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ENTRE LENÇÓIS

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HORÓSCOPO

HORÓSCOPO

POR ROBERTA SENDACZ

A poesia erótica sempre existiu e mesmo aquela escrita há séculos ainda causa inquietação nos leitores

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Não fossem as marcas literais deixando na literatura traços da história, não poderíamos tê-las como ferramentas a serem utilizadas. Olhando para a poesia, diríamos não saber de onde ela surge. Quem lê Epigrama, por exemplo, pode imaginar ter sido escrito hoje. Mas não. Isso é o que nos narra José Paulo Paes, em Poesia Erótica em Tradução, uma coletânea de bolso muito da sem vergonha. Separamos aqui três poeminhas distintos que evocam a sabedoria do baixo ventre. O que acontece em quatro paredes e de cabeça para baixo, está aí. Primeiro o poeta Henri de Régnier (1) que, segundo Paes, nasceu no século 16, desistiu da teologia e mostrava o vício da sociedade francesa de sua época. Oferece uma linguagem popular. Em seguida, Guillaume Apollinaire (2), nos séculos 19 e 20, foi o precursor do surrealismo na poesia. Amigo de Picasso, diz Paes, foi também tradutor do erótico Aretino. Em 1914, filiou-se ao Exército e foi ferido e morto em combate. Do livro de Paes, extraímos o texto escrito por Rochester na poesia Nell Gwyn (3), que apresenta o rei Carlos 2º. É um tipo de poesia que remonta à morte de Cromwell. Gwyn é uma atriz cômica e amante do rei. E Mazarino é, do outro lado, uma sátira do rei que representa, Luís 14.

1 Régnier

Epigrama A língua ontem me atraiçoou. Conversando com Antonieta, Disse eu “Que foda!” e ela, faceta, Fez cara de quem não gostou. Muito embora comprometido, Vi, pelo rubor do seu rosto, Que o que eu disse dava-lhe gosto, Mas noutro lugar, não no ouvido.

2 Apollinaire

Hércules e Ônfale O cu Onfalico (vão cu!) Cai rápido. - Vês tu Quão fálico? -Ta ful! Priápico! Que sonho Medonho!... Segura... E a fura O hercúleo Áculeo.

3 Rochester

Quarteto Nell Gwyn Quando despeço-me do rei a jeito, A língua em sua boca e a mão no nabo, Portsmouth que feche a cona de despeito, E Mazarino que me beije o rabo.

Aqui, notamos a tal poesia “sem nascimento e morte”, que citamos acima, em Régnier, e outra com as marcas temporais em Nell Gwyn. O texto de Apollinaire também levanta o cerco do surrealismo, sendo datado. “Patente ao longo de todo o itinerário da poesia erótica do Ocidente, essa reificação da mulher [‘máquina de fornicação’] aponta para a hegemonia quase total de um discurso por assim dizer falocêntrico em que o eros feminino só aparece como ausência ou vazio delimitador”, retoma Paes. Até hoje?

ROBERTA SENDACZ é jornalista, mas se encontrou na filosofia. Gosta de experimentar tudo com o que fica velado

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