Sorria #71

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© Foto: Graphixel / GettyImages

PRAZERES SIMPLES

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A música da chuva texto GABRIELA AGUERRE

T

irei umas miniférias e voei pra cidade onde nasci, Montevidéu, no Uruguai. Tinha planos ambiciosos. A maioria envolvia caminhar. Andar a pé, especialmente pela rambla, a avenida que margeia o Rio da Prata, é um dos meus esportes favoritos, ainda mais se tiver uma boa companhia e, juntos, compartilharmos o chimarrão. Mas quando chove… Não dá pra passear direito, precisa carregar guarda-chuva, depois é impossível guardar o tal guarda-chuva molhado, isso quando a gente se lembra de levar um. O sapato encharca, demora a secar, a barra da calça pesa, a gente inteira se atrapalha. Vixi. O jeito é aceitar e sair mesmo assim – ou ficar sob alguma cobertura, curtindo o que a chuva faz com a gente. Foi o que eu fiz. As primeiras gotas eu nem vi. Estava distraída com as novidades que meus anfitriões, minha prima e o marido, foram me mostrando antes de se retirarem para a siesta, o cochilo depois do almoço. Uma delas incluía o Gaspar, um coelho preto que Manuel, filho deles, ganhara de um amiguinho da escola e que agora habitava o jardim. Eu estava louca para chegar até a beirada do rio, que tinha visto da janela do avião poucas horas antes. Não era a mesma coisa. Mas aí, tac, tac, tac – ouvi. Ainda dava pra sair. Havia até um guarda-chuva pendurado na maçaneta. Mas aí, tacata-tacata, o ritmo acelerou. Gotas lentas sobre o telhado. Mais apressadas, saindo de uma das calhas e caindo direto no chão de pedra do quintal. Como um metrônomo, mas sem a regularidade das sonatas e das canções. Desliguei o ar-condicionado, que mantinha o quarto quente mas abafava o som da orquestra de tambores d’água que vinha de fora. Ir pra rua, nem pensar. Vi o Gaspar correndo para a toca. Vi as florezinhas brancas se encharcando aos poucos; algumas caíam, não sem antes se embaralhar pelas gotas grossas que as levavam em rodopios até o chão. Vi uma pequena cachoeira surgir em cada um dos pilares, tracatracatracatraca. Abri a janela: com o frio, entrou o cheiro de grama molhada. Me senti em casa. Antes de ir para o quarto e se enfiar na cama entre seus pais, Manu tinha me mostrado, orgulhosamente, como já sabia tocar bateria. Acertou as caixas, o prato, o bumbo, com destreza e graça. Aos 4 anos, ele fazia música sem saber. Como as gotas, as bonitas filhas da chuva. JAN/FEV 2020 13


PRAZERES SIMPLES

TÁ NA MESA

Sem cerimônia Esta época do ano combina com comida descomplicada, como este delicioso bolinho de peixe! texto DILSON BRANCO

© Foto: Sheila Oliveira / Empório Fotográfico. Produção culinária: Paula Belleza. Produção de objetos: Marcia Asnis

