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Cartagena de las Índias, Colômbia, 2016
from Distensos verões
Cartagena de las Índias, Colômbia, 2016
Depois de muita hesitação, e um monte de mensagens entre Sampa e Florianópolis, fomos conhecer Cartagena de las Índias, na Colômbia. Cartagena foi, durante uma época, a capital da Colômbia. Foi um dos maiores portos comerciais da América espanhola, com um importante comércio de escravos. O seu centro histórico é considerado Patrimônio da Unesco e está muito bem preservado.
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Viajei com Mara, Asa e Nair. Eu e Mara chegamos em Guarulhos na véspera porque nosso voo sairia às cinco da manhã. Depois de dormir algumas horas num hotel perto do aeroporto, fomos para o embarque, onde encontramos Nair e Asa numa fila imensa. O avião fez uma escala de quatro horas em Panamá City, capital do Panamá. O aeroporto de lá é um enorme shopping center sempre lotado.
Logo que chegamos ao Panamá, me dei conta que o roteiro que eu tinha escolhido para chegar a Cartagena era o pior possível. Exaustas por ter acordado tão cedo, as horas naquele aeroporto barulhento e lotado pareciam séculos. Pensamos em conhecer o Canal, mas ficamos com medo de perder o voo.
Finalmente, embarcamos e, quando chegamos a Cartagena, descobrimos que o hotel que eu tinha reservado era horrível. Os quartos não tinham janelas. Decidimos dormir lá na primeira noite e procurar outro no dia seguinte.
Depois do café da manhã, encontramos um hotel simpático a poucos metros do outro.
Andamos pelo belo centro histórico, entrando nas igrejas coloniais, no centro de artesanato e na fortaleza San Felipe de Barajas. Caminhando pela cidade, encontramos
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belas esculturas de metal representando cenas do dia a dia. Vimos também algumas de Botero, um dos maiores escultores colombianos.
Cartagena é uma cidade muito alegre e colorida, onde a música está presente em todos os lugares. À noite, a cidade vira uma festa, com pequenos concertos pelas ruas e gente dançando. Garcia Márquez tinha uma casa lá, onde passava as férias.
Num domingo, resolvemos ir a uma praia que ficava longe do centro, seguindo o conselho de uma das funcionárias do hotel. Tomamos um ônibus, que nos deixou na praia depois de uma hora de viagem. Estava lotadíssima, parecia Copacabana em pleno verão. Alugamos cadeiras e assim que nos acomodamos, todos os espaços estavam cheios. Lembro que tinha uma pessoa sentada à minha frente, tão perto que, para me mexer, eu tinha que pedir licença a ela.
Saímos para caminhar, tentando encontrar um lugar mais tranquilo para entrar na água, mas nos demos conta que isso era impossível. Mergulhamos no belo mar do Caribe com muita atenção para não encostar nos outros banhistas.
O ônibus, no qual tínhamos ido, nos buscaria no final da tarde. Tivemos que esperar sua chegada para voltar a Cartagena. Foi uma tarde bem desagradável no meio daquela multidão.
A comida colombiana é muito boa e as pessoas muito gentis. Nos outros dias, andamos à toa pela cidade, entrando nos cafés, tomando ótimos sorvetes, nos reunindo no final da tarde num café à beira-mar para ver o pôr do sol. Saí de Cartagena com vontade de descobrir mais a Colômbia.
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Dublin, 2019
Passei três dias em Dublin, com a Dada, em novembro de 2019. Ficamos encantadas com a gentileza das pessoas, com a quantidade de pubs pela cidade, muitos com música tradicional irlandesa ao vivo e com pessoas de todas as idades conversando animadas. Os pubs são uma parte importante da cultura irlandesa, locais de encontros, trocas e festas.
Vimos a Catedral de St. Patrick, o Trinity College, onde estudaram Oscar Wilde e Beckett. No pub Temple Bar, um dos mais animados da cidade, uma escultura de Joyce, sentado numa mesa, dá um toque especial ao ambiente.
Fizemos um passeio de barco pelo rio Liffey, vendo a cidade de outra perspectiva. Passamos por um edifício em forma de harpa, o símbolo da Irlanda. Ela pode ser vista em todos os passaportes irlandeses, nas moedas de Euro, no selo presidencial e em muitos documentos oficiais. A Irlanda é o único país do mundo a ter como símbolo um instrumento musical, o que diz muito sobre esse país.
Andamos pelo Phoenix Park, o maior parque urbano da Europa, onde os cervos passeiam livremente. Depois, tomamos chá com doces numa casinha agradável no meio do parque.
Nos pubs, um ambiente alegre, animado, solto. Uma festa diária. À beira do rio Liffey, prédios coloridos, restaurantes, pubs e muita animação.
Os irlandeses são considerados os latinos da Europa setentrional, pelo seu temperamento aberto e alegre. É fácil conversar com as pessoas nos pubs e na rua, todas orgulhosas de sua cidade cheia de alegria e festa.
