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New York, anos 80

New York, anos 80

Cheguei em New York, pela primeira vez, em pleno verão. O Eduardo, meu irmão, que fazia mestrado na City University, estava me esperando no aeroporto e me levou para a casa dele no Brooklyn. A primeira fotografia da cidade, que guardei no fundo do meu olho, foi a vista de Manhattan a partir do Brooklyn, que me lembrou um filme do Woody Allen.

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Depois de largar a mala, atravessamos a ponte caminhando e fomos para o sul da cidade. Entramos numa livraria onde comprei uma biografia do Scott Fitzgerald. Vimos a Estátua da Liberdade no extremo sul de Manhattan.

Aos poucos, fui me familiarizando com a geografia simples da cidade e com o metrô e passei a circular sozinha. Apesar do forte calor, andei à toa, fazendo devagar o reconhecimento daquela metrópole vibrante e acolhedora.

Numa das minhas muitas caminhadas, descobri a Tower Records, com cinco andares repletos de discos. Todos os dias dava uma passada lá para renovar o meu estoque de jazz e de rock. Andei fascinada pelo Central Park com a Suzana, descobrindo pequenos concertos de jazz ou de rock pelo caminho, vendo as crianças brincando, andando de bicicleta, tomando sol, gentes de todas as nacionalidades e idades caminhando ou fazendo piqueniques.

Conheci, através do Eduardo e da Suzana, muitos brasileiros que estavam passando um tempo lá, uns como aventura, outros para ganhar dinheiro, outros para estudar.

Uma das pessoas que lá encontrei foi a Graça, que eu conhecia de Porto Alegre. Fomos algumas vezes almoçar na casa dela e da Sheila, ouvir blues ou jazz, bater papo, tomar

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vinho. Lembro do velho Deux Chevaux dela com o porta-malas cheio de latas de cerveja e refrigerantes.

O Eduardo foi comigo a alguns dos vários museus da cidade, o MoMa, o Metropolitain, o Guggenheim, o Whitney, entre outros. Fiquei fascinada pela diversidade de pessoas circulando na cidade, uma verdadeira babel moderna.

A Time Out me trazia, toda a semana, o roteiro cultural da Big Apple. Além dos concertos diários no metrô e no Central Park, descobri os clubes de jazz, onde assisti a concertos inesquecíveis. Lembro da enorme bochecha do Dizzie Gillespie num concerto no Village Vanguard.

Fui, num sábado ao meio-dia, ouvir jazz num dos muitos pubs da cidade. Cheguei cedo e me sentei no balcão, ao lado de uma senhora branca, com cerca de 60 anos, com um jeito modesto e tímido, tomando seu uísque. Achei que ela era uma dona de casa que tinha ido ao pub da esquina ouvir jazz antes de almoçar com a família. Conversamos um pouco. Ela me pediu licença e entrou no palco. Quando começou a cantar, sua voz tinha a potência de uma Ella Fitzgerald, com um timbre invejável. Cantou vários standards com sua voz melodiosa e potente. Quando me sentei ao seu lado no balcão, eu não imaginei que aquela senhora tranquila e simples era dona daquela voz maravilhosa.

Foi um verão de muitas descobertas. Livrarias, parques, cachorros-quentes nas esquinas de Manhattan, piqueniques no Central Park, festas na casa dos amigos do Eduardo, muitas exposições.

Voltei para o Brasil com o Eduardo e a Suzana, que também se despediam da cidade. No aeroporto encontramos o Jorge, um amigo que estava embarcando com seu gato. Eu o

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conhecia de Paris. Ele vivia, nessa época, com seu bichano entre as duas cidades. De seis em seis meses mudava de uma para a outra. Grande figura!

Voltei muitas vezes à New York, levando comigo a sensação de redescoberta daquela primeira viagem.

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