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no Brasil
TERAPIA DO OFF
Em livro, cientista da computação e pioneiro do Vale do Silício Jaron Lanier propõe que as pessoas abandonem as redes sociais para se tornar menos infelizes, conseguir recuperar o livre-arbítrio e, quem sabe, manter a dignidade econômica
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POR PAULO VIEIRA
Que as mídias sociais viciam, dispersam, enfurecem – às vezes enternecem – e mobilizam, não é novidade. É possível até que um ou outro amigo virtual seu tenha reportado uma vida mais tranquila após se exilar voluntariamente do Facebook ou do WhatsApp. É improvável, contudo, que você tenha sido confrontado com uma crítica tão ácida às mídias sociais como a desferida pelo americano Jaron Lanier, um pioneiro do Vale do Silício dos anos 1980, quando certo espírito hippie ainda embalava as garagens e as companhias nascentes de tecnologia que viriam a dominar o mundo. Cientista da computação e músico, em seu quinto e mais recente livro, Dez Argumentos para Você Deletar Agora Suas Redes Sociais (Ed. Intrínseca), esse sujeito que ajudou a desenvolver a realidade virtual e dá plantão na Microsoft com seus enormes dreadlocks vai muito além da constatação de que seus – digo, nossos – dados pessoais estão bastante vulneráveis nas redes, motivo suficiente, aliás, para ficar com as barbas de molho. Para ser breve, Lanier diz que as mídias sociais acabam com seu livrearbítrio, não querem que você tenha “dignidade econômica”, “odeiam sua alma”, espalham infelicidade. Mesmo assim, ele propõe que o rompimento com Google, Facebook, Twitter, Instagram e WhatsApp não seja definitivo: um tempo de “seis meses” já é adequado para refletir se a vida fica melhor ou não. Um efeito benéfico disso para todo o ecossistema é que, se muitos fizerem essa parada, a indústria que “retira mais informação do usuário do que dá” talvez possa ser compelida a fazer um “reset”. O autor vê uma saída honrosa para ela, a indústria, em modelos como o da Netflix, que de alguma forma quebra o paradigma de que a tigrada só se interessa por conteúdo grátis na internet.
DOPAMINA
As redes sociais viciam e, fisiologicamente, fazem o cérebro trabalhar da mesma maneira que cocaína, jogo ou açúcar para quem é dependente disso. A base do negócio é a dopamina, o neurotransmissor ativado pelos likes que sua postagem recebe. E a dopamina, como disse, em 2017, Sean Parker, ex-presidente do Facebook, num depoimento recolhido por Lanier no livro, é o que deve ser oferecido em “pequenas doses
SEAN PARKER, EX-PRESIDENTE DO FACEBOOK
de vez em quando”. “Isso é um circuito de feedback de validação social (...) exatamente o tipo de coisa que um hacker como eu inventaria, porque explora uma vulnerabilidade na psicologia humana.”
O depoimento de Parker, que ganhou certa notoriedade especialmente pela passagem “Só Deus sabe o que [o Facebook] está fazendo com o cérebro de nossos filhos”, se junta a de outros críticos da indústria, como o de Tristan Harris, ex-Google, para quem “nossas escolhas não são tão livres como pensávamos que eram”. Pelo sim, pelo sim, como observa Lanier, muitas crianças do Vale do Silício vão a escolas Waldorf que “em geral proíbem aparelhos eletrônicos”.
O autor faz analogias entre as experiências behavioristas – como a famosa estratégia pavloviana de despertar a salivação em cães a partir de um estímulo condicionado, anterior à comida – com o trabalho dos algoritmos que prescrutam e modulam nossas movimentações nas redes sociais. “O algoritmo tenta capturar os parâmetros perfeitos para manipular um cérebro.” Não por acaso, Lanier contextualiza, os precursores da “exploração entre matemática e cérebro humano” foram os criadores das máquinas de jogos de azar digitais. Que de vez em quando “reclamam de como as redes sociais roubaram suas ideias e ganharam mais dinheiro”.
