Revista Fundações & Obras Geotécnicas - Ed. 72

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Revista FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS www.rudders.com.br

Ano 7 Nº 72 R$ 27,00

Setembro de 2016

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Ano 7 – Nº 72 – Setembro de 2016

COMPLEXO ETILENO XXI UTILIZA TÉCNICA DE MELHORAMENTO RÁPIDO DE SOLOS MOLES POR MEIO DE DRENOS A VÁCUO ANÁLISE DOS BENEFÍCIOS DAS MISTURAS MORNAS COM ADITIVO SURFACTANTE LÍQUIDO




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Ano 7 – No 72 –SETEMBRO 2016

DIVULGAÇÃO DOS CONCORRENTES – 5º PRÊMIO MILTON VARGAS Nessa edição trazemos a relação de concorrentes do 5º Prêmio Milton Vargas para que você possa acompanhar os trabalhos e os profissionais que disputam o troféu em uma das seis categorias existentes na premiação. A quinta edição que deveria ter ocorrido no ano de 2015 foi cancelada devido a ausência de recursos financeiros para a sua realização, mas esse ano ocorrerá juntamente com a sexta edição que terá sua cerimônia de entrega no dia 24 de novembro de 2016, das 17h às 22h, na avenida Queiroz Filho, 1700 – CEP: 05319-000 – São Paulo, SP (Auditório). O Prêmio Milton Vargas foi criado como forma de homenagear o engenheiro Milton Vargas, pelo seu pioneirismo na área de mecânica dos solos no Brasil. Promovido pela Editora Rudder e pela revista Fundações & Obras Geotécnicas, a premiação tem como objetivo premiar os melhores trabalhos técnicos publicados e obras descritas pela revista durante o ano anterior ao ano da publicação, considerando as características de contribuição para o avanço da prática da engenharia e inovação dos trabalhos. Os trabalhos que irão concorrer à 5ª Edição do Prêmio Milton Vargas estão inseridos em uma das seis categorias e foram publicados entre as edições de número 48 e 59 da revista. Os objetivos do Prêmio Milton Vargas são: estimular a criatividade e a originalidade dos profissionais do setor, bem como a divulgação dos trabalhos e inovação no meio, mediante a criação de projetos que gerem tendências, livres de preconceitos, cópias e propiciando oportunidades, inclusive, de implantação consecutiva no segmento da engenharia civil. Etapas: 1ª Etapa: A Comissão Julgadora avaliará previamente os projetos recebidos e, conforme os critérios estabelecidos, definirá 01 (um) vencedor para cada categoria (com exceção da Categoria “Fundações” que premiará três colocações). 2ª Etapa: Durante a cerimônia de entrega dos prêmios serão anunciados os vencedores, assim como será feita a entrega dos troféus e dos certificados. Avaliação: Os critérios de avaliação adotados pela Comissão Julgadora do Prêmio Milton Vargas são: (i) Originalidade e criatividade na utilização da solução proposta e seu grau de inovação; (ii) Adequação aos temas e características exigidas pelas categorias da premiação; (iii) Relevância de sua aplicação no segmento de fundações e geotecnia; (iv) Potencial de aplicabilidade da solução proposta; (v) Relevância da trajetória descrita para o segmento (especificamente para a categoria “Profissional do Ano”); As decisões emanadas pela Comissão Julgadora do Prêmio Milton Vargas, inclusive para definir outros critérios de avaliação, os quais entender aplicáveis e necessários, bem como em toda e qualquer interpretação a ser dada a tais critérios, serão soberanas e irrecorríveis. Havendo empate entre dois ou mais semifinalistas, o critério de desempate entre eles será definido pela própria Comissão Julgadora do Prêmio Milton Vargas. Da redação 2 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


SUMÁRIO

Ano 7 – Nº 72 – Setembro de 2016

26 |

42 |

66 | 05 | Coluna do conselho

38 | Arteris investe mais de 8

08 | Destaque – Evento

milhões de reais em projetos de manutenção preventiva

destaca o uso de geossintéticos no setor de mineração

40 | Workshop sobre solo

12 | Notas

grampeado é realizado em São Paulo

16 | Entrevista – Roberto

42 | USO DE

Kochen

22 | História 26 | REPORTAGEM – Complexo Etileno XXI utilizou técnica de melhoramento rápido de solos moles por meio de drenos a vácuo

34 | Opinião

GEOSSINTÉTICOS E CPR GROUTING ajudam

a solucionar dificuldades em solos moles

48 | Artigo – Análise dos Benefícios das Misturas Mornas com Aditivo Surfactante Líquido

54 | Artigo – Reaproveitamento de material fresado em acostamentos de rodovias 60 | Em Foco – Estaca metálica helicoidal

66 | O QUE HÁ DE NOVO – Plataforma informativa abrange controle de normas e regulamentos técnicos

68 | Geotecnia Ambiental – Startup auxilia empresas no descarte correto de resíduos sólidos

72 | Livro 73 | Agenda


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Associações que apoiam a revista

www.rudders.com.br Fundador e idealizador Francisjones Marino Lemes (in memoriam) Coordenação editorial e marketing Jenniffer Lemes (jenni@rudders.com.br) Colaboradores Gléssia Veras (Edição); Dellana Wolney, Dafne Mazaia (Texto); Rosemary Costa (Revisão); Elisa Gomes (Arte); Melchiades Ramalho (Artes Especiais) Contatos Pautas: glessia@rudders.com.br Assinaturas: assinatura@rudders.com.br Publicidade: publicidade@rudders.com.br Financeiro: financeiro@rudders.com.br Foto de capa Divulgação Braskem Impressão Gráfica CompanyGraf Importante A Revista Fundações & Obras Geotécnicas é uma publicação técnica mensal, distribuída em todo o território nacional e direcionada a profissionais da engenharia civil. Os artigos assinados são de expressa responsabilidade de seus autores e não refletem, necessariamente, a opinião da revista. Todos os direitos reservados à Editora Rudder. Nenhuma parte de seu conteúdo pode ser reproduzida por qualquer meio sem a devida autorização, por escrito, dos editores.

A revista Fundações & Obras Geotécnicas segue o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Esta publicação é avaliada pela QUALIS, conjunto de procedimentos utilizados pela CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e encontra-se atualmente com classificação B4.

IMPORTANTE: as seções “Coluna do Conselho”, “Artigo”, “Geossintéticos” e “Opinião” são seções autorais, ou seja, tem o conteúdo (de texto e fotos) produzido pelos autores, que ao publicarem na revista assumem a responsabilidade sobre a veracidade do que for exposto e o devido crédito as fontes utilizadas.

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COLUNA DO CONSELHO

COMPROMETIMENTOS ESTRUTURAIS DE EMPREENDIMENTOS INSTALADOS EM ORLAS MARÍTIMAS OU MARGENS DE RIOS Com o avanço da urbanização, e da ocupação utilitária do território brasileiro, tem se multiplicado o número de empreendimentos instalados na orla marítima e em margens de rios, com destaque à expansão urbana propriamente dita, portos, píeres, complexos turísticos, dutos, obras viárias e cabeceiras de pontes. Nessa mesma proporção tem aumentado a frequência de graves eventos destrutivos associados à ação de elementos naturais da dinâmica geológica costeira e da dinâmica geológica fluvial sobre os referidos empreendimentos. No que diz respeito à orla marítima, a ocorrência de fenômenos erosivos (recuo da linha de costa) ou progradativos (avanço da linha de costa) é geologicamente natural, devendo-se à interação de fatores continentais, como o aumento ou a redução do fornecimento de sedimentos, e de fatores marinhos, como alterações sazonais do nível do mar, mudanças na dinâmica de ventos, temperaturas e correntes marinhas etc. A possibilidade de um aumento do nível dos mares como consequência de processos de aquecimento global seria um potencializador trágico dos problemas descritos, mas essa eventualidade não é hoje considerada como seu atual fator causal. O único elemento novo atuante nessa complexidade de processos costeiros é a progressão da ação direta do próprio homem, especialmente através do incremento (processos erosivos e assoreadores continentais) ou da supressão do fornecimento de sedimentos (caso de barragens cujos reservatórios retêm os sedimentos que normalmente seriam levados ao oceano). Em menor escala, mas importante localmente, as intervenções humanas na construção de obras marinhas, como diques, quebra-ondas, quebra-mares, espigões, também podem provocar, ao contrário, ou além de seus esperados objetivos, alterações de extremo risco para toda a orla próxima. 5 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Arquivo pessoal

ÁLVARO RODRIGUES DOS SANTOS

Quanto às margens de rios observa-se um acréscimo considerável de eventos destrutivos associados a fenômenos naturais, como é o caso das terras caídas na bacia amazônica, e a fenômenos induzidos por algum tipo de ação humana, como o aumento brusco de vazões decorrentes do maior e mais rápido aporte de águas de chuva advindos da elevação do Coeficiente de Escoamento Superficial proporcionada pela expansão das cidades e pela extensão das áreas rurais deflorestadas, como também obras diretas que alteram substancialmente a dinâmica fluvial, a exemplo de barramentos, derrocamentos, alargamentos, retificações de curso, implantação de diques, eclusas etc. Em ambos os casos, ou seja, em orlas marítimas e margens fluviais, tem-se percebido um fator comum nos eventos destrutivos que se repetem, a ausência ou a insuficiência da consideração de elementos da dinâmica costeira e/ou da dinâmica fluvial nos projetos dos empreendimentos afetados ou causadores. O caso do acidente da ciclovia Tim Maia, na cidade do Rio de Janeiro, onde o projeto não teve em devida conta os eventuais impactos de ondas de ressaca sob o tabuleiro da pista, simboliza perfeitamente o

infeliz corriqueiro deslize técnico da ausência de consideração das referidas dinâmicas. A situação descrita aponta para a conveniência de duas providências. A primeira diz respeito à obrigatoriedade dos municípios litorâneos e ribeirinhos contarem em seu planejamento urbano com as determinações expressas em uma carta geotécnica municipal, que certamente delimitaria as faixas contíguas às orlas marítimas ou margens de rios que não possam ser de forma alguma ocupadas, assim como aquelas que possam ter algum tipo de ocupação desde que obedecidos certos critérios técnicos predefinidos. A segunda providência diz respeito à adoção de uma legislação que torne obrigatória para a aprovação de projetos de empreendimentos situados em orlas marítimas e margens de rios a apresentação de um parecer técnico elaborado por especialistas em dinâmica costeira ou dinâmica fluvial. Sobre essa última providência a referida legislação poderia, por exemplo, envolver empreendimentos situados em uma faixa de 200 m contados a partir da linha (cota) definida pela maré alta de sizígia, e no de margens fluviais, faixas de 50 m contados a partir da linha definida pelo nível mais alto de seu leito regular para cursos d’água de até 10 m de largura, de 100 m para cursos d’água entre 10 m e 50 m de largura, e de 200 m (duzentos metros) para cursos d’água com mais de 50 m de largura.

Álvaro Rodrigues dos Santos é geólogo, ex-diretor de Planejamento e Gestão do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) e atualmente trabalha como consultor em Geologia de Engenharia e Geotecnia e como diretor-presidente na empresa ARS Geologia Ltda. Também é autor dos livros “Geologia de Engenharia: Conceitos, Método e Prática”, “A Grande Barreira da Serra do Mar”, “Diálogos Geológicos”, “Cubatão”, “Enchentes e Deslizamentos: Causas e Soluções”, e “Manual Básico para Elaboração e Uso da Carta Geotécnica”.


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DESTAQUE

EVENTO DESTACA O USO DE GEOSSINTÉTICOS NO SETOR DE MINERAÇÃO Simpósio reuniu especialistas internacionais que abordaram técnicas recentes e casos de obra

A empresa TDM juntamente com o apoio da ABMS (Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica) realizou no auditório do Renaissance Work Center, em Belo Horizonte (MG), no dia 7 de julho, o 1º Simpósio Mineiro de Geossintéticos TDM 2016. O objetivo da comissão organizadora foi apresentar, neste evento inédito, as diferentes técnicas de construção com geossintéticos, novos produtos e aplicações, casos de obras e principalmente opções para substituição de soluções técnicas convencionais em mineração por geossintéticos de forma responsável. Especialistas nacionais e internacionais da área estiveram presentes, como o diretor da empresa TEC3 Geotecnia e professor na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), Aloysio Saliba; a consultora em geossintéticos da empresa GI Engenharia, Indiara Giugni; o engenheiro especialista da TDM Chile, Luis Tobar; o diretor da empresa Tensar International (EUA), Mark Wayne, o gerente-geral da empresa Anddes Associados no Perú, Denis Parra e o diretor do Geosynthetic Research Institute, George Koerner. O engenheiro e gerente técnico da empresa TDM Brasil, Carlos Centurion conta que desenvolver um evento em que os temas apresentados fossem de relevância e interesse para os seus clientes foi desafiador. “A comunidade técnica de geossintéticos no Brasil tem hoje uma qualificação muito alta, desta forma, a exigência de elaborar um conteúdo relevante esteve sempre presente durante a organização do simpósio”. Entretanto, ele acredita que o desafio foi superado e que as propostas e os objetivos foram cumpridos com sucesso, pois a comissão organizadora esquematizou que os temas fossem definidos em função das principais necessidades dos clientes da TDM Brasil, e para estruturar as palestras muitos responsáveis de engenharia da maioria das empresas projetistas e mineradoras participantes foram consultados. 8 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Fotos: Divulgação TDM Brasil

Por Dellana Wolney

O 1º Simpósio Mineiro de Geossintéticos TDM 2016 reuniu cerca de 140 participantes

A ideia de realizar o simpósio veio no final de 2015 após uma conversa entre amigos. Centurion relata que o assunto tratado era sobre a aplicação de geossintéticos em fechamento de depósitos de rejeitos. Eles apresentaram fo-


tos de projetos similares executados na América Latina, e foi nesse momento que sugeriram fazer algum evento que permitisse levar aos especialistas locais parte da ampla experiência da empresa patrocinadora no uso de geossintéticos em obras de mineração. “Por meio de contatos, o Núcleo Regional de Minas Gerais da ABMS soube da idealização e ofereceu apoio ao nosso evento. Por fim, a ideia de trazer especialistas internacionais foi resultado do objetivo do evento, que era reunir os principais profissionais com quem temos trabalhado nos maiores projetos de mineração da região. Outro fator importante é que os geossintéticos vêm sendo estudados há muitos anos no hemisfério norte, por isso os líderes em desenvolvimento destes materiais no mundo encontram-se nos Estados Unidos ou na Europa”, justifica Centurion.

PALESTRANTES A primeira apresentação “Aspectos Conceituais e Problemas em Estruturas de Drenagem em Mineração” foi ministrada pelo professor Aloysio Saliba, que descreveu as necessidades das estruturas de drenagem de uma mina e comentou sobre os critérios de dimensionamento e procedimentos de construção, operação e manutenção que precisam incorporar fatores que levam em consideração as características destas estruturas. “Elas são dinâmicas, devido às áreas de contribuição que são grandes e mudam continuamente, além de operarem em condições bastante severas. Neste caso, os geossintéticos são usados nas obras de proteção temporárias, nas transições para evitar as poropressões, na estruturação dos revestimentos, nas transposições de acessos (bueiros) e nas soluções de microdrenagem (combate à erosão)”, esclarece Saliba. Na palestra “Tensar Mining: Applications, Design Examples and Cases”, o engenheiro e diretor de tecnologia de aplicação da Tensar International, Mark Wayne falou sobre a resistência a longo prazo, durabilidade, danos de instalação e parâmetros para projetos de muros com geogrelhas Tensar, bem como as etapas de aplicação em muros escalonados com face praticamente vertical (86º). Sobre a aplicação de geogrelhas em mineração, ele enfatizou a verificação do desempenho deste produto em estradas com tráfego de cargas pesadas, citando os principais casos de obras vivenciados pela empresa. Em seguida, o engenheiro e subgerente do Grupo TDM – CQA & Services, Luis Tobar apresentou a palestra intitulada “Provas Geoelétricas para Detecção de Vazamentos”. Ele destaca que o método geoelétrico para detecção de vazamentos deve acompanhar os serviços de instalação da geomembrana. Este sistema de detecção de vazamentos pode ser aplicado em geomembranas expostas (Leak Location Survey), por meio de quatro métodos: water lance, water puddle, spark test/capacitance e arc test. Segundo Tobar, para cada 9 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Palestrantes durante o simpósio organizado pela empresa TDM Brasil e pela ABMS


Participantes no 1º Simpósio Mineiro de Geossintéticos

método há uma norma ASTM (American Society for Testing and Materials) específica.

GEOSSINTÉTICOS NA MINERAÇÃO Muitas vezes as operações de mineração estão situadas em locais remotos, em que o acesso é problemático devido à topografia do terreno e à geologia da região, juntamente com o carregamento em excesso, devido ao maquinário e caminhões de mineração de alta capacidade. Com esses fatores, pode ocorrer um efeito dramático na viabilidade econômica 10 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

do local de mineração, caso alguma solução de engenharia de custo efetivo não seja proposta para o projeto e construção de todas as obras de infraestrutura. A inclusão de geossintéticos neste tipo de situação pode fornecer a função de contenção e reforço. Para abordar o tema de uma forma mais detalhada, o engenheiro, gerente-geral da empresa Anddes e professor associado da Universidade Nacional de Engenharia (Lima, Peru), Denys Parra falou sobre “Geossintéticos para Impermeabilização e Drenagem de Depósitos de Estéril, Barragens de Rejeitos e Pilhas de Lixiviação”. Na primeira parte de sua palestra, ele discorreu sobre os geossintéticos mais usados na mineração citando o uso da geomembrana em barragem de rejeitos, pilhas de lixiviação, lagoas de solução e encapsulamento de material estéril para mitigar a drenagem ácida. Ele também citou os tubos de PEAD (Polietileno de Alta Densidade) empregados na coleta de águas subterrâneas, coleta e condução de solução do processo, detecção e monitoramento de vazamentos. “O geotêxtil em filtros de subdrenagens também são utilizados para a proteção de geomembrana, estabilização e controle de erosão, e o GCL (Geosynthetic Clay Liner) é empregado em barreira composta com a geomembrana e em encapsulamento de material estéril”, explica Parra, que também exemplificou a instalação da subdrenagem para coleta da água subterrânea, a instalação dos geossintéticos citados e os métodos de detecção geoelétrica de vazamentos. Já o engenheiro e gerente-técnico da TDM Brasil Carlos Antônio Centurion, apresentou casos de obras da TDM que empregaram geossintéticos em trabalhos de mineração, envolvendo mantas para proteção contra erosão; tubos de PEAD; acesso sobre solo mole; reforço de fundações; muros e aterros de solo reforçado com geogrelhas; uso de geocélulas para aterro sobre solo mole e bolsas para filtragem e secagem de lodos. As duas últimas palestras foram: “Utilização de GCL em Obras de Mineração”, em que a engenheira e consultora em Geossintéticos da empresa GI Engenharia, Indiara Giugni descreveu as principais características do GCL (Geosynthetic Clay Liner – Geocompostos Bentoníticos) e os tipos de bentonita usada na sua fabricação e, “Heap Leach Mining with Geomembranes” ministrada pelo diretor do Geosynthetic Research Institute, George Koerner que fez uma retrospectiva do uso e durabilidade dos geossintéticos em mineração, explicando o seu conceito, categorias e os insucessos (rupturas) de pilha de lixiviação.

REFLEXÃO O encerramento e o sucesso abriu espaço para uma reflexão da disseminação dos geossintéticos no Brasil. O engenheiro Carlos Centurion diz que este material vem sendo usado


efetivamente em diversos tipos de obra, o que para ele tem relação direta com o trabalho de divulgação realizado pela indústria, pelas organizações como a IGS-Brasil e a ABMS, e também pela cobertura dos principais veículos de comunicação especializados. Com tantos casos de obras desenvolvidos com êxito, Centurion reflete: “os engenheiros mais conservadores do setor ao verem tantas obras de sucesso devem se auto-questionar por não utilizarem geossintéticos para reduzir os custos da sua obra. Por que, por exemplo, não substituir 50 cm de argila por um GCL e reduzir o impacto ambiental nas jazidas? Os que não se perguntam isso são os mesmos clientes que exigem economia e soluções eficazes”. Ele acrescenta que o uso de geossintéticos é uma tendência crescente e que não pode ser evitada pelos especialistas, pois se eles não estão em condições de melhorar custos com o uso de geossintéticos nos projetos dos seus clientes, outra empresa ou especialista poderá fazê-lo, tornando isto um motivo de competitividade e sobrevivência no mercado, porém não significa que os geossintéticos sejam a solução para tudo, apenas são alternativas válidas a serem avaliadas e consideradas.

