No ritmo do coração
No ritmo do coração
José Humberto Lima
Edição e Organização: Juliana Maringonni. Ilustração capa: Freepick.com ________________________________________________ L732n Lima, José Humberto. No ritmo do coração/ José Humberto Lima -Itu (SP) :Editora Rosa Rosé, 2015. 134p. ; 17cm. ISBN 978-85-65504-58-4 1. Juvenil. 2. Romance. I. Título. CDD 870 CDU 82-3 ________________________________________________ Copyright – Todos os direitos reservados
Ao meu filho Davi e à minha querida esposa, Silvana, que além de gostar do que escrevo, compreende que não é possível eu estar o tempo todo ao lado deles. À Juliana Maringonni pelos cursos que foram importantíssimos para mim, e por seus comentários que me ajudaram a abrir a imaginação, e em especial ao professor Bruno Coelho, que me encorajou a dar esse primeiro passo.
Sumário Prefácio.........................................................8 Adeus férias................................................11 Sinta o som.................................................19 Aceite aos elogios......................................35 Saudades, somente do que foi bom........42 Ame-se e ame.............................................54 Amigo é tudo de bom...............................64 Nem tudo é só festa..................................72 Beijo barrado..............................................89 Escolha o que te agrada............................96 O amor......................................................100 Não deixemos de enxergar....................106 Eu te amo.................................................112 A aurora....................................................117 Final...........................................................126
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Prefácio Meu caro José, Pensei em escrever o prefácio do seu livro, mas logo o que me vem à cabeça é aquela citação do Pe. Vieira lembrando-se de Quintiliano: “as grandes coisas não hão mister exordio”. Ao invés de me ocupar em escrever o texto que abrirá o seu livro, fico pensando nessa frase... As grandes coisas não precisam de uma introdução... Ah! Agora entendo porque as palavras do Padre vieram me incomodar. Porque quero apropriar-me delas e oferece-las ao seu livro. Mais do que a seu livro, quero oferece-las a você, mas não as exatas palavras que o sacerdote da nossa Língua nos deu. Quero fazê-las minhas para dizê-las: Para as coisas grandiosas, não é necessário um prefácio. Sim, José, grandiosas. A grandiosidade é um valor, não uma estatura que se meça. Há nessa sua novela 8
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um valor que vem de fora para dentro e volta para fora. Há o peso de sua história, uma história sua, com as palavras e com a expressão que você conquistou. Ináres, Márcia e Golias são todos seus. Mas agora são nossos também, assim como sua história, uma história sua, com as palavras e com a expressão que você conquistou. Em sua novela é sempre o tempo presente. O passado é sempre trazido para o presente e as ações são simultâneas à leitura. O que acontece com as personagens são sempre vistas no agora e o final, o seu presente, é sempre uma instância do futuro. (Suspeito que eu tenha escrito o seu prefácio). Bruno Henrique Coelho, formado em Letras - CEUNSP, especialista em Teorias Linguísticas e Ensino pela FCLAr - UNESP
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... três, dois, um... Antes que a música comece, peço encarecidamente licença para poder contar sobre como toquei cada pessoa desta história. E de todos um foi especial... me parecia tão desprovido de mim, sutilmente o toquei, e dele emanou uma nota que confesso, não esperava aquele doce timbre, quão maravilhoso foi saborear aquela vertiginosa ondas de sons, que aguçavam e faziam vibrar os sentidos, e perguntei a mim mesmo, “será que fiz a coisa certa?”. Não importava mais... não importava mesmo... porque já estava feito. ♪♪♪ 10
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Adeus Férias Se para alguns as férias deveria ser o ano todo, para Golias e sua turma, já tinha passado da hora de terminar.
