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DE CONVERSA EM CONVERSA

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CORPO E ALMA

CORPO E ALMA

POR ANTONIO BIVAR

VOTO DE POBREZA (MAS POBREZA COM ESTILO) Depois de um começo de ano tão turbulento, uma reflexão sobre valorizar as coisas mais simples da vida

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Fomos acostumados a ouvir que o ano começa pra valer depois do Carnaval. Pode ser um daqueles bordões populares que tem seu cunho na verdade, embora no calendário cristão o ano começa no primeiro de janeiro. Isso não há quem conteste. Até aqui o ano foi barra pesada. As intempéries, as catástrofes, os desastres, tragédias, perdas irreparáveis, as intervenções da poderosa natureza, a crise política... O revanchismo dos inconformados com o óbvio, que é aceitar o fato de que de tempos em tempos é preciso haver mudança; mudança para sair do emperrado, respirar fundo e recomeçar. E, convenhamos: se mudança nem sempre é para melhor, ainda assim é sempre melhor que nada. Mudança é uma característica da natureza, mas tem gente que até agora não entendeu isso.

Lamentamos profundamente muito do ocorrido nos dois primeiros meses do ano. Afinal, somos partidários do bem, temos cabeça e coração, somos humanos. Muito embora haja sinais de que extraterrestres, como refugiados de outras galáxias, estão cada vez mais entre nós. Se antigamente só os pressentíamos, atualmente eles são visíveis, até nas escadas rolantes.

Mas, e o novo, em si? Obstinados e sensíveis, que cada um faça bem o que tem que fazer, de modo a não perturbar os que estão fazendo [bem] a parte deles. Assim procedendo tudo só tende a melhorar. É tão simples, mas parece que a coisa não entra em certas cabeças. Donde um cenário tão dividido. E queixumes com sua cota de razão.

De modo que não é fácil. Mas também não é impossível. Basta vibrar positivamente. Vibração tem funcionado muito, ultimamente. Só os cartesianos de plantão não a sentem. Com eles a coisa funciona na base do descrer para ver. Mas também faz parte. Tudo faz parte.

Para o paulistano radical chic no espírito de 2019, entretenimento, arte, cultura, lazer, moda e comida é coisa que não falta. Agora, por exem

FOTOS GETTY IMAGES; DIVULGAÇÃO

plo, me preparo para ir à mostra supercompreensiva da arte do suíço modernista Paul Klee lá no CCBB. Sei que é imperdível, por isso não quero perder. A mostra tem muito de abstrato, surrealismo e Bauhaus.

E restaurantes. Meu prato preferido é o da cozinha árabe. Da cozinha sírio-libanesa em São Paulo não faltam ótimos restaurantes. Mês passado fui conhecer o Amani, que fica no Estádio do Morumbi, aqui perto de casa. É lugar-comum deixar para outro dia tudo que fica perto de casa. A gente sabe que tem, mas faz que não vê, e se vê, deixa para depois, já que está perto. Deixei tanto para depois, que acabou chegando a hora e fui. Gostei de conhecer o lugar, da vista panorâmica envidraçada de todo o estádio, gramado, arquibancada, área vip, tudo. E, claro, gostei também da comida. Só o quibe frito que achei grande demais, quase do tamanho de uma berinjela, mas ainda assim muito saboroso. Rachamos a conta. Deu R$ 50 para cada um, a bebida incluída.

De moda também gosto muito, mas no momento estou precisando de nada. Se precisasse de roupa, recorreria à Renner, à Riachuelo, e podendo gastar um pouco mais, à Zara. Elas estão em todos os shoppings. Mas como disse, não estou precisando. A última peça que comprei foi uma bermuda na Riachuelo, em dezembro. E sapato fechado, e principalmente tênis, nos meses de calor, meus pés não aguentam. Descobri a sandália da vida, uma Rider toda de borracha, da sola às tiras e fecho de velcro, por R$ 49, na Shoebiz da [rua] Teodoro Sampaio. Meus pés se acomodaram com tal felicidade que, para me garantir no futuro, voltei e comprei outro par. Lembrei do inesquecível dito de uma consultora de moda, que disse: “Se você se apaixonar por uma roupa ao se ver nela no espelho do provador da loja, não pense duas vezes, compre duas iguais que você não se arrependerá”. Foi o que aconteceu comigo com a sandália Rider. Acho que fiquei bem nela, pois o nosso Renato Fernandes – ele estava com Perla Nahum no táxi – me vendo parado no ponto da Faria Lima esperando o ônibus, gritou: “Você tem o pé bonito!”. Eu, que nunca tinha dado esse tipo de atenção aos meus pés, depois do elogio do Renato, no que cheguei em casa e tirei a sandália, prestei. Sou eu mesmo que corto as unhas, e tendo feito voto de pobreza, nunca fui a uma podóloga. E nessa observação reparei que meus calcanhares, meio cascudos, estão pedindo pedra pome. Vou ver se acho, na farmácia.

De modo que para uns a vida é assim, simplérrima. Já para outros, e os respeito pela escolha, as exigências e os cuidados são bem maiores. De um jeito ou de outro, sabendo viver, a vida em si sai a contento para todos. E a gente fica mais contente. Simples assim.

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ANTONIO BIVAR, escritor e dramaturgo, acredita que devagar e sempre, nesse passo, vai até honolulu

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