Deixamos Dublin depois de três dias agradáveis, com vontade de voltar.
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Iuli, 2020
Alguma coisa morreu dentro de mim. Foi assim que comecei a escrever, depois de outra morte dura, como só algumas mortes podem ser, algum tempo atrás. E volto a pensar que alguma coisa morreu dentro de mim ontem. De ti, lembro nossos muitos encontros, muitos momentos e muitas alegrias.
Lembro da primeira vez em que nos vimos, rue Thibouméry. Foste lá buscar um cigarrinho. Depois, muitas outras vezes, na casa do Gael, na rue Brezin, quando eu conheci o Marcius, a Dinoca, o Joãozinho, o Gael e muitos outros. Andávamos em bando por Paris, na cinemateca, nos cafés, em Vincennes, nos metrôs da vida. Paris era uma festa para nós naquela época.
Cigarrinhos na Suécia e em muitos outros lugares, muitos cálices de vinho, viagens de metrô, festas, muitas festas. Nosso trio, às vezes em duo. Jantares, expos, muitos, muitos filmes. O último foi no Halles em novembro: “The adults in the room”.
Viagens ao sul da França, caronas na estrada, conversas sem fim noite adentro, com vinhos e cigarrinhos. Telefones quebrados. Muitas risadas. Alguns porres. Concertos. Jazz, rock, Patty Smit, Dr John. 40 anos de encontros, telefonemas e conversas intermitentes. Algumas brigas. Lembro de uma, quando ficamos um mês sem nos falar, até nos darmos conta do ridículo da situação.
Inauguração do Pompidou. Petit Marcel. Bulier. Passeios de bicicleta. “School Days”, “It`s only rock and roll, but I like it”, tocando sem parar, numa viagem de ácido na rue Thiboumery com o Ilton Paula. Músicas. Tuas muitas casas em Paris antes da rue Sthendal. Fofocas. Às vezes, silêncios, histórias sem palavras.
Em janeiro, maratona de cerimônias, os muitos jantares e almoços. Dominique, Marie Laure, Phillipe, Beba, Hans,
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Claude e Brigitte, Simone, Fabio e François, Irina, Marcius, Charlotte, Jacqueline... Os filmes sem a tua companhia. As caminhadas no frio. O esvaziar do teu apartamento. Os discos, os livros, teus lindos objetos, teus móveis, teus copos e taças, pratos, talheres. Teus quadros coloridos. O periquito, no espalhar de tuas cinzas, numa tarde de céu azul.
Uma enorme saudade de ti. De passear pelas ruas de St. Michel contigo. De ver um mímico em Montmartre. Ou de entrar num café ao acaso. Fumar um charo no Sena. Entrar num cinema. Passar chez Dinoca.
Vou escrevendo, tentando reconstruir essa história, feita de memórias, de lembranças, de risadas. Tentando recontar muitas vidas. Talvez isso se transforme em um todo conexo numa hora dessas. Com calma, recortar-colar pedaços.
Sexta-feira antes do carnaval de 2020. Ouço George Harrison. Virias para este, como para todos os carnavais, desta vez, para Sampa. Não sei o que esperavas desse carnaval, mas vinhas atrás de alegria ou para festejar tua alegria de sempre, onde alguma tristeza se escondia no fundo. Deixaste dúvidas, muitas, muitas perguntas, junto com parte de nossa história que se foi. Tento colocar teu quadro na parede, espalhar tuas caixinhas pela casa, gravar alguns dos teus discos que eu trouxe, olhar, mais uma vez, as tuas mil fotos.
Meu estômago dói, tenho taquicardia, acho que vou ter um ataque de pânico. Estou triste, muito triste. Nunca pensei que fosse tão duro perder um amigo. Nunca pensei que fosse doer tanto. Minhas tripas reviram, parece tudo irreal. Não consigo acreditar. Não é verdade. O Iuli não morreu. Não é possível.
Afinal, passaste por um transplante, por uma metástase, entraste em coma. Tinhas vencido um câncer, tinhas
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sobrevivido. E como se a gente não imaginasse, ou não acreditasse, teu coração falhou. Nas palavras do François, parecia tudo tão lógico: o teu coração não aguentou, estava debilitado. Nada, nada mostrava isso. Será que desconfiavas de algo? Será que pensavas na morte e não dizias nada? Será que sabias que o teu coração não ia mais suportar toda aquela carga?
Nas músicas, volta nossa história em Paris. As músicas como fundo das muitas conversas, das muitas festas, das muitas risadas. Depois ou antes de mil encontros. Estou, em algum café, te esperando e lembrando histórias, afinal nossas vidas se construíram com muitas histórias que voltam à minha mente.
