tomate • 200 g de lula fresca e pequena cortada em rodelas finas • 1 00 ml de azeite extravirgem • 150 g de rúcula cortada à julienne • sal • 50 ml vinho branco seco MODO DE PREPARO Misture todos os ingredientes até a massa ficar homogênea. Faça os nhoques e cozinhe em água fervente, retirando quando eles subirem para a superfície. Coloque-os para esfriar imediatamente e reserve.Depois, doure os nhoques em uma frigideira antiaderente bem quente com um fio de azeite. Em outra frigideira, saltear as lulas rapidamente também no azeite, adicione o vinho branco e reserve. Coloque o molho de tomate no fundo do prato, adicione os nhoques, cubra com a rúcula e, por último, acrescente as rodelas de lula.

CAFETEIRA ELÉTRICA Kenwood R$ 599 kenwoodworld.com/pt-br

AFIADOR DE CERÂMICA Victorinox R$ 230 victorinoxstore.com.br

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SANDUÍCHE QUITANDINHA

* PREÇOS PESQUISADOS EM NOVEMBRO. SUJEITOS A ALTERAÇÕES

FOTOS GIOVANNA BALZANO; DIVULGAÇÃO

MARCELO TANUS, DIRETOR DE GASTRONOMIA DA LANCHONETE DA CIDADE 5 SANDUÍCHES INGREDIENTES HAMBÚRGUER • 100 g de shimeji • 250 g de proteína texturizada de soja • 1 berinjela • 1 abobrinha pequena • 2 cenouras médias • 5 g de salsinha picada • 3 dentes de alho picados • 1/2 xícara de cebola picada • 6 fatias de pão de forma • 2 ovos • 200 g de castanha-de-caju • azeite extravirgem para refogar INGREDIENTES SANDUÍCHE • 5 pães pretos cortados ao meio • 150 g de tomates fatiados • 100 g de rúcula • 250 g de mozarela de búfala em rodelas • 50 g de pesto de manjericão MODO DE PREPARO HAMBÚRGUER Hidrate a proteína cobrindo-a com água quente (dois dedos acima). Escorra e torça dentro de um pano até retirar a água. Refogue a cebola e o alho em uma frigideira e acrescente a proteína. Corte a berinjela, a abobrinha e a cenoura em rodelas, grelhe na churrasqueira e reserve. Faça uma farofa com a castanha no liquidificador e reserve. Repita com o pão, os ovos e o cogumelo para fazer uma pasta. Junte tudo em uma travessa, coloque a salsinha e misture com as mãos. Faça hambúrgueres de 180 g e grelhe com um fio de azeite entre 3 e 5 minutos. MODO DE PREPARO SANDUÍCHE Aqueça os pães em uma frigideira já quente e coloque sobre uma das metades os tomates e os hambúrgueres. Disponha por cima as rodelas de mozarela e a rúcula. Espalhe o pesto na outra metade do pão e feche o sanduíche.

KIT DE FACAS Laguiole R$ 590 amoreira.com.br

MOEDOR DE SAL E PIMENTA Tramontina R$ 120 tramontina.com.br

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HIGH-TECH POR FERNANDA BOTTONI

Efeito arco-íris

Seleção de gadgets para sair do pretinho básico

FUJIFILM INSTAX MINI 70

SONY XPERIA XZ1

O novo smartphone da Sony pode ser encontrado nas cores azul, rosa e preto. A novidade é que o aparelho vem com recurso que permite criar modelos virtuais que podem ser usados em avatares ou mesmo modelados em impressora 3D. Tem processador Qualcomm® Snapdragon™ 835 Mobile Platform, 4 GB de RAM, tela FHD HDR de 5,2 polegadas e câmera principal de Motion Eye™ de 19 MP.

Amarela, azul e também em outras cores menos marcantes, a Instax Mini 70, câmera de fotografia instantânea da Fujifilm, oferece recursos como modo smart selfie, que ajusta automaticamente brilho e foco, além de um espelho frontal que auxilia no enquadramento ideal para uma selfie perfeita. A pequena também tem funções automáticas de exposição e flash e possui rosca para encaixe de tripé para fotos de paisagem e com temporizador (10s). R$ 899 INSTAX.COM.BR

R$ 3.799 SONYMOBILE.COM

SAMSUNG GEAR SPORT Com tela Super Amoled de 1,2 polegadas, este

aparelho foi desenvolvido com material de alta durabilidade e moldura minimalista e circular. Ele ajuda na tarefa de atingir objetivos de saúde e bem-estar e pode ser usado tanto com a pulseira azul da foto quanto com uma pretinha básica. As duas são facilmente intercambiáveis. R$ 1.899 SAMSUNG.COM.BR

