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O PRIMEIRO DA FILA

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CULTURA INC

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O PRIMEIRO

DA FILA

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Quando o curitibano Robson Privado era adolescente, À frente da startup era uma palavra que ainda MadeiraMadeira, o não existia no vocabulário. Àquela época, por mais que tivesse em ca- empresário curitibano sa o exemplo de dois empreende- Robson Privado planeja a dores, os pais de origem nordestina que se mudaram para Curitiba expansão da companhia no fim da década de 1970 e aca- para o off-line enquanto baram fundando uma faculdade na qual atuaram por mais de 30 trabalha para que o rótulo anos, o que Robson queria mesmo de “primeiro brasileiro era ser jogador de basquete, mas a vontade não prosperou por dois negro cofundador de um fatores que ele agora enxerga co- unicórnio” funcione como mo claros: a altura – 1,79 metro – e a falta de habilidade. O gosto pelo exemplo para incluir outros esporte, presente até hoje na prá- empreendedores tica de surfe, inclusive, chegou a levá-lo a cursar educação física na Universidade Federal do Paraná. POR NINA RAHE Graças às orientações de seu pai, no entanto, ele resolveu tocar, ao mesmo tempo, o curso de administração no negócio da família, a Faculdade de Ciências Sociais e Aplicadas do Paraná (Facet).

Se quando era mais novo Robson não almejava as startups, tampouco sonhava em se tornar cofundador de um unicórnio, quando soube de uma oportunidade na MadeiraMadeira – hoje maior loja de e-commerce de produtos para casa no Brasil, ultrapassando a marca de US$ 1 bilhão em valor de mercado – chegou logo dizendo que não queria um emprego, mas um projeto. “Cresci em um ambiente de empreendedorismo e isso teve bastante impacto na minha vida. Ver meus pais trabalhando ajudou na construção dos meus princípios e valores”, explica o empresário, que percebeu já na faculdade que o seu “negócio era o negócio”: ainda no início de sua trajetória profissional, trabalhando em uma academia, ele criou sua primeira empresa, desenvolvendo um serviço terceirizado de avaliações físicas, mas a falta de alinhamento com os outros três sócios acabou levando a iniciativa ao fim – dois deles saíram logo de início e o terceiro não estava disposto a investir tanto quanto Robson. Foi depois de um MBA na Fundação Getulio Vargas e uma experiência de três anos na Leroy Merlin, onde chegou como trainee e saiu como gerente comercial, que o destino de Robson se juntou à MadeiraMadeira. Nessa mesma época, a empresa fundada pelos irmãos Daniel e Marcelo Scandian com capital próprio passava por sua primeira rodada de investimentos. Ele chegou a ser entrevistado para uma vaga na companhia, que buscava alguém com mais experiência para integrar o time. Não satisfeito com a conversa, Robson resolveu ir conhecer a sede e os fundadores do negócio. “Era 2012, ninguém falava em startup em Curitiba. Eu sempre fui antenado e para mim isso era algo que estava muito lá em frente”, explica o empresário de 37 anos que, no encontro com a dupla de sócios, lembra ter enfatizado inúmeras vezes que não estava em busca de um emprego. “Ganhava muito mais na época, meu salário cairia lá embaixo, mas havia a oportunidade de me tornar sócio”, explica.

Assim, a partir do convite para liderar o portfólio de produtos, nos últimos nove anos, com exceção da área financeira, Robson já se envolveu em todas os setores da companhia, de marketplace a novos negócios, tornando-se COO, diretor de operações, há cerca de um ano. “Era uma área que eu já operava, mas sem a logística, que agora entra no meu escopo. Hoje estou com logística, vendas, novos negócios, lojas físicas... esse é um pouco do resumo”, diz.

A loja física da MadeiraMadeira e Robson com os fundadores da marca, os irmãos Marcelo e Daniel Scandian

“Queremos manter a liderança no online e conquistá-la no off-line. Nosso grande objetivo é ser o destino quando se pensa em casa no Brasil”

Na última década, Robson acompanhou de perto todo o crescimento da MadeiraMadeira, empresa que começou no e-commerce por meio do chamado dropshipping – a intermediação de compra e venda de produtos sem necessidade de estoque próprio – e agora contabiliza mais de 80 lojas físicas em estados como São Paulo, Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Espírito Santo. Boa parte do aporte financeiro de US$ 190 milhões captado no início deste ano (valor que tornou a companhia unicórnio), inclusive, foi para essa expansão.

“A gente percebeu que o mercado é majoritariamente off-line e sabíamos que o cliente preferia a experiência nas lojas físicas, mas ainda não havíamos achado o melhor modelo”, explica o empresário. O modelo, nesse caso, teve inspiração em um e-commerce indiano que possuía uma guide shop, ou seja, uma loja física com mostruário que permitia ao cliente conhecer o produto antes de finalizar o pedido de forma on-line. “Há uma parte da população que não se sente confiante em comprar on-line”, justifica Robson, que comemora também a inauguração de dois centros de distribuição – além do recém-inaugurado em São Paulo, haverá pontos em Recife e no Espírito Santo – que possibilitarão afinar ainda mais a logística e reduzir o tempo de entrega dos produtos mais vendidos. “Queremos manter a liderança no on-line e, no off-line, conquistá-la ainda mais. Nosso grande objetivo é ser o destino quando se pensa em casa no Brasil”, conta.

Em meio a esses desafios, Robson também vem se deparando com o rótulo de “primeiro brasileiro negro cofundador de um unicórnio”, algo que, de acordo com ele, nunca havia parado para pensar. “Meu pai foi um empresário negro em Curitiba na década de 1980 e eu cresci em lugares, colégios, clubes, onde, infelizmente, sempre fui o único negro. Assim como tive um exemplo, acho importante que existam referências e vejo que tenho uma responsabilidade grande”, explica o empresário, que, até pouco tempo, atuava também como uma espécie de mentor informal, procurado constantemente por pessoas que queriam conselhos para prosperar. “Sempre penso na escala e queria poder impactar mais”, revela. A solução foi não só começar um programa de inclusão e diversidade dentro da própria MadeiraMadeira (ainda em fase de estruturação), mas procurar iniciativas como Black Founders Fund e BlackRocks (aceleradoras focadas em impulsionar o sucesso de empreendedores negros), além de se tornar recentemente um conselheiro Endeavor (organização global de apoio a empreendedores). “Acredito que posso somar na questão de empreendedorismo, que é o que eu entendo, que é menos capital financeiro do que capital social, ajudando os empreendedores negros nessa formação”, explica. “Sou o primeiro, mas não serei o único.” n

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