Sigo escrevendo, escrevendo. Para lembrar de ti. Para não te esquecer. Talvez para me preparar para a tua despedida. Afinal, fomos um trio de irmãos que se descobriu em Paris, no meio de tanta gente. A casa do Gael nos juntou de alguma forma. As ruas de Paris, a cinemateca, o restaurante universitário, as muitas caminhadas, apesar do frio, fizeram o resto. Criaram nossa história, construíram nossa história de alguma forma.
E ficamos unidos, apesar de não estarmos juntos todo o tempo. Esse escrever sem fim é um jeito de te ter perto. E vejo como é estranho que minhas memórias não tragam o Iuli que vi em novembro passado, mas o Iuli dos anos 70 ou 80. Talvez porque eu tenha que reconstruir-lembrar dessa história toda. Talvez porque seja mais fácil olhar para trás, apesar dos últimos encontros de novembro no meio do frio, dos almoços na tua casa, da festa do Philippe, descendo contigo o Boulevard St. Michel depois da festa, de alguns filmes que vimos juntos.
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Momentos de silêncio num café do Marais, na FNAC (lembro que compraste uma coleção de livros de filosofia), esperando um filme. Ou de poucas palavras, de silêncios cheios de significados. Algumas fofocas, of course. De pessoas próximas ou distantes. Alguns planos. Alguns arrependimentos. Muitos cafés. Te revejo, te repenso, tentando entender os mistérios da vida.
Éramos um trio, que algumas vezes andava em duo, outras, com muita gente. Repartimos espaços em Gentilly, em Gardet, quartos em London, London, em Estocolmo. Éramos jovens, loucos, sonhadores. Descobríamos Paris sem pressa, éramos duros. Alguns dias, o dinheiro dava para o Le Monde, a cinemateca ou o restaurante universitário. Pulávamos a catraca do metrô, saíamos do supermercado sem pagar, corríamos dos raros restôs, onde ousávamos entrar sem pagar a conta.
Apesar de já termos quase trinta anos quando nos conhecemos, de alguma forma, crescemos juntos, redescobrindo a vida. Muitas pessoas fizeram parte desses momentos, umas mais do que outras. Algumas se aproximavam mais de ti, outras do Marcius, outras de mim. Mas tinha um grupo, que mudava sempre, com o qual trocávamos risos e muitos momentos: Dinoca, com seu lindo sorriso, Joaozinho, com sua inocência, Gael, com suas histórias, Ilton Paula, com seus cotovelinhos, Roberto, Augusto, Irina e Piu Piu.
A turma da escola de samba, da qual não fizeste parte: Meca, Edu, Lícia, Dominique, Milton Baiano e tantos outros. A doçura da Pitou. Tuas muitas casas no sul, que fomos descobrindo. Tuas visitas a Paris, de quinze em quinze dias, para um seminário. Teu jeito desordeiro de ser, que me deixava
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louca. As muitas descobertas dos verões da Suécia. Aquelas festas. Os bosques, as festas do midsommar, as cores do bosque de Gardet. A estação central, onde as pessoas se encontravam. O Systembolaget, onde a gente comprava vinhos.
A linda caminhada até à cinemateca. A época em que o Baiano repartiu um quarto conosco e quase nos enlouqueceu com seus medos e loucuras. O louco que te deu um tapa no centro de Estocolmo. As cores do verão. Os filmes do Bergman. As muitas festas. O Tuomo, os Castores, as iugoslavas, os turquinhos. Os discos de jazz que o Tuomo nos apresentou. O passeio de barco até à ilha de Åland, na Finlândia, junto com os bêbados de plantão.
Agora, em Paris, depois das cerimônias, dos muitos reencontros e despedidas, dos muitos almoços, jantares e cafés, das entradas e saídas de muita gente no teu apartamento, que nos exasperava e, às vezes, nos fazia rir, a tua casa vai se esvaziando. E a gente se despedindo mais uma vez. Malas pelos cantos, um colchão na sala, um sofá-cama que escapou das vendas e a tua cama que ficou para o último dia.
Nas paredes, agora, só os teus quadros coloridos, cheios de vida. Teu lindo sorriso nas muitas fotos que ficaram. Os discos, os livros que vão embora. As garrafas de vinho se esvaziando na mesa, onde compartilhamos risos, tristezas e alegrias. Uma última foto tua na parede, sorrindo, como sempre, com alguém que não conheço.
Os espelhos e as lâmpadas que se despedem. Tua presença ainda forte. Um pouco de ti, ou muito de ti, ficou aqui. E vamos lembrando, de alguma forma, as histórias que voltam sempre. Nossas caras insolentes no trem para Estocolmo, tentando driblar o cobrador.
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Teu choro numa noite de natal na Notre Dame, onde entramos por acaso. “Ne me quitte pas” na voz da Nina. O concerto do Dr. John no dia de um dos teus aniversários. Nosso encontro, num café do Halles, num inverno, numa de tuas muitas voltas do Brasil. Aquela viagem, num carro emprestado, até à Île de Ré. As muitas festas onde dançávamos juntos.