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O simpósio contou com a participação de 140 profissionais de empresas mineradoras e projetistas do setor, o que elevou o nível do evento com participações e perguntas relevantes. Por esse motivo, os palestrantes foram cuidadosamente selecionados para apresentar temas-chaves que complementariam os conhecimentos dos clientes da TDM e dos outros participantes. “As palestras mostraram o que a TDM e seus parceiros estratégicos têm feito ao redor do mundo e reforçou a mensagem de que a técnica e a responsabilidade estão sendo aplicadas por nossa engenharia em projetos desafiadores aqui no Brasil. Esse é o primeiro de muitos simpósios de geos­sintéticos focados em mineração que vamos patrocinar”, garante Carlos Centurion. Ele informa que este formato focado em mineração será realizado a cada dois anos, sempre com a participação de renomados profissionais brasileiros, mas também com a participação das principais referências mundiais em geossintéticos. Adicionalmente, está nos planos da TDM Brasil organizar no próximo ano a primeira edição do simpósio de geossintéticos focado nos setores de infraestrutura e construção, sob o mesmo padrão e formato, porém no estado de São Paulo.


NOTAS

Encontro debate obras metroviárias em andamento em São Paulo

Promovido pelo Instituto de Engenharia, o evento “Encontro com o Metrô SP – Obras em Andamento, Concessões e PPP (Parceria Público-Privada)” ocorreu em 26 de julho, na instituição, em São Paulo (SP). Devido à repercussão do primeiro encontro, realizado em novembro de 2015, diversos pleitos foram encaminhados ao poder público e os participantes ansiaram por saber mais a respeito dos programas de investimento, dos estágios dos projetos de expansão, das obras em andamento, assim como as concessões e parceiras público-privadas que podem ser geradas. Com a presença de 189 pessoas e transmitido em tempo real pela internet, o evento teve a participação da diretoria da Companhia do Metrô (Metropolitano de São Paulo), com o objetivo de conhecer a situação atual dos empreendimentos metroviários em curso. O encontro possibilitou o debate com a comunidade técnica e empreendedores, além de permitir a análise das perspectivas de negócio que abrangem a estruturação e a modelagem de projetos de parceria com o setor privado. Entre os principais assuntos explorados pelos participantes, destacaram-se os entraves ao prosseguimento das obras do Metrô, além das questões relacionadas à expansão da rede metroviária, sobretudo das Linhas 6 (de cor laranja, que abrangerá Brasilândia, zona norte da capital, à região central) e 18 (chamada de Bronze, que ligará a região conhecida como ABC – que compreende as cidades de Santo André, São Bernardo e São Caetano – à região central da capital de São Paulo). De acordo com o diretor do Departamento de Engenharia de Mobilidade e Logística do Instituto de Engenharia e coordenador do evento, Ivan Whately, foram levantadas questões relacionadas aos obstáculos de administração e financeiros para a expansão da infraestrutura de transportes. “Os participantes do evento se surpreenderam com informações referentes ao polêmico andamento das obras metroviárias que enfrentam desafios administrativos e financeiros para expansão da infraestrutura de transportes, mas que também aproximam novas perspectivas em busca das soluções de otimização dos recursos financeiros e ações que 12 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Gléssia Veras / Editora Rudder

Evento ocorreu em julho e também colocou em pauta as perspectivas atuais e os projetos de parceria com o setor privado

envolvam contratos de obras públicas, contratos de PPPs e contratos de concessão”, relata. Conforme Whately, as principais obras que estão em curso são as pertencentes às Linhas 4 (quando finalizada, ligará a estação Luz à Vila Sônia), 5 (que funcionará de Capão Redondo à Chácara Klabin), 6 e 15 (que se estenderá do Ipiranga ao bairro Cidade Tiradentes), 17 (que ligará a estação Morumbi até Congonhas), 18 e 2 (quando ampliada, a Linha Verde irá da Vila Madalena até Guarulhos). O coordenador do evento informou que os riscos geológicos-geotécnicos, que não eram o foco do encontro, de algumas linhas ficaram sob a responsabilidade do Metrô e de outras, por conta de consórcio privado. “Nas Linhas 4, 5, 15 e 17, em que a execução é de responsabilidade exclusiva do Metrô, todos os riscos geológicos-geotécnicos ficaram por conta da companhia. Já no caso da Linha 6, em que os empreendimentos são implantados por consórcio privado, todos os riscos geológicos-geotécnicos são de responsabilidade deles. E no caso das linhas 18 e 2, ainda paralisadas, os riscos geológicos-


Por Dafne Mazaia

-geotécnicos serão da encargo do empreendedor que vier a implantá-las”, explica Whately. Para Ivan Whately, o conteúdo transmitido durante o evento aproxima os diversos participantes envolvidos no setor. “As informações divulgadas no evento sobre o andamento das obras metroviárias e as perspectivas de soluções otimizadas dos recursos financeiros e das ações que envolvem contratos de obras públicas, contratos de PPPs e contratos de concessão aproximam a comunidade técnica e empreendedores das alternativas de estruturação dos projetos de expansão metro-

viária, que envolvem recursos públicos, financiamentos de agências nacionais e internacionais, além de parcerias com o setor privado”, acredita. A mesa-redonda “Concessões e PPPs”, que ocorreu em novembro de 2015, quando se deu início à discussão no Instituto de Engenharia, com a presença de especialistas e empreendedores do mercado, e o encontro mais recente fazem parte da série de eventos que o instituto almeja realizar, com o propósito de buscar soluções para o desenvolvimento da engenharia nacional.

Abcic realiza evento sobre pré-fabricados e analisa impactos do setor

Realizado em Belo Horizonte, Minas Gerais, o Seminário Regional ABCIC – Estruturas Pré-Fabricadas de Concreto – Sustentabilidade, Produtividade, promovido pela ABCIC (Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto), ocorreu em 23 de junho, com a presença de 130 participantes, dentre eles, engenheiros, empresários da construção civil, arquitetos, entre outros. O evento teve como objetivo informar ao público o que está sendo feito no setor de estruturas pré-fabricadas de concreto, com ênfase na atuação regional. Para a presidente-executiva da ABCIC, Íria Doniak, o evento possibilita uma troca de informações importantes entre os presentes e a escolha da sede do seminário (em Minas Gerais) e reforça a relevância que a região está adquirindo no setor. “O encontro é de grande relevância, pois permite a difusão do conhecimento, o debate de assuntos significativos para o segmento de pré-fabricado de concreto e a área da construção, a disseminação da importância e do uso da construção industrializada e permite a interação entre os participantes. Além disso, a realização do seminário em Belo Horizonte se deve à grande importância que o mercado mineiro vem ganhando 13 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Divulgação Abcic

Seminário foi realizado em junho, em Minas Gerais, e contou com a participação de 130 participantes

no cenário da construção civil nacional e, em especial, no caso do pré-fabricado”, explica. Ao abrir o evento, a presidente apresentou um panorama do contexto atual da utilização de estruturas pré-fabrica-


das de concreto no Brasil e no mundo, assim como ressaltou a importância do Selo de Excelência ABCIC. De acordo com ela, o selo é reconhecido no segmento pela abrangência e pela certificação da qualidade e sustentabilidade setorial e empresarial, além de ser uma espécie de guia, que orienta os profissionais. “O selo se transformou não apenas num importante diferencial de competitividade para as empresas do setor, mas também num guia prático das melhores práticas em termos de normas técnicas, de segurança no fornecimento de produtos e serviços, além de uma garantia de contínuo aprimoramento nas diversas áreas das organizações”, enaltece Doniak. Ela acrescenta ainda que o selo estimula o crescimento das empresas, assim como proporciona credibilidade. “Ele assegura o estímulo para essa constante evolução rumo à excelência das empresas. Além disso, é uma garantia de credibilidade para o setor da construção civil, especificamente para as indústrias de pré-fabricados de concreto, pois transmite ao mercado o conceito de padrão de qualidade e tecnologia alinhados com a sustentabilidade, responsabilidade social e segurança, assim como o atendimento à norma ABNT NBR 9.062 – Projeto e Execução de Estruturas de Concreto Pré-Moldado”, analisa. Durante o evento foram discutidos os aspectos do processo produtivo necessário para se alcançar uma construção sustentável, assunto debatido na palestra proferida pelo presidente do Instituto Falcão Bauer da Qualidade, Roberto José Falcão Bauer. Ele ainda fez considerações sobre o “Manual da Construção Industrializada”, documento lançado pela ABDI (Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial). Após sua apresentação foram exibidos dois estudos de casos de obras projetadas e construídas com estruturas pré-fabricadas de concreto. O primeiro caso foi de um centro de compras em Belo Horizonte, que empregou pilares e vigas pré-fabricadas, além de lajes alveolares. De acordo com o arquiteto e sócio-diretor da BHZ Arquitetura e Vettore Desenvolvimento Imobiliário – empresas responsáveis pelo projeto –, Emmerson Ferreira, a estrutura pré-fabricada de concreto ficou 12% menor do que se a obra fosse realizada com o sistema convencional, o custo final foi menor. O segundo case foi o do projeto do Centro de Logística e sede administrativa da Transpes, em Minas Gerais. O empreendimento utilizou estruturas pré-moldadas de concreto. Conforme os arquitetos da obra, concluiu-se que projetos arquitetônicos arrojados podem ser combinados com o uso de estruturas pré-fabricadas, porque resultam em variados tipos de ganhos. O uso das estruturas pré-fabricadas de concreto e a sua viabilidade sob a ótica do projeto estrutural e sua interface com o projeto arquitetônico, foi um tema apresentado pelo engenheiro da empresa Casagrande Engenharia, João Luis Casagrande, que focou no projeto da Fábrica de Escolas do Amanhã, do Rio de Janeiro (RJ), onde foram construídas 136 escolas em dois anos, com o emprego de 80 mil peças pré-moldadas, num total de 80.000 m³ de concreto. O engenheiro também dissertou sobre os projetos relacionados às obras das arenas para os Jogos Olímpicos Rio 2016, devido à importância do pré-fabricado para a conclusão de projetos com qualidade e dentro do prazo para a realização do evento. Segundo Íria Doniak, o setor de pré-fabricados vem se expandindo no mercado, como pode ser visto pela participação em obras de importância. “Esse movimento de expansão nacional nas soluções protagonizada pelo pré-fabricado pode ser visto em grandes obras de infraestrutura como as dos aeroportos (Brasília, Campinas, Guarulhos e Curitiba), dos BRTs (Bus Rapid Transit) de Belo Horizonte e da Fábrica de Escolas do Rio de Janeiro. O pré-fabricado foi decisivo para viabilizar os cronogramas da Copa de 2014 e dos Jogos Olímpicos Rio 2016”, observa. A ABCIC continuará promovendo mais eventos do tipo. Em setembro, ocorre o 7º Seminário Internacional, com o tema central “Inovação e Gestão Empresarial”, em São Paulo. 14 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


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ENTREVISTA – ROBERTO KOCHEN

DEDICAÇÃO À PROPAGAÇÃO DO CONHECIMENTO E À GEOTECNIA O engenheiro civil também tem sua trajetória marcada por diversas obras importantes no Brasil e no mundo ao longo de sua carreira

Fotos: Acervo pessoal

Por Dafne Mazaia

O engenheiro civil Lavoisier Machado

Estruturas, em 1982, e doutorado em Engenharia de Solos, em 1989, ambos na USP. Em 1991 foi para a Universidade de Toronto, no Canadá, para um programa de pós-doutoramento em túneis em rocha. Ao longo de sua carreira, trabalhou em diversos projetos, como o de fundações para a expansão da Cosipa (Companhia Siderúrgica Paulista), em diversas hidrelétricas como a de Porto Primavera, em Rosana (SP) e Itaipu, em Foz do Iguaçu (PR), assim como já atuou pelo Canadá, no Departamento de Túneis em Rocha, nas hidrelétricas de Ming Tan e Ming Hu, em Taiwan, no túnel do Canal da Mancha, entre a França e a Inglaterra, na mineração subterrânea da mina de Creigthon, no Canadá, entre outras obras. Em 1998, fundou a GeoCompany, empresa brasileira voltada para a área de geotecnia, que realiza estudos, consultoria e projetos para transportes, recursos hídricos, barragens, fundações, entre outros serviços. Também foi professor-doutor do departamento de Estruturas e Fundações da Escola Politécnica da USP por 36 anos. Aposentou-­ se no final de 2014, após lecionar para alunos de graduação, mestrado e doutorado.

COMO SURGIU O INTERESSE PELA ENGENHARIA?

O engenheiro civil Roberto Kochen

Roberto Kochen nasceu 18 de novembro em São Paulo (SP) em 1954. Influenciado pelo pai, decidiu cursar Engenharia Civil. Formou-se na EPUSP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo) em 1977. Fez mestrado em Engenharia de 16 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Desde criança manifestei interesse em brinquedos de montar como miniaturas de aviões, blocos de construir (os precursores do Lego) e passatempos similares. Meu pai era engenheiro civil e também me levava para visitar suas obras de edificações. Na escola, logo me interessei por matemática e assim fui desde cedo me inclinando para a engenharia. Entrei na Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo) e após o curso básico de dois anos tive de optar entre as diversas modalidades da engenharia. As que mais me interessavam eram Eletrônica, Produção e Civil. Acabei optando por Engenharia Civil. Minha primeira referência na área foi certamente o meu pai que era engenheiro civil, construía edificações e na época


em que ele se formou, a engenharia civil era a modalidade com nível mais elevado de atividades no Brasil. Ele fez campanha para que eu optasse por essa área, e me influenciou para isso, talvez esperando que fosse trabalhar com ele após formado, mas me interessei muito por engenharia estrutural, e fui trabalhar em uma grande empresa de consultoria e projetos. Também iniciei um mestrado nesta área, na Escola Politécnica da USP e após dois anos vi que minha vocação era a engenharia geotécnica, muito mais aberta à engenhosidade, e fui trabalhar nesta área.

CONTE-NOS UM POUCO SOBRE A SUA FORMAÇÃO ACADÊMICA. Eu me formei em engenharia civil pela EPUSP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo) em 1977. Logo em seguida fui admitido no programa de mestrado do Departamento de Estruturas e Fundações da EPUSP, tendo obtido o título de mestre em engenharia em 1982, com dissertação sobre o tema “Modelagem Numérica do Adensamento de Solos Saturados”. Em paralelo trabalhei em empresas de consultoria e projetos, e dava aulas em duas universidades, passando logo após o mestrado a lecionar geotecnia na EPUSP. Naquela época era permitido fazer mestrado em tempo parcial, o que possibilitava trabalhar profissionalmente. Logo após o mestrado iniciei um programa de doutorado no mesmo departamento da EPUSP, na área de geotecnia e apresentei tese de doutorado em 1989, sobre o tema “Túneis Rasos em Solo”. Em 1991 fui para a Universidade de Toronto, no Canadá, para um programa de pós-doutoramento em Túneis em Rocha, onde fiquei até 1992. Retornando ao Brasil passei a lecionar em cursos de pós-graduação na EPUSP sobre modelagem numérica, túneis e valas, em acréscimos aos cursos de graduação com meus colegas do Departamento de Estruturas e Fundações. Me aposentei no final de 2014, após 36 anos lecionando em cursos de graduação e pós-graduação, para alunos de graduação, especialização, mestrado e doutorado.

QUAIS SÃO AS SUAS EXPERIÊNCIAS NA ÁREA DE ENGENHARIA CIVIL? Logo que me formei, trabalhei no projeto de estruturas enterradas para o Metrô do Rio de Janeiro. Assim que passei para a área de geotecnia, trabalhei no projeto de fundações para a expansão da Cosipa (Companhia Siderúrgica Paulista), com extensas obras em Cubatão (SP), em regiões de espessas camadas de argilas moles, onde a engenharia geotécnica tinha de atingir limites de excelência para os desafios daquela siderúrgica. Trabalhei também em uma empresa de Consultoria e Projetos, que naquela época era muito grande, em projetos emblemáticos como as hidrelétricas de Porto Primavera, na cidade de Rosana (SP), Tucuruí (PA) e Itaipu (Foz do Iguaçu - PR). Em outra empresa trabalhei no projeto da Linha Paulista de Metrô da Cidade de São Paulo, uma escola da engenharia de túneis. E trabalhei em diversos projetos de túneis nos metrôs de Belo Horizonte, 17 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Duplicação de túnel da ferrovia ALL (América Latina Logística), sob a Rodovia Castelo Branco, em São Paulo, um dos projetos em que Kochen atuou

Início do adensamento rápido com drenos a vácuo no México, em uma obra que o engenheiro trabalhou

entre outras cidades. O segmento de túneis passou a ser o tema de minha tese de doutorado. Em Toronto, no Departamento de Túneis em Rocha, tive a oportunidade de trabalhar em projetos pelo mundo, como as hidrelétricas de Ming Tan e Ming Hu (em Taiwan), o túnel do Canal da Mancha (entre França e Inglaterra), a mineração subterrânea da mina de Creigthon (em Sudbury, Canadá), entre outros. Voltando ao Brasil, tive a oportunidade de trabalhar no Metrô de Brasília, nos túneis sob a avenida Santo Amaro e sob o Ibirapuera, e nos estudos iniciais da Linha 4 do Metrô de São Paulo. Em 1998, fundei a GeoCompany, uma empresa brasileira de atuação internacional, de início voltada a projetos especializados na área de geotecnia e que hoje realiza estudos, consultoria, e projetos multidisciplinares nas áreas de transportes (sistemas viários, metroviários e rodoviários), recursos hídricos (abastecimento de água), barragens, fundações e obras similares. Entre os principais trabalhos destacam-se as rodovias Inte-


O engenheiro inspecionando o Tatuzão do túnel Gastau, o 1º TBM (Tunnel Boring Machine) em rocha do Brasil, localizado entre Caraguatatuba e Taubaté (SP)

Kochen nas obras do túnel sob o Rio Rimac, no Peru, com um engenheiro peruano 18 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


Abertura de túneis laterais para subida dos gasodutos, no túnel Gastau, uma das construções em que o engenheiro atuou

Obras para bombeamento do volume morto da represa Atibainha, em São Paulo

roceânicas Norte e Sul no Peru, o sistema viário Via Parque em Lima (Peru), a Petroquímica Etileno XXI (em Coatzacoalcos, no México), as Linhas 4, 5 e 6 do Metrô de São Paulo, o Gasoduto Brasil-Bolívia, rodovias do DER (Departamento de Estradas de Rodagem) e DERSA (Desenvolvimento Rodoviário S/A) em São Paulo, o túnel Gastau da Petrobras em Caraguatatuba, em São Paulo (o 1º TBM –Tunnel Boring Machines, conhecido como tatuzão – em rocha do Brasil), o túnel da Base Naval de Itaguaí, no Rio de Janeiro (para passagem do submarino nuclear brasileiro), os túneis das Vias Transolímpica e Transoeste no Rio de Janeiro, a avaliação da segurança das cinco barragens do Sistema Produtor Alto Tietê (Taiaçupeba, Jundiaí, Biritiba, Paraitinga e Ponte Nova) em São Paulo, o projeto das fundações do Terminal Pinheiros sobre material escombrado da ruptura lá ocorrida na estação de metrô de mesmo nome, projetos de captação da reserva técnica de água para a SABESP (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) em Atibainha, Jacareí I e Jacareí II, e outras consultorias, projetos e obras ainda em andamento, que deverão ser finalizados em breve.

sionais sem prejuízo do ensino de graduação e pós-graduação na Escola Politécnica.

COMO FOI A EXPERIÊNCIA DE CONCILIAR SUA ATUAÇÃO PRÁTICA NO SETOR COM AS ATIVIDADES ACADÊMICAS? Até concluir o mestrado trabalhava em empresas de consultoria e projetos que me permitiam seguir horários flexíveis. Me ausentava para dar aulas e fazer cursos de mestrado e doutorado, compensando estas horas trabalhando até mais tarde durante a semana e aos sábados. Após voltar do pós-­ doutorado, passei a ter compromissos profissionais em outras cidades e/ou países e tive de contar com o apoio de meus colegas no Departamento de Estruturas e Fundações da EPUSP, remanejando horários de aulas, e contando com alguns deles para me substituir em algumas disciplinas, nas poucas vezes em que não pude retornar a tempo. Agradeço muito o apoio de todos estes colegas, em especial do professor Faiçal Massad e do professor Carlos de Souza Pinto, que possibilitaram a expansão de minhas atividades profis19 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

COMO SE INICIOU A SUA CARREIRA ACADÊMICA E COMO FOI ESSA VIVÊNCIA? Logo que me formei, a carreira de docente me atraia muito, por ver nela uma forma de expandir meus conhecimentos em geotecnia, minha proficiência em comunicação, e em ter contato com alunos e outros professores, numa interação que julgo muito saudável e estimulante. E tendo me formado em uma instituição pública de primeira linha, reconhecida mundialmente, senti que dar aulas era uma forma de retribuir à sociedade o conhecimento que havia tido o privilégio de obter. E esta retribuição foi coroada com o convite do saudoso professor Décio Leal de Zagottis para dar aulas na EPUSP, após alguns poucos anos sendo docente em outras instituições de ensino de engenharia civil e geotécnica. A disciplina que mais me satisfazia era Fundações para a graduação, onde procurávamos despertar o interesse dos alunos com o estudo de casos emblemáticos de fundações, como a Torre de Pisa (Itália), o escorregamento de argilas moles em Rissa, na Suécia, os problemas de fundações na Cosipa, os prédios altos de Santos, todos inclinados em decorrência de recalques secundários significativos, os recalques de edifícios altos na Cidade do México, no México, e outros casos similares. Os alunos ficavam impressionados com estes casos, e isto despertava neles um interesse grande e saudável na Engenharia de Fundações e Geotécnica, o que me deixava muito satisfeito.