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memória que tenho é de um sábado de manhã – não um específico, mas um mosaico de repetições. Estou voltando do colégio com aquela euforia de fim de semana começando, um dia fora da rotina. No sábado, não precisava usar uniforme escolar, o clima já amanhecia mais leve. Na minha lembrança, sempre há sol quente e brisa fresca. A casa está com portas e janelas abertas para ventilar a faxina, num clima de renovação do lar. Não sei se tenho mais fome de brincar ou urgência de comer. O dilema vai se dissipando no mesmo ar que é tomado pelos vapores do almoço. O cardápio também é descontraído, com nome diminutivo e formato de brinquedo: bolinho de peixe. Chego correndo na cozinha, pego o primeiro recém-saído do fogo, pelando, não resisto e mordo mesmo assim – Vai queimar a boca, guri! Sopro impaciente, abocanho a outra metade – Cuidado que pode ter espinha! Mas eu devorava sem medo, porque nenhuma cartilagem escapava ao olhar amoroso da mãe-cozinheira. Meu pai também se esbaldava, revirando memórias. É que a receita havia sido herdada de outra mãe, a dele. Esses quitutes originais davam as caras nas festas de aniversário. Comprávamos salgadinhos, mas o banquete só ficava completo com os bolinhos de peixe da Díllia. Pequenininhos, dava para engolir de uma vez. Mas a graça era morder e sentir a carne desfiando, o recheio brilhando, liberando cores e perfumes. Ficavam ainda melhores no dia seguinte, frios, acompanhados de café! Pedi a receita, tentei e, claro, nunca ficou igual. Posso conseguir os mesmos ingredientes e repetir o processo exato, mas o contexto, igualmente crucial para a experiência, não encontro nem no mercado mais caro. Só voltando ao passado. Curiosamente, esse é o tipo de preparo que promove um retorno a hábitos de antigamente. O bolinho (de peixe ou do que for) provavelmente foi inventado como uma forma de reaproveitar sobras, evitar desperdício – uma velha lição eternamente atual, uma memória sempre boa de reviver. 20 REVISTA SORRIA

MOLHINHO! Misture 1 xícara de iogurte natural, 1 colher (de sopa) de pepino em conserva picado, suco de 1 limão, 1 colher (de sopa) de azeite, 1 colher (de chá) de molho de pimenta verde, dill picado, sal e pimentado-reino.

BOLINHO DE PEIXE COM LEGUMES Para 4 pessoas

INGREDIENTES: • 500 g de pescada-branca • 1 xícara de ervilhas frescas • ¼ de xícara de cebola picada • 1 colher (de chá) de gengibre fresco ralado • 1 xícara de cenoura ralada • 1 xícara de abobrinha sem sementes ralada • salsinha, dill e cebolinha a gosto • 2 colheres (de sopa) de azeite de oliva

• Raspas de 1 limão-siciliano • 1 colher (de café) de pimenta dedo-de-moça picada • 1 colher (de sopa) de mostarda Dijon • 3 colheres (de sopa) de farinha de tapioca • 3 ovos • sal e pimenta-do-reino a gosto • 2 xícaras de farinha Panko para empanar


NÃO DEIXE GRUDAR Usar uma assadeira ou papel antiaderente vai facilitar na hora de assar os bolinhos.

MODO DE PREPARO:

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Coloque o peixe em um multiprocessador e ligue, em potência baixa. A ideia é ficarem uns pedaços maiores. Reserve. Em uma panela com água fervente e abundante, cozinhe as ervilhas por dois minutos. Escorra e coloque numa outra vasilha com água e gelo: isso vai parar o cozimento e deixá-las mais verdinhas. Escorra e reserve.

Numa frigideira, refogue a cebola com o gengibre num fio de azeite. Junte a cenoura e a abobrinha e refogue até murchar, por cerca de um minuto. Em uma vasilha, misture o peixe, as ervilhas e os legumes. Adicione as ervas, o azeite, as raspas, a pimenta dedo-de-moça, a mostarda, a tapioca e um ovo. Misture com as mãos até dar liga. Acerte o sal e a pimenta-do-reino.

Bata dois ovos em uma tigela. Com as mãos, faça os bolinhos. Empane, passando primeiro no ovo e depois na farinha Panko. Distribua os bolinhos em uma fôrma untada com azeite e coloque-a no forno preaquecido a 180˚C. Eles estarão prontos após vinte minutos ou quando ficarem dourados! JAN/FEV 2020 21


VALORES ESSENCIAIS

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SAIR DO PILOTO AUTOMÁTICO E DAR UM NOVO RUMO À VIDA NÃO É FÁCIL, MAS PODE SER LIBERTADOR. CONHEÇA HISTÓRIAS DE QUEM MERGULHOU EM MUDANÇAS E ENCONTROU MAIS DE SI reportagem ROMY AIKAWA ilustração DÉBORA ISLAS