Muito vai ficar, espero. Alguma coisa será esquecida. Mas nunca tua cara, muitas vezes debochada, sorrindo.
Muitas feijoadas, caminhadas sem fim por Paris, no Rio, em Estocolmo, em Barcelona, em Petrópolis... como sempre, muito rápido... para uma expo, um filme, algum bistrô ou simplesmente à toa.
Muitas risadas com Dinoca no metrô. Cinquenta anos de encontros, telefonemas e conversas intermitentes. Restaurantes universitários.
Teu texto, que falava de uma viagem feita na UTI do hospital, num momento de perigo, que nos assustou. Desenhos, muitos. Gardet, Saint Remeze, Amsterdam, London, London. Portobello Road. Réveillons, festas de Natal, tu sempre companheiro e pronto para aventuras. O quarto do Joãozinho, rue des Pyramides.
Tudo isso foi formando camadas na minha cabeça e no meu coração enquanto lembro de ti. Camadas de um grande melting pot destes anos todos.
Nossos 20 anos, nossos 30, nossos 40, nossos 50... nossos 60, meus 70, chambres de bonne em Odeon, no 15ème, o apê do Gael, Gentilly, a casa da Dina. A casa do Brasil. A Cinemateca de Chaillot. A inauguração do Pompidou. Passeios de bicicleta. Viagens de ácido.
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Tuas aventuras, nossas muitas viagens. Nossos sonhos. Nossos planos. Construir um barco, ir morar na Itália, voltar para o Brasil, escrever um livro. Aprender a fotografar. Tu, o teatro. Eu, algum país africano. Fui para Moçambique, nunca escrevemos um livro, trocamos textos, cartas, desenhos, fotos, sonhos. Fomos felizes, entramos em crise, houve rupturas, reaproximações. Não nos perdemos nunca de vista.
De tudo isso fica muita saudade. Vontade de voltar no tempo, entrar correndo num supermercado, ao lado das Galeries Lafayette, ou na Fnac, para provar alguma coisa para nós mesmos, trocar o preço de um livro. Voltar à rue Brezin, à Gardet, lembrar das crises do Baiano na Suécia, reencontrar a Crica numa esquina, o Tuomo, descobrir o jazz, ouvir histórias dos Castores.
Numa das minhas idas a Paris, te dei o primeiro disco dos Tribalistas, que ouviste, sem parar, durante uma semana. Eras, como sempre, excessivo em tudo. Voltar a Londres. Encontrar a Arica, comer na creperia do Luciano. Entrar em um dos muitos cinemas de lá ou do Quartier Latin. Ver Marcel Marceau, vender fotos na saída do Nureyev. Rever vocês indo para as vendanges. Voltar a Bulier. Descobrir uma música nova. Morrer de rir. Ou ouvir Erik Satie num disco arranhado. “It`s only rock and roll, but I like it”, Pink Floyd, Stanley Clark.
Queria te encontrar, ao acaso, na rua e te convidar para um café. Depois, ir caminhando contigo até a praia e ver o pôr do sol, dizendo bobagens e rindo contigo. Pedir um porto e brindar à vida, aos encontros, às histórias, aos amores passageiros e voltar devagar, ouvindo estrelas.
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Vais fazer muita falta todas as vezes que eu for a Paris, todas as vezes que eu ouvir alguma velha música ou redescobrir um slide perdido. Teu riso, tuas chatices, teu companheirismo. Teus telefonemas. Tua força de vida.
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Ainda o Iuli
Hoje o Marcius me enviou uma foto de nós três, eu, ele e Iuli, na mesa da casa dele, Iuli, em Paris. É uma foto bonita, mas a lembrança de um tempo difícil. O Iuli, que teve um câncer no fígado, tinha tido a volta do câncer, dessa vez, no pulmão.
Ficamos pensando e ele também, dessa vez não tem jeito, ele não vai aguentar. Olhando a foto, vejo que a cara do Iuli é triste, ele tem um sorriso meio forçado.
Naqueles dias, quando conversávamos, eu e o Marcius, não conseguíamos falar de outra coisa, pensando numa perda que se aproximava.
O momento do transplante de fígado foi duro. Era uma cirurgia delicada, não sabíamos se ele ia aguentar. Duas irmãs dele foram para Paris, para ver qual delas seria compatível para o transplante. A Beba, a irmã mais próxima dele, foi a compatível. A cirurgia foi bem sucedida. Seguiram-se longos meses de recuperação. E ele conseguiu se safar da doença com muita determinação, como sempre.
A partir dali, seguiu-se, apesar da vida normal que ele levava, um tempo de muita medicação, de controles constantes, que ele fez à risca. No momento da volta do câncer no pulmão, lembro um dia que estávamos entrando na FNAC para olhar discos, ele me disse: — Já que vou morrer mesmo, vou gastar meu dinheiro. Deu-me uma volta no estômago e não soube o que dizer.
