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TRÊS PONTINHOS
POR RODRIGO PENNA
Nos últimos dias fui chamado de burro, cego e de hipócrita, de praticar “o mimimi paz e amor”, de ser burguesinho metido a socialista, de torcer contra mas não propor nada, e de não entender o que se passa na minha cidade. Bom, gostaria de dizer que concordo com quase tudo e por isso acho tão grave esses discursos intervencionistas. Nosso lugar de fala (ah, cansou do conceito? Chaplin também achou chato quando o cinema falado apareceu, so what?), na verdade é nosso lugar de escuta. “Quero meu direito de ir e vir!” – clamam peixinhos do Arpoador. Ora bolas, sejamos honestos, estamos preocupados com direitos? Quais, e de quem? Nós não sabemos, não conhecemos, não enxergamos o que se passa realmente no Rio. Mas, todos sabemos, sim, a solução pra tudo isso. Volta e meia alguém desenha. Educação, saúde, emprego, cultura, lazer... “Ah tá, mas agora é urgente”. Ah tá, digo eu, urgente sempre foi, é e sempre será, urgente é também começar de uma vez, de uma vez por todas urgente! Mas não. Chapa quente vai ficar mais quente. Simples. Morre gente, morre rima, morre chance, criança, dia a dia a noite a violência, tem poesia não, é morte matada e geralmente dissimulada. Morte um lado, morte o outro, morte no alto do morro, embaixo, pobre, preto, morte primeiro. Aí morre geral. A arte de varrer pra debaixo do tapete não é arte, minha gente, é cinismo. Não somos nós, burgueses, os que morrem mais, sofrem mais, sabem mais. Tanques no Leme viram selfie, no bairro Tanque viram corpos. Blindar escolas? Blindar agora o PMDB, essa nossa ruína de estimação? Cês não cansam de pagar de otário, não? Pragmáticos, objetivos, cheios de concretude, mas os mais adestráveis pets sociais do status cu que se tem notícia. Bastou alguém gritar a velha promoção do “aprenda inglês em 15 dias” que já sai tudo fazendo fila. “Gente é feita pra brilhar”; e aqui ainda tamo lutando é pra que não seja feita pra morrer?! Ontem celebrávamos jovens ocupando escolas, hoje celebramos o medo ocupando a praça. A maioria do mundo é minoria, olha bem, intervenção merece é a nossa soberba. Escuta longe, enxerga mais, a vida não é um direito, é a porra toda!
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RODRIGO PENNA é ator, diretor, produtor, dj, cronista. o cara vive das ideias. a festa bailinho foi só uma delas. devoto da poesia, ele acredita na arte, como os românticos, porque só a vida não basta
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