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udar exige coragem. Ao sair da zona de conforto, nos dispomos a conviver com o desconhecido e com as incertezas, o que, naturalmente, desperta temores. Temos medo de estar cometendo uma loucura, de ser julgados, de precisar voltar atrás, de ter passado do tempo, de não dar certo... e até de dar! “Pode parecer contraditório, mas acontece. Afinal, não há garantias do que vem pela frente”, diz Bruna Tokunaga Dias, mestre em psicologia clínica. A explicação para esses medos pode ser biológica. Para o cérebro, mudar exige novas conexões neurais. Essas ligações são formadas com base no que fazemos repetidamente: quanto mais realizamos uma ação ou nos comportamos de determinada maneira, mais isso fica gravado na mente – e, com mais facilidade, conseguimos reproduzir aquela ação ou ter aquele comportamento. Daí a força do hábito, daquilo que praticamos todos os dias. Mudar é desafiar essa repetição, convidar a mente a se expandir. Então, o problema não é sentir medo ou desconforto – todo mundo, em maior ou menor grau, experimenta isso – e sim nos deixarmos paralisar por esses sentimentos quando uma mudança é necessária. Se isso acontece, adiamos o fechamento de ciclos e voltamos a lidar com inquietações, falta de motivação e infelicidade – muitas vezes, tentando evitar o inevitável. “As mudanças são parte da vida. O melhor é aceitá-las e fazer com que funcionem”, afirma Bruna. Uma vez tomada a decisão pela mudança, é possível encontrar caminhos que a tornarão menos desafiadora. O

primeiro passo é entender se o que paralisa nossa mudança tem fundamento, já que tendemos a aumentar o poder dos medos. Bruna sugere tentar nomeá-los e, então, separar o que é real do que é fruto da imaginação. Dessa forma, conseguimos enxergar o que de fato precisamos enfrentar e buscar estratégias que nos ajudem a superar essa barreira. Vale também aprender a lidar com a própria mente. Segundo a neurocientista Ines Cozzo, temos de criar estratégias para enfrentar o imediatismo do cérebro, que costuma valorizar mais os ganhos instantâneos que os de longo prazo. “O pior inimigo do que eu quero é o que eu quero agora”, diz a neurocientista. Por isso, o foco deve estar nos problemas dos quais estamos nos afastando. “Nos ajudamos a mudar mais rápido quando temos consciência daquilo de que estamos nos livrando”, afirma Ines Cozzo. Ainda assim, é preciso saber: romper com o que estamos acostumados não é simples. Mas, sem arriscar, nunca saberemos como seria ter ido em direção ao que desejamos. Fazer e errar, em geral, é melhor do que ficar parado – e não viver. “Depois de passar por todo processo de mudança, muita gente se pergunta por que não fez isso antes”, comenta Bruna. “A única certeza que temos é a de que as coisas não ficam para sempre como estão. É preciso ter maturidade e serenidade para se adaptar às mudanças e criar novas versões de nós mesmos: são oportunidades de desenvolvimento.” Nas páginas seguintes, você vai conhecer histórias de pessoas que enfrentaram o desafio, se reinventaram e se sentem muito mais realizadas.

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DÁ PRA MUDAR?

Libere os ELOGIOS! FOCADA EM DIZER ÀS PESSOAS O QUE APRECIA NELAS, A REPÓRTER MARTINA MEDINA, DE 30 ANOS, TRAVOU. MAS LOGO PEGOU O JEITO E PASSOU A SE SENTIR MAIS CONECTADA COM OS OUTROS – E TAMBÉM CONSIGO texto MARTINA MEDINA ilustração GIOVANA MEDEIROS

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ou bastante crítica e exigente – para quem gosta de astrologia, meu ascendente em virgem pode dar uma pista – e, muitas vezes, do contra (essa lua em libra!). É difícil ofuscar os defeitos que vejo em mim e que acabam refletidos na minha percepção sobre os outros. Por isso, quando aceitei o desafio da Sorria, de passar vinte dias elogiando as pessoas, meu questionamento foi: seria eu capaz de iluminar meus pontos positivos e também os daqueles ao meu redor? Decidi tentar. De imediato, comecei a distribuir pequenos elogios. Todos que elogiei, como uma amiga e um paquera, me responderam com carinho. Porém, dois dias depois, fui tomada pelo mau humor, despertado pela TPM e por um estresse no trabalho – no dia a dia, sou editora de conteúdo em um jornal de São Paulo. Fiquei