DENTRE OS TRABALHOS REALIZADOS QUAIS CONSIDERA DE MAIOR DESTAQUE OU QUE LHE TROUXERAM MAIS SATISFAÇÃO? Tive o privilégio de após iniciar a GeoCompany ter a oportunidade de trabalhar em um grande número de projetos geotécnicos, de grande interesse e que representaram desafios muito importantes. Já citei alguns anteriormente, e tive a satisfação nos trabalhos realizados na avaliação de


segurança e estabilização de encostas nos 2.500 km do Gasoduto Brasil Bolívia, nas encostas das rodovias Interoceânicas Norte e Sul no Peru, no Via Parque em Lima (Peru), na Petroquímica Etileno XXI, no México (onde desenvolvemos sistema de adensamento rápido de solos moles com drenos a vácuo), nas fundações do Terminal Pinheiros, no projeto básico dos túneis e estações da Linha 5 do Metrô de São Paulo, no projeto executivo e acompanhamento técnico de obra do Túnel Gastau em Caraguatatuba, e outros projetos. É importante ressaltar que qualquer projeto, desde a fundação de uma pequena edificação até uma linha de metrô ou grande barragem, merece ser estudado, analisado, projetado e acompanhado com o máximo possível de empenho e conhecimento técnico. É este o princípio norteador de meus trabalhos, e quando não é possível atendê-lo, prefiro recusar o trabalho a fazer algo que não atenda a estes critérios.

PRETENDE ESCREVER ALGUM LIVRO FUTURAMENTE? Minha experiência principal abrange projeto, execução e acompanhamento de túneis, além de barragens, encostas e fundações. O Brasil possui grandes especialistas nestas áreas, além de nomes notáveis, alguns já falecidos, como o saudoso professor Milton Vargas, cuja aposentadoria me possibilitou ocupar o cargo deixado por este engenheiro notável na Escola Politécnica e passar a lecionar nesta honrosa instituição. Penso que vários especialistas brasileiros de renome possam escrever livros em português nestas áreas, e não descarto fazê-lo, embora no momento não tenha como empreender esta tarefa em decorrência do tempo requerido por meus compromissos profissionais. No entanto, mais cedo ou mais tarde terei de me dedicar a esta tarefa, como uma retribuição à sociedade e à engenharia brasileira pelo que aprendi e recebi na minha carreira profissional. É uma forma de difundir estes conhecimentos permitindo que a sociedade se beneficie deles.

QUAIS SÃO OS SEUS PROJETOS FUTUROS? Tenho me dedicado muito ao Instituto de Engenharia de São Paulo, uma instituição centenária (fundada em 1916), que sempre atuou na defesa da engenharia brasileira. Desde 2002 sou diretor de infraestrutura desta instituição, e também a represento na FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). No Instituto de Engenharia organizo palestras, eventos, seminários e mesas-redondas sobre temas relevantes para a sociedade, como a tragédia da ruptura da barragem do Fundão em Mariana (MG), que foi feito em conjunto com a ABMS (Associação Brasileira de Mecânica dos Solos), os planos de expansão do Metrô de São Paulo e a superação da crise hídrica no Estado de São Paulo pela SABESP, para citar apenas os eventos mais recentes. Tenho sido eleito seguidamente para os Conselhos Deliberativo e Consultivo desta instituição, o que me permite atuar em favor da engenharia brasileira e da geotecnia, uma atividade que me dá muita satisfação, em poder 20 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

O engenheiro durante trabalhos de campo dos túneis do ramal do Agreste (obra que vai levar água do Eixo-Leste da Transposição do Rio São Francisco para a adutora do Agreste, no Nordeste)

contribuir para valorizar meus colegas engenheiros. Fui também presidente do Conselho Técnico da UPADI (União Pan-Americana de Associações de Engenheiros), que congrega cerca de 2,5 milhões de engenheiros, por meio de associações similares ao Instituto de Engenharia, em toda a América. Pretendo continuar trabalhando nestas instituições, além do CBT (Comitê Brasileiro de Túneis) e do CBMR (Comitê Brasileiro de Mecânica das Rochas), onde fui presidente. E profissionalmente, mesmo que me afaste da direção-executiva da GeoCompany, vou continuar atuando como consultor em fundações e obras geotécnicas desta empresa e de outras onde possa contribuir tecnicamente para o sucesso de seus empreendimentos.

COM UMA CARREIRA JÁ CONSOLIDADA ATUALMENTE, QUAL AVALIAÇÃO FAZ DA SUA TRAJETÓRIA ATÉ AQUI? Tive a sorte de mesmo com o Brasil enfrentando diversas crises (como a atual), de poder trabalhar em empresas, projetos e empreendimentos, onde pude aplicar os conhecimentos que obtive na Escola Politécnica, uma instituição de ensino exemplar, e que já formou diversos engenheiros notáveis, que contribuíram significativamente para o progresso do Brasil. A crise atual, apesar de sua gravidade, também passará, como as outras passaram, e o Brasil precisará investir em sua infraestrutura de logística, transportes, saneamento, e outras áreas, o que demandará engenheiros qualificados, competentes e dedicados para atender. Então, esta trajetória que tive a oportunidade de seguir e o privilégio de muito aprender com ela, também estará disponível aos engenheiros geotécnicos e civis que persistam e se dediquem a uma carreira técnica. Considero importante notar que na última década houve muita ênfase nas empresas brasileiras de engenharia, em carreiras gerenciais em detrimento das técnicas, e penso que este enfoque é equivocado, que devemos equilibrar ambas as vertentes, técnica e gerencial, para que a engenharia brasileira possa


Kochen durante trabalhos de campo no início da Petroquímica Etileno XXI, no México

Durante o Congresso Pan-Americano de Engenharia da UPADI (Unión Panamericana de Asociaciones de Ingenieros), no México, em 2004

se firmar novamente como uma das melhores do mundo, como foi no passado. Esta sorte e oportunidade de ter trabalhado em vários projetos, empreendimentos e países, com desafios que ultrapassaram a zona de conforto de qualquer um, me deixam muito satisfeito de ter propiciado obter uma experiência que pude transmitir aos meus alunos na Escola Politécnica, e aos profissionais que acompanharam meu trabalho, que dele participaram e com quem trabalhei.

ria geotécnica que muito me impressionou foi o professor Sigmundo Golombek, eminente engenheiro de fundações, que era um grande amigo do meu pai e sempre citado como exemplo de profissional bem-sucedido. Projetou as fundações de mais de 10.000 empreendimentos, entre pontes, edificações e outras obras, tendo permanecido ativo até poucos anos atrás. Na mesma linha não posso deixar de citar o professor Alberto Henriques Teixeira, que permanece atuante em consultoria e projetos, sempre com conceitos, ideias e soluções relevantes de fundações e obras geotécnicas. O professor Décio Leal de Zagottis propiciou o início de minha carreira acadêmica no mestrado da EPUSP, e era uma figura notável na engenharia, tendo chegado a Ministro de Estado em sua carreira. O saudoso professor Milton Vargas foi uma figura notável na geotecnia, destacando-se também pela sua formação humanista. Participou do Centro Interunidade de História da Ciência da USP, foi membro-fundador do Instituto Brasileiro de Filosofia e pertenceu à Academia Paulista de Letras. Seria injusto descrever sua importância em poucas frases, bastando dizer que a revista Fundações & Obras Geotécnicas o homenageia todo ano por meio da concessão do Prêmio Milton Vargas aos geotécnicos de destaque. Devo muito a todas estas referências, pelos seus exemplos de vida e de dedicação à engenharia civil e geotécnica.

QUAIS SÃO AS SUAS PERSPECTIVAS PARA O MERCADO BRASILEIRO DA ENGENHARIA E GEOTECNIA? Como citei anteriormente, o Brasil precisa urgentemente de infraestrutura logística, de transportes, de portos e outras modalidades. Haverá uma necessidade muito forte de expandir linhas de metrô nos centros urbanos, de melhorar nossas rodovias, de implantar ferrovias, de ampliar sistemas de saneamento (de abastecimento de água, de coleta e tratamento de esgotos). Tudo isto nos permite antever uma demanda forte de serviços de engenharia nos próximos anos, pois toda infraestrutura (seja metrô, ferrovias, saneamento etc.) começa na geotecnia, com sondagens, estudos geológicos-geotécnicos, projetos básicos, projetos executivos, acompanhamento técnico, gerenciamento de empreendimentos etc. Assim, as perspectivas do mercado brasileiro de engenharia e geotecnia para os próximos anos me parecem boas, e em alguns países vizinhos onde tive oportunidade de trabalhar nos últimos anos me parecem muito boas também. Em países como Peru e Equador, por exemplo, a carência de infraestrutura é enorme, e as empresas brasileiras precisam se configurar para trabalhar no mercado latino-americano como um todo.

QUAIS SÃO AS SUAS PRINCIPAIS REFERÊNCIAS NO SEGMENTO? Antes de entrar na faculdade, uma referência da engenha21 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

CONTE-NOS UM POUCO SOBRE A SUA TRAJETÓRIA PESSOAL. Logo que me formei, me casei com a Giseli, minha esposa, que sempre me apoiou nos momentos difíceis desta longa jornada de nosso casamento, desde 1979. Tivemos três filhos, o Renato, formado em Marketing, que está atualmente morando em Los Angeles, nos Estados Unidos, e trabalhando lá. A Fernanda, formada em Cinema, e morando atualmente no Brasil e em Israel. E o Eduardo, que se formou em Engenharia de Produção, e mora atualmente em Vancouver, no Canadá.


HISTÓRIA

Obra: A estação Largo Treze de Maio, atual Santo Amaro, na época de sua construção Local: São Paulo / São Paulo Data: Século XX (Conclusão da obra em 1985) FAU / CreativeCommons Estas imagens foram retiradas do banco de imagens Arquigrafia da USP (Universidade de São Paulo) 22 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


Obra: Construção da atual estação de Santo Amaro Local: São Paulo / São Paulo Data: Século XX (Conclusão da obra em 1985) FAU / CreativeCommons Estas imagens foram retiradas do banco de imagens Arquigrafia da USP (Universidade de São Paulo) 23 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


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REPORTAGEM

COMPLEXO ETILENO XXI UTILIZOU TÉCNICA DE MELHORAMENTO RÁPIDO DE SOLOS MOLES POR MEIO DE DRENOS A VÁCUO Inaugurado neste ano, o empreendimento coleciona prêmios internacionais e desafios Por Dellana Wolney 26 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


Fotos: Divulgação Braskem

Como resultado houve um investimento de 4,5 bilhões de dólares no Complexo Etileno XXI que terá capacidade de processamento de 66 mil barris por dia de etano, produzindo anualmente 1,05 milhões de toneladas de etileno, matéria-prima para a produção de 750 mil toneladas de polietileno de alta densidade e 300 mil toneladas de polietileno de baixa densidade. O empreendimento é composto por uma planta de craquea­ mento térmico de etano e três plantas de polietilenos: duas de PEAD (Polietileno de Alta Densidade) e uma de PEBD (Polietileno de Baixa Densidade). A construção do complexo petroquímico ficou a cargo da construtora Odebrecht e os projetos executivos, multidisciplinares, foram feitos por empresas projetistas, dentre elas, a GeoCompany Tecnologia, Engenharia & Meio Ambiente.

TRABALHOS INICIAIS

Imagens aéreas do Complexo Etileno XXI na cidade de Coatzacoalcos, Estado de Veracruz, no México

Após 15 anos de tentativas dos governos mexicanos de instalar uma indústria petroquímica privada no país, o grupo Braskem Idesa inaugurou recentemente o Complexo Etileno XXI localizado na cidade de Coatzacoalcos, Estado de Veracruz, México. Trata-se do maior complexo petroquímico da América Latina, pois abrange uma área de aproximadamente 250 hectares, com as edificações industriais concentradas numa área aproximada de 160 hectares. Embora a Braskem Idesa tenha vencido o leilão para a construção do complexo petroquímico em 2009, a sua construção já havia começado há seis anos. O Projeto Etileno XXI faz parte de resultados da reforma energética e da confiança de empresas que queriam investir no México, tanto que o projeto foi financiado por 17 bancos nacionais e internacionais, incluindo o Banco Mundial, o Banco Interamericano de Desenvolvimento e bancos de desenvolvimento no México e no Brasil. 27 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Já nas primeiras etapas de desenvolvimento e construção, o grande complexo se deparou com desafios, um deles foi desenvolver um projeto executivo de modo a viabilizar que uma região do terreno destinada às unidades de craqueamento de etano (cracker), que deveriam ser instaladas em fundação direta sob uma região de aterro projetado de 10 metros de altura, apoiado em um pacote de solos moles com espessuras superiores a 18 metros e de área superior a 100 mil metros quadrados, suportasse recalques máximos praticamente desprezíveis, da ordem milimétrica, em um tempo médio de construção total de um ano. O projeto executivo de melhoramento de solos foi dimensionado de acordo com os requisitos de projeto estabelecidos pela empresa projetista estrutural das obras civis que previu: obter uma plataforma de trabalho estável para suportar as cargas dos equipamentos de construção durante a implantação do complexo e conseguir, após o término do tratamento de solos, recalques residuais negligenciáveis para a carga do aterro construído. De acordo com o diretor de Administração e Finanças da Odebrecht Engenharia e Construção Internacional, Paulo Levita também foi calculado no projeto atender a capacidade de carga para fundações rasas de 50 kPa com até quatro metros quadrados com recalques admissíveis de 25 mm, e manter as elevações das plataformas preestabelecidas. “Foram desenvolvidos estudos geológicos e geotécnicos extensos para o conhecimento das camadas de solo locais, bem como seus parâmetros necessários para a elaboração do projeto de melhoramento de solos e alteamento dos aterros”, afirma. Os perfis geológicos e cortes estratigráficos obtidos no local indicaram a sobreposição de quatro unidades geotécnicas principais: lutita moderadamente intemperizada (UG-4), lutita fortemente intemperizada (UG-3), lutita intensamente intemperizada (UG-2) e solo residual (UG-1) na superfície. A resistência à penetração do solo era de mínima a nula nas camadas superficiais e em regiões baixas, ocorreu alta resistência à penetração nas camadas menos intemperizadas de lutita. Por fim, o nível d’água se apresentou na camada superficial de solo residual a poucos metros da superfície.


Para a elaboração do projeto, o professor do Departamento de Estruturas e Fundações da Poli-USP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo) e diretor- técnico da GeoCompany Tecnologia, Roberto Kochen conta que foi realizada uma visita técnica à obra que constatou que o local apresentava ondulações suaves, atingindo cotas máximas em torno de 50 m e cotas mínimas em torno de 9 m, sendo que nas partes altas havia solo residual de lutita e nas partes baixas, argilas muito moles a moles, com gênese de alteração de lutita. “A lutita apresenta rocha matriz argilosa, expansiva, com elevada alterabilidade na presença de água. Nos cortes em Lutita Pouco Alterada (UG-1) existe a possibilidade de expansão por alívio de tensões e saturação. Os locais de argila mole apresentam baixa resistência e elevada compressibilidade, havendo sondagens disponíveis em que o índice SPT (Standart Penetration Test) obtido é nulo (a haste afunda por peso próprio), e há relatos de caminhão de sondagem ter afundado e atolado nesses locais, observando a espessura de solo muito mole de até 8 metros”, explica Kochen.

LEVANTAMENTO E PARÂMETROS GEOTÉCNICOS Para a definição dos parâmetros geológicos e geotécnicos da área de interesse, a fim de presumir os dados de entrada do projeto, bem como de ensaios de laboratório e caracterização completos, foram realizadas sondagens SPT e indicadores do nível da água, necessárias para investigar 28 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

em profundidade a região, delimitando-a, e para descrever com maior precisão os parâmetros do solo. Também foram feitos ensaios CPTU (Cone Penetration Test) para uma análise preliminar dos parâmetros de compressibilidade e consolidação das áreas de argila mole. Também foi possível determinar in situ a SU (Resistência Não-Drenada) dos depósitos de argila mole. Para as finalidades de dimensionamento provisório, pois os solos moles passaram por melhoramento de solos por geodrenos a vácuo, a camada de solo mole foi considerada homogênea e sua envoltória de resistência favorável à segurança para o comportamento global da camada de solo mole. Kochen diz que pontos de resistência muito acima ou muito abaixo da tendência geral de resistência não drenada do solo foram desprezados, conforme a boa prática da engenharia, pois não representam o comportamento global do solo. “Por meio dos ensaios CPTU realizados, a resistência não drenada das argilas pode ser aferida em função do local e profundidade, em vez de constante para toda camada de solo mole. É importante notar que a resistência não drenada dos solos moles do Projeto Etileno XXI apresentam parâmetros de mesma ordem de grandeza que os solos moles sedimentares quaternários do litoral brasileiro, especialmente nas cidades de Santos (SP) e Rio de Janeiro (RJ)”, esclarece o engenheiro Roberto Kochen. A resistência não drenada desses solos é mínima e apresenta riscos de rupturas de deslizamentos caso os limites de altea­ mento de aterro prescritos em projeto não sejam respeitados. De forma direta, isso significa que as regiões de grande


espessura de solo mole apresentariam patamares intermediários construtivos, com acompanhamento da instrumentação para prosseguir na construção do aterro definitivo e nas plataformas de trabalho necessárias para a implantação do Projeto Etileno XXI. Nas etapas de sondagens, foram identificados os parâmetros de resistência à penetração simples; estratos de camada de solos; teor de umidade e limites de Atterberg; granulometria e porcentagem de finos; densidades e pesos específicos; módulo de elasticidade e parâmetros de resistência Mohr-Coulomb. Para o dimensionamento de aterro sobre os referidos solos moles, foram obtidos parâmetros de compressibilidade, permeabilidade e resistência não drenada após a campanha de ensaios CPTU. Esses parâmetros geotécnicos foram alcançados e detalhados para dimensionamento e detalhe de engenharia do projeto de Melhoramento de Solos do Etileno XXI, respectivamente: compressibilidade, que é a estimativa dos recalques durante o período construtivo e após a execução da obra; permeabilidade que é a estimativa do tempo de adensamento do solo mole e detalhamento do cronograma de execução dos aterros; resistência não drenada, que determina a resistência do solo mole ao deslizamento, risco evidente nas regiões de maiores espessuras de solo mole e maior espessura de aterro.

SOLUÇÃO ADOTADA Por meio da avaliação geotécnica do levantamento realizado no Projeto Etileno XXI, Kochen afirma que os geodrenos a vácuo 29 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

O COMPLEXO PETROQUÍMICO INCLUI AS SEGUINTES INSTALAÇÕES: • Cracker de eteno a partir de etano, utilizando tecnologia proprietária da Technip; • Duas plantas de polietileno de alta densidade utilizando tecnologia INEOS Innovene; • Uma planta de polietileno de baixa densidade utilizando tecnologia BASEL Lupotech; • Instalações de armazenagem, tratamento de resíduos e utilidades, que incluirá uma planta de cogeração de ciclo combinado de energia e vapor de 150 MW; • Uma plataforma logística multimodal para transporte de 1 milhão de toneladas de polietileno por ano através de trens e caminhões de carga ou ensacados; • Prédios administrativos, de manutenção, de apoio e sala de controle.

foram a melhor solução em termos técnicos e econômicos para este tratamento de solo mole. O dimensionamento realizado estimou o que também foi posteriormente confirmado, que essa técnica demandaria de quatro a cinco meses de consolidação e recalque máximo de 0,97 metros durante a construção das áreas de depósitos de argila mole com maior espessura.


