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Havana, 2000

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Zaragoza, 1999

Zaragoza, 1999

havana, 2000

Fui apresentar um trabalho num congresso em Havana no ano 2000. Na viagem de ida, encontrei com a Marta e a Patrícia, professoras de cursos de Biblioteconomia do Paraná.

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Ficamos alojadas num ótimo hotel, onde se realizava o Congresso. Quando cheguei no quarto, encontrei, em cima da cama, um bilhete da camareira se apresentando e pedindo pasta de dentes, sabonete e qualquer coisa que eu pudesse deixar para ela. Nessa época, faltavam muitas coisas em Cuba.

Largamos as malas e fomos dar uma volta na parte restaurada da cidade velha. É um belo conjunto arquitetônico de pequenas casas, praças e muito movimento na rua. Os cubanos são alegres e expansivos. Música para todo o lado.

Uma das coisas que me chamou a atenção quando cheguei foram os carros dos anos 50 e 60, relativamente bem cuidados, andando pela cidade. Os táxis faziam viagens coletivas. Fizemos algumas e conversamos com os cubanos que estavam no carro. Apesar das dificuldades do dia a dia, ninguém falou mal do governo.

Fomos visitar uma das fábricas dos célebres charutos cubanos. As operárias que enrolavam os charutos eram todas mulheres. O cheiro era maravilhoso.

Andamos pelo Malecón, a avenida beira-mar. É um dos centros nevrálgicos de Havana, onde se encontra gente pescando, namorando e conversando.

Fomos também comer na Bodeguita del Medio, frequentada por Hemingway e outros escritores e atores. A comida é excelente, assim como o mojito. Sempre tem música ao vivo. Este restaurante ficou fechado por muito tempo depois da revolução. Allende foi um dos responsáveis por sua

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reabertura. Suas paredes são cheias de fotos. Uma delas traz Fidel e Hemingway juntos.

Quando andávamos pela rua, sempre apareciam meninos que nos guiavam pela cidade para ganhar gorjetas. Quando eles falavam, dava para ver que sentiam orgulho do seu país e conheciam bem sua história.

Eu tinha esquecido de levar minha escova de dentes. Tive que percorrer umas dez farmácias até conseguir uma. Quase todas as mercadorias, naquela época, tinham dois preços: um para os turistas, em dólares, e outro para os cubanos.

Um dos restaurantes do nosso hotel era reservado aos turistas. Os cubanos só podiam entrar se fossem convidados.

Apesar de estarmos num hotel luxuoso, o cardápio apresentava sempre um menu fixo e a comida variava muito pouco. Quando fomos visitar a Reitoria da Universidade, nos mostraram o salão de atos onde se realizavam as principais cerimônias. Ali, Fidel tinha uma cadeira especial. Lembro que, quando os cubanos se referiam a ele, o tratavam sempre com muita deferência, como se fosse um deus.

O congresso foi muito bom. Os cubanos apresentaram ótimos papers e as discussões foram bem animadas. Fiquei impressionada com o nível dos alunos.

Fomos, um dia, a Varadero, uma das praias cubanas mais conhecidas. A praia tinha areia bem fina e águas azul-turquesa transparentes. Estávamos caminhando à beira-mar quando um grupo de rapazes chegou perto de nós e nos perguntou se queríamos almoçar num “paladar”.

Aceitamos e fomos comer lagostas grelhadas no pátio da casa de um deles. A comida excelente foi acompanhada por muito rum. Passamos uma tarde agradável.

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Um dia fomos, cerca de vinte latino-americanos, convidados a jantar na casa de uma professora cubana. Levando-se em conta a realidade do país, passamos antes num supermercado e compramos salgadinhos, vinhos e queijos para reforçar o jantar. Quando chegamos, em cima da mesa, havia apenas uma grande travessa de pipoca e rum à vontade. Nossa ideia de passar no supermercado tinha sido acertada.

No apartamento, não tinha água corrente. No banheiro, a água estava armazenada em bacias e baldes. Os cubanos nos falaram muito do seu “período especial”, a época da grande crise econômica pela qual o país passou depois da implosão da União Soviética, com escassez de comida e de combustíveis.

Ao longo das ruas de Havana, vimos cartazes elogiando a revolução, com a figura do Fidel, do Che e de outros dirigentes.

Visitamos algumas feiras de artesanato com lindos objetos. Tenho uma caixinha de madeira em marchetaria que trouxe de lá.

No último dia, fomos a um coquetel num lindo palácio à beira-mar. Parecia um cenário de filme, com os garçons de libré circulando pelo salão. Os salgadinhos que serviram, acabaram logo. Quando passava uma bandeja, se a gente não estivesse por perto, ficava sem comida. Em compensação, os mojitos corriam soltos.

Quando fui embora, deixei algumas roupas para as camareiras do hotel. Na viagem de volta, ficamos contando, uns para os outros, histórias da nossa estadia lá. Como os voos de e para Havana eram semanais, a maioria dos brasileiros voltou junto. Alguns professores cubanos vieram ao Brasil

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algumas vezes depois desse congresso, para dar aulas ou para algum evento.

Deixei Havana, levando comigo o gosto dos mojitos, o som das músicas, o riso dos cubanos e das crianças.

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