Todos #26

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Prestação de contas na pág. 8

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FERNANDA

DÁ VISIBILIDADE

ÀS PESSOAS COM SÍNDROME DE DOWN pág. 24

IRAN

ACOLHE JOVENS

EXPULSOS DE CASA

POR INTOLERÂNCIA pág. 28

ROSALY

QUIS SER ASTRÔNOMA

DEPOIS DE VER O

HOMEM CHEGAR À LUA pág. 32

RECEITAS COM ABÓBORA, A RAINHA DO MENU NESTA ÉPOCA DO ANO pág. 42

Maria Divalda, 63 anos pág. 12

#26

jun/jul 19 VENDA EXCLUSIVA

VOLTEI A SENTIR O GOSTO DE COZINHAR E DIVIDIR A MESA

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E

EU VENCI

COMER É UMA DAS MELHORES COISAS DA VIDA. MAS FAZER AS REFEIÇÕES COM PRESSA, NÃO PRESTAR ATENÇÃO NO QUE ESTÁ NO PRATO, FICAR OBCECADO POR CONTAR CALORIAS, IMPOR-SE RESTRIÇÕES – NADA DISSO FAZ BEM. VEJA COMO RESSIGNIFICAR A ALIMENTAÇÃO COMO UM ATO DE PRAZER, AFETO E PARTILHA REPORTAGEM H E L A I N E M A R T I N S ILUSTRAÇÃO D É B O R A I S L A S E D I E G O V A U G H A N / Q U A L S E U T I P O ?

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MARIA DIVALDA, 63 anos, dona

de casa, de Goiânia, perdeu a vontade de se alimentar bem depois que o marido faleceu. Tudo mudou quando ela fez um curso de culinária, no ano passado

© Foto: WA Imagem (maquiagem: Lorena Britil)

VOLTEI A SABOREAR A VIDA APÓS UM CURSO DE GASTRONOMIA Minha cozinha era sempre cheia. Todo mundo que nos visitava já ia direto para lá jogar conversa fora, enquanto eu e meu marido cozinhávamos. A nossa feijoada e o bife à milanesa eram um sucesso! Para nós dois, comer e cozinhar eram gestos de afeto. Em 2012, ele faleceu. Em luto, me afastei da cozinha e das pessoas por seis anos. Improvisava qualquer coisa para comer. Nada mais tinha o mesmo sabor. Ano passado, quando minha família soube de um curso de cozinha terapêutica para idosos, pensou que seria perfeito para que eu saísse da solidão. Recuei,

de início, mas depois aceitei. E foi a melhor decisão que eu poderia tomar. Cozinhar em grupo é divertido, gratificante e bastante enriquecedor. Aprendemos novas receitas, conversamos, trocamos experiências e recordações. Em cada aula, uma das minhas colegas faz um prato e as outras ajudam cortando os temperos, refogando alho ou enrolando a massa, por exemplo. Ao final, a melhor parte: degustamos. Já aprendi a fazer cocada, guacamole, um monte de coisas! Mais que isso: reaprendi a ter prazer em comer, em cozinhar e estar rodeada de pessoas. Fiz grandes amizades, e nos encontramos para cozinhar (e comer!) juntas. Voltei a fazer comida para mim e, aos finais de semana, as visitas enchem a casa de novo! A vida e a minha comida voltaram a ser saborosas.”

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NO MEU TEMPO

AO REDOR DA FOGUEIRA As comidas típicas preparadas em casa, os eventos organizados pelos vizinhos, as brincadeiras de roda. Deixe seu coração quentinho com as histórias das festas juninas de antigamente REPORTAGEM AMANDA PÉCHY FOTOS ILANA BAR ILUSTRAÇÃO BERNARDO FRANÇA

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ARRAIAL NA RUA Quando eu tinha lá meus 8 anos, a festa junina era uma união entre vizinhos. A comemoração acontecia na rua. Cadeiras eram colocadas na frente das casas, e cada rua tinha uma fogueira. As batatasdoces e os pinhões eram aquecidos no fogo – não vinham prontos da cozinha –, e começavam a estalar. A casca se abria, fazendo um barulho gostoso. O bairro varava a noite ouvindo canções como Luar do Sertão.”