INOVAÇÕES E MELHORIAS: • Uma liga inovadora chamada Centralloy HTE para Schmidt+Clemens (X45NiCrAiNb 45-35-4) foi utilizada nas bobinas do forno de cracker, permitindo uma maior eficiência energética na produção de etileno; • A maior torre de refrigeração de água na América Latina, com 90.000 m³/h de fibra de vidro e 22 células; • As estruturas metálicas da área de polimerização da planta de HDPE (High-density polyethylene – sigla em inglês para Polietileno de Alta Densidade) foram erguidas por meio da modularização para, simultaneamente, pré-erguer estruturas, reduzindo o tempo de construção, custo de máquinas pesadas e mão de obra e quase eliminando o uso de andaimes; • Cerca de 10.650 toneladas de tubulação foram pré-fabricadas; • Empilhamento não estrutural foi desenvolvido para melhorar a estabilidade, dadas as condições pantanosas do terreno; • Recuperação de 90% da condensação dos sistemas de vapor e recuperação de 65% dos efluentes para serem reutilizados na fábrica; • Planta de 160 MW de cogeração utilizando vapor produzido na planta, o que melhorou o desempenho energético.

A baixa permeabilidade dos solos moles do complexo demandou uma sobrecarga adicional para consolidações, o que é mais econômico por meio de geodrenos a vácuo do que de sobrecarga regular de solo, devido as grandes áreas envolvidas. Esta etapa consistiu na inserção de Drenos Verticais Pré-Fabricados feitos de material plástico flexível, cobertos com geotêxtil drenante associados à aplicação a vácuo. Tais drenos são inseridos verticalmente no terreno, com a ajuda de um mandril de aço, cujas seções geralmente são retangulares. Eles podem ser inseridos em solos extremamente moles, em profundidade de mais de 35 metros, dependendo dos equipamentos disponíveis no local. Os canos liberam a carga em um coletor conectado a um sistema a vácuo. Valas são escavadas no perímetro do aterro, de modo que sua base esteja localizada abaixo do nível da água. Em condições ideais é possível induzir a sucção na ordem de 70 kPa em solo mole, o que corresponde à aplicação de uma altura de aterro equivalente a quatro metros, sem riscos de deslizamentos. Segundo Kochen é desejável aplicar um preenchimento de sobrecarga, de modo que a depressão de recalques seja preenchida, além de evitar um retorno a níveis de tensão muito baixos. Os geodrenos a vácuo demandam uma instrumentação própria na construção do aterro para deformação, po30 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

ropressão e outras análises de desvios que possam autorizar procedimentos com a construção do aterro depois de cada etapa de consolidação.

ÊXITO O dreno a vácuo ainda é uma técnica inovadora e funciona como sobrecarga e também aumenta a capacidade de drenagem do sistema. A trajetória de tensões resultante da aplicação destes esforços favorece a estabilidade dos aterros sobre solos moles durante o período construtivo. No caso do Projeto Etileno XXI, o sistema de melhoramento de solos com drenos a vácuo foi dimensionado para desenvolver os recalques primários (adensamento) e secundários durante o tempo de construção dos aterros, diminuindo os recalques a longo prazo. Para a GeoCompany, o sucesso desta etapa do empreendimento está ligado ao cronograma da obra, porque


a execução dos aterros foi concluída em um período de cinco meses. Em menos de um ano houve a elaboração do projeto e a execução, monitoração e liberação da área da plataforma de craqueamento térmico do empreendimento. A instrumentação projetada e aplicada durante a etapa construtiva, além de liberar as etapas de alteamento dos drenos e aterros de modo dinâmico e seguro, foram fundamentais para o controle da segurança, pelo monitoramento da estabilidade da obra ao longo das etapas construtivas. O engenheiro Roberto Kochen destaca que o êxito do projeto foi possibilitado também pelo forte alinhamento de conceitos, metas e ações do empreendedor (Braskem) e do construtor (Odebrecht), em relação à geologia do local. “O movimento de terra foi realizado em um prazo curto, considerando que o sítio vive sob o regime de chuvas intensas e está permanentemente sujeito a fatores de risco imprevisí31 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

veis, tais como furacões, terremotos e greves (todos potencialmente negativos para o cronograma de obras)”. Ele revela que foi feita a opção pelos Drenos Verticais Profundos com aplicação de vácuo para a aceleração dos recalques; por ser uma técnica mais rápida (cada dreno poderia ser cravado e instalado em menos de dez minutos) e mais econômica (cerca de cinco vezes mais barata que colunas de brita e dez vezes mais barata que o uso de jet grouting, numa área de aproximadamente 100 mil metros quadrados). “O trabalho atendeu aos requisitos de cronograma e de economia, superando desafios inéditos para a GeoCompany, como a necessidade de implantar e iniciar a operação dos drenos a vácuo em prazo inferior a dois meses, e de acelerar os recalques para que eles ocorressem segundo o cronograma da fase de construção. Foi mais uma vitória da engenharia e da geotecnia”, pontua Kochen.


AÇÕES DE ÂMBITO SOCIAL: O projeto instituiu planos e programas para promover relações positivas em sua área de influência e contribuir para o desenvolvimento local da região, o que resultou em muitos benefícios para as comunidades do entorno. De 2012 a 2014, podem ser citadas: • 46 novas pequenas empresas locais receberam apoio econômico indireto do projeto; • Foram formadas cinco cooperativas formalizadas, resultantes das oficinas de treinamento de habilidades produtivas, beneficiando 255 mulheres; • Um mecanismo de reclamações chamado Conexión foi introduzido para identificar necessidades específicas de adaptação e para servir como um “termômetro social” para o ambiente de trabalho e as percepções da comunidade; • Em Nahualapa e Pollo de Oro, o acesso à eletricidade passou de 0% a 100 %; • O acesso a redes de esgotos adequadas em Democracia e Libertad aumentou de 30% para 100%; • O acesso ao tratamento de resíduos sólidos era 12,6% em média, sendo que três comunidades tinham acesso zero. Depois de investimentos do projeto, a média subiu para 75,6%, com a maioria das comunidades adquirindo 100% de acesso.

CONCEITO E AÇÕES Durante os quatro anos que durou a fase de construção, o Projeto Etileno XXI contratou mais de 28 mil pessoas de 29 32 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

nacionalidades diferentes. Utilizando um modelo de gestão de recursos humanos diferenciado, chegou ao pico da construção no fim de 2015 com 17.055 integrantes e com nenhuma paralização por greve. O destaque do modelo foi a desmobilização da mão de obra direta que, por meio do programa de realocação “Enlace” facilitou nos últimos sete meses da construção que 15 empresas que atuam no México ofertassem trabalho para mais de sete mil integrantes, dos 11 mil desmobilizados. Operacionalmente foi montado um espaço amplo e confortável para que os trabalhadores estivessem em um ambiente com o mesmo nível, ou melhor que o do momento da sua contratação. O processo foi conduzido por uma equipe de RH (Recursos Humanos) experiente em conjunto com a Junta de Conciliación que é parte da Secretaria de Trabalho Estadual que atesta o cálculo da rescisão do contrato e as empresas parceiras que foram recrutar os trabalhadores juntamente com o sindicato. Com a experiência adquirida no Projeto Etileno XXI, Paulo Levita diz que convencer as empresas parceiras a mobilizar a Nachital com o objetivo de recrutar a mão de obra qualificada que seria demitida foi fácil, porque os argumentos foram solidificados pela experiência em recrutar mais de 7.500 trabalhadores em 31 estados do México. “Um dos principais atrativos foi ter uma quantidade significativa de candidatos em um só lugar, com um nível alto de qualificação técnica e com uma visão de Segurança Industrial diferenciada, decorrente dos programas de capacitação empreendidos durante a fase de construção. A estratégia foi implantada desde o primeiro contato com os trabalhadores, na fase de recrutamento e seleção, até a fase de desmobilização, em que a empresa acompanhou o processo de entrevista junto aos potenciais novos empregadores”, esclarece. Para a contratação foi feita uma abordagem não discri-


minatória, com foco exclusivo no conhecimento e habilidades dos candidatos, sem levar em consideração características como sexo, idade, raça, religião ou orientação sexual. O total de inclusão feminina chegou a 12% da força laboral da construção, número recorde de contratação em postos de trabalho tradicionalmente dominados por homens no México.

RECONHECIMENTO No dia 12 de outubro de 2015, em Wilmington, Delaware, nos Estados Unidos, o Projeto Etileno XXI recebeu o Prêmio de Segurança Industrial: The 2015 DuPont Safety and Sustainability Awards. Além dos desafios geotécnicos, a construção do empreendimento enfrentou desafios consideráveis para a implantação de uma cultura eficiente de segurança. Diferentes percepções de riscos e abordagens para mitigá-los no projeto, assim como barreiras culturais para práticas seguras no canteiro de obras influenciaram fortemente na conquista deste prêmio. Outra característica que foi relevante nesta conquista foi a dimensão do empreendimento e número de integrantes na obra. O desafio diário neste caso era garantir a segurança no trabalho desse contingente de pessoas desde o início da construção em 2012. O prêmio foi outorgado ao Complexo Etileno XXI pelo seu desempenho em segurança industrial e registrou a maior pontuação reconhecida na história da premiação. A gestão respaldada pelo compromisso da alta direção com políticas, padrões e procedimentos que permitem identificar, monitorar e controlar de forma consistente os riscos e potenciais perigos de SMS (Segurança Meio Ambiente e Saúde) buscou constantemente a eliminação dos incidentes e cumpre com as normas legais, melhorando o desempenho do empreendimento. O SMS foi baseado em comportamento, percepção de risco 33 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

dos integrantes e mudança de atitude em relação à prevenção. Os treinamentos personalizados, programas de segurança baseados no comportamento humano, comunicação efetiva, indicadores preventivos avaliados pela direção do projeto e o reconhecimento das pessoas, foram fundamentais no caminho para zerar incidentes. Esses esforços proporcionaram resultados que podem ser traduzidos em mais de 92 milhões de homens/horas trabalhadas com taxas recordes no quesito segurança. Além do Prêmio de Segurança Industrial, recentemente o Complexo Etileno XXI foi eleito como o melhor projeto de engenharia do ano pela revista americana ENR (Engineering News-Record). A Odebrecht conquistou a premiação máxima, o 2016 Global Best Projects, prêmio concedido anualmente pela publicação entre 23 projetos selecionados. A escolha dos projetos levou em conta fatores como saúde e segurança, inovações, desafios, design e qualidade de construção das obras, além da ênfase na diversidade das equipes. Em maio deste ano, a Odebrecht foi convidada pelo IFC (International Finance Corporation), parte do Banco Mundial que financia o setor privado, para participar, em Washington, D.C., do seu evento anual IFC Sustainability Exchange e compartilhar com outros clientes o modelo de gestão de recursos humanos utilizado no projeto, que não sofreu interrupções de nenhuma ordem. “O grande desafio foi alinhar as estratégias e fazer o gerenciamento do projeto com tamanha diversidade cultural. Desta forma, a barreira a ser vencida não foi técnica e sim cultural e comportamental. As premiações internacionais destas renomadas entidades são um reconhecimento do trabalho da Organização Odebrecht, que busca constantemente contribuir com a mudança na condição socioeconômica das comunidades em que atua”, finaliza Paulo Levita.


OPINIÃO

Será que alguém ainda não passou por semelhante situação? Um projeto vem sendo desenvolvido dentro dos padrões usuais, com equipe afinada, stakeholders (em português, parte interessada ou interveniente) participativos, bom feedback, mas, de repente surge uma nuvem no horizonte, normal na volatilidade de um conhecido país latino, e daí em diante se nada fizermos prejudicamos nosso equity brand (valor adicional), bem como da nossa empresa e a prometida viabilização de um suado projeto. Quando surge uma verdadeira coisa dessas, o que fazemos? Vamos procurar entender essa questão em toda a sua profundidade, afinal precisamos sair dela! Novamente que fazemos? Diagnosticamos a situação, assim como os cientistas, os médicos e os advogados o fazem. Acontece que eles fazem isso com um método que ainda não desenvolvemos em nosso conjunto de atividades. Ainda estamos muito operacionais. O problema é que todo mundo me diz o que tem que ser feito, mas ninguém me diz como isso tem de ser feito. E, pior, será que saber apenas como fazer será suficiente? Essas colocações são muito bem observadas, porque sozinhas podem não ser suficientes para alcançarmos uma nova visão. Estamos diante de um problema que não mais envolve apenas operação, mas também estratégia, e quais são os pilares que sustentam esse conceito? São três os pilares, com os quais lidamos todos os dias,

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Arquivos Alberto Barth

ENGENHARIA ESTRATÉGICA

são os chamados três Ps, e muito bem conhecidos: pessoas, produto e processo. Então, não se distraia com algum desses pilares isoladamente, eles são entrelaçados, não coexistem sozinhos. No entanto, até agora continuam sem me dizer o que eu quero saber, como se faz isso? E não foi dito e nem será, porque saber o “como” sozinho não basta. Estamos numa evolução tecnológica intensa, o problema é que ainda procuramos assimilar tudo que está a nossa volta com o uso do piloto automático. As pessoas não se convencem com o que você faz, elas se convencem de algo porque você faz. Isso é um mantra incansavelmente repetido por Simon Sinek, autor de “Start Whith Why”, um excelente palestrante do TED: Ideas worth spreading, e criador do Círculo de Ouro. Os grandes líderes, os grandes forma-

dores de ideias, possuem, de fato, um padrão de comunicação diferente de nós, e se for o único é verdadeiramente o seu maior trunfo. Você não convence quem precisa de seu produto ou serviço. Você convence para quem acredita no que você acredita. Vamos procurar trazer novos meios para soluções, revolucionando nossa atuação e liderando outra forma de pensar. Antes do Círculo de Ouro comunicávamos de fora para dentro, transmitindo apenas volume de informação, mas não influenciávamos o comportamento de nosso meio com isso. As pessoas podem concordar racionalmente com a simples informação, porém sentem que ainda não foi o suficiente para sensibilizá-las ou fazê-­las acreditar em algo. Acabamos de demonstrar que precisamos convencer que somos diferentes e assim nosso projeto é diferente, porque


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Você não convence quem precisa de seu produto ou serviço. Você convence para quem acredita no que você acredita. Vamos procurar trazer novos meios para soluções, revolucionando nossa atuação e liderando outra forma de pensar Arquivo pessoal

ter do Brasil com a Lava-Jato? Estaremos nesse imenso rol de dificuldades por simples acaso? Como em outras áreas profissionais o complience (conjunto de disciplinas para fazer cumprir as normas legais e regulamentares) chega com força total e ainda não se percebeu a requalificação da engenharia nesta importante atividade. O compliance deixa de ser simples ferramenta de auditoria e passa a ser um paradigma estabelecendo o estar em conformidade com leis, normas, regulamentos internos e externos pelas organizações e o engenheiro tem capital importância neste processo. Elevados preceitos morais, ética e o pensar aplicado ao país, estarão ocupando o lugar do dirigismo partidário, ao “toma lá-da-cá” e muitas outras práticas que não poderão mais existir. Nossa contribuição como engenheiros não poderá se restringir a simples técnica como temos feito até agora. Exige-se um salto quântico na forma de pensar, ao empregar modernos conceitos de um ser consciencial e integrado socialmente ao conhecimento em constante evolução. Permitiremos pela exemplificação que a engenharia possa ocupar na sociedade seu competente destaque que hoje não mais existe.

é robusto para as tempestades, realizado como peça única, e o que ele traz é a solução. As pessoas conseguindo os mesmos recursos e oportunidades podem conseguir diferentes resultados, porém o nosso projeto é diferente. Além de estarmos nos dirigindo a engenheiros, que têm interesse em auditorias, consultorias e perícias, e nesse jogo a ação de cada um é distinta, a ideia central aqui apresentada deve a todos outros. Somos altamente qualificados na condução excelente de projetos embora pareça que não saibamos mais disso. Entra em cena a formulação da engenharia estratégica integrada por uma abordagem sistemática e disciplinada nas especificações, gerenciamento e follow-up de requisitos dos projetos. Estaremos permitindo o consenso de maneira sistemática entre as pessoas, seu produto e os processos envolvidos, eliminando as não conformidades e o retrabalho, esclarecendo a investidores, controladores e até ao público final e acima de tudo reduzindo conflitos. Tem suma importância tal visão pela engenharia ao estabelecer um novo paradigma que substitui a operação para liderar a estratégia. Como será o day af-

Alberto Barth é técnico industrial em cerâmica, engenheiro civil, pós-graduado em perícias e avaliações de engenharia, perito judicial, membro titular do IBAPE/SP (Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia de São Paulo), diretor desde 1994, do Escritório Técnico de Engenharia e Consultoria Alberto Barth SS Ltda.


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NOTÍCIA

ARTERIS INVESTE MAIS DE 8 MILHÕES DE REAIS EM PROJETOS DE MANUTENÇÃO PREVENTIVA A finalidade das obras de reforços utilizando cortinas atirantadas é preservar a integridade da pista e aumentar a segurança dos motoristas

Fotos: Divulgação Arteris

Por Dellana Wolney

Execução do reforço

A Autopista Fernão Dias, concessionária do grupo Arteris (Companhia do Setor de Concessões Rodoviárias do Brasil), está investindo cerca de 8,5 milhões de reais em obras de reforço das cortinas atirantadas próximas ao Túnel da Mata Fria, localizado em São Paulo (SP). As etapas da obra consistem na 38 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

execução de estacas, vigas, concreto projetado, implantação de novos tirantes, terraplenagem e recuperação dos dispositivos de drenagem existentes. O início da mobilização de equipamentos e material para realização da obra ocorreu em fevereiro deste ano e a previsão é que os trabalhos se-

jam concluídos até outubro de 2016. As intervenções acontecem nos Km 74+800, km 75+950 e km 76+800, na pista sentido Sul (São Paulo). Esse trabalho irá preservar a integridade da pista de rolamento e aumentará o nível de segurança dos motoristas que trafegam no trecho.


Reforço da cortina no km 75+950, canteiro central

De acordo com o gerente de engenharia da Arteris, Giuliano Orlando Guido Soares, especificamente, a execução do reforço nas cortinas atirantadas está acontecendo no canteiro central do km 74+600, km 75+950 e km 76+800, no município de Mairiporã (SP). Já na cortina do km 73+100 foi implantado um sistema de drenagem superficial ao longo da contenção. Ele explica que esta técnica de reforço foi escolhida levando em consideração principalmente a condição ambiental da região. “O intervalo entre o km 71+500 e km 77+000 da Rodovia Fernão Dias se encontra dentro do Parque Estadual da Cantareira. Nestes locais, a rodovia situa-se em vertentes de encosta sobre aterros compactados, contidos por cortinas atirantadas. Elas são utilizadas para diminuir a área de intervenção e, consequentemente, o impacto ambiental”. A intervenção foi motivada pela ruptura ocorrida na cortina do km 76+800 e pelas condições desfavoráveis existentes nas cabeças de vários tirantes instalados nas cortinas, elementos vitais para a estabilidade das contenções. Para que o reforço fosse realizado, foi necessária uma boa campanha de investigação geotécnica. Neste caso, sondagens à percussão foram utilizadas para identificar a situação atual do local. Soares descreve que como as cortinas apresentam a mesma estrutura, o material adotado foi o reforço por meio 39 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

da implantação de grelha atirantada sobre as placas pré-moldadas da contenção. A obra teve início com uma pequena movimentação do solo para o tráfego dos equipamentos, seguida de perfuração das estacas raízes, perfuração e instalação dos tirantes, regularização do pano da cortina com concreto projetado, execução dos pilares e vigas da grelha e drenagem superficial. Depois de finalizada esta etapa, ensaios de recebimento e incorporação dos tirantes serão executados. “Esta obra evitará que as contenções que garantem a estabilidade da plataforma da rodovia fiquem comprometidas. Desta forma, o risco de possíveis rompimentos nas cortinas e, consequentemente, danos nas faixas de rolamento serão evitados”, destaca Soares.

OUTRAS OBRAS Além do reforço das cortinas, a concessionária também realiza obras de recuperação de talude na lateral da pista Sul, km 893, em Cambuí (MG). No local, assim como a recomposição do talude também estão sendo implantados novos dispositivos de drenagem. Após a conclusão desta etapa, a concessionária fará o revestimento vegetal do talude, que dará maior estabilidade e

segurança aos usuários, principalmente em épocas de chuva. Segundo o gerente de engenharia da Arteris, Giuliano Orlando Guido Soares, o talude em questão apresentava diversas rupturas em sua extensão e algumas cicatrizes provenientes de rupturas que ocorreram anteriormente. “Para solucionar o problema, realizamos diversos estudos. Após analisar quatro opções de trabalho, optamos pelo ‘retaludamento’ até uma inclinação estável. Trata-se de uma técnica alternativa de execução rápida, o que representa uma vantagem crucial devido ao fator de risco aos usuários em caso de possíveis escorregamentos de terra”, revela. Para a proteção da estrutura de corte projetada contra o escoamento descontrolado de águas pluviais foi dimensionado um sistema de drenagem superficial composta por valetas de proteção e escadas hidráulicas. A concessionária interditou a faixa de rolamento do lado direito nas proximidades do km 893+ 500, na pista Sul da Rodovia Fernão Dias, no município de Cambuí para a realização destas obras. A pista será totalmente liberada assim que a recuperação do talude for concluída.

