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POR AÍ
POR KIKI GARAVAGLIA
U M C A F É N O CENTRO DE ROMA
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Memórias da infância em um dos endereços mais icônicos da capital italiana
FOTO ARQUIVO PESSOAL
Quando era pequena, morava em Roma, uma Roma deliciosa sem a multidão de turistas de hoje, e fazíamos compras na tranquila Via dei Condotti. Ali, sempre íamos comer no luxuoso Caffè Greco. Ficava fascinada com a elegância das pessoas: as mulheres tirando suas luvas de pelica para saborear deliciosos docinhos e salgadinhos apresentados em lindas bandejas de prata...
Até que, no mês passado, estava na cidade e resolvi entrar no Caffè Greco só de curiosidade. Para minha surpresa, o lugar está igualzinho. Maîtres e garçons impecáveis de black tie e longos aventais, sofás capitonés de veludo vinho, mesinhas redondas de madeira com tampo de mármore... Fiquei encantada! O tempo parou naquele pedaço da Via dei Condotti.
No século 7, gregos e levantinos introduziram uma bebida oriental chamada “stregata” na Europa. Foi um grande sucesso, porque proporcionava uma pausa no dia para qualquer um se deliciar com a bebida, que era superexótica. O famoso Casanova, em seu livro Memórias, comentou que sempre ia à Via dei Condotti para beber uma nova bebida que passaram a chamar de café, num pequeno e elegante recanto, perto da Piazza di Spagna.
Em 1779, o “recanto” do Casanova havia se tornado parada obrigatória do pensador Goethe e de seus amigos alemães intelectuais. Mas a época de maior esplendor dessa bebida foi o século 19, quando as mesas eram ocupadas com os mais famosos pintores da época, escultores, músicos e pensadores de toda a Europa, que passavam tardes e noites no Caffè Greco, como Wagner, Liszt e Mendelssohn. Todos queriam conviver com eles e, assim, foram se juntando príncipes, atrizes famosas dos musicais e do teatro, além de políticos que queriam ser vistos entre essa casta de celebridades.
A minha intenção ao entrar no Caffè Greco era recordar minha infância em Roma. E depois de me deliciar com todas as guloseimas refinadas e meus amigos tomarem fortunosos gim tônicas, o maître nos falou para irmos ao famoso salão vermelho. Encontramos estátuas, partituras de músicos, desenhos e quadros, além do livro de visitantes ilustres datado a partir de 1770. Foi uma fascinante aula de vários séculos, num café fascinante de vários séculos!
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viajante insaciável, KIKI GARAVAGLIA já correu o mundo e, no momento, pode estar em londres ou marrakesh. só tem medo de morrer sem antes conhecer dubai