ANTÔNIO SÉRGIO PETROCCHI, 76 anos, São Paulo


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MEU DICIONÁRIO

JOIA CULTURAL

Berço de escritores ilustres, como José Lins do Rego, Ariano Suassuna e Augusto dos Anjos, a Paraíba é também uma terra rica em expressões regionais. Conheça algumas REPORTAGEM A M A N D A P É C H Y ILUSTRAÇÃO C A R O L D E L A V Y

Vou dar um bordo. Quem caminha despretensiosamente está dando um bordo. É um passeio, ou uma procurada.

Fiquei com a mosca na orelha...

Arra lá! Se alguém chega atrasado ou comete alguma afronta, pode receber um “arra lá!”, uma bronca.

Enquanto alguns desconfiados têm uma “pulga atrás da orelha”, os paraibanos dizem estar com uma mosca.

No olho tem uma casa de passarinho. Na Paraíba, o olho da árvore é a parte mais alta da folhagem, a copa.

Ele está com estalicídio.

Peguei uma cruviana. É o nome dado à garoa fina da madrugada ou ao vento frio que sopra cedinho.

Usada para se referir a alguns tipos de enfermidade. Geralmente, quer dizer “resfriado”.

Ela resolveu ganhar o meio do mundo. Se uma pessoa deixa tudo para trás para viajar sem destino, vai “ganhar o meio do mundo”.

Vamos rápido, ela vai descansar! “Descansar” não é livrar-se da fadiga. Significa parir, dar à luz o bebê.

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Não intica comigo! “Inticar” é implicar, provocar, ficar de má vontade com alguém.

Me dá um taquinho? O termo se refere a um pequeno pedaço, muitas vezes relacionado a comida.


MEU SOTAQUE

A pisada vai ser boa! Pisada pode ser “festa” ou então referir-se ao ritmo de uma música.

Pedimos a personalidades paraibanas que contassem suas gírias preferidas. Veja quais são: 1

CHICO CÉSAR, 55 ANOS, CANTOR E COMPOSITOR

É hora de tocar a reunida!

“Para indicar uma pessoa deslocada de seu ambiente natural, acanhada, usa-se a palavra ‘béradêro’. Gosto tanto dessa expressão que a música que abre meu primeiro disco tem esse título. E nomeei assim o instituto de artes que criei com minha primeira professora de música.”

Refere-se a um costume antigo de convocar as pessoas para uma reunião fazendo soar algum instrumento.

Ela é linda que sostô! É uma gíria do sertão paraibano que vem de “só estou admirando”.

2

Aquele sujeito anda de capas encouradas.

LUCY ALVES, 32 ANOS, ATRIZ

Foi-não-foi, saio com os amigos.

© Fotos: 1) Marcos Hermes, 2) Patrícia Lino, 3) arquivo pessoal, 4) Alpay Taskin

“Foi-não-foi” é “de vez em quando”, “às vezes”. Indica inconstância, instabilidade, oscilação.

Voltei para casa à boquinha da noite. A expressão é uma forma popular de chamar o fim de tarde, o anoitecer.

Por que tu tá capiongo?

Ele canta cascando o pau!

Quem está capiongo anda tristonho, em silêncio. Ou macambúzio, outro termo para esse comportamento.

Quer dizer que está fazendo com muita vontade e determinação.

Fonte: Do Baianês ao Piauiês, Falares Nordestinos e Variações Linguísticas nos Contos Populares Paraibanos, de Maria do Socorro Silva de Aragão

Se alguém parece suspeito, misterioso ou dissimulado, anda de capas encouradas.