O reforço das cortinas atirantadas foi executado no km 73+100 CC e km 75+950 CC pela empresa Progeo Engenharia e no km 74+600CC e km 76+800 CC pela empresa Tecper Fundações.


NOTÍCIA

WORKSHOP SOBRE SOLO GRAMPEADO É REALIZADO EM SÃO PAULO Temas como ensaios de arrancamento, técnicas de execução e de projeto de solo grampeado compuseram o conteúdo programático

O solo grampeado ou grampeamento de solo é uma técnica que pode ser usada tanto em encostas naturais quanto nas escavadas, em que a encosta é reforçada pela inserção de chumbadores, que são responsáveis pela estabilidade global da encosta e são conectados a um sistema de revestimento que confere estabilidade à superfície. A técnica de solo grampeado, com uso de revestimento flexível, também vem sendo muito aplicada no Brasil, pois é capaz de estabilizar de forma rápida taludes naturais e escavações, por meio da inclusão de elementos lineares passivos que protegem a face de erosões com uso do MacMat®R, produto fabricado pela empresa Maccaferri. Por ser um tema amplo, a Maccaferri em parceria com os professores da PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), COPPE-UFRJ (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro) e especialistas de grandes empresas, resolveu desenvolver e abordar os principais aspectos da solução de solo grampeado em um workshop no dia 26 de julho na cidade de São Paulo (SP). Trata-se de um evento itinerante que já passou pela Bahia e passará ainda por outros estados brasileiros. A abertura do Workshop Solo Grampeado foi feita pelo presidente do Núcleo São Paulo da ABMS (Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica), Celso Correa. Em seguida, o engenheiro e professor da PUC-Rio, Alberto Sayão falou sobre o histórico, conceitos gerais, execução e exemplos de solo grampeado. Na ocasião, Sayão citou a sequência para a execução do Solo Grampeado que é composta pela escavação e execução de chumbadores verticais, como medida de melhoria do solo; perfuração executada por equipamentos de fácil manuseio que pesam entre 25 kg e 500 kg, instaláveis sobre qualquer talude; montagem da armação metálica; injeção, podendo haver posteriormente uma reinjeção e a concretagem feita com concreto projetado conduzido por ar comprimido desde o equipamento de projeção até o local de aplicação, por meio de mangote. 40 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Fotos: Dellana Wolney / Editora Rudder

Por Dellana Wolney

Participantes do workshop

PROGRAMAÇÃO Dando sequência à programação, a engenheira e professora da COPPE-UFRJ, Anna Laura Nunes apresentou a palestra “Ensaios de Arrancamento de Grampos”. Na ocasião, ela enfatizou a im-


Palestrantes durante o Workshop Solo Grampeado

portância e a necessidade de investimentos para a padronização deste ensaio para que ele possa ser mais utilizado no Brasil. Embora o solo grampeado tenha uma aceitação crescente no meio geotécnico brasileiro, a técnica ainda carece de estudos mais detalhados, principalmente em relação à resistência ao arrancamento e sobre a influência de parâmetros como o tempo de cura da calda de cimento, o número de injeções, a lavagem do furo e o tipo de solo. Por este motivo, Nunes destacou o papel empresarial, acadêmico e institucional para a regulamentação de padrões para a execução de ensaios de arrancamento. No final de sua palestra, ela apresentou um questionário sobre Solo Grampeado com a finalidade de recolher informações sobre o que está sendo feito pelos engenheiros em relação a esta técnica. “A ideia é preencher campos e identificar quais conceitos de estabilização estão sendo usados; os métodos de dimensionamento de solo grampeado que estão sendo empregados com mais frequência; como está sendo feita a execução do grampeamento e o último ponto é sobre o ensaio de arrancamento, útil para saber como ele pode ser padronizado e/ou normatizado”, explica. Também foram apresentadas as técnicas de execução e de projeto pelo engenheiro da empresa Solotrat, Matheus Dechen, pelo engenheiro da empresa M. Hosken Consultoria de Fundações e Mecânicas de Solos, José Eduardo Hosken e pelo engenheiro da empresa Ludemann Engenharia, Sérgio Ludemann. A última palestra que antecedeu o debate mediado pelo diretor da Solotrat, George Teles, foi ministrada pela engenheira da Maccaferri Brasil, Andrea Pellizoni, que falou dos produtos e da atuação da Maccaferri em obras com solo grampeado. A Maccaferri oferece uma gama de soluções nesta área. A diversidade de sistemas de proteção contra erosão e de redu41 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

ção de queda de rochas podem oferecer soluções para a estabilidade das superfícies locais, incluindo: sistemas flexíveis de estabilização (malha de arame hexagonal de dupla torção, painéis HEA, SteelGrid® HR ou Macmat® R) e revestimento de controle de erosão (MacMat®) utilizado na superfície da encosta. Este revestimento cobre a face exposta do solo reforçado e pode desempenhar uma função estabilizadora para reter o material entre os chumbadores, oferece também proteção contra erosão e promove a restauração da cobertura vegetal da encosta. Dentre as suas vantagens está a estabilidade enquanto a vegetação é determinada; o aprimoramento da resistência ao cisalhamento do solo e a proteção contra erosão e a conexão das camadas superficiais instáveis à parte profunda e estabilizada da encosta. Há produtos adicionais para necessidades particulares e também a Maccaferri desenvolve uma série de produtos (grampos, acessórios de revestimento) para atender aos requisitos específicos do revestimento estrutural flexível (malha e chumbadores profundos) e revestimento de controle de erosão (malha e grampos curtos).


NOTÍCIA

USO DE GEOSSINTÉTICOS E CPR GROUTING AJUDAM A SOLUCIONAR DIFICULDADES EM SOLOS MOLES Essas técnicas estão entre as mais variadas desenvolvidas para amenizar os problemas encontrados em argilas moles

Regiões litorâneas costumam atrair diversos turistas que almejam aproveitar férias e feriados nacionais em um local diferente da rotina de uma metrópole. Uma pesquisa realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), divulgada em junho de 2015, revelou que muitos brasileiros estão até mesmo estabelecendo moradia fixa nessas zonas. De acordo com o estudo, houve um aumento de 33% entre 1991 e 2012 da população residente em litoral, ou seja, de 34,3 milhões, saltou para 45, 7 milhões de moradores praianos. Atentas no desejo de consumo de muitos brasileiros, as construtoras procuram pensar em soluções para edificar empreendimentos nessas regiões, que possuem um tipo de solo não muito convidativo para obras: os denominados solos moles ou argilas moles. Compostos por sedimentos argilosos com baixa resistência à penetração, com valores SPT ≤ 4 (Standard Penetration Test), isto é, areias fofas, de deposição recente, em que a fração de argila exibe as características de solo coesivo e compressível. O livro “Aterros sobre solos moles”, desenvolvido pela professora do IME (Instituto Militar de Engenharia), Maria Esther Soares Marques e pelo professor da COPPE-UFRJ (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro), Márcio de Souza Almeida, informa que os solos moles têm origem fluvial e no Brasil estão presentes em larga escala – podendo alcançar espessuras de até 50 metros –, assim como em outros países com costas litorâneas extensas. Segundo Márcio Almeida, planícies costeiras possuem sedimentação subaquosa, próximas a oceanos, e essas características são favoráveis ao surgimento de solos moles. “As planícies costeiras são áreas deposicionais de baixo gradiente (declividade), formadas por sedimentação predominan42 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Fotos: Arquivo pessoal Márcio Almeida

Por Dafne Mazaia

As argilas moles costumam surgir em planícies costeiras e podem chegar a 50 m de espessura

temente subaquosa. Em geral, margeiam corpos hídricos de grandes dimensões como os oceanos. As planícies são representadas por faixas de terrenos recentes (em termos geológicos) emersos e compostos por sedimentos marinhos, fluviomarinhos e lagunares. A deposição dos sedimentos de solos moles realizou-se durante o Período Geológico do Quaternário [Entenda esse período no box “Saiba mais”] e incorporou oscilações do nível do mar”, explica o professor. Para o engenheiro e diretor de geotecnia da empresa Engegraut, Joaquim Rodrigues, essas oscilações do nível do mar dão origens a diversos tipos de argila, possibilitando condições para os materiais se depositarem. “A origem das argilas moles costeiras tem sido alvo de estudos há muitos anos. Atualmente, pesquisadores concordam que a depo-


sição dos sedimentos ocorreu durante o Pleistoceno e o Holoceno (o período Quaternário é dividido em duas épocas: Pleistoceno e Holoceno), por causa das oscilações do nível do mar, dando origem a diferentes tipos de argila. O mar invadiu o continente ciclicamente, criando condições propícias para os materiais transportados se depositarem”, esclarece. De acordo com ele, as argilas moles são classificadas pelo ambiente de sedimentação. “Os sedimentos quaternários brasileiros são divididos em: transicionais, lagunares, fluviolagunares, fluviais, sedimentos dos manguezais atuais e sedimentos turfosos. Dessa forma, as argilas moles podem surgir perto de rios, lagoas e mangues”, acrescenta Rodrigues.

DIFICULDADES EM OBRAS Mesmo sendo comuns no Brasil, os solos moles apresentam peculiaridades que desafiam os engenheiros, como alta compressibilidade e resistência baixa ao cisalhamento, características que demandam mais atenção dos profissionais devido às questões de estabilidade, como discorre o professor Márcio Almeida. “Argilas moles são solos sedimentares de alta compressibilidade (deformabilidade) e baixa resistência. Consequentemente, a colocação de um aterro sobre uma argila mole resulta a princípio em recalques (assentamentos) elevados, havendo também o risco de ruptura no caso do aterro possuir elevada altura”, ressalta. Almeida acredita que o profissional responsável por obras em solos moles precisa investigar o trabalho acima de tudo. “O engenheiro geotécnico deve começar o seu trabalho com uma investigação geotécnica de alta qualidade. Investigação é ‘investimento’, não é ‘custo’, e acaba resultando em economia no valor global do empreendimento”, declara. Para ele, o projetista deve enaltecer a importância dessa prática ao empreendedor, para que o projeto seja realizado da forma apropriada. “Cabe ao projetista passar este conceito para o empreendedor. Na sequência, o consultor deve projetar usando os conceitos do estado da arte no assunto, que tem evoluído muito rapidamente. Finalmente a obra deve ser executada e adequadamente monitorada com instrumentação de qualidade em todas as suas fases”, informa. Atualmente existem vários recursos que engenheiros podem usar para sobrepor as dificuldades encontradas em argilas moles, para melhorar resistência e rigidez, mas que nem sempre foi assim como recorda Almeida. “Há cerca de 40 anos quando me formei, os métodos alternativos para a construção em solos moles eram muito limitados. Naquela época usava-se principalmente a remoção total ou parcial do solo mole, drenos verticais de areia para aceleração de recalques e bermas laterais para o controle de estabilidade”, lembra. Ao longo dos anos, o mercado evoluiu e os engenheiros conseguem encontrar vários procedimentos capazes de solucionar os empecilhos, segundo o professor da COPPE­-UFRJ. “Diversas outras técnicas desenvolvidas no exterior surgiram no Brasil nos últimos 40 anos, aumentando a gama de alternativas para a construção sobre 43 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Por possuírem alta compressibilidade e pouca resistência ao cisalhamento, as argilas moles demandam mais atenção dos profissionais

Ruptura de aterro de conquista em solo extremamente mole

solos moles. Entre estas, citam-se os geossintéticos para reforço, colunas granulares executadas por vibro-substituição, colunas granulares encamisadas com geossintéticos, tratamentos do solo com cimento em profundidade por via úmida (deep soil mix) ou superficialmente por via seca (Stabtec), entre outras, como a de aterros estruturados com plataforma de geossintéticos. Outra novidade recente é que as empresas de tratamento de solos moles passaram a fornecer várias alternativas de melhoria destes solos”, explana.

CPR GROUTING Para superar os desafios de construir com este tipo de solo, os engenheiros precisam conhecer várias soluções existentes no mercado. Algumas empresas disponibilizam equipamentos que possibilitam melhoras nas condições da argila mole, como o CPR Grouting. A tecnologia faz o enrijecimento do solo de maneira sustentável e menos complexa do que com fundações profundas ou inclusões rígidas. De acordo com o diretor de geotecnia da empresa Enge-


Atualmente existem métodos que podem amenizar os problemas dos solos moles

Aterros sobre argilas moles podem gerar recalques elevados, o que pode causar uma ruptura

graut, o CPR Grouting induz ao solo, controladamente, resistência e rigidez. “A tecnologia CPR Grouting foi desenvolvida, testada e patenteada no Brasil pela Engegraut. Caracteriza-se pela formação de meio drenante artificial, seguido da formação de verticais com bulbos de compressão do solo, via expansão de cavidades, utilizando-se geogrout, que impõe, de forma controlada, níveis de resistência e rigidez desejados”, diz. Apesar de possui “grouting” no nome, o jet grouting não tem as mesmas funções do CPR Grouting. “O jet grouting não é um grouting (Berry, Richard 2000) e sim um soil mixing. Groutings caracterizam-se por modificar as características do solo, tornando-o apto a suportar as cargas como um todo. O jet grouting é um formador de colunas. O CPR grouting promove o

enrijecimento de solos argilosos moles, tornando-o homogêneo”, esclarece Rodrigues. Para o engenheiro, não há uma única solução para resolver as complicações dos solos moles. “Não existe a solução perfeita para o problema das argilas moles. Cada situação requer uma intervenção específica, que depende, sobretudo, do custo, tempo e local. Contudo, o CPR grouting, por ser a tecnologia mais moderna e eficiente, costuma ser a mais adequada”, indica. Nos últimos anos, o tema tem expandido bastante na comunidade técnica, com a criação de vários cursos de curta duração, tanto presenciais, como EAD (Ensino a Distância) realizados no Rio de Janeiro, Recife, Belo Horizonte etc. Muitos profissionais, atraídos por obras relevantes que se destacaram, como a do Porto de Suape, em Pernambuco, ou a da refinaria do COMPERJ (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro), entre outras, tem se especializado nesse assunto.

SAIBA MAIS O período Quaternário teve início há aproximadamente 2 milhões de ano e consiste basicamente na última divisão do tempo geológico, estendendo-se até o presente. Este termo foi introduzido em 1829 pelo geólogo e arqueólogo, Jules Desnoyers. A editora Oficina de Textos possui em seu catálogo a obra “Geologia do Quaternário”, do autor Kenitiro Suguio, que apresenta uma atualização da compreensão dos processos e produtos envolvidos nas mudanças ambientais naturais da Terra durante o Quaternário – período geológico mais novo dos 11 períodos da história da Terra. O livro possui 12 capítulos que discutem os conceitos e a importância dos estudos do Período Quaternário que desemboca na atualidade, algumas características das mudanças paleoambientais, qual o futuro do clima mundial (aquecimento ou esfriamento global), as pesquisas aplicadas do Quaternário e outros aspectos.

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ARTIGO

ANÁLISE DOS BENEFÍCIOS DAS MISTURAS MORNAS COM ADITIVO SURFACTANTE LÍQUIDO INTRODUÇÃO Douglas Cardoso Engelke, acadêmico Engenharia Civil, UFRGS/LAPAV (Universidade Federal do Rio Grande do Sul / Laboratório de Pavimentação), Porto Alegre (RS) – Brasil douglasengelke1994@gmail.com Kethelin Eloisa Klagenberg, acadêmico Engenharia Civil, UFRGS/LAPAV (Universidade Federal do Rio Grande do Sul / Laboratório de Pavimentação), Porto Alegre (RS) – Brasil keth.klagen@gmail.com Enga. Marlova Grazziotin Johnston, Dra. Engenharia Civil, UFRGS/LAPAV (Universidade Federal do Rio Grande do Sul / Laboratório de Pavimentação), Porto Alegre (RS) – Brasil marlova.johnston@ufrgs.br Prof. Lélio Antônio Teixeira Brito, Ph.D. Engenharia Civil, UFRGS/LAPAV (Universidade Federal do Rio Grande do Sul / Laboratório de Pavimentação), Porto Alegre (RS) – Brasil lelio.brito@ufrgs.br Prof. Jorge Augusto Pereira Ceratti, DSc. Engenharia Civil, UFRGS/LAPAV (Universidade Federal do Rio Grande do Sul / Laboratório de Pavimentação), Porto Alegre (RS) – Brasil jorge.ceratti@ufrgs.br Eng. Renan Zocal Ribeiro, Ingevity Química Ltda., Campinas (SP) – Brasil renan.ribeiro@ingevity.com

RESUMO Este trabalho apresenta uma análise dos benefícios na mistura e compactação de uma mistura asfáltica morna obtida com o acréscimo de um aditivo surfactante em forma líquida no ligante através de um estudo realizado em laboratório. A redução de 30°C na temperatura da mistura na usina e na compactação no campo pode diminuir as emissões de gases poluentes, reduzir os gastos com combustível e melhorar as condições de trabalho. Foram 48 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

analisadas duas misturas asfálticas, uma morna e outra quente (convencional), com o mesmo teor de ligante e com volume de vazios semelhantes (volume de vazios de projeto ± 0,3%). Visualmente foram observados benefícios ambientais e, através dos ensaios de laboratório, foi possível alcançar a compactação ideal com menor energia. Palavras-chave: Misturas Asfálticas Mornas; Meio Ambiente; Aditivo Surfactante.

A malha rodoviária é o principal meio de transporte da produção brasileira. As condições das estradas não são as desejáveis para as necessidades do País e, por isso, o investimento na sua melhoria é imprescindível. O gás de combustão proveniente do escapamento dos automóveis não é o único que prejudica o meio ambiente quando se trata de rodovias, pois a produção das misturas asfálticas a quente ou HMA (Hot Mix Asphalt), tradicionalmente usadas para os revestimentos, exige temperaturas acima de 150°C, podendo atingir 180°C, contribuindo com a emissão de GHG (Green House Gases), ou seja, gases do efeito estufa. Nestes casos, os agregados são aquecidos a altas temperaturas e, quando misturados ao ligante quente, liberam compostos orgânicos voláteis e fumaça, podendo ser extremamente poluentes ao meio ambiente e à saúde do trabalhador. Por outro lado, a compactação destas misturas, realizada em temperaturas muito elevadas, exige um controle de qualidade eficiente para garantir a vida útil do projeto. De acordo com o NCHRP (National Cooperative Highway Research Program – 2011), as misturas asfálticas mornas ou WMA (Warm Mix Asphalt) são misturas de concreto asfáltico produzidas em temperaturas, pelo menos, 30°C mais baixas que àquelas utilizadas nas misturas asfálticas quentes.

1 MISTURAS ASFÁLTICAS MORNAS As

misturas

asfálticas

mornas


referem-­ se a tecnologias desenvolvidas para diminuir a temperatura das misturas na usinagem e na compactação em campo. De acordo com diversos autores, essas temperaturas podem ser reduzidas entre 30ºC a 50ºC trazendo diversas melhorias em diferentes esferas como benefícios ao meio ambiente, aos trabalhadores e à vida útil do próprio revestimento asfáltico (NEWCOMB, 2006 e PROWELL et al. 2007). Este tipo de mistura pode ter um ganho de tempo entre a usinagem e a compactação em campo, devido a menor perda de temperatura. As distâncias de transporte entre a usina e a obra podem ser maiores permitindo uma compactação adequada do material, e possibilitando a aplicação em locais de clima frio (PROWEL et al. 2012). A tecnologia Evotherm® usada como aditivo surfactante, nesta pesquisa permite a redução da temperatura da mistura asfáltica numa faixa de 50°C a 75°C, e é totalmente compatível com os projetos originais de pavimentação que usam técnicas convencionais de mistura de asfalto a quente e sua utilização não requer nenhuma modificação na usina de asfalto (EVOTHERM, 2016).

2 BENEFÍCIOS AMBIENTAIS Atualmente, não é possível deixar de relacionar o desenvolvimento tecnológico e de infraestrutura com os danos que essas melhorias podem causar ao homem e ao ambiente em que ele se insere. Dentre os principais danos estão a poluição, os riscos à saúde do trabalhador e o consumo energético.