Ele tinha uma alimentação que seguia à risca, muito cuidada. Fazia musculação todo dia, ia à feira todo sábado para as compras da semana.
Continuou viajando muito, namorando muito, indo muito ao cinema, a exposições e ao teatro. Exagerado como
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sempre, depois de se aposentar, via todas as peças ou quase todas, todos os filmes, várias vezes, a mesma exposição.
Teve uma vida intensa, repleta de amigos, festas e viagens. Tinha uma generosidade enorme com as pessoas. A casa dele sempre foi um ponto de chegada para muitos brasileiros. Chegou um momento em que ele recebia tanta gente, que resolveu dar um basta e começar a selecionar as pessoas. Alguns, chegavam na casa dele e iam ficando. Uns chegaram a ficar um ano. Eram pessoas recém-chegadas do Brasil, franceses que tinham se separado e ficado sem casa, pessoas sem dinheiro. A lista era enorme.
Sua vida foi plena e alegre, apesar de tudo.
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Num dia e num lugar qualquer
Talvez eu te reveja novamente num dia qualquer em Maputo, em Paris ou em Lisboa num entardecer. Num bar à beira-mar. Para lembrar histórias, dar risadas, tomar um vinho, deixando a lua surgir, devagar, entre nossos risos.
Talvez a gente lembre daquela viagem a Pemba, daquela casinha à beira-mar e das caminhadas na praia vazia.
Talvez não seja assim e o momento seja outro. A paisagem e a latitude sejam outras. Um outono em Gotemburgo, a gente caminhando no meio das folhas do outono, naquelas lindas cores escandinavas. Ou entrando numa loja de chocolates em Bruges.
Vendo os prédios de Kopenhagen do alto da roda-gigante do Tivoli Park. As latitudes mudam. Os dias passam. Os encontros são outros. E a memória nos trai em certos momentos.
Teus momentos não são mais nossos. Ficaram as doces memórias fugazes, as fotografias, os instantes quietos nos cantos.
Bougainvilles. Praias desertas. Pores de sol vermelho-fogo. Crianças com roupas rasgadas, falta d’água. Praia, festas, namoros na Ponta do Ouro.
João Gilberto. Passarinhos e meu coração pesado. Dia luminoso de segredos secretos. Sol se pondo. Confusão saindo pelos meus poros em forma de alegria.
Um café chez Juan, naquela cozinha rústica em Floripa, com Marta e Luis e música uruguaia ao fundo. O barulho de uma criança perturbando meu silêncio. Grilos de verão.
Descubro pedaços meus no chão da sala
Entre passarinhos e pedras
Nas folhas dos livros trazidos ao acaso das livrarias.
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Diários do coronavírus, 2020
E, de repente, ficamos confinados no espaço de nós mesmos, de nossa casa. Trocando mensagens diárias com os amigos e a família, buscando e repassando notícias desse período triste da nossa história. Lembrando raivas e emoções. Nos divertindo com bobagens.
Vamos adiando viagens marcadas, idas ao médico, pequenos consertos em casa. Deixando o cabelo crescer, lendo, ouvindo música, inventando passatempos. Adiando a faxina. Fazendo compras pela internet. Vendo séries e filmes. Trocando solidariedades. Ajudando os índios pataxós, as comunidades do bairro, os moradores de rua. Fazendo ginástica on-line.
No início, parecia tudo meio irreal. E esse irreal foi aos poucos se transformando no nosso dia a dia. E foi necessário viver esses instantes da melhor forma possível.
Quarentena de solidariedades. A Marta traz uma torta pasqualina. A Cris traz alfaces e couves. Entrevista do Morin, texto do De Masi, quadros do Hopper, Monica Salmaso, a história da pianista tcheca com 109 anos de vida e alegria. Chico Buarque. Mensagens da Eliane, da Terezinha, da Mafalda, do Vinicius. Recados da Bea, da Márcia. Fotos da Oli, da Dada, da Dani, do Eduardo.
O silêncio se instala na noite e os passarinhos fazem um concerto. “Amanhã ninguém sabe. Traga-me um violão antes que o amor se acabe”.
Procuro ideias no fundo do baú. Espero mensagens que não chegam. Tomo porto, leio, escrevo, tomo café. Busco um iogurte na geladeira. Como uma fruta. Olho para a rua silenciosa.
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A noite cai, enquanto o vírus assusta as pessoas. Eu tento juntar pedaços de memórias de mil lugares. E ensaio uma rotina dentro de casa, meu lugar nos próximos meses.
Ioga com a Dada e com a Oli. Sonhos com a Tania. Cartas do Manuel. Textos da Dety. Saudades. Trocas com Andrea, com Marcius, com as Kikis ao telefone. Vinho do porto.
Histórias da infância com Mafalda. Músicas para a Cris. Saudade de cinema, do François, do Café Paris, dos encontros, do restaurante francês.