O problema, ou melhor, um dos problemas, é que “emoções negativas, como medo e raiva, vêm à tona
O autor Jaron Lanier, as sedes do Google e do Facebook, “monopólios globais” que “retiram mais do que dão”, e Trump, beneficiário da “irritação” que alimenta as redes
O QUE AS REDES SOCIAIS TIRAM DE VOCÊ (OU DO MUNDO), SEGUNDO JARON LANIER 1. Livre-arbítrio 2. Sanidade 3. Decência 4. Verdade, objetividade, realidade – ou algo em que um dia foi possível confiar 5. Inteligibilidade 6. Empatia 7. Felicidade 8. Emprego
9. A possibilidade de uma política institucional que não seja terrivelmente suja 10. A posteridade
mais facilmente e permanecem em nós por mais tempo do que as emoções positivas”. E se isso “já é verdade no mundo real, ainda mais à luz dos algoritmos”. É fácil chegar à conclusão que todo o conforto para a autoestima que uma consagração no Facebook ou no Instagram pode trazer não vale o risco de um linchamento virtual – com suas consequências funestas –, e esse mesmo princípio vale para os mundos corporativo e institucional (o da política): destruir reputações é bem mais fácil que construí-las.
Tudo isso, alguém pode contraargumentar, já existia antes da internet, mas o modelo de financiamento por publicidade da rede modificou radicalmente a experiência, já que os “monopólios globais” passaram a oferecer a seus financiadores dados dos consumidores (nós!) para que assim possam cada vez mais otimizar essa publicidade. Numa entrevista à Folha de S.Paulo, Lanier foi lapidar. “Toda informação tirada de você é usada para mudar sua experiência on-line e criar uma sistemática que te prenda. Isso é chamado de engajamento. Chamo de vício. É quase como vício em jogo, há busca por satisfação, e a punição é severa.”
Apesar de afirmar no livro a ideia de que ainda é possível mudar o atual estado das coisas, o autor encerra seus argumentos com o mais metafísico e sinistro deles. Ao colher uma dessas declarações de missão do Facebook, em que a empresa obriga-se a garantir que “cada pessoa tenha um senso de propósito e comunidade”, Lanier comenta: “Uma única empresa vai assegurar que cada pessoa tenha um propósito, porque presume que antes não tinha. Se isso não é nova religião, não sei o que é”. n
PODER INDICA
CURADORIA DE DESEJOS
O verão está chegando e com ele os dias ensolarados e quentes. E para curtir tranquilamente a estação mais amada do ano, a Sunglass Hut criou a House of Sun, uma curadoria de óculos de sol antenada nas melhores fashion trends das últimas décadas. Afinal, não existe modelo certo ou errado. Se um dia existiu uma regra afirmando que tal formato de rosto exigia tal modelo de armação, ela se extinguiu, perdeu a validade. O que a House of Sun faz é auxiliar o cliente a entender o próprio estilo e quais são seus desejos de consumo; a partir daí existe uma extensa gama do acessório, dividida por décadas. E, sim, é permitido viajar no tempo, sem medo!
LINHA DO TEMPO
Nos anos 1970, os modelos ovais e redondos foram eternizados por ícones do rock, vide Janis Joplin e John Lennon. A década seguinte ficou marcada pelas lentes amplas dos máxi por ícones de estilo como Jackie Onassis e Audrey Hepburn. Depois eles encolheram, ficaram fininhos como o modelo utilizado por Keanu Reeves em Matrix. Os anos 2000 foram marcados pelo estilo clubber com suas lentes coloridas e transparentes. E agora a tendência é o metal mania. A Sunglass Hut está presente nas principais capitais do país com formatos mil, das marcas desejo que fazem sonhar, tais como Prada, Dolce & Gabbana, Emporio Armani, Versace e Ray-Ban.