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PODER INDICA

LOW-TECH

WESTERN DIGITAL MY PASSPORT

Quem disse que HD tem de ser sem graça? O My Passport, da Western Digital, não é. Disponível nas seis cores da imagem, ele tem capacidade de armazenar de 1 TB a 4 TB de fotografias, vídeos e músicas e tudo mais que você achar necessário. O melhor é que ele cabe na mão. Segundo o fabricante, basta tirar o aparelho da caixa e começar a transferir seus arquivos. Vem com softwares de backup e segurança para ajudar a proteger os dados. R$ 350 (1 TB) WDC.COM

LINHA MORANDI

Susana Bastos e Marcelo Alvarenga, fundadores do estúdio Alva Design, são responsáveis pela coleção de vasos Morandi. Tudo é típico da região de Ouro Preto, da matéria-prima utilizada, a pedra-sabão, às formas clássicas do design mineiro. Dispostas sobre bandejas de madeira colorida, as peças formam composições que remetem às pinturas do célebre pintor italiano Giorgio Morandi (1890 - 1964). Daí a inspiração para o nome do conjunto. INSTAGRAM @DPOTOBJETO

NESPRESSO LATTISSIMA TOUCH Disponível em dois tons de vermelho, além dos clássicos preto e branco, esta Nespresso tem seis botões touch, desligamento automático, sistema de leite one-touch, aquecimento rápido – bastam 25 segundos – e 19 bar de pressão.

FOTOS DIVULGAÇÃO * PREÇOS PESQUISADOS EM NOVEMBRO. SUJEITOS A ALTERAÇÕES

R$ 1.199 NESPRESSO.COM

SPECIALIZED EPIC HARDTAIL COMP MASCULINA Além da cor estilosa, esta bike tem quadro de fibra de carbono Fact 11 m, com XC 29 Geometry e espaçamento traseiro de 148 mm. O câmbio é de 11 velocidades com duas coroas. Extremamente leve (o quadro pesa cerca de 1.175 gramas), oferece uma pilotagem muito ágil e competitiva. R$ 15.999,01 SPECIALIZED.COM

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CULTURA INC. POR ELOÁ ORAZEM

FOTÓGRAFO BRASILIS

A

raquém Alcântara ainda era adolescente e estava zanzando à noite pelo região portuária de Florianópolis, cidade onde nasceu, criando coragem para usar a Yashica emprestada de uma amiga. A madrugada já estava no fim e, no ponto de ônibus, uma das moças do cabaré viu o rapaz e perguntou: “Quer fotografar, é? – e levantou a saia. Nascia ali o fotógrafo que, este ano, completa cinco décadas de uma carreira muito produtiva. Durante esse período, Araquém, que crava 67 em janeiro, fez vários tipos de foto – mas o que ele gosta mesmo é de retratar o Brasil. Várias de suas fotos verde e amarelas, aliás, compõem um dos livros de fotografia mais vendidos do país. TerraBrasil foi lançado em 1998 e já está na 12ª edição. “Intérprete da beleza nacional”, como ele mesmo se define, Araquém já não consegue (nem quer) contar os prêmios e as homenagens que recebeu. Não por pouco caso, mas porque prefere manter o olhar humilde sobre as coisas da vida – o que, de fato, o interessa. Especialista em clicar a fauna e a flora nacional, lamenta a falta de cuidado com o meio ambiente. “Hoje, preciso investir dias em uma expedição para encontrar animais que, antes, via aos montes, em questão de horas”, relata. Na opinião dele, esse processo de desconexão com a natureza está nos tornando seres embrutecidos – e talvez isso explique, em parte, o exagero do uso do Photoshop: “É uma ferramenta que denota incompetência. Em fotos retocadas vejo um verde que não existe;

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um amarelo inverossímil”. E completa: “Não se pode chamar de artista quem usa esse programa. O artista tem que ser íntegro, não deve se preocupar com fórmulas prontas”. Mas isso não quer dizer que Araquém negue as facilidades tecnológicas – ao contrário, quando é o caso, ele usa a tecnologia a seu favor. Seu último livro, por exemplo, foi alavancado em uma campanha de crowdfunding na plataforma Catarse. Jaguaretê superou com folga a previsão inicial de R$ 79.690 – foram arrecadados mais de R$ 98 mil para lançar a obra, que reúne 50 fotos de onças-pintadas. “A concepção desse livro começou em 1979. Em janeiro daquele ano fotografei uma onça-pintada pela primeira vez. Estava na Amazônia, na região de Manacapuru, quando avistei uma, mordendo um galho no meio do igarapé. Desde então, dedico boa parte da minha carreira para registrar o modo de vida desses animais, ameaçados de extinção”, escreveu em seu site. A experiência com o financiamento coletivo foi maravilhosa – mas é preciso dizer que ele nunca duvidou do sucesso da campanha: “Sempre toco um projeto como se ele já estivesse de pé”, resume, e isso faz ainda mais sentido quando se lê a dedicatória de sua última obra: “Àqueles que acreditaram primeiro”. Esse misto de certeza e de otimismo explica sua devoção ao país em que nasceu. “Acho mesmo que o Brasil é protagonista dos novos tempos; que vai ser possível compreender mais a natureza por meio dele”, pontua. n

