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ENTRE LENÇÓIS

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AVENTAL

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POR ROBERTA SENDACZ

Dor, paixão e ruína: o livro O Diário de Frida Kahlo mostra um retrato íntimo da maior artista mexicana que já existiu

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“Diego começo / Diego construtor / Diego meu menino / Diego meu namorado / Diego pintor / Diego meu amante / Diego meu esposo / Diego meu amigo / Diego minha mãe / Diego meu pai / Diego meu filho / Diego=eu= / Diego universo / Diversidade na unidade.”

Essa é uma síntese do pensamento da pintora Frida Kahlo inserido em O Diário de Frida Kahlo, um livro cujo subtítulo é instigante: “um autorretrato íntimo”. Porém, quem nele procurar sexo explícito ou erotismo pornográfico não vai encontrar.

Menina grudada no pai fotógrafo, Frida aprendeu arte acompanhando-o. Na base desse grude entre eles, Kahlo, o pai, a ensina a gostar de pintar paisagem, pela razão de não utilizar truques no trato da natureza.

Carlos Fuentes, escritor mexicano que escreve o perfil de Frida nesse diário, assinala uma Frida alegre e brincalhona. No entanto, tomada por uma poliomielite “e atazanada pelo peculiar pendor mexicano para a malícia [...]”, a vida se faz dura nessa família descendente de alemães e mexicanos em um México revolucionário. Mas mesmo assim Frida tem senso de humor, adora assistir à comédias na televisão.

Em 1925, entretanto, a vida parece perder a graça, quando sofre um acidente seriíssimo de ônibus e se quebra inteira. O trauma dura por toda sua vida e Frida passa por cerca de 40 cirurgias de correção, o que não a tira da cama até sua morte, em 1954. E da cama começa a pintar. Segundo André Breton, o papa do surrealismo, que chega a conhecer Frida, levado ao México pelo Ministério das Relações Exte

riores em 1938, Frida é uma pintora típica do surrealismo e celebrada também por essa razão. Um outro casal que participa do encontro com Breton no México é Leon Trotsky e sua esposa, Natalia. Frida se apaixona pelo líder e se nutre pela paixão.

O Diário de Frida Kahlo é tão colorido quanto as pinturas da artista. A maioria das páginas trata de um diálogo com seu marido, Diego Rivera. Ela o chama, reclama de cansaço, fala de ruínas de solidão e sofreguidão. Foi escrito durante o fim da vida da artista – antes disso, ela se separa de Diego, que era amante de sua irmã. É um diário, portanto, povoado de dor e de beleza. Diríamos sublimar a dor na pintura. É velho, mas funciona. Todos queremos ser equilibrados.

Quando a cantora Madonna comprou o seu Frida, saía para lá e para cá com o quadro dentro de uma sacola. A filiação ao surrealismo permite uma espécie de “universo” ou “universalização” da obra de Frida. “Sonho, sonho, sonho, sonho, sonho”, escreve no diário. Realidade, realidade, realidade, realidade, realidade, já ensinava seu pai. Os dois são duros. n

ROBERTA SENDACZ é jornalista, mas se encontrou na filosofia. gosta de experimentar tudo com o que fica velado

FOTOS FERNANDO TORRES;DIVULGAÇÃO; ARTE ISABELLE TUCHBAND

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