Murakami, de histórias loucas dos povos pequenos. Mais mensagens. Trocas de afeto. Velhas amigas de infância de Cachoeira, que surgem no meio das músicas dos Stones. Noite de sábado.
Vinho uruguaio, enquanto ouço Sinatra ou JJ Cale e danço. Domingo de Páscoa. Muitas mensagens. Escritos meus que circulam e emocionam as pessoas. Alguma coisa move meus textos sábado à noite. Véspera de Páscoa de lindas trocas. Ao fundo, Eric Clapton.
Caderninhos, romãs amargas, saudades da Dety. Queria te contar que comecei uma oficina de escrita. Mais uma tentativa, trazida pela tristeza da morte do Iuli. Keith de outras eras, de dias de Paris. De coisas que voltam, pequenas sensações. Pequenos nadas, frestas da vida. Estrelas que las hay, las hay. Terminar as coisas. Mexer as pernas. Manter a ordem. Escrever para o Marcelo.
Folhas soltas, manuscritas, datilografadas. Cartas não enviadas, recebidas de pessoas que não lembro quem são. Amores de um dia, de um momento. Passeios em uma nova cidade, contos da carochinha. No meio disso tudo, dessa corrente de lembranças, saudades de ti, Detynha. E a do Iuli, que se instala, enorme.
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Saudades daqueles tempos em que a gente falava mais da gente. Sempre fui meio chegada nos saudosismos. Herança do seu Achylles, talvez. Lembrar ou juntar as histórias do Carlo, da Melissa, e da linda figura do seu Natalício.
Quinta-feira. Um silêncio inquietante. Distenso verão que se prolonga, enquanto o silêncio me envelopa com promessas de amanhã. Sinto falta de finais para as pequenas histórias do dia a dia. Enquanto a solidão do coronavírus me acompanha silenciosa. Tento traçar meus limites, meus ganhos e perdas, ouvindo Keith Jarrett numa manhã ensolarada. Incerteza no trinado dos passarinhos.
Enquanto te busco em algum lugar do mundo, inventando novas viagens. Descer o Reno com Marina. Voltar a Liverpool e a Dublin. Visitar Edimburgo com a Oli e a Dada. Ir a San Francisco, dar um mergulho naquela praia de Portugal. Ouvir blues em New Orleans. Voltar, mais uma vez, a Paris. Subir aquela fantástica montanha da Grécia para ver o monastério de Meteora. Conhecer a África do Sul, ir a Punta Arenas.
De Masi analisa as ideias do futuro. Eu tenho música na cabeça e volto a ser criança por um momento.
Garcia Rosa num policial perfeito. Conversas virtuais com Mafalda. Um tempo no meu afã de escrevinhar. Tempo de paz comigo mesma nesses dias de quarentena, ajudados por uns goles de Porto.
Dia nublado. Sartre e Simone. As simpáticas e ternas relações no meio da quarentena. Deixar um livro é como a tristeza de deixar um amigo, sem saber se vamos nos reencontrar. Uma página de agosto em junho. Restos de inverno.
Descobrir o insólito. Paisagem pintada com chá. Torta de morango, Amelita Baltar, chuvarada. Fim de semana no
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Rio com Andrea, Saulo, Dija, Gerardo e Maria. Depois dos encontros, as despedidas.
A Cris traz vinhos e chocolates e leva máscaras. O Eduardo traz queijo colonial. Leio uma biografia do Man Ray. Escrevo mais uma crônica a partir de uma lembrança ou de um sonho. Encomendo uma pizza. Vejo o sol se pôr atrás da montanha e as cores mudando devagar.
Sonho com um mundo sem vírus. Com um governo decente. Respondo para a Lícia e para a Dominique. Olho as fotos da Lena no whats e lembro de nossas aulas de fotografia no Rio dos anos 70. Meus sonhos lembram mergulhos em Copacabana, viagens sem rumo, festas malucas. Envio pedaços de crônicas para a Sylvia e ficamos lembrando episódios de Maputo pelo whats.
Alguém me fala de uma nova série. Vou até à tia Alzira levar um floral. Sentamo-nos à beira da piscina, com o mar ao fundo e nossas incontornáveis máscaras, a uma distância recomendável, e ficamos trocando novidades da família ao redor de uma xícara de café.
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Floripa
Vontade de pegar um avião e descer em New Orleans. Passar o dia ouvindo jazz e blues, sentindo aquele ambiente onde se respira música.
Depois, andar à toa pela cidade e te encontrar espantada, sorrindo numa esquina. Traga-me um violão...
Ver o sol cair na montanha, ouvir estrelas, dar uma risada. Tomar café, ouvir a voz da lua apressada, ver uma criança passando, devagar. Talvez, estrelas mais tarde, na hora do porto. Quem sabe.
O sol se põe, a chuva vem e eu te espero. A espera é grande, é longa. Quem sabe, chegas amanhã, quem sabe, depois.