FOTO DIVULGAÇÃO

Prestes a completar 50 anos de carreira, Araquém Alcântara segue firme em sua missão de registrar a exuberância da natureza do país e acaba de lançar Jaguaretê, livro dedicado às onças-pintadas


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ARTE

ESTADO DA ARTE

Mesmo do alto de seus 76 anos, Hélio Eichbauer faz questão de continuar aprendendo diariamente. Possivelmente, o cenógrafo brasileiro mais premiado de todos os tempos, dentro e fora do país, o carioca não é do tipo que investe tempo olhando para o que já passou – para ele o que interessa é o agora. Mas, ainda bem, essa “regra” tem exceção: ele manteve em seu acervo o cenário de O Rei da Vela, peça de Oswald de Andrade levada aos palcos 50 anos atrás pelo diretor Zé Celso – que voltou ao teatro em 2017 com o mesmo elenco e a mesma força. “Fiz uma leve adaptação no figurino, mas todo o resto segue à risca o que foi criado para a primeira montagem.” Apaixonado por arte em geral, confessa ter apreço por música, “menos complicada de trabalhar do que o teatro de prosa”, fala com a propriedade de quem já colaborou com Chico Buarque, Caetano Veloso, Marisa Monte, Gal Costa e outros gigantes de di-

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ferentes gerações. Eichbauer, aliás, não se liga muito com nada que seja datado: trabalha com textos clássicos e modernos, com jovens que estão começando na carreira – “o entusiasmo da juventude é inspirador” – e com gente mais experiente. Idade não conta, mas o cenógrafo declara que só trabalha com textos de que gosta. Os diretores que o conhecem sabem disso e só oferecem o que acreditam ter a ver com ele. Privilégio merecido, não só pela genialidade, mas também pelo empenho. Eichbauer estudou cenografia e arquitetura cênica em Praga, no início da década de 1960, sob a mentoria de Josef Svoboda, autoridade na área. Depois, fez estágio na Berliner Ensemble, companhia de teatro, criada em 1949 por Bertolt Brecht, e na Ópera de Berlim. Depois, embarcou para Cuba e foi trabalhar no Teatro Studio de Havana. Sorte nossa que ele resolveu voltar – foi no Brasil que criou seus trabalhos mais expressivos. “Essa so-

ma de experiências está dentro de mim e acho que valeu a pena trabalhar pelo país”, reflete. Seja no mercado ou como professor, sua contribuição para a cultura nacional é inegável – sobretudo porque sua obra atravessa intacta períodos diferentes e difíceis de nossa história. Testemunha de épocas áridas da arte brasileira, ele lamenta o avanço do conservadorismo. “Censura não é nenhuma novidade, mas é um absurdo que ainda seja tão presente nos dias de hoje. A arte é, por essência, provocadora e, ao mesmo tempo, traz harmonia. Precisamos garantir que ela tenha liberdade para ser as duas coisas”, arremata. Criativo e sem preconceito, usa painéis de LED e outros recursos em seus cenários, mas acredita que o uso indiscriminado de tecnologia pode minar a imaginação e abrir caminho para uma perfeição estéril. “Gosto muito do artesanal, daquela imperfeição humana, cheia de energia e de originalidade”, finaliza.

FOTOS LUIZ HENRIQUE SÁ/ DIVULGAÇÃO; FREDI KLEEMAN/ DIVULGAÇÃO; DIVULGAÇÃO

Um dos mais importantes cenógrafos do país, Hélio Eichbauer assinou a ambientação de O Rei da Vela, que estreou em 1967 e está de volta aos palcos


CINEMA

LUZ, CÂMERA E INDEPENDÊNCIA

De 18 a 28 de janeiro, Park City, em Utah, nos Estados Unidos, recebe mais uma edição do Festival de Sundance, marco do cinema independente mundial. Abrindo espaço para novos talentos, o evento é pioneiro na arte de democratizar conhecimento e oferece workshops e palestras para jovens cineastas dispostos a abrir espaço em uma das indústrias mais concorridas do planeta. Além da veia educativa e alternativa, Sundance é conhecido por fomentar a diversidade, com painéis dedicados a minorias históricas – algo que não costuma ser comum em premiações desse porte. Com recorde de inscrições, espera-se que o primeiro grande evento do cinema de 2018 seja uma prévia da confluência criativa e multicultural que tem tudo a ver com o festival e com o mundo contemporâneo.