2.1 Poluição Os problemas causados pela poluição ocorrem desde doenças respiratórias até acidificação do solo e queda na produtividade de plantações devido às chuvas ácidas. As misturas asfálticas mornas, além de diminuir a demanda de combustível, possibilitam diminuir as emissões de COV (Compostos Orgânicos Voláteis) e de gases que retêm o calor na atmosfera ou gases de efeito estufa, GHG (Green House Gases), extremamente nocivos ao meio ambiente (D’ANGELO et al., 2008). A Tabela 01 apresenta alguns poluentes, 49 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Tabela 01 – Relação dos poluentes com a redução de emissão e suas consequências Poluente

Redução com uso de WMA

Consequências

CO2 (gás carbônico)

30% a 40%

Gases de Efeito Estufa

SO2 (dióxido de enxofre)

30% a 40%

Chuvas ácidas

CO (monóxido de carbono)

10% a 30%

Asfixiante químico

NOx (óxidos de nitrogênio)

60% a 70%

Precursores de ozônio

Fonte: D’ANGELO et al., 2008

suas consequências ao meio ambiente e suas reduções significativas com o uso de misturas asfálticas mornas. A queda na emissão de poluentes pode trazer lucros através da venda de créditos de carbono, conforme instituído pelo Protocolo de Kyoto, o que é financeiramente e institucionalmente interessante para a empresa de pavimentação (OLARD, 2008 apud MOTTA, 2011). Outro benefício das misturas asfálticas mornas é a utilização em áreas densamente povoadas, onde a emissão de poluentes é controlada (KRISTAJÁNSDÓTTIR et al., 2007 apud MOTTA, 2011).

2.2 Saúde do trabalhador O trabalho executado com altas temperaturas exige cuidados técnicos e de segurança, como o contato com os poluentes emitidos pelo processo de pavimentação de uma via. Os compostos do carbono são altamente poluentes e prejudiciais à saúde, tanto que na Noruega, por exemplo, o ligante asfáltico é considerado insalubre em grau máximo, o que acarreta multas para as empresas. Estudos da NIOSH (Health Effects of Occupational Exposure to Asphalt) alertam para o risco de câncer de pulmão, leucemia e o perigo de câncer de pele que podem causar problemas jurídicos para as empresas caso seus empregados desenvolvam essas doenças. Manifestações como irritação ocular e nas mucosas, queimaduras, entre outros, são responsáveis por adoecimento dos trabalhadores e faltas ao trabalho, o que prejudica também a obra que está sendo desenvolvida. Dessa forma, a utilização das misturas asfálticas mornas pode trazer benefícios tanto para o empregado como para o empregador, reduzindo o número de faltas, aumentando a pro-

dutividade e reduzindo o custo com possíveis processos.

2.3 Redução do consumo energético Ano após ano o custo de combustível vem subindo. A demanda é grande e boa parte dos combustíveis são provenientes do petróleo, que é um recurso finito. Com o emprego da tecnologia Evotherm®, a mistura é submetida a temperaturas menores, significando uma redução na energia necessária para aquecê-la e, consequentemente, redução de cerca de 45% do consumo energético (INGEVITY, 2016). Assim, é necessária uma menor quantidade de combustível, diminuindo o custo e a emissão de poluentes.

3 BENEFÍCIOS NA QUALIDADE DO PAVIMENTO Os cuidados ambientais, sociais e a busca por lucros devem estar equilibrados com o avanço tecnológico e a garantia da qualidade do pavimento de uma rodovia. As características funcionais e estruturais do pavimento estão intimamente ligadas à compactação das misturas asfálticas que depende, entre outras características, da granulometria dos agregados e da temperatura da massa asfáltica na usinagem e no local de sua aplicação. As misturas asfálticas mornas apresentam maior trabalhabilidade e, com distâncias de transporte de até dez horas ou mais, mantiveram o mesmo grau de compactação das misturas asfálticas a quente com distâncias de transporte menores do que oito horas (HOWARD et al., 2012). Além disso, possibilitam o uso de maior quantidade de fresados em reciclagem (EVOTHERM, 2016). Outras vantagens são a facilidade na


Tabela 02 – Caracterização do ligante antes e após RTFOT CAP 50/70

CAP 50/70 APÓS RTFOT

CAP 50/70 C/EVOTHERM

CAP 50/70 C/EVOTHERM APÓS RTFOT

135°C ANP: mín 274

408

648

480

615

150°C ANP: mín 112

237

310

242

300

177°C ANP: 57 a 285

90

109

90,5

106

Densidade de mat. betum. NBR 6.296 (g/cm3)

0,957

1,012

1,017

1,001

Ponto de amolecimento NBR 6.560 (°C) ANP: mín. 46

49

51

48

53

Penetração NBR 6.576 (0.1mm) ANP: 50 a 70

69

40

57

50

Penetração Retida Após RTFOT – ANP: mín. 55

-

57,97

ISC ANP: (-1,5) a (+ 0,7)

-0,8

-1,4

ENSAIOS

Viscosidade Brookfield NBR 15184 (cP)

pavimentação noturna em aeroportos ou em estradas e liberação mais rápida dos trechos, evitando transtornos na contenção de trânsito, visando aumentar a produtividade.

4 METODOLOGIA O estudo de compactação das misturas asfálticas, morna e quente, que deu origem a este trabalho foi realizado na UFRGS/LAPAV (Universidade Federal do Rio Grande do Sul / Laboratório de Pavimentação). Este trabalho compreendeu a execução de uma mistura asfáltica quente e uma mistura asfáltica morna executadas com agregados de origem basáltica, típicos da região Sul do Brasil, e com o CAP 50/70 (Cimento Asfáltico de Petróleo), convencional. De acordo com os resultados obtidos na Pesquisa INGEVITY – LAPAV (2014), após determinar o teor de ligante de projeto da mistura asfáltica quente, desenvolveu-se a mistura morna com o mesmo teor de ligante de projeto, porém foi adicionado no ligante 0,4% de aditivo surfactante EvothermTM 3G (tecnologia Evotherm®). Atendendo as especificações da ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) (2005), o cimento asfáltico de petróleo utilizado neste estudo foi caracterizado através dos ensaios de penetração, ponto de 50 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

amolecimento (anel e bola) e viscosidade Brookfield em três temperaturas. O envelhecimento do ligante foi avaliado pelo efeito do calor e do ar em uma película delgada rotacional através do ensaio RTFOT (Rolling thin-film oven test), de acordo com a norma ABNT NBR 15.235 (2005), verificando-se o aumento do ponto de amolecimento e o valor da penetração retida após o envelhecimento. Complementarmente, segundo exigências da ANP, a suscetibilidade térmica do ligante também foi avaliada. Um dos problemas que podem ocorrer em uma mistura asfáltica é a desagregação e o descolamento entre agregado e asfalto devido a problemas de adesividade. Neste caso, as misturas asfálticas foram ainda testadas quanto à adesividade do ligante asfáltico com o agregado através do ensaio de DUI (Dano por Umidade Induzida) padronizado pela norma ABNT NBR 15.617 (2011). De acordo com esta norma foram moldados corpos de prova com o volume de vazios igual a 7 ± 1%. Os resultados do ensaio de resistência à tração realizados em amostras previamente condicionadas e amostras sem condicionamento foram relacionados resultando na RRT (Resistência à Tração Retida). Para misturas contínuas, o valor mínimo da RRT é de 80% (ASPHALT INSTITUTE, 2001).

87,72 -1,5

-0,5

O esforço de compactação foi estudado em corpos de prova moldados no CGS (Compactador Giratório Superpave). Os corpos de prova foram moldados com o mesmo número de giros, ou seja, 100 giros para cada uma das duas misturas, variando a temperatura dos agregados e da compactação. A verificação da diferença entre a liberação de gases de combustão ocorreu durante as moldagens das misturas utilizadas para o estudo e durante uma visita a uma usina de misturas asfálticas. A avaliação foi visual considerando-se a intensidade dos vapores gerados.

5 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS DE LABORATÓRIO O resultado dos ensaios de caracterização do ligante convencional CAP 50/70 com e sem o aditivo EvothermTM 3G, antes e após envelhecimento RTFOT, está apresentado na Tabela 02. Todos os resultados ficaram dentro dos limites exigidos pelas normas brasileiras. As Tabelas 03 e Tabela 04 apresentam os resultados dos ensaios de DUI realizados com as misturas asfálticas quente e morna. Neste caso, as duas misturas apresentaram os valores mínimos de resistência à tração retida, maiores que aqueles exigidos pela literatura. A Tabelas 05 apresenta os resultados


Tabela 03 – Resultados do parâmetro de resistência à tração para mistura quente Resistência à tração RT (MPa) Sem condicionamento

Com Condicionamento

0,38

Resistência à tração retida RRT (%)

Tabela 6 – Resultados de volume de vazios obtidos na moldagem da mistura morna compactada a 110°C e 75 giros no CGS

0,44

0,55

0,45

0,456

0,43

93%

Mistura Asfáltica

0,39

Média

0,46

Média

Tabela 04 – Resultados do parâmetro de resistência à tração para mistura morna Resistência à tração RT (MPa) Sem condicionamento

Com Condicionamento

0,47

0,43

0,43

0,42

0,47 Média

Resistência à tração retida RRT (%)

0,42

91%

0,40 0,46

Média

Tabela 05 – Temperatura de compactação e volume de vazios – 100 giros CGS Misturas asfálticas

Temperaturas Compactação (°C)

Vv (%)

QUENTE (CAP 50/70)

143

4,6

143

4,9

115

3,4

110

3,5

100

3,2

90

3,1

MORNA (CAP 50/70 com Evotherm®)

MORNA (CAP 50/70 com Evotherm®)

Temperaturas Compactação (°C)

Vv (%)

110

4,7

110

4,4

110

4,1

Média

4,4

mistura morna, utilizando a tecnologia Evotherm®, compactados com 100 giros no CGS, apresentaram valores de Vv menores quando comparados com os corpos de prova moldados com a mistura quente (convencional), também compactados com 100 giros no CGS. Através da Figura 01 observa-se o volume de vazios versus a temperatura de compactação das misturas quente e morna moldadas com 100 giros no compactador giratório. Com o intuito de conseguir, com a mistura morna utilizando a tecnologia Evotherm®, um valor de volume de vazios (Vv) semelhante ao indicado no projeto original igual a 4,3%, foram moldados corpos de prova, compactados a 110°C com 75 giros no CGS, obtendo-se, assim, volume de vazios igual a 4,4% conforme apresentado na Tabela 6. A Figura 02 mostra a diferença na liberação de gases de combustão pela mistura asfáltica a 160ºC (à esquerda) e pela mistura asfáltica a 144ºC (à direita), visualizada na visita realizada em uma usina de asfalto.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Figura 01 – Volume de vazios x Temperatura de compactação

obtidos na compactação dos corpos de prova, utilizando esforço de compactação de 100 giros no CGS, realizados com as misturas asfálticas quente e morna estudadas neste trabalho. Os corpos de prova moldados com a 51 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

mistura quente (convencional), apresentou resultados de volume de vazios (Vv) próximos ao valor estimado no projeto original, ou seja, volume de vazios igual a 4,3%. Os corpos de prova moldados com a

A visualização da execução das misturas asfálticas mornas, no laboratório e na usina de asfalto visitada, mostrou que a produção destas misturas asfálticas pode reduzir a emissão de poluentes e o consumo de energia diminuindo os impactos sobre o meio ambiente e gerando um menor custo. A utilização destas misturas mornas poderá diminuir os riscos com a saúde dos trabalhadores e aumentar a produtividade dos operários.


Figura 02 – Comparativo visual da liberação de fumaça

A facilidade para compactar uma mistura asfáltica em temperaturas menores, devido a tecnologia Evotherm®, pode resultar em menores riscos na perda de material facilitando, ainda, a pavimentação em obras noturnas como aeroportos e trechos com restrições de manutenção durante o dia. A mistura morna (utilizando a tecnologia Evotherm®) apresentou resultados de volume de vazios menores que aqueles encontrados para a mistura quente, quando compactados com o mesmo número de giros no CGS, indicando, neste caso, que com um menor número de giros, ou seja, utilizando menor energia é possível alcançar a compactação ideal.

AGRADECIMENTOS Agradecemos ao Laboratório de Pavimentação da UFRGS, seus professores, pesquisadores e técnicos que contribuíram com as pesquisas e estudos que geraram esse trabalho. Agradecemos também à empresa Ingevity e seus profissionais por toda a atenção e empenho ao nos prestar todos os esclarecimentos técnicos e ao solucionar prontamente nossas dúvidas.

REFERÊNCIAS

ABNT, Materiais asfálticos – Determinação do efeito do calor e do ar em uma película delgada rotacional. Associação Brasileira de Normas Técnicas, ABNT NBR 15.235, Rio de Janeiro, 4p. 2005. ABNT, Misturas asfálticas – Determinação do dano por umidade induzida. Associação Brasileira de Normas Técnicas, ABNT NBR 15.617:2011, Rio de Janeiro, 5p. 2005. ANP – Agência Nacional do Petróleo, 52 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Gás Natural e Biocombustíveis. Cimentos Asfálticos de Petróleo. Resolução ANP n° 19 de 11 de julho de 2005 – Regulamento Técnico n° 03/2005. ASPHALT INSTITUTE. Superpave Mix Design. Superpave series n.2. 3th ed. Lexington, 2001. D’ANGELO, J. D.; HARM, E.; BARTOSZEK, J.; BAUMGARDNER, G.; CORRIGAN, M.; COWSERT, J.; HARMAN, T.; JAMSHIDI, M.; JONES, W.; NEWCOMB, D.; PROWELL, B.; SINES, R.; YEATON, B. Warm-mix asphalt: european practice. International Technology Scanning Program. Virginia: FEDERAL HIGHWAY ADMINISTRATION, 2008. EVOTHERM; Disponível em: http://evotherm.typepad.com/blog/projectsand-successes/. Acesso em: jul. 2016. HOWARD, I. L.; et al. Full Scale Testing of Hot-Mixed Warm-Compacted Asphalt for Emergency Paving. SERRI Report 70015-011, 2012. INGEVITY; Disponível em: http://www. ingevity.com/markets/asphalt-and-paving/evotherm. Acesso em: jul. 2016. MOTTA, R. dos S. Estudo de misturas asfálticas mornas em revestimentos de pavimentos para redução de emissão de poluentes e consumo energético. 2011. 229 f. Tese (Doutorado em Engenharia) – Departamento de Engenharia de Transportes, Escola Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2011. NCHRP – NATIONAL COOPERATIVE HIGHWAY RESEARCH PROGRAM. Mix design practices for warm mix asphalt. Washington D. C.: Transportation Research Board, 2011. Report 691. NEWCOMB, D. An introduction to warmmix asphalt. Lanham: National Asphalt Pavement Association, 2006. PESQUISA INGEVITY – LAPAV. Desempenho das Misturas Asfálticas Mornas utilizando a tecnologia Evotherm® com e sem o uso do compactador giratório. Relatório Final Ago 2013 – Ago 2015. Ingevity Specialty Chemicals / Universidade Federal do Rio Grande do Sul Ago 2015. PROWELL, B. D.; HURLEY, G. C.; FRANK, B. “Warm-mix asphalt: best practices”. National Asphalt Pavement Association. Lanham. 27f. 2007. PROWELL, B. D.; HURLEY, G. C.; FRANK, B. Warm-mix asphalt: best practices. 3ª ed. Lanham: National Asphalt Pavement Association, 2012. Quality Improvement Series 125.


53 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


ARTIGO

REAPROVEITAMENTO DE MATERIAL FRESADO EM ACOSTAMENTOS DE RODOVIAS Fernanda Marder Arroio do Meio (RS), Brasil, fernandamarder@yahoo.com.br Rodrigo Malysz Ecoplan Engenharia LTDA., Porto Alegre (RS), Brasil, rodrigomalysz@yahoo.com.br

RESUMO A reciclagem do pavimento empregando os resíduos utilizados na técnica de fresagem está sendo empregada nas rodovias brasileiras. A restauração do pavimento de uma rodovia do Estado do Pará utilizou esta técnica para o uso do material fresado nos acostamentos, sendo que duas amostras foram estudadas: amostra 01, representando a estrutura com base de Laterita e em outra a amostra 02, representando a estrutura com base de brita graduada para a verificação da qualidade do material através das execução dos ensaios de granulometria, limites de Atterberg, compactação na energia Proctor intermediária, ISC (Índice Suporte Califórnia) e a expansão. A amostra analisada com ISC > 80%, teve resultado satisfatório para a utilização como camada de base na pista. Palavras-chave: Pavimentação; Material Fresado; Acostamentos; Reciclagem.

INTRODUÇÃO A geração de resíduos tem se tornado um problema crônico no mundo provocado pela falta de locais para a sua destinação. O reaproveitamento tem se mostrado uma alternativa de redução dos impactos que estes possam causar. No meio rodoviário, o problema do destino do material não é diferente, porém a maioria deles é considerado “nobre”, pois são de produção de alto investimento e podem ser aproveitados quando bem estudados. O material resultante da fresagem, técnica que consiste em arrancar parte desta camada, utilizando um equipamento conhecido como fresadora, ainda que considerado nobre, pode também se tornar um passivo ambiental, caso não 54 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

seja destinado corretamente ou reaproveitado. Uma das alternativas estudadas é a utilização na restauração dos acostamentos, juntamente com o local onde fora removido, diminuindo assim a distância e consequentemente o transporte do resíduo. Este artigo apresenta estudos para verificar a possibilidade de utilização do material fresado na reciclagem dos acostamentos de uma rodovia federal do Estado do Pará. Nos casos em que as análises laboratoriais não certifiquem a qualidade do material resultante, deve ser proposta outra alternativa para a destinação desse insumo. A alternativa mais comum é a remoção do material para aterros de resíduos da construção civil. Para o caso em estudo, esta alternativa torna a solução muito cara, uma vez que, segundo a SEMA (Secretaria de Estado de Meio Ambiente), não existem aterros classe IIB no Estado do Pará. A qualidade do material resultante da reciclagem dos acostamentos foi analisada através dos ensaios de granulometria, limites de Atterberg, compactação na energia Proctor intermediária, Índice Suporte Califórnia e Expansão, para a verificação da possibilidade de utilização desse material em acostamentos, reduzindo os impactos ao meio ambiente.

1 1.1

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Rodovias Brasileiras

O Brasil possui uma das maiores malhas viárias do mundo, que movimenta toda a produção e comércio, assim como a ligação entre as cidades que hoje é realizada quase que unicamente por rodovias. Segundo dados publicados na Revista Sistema de Gerência de Pavimentos, a Rede Rodoviária Nacional tem 214.413,5 km (12,5%) de rodovia pavimentada, 1.366.578,2 km (79,8%) de não pavimentada e 131.525,6 km (7,7%) de rodovia planejada. Com a intensa movimentação das rodovias, os problemas de conservação têm sido um desafio para os responsáveis por sua administração, mas com a conscientização ambiental em crescimento, a necessidade de reduzir os impactos decorrentes das obras tem se intensificado. Com o passar do tempo, os pavimentos das rodovias sofrem com o desgaste intenso provocado pela frota de veículos que só cresce no Brasil e com isso o processo de recapagem se torna uma alternativa ineficiente. Atualmente, a técnica


de fresagem desse pavimento deteriorado tem sido utilizado mostrando bons resultados no meio rodoviário, aliando a preservação ambiental, diminuindo o resíduo gerado e os custos do projeto.