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Última página
Meu escrever ressurgiu com a morte de um amigo, um irmão. Assim que eu soube de sua morte, comecei a rabiscar, lembrando os momentos que passamos juntos, as muitas caminhadas pela vida, os nossos sonhos de juventude.
E isso me levou a buscar caderninhos, folhas soltas, cartas não enviadas, pedacinhos de vida. Perdi algumas vezes os fios da meada, no meio de páginas esquecidas e amareladas.
Nesse escrever, as lembranças foram surgindo, as viagens, os momentos voltando. Enquanto a lua ia nascendo serena, fui montando esse quebra-cabeças, juntando pedacinhos, recriando lembranças.
Reencontrei muita gente que tinha perdido por aí, lembrei de outras, ri e chorei em muitos momentos.
Voltei aos natais perdidos da infância, ao cheiro dos banhos de chuva, aos sonhos de menina, aos vestidos engomados que eu detestava. Revi instantes, lugares, pessoas. Senti cheiros, barulhos, lembrei de músicas, e de pedaços de livros. Vieram até mim, devagar, cores, sons e sensações de muitos momentos.
Entre folhas espalhadas pela casa, reencontrei sonhos, velhas fotos, dias cinzentos, dias ensolarados, invernos, verões, folhas amarelas de outono, árvores secas de inverno, um pouco de neve. Muitas vezes fiquei confusa ao juntar os pedaços de frases, ao tentar situar uma ou outra aventura no tempo. A fantasia e o sonho, as cartas não enviadas e recebidas me ajudaram.
Os amigos que compartilharam essas aventuras, meus irmãos, primos e sobrinhas me ajudaram lembrando episódios esquecidos e instantes compartilhados.
Foi uma bela viagem que pretendo continuar.
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Posfácio
Memória, afeto, viagem e bons vinhos
Eduardo Vieira da Cunha
Acompanhei muito de perto o nascimento do livro de minha irmã Miriam. Estávamos juntos nas últimas férias de verão, no final do ano passado, quando houve um fato marcante: ela recebeu a notícia de que seu grande amigo Iuli acabara de morrer, em um dia frio do inverno parisiense. Creio que este acontecimento foi fundamental para o surgimento dessa obra, como em um trabalho de recuperação de histórias vividas com seus grandes amigos. Antes mesmo da cerimônia de despedida de Iuli com o encontro dos muitos daquela geração, houve uma numerosa troca de fotografias entre o grupo formado. Ali, acredito, começou o processo de latência das belas crônicas que pudemos agora ler. O posterior recolhimento, imposto pela pandemia foi o elemento catalisador que permitiu à Miriam a revelação dessa matéria da memória.
Fui um dos primeiros a receber seus textos. Particularmente, não pude deixar de percorrer, ao lê-la, três caminhos: primeiro, fui levado a passar por minha memória no resgate das lembranças muito tênues de nossos pais, que partiram quando eu tinha apenas um ano. Recuperei aqui sentimentos, perdidos em minha própria infância. Nas crônicas iniciais desse livro, pude sentir toda a generosidade e o carinho da Miriam.
Resgato pela memória dela esse afeto. Um sentimento que se multiplica na alegria de ver a qualidade que Miriam teve e
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tem com seus queridos amigos, construída ao longo de suas muitas viagens pelo mundo. Os registros de suas andanças, com a estrutura de uma colagem de fragmentos, fotos, papéis soltos, foram a matéria compositiva de seus belos textos.
Fotografias, registros e anotações provisórias, com o sentido inacabado de documentos de viagens, foram guardados por ela, que sempre trabalhou com arquivos, em uma memória resgatada nas constantes adaptações e descobertas das novas paisagens. Muitos atravessaram o Atlântico junto com baús azuis que trouxeram suas mudanças, que acompanhei de perto ao ir esperá-la no antigo terminal do porto de Santos. E acabaram se transformando nesses textos curtos, comoventes, engraçados e deliciosos.
Por isso, antes de viagem, podemos localizar no livro a noção de passagens. Ao falar de deslocamentos pelo mundo, Miriam nos conta de suas diversas saídas, residências e retornos. Como houve tantas saídas, vimos que permanecer longe também foi uma viagem, pois o retorno para sua casa em Florianópolis nunca é definitivo. Ela está sempre pronta para por o pé na estrada novamente.
Sei que memória, afeto e viagem são sentimentos muito difíceis de resumir nesse epílogo. Em todo o caso, sonhos, objetos, quadros, mapas, planos que por ela reapresentados, ajudaram a compor a obra dessa viajante. Aquela que nos demonstra ao mesmo tempo o prazer da amizade, do ócio e desse livro se elaborando em segredo nesses seus distensos verões.
Aprendemos, como a fotografia que ela praticava com sua antiga câmera que a acompanhava, que o desejo das imagens é algo ausente, e que se revela depois de um tempo. Como os
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bons vinhos. Se a fotografia hoje se modificou, os vinhos que ela adora continuam os mesmos.