LIVRO EM PRATOS LIMPOS

Escrito pelo turco Taner Akçam, Killing Orders: Talat Pasha’s Telegrams and the Armenian Genocide, chega às livrarias norte-americanas em janeiro do ano que vem. A obra faz uma análise profunda do genocídio armênio [que ocorreu entre 1913 e 1923 e matou mais de 1,5 milhão de pessoas], sistematicamente negado pelo governo otomano. Destinado a revelar fatos novos e comprovados a quem fecha os olhos para isso, o autor acrescentou ao seu último trabalho dois volumes inéditos. Aguardado pela crítica e pela sociedade por motivos óbvios.

+ ARTE IMERSÃO

Em sua terceira década, a LA Art Show, feira totalmente dedicada à arte contemporânea, supera a cada ano os números das edições anteriores. De 11 a 14 de janeiro de 2018, mais de 100 galerias provenientes de 18 países diferentes participam do evento. Para cobrir todas as área de interesses dos visitantes (ano passado, foram mais de 70 mil pessoas), a programação é feita em parceria com os principais museus e centros culturais da cidade, incluindo The Broad e LACMA, entre outros.


CABECEIRA MEMÓRIAS DE ADRIANO MARGUERITE YOURCENAR

“Este é um livro que considero especial. Ele me seduz pela fascinante história do imperador Adriano embasado com profunda análise psicológica, mostrando seu lado humano.’’

ESTANTE

por aline vessoni 78 PODER JOYCE PASCOWITCH

O DEMÔNIO DO MEIO-DIA ANDREW SOLOMON

‘‘Fiquei encantada com a forma impressionante como a batalha contra a depressão é relatada, uma doença muito presente na atualidade e muitas vezes mal compreendida pela sociedade. A maneira como o livro expressa a doença nos faz refletir sobre a questão.’’

LAÇOS DOMENICO STARNONE

‘‘Identifiquei-me bastante com este título porque ele explora os vínculos familiares, algo que valorizo bastante. Ele retrata também o impacto da separação na vida de uma família. Um livro incrível.’’

SAPIENS – UMA BREVE HISTÓRIA DA HUMANIDADE YUVAL NOAH HARARI

‘‘Um livro que proporciona a oportunidade de conhecer e refletir sobre a evolução humana, de forma objetiva, direta e despertando a reflexão.’’

LIBERDADE JONATHAN FRANZEN

‘‘Este é um maravilhoso romance que retrata a vida contemporânea, mostrando como relacionamentos se entrelaçam e se conflitam com a liberdade. É um livro que toca bastante o coração da gente.’’

A SOMBRA DA GUILHOTINA HILARY MANTEL

‘‘Não tem como não se envolver nesta história que fala da Revolução Francesa a partir da amizade entre Danton, Robespierre e Camille Desmoulins. Você se entrega a cada palavra e revive esse evento tão importante.”

FOTOS DIVULGAÇÃO

GABRIELA BAUMGART cresceu em meio aos negócios da família. Acompanhou a criação do Shopping Center Norte – o primeiro da zona norte de São Paulo – e que culminou no empreendimento atual, que é a Cidade Center Norte. Foi ali, aos 15 anos, que ela resolveu arregaçar as mangas e trabalhar em contato direto com o cliente para ganhar experiência no varejo. E ganhou mesmo, mas resolveu seguir outros caminhos. Graduou-se em Direito empresarial, na USP, e em administração, na Fundação Getulio Vargas, e atuou em grandes escritórios de advocacia como Levy & Salomão e Machado Meyer. Mas, como o bom filho à casa torna, Gabriela voltou à zona norte. Ao assumir a diretoria executiva da empresa, passou a ser peça-chave para a mudança no modelo de gestão das empresas da família, ao implantar um novo sistema de governança corporativa. O seu retorno foi marcado por uma criteriosa modernização dos negócios. Seu olhar também está voltada para o empreendedorismo feminino e, desde 2015, é mentora do programa Winning Women, da Ernst & Young. Pelo mesmo propósito, ela também é integrante do grupo Mulheres do Brasil, do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, e da Women Corporate Directors Foundation (WCD). Em meio a tudo isso, a empresária ainda encontra tempo para se embrenhar em um bom romance. “Quando pequena, adquiri o maravilhoso hábito da leitura me divertindo com inúmeras coleções interessantes, muito por incentivo de meus pais. Sempre tive livros por todos os cantos da minha casa fazendo parte de minha rotina.”


