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ENTRE LENÇÓIS
POR ROBERTA SENDACZ
A história de três mulheres e suas relações de poder e amor
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Os pais, os filhos, os conterrâneos, os primos. O laço primordial da vida de uma família real é mais ou menos como estar exposto em Hollywood ou ler o poeta de Paulo Leminski: “A vida em close é outra coisa”. Dentro da família real, os casamentos são entre eles e para falar sobre isso separamos três rainhas de personalidades fortes que aprenderam a tocar o lado mulher e o lado político dentro desse cenário. Os temas delas são: vitalidade, casos amorosos, presença, população, assessoria (braço direito), família, filhos, política externa, sucessão, morte. E quem não cumpre a novena: adeus. Em Rainhas Trágicas, o historiador Renato Drummond Neto dedicou-se a biografias de 15 rainhas, mas separamos duas irmãs e uma prima, todas inglesas. A primeira atende por Maria 1ª. Possui uma irmã da parte do pai, Elizabeth 1ª, de quem se fez filmes e biografias, e chama a atenção por ter sido enxergada como virgem. O pai das duas é ninguém menos que Henrique 8º. Maria possuiu um reinado de instabilidade, com muitas brigas em família
entre as duas. Ela tinha um caráter “forte e decidido”, diz Drummond, e era mais culta que a média, gerando inveja em outras fracassadas por aí. Casa-se com Felipe da Espanha e vê seu trono estremecido por não ter filhos. “Aos 38 anos, a possiblidade de Maria conceber era muito menor. Se morresse sem um herdeiro, o trono passaria para as mãos de Elizabeth.” Sabendo disso, primeiro Maria disse que não queria a irmã como rainha, depois retornou e bateu o martelo para ela.
Para acertar no dia ideal da sua posse, Elizabeth contratou astrólogos: tinha apenas 25 anos. Sua mãe, Ana Bolena, era persona non grata e foi executada por crimes de traição e adultério. Elizabeth transitava entre os intelectuais e despertava inveja entre pobrezinhas sem talento. Além de joias e títulos, tinha inteligência. A prima Mary Stuart era toda romântica e ligada ao amor e às paixões, já Elizabeth estava com a cabeça na política apenas. Era dura e firme. Mary foi decapitada em 8 de fevereiro de 1587, sob as ordens da própria prima. O motivo? Mary havia se mudado para a França com o marido. Lá, porém, decide retornar à Escócia, seu reinado. Na travessia, encontra dificuldades com a prima Elizabeth: Mary precisava passar pelo Canal da Mancha e Elizabeth negou-lhe permissão.
Aos 15 anos, Mary já era rainha. De acordo com Renato Drummond, a questão de não ter sido preparada para ser rainha pesou no futuro dela, não obstante sua experiência como primeira dama da Europa, o topo da tradição da soberania. Teve um segundo marido, seu primo. Depois outro. Era uma mulher dada mais ao casamento que ao adultério, diferente de Elizabeth, a virgem. Teve um filho que, por ironia do destino, fora dado a Elizabeth, como madrinha. Outra ponta do triângulo. Confusão com a irmã, confusão com a prima.
Sempre dedicada à política, Elizabeth preocupa-se com a situação de inimizade entre a França e a Escócia, deixando a sua Inglaterra isolada. Inconformada com a sua falta de prestígio, Elizabeth resolveu assinar a sentença de morte da prima. Mary é tida no século 20 como “a” soberana. De todas, a mais ambiciosa nascida no interior de uma família acostumada com o poder é Elizabeth. n
ROBERTA SENDACZ é jornalista, mas se encontrou na filosofia. gosta de experimentar tudo com o que fica velado
FOTOS FERNANDO TORRES; ARTE ISABELLE TUCHBAND