Seu trabalho de tessitura da memória no isolamento, se trouxe como resultado também momentos nostálgicos de introspecção, revelam estas incertezas que são reflexos do momento. Mas se transformaram em uma maneira de trabalhar, pelo texto, o medo da incerteza e das perdas, comuns a todos. Miriam nos mostrou que a escrita permite criar as representações que fazem aflorar a memória, o afeto, a imaginação e o sentido da viagem. E que o ato de escrever, assim como o de ler, pode nos completar, fazendo-nos voltar às nossas próprias histórias.
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Glossário
Bakshish – gorjeta. Banlieue – cidades nos arredores de Paris, geralmente habitadas por imigrantes. Capulana – pano tradicionalmente usado pelas mulheres em
Moçambique, para cingir o corpo ou a cabeça, podendo ser usado como saia, ou para cobrir o tronco. A capulana pode ser usada pelas mulheres para carregar os filhos nas costas, ou para transportar roupas e alimentos. Carapau – o peixe mais popular de Moçambique, nos anos 80, por ser muito barato. Tem um gosto muito forte. Caril – mistura de especiarias, muito utilizada na culinária de Moçambique. O pó de caril é feito à base de açafrão-da-terra, cardamomo, coentro, gengibre, cominho, casca de noz-moscada, cravinho, pimenta e canela. Serve para temperar o arroz ou o frango. Cerises à l’eau de vie – coquetel à base de cerejas maceradas na aguardente. Chamussa – também conhecida como samosa ou samusa, é uma especialidade de origem indiana. São pastéis fritos em forma triangular, recheados com uma mistura condimentada de feijão ou grão, batata ou carne picada, ervas aromáticas e vegetais. Funaná – gênero musical do Cabo Verde, relativamente recente. Segundo a tradição oral, o funaná surgiu quando, numa tentativa de aculturação, o acordeão teria sido introduzido na ilha de Santiago, no início do século XX, para que a população conhecesse a música portuguesa. Marrabenta – forma de música-dança típica de Moçambique.
Seu nome é derivado da palavra portuguesa “rebentar”.
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Matapa – prato moçambicano feito com a folha da mandioca pilada, cozida num molho à base de amendoim pilado e leite-de-coco, e temperado com um marisco, que pode ser camarão (fresco ou seco) ou caranguejo. Midsommar – dia mais longo do ano, marca o início do verão, na Escandinávia, com festas. Paladar – em Cuba, o paladar designa um restaurante que funciona na casa de uma família cubana. Retzina – vinho branco grego resinado, fabricado há cerca de 2000 anos. Seu sabor único é originário da prática milenar de fechar as ânforas com resina de pinho na
Grécia Antiga. Soulaki – prato grego popular, servido num espeto de carne de carneiro grelhada e vegetais. Squat – essa palavra foi usada, nos anos 70 e 80, para designar moradia invadida, de forma ilícita, por um grupo de pessoas. Swazi – pessoa nascida na Suazilândia. Systembolaget – empresa estatal de lojas de bebidas alcoólicas na Suécia
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Este livro foi publicado pela Editora Insular em outubro de 2020
Meu escrever ressurgiu com a morte de um amigo, um irmão. Assim que eu soube de sua morte, comecei a rabiscar, lembrando os momentos que passamos juntos, as muitas caminhadas pela vida, os nossos sonhos de juventude.
E isso me levou a buscar caderninhos, folhas soltas, cartas não enviadas, pedacinhos de vida. Perdi algumas vezes os fios da meada, no meio de páginas esquecidas e amareladas.
Nesse escrever, as lembranças foram surgindo, as viagens, os momentos voltando. Enquanto a lua ia nascendo serena, fui montando esse quebra-cabeças, juntando pedacinhos, recriando lembranças.
Reencontrei muita gente que tinha perdido por aí, lembrei de outras, ri e chorei em muitos momentos.
Voltei aos natais perdidos da infância, ao cheiro dos banhos de chuva, aos sonhos de menina, aos vestidos engomados que eu detestava. Revi instantes, lugares, pessoas. Senti cheiros, barulhos, lembrei de músicas, e de pedaços de livros. Vieram até mim, devagar, cores, sons e sensações de muitos momentos.
Entre folhas espalhadas pela casa, reencontrei sonhos, velhas fotos, dias cinzentos, dias ensolarados, invernos, verões, folhas amarelas de outono, árvores secas de inverno, um pouco de neve. Muitas vezes fiquei confusa ao juntar os pedaços de frases, ao tentar situar uma ou outra aventura no tempo. A fantasia e o sonho, as cartas não enviadas e recebidas me ajudaram.
Os amigos que compartilharam essas aventuras, meus irmãos, primos e sobrinhas, me ajudaram lembrando episódios esquecidos e instantes compartilhados.
Foi uma bela viagem que pretendo continuar.
ISBN 978-65-86428-27-8 ISBN 978-65-86428-25-4
9 9 786586 786586 428278 428254