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POR INTEIRO

A atriz Leandra Leal é o espelho destes tempos: na pandemia, se dedicou às relações familiares, gravou documentário em hospital de campanha e segue lutando por um mundo melhor

por nina rahe fotos jorge bispo

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Leandra Leal se desculpa, mas diz que precisa atender o celular. “É de Aruanas”, justifica a atriz de 38 anos, antes de explide de se voltar para as relações familiares – e para si mesma –, o movimento não fez com que Leandra se esquecesse dos outros (e do talento que tem, como atriz e diretora, para car que interromperá a conversa para realizar oferecer ao mundo). No documentário Por um teste de Covid. “Virá uma pessoa aqui, sou Trás da Máscara, ela registrou os últimos 21 testada de 72 em 72 horas”, conta, enquanto dias do hospital de campanha da Lagoa, no afasta a gata que insiste em participar da vi- Rio. “Saí da investigação sobre a maternidade, deochamada e encobre, mais de uma vez, o o lugar de mulheres artistas, e fui diretamente rosto de Leandra com seu rabo de penugem para o lugar onde estava sendo travada a bataacinzentada. “O controle é rígido, mas con- lha”, explica. A experiência, com lançamento fesso que fiquei feliz de voltar a trabalhar”, previsto para este ano, também influenciou a completa. Para quem ouve a fala sobre o re- atriz em sua decisão de deixar de fumar. “Detorno de Aruanas – série da Globo na qual a pois de ter ficado quase um mês em um ‘coviatriz interpreta a ativista ambiental e que, por dário’, você entende que ser fumante é uma conta da pandemia, teve suas filmagens inter- comorbidade que escolhe. Foi um processo rompidas – pode até parecer que as atividades superdifícil parar, mas estou conseguindo”, pararam. Mas a verdade é que, no isolamento conta, sem conter a indignação com a situação ao lado da família, a atriz fez do trabalho seu atual. “A gente tem um governo que escolheu porto seguro. passar esse período da pior maneira possível,

No início do ano passado, tão logo o distan- negando a ciência, o conhecimento técnico e ciamento social se impôs, Leandra viu a opor- não pensando na vida das pessoas.” tunidade de atuar com a mãe, Ângela Leal, Sempre engajada, Leandra não se abstém de com quem nunca tinha realizado um projeto abordar temas que lhe são caros, como as caude maior fôlego. Isoladas em uma casa no in- sas dos movimentos feminista e LGBTQIA+, terior do Rio, elas adaptaram a peça Esperando mas assume outro tom quando o assunto é sua

Godot, de Samuel Beckett. “São duas mulhe- vida pessoal, sobre a qual procura manter disres, de gerações diferentes, que são mãe e fi- crição. Da relação com a filha Júlia, de 6 anos, lha, e que têm um sentimento de entrega radi- durante muito tempo ela pouco falou, mas isso cal com o fazer artístico, pois eu e minha mãe vem mudando cada dia mais – o processo de somos definidas por isso”, resume Leandra. adoção com o então companheiro Alê Youssef

Durante as filmagens, antes de renovar o pa- foi concluído em 2018. “É muito importante trocínio do teatro da família, o Rival, no Rio, que essa maternidade se normalize e seja vista as duas viveram um período de incertezas em com menos preconceito”, explica a atriz, que relação ao futuro do espaço e precisaram pen- nesse tempo descobriu que as pessoas podem sar, juntas, como ele sobreviveria no ambien- ser “extremamente preconceituosas e inconte virtual. “Minha mãe tem um talento como venientes”, tanto que se cansou de ser questioprodutora cultural, ela é a alma do Rival, e eu nada sobre quando teria o seu. “Tenho pensado funciono mais a ajudando a viabilizar ideias”, muito nisso, mas não quero transformar minha conta. “Não possuo esse dom de liderança e filha numa bandeira, então tomo cuidado”, foi muito sofrido descobrir isso. Acho que te- Leandra continua, sem descartar a ideia de amnho mais para oferecer ao mundo em outros pliar a família com mais filhos adotivos – e biocampos.” lógicos também. “Sou filha única, gosto dessa

Mas se o isolamento foi uma possibilida- ideia de ter uma família grande.”

Vestido e jaqueta Armani, colar e brinco Julia Gastin

“Depois de ter ficado quase um mês em um ‘covidário’, você entende que ser fumante é uma comorbidade que escolhe. Foi um processo superdifícil parar”,

conta Leandra, que gravou documentário sobre os últimos dias de um hospital de campanha

“É muito importante que essa maternidade se normalize e seja vista com menos preconceito. Tenho pensado muito nisso, mas não quero transformar minha filha numa bandeira”, sobre adoção

Body e cardigã Dolce & Gabbana, brinco e anel H.Stern

Vestido Andrea Marques, sutiã Intimissimi, colar, brinco e anéis Antonio Bernardo

Arte: Jeff Leal Direção criativa e produção executiva: Ana Elisa Meyer Assistentes de styling: Carol Sofia e Rafael Ourives Assistente de beleza: Luiz Villacorta Assistente de fotografia: Arthur Rangel

Na pandemia, inclusive, ela resolveu trocar alianças e oficializar o casamento com o fotógrafo baiano Guilherme Burgos. “As pessoas celebram durante guerras, a gente tem essa pulsação de vida e acho que celebrar o amor entre duas pessoas é algo que sempre pode ser feito.” A atriz ainda mantém a vontade de realizar uma cerimônia pós-pandemia, mas enquanto o desejo não se concretiza, vem se dedicando a uma série de atividades para manter a sanidade diante do cenário atual. Começou a nadar no mar, alugou uma bicicleta de spinning, além de estar “fazendo ioga à beça”, dedicando-se cerca de duas horas diárias aos exercícios. Em paralelo a tudo isso, voltou a tricotar, algo que aprendeu com sua avó e havia deixado de lado há mais de 20 anos. “Adoro trabalhos manuais, me acalmam”, explica, contando que a manta que começou a fazer na pandemia deveria ser pequena, mas não para de crescer, assim como tudo a que a atriz se dedica. n

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