Era verão, o sol se adiantou alguns minutos, pegou seus cadernos pôs em sua mochila e, igualmente fez Golias. Não importava se fora dormir tarde, devido à festa que participou, na noite passada no bar do seu Alfredo, junto com seus pais, Flávio e Dalila, e alguns amigos da escola dele e de Seven, filho de seu Alfredo. Enquanto todos se divertiam dançando, comendo salgados e tomando alguns refrescos ou cervejas, dois homens conversavam baixinho:
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– Ele é seu filho... ele tem o direito de saber quem é o pai dele... – fala o homem com o refresco na mão. – Você pensa que é fácil... depois de todos esses anos... falar que eu sou o pai dele... – responde o outro, dando um bom gole de cerveja. – Aproveite que ele vai tocar guitarra, e diga o quanto o ama, ele vai te entender... pode acreditar nisso... – fala o homem olhando seu Alfredo com uma bandeja de salgado, vindo ao seu encontro. – A Dalila não quer... um dia eu estava pronto para lhe contar tudo, e ela me convenceu a não dizer nada. – fala o outro, pegando uns dois salgados da bandeja, e olhando o palanque, que estava na sua frente. – Bom você é quem sabe... agora vamos, que ele vai começar a tocar. Paul sobe no palanque que estava encostado na parede do lado do balcão de 12
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atendimento, e apresenta o garoto que irá tocar guitarra. Ele aprendeu a tocar aquele instrumento muito rápido, em menos de um ano já tocava tão bem quanto Paul, que este sentia orgulho do menino, que passou a deixar tocar em algumas festas no lugar dele. No momento em que a guitarra produziu o solo e o dedilhado, o homem põe o copo de cerveja em cima da mesa, e se dirige para o lado de fora do bar, apreciando a beleza daqueles acordes que dominaram todo ambiente e também o seu coração. O instrumento parecia dizer, o quanto seu dono sentia a falta de um pai, e à medida que as notas formavam uma belíssima melodia a qualquer ouvido, os olhos daquele homem iam formando em sua face uma grande partitura molhada. Desejava sair correndo, mas seus pés negavam-se a obedecê-lo. Prendeu o choro com as mãos, e correu ao banheiro, 13
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depois lavou sua face, e olhando para o espelho, decidiu que em breve, independente de Dalila, ele contaria toda a verdade ao guitarrista, não sabia como aquilo tinha acontecido com ele, porque era contra aquela atitude, na qual ele era vítima e cúmplice. Ao sair viu uma menina com camisa azul, muito linda, desfilando para a saída do bar, pensou em cumprimentála, mas teve dúvida se a conhecia ou não.
♪♪♪
Golias sempre fora um dos primeiros a chegar à escola, e como aquele era o último semestre de aula, acordou seus pais mais cedo, com as lembranças ainda frescas da festa da noite passada: do garoto vesgo tocando sua guitarra, de mais uma vez queria espancálo, mesmo quando Paul havia deixado 14
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bem claro que ali não era a escola e o rei era ele, Paul, e se algo acontecesse ao guitarrista, Golias iria se arrepender de ter nascido. E de uma menina loira, com uma camisa da cor do mar, que passou bem próximo dele, tentou acompanhar os passos dela, mas os perdeu, quando ela virou a esquina. Esforçou-se para se concentrar naquele dia, em que as aulas voltavam, porque se no bar do seu Alfredo, o senhor Paul era quem dava as cartas, lá era ele... gostava de ver todos orbitando sobre ele, e para que isso acontecesse não foi fácil, teve que brigar com um garoto bem mais forte do que ele. Mas quando Golias estava numa briga ficava irreconhecível, e só parava quando seu adversário estava no chão sangrando. Rapidamente formou uma turma de garotos, que eram bons de briga como ele. E todos da escola passaram a temer Golias.
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Sempre depois das férias no primeiro dia, antes que todos chegassem, Golias e sua turma estavam bem no centro do corredor, recebendo os cumprimentos da maioria dos alunos. Sentia-se o sistema onde todos deveriam obedecer, as meninas se encantavam por aqueles olhos azuis, o corpo musculoso e a voz doce.
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– Filho, filho acorda... vamos... vai se atrasar para aula. – Eu não quero ir à escola mãe, não quero voltar lá! – Vamos filho... se não chego atrasada no serviço. – Droga de escola... droga de escola... – ele fala olhando as sacolas em cima do seu criado. 16
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– Mãe, o que são essas sacolas? – Foi o senhor Flávio, que passou ontem aqui, e deixou em homenagem a primeira festa que você tocou? – E essa outra sacola mãe? – fala sorrindo, morrendo de saber o que era. – Pare de graça Ináres... são seus cadernos e uma mochila nova que comprei, aquela já estava na hora de trocar. – ela falava, coando o café, que dominava todos os cômodos da casa, com seu aroma. – Que tal mãe? - Ináres fala mostrando o presente, que ganhou do senhor Flávio, puxa uma cadeira, e ao sentar-se continua a falar – De todos os presentes de hoje, essa camiseta é a melhor... como ele sabia que eu gostava dessa banda. – Vamos dizer que a pessoa que o chamou para tocar na festa, e que também gosta de guitarra, deu uma dica...
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– ela fala olhando o filho levando o pão até a boca, e em seguida a xícara de café. – Já sei. Tem cabelos grisalhos, que imagino que não penteia, sempre usa uma camiseta como está, com quatro Jovens, e parece não ter medo de nada... – Quem é? – a mãe fala sorrindo. – Só pode ser o senhor Paul. – ele fala olhando a mãe retirando as coisas do café. – Exatamente... – agora vamos, você precisa estudar e eu trabalhar.
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