LITER ATUR A
LICENÇA POÉTICA Um dos maiores sucessos da poesia atual, mas sempre reservada e assumidamente tímida, Ana Martins Marques conta que desistiu de ser professora e compara seu novo livro a um escudo, e não um espelho, dos tempos atuais POR NINA RAHE
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isque Esta Palavra (Companhia das Letras), novo livro de Ana Martins Marques, tem 15 sóis e nenhuma lua. Essa diferença, notada pela editora Heloisa Jahn, nem mesmo a autora sabia. Na publicação com poemas antigos e outros recentes há também muito sobre o luto, embora Ana não consiga avaliar em qual medida as questões sociais e políticas deste tempo – “as muitas perdas coletivas, o medo da perda de pessoas próximas, o agravamento da pobreza, o descalabro de um governo que investe na produção do caos e que não tomou nenhuma providência para evitar as mortes, ao contrário, debochou dos mortos e
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dos doentes” – entram ou não na escrita. “Quem sabe o que essa morte / trouxe à vida? / As casas / coloridas / estão alegres sem motivo”, ela escreve. “Quem sabe tudo que morreu / com quem morreu? Um livro nunca escrito / um novo amor / um pensamento que permanecerá / impensado.”