“É muito comum ouvir a expressão ‘bexiga taboca’, que uso para indicar raiva: ‘Zezin tava com a bexiga taboca porque não comeu o bolo de rolo de mãe’. Também usamos muito ‘arrudiar’, para dizer que vamos dar a volta: ‘Ele teve que arrudiar a lagoa para chegar na casa de Maricota’.” 3

JULINY BARRETO, 35 ANOS, JORNALISTA E BLOGUEIRA

“Uma das expressões que mais uso é ‘tá com a bixiga’, que expressa espanto, algo parecido com ‘tudo isso?’. E temos os clássicos, como ‘oxe’, que é a nossa exclamação. É semelhante a ‘afe’. Também gosto de ‘agora danosse’ ou ‘agora já foi’, utilizadas quando algo desanda.” 4

ARTHUR PESSOA, 42 ANOS, CANTOR E VIOLONISTA

“Gosto da gíria ‘cabra’, que tem ligação com o nome da minha banda, Cabruêra, e é usada para se referir a alguém. A analogia do homem com o animal se explica pela capacidade de a cabra ser resistente às maiores intempéries da natureza, especialmente no Nordeste brasileiro.”

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RECEITAS DE FAMÍLIA

PRA VARIAR Experimente substituir o camarão por carne-seca ou peito de frango, em cubos pequenos ou desfiados


Virou ABÓBORA Ela pode ser o centro das atenções como prato principal ou derreter corações em sobremesas que marcam época REPORTAGEM ROMY AIKAWA FOTOS SHEILA OLIVEIRA / EMPÓRIO FOTOGRÁFICO PRODUÇÃO CULINÁRIA PAULA BELLEZA PRODUÇÃO DE OBJETOS MÁRCIA ASNIS

CAMARÃO na moranga ESTÁ AÍ UM PRATO QUE FAZ BONITO NA MESA E COMEÇA A SER SABOREADO COM OS OLHOS! para 4 pessoas

Ingredientes » 1 moranga média » 2 dentes de alho picados » Azeite de oliva extravirgem » Sal e pimenta-do-reino a gosto » 1 xícara de cebola picada » 2 xícaras de tomate picado » ½ xícara de cheiro-verde picado » 1 colher (de chá) de cúrcuma » 1 xícara de leite de coco » 1 xícara de creme de leite » 1 kg de camarão médio, limpo » 1 xícara de requeijão cremoso

Modo de preparo 1 Preaqueça o forno a 180 ˚C.

2 Corte a tampa da moranga e, com a ajuda de uma colher, retire as sementes. Tempere com alho, um fio de azeite, sal e pimenta. Leve para assar por aproximadamente 40 minutos. 3 Aqueça uma panela e coloque um fio de azeite. Refogue a cebola até que fique transparente. Acrescente o tomate picado e refogue bem. Junte o cheiro-verde e a cúrcuma e misture. Adicione o leite de coco e o creme de leite. Quando ferver, coloque os camarões e deixe cozinhar por 5 minutos. Reserve. 4 Retire a moranga do forno e insira o recheio de camarão, intercalando com colheradas de requeijão. Volte para o forno para gratinar e sirva acompanhada de arroz branco.

Quando eu tinha uns 10 anos, fui passear na casa da minha tia em Maceió, e lá provei esse prato. Simplesmente amei! Foi engraçado porque, quando vi aquela moranga gigante, não imaginei que tinha comida lá dentro. Pensei que era enfeite! Mas, na hora em que a minha tia tirou a tampa, senti um aroma incrível e inesquecível. Já fiz a receita várias vezes, e sempre me pego buscando o perfume e o paladar daquela experiência em Maceió. Gosto de servi-lo em ocasiões especiais, porque acho que é um prato sofisticado. Para quem quer testar, recomendo usar leite de coco fresco e não deixar a parte interna da moranga molhar se for fazer o cozimento em água.”

LUCIANA MIRIHAD, 41 anos, Goiânia

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