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Santiago, 1973

Santiago, 1973

Tom Jobim. Fim de tarde. Luiza me transporta para Santiago do Chile da época de Allende. Lembro dos refugiados brasileiros que abraçaram o socialismo moreno que os acolheu. Dos nossos passeios nos parques do inverno socialista. Eu me deslumbrava com a euforia do período Allende.

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Todos os dias conhecia novos refugiados brasileiros. Ouvia, assustada, os muitos relatos de tortura nas prisões brasileiras. Aquelas vidas que me eram contadas me faziam crescer todo o dia um pouco.

Lembro do Xavier me mostrando as marcas de cigarro nas suas costas. Dos discursos maravilhosos do Allende nos comícios. Dos vinhos com empanadas na casa da Marisa e do Sérgio, amigos do Rio. Das discussões políticas, noite adentro, que eu seguia com ouvidos atentos. Ao fundo Violeta Parra ou Inchi Ilimani.

Eu aprendia muito no contato diário com os brasileiros. Relatos de um Brasil de lutas, de resistência, de muita esperança. Compartilhava com muitos deles de longos almoços num restaurante do centro, regados a vinho branco. Passeatas.

Depois do almoço, as pessoas saíam, sacolas na mão para tentar conseguir comida para o jantar. Naquele período, os caminhoneiros chilenos boicotavam a entrega da comida que desaparecia dos mercados.

Na minha viagem de volta, passei por Buenos Aires, lembrando, com carinho, daqueles dias vibrantes de muito aprendizado e alegria.

Em setembro de 1973, um mês depois da minha viagem, o golpe do Chile acabou com os sonhos do socialismo

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moreno de forma sangrenta. Os refugiados brasileiros que estavam lá foram para a Europa. Era mais um sonho que terminava.

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