apreensiva, achei que colocaria o desafio a perder. Porém, vi que seguir adiante, atenta ao lado bom dos outros, seria uma oportunidade de me aproximar de algumas pessoas – especialmente de mim mesma. Como disse antes, para mim, há uma ligação direta entre ser crítica com os outros e ser crítica comigo. Claro, não foi fácil nem automático. Para criticar, o argumento estava pronto. Para falar bem, porém, muitas vezes o elogio não vinha, e eu ia me lembrar dele quando já estava longe. Foi o caso de um feirante que me recebeu com alegria, informando preço e características das ervas e temperos, que vendia com muito bom humor. Me despedi com um sorriso, mas sem um elogio. Não foi a única vez. Uma vendedora, que nem estava me atendendo, teve a iniciativa de dizer: “Que


ELOGIAR POR QUÊ? 81% DOS ADULTOS AGRADECEM PELO ELOGIO. Apenas 7% respondem de forma negativa, ficando sem graça ou fazendo um comentário depreciativo sobre si. UMA MESMA ÁREA DO CÉREBRO, CHAMADA STRIATUM, É ATIVADA SE A PESSOA RECEBE UM ELOGIO OU DINHEIRO. As pessoas que têm essa região do cérebro ativada por um elogio executam melhor uma tarefa em comparação com aquelas que não foram elogiadas. AS PESSOAS TE ASSOCIAM COM OS ADJETIVOS QUE VOCÊ USA PARA DESCREVER OS OUTROS. Ou seja, ao dizer que alguém é gentil, as pessoas vão associar essa qualidade a você, ainda que racionalmente não te identifiquem com ela.

camisa bonita, moça!”. Tímida, apenas sorri e agradeci. Queria ter elogiado o cabelo rosa dela, mas, na hora, não consegui. Logo em seguida, fui muito bem atendida por outro comerciante. Então, finalmente, deu certo: elogiei o atendimento. Um pouco sem jeito, ele sorriu e agradeceu. Mas, afinal, por que essa dificuldade em elogiar – e em receber um elogio? No livro Uma Vida que Vale a Pena (Elsevier Editora), o psicólogo Jonathan Haidt cita estudos para afirmar que a mente humana, comandada pelo instinto de sobrevivência, reage com mais rapidez às coisas ruins do que às boas. Ou seja, diferentemente da crítica, o elogio nem sempre está na ponta da língua. Poucas horas depois, fiz um pedido a uma pessoa salva nos meus contatos como responsável pela comunicação de uma instituição. Ela me

respondeu de uma forma que achei “atravessada”, perguntando quem eu era e dizendo que já estava fora do Brasil havia um ano. Respirei fundo, me desculpei. Então, agradeci e a elogiei por um dado que me passou, disse que poderia agregar muito à minha pesquisa. Ela me deu ainda mais informações, além de me passar o contato da pessoa com quem eu deveria falar. Seguimos papeando e me senti feliz em ter criado, a partir do elogio, uma ponte com alguém. Notei que essa ferramenta me fazia prestar mais atenção ao que há de bom nos outros. Bem que a psicóloga Lidiane Pontes, com quem conversei por causa dessa matéria, me falou: “Os elogios são comportamentos verbais que ressaltam características positivas do indivíduo, o que possibilita aprofundar e fortalecer as relações interpessoais”.

O ELOGIO VALIDA CERTOS COMPORTAMENTOS. As pessoas costumam tomar a atitude do outro, que foi alvo do elogio, como exemplar. E se esforçam para ser elogiadas também. MOTIVAÇÃO, SENSAÇÃO DE REALIZAÇÃO E PERCEPÇÃO DE QUE É VALORIZADO: esses são os efeitos do elogio a um funcionário. Além disso, o reconhecimento aumenta o engajamento, a produtividade e a lealdade à empresa. Fontes: Today e AOL; Gallup; National Institute for Physiological Sciences; e Journal of Personality and Social Psychology

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