CARTAS cartas@glamurama.com

SOJA, CIFRÃO E SERTANEJO

O Sindicato Rural de Sorriso luta incansavelmente para defender os produtores rurais de Sorriso, acompanhando ativamente os mais diversos assuntos que afetam diretamente a classe, como a injusta tributação do setor e a dificuldade de escoação da produção diante das péssimas condições das rodovias e das estradas, além de contribuir valorosamente com importantes projetos que visam trazer melhorias para toda a sociedade, como a construção do aeroporto, sem ver nisso motivo para “gabar-se” como colocado de forma repugnante na reportagem (PODER 111). Luimar Luiz Gemi Presidente do Sindicato Rural de Sorriso (MT) Uma pena aqui no Rio de Janeiro eu não conseguir encontrar mais edições para comprar (PODER 111). Espero que seja por estar tendo muita saída. Sucesso! @lucas.c.rezende

O MAIS TRAPALHÃO

Que emocionante ler uma matéria sobre o meu ídolo da comédia, Renato Aragão (PODER 111). Acho sensacional o cara entender que o humor mudou, e ele mudar também. Darlene Sousa, de São Paulo (SP), via e-mail

BRAVÍSSIMO!

É uma matéria bem didática (PODER 111) para quem não entende de ópera e que quer começar a acompanhar – meu caso. Valeu cada centavo investido na revista! René Figueiredo, do Rio de Janeiro( RJ), via e-mail

FOTO DARYAN DORNELLES

E Maria Callas brilhando... (PODER 111) @missfarina

BRATISLAVA

Cada foto maravilhosa (PODER 111). E as histórias dessa cidade, incríveis! Fiquei com vontade de conhecer nas minhas próximas férias. Vera Lúcia Menezes, de Santos (SP), via e-mail

/poder.joycepascowitch

@revistapoder

AGENDA PODER

ARAMIS + aramis.com.br RICARDO ALMEIDA + ricardoalmeida.com.br SAPATARIA COMETA + sapatariacometa.com.br Z ZEGNA + zegna.com

@revistapoder

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IMAGINA NA COPA

Uma das lendas mais divertidas destes tempos de pós-verdade dá conta que o todo-poderoso russo, Vladimir Putin, seria imortal. Pululam, em sites de procedência tão duvidosa quanto os que Donald Trump lançou mão durante as últimas eleições presidenciais dos Estados Unidos – com uma ajudinha providencial dos próprios russos, suspeita-se –, fotos do mandatário em ação nas duas grandes guerras e em outros eventos históricos, sempre com a mesma carinha de Lenin embalsamado. Sobre tal teoria, não podemos confirmar nem negar – para ficar no jargão de agentes secretos como ele, que é ex-KGB –, mas que Putin é sério candidato a personagem mundial da década, quiçá até deste século, quem sabe?, isso está claro. E os russos adoram. Tanto que já foi lançada a versão 2018 do calendário do presidente, sucesso de vendas já há alguns anos. A cada mês uma foto no estilo “Putin fazendo coisas”: o que para ele pode significar ler um mero livro até tomar parte em caçadas ou montar cavalos de dorso nu ao melhor estilo macho man.

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Alameda Lorena, 1919 - São Paulo (11) 3061.0286 | | Av. Rebouças, 2633 - São Paulo (11) 3067.4630 Rua Doutor Mario Ferraz, 502 - São Paulo (11) 3073.1404 | R. Prof. João de Oliveira Tôrres, 415 - São Paulo (11) 4112.1487 SHIS QI 03 – Bloco J Lago Sul - Brasília (61) 3711.1666

www.camargoalfaiataria.com.br | @camargo_alfaiataria


cri•a•ti •vi •da •de (substantivo feminino)

De “criar”, que vem do latim CREARE. Inteligência e talento, natos ou adquiridos, para criar, inventar, inovar, quer no campo artístico, quer no científico, esportivo etc. 2 Coragem necessária para transformar seu negócio. Visão desafiadora que permite criar e aproveitar oportunidades únicas para alavancar o que você acredita. Uma nova leitura do mundo que impulsiona sua empresa para o sucesso, criando valor nos mais diferentes cenários. 1

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Acelerar a transformação digital, estimular a inovação, transformar dados em oportunidades de negócios, criar experiências diferenciadas para os clientes.

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