1.2

Rodovias brasileiras

Com a crescente técnica da atividade de fresagem, o reaproveitamento dos resíduos gerados, agregados em muitos casos no próprio acostamento das rodovias tem se tornado uma das alternativas mais empregadas de reutilização, pois é empregado in loco, ou seja, junto ao pavimento removido. Os acostamentos em boas condições são importantes na rodovia, pois representam a possibilidade dos veículos encontrarem refúgio no caso de situações de manobra ou risco na faixa em que trafegam. (CNT-SEST-SENAT, 2012) A técnica de fresagem é bastante difundida em solo brasileiro, pois aqui já se fabrica essa tecnologia, com modelos diversificados para atender a necessidade do cliente. O material fresado proveniente da retirada do revestimento asfáltico é obtido por uma técnica que consiste em arrancar parte desta camada utilizando um equipamento conhecido como fresadora. A fresagem a frio consiste na realização de corte ou desbaste de uma ou mais camadas do pavimento asfáltico, por processo mecânico a frio, segundo a Norma 159/2011-DNIT. Segundo Bonfim (2011), a classificação dos tipos de fresagem e suas aplicações são relacionadas quanto à espessura de corte e à rugosidade resultante da pista. A fresagem superficial ou fresagem de regularização é destinada apenas à correção de defeitos existentes na superfície do pavimento. O DNER (Departamento Nacional de Estradas de Rodagem), em seu curso de reciclagem de pavimentos, afirma que a maioria das operações de fresagem melhora a textura da superfície da rodovia (macrotextura) e da superfície exposta do agregado (microtextura), favorecendo a resistência à derrapagem. A fresagem rasa é utilizada na correção dos defeitos funcionais e em remendos superficiais aplicados principalmente em vias urbanas. Essa classificação atinge normalmente as camadas superiores do pavimento, podendo chegar à camada de ligação. Já a fresagem profunda é caracterizada por cortes que atingem níveis consideráveis até a camada de sub-base do pavimento (BONFIM, 2011). Quanto à rugosidade resultante da pista, a fresagem padrão (standart) é resultante do cilindro originalmente oferecido nos equipamentos. Essa técnica é utilizada para o desbaste da camada específica do projeto visando posteriormente a aplicação da nova camada de revestimento. (BONFIM, 2011) A fresagem fina (fine milling) é utilizada na regularização das vias, por possibilitar melhores condições de trafegabilidade e em alguns casos, pode-se dispensar o posterior recapeamento da pista. A microfresagem (micro milling) consiste na remoção da camada delgada do revestimento, visando a adequação do perfil longitudinal ou retirada de faixas de sinalização horizontal das pistas, para a alteração do layout viário (BONFIM, 2011). 55 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

1.3

Estruturas de pavimento

Conforme a especificação de serviço 141/2010 – ES (2010), a camada de base do pavimento, que é utilizada nesse artigo, é caracterizada como “Camada de pavimentação destinada a resistir aos esforços verticais oriundos dos veículos, distribuindo-os adequadamente à camada subjacente, executada sobre a sub-base, subleito ou reforço do subleito devidamente regularizado e compactado”. Os materiais oriundos da camada que foi analisada são constituídos de solos, mistura de solos, mistura de solos e materiais britados e devem possuir composição granulométrica satisfazendo o Índice Suporte Califórnia ≥ 60% para número N ≤ 5 X 106, ISC ≥ 80% para número N > 5 X 106, e expansão ≤ 0,5%, determinados através dos ensaios de compactação – DNER-ME 129/94, na energia do Proctor modificado, indicada no projeto e o ensaio de Índice de Suporte Califórnia – DNER-ME 049/94, com a energia do ensaio de compactação. O material fresado também pode ser reaproveitado na camada de sub-base do pavimento, atendendo as especificações de serviço do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), que especifica que o Índice de Suporte Califórnia ≥ 20% e expansão ≤ 1% que são determinados através dos ensaios de compactação – DNER-ME 129/94, na energia do método B, ou maior que esta e o ensaio de Índice de Suporte Califórnia – DNER-ME 049/94, com a energia do ensaio de compactação.

1.4

Resíduos inertes da construção civil

Os resíduos gerados pela fresagem asfáltica são classificados conforme a norma NBR 10.004/2004 como resíduos Classe IIB, sendo esta classe caracterizada como: “Quaisquer resíduos que, quando amostrados de uma forma representativa, segundo a ABNT NBR 10.007, e submetidos a um contato dinâmico e estático com água destilada ou desionizada, à temperatura ambiente, conforme ABNT NBR 10.006, não tiverem nenhum de seus constituintes solubilizados a concentrações superiores aos padrões de potabilidade de água, excetuando-se aspecto, cor, turbidez, dureza e sabor, conforme anexo G” (ABNT, 2004, p.5). No entanto, os resíduos são considerados como um rejeito da construção civil, de acordo com o CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente), a resolução nº 307, de 5 de julho de 2002, estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil.

2 METODOLOGIA O trabalho realizado teve por finalidade estimar a qualidade do material resultante da reciclagem dos acostamentos, com incorporação do material fresado da pista, no projeto de restauração de uma rodovia federal no Estado do Pará. Para verificar a qualidade do insumo resultante foram propostos ensaios de laboratório, com diferentes porcentagens de material fresado incorporado à base reciclada do acostamento, verificando se os parâmetros obtidos são adequados à camadas de base de pavimentos. Neste estudo, foram propostas duas trincheiras, em uma foi retirada a amostra 01, representado a estrutura com base de Laterita e em outra a amostra 02, representando


Figura1 – Disposição das camadas dos pavimentos flexíveis (CNT-SEST-SENAT, 2012)

Figura 02 – Processo de preparo retirada do revestimento

Figura 03 – Coleta da amostra para os ensaios de caracterização

Figura 04 – Ensaio de granulometria lavada

Figura 06 – Ensaio de compactação e Índice Suporte Califórnia

a estrutura com base de brita graduada como na Figura 1. Após a execução das trincheiras foi feita a coleta de amostras e prosseguiu-se à realização dos ensaios. As amostras foram coletadas através de trincheiras nos acostamentos e com isso foi possível gerar um boletim de sondagens registrando-se a espessura e a descrição das camadas, além da condição de umidade dos materiais.

As Figuras 02 a 05 apresentam as etapas feitas na realização dos ensaios da amostra 01, desde a coleta de amostras até as etapas de laboratório. Durante a primeira fase do estudo a verificação das trincheiras atentou-se a diferenças significativas na composição da estrutura e observaram-se os tipos de materiais encontrados nos locais. Em cada trincheira foi coletada uma amostra do re-

56 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


Quadro 2 – Caracterização da amostra 01para o estudo de reciclagem

Caracterização do Material Limite de Liquidez Limite de Plasticidade Índice de Plasticidade

18,4 8,5 9,9

Figura 06 – Ensaio de compactação e Índice Suporte Califórnia

vestimento e da base para a execução dos ensaios de granulometria, limites de Atterberg, compactação na energia Proctor intermediária, ISC (Índice Suporte Califórnia) e expansão. Os ensaios de compactação e ISC foram realizados para o solo amostrado e também para misturas de solo com diferentes proporções do revestimento como mostra a Figura 06. Através da incorporação do revestimento ao solo (ou brita) da base, criou-se uma tentativa de simulação de uma solução de reciclagem com a incorporação do revestimento, recomendada para os acostamentos da rodovia. As proporções de misturas utilizadas são apresentadas no Quadro 1. Os resultados obtidos foram semelhantes aos relatados por Araújo (2004). Quadro 1 – Definição da proporção de mistura de material de base com revestimento para o estudo de reciclagem Mistura 1 3 4

Figura 07 – Granulometria obtida na amostra 01

Quadro 3 – Resultado dos ensaios realizados com base e revestimento na energia do Proctor intermediário Mistura

Proporção em peso

Ensaio de Compactação gd,máx (kN/m³)

wót (%)

I.S.C. (%)

1

sem mistura

19,99

13,6

72,2

3

10%

19,88

14,1

45,8

4

20%

19,60

13,6

22,2

Camada

Proporção em peso

Revestimento

0%

Base

100%

Revestimento

10%

Base

90%

3.2 AMOSTRA 02

Revestimento

20%

Base

80%

A amostra 02 apresenta a curva granulométrica do material na Figura 8 e o quadro da caracterização do material abaixo.

3 ANÁLISES LABORATORIAIS DO MATERIAL FRESADO DA BR-010/PA 3.1 Amostra 01 Na amostra 01 foram realizados ensaios para a caracterização do solo apresentado no Quadro 2 e analisada a curva granulométrica do material (Figura 07). Abaixo estão apresentados os resultados dos ensaios realizados com a amostra 01, seguindo a mistura e a proporção em peso, proposta conforme o Quadro 1. As análises indicaram que o material sem mistura pode ser utilizado na base dos acostamentos (ISC>60%) de rodovias e os demais (mistura 3 e 4) somente para sub-base por obtiveram ISC>20%. 57 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Figura 8 – Granulometria obtida com a amostra 02


sentação. Rio de Janeiro, 2004. Disponível em: http://www. ecosystem.com.br/wp-content/uploads/2014/03/NBR10006.pdf. Acesso em: 15 jan. 2013. Caracterização do Material ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS– ABNT. Limite de Liquidez 18,4 NBR 10.007: Amostragem de resíduos sólidos – Classificação: ICS 13.030.10: Apresentação. Rio de Janeiro, 2004. DisponíLimite de Plasticidade 8,5 vel em: http://wp.ufpel.edu.br/residuos/files/2014/04/nbrÍndice de Plasticidade 9,9 -10007-amostragem-de-resc3adduos-sc3b3lidos.pdf. Acesso em: 15 jan. 2013. BONFIM, Valmir. Fresagem de Pavimentos AsfáltiQuadro 5 – Resultado dos ensaios realizados com BGS na energia do cos. 3. ed. São Paulo; Exceção Editorial; 2010. DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS Proctor intermediário DE RODAGEM. DNER-ME 049/94. Solos – DeEnsaio de Compactação Proporção terminação do Índice de Suporte Califórnia I.S.C. (%) Mistura em peso gd,máx (kN/m³) wót (%) Utilizando Amostras Não Trabalhadas. Método de Ensaio. Disponível em: http://www1. 1 sem mistura 21,00 10,1 179,6 dnit.gov.br/arquivos_internet/ipr/ipr_new/ 3 10% 21,30 10,1 148,1 normas/DNER-ME049-94.pdf. Acesso em: 17 4 20% 20,37 10,2 83,3 jan. 2013. DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS DE RODAGEM. DNER-ME 129/94. Solos – CompactaOs resultados dos ensaios realizados com a amostra 02 de ção Utilizando Amostras não Trabalhadas. Método de Ensaio. material fresado está localizada no Quadro 5, seguindo a Disponível em: http://www1.dnit.gov.br/arquivos_internet/ mistura e a proporção em peso, proposta conforme o Qua- ipr/ipr_new/normas/DNER-ME129-94.pdf. Acesso em: 17 dro 1. As análises indicam que o material da mistura 1, 3 jan. 2013. e 4 pode ser utilizado como base dos acostamentos, pois DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS DE RODAGEM. apresentou ISC > 60% e até mesmo como base da pista DNIT 141/2010-ES. Pavimentação – Base Estabilizada Granulometricamente. Especificação de Serviço, Rio de Janeiro. (ISC > 80%). Disponível em: http://ipr.dnit.gov.br/normas-e-manuais/ normas/especificacao-de-servicos-es/dnit141_2010_es.pdf. CONCLUSÃO A amostra 1 com adição do material fresado não apre- Acesso em: 19 jan. 2013. sentou bons resultados, sendo que podem ser reali- DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRAESTRUTURA DE zados a execução de novos ensaios, como o ensaio na TRANSPORTES. DNIT 159/2011-ES. Pavimentos asfálticos – energia modificada para verificar a possibilidade de Fresagem a frio. Especificação de serviço, Rio de Janeiro. Dispoutilização da laterita como base. Não apresentando no- nível em: http://ipr.dnit.gov.br/normas-e-manuais/normas/ vamente resultados satisfatórios, os resíduos devem ser especificacao-de-servicos-es/dnit159_2011_es.pdf. Acesso encaminhados ao Aterro Classe II B ou deverão ser estu- em: 19 jan. 2013. dadas novas possibilidades de reutilização. A amostra 2 PINTO, Antonio Luiz de Toledo; WINDT, Márcia Cristina Vaz tem ISC > 80%, suficiente para utilização como camada dos Santos; CÉSOEDES, Lívia. Legislação de direito ambiental. de base na pista e bem mais do que os 60% necessários São Paulo; Editora Saraiva; 2008. CONFEDERAÇÃO NACIONAL DE TRANSPORTE. Relatório para utilização no acostamento. de Pesquisa CNT de Rodovias 2012. CNT: SEST : SENAT – Brasília, 2012. Disponível em: http://pesquisarodovias.cnt. REFERÊNCIAS ARAÚJO, Luciana Michèlle Dellabianca. Estudo do Comporta- org.br/Downloads/Edicoes//2012/Relat%C3%B3rio%20 mento de Material Fresado de Revestimento Asfáltico Visando Gerencial/RelatorioGerencial%202012.pdf. Acesso em: 23 sua Aplicação em Reciclagem de Pavimentos. Tese (Doutora- jan. 2013. do em Geotecnia) – Faculdade de Tecnologia da Universida- CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. Resolução COde de Brasília, Brasília, DF, 2004. Disponível em: http://www. NAMA Nº 307/2002. Estabelece diretrizes, critérios e procedigeotecnia.unb.br/downloads/teses/020-2004.pdf. Acesso mentos para a gestão dos resíduos da construção civil. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre. em: 13 jan. 2013. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. cfm?codlegi=307>. Acesso em: 23 jan. 2013. NBR 10.004: Resíduos sólidos – Classificação: ICS 13.030.10: REVISTA SISTEMA DE GERÊNCIA DE PAVIMENTOS. Relatório Apresentação. Rio de Janeiro, 2004. Disponível em: http:// dos Levantamentos Funcionais das Rodovias Federais, 2011. www.videverde.com.br/docs/NBR-n-10004-2004.pdf. Aces- Disponível em: <http://www.dnit.gov.br/planejamento-e-pesquisa/planejamento/planejamento-rodoviario>. Acesso em: 13 jan. 2013. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS – ABNT. so em: 19 jan. 2013. NBR 10.006: Procedimento para obtenção de extrato solubili- SOUZA, Murillo Lopez de. Método de projeto de pavimentos zado de resíduos sólidos – Classificação: ICS 13.030.10: Apre- flexíveis. 3. ed. Rio de Janeiro; IPR; 1981 Quadro 4 – Caracterização da amostra 02 para o estudo de reciclagem

58 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


59 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


EM FOCO

ESTACA METÁLICA HELICOIDAL A estaca metálica helicoidal é um tipo de estaca que tem sido usada principalmente para resistir a carregamentos de tração e compressão. Ela é constituída de uma haste central de seção transversal circular ou quadrada na qual são soldadas placas em forma de helicoide com um determinado espaçamento. Essas placas helicoidais (ou hélices) podem ter diâmetro igual ou crescente a partir da base e em direção ao topo da estaca. Normalmente, as estacas são compostas por várias peças de comprimento variáveis (tipicamente não superiores a 4 m) que podem ser dotadas de placas helicoidais (seções-guia) ou não (extensões lisas). O número, diâmetro, espessura e espaçamento das hélices e a seção e comprimentos das hastes são dimensionados de acordo com as condições geotécnicas do local de aplicação e da capacidade de carga que se deseja obter. Basicamente, a estaca metálica helicoidal pode ser definida como um “parafuso” usado como fundação, devido às suas placas circulares de aço, em forma de hélices soldadas a um tubo de aço (fuste). O fuste é usado para transmitir o torque durante a instalação, transferir cargas axiais às placas helicoidais e fornecer a resistência ao carregamento lateral. O fuste é executado em dois tipos de seções denominadas: seções principais e seções de extensão. As seções principais costumam ter de uma a três hélices e 3 m de comprimento. As estacas helicoidais são instaladas no solo por meio da aplicação de torque no topo da estaca. O torque é aplicado por um motor hidráulico acoplado ao braço de uma escavadeira ou retroescavadeira. Um torquímetro é acoplado entre o motor hidráulico e a estaca a ser instalada para que se possa medir o torque aplicado durante a instalação. Con60 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

forme a necessidade de continuação do avanço no maciço, a haste é prolongada, emendando-se extensões com a extremidade alargada para o encaixe e aparafusamento.

HISTÓRICO As estacas metálicas helicoidais evoluí­ ram das fundações conhecidas como estacas de rosca. No ano de 1833 este tipo de estaca foi utilizado nas fundações de uma série de faróis na bacia da costa inglesa. A primeira estaca metálica helicoidal comercialmente praticável foi desenvolvida no começo do século XX para atender a uma necessidade por estacas de instalação rápida. Elas foram instaladas e usadas primeiramente pela indústria de energia. Com a criação de caminhões com dispositivos hidráulicos de aplicação de torque foi possível a instalação de estacas helicoidais a profundidades maiores e em uma grande variedade de solos. A utilização de estacas helicoidais expandiu-se além de seu uso tradicional na indústria de energia, devido às vantagens de instalação rápida, possibilidade de utilização imediata, e resistência à tração e à compressão, estendendo sua utilização em aplicações geotécnicas tradicionais da engenharia.

FINALIDADE Trata-se de um tipo utilizado principalmente como suporte de estruturas, cuja fundação esteja submetida a esforços de tração, como no caso de torres estaiadas de linhas de transmissão de energia, ancoragem de dutos e obras de contenção. Recentemente, a estaca metálica helicoidal passou a ser empregada também para resistir a carregamentos de compressão, por exemplo, em fundações de torres autoportantes, postes e painéis de energia solar. Sua finalidade é transferir os esforços provenientes das estruturas a horizon-

tes de solo com capacidade de suporte adequada. O carregamento axial (tração e/ou compressão) aplicado ao topo da estaca é transferido ao terreno essencialmente pela tensão de contato das hélices com o solo. Há pouca transferência de carga por atrito lateral. Devido às reduzidas dimensões das seções transversais das estacas há pouca resistência a carregamentos laterais que, por sua vez, são equilibrados por estacas inclinadas. As estacas helicoidais estão se mostrando bem-sucedidas em suas diversas aplicações, envolvendo diferentes situações de carregamento. As circunstâncias em que as estacas são carregadas principalmente à tração, apesar de ainda serem comumente mais usadas como fundação para torres de linhas de transmissão, incluem: • Tirantes para muros de arrimo; • Estruturas provisórias; • Reforço de fundações; • Grampeamento de solo; • Grandes profundidades de instalação; • Condições submersas; • Conhecimento limitado do solo; • Locais com limitação de espaço de trabalho; • Locais próximos a estruturas existentes; • Locais remotos. Elas também são adequadas para outros tipos de solos, entretanto, dificuldades podem ser encontradas na instalação em pedregulhos.

NORMATIZAÇÃO As normas brasileiras que devem ser usadas no dimensionamento e execução das estacas metálicas helicoidais são a NBR 6.122 – Projeto e Execução de Fundações, em que são definidos fatores de segurança para dimensionamento de fundações; NBR 8.036 – Programação de Sondagens de Simples Reconhecimento dos Solos para Fun-


Fotos: Arquivo Igor Portella

dações de Edifícios, na qual se define onde devem ser e a quantidade de sondagens que são necessárias para um reconhecimento do solo e a NBR 6.459 – Sondagens de Simples Reconhecimento com SPT (Standard Penetration Test), para a determinação do tipo de solo e conhecimento de suas propriedades. Assim como a parte geotécnica, também deve ser avaliado o elemento estrutural da estaca. Para este quesito, a NBR 8.800 – Projeto de Estruturas de Aço e de Estruturas Mistas de Aço e Concreto de Edifícios pode ser usada como referência de dimensionamento do fuste e hélices. Além das normas brasileiras podem ser consultadas normas internacionais como o ICC 2015 (International Building Code), capítulo 18 – Solils and Foundations; ICC-ES – Acceptance Criteria For Helical Foundation Systems And Devices – AC358; ICC-ES Report – Ideal Helical Foundation Systems – ESR-3750, entre outras.

Hélices

Soldagem das hélices ao fuste

Seções principais da estaca

Preparação para instalação

DISSEMINAÇÃO No Brasil, o uso da estaca metálica helicoidal ganhou grande expressão nos últimos dez anos nas funções citadas anteriormente. Recentemente, este tipo de estaca tem sido apresentado como solução para fundações de turbinas eólicas offshore na Europa. A ampla utilização nas aplicações mais tradicionais da engenharia civil foi resultado de suas vantagens. Uma estaca helicoidal típica pode ser instalada em praticamente qualquer tipo de solo, podendo atravessar materiais com NSPT (Índice de Resistência à Penetração) da ordem de 30 golpes/30 cm ou maior. A profundidade limite de instalação depende, além das características do terreno, das características geo­ métricas da estaca (diâmetro da haste e das hélices), bem como das particularidades do equipamento de instalação. Os motores empregados na instalação de estacas helicoidais devem ter capacidade de aplicar torque entre 6 kN.m e 100 kN.m.

Mecanismos de ruptura: a) cilindro de cisalhamento e b) capacidades individuais

VANTAGENS: •

VANTAGENS E LIMITAÇÕES As estacas metálicas helicoidais oferecem muitas vantagens para construções novas e na recuperação de estruturas existentes. 61 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Podem ser instaladas rapidamente com mínima deformação do local, tanto em relação à poluição sonora como do solo; Podem ser instaladas em áreas com acesso limitado (como dentro de prédios);

• • •

Podem ser carregadas imediatamente após sua instalação; O torque da instalação pode ser diretamente correlacionado à capacidade de carga; Podem ser aplicadas em uma grande variedade e condições de solos;


Retroescavadeira adaptada com motor hidráulico

características que podem danificar as hélices ou o fuste, ou onde a profundidade da instalação é restrita (é necessário um comprimento de engaste no solo para resistir aos esforços de tração). Isto inclui os solos que contêm grandes quantidades de pedregulho e matacões.

DESVANTAGENS: • Prova de carga à tração

• • •

Não pode ser empregada em solos com características que podem danificar as hélices ou o fuste; Não pode ser empregada onde a profundidade da instalação é restrita; Limitada a solos extremamente moles ou fofos; Limitada a altas cargas laterais e/ou momentos fletores.

