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CULTURA INC

POR LUÍS COSTA

VIDA EM SILÊNCIO

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Artista multimídia, Luiz Zerbini lança livro com monotipias de plantas e prepara exposição inédita para o Masp em 2022

Há três anos, Luiz Zerbini ganhou de cinco diferentes amigos o mesmo presente de aniversário: o livro A Vida das Plantas, do filósofo italiano Emanuele Coccia. O artista paulistano radicado no Rio tinha interesse pelos vegetais fazia tempo. A publicação trouxe uma perspectiva nova: longe de serem coisas inanimadas, as plantas sentiam, comunicavam-se, expressavam-se.

Zerbini lança agora em junho o livro Botanica Monotypes, pela Fundação Cartier (320 págs., R$ 590,28). É uma seleção de trabalhos de impressão de monotipias de folhas, flores, galhos, cuja transferência para o papel permite encontrar seus detalhes, suas texturas, suas formas. Nos últimos quatro anos ele já criou mais de 300 monotipias de vegetais.

O interesse pela botânica é antigo. Na adolescência, Zerbini frequentava em Osasco (SP) a casa de Gilda Vogt – que também viria a ser pintora. Lá a mãe dela, paisagista, mostrava as muitas espécies que tinha nos seus viveiros. Quando se mudou para o Rio, ele foi morar em frente à porta do Jardim Botânico, onde também expôs trabalhos ligados às plantas.

“Quando a Benedita [filha] era pequena, eu ia ao Jardim Botânico praticamente todos os dias com ela. Era o nosso playground”, lembra o pintor. Ali começou a fotografar as espécies para, depois, levá-las aos quadros pelo pincel. Mais recentemente, Zerbini passou a usar folhas como matriz para fazer as impressões de monotipia.

No ateliê, na Gávea, ele cultiva palmeira, bromélia, orquídea, pitanga, jabuticaba, filodendro, paubrasil, de cujas folhas tira a matéria-prima para a monotipia. O uso da técnica de impressão sobre o papel não é apenas uma variedade trivial de forma. O sentido da obra é outro, já que a própria planta assume o lugar de artista.

“Quando eu era criança, achavam que os animais não pensavam, que o protagonismo do homem era total. Agora, sabem também que as plantas se comunicam, que mandam informações para outras plantas, por baixo da terra estão todas conectadas e trocam informações pelas raízes”, conta.

Essas ideias foram trocadas em uma conversa com o próprio Emanuele Coccia, em Paris, durante a exposição itinerante Trees, da qual Zerbini participa e que chega em julho a Xangai, na China. O papo com Coccia fez Zerbini perceber que a impressão para o papel não era mais um trabalho solo, mas uma parceria entre o homem e a planta. “Era uma afirmação radical, que parecia absurda, mas que para mim faz todo o sentido”, diz.

As monotipias de folhas, flores, galhos que ilustram o livro do artista

Zerbini – que expõe até junho obras dos anos 1990 no Galpão Fortes D’Aloia & Gabriel, em São Paulo – agora prepara uma exposição inédita para o Masp (Museu de Arte de São Paulo), prevista para abril de 2022. Entre a série de trabalhos, estão releituras de quadros históricos, como A Primeira Missa no Brasil, de Victor Meirelles, e a recontagem de episódios como o massacre de Haximu, de 1993, que matou 16 índios ianomâmis em Roraima, assassinados por garimpeiros.

“É tanto absurdo acontecendo, que me sinto na obrigação de fazer. A história tem uma necessidade de ser recontada. É uma chance que a gente tem de reinterpretar os fatos históricos”, diz. n

CINEMA DE RUA

Ricardo Calil assina a direção de Cine Marrocos, que estreou nos cinemas em 3 de junho. O documentário mostra brasileiros sem-teto, imigrantes latino-americanos e refugiados africanos – moradores do histórico cinema de São Paulo – que recriam cenas de filmes clássicos, apresentados mais de 60 anos antes no local. Fechado em 1994, o Cine Marrocos – inaugurado em 1951 e considerado o melhor e mais luxuoso cinema da América Latina – era, em 2015, abrigo de cerca de 2 mil sem-teto de 17 países. Com a ajuda dos moradores, a equipe do filme reabriu o cinema e os convidou para uma oficina de teatro. O longa venceu o festival É Tudo Verdade em 2019.

BRASIS

Itamar Vieira Junior, autor do celebrado romance Torto Arado – vencedor dos prêmios Leya,

Oceanos e Jabuti –, torna a tratar de questões sociais e da tradição literária brasileira em Doramar ou a Odisseia (Todavia, R$ 39,92). O livro traz um conjunto de histórias que articulam tradição e contemporaneidade para dar conta da multiplicidade de culturas que formam o país.

PARA OUVIR MELHOR

Para quem quer se aprofundar nas obras e artistas que estão na programação do Theatro Municipal de São Paulo, um podcast da instituição ajuda a entender melhor conceitos, biografias e estilos de música clássica. Lá estão episódios sobre Beethoven, Alberto Nepomuceno, Carlos Gomes, as maiores cantoras líricas do Brasil, como Bidu Sayão, entre outros temas. O mais recente episódio trata do legado do compositor russo Igor Stravinsky (1882-1971). O conteúdo está disponível nos principais agregadores de podcasts.

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