SONDAGENS

Prova de carga à compressão

• •

Podem ser instaladas em qualquer posição da vertical à horizontal; Não são influenciadas, em relação à instalação, por solos com cavernas ou nível de água elevado;

62 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Caso instalada em local indevido pode ser retirada e reinstalada no local correto. Como todo tipo de fundação têm restrições há algumas condições em que as estacas helicoidais não devem ser usadas, como por exemplo, em solos com •

Para a instalação da estaca metálica helicoidal primeiramente é necessário o conhecimento das cargas que as fundações deverão suportar, desta forma um mapa de cargas fornecido pelo calculista estrutural é essencial. Outra informação importante é a sondagem do terreno, pois apesar de ser possível estimar a capacidade de carga da estaca a partir do torque de instalação, só é viável realizar o pré-dimensionamento em função do conhecimento do solo de instalação. As sondagens também fornecem a informação de viabilidade para cada tipo de solo, já que podem apresentar a existência de pedregulhos e matacões com potencial para danificar a estaca ou impossibilitar sua instalação. O levantamento topográfico e o projeto arquitetônico são outras informações importantes, uma vez que definem as elevações e cotas de projeto.


DIMENSIONAMENTO Os métodos disponíveis para o cálculo da capacidade de carga de fundações são as seguintes: • Provas de carga; • Métodos teóricos; • Métodos empíricos; • Métodos semi-empíricos. Os métodos teóricos de previsão da capacidade de carga são divididos em dois grupos: a) Cilindro de Cisalhamento b) Capacidades Individuais O cilindro de cisalhamento é formado quando as hélices estão espaçadas entre dois e quatro vezes o diâmetro das hélices. Quando espaçadas três vezes o diâmetro, apresentam resultados aproximados para ambos os métodos, para a maioria dos parâmetros de solo. 63 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

mensões das estacas serão definidas por um calculista ou geotécnico e em seguida solicitadas para fabricação. As estacas chegam ao canteiro de obra em um caminhão com braço hidráulico para facilitar a distribuição ao longo dos pontos de instalação. Para o processo de cravação da estaca, em geral, é utilizada uma retroescavadeira adaptada com um motor hidráulico para a aplicação de torque. A instalação no terreno é feita por meio de rotação lenta, 10 a 20 RPM (Rotação Por Minuto). Durante a instalação, o torque é monitorado por meio de torquímetro acoplado entre o motor hidráulico e a estaca. O controle da instalação é feito pelo torque medido e pela profundidade. Inicialmente é introduzida a seção-guia, e então são adicionadas extensões até que se alcance a profundidade mínima e o torque mínimo de instalação, especificados previamente. Como este tipo de estaca pode facilmente ser instalado em ângulos diferentes da vertical, normalmente os blocos de coroamento contam com estacas inclinadas para resistir aos carregamentos horizontais. Este arranjo é empregado com o objetivo de diminuir o volume de concreto dos blocos.

Sistema de aplicação de torque, torquímetro digital e estaca

O cálculo da capacidade de carga, “Qu”, pelo método teórico de Cilindro de Cisalhamento é feito da seguinte forma: resistência da hélice superior ou inferior, para o caso de tração ou compressão respectivamente: “Qp”. Resistência do cilindro de cisalhamento, “Qf”; • Resistência devido ao fuste, “Qs”; Qu = Qp + Qf + Qs O cálculo da capacidade de carga, “Qu”, pelo método teórico de Capacidades Individuais é feito da seguinte forma: soma da capacidade de carga de cada hélice, “Qui”. Qu = SQui Os métodos empíricos calculam a capacidade de carga da estaca utilizando o torque de instalação. A capacidade pelo método empírico de torque de instalação é feita conforme a seguinte fórmula: Qu = ktT, em que kt é o valor do fator empírico que relaciona o torque, T, e a capacidade de carga “Qu”. Para provas de carga, a capacidade de carga “Qu” é encontrada nas seguintes relações: • (1953) Critério de Van der Veen (VdV), função de crescimento. • (1999) Método da Rigidez (MR), relações logarítmicas.

EXECUÇÃO Com as informações de projeto, as di-

EQUIPAMENTOS Os equipamentos comumente utilizados para a execução da estaca metálica helicoidal são: motor hidráulico; equipamento com bomba hidráulica com capacidade para movimentar o motor hidráulico (retroescavadeira é o equipamento mais comum); torquímetro; peça de acoplamento entre o torquímetro e a estaca; pinos para travamento do acoplamento torquímetro-estaca; parafusos e porcas para conexão das hastes que são adicionadas à composição que está sendo aparafusada no solo. Arquivo Pessoal

Para o melhor aproveitamento da fundação é recomendável que o terreno esteja preparado, ou seja, que tenha sido realizada a terraplenagem, para que após a instalação da estaca sejam iniciadas de imediato as demais estruturas. Outro fator importante é a utilização de um material e dimensões adequadas para os esforços que serão aplicados nas estacas. Elas devem resistir e ter uma durabilidade adequada à obra, desta forma são produzidas em geral com aço galvanizado ou aço do tipo cortain, adotado nas estacas produzidas no Brasil. Devem ser também observadas as questões relativas ao acesso dos equipamentos para execução e locação. As informações necessárias são: comprimento de instalação previsto e torque mínimo previsto ao final da instalação (média dos valores medidos no comprimento final correspondente a três diâmetros de hélice). As informações normalmente disponíveis antes da execução da estaca são provenientes de sondagens de simples reconhecimento com medida de SPT. Informações complementares provenientes de outros métodos de investigação são desejáveis. Normalmente, estacas-teste são instaladas próximas ao local de execução para avaliação do máximo comprimento executado. Também são realizados ensaios de avaliação com carregamento rápido e não se utiliza nem cimento, argamassa ou concreto para execução desse tipo de estaca.

Igor Portella Garcia de Carvalho é engenheiro civil pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) 2003, possui mestrado em Engenharia de Estrutu-


João Manoel Sampaio Mathias dos Santos Filho é engenheiro civil pela UFAL (Universidade Federal de Alagoas) 2011, mestre em Geotecnia pela EESC-USP (Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo) 2014, onde estudou o efeito da instalação de estacas helicoidais em solo tropical. Atualmente é doutorando em Geotecnia na EESC-USP e trabalha com o comportamento

64 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

civil em indústria de pré-fabricados e também na área de consultoria, projeto e execução de fundações, bem como na área de projetos de estruturas em concreto armado.

Arquivo Pessoal

de estacas helicoidais com injeção de nata de cimento e com helicoidais de grande diâmetro. José Antonio Schiavon é engenheiro civil, especialista em Engenharia de Estruturas e mestre em Geotecnia. Atualmente realiza pesquisa de doutorado em estacas helicoidais na EESC-USP com cotutela da École Centrale de Nantes. É docente no ensino superior desde 2010 em disciplinas relacionadas à geotecnia e estruturas; professor-substituto (graduação) na área de fundações no Departamento de Geotecnia da EESC-­ USP e professor das disciplinas das áreas de geotecnia e estruturas na FHO-­ Uniararas (Centro Universitário Hermínio Ometto). Atuou como engenheiro

Arquivo Pessoal

Arquivo Pessoal

ras pela mesma instituição. Atualmente é diretor-técnico da regional de Minas Gerais do IBRACON (Instituto Brasileiro do Concreto) e sócio-diretor da empresa PI-­ Engenharia e Consultoria Ltda. Possui experiência em projetos, consultoria na área de estruturas, fundações e projetos na área de engenharia civil de subestações.

Márcio Elízio da Rocha Pereira é engenheiro civil pela Faculdade de Engenharia da FUMEC, possui especialização em Geotecnia de Barragens pela UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto), e em Estruturas pela UFMG e MBA (Master of Business Administration) em Gestão de Negócios de Energia Elétrica e Gás Natural pela FGV (Fundação Getulio Vargas). Atualmente é gerente de projetos de pesquisa e desenvolvimento pela CEMIG (Companhia Energética de Minas Gerais) junto à UFMG.


65 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


O QUE HÁ DE NOVO

PLATAFORMA INFORMATIVA ABRANGE CONTROLE DE NORMAS E REGULAMENTOS TÉCNICOS Engenheiros, técnicos de segurança e proteção ambiental podem ter acesso à ferramenta

A construção civil é uma das áreas que mais depende das normas técnicas para o desenvolvimento de produtos e realização de serviços. Mesmo sendo utilizado com frequência, ainda é oneroso e complicado manter toda a documentação de uma empresa em dia. Em alguns casos é preciso acessar individualmente dezenas de entidades de normalização para verificar a validade ou alterações que possam ter ocorrido em determinada norma. Uma ferramenta que analisa toda a codificação e responde ao usuário de maneira simples e objetiva sobre a conformidade da obra em relação à norma é capaz de diminuir significativamente os riscos, reduzir o cronograma e aliviar a carga de trabalho dos profissionais que são destacados para fazer esse monitoramento constante dentro da empresa. A plataforma informativa de controle de normas e regulamentos técnicos já é uma realidade. Tanto engenheiros como técnicos em segurança podem se cadastrar para utilizarem a ferramenta da empresa Arena Técnica gratuitamente pelo período de um ano. Ela abrange o monitoramento de até 30 normas de entidades como ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas), ISO (International Organization for Standardization), BSI (British Standards Institution) e Ministério do Trabalho (Normas Regulamentadoras e Instruções Técnicas do Bombeiro). Na lista já consta a ABNT NBR ISO 9001, NBR ISSO 14001, NFPA (National Fire Protection Association) 25, NR (Normas Regulamentadoras) 6, OHSAS (Occupational Health ans Safety Assessments Series) 18001, OHSAS 18002, BS 8800 e a IT 02. A plataforma foi desenvolvida pela empresa Arena Técnica com o apoio do CIETEC-USP (Centro de Inovação, Empreendedorismo e Tecnologia da Universidade de São Paulo).

FUNCIONAMENTO A diretora-geral da empresa Arena Técnica, Raquel Schilis 66 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Arquivo Arena Técnica

Por Dellana Wolney

Menu superior da plataforma

explica que, para operar, a plataforma de monitoramento abrange uma extensa base de dados, na qual o usuário se mantém informado sobre as normas das mais diversas áreas da cadeia produtiva e de serviços. “A plataforma de gestão organiza todo o acervo de documentos normativos, inclusive de procedimentos e instruções internas correlacionadas com as normas. Ao identificar a entidade e lançar o código da norma, instantaneamente saberá a última data publicada e se o documento está vigente ou obsoleto”. Com características multitarefas, a plataforma é capaz de identificar, alertar e entregar relatórios prontos com as devidas atualizações de normas em uso. Os relatórios emitidos pelo sistema compreendem normas com mudança no mês corrente, relatórios para o auditor externo, relatórios de


U.S. Army Corps of Engineers / Flickr UNC / Flickr

normas obsoletas, relatórios de normas vigentes, relatórios de procedimentos que tiveram normas externas em mudanças e relatórios de normas utilizadas por projetos, clientes e processos. Além disso, a plataforma envia automaticamente por e-mail as mudanças de normas e vencimento de procedimentos. Schilis revela que, para manter o banco de dados sempre atualizado de forma rápida e eficiente, os responsáveis recebem os registros diretamente das entidades, por acordos realizados, ou ainda, por coletas dos dados realizados diretamente no site destas instituições. Dentre as vantagens da plataforma, ela diz que a principal é a segurança no recebimento de informação precisa e a economia de tempo. Não há limitações apontadas até o momento pelos clientes que utilizaram a ferramenta.

INOVAÇÃO “A ideia de criar uma plataforma tão útil veio após uma análise da rotina dos profissionais envolvidos nos controles de processos. Com isso foi verificado que o monitoramento e organização é geralmente feito individualmente, o que é algo ‘chato’ de se fazer, custoso para empresa, e que muitas vezes só será percebido que existe falhas, por exemplo, quando um recall for anunciado, prática muito comum na indústria automobilística, por exemplo”, pontua Schilis. Ela acrescenta que para o desenvolvimento total da plataforma informativa levaram-se anos de pesquisas, principalmente sobre as necessidades dos técnicos das áreas de engenharia e qualidade, e ainda mais dois anos para a concepção final. “Entender o que os profissionais precisavam e o que estava ao nosso alcance para entregar-lhes não foi uma tarefa fácil porque as entidades não seguem uma padronização quanto às nomenclaturas de suas normas, mas, por fim, nos desafiamos e conseguimos realizar a inovação”. 67 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Imagens ilustrativas

Para adquirir a ferramenta são exigidos alguns pré-requisitos. São aceitos somente e-mails corporativos, extensões como hotmail, gmail, uol, terra entre outros, bem como endereços eletrônicos relacionados a universidades não são permitidos. Há um limite de 500 plataformas disponíveis. Planos maiores como de 500 normas e acima de 100 usuários devem solicitar um orçamento customizado. A plataforma já foi avaliada e recomendada pelo SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) como uma ferramenta importante para maior segurança e economia de tempo.

Para obter informações envie um e-mail para atendimento1@arenatecnica.com solicitando instruções para cadastramento e qualificação.


GEOTECNIA AMBIENTAL

STARTUP AUXILIA EMPRESAS NO DESCARTE CORRETO DE RESÍDUOS SÓLIDOS A junção de plataforma e software é gratuita e ajuda as empresas na localização do transporte necessário

A sustentabilidade está em foco atualmente em todos os segmentos devido aos impactos ambientais que se agravam gradualmente. Os resíduos sólidos são considerados um dos principais fatores que contribuem para esses problemas ambientais, por isso, as exigências, principalmente dos órgãos públicos e da sociedade sobre as empresas que as geram, têm crescido exponencialmente. Para atender às necessidades nesse âmbito, a empresa Descarte Legal tem como proposta diminuir os efeitos nocivos dos resíduos sólidos. O negócio surgiu quando um dos fundadores, João Pedro Procópio, trabalhou na Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Contagem (MG) no ano de 2011. Uma das funções no cargo era analisar pedidos de licenciamento ambiental de empresas de diversos setores. Ele observou que essas empresas tinham dificuldades em encontrar outras prestadoras licenciadas para destinar os resíduos gerados. No ano de 2012, Procópio se desligou da secretaria municipal e começou a trabalhar na SEMAD-MG (Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento do Estado de Minas Gerais). A função que realizava anteriormente passou a ser exercida em âmbito estadual, nas cidades da região central de Minas Gerais, mas os problemas se repetiam nas duas 68 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Fotos: Arquivo Descarte Legal

Por Dellana Wolney

Equipe da Descarte Legal

esferas, ou seja, as empresas que pleiteavam licenciamento ambiental (ou a revalidação da licença) buscavam informações sobre outras empresas para destinar seus resíduos (cumprimento das condicionantes ambientais).

Verificou-se neste momento uma oportunidade de negócio, pois as empresas geradoras de resíduos sólidos encontravam diversas dificuldades em gerenciar seus sobrantes e também em identificar grupos ambientalmen-


te regularizados para transportá-los e recebê-los. A ideia foi amadurecida e a criação de um site que ajudasse nesta tarefa tornou-se realidade.

FUNCIONAMENTO A Descarte Legal é considerada uma startup (empresa iniciante de tecnologia) acelerada pela Techmall. Ela consiste em uma plataforma online de gerenciamento de resíduos sólidos, automatizada e integrada a uma rede de empresas transportadoras e receptoras/tratadoras de resíduos sólidos, nas quais são homologadas e monitoradas pela equipe da Descarte Legal que atesta a regularidade ambiental. Essa plataforma possui funcionalidades para atender desde uma oficina mecânica até uma mineradora, seja por meio do sistema online de gerenciamento (armazenamento e controle de documentos; geração automática de documentos e elaboração de relatórios e gráficos dinâmicos) ou da solicitação automática de propostas para destinação dos resíduos sólidos. De acordo com o sócio-fundador da Descarte Legal, Pedro Loures, o sistema funciona da seguinte maneira: uma empresa que tem um ou mais resíduos a serem descartados, como por exemplo, resíduos perigosos ou de construção civil, acessa a plataforma e informa qual o tipo de resíduo possui, a quantidade, localidade, se deseja ter um contrato ou se é um descarte único etc., e solicita um orçamento para descartar o resíduo. Na sequência, as empresas parceiras da Descarte Legal recebem a solicitação e elaboram o orçamento para o descarte. A empresa geradora recebe os orçamentos e escolhe aquele que atende melhor a sua necessidade, seja pelo custo, tempo para descartar, qualificação da empresa, entre outros fatores. Todos os descartes ocorridos na plataforma ficam armazenados no sistema e podem ser acessados em qualquer momento. A inovação é a junção de dois sistemas: uma plataforma de busca por empresas licenciadas para descartar os resí69 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Evento de lançamento da Descarte Legal

duos e um software de gerenciamento de resíduos sólidos. A ferramenta de busca é um marketing place, ou seja, a empresa geradora lança uma demanda e recebe os orçamentos das empresas parceiras da Descarte Legal. É o local para encontrar empresas transportadoras e receptoras licenciadas e rea­ lizar um descarte correto. É também onde ocorre a solicitação automática de propostas. Uma vez que a empresa geradora cadastra uma demanda, esta é enviada imediatamente para as prestadoras aptas a receber o resíduo. Assim, uma companhia especialista em compostagem de orgânicos não recebe um pedido de orçamento para descartar resíduos de construção civil, por exemplo. As empresas geradoras fazem o pedido apenas uma vez e recebem diversas propostas. Elas não precisam ligar para diversos números e repetir a demanda toda vez que fizerem um novo contato. Já o software permite que a empresa visualize e controle todos os descartes realizados, como também acesse gráficos e relatórios que auxiliam na tomada de decisão com relação aos gastos com essas demandas. Além disso, pode ter acesso aos documentos (licenças) das

empresas que realizaram o descarte dos resíduos, bem como gerar documentos como o MTR (Manifesto de Transporte de Resíduos), entre outros.

ETAPAS PARA O DESCARTE Pedro Loures afirma que a gestão de resíduos sólidos ainda é bastante complexa e burocrática. Leis federais, estaduais e municipais estabelecem princípios e obrigações que são muitas vezes difíceis de serem compreendidas e atendidas. Essa dificuldade na gestão também se inicia quando a empresa precisa distinguir que tipo de resíduo ela produziu, ou seja, se é um resíduo perigoso ou não perigoso, se precisa de uma licença ambiental para funcionar, de como deverá fazer o manuseio e o armazenamento deste resíduo etc. “Encontrar empresas que realizam esses serviços de maneira correta também não é muito fácil. Na Internet é possível localizar transportadoras e receptoras de resíduos, mas como garantir que elas são regularizadas por órgãos ambientais? E ainda que encontrem, qual é a garantia que o resíduo teve a destinação correta? A Descarte Legal trabalha somente com empresas licenciadas e aptas a dar uma destinação correta aos


Cadastro de demanda de descarte na plataforma

substratos. Dessa forma, as empresas geradoras têm a segurança de encontrar a companhia certa para descartar os resíduos produzidos de maneira correta e rápida”, informa Loures. Ele diz que a startup também procura ajudar aqueles que os procuram a entenderem melhor como devem ser geridos os seus resíduos. “Temos uma equipe multidisciplinar que envolve dois engenheiros ambientais com mais de oito anos de experiência, tanto na área pública (secretarias de meio ambiente), quanto no setor privado (grandes empresas de consultoria ambiental) que auxiliam e tiram as dúvidas de como deve ser feita a gestão da melhor forma possível”.

QUEM UTILIZA

Elaboração de orçamento

Visualização de orçamentos 70 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Uma das áreas que a Descarte Legal atua expressivamente é a construção civil, buscando parceiros que tragam uma destinação ambientalmente adequada aos resíduos sólidos de obras que muitas vezes são negligenciados. Segundo João Pedro Procópio, a startup já tem parceiros que, além de fazer o transporte e a destinação do resíduo de construção civil, procuram reutilizá-los dentro do que é possível, como por exemplo, o entulho na construção de muros de arrimo, tijolos e telhas em outras construções e agregados em massas. “A Descarte Legal tem e continua procurando parceiros licenciados que evitem ao máximo fazer um descarte em aterros de resíduos inertes e que jamais façam descartes irregulares como ‘bota-foras’ em terrenos baldios ou beiras de rios. A equipe monitora todas as empresas parceiras e procura verificar se os descartes estão ocorrendo de maneira correta, e caso não estejam, a empresa é notificada e excluída da plataforma”, elucida Procópio. Além dos resíduos da área de construção civil, os empreendedores têm parceiros que podem transportar e receber resíduos de outras áreas como: clínicas e hospitais, indústrias químicas, restaurantes e bares, postos de combustíveis, mineradoras, condomínios, indústrias de todos os tipos e portes. A


empresa auxilia no descarte de resíduos orgânicos, hospitalares, recicláveis (papel, plástico, metal e vidro), lâmpadas, pilhas e baterias, resíduos eletroeletrônicos, borrachas e pneus, madeiras, efluentes líquidos, entre outros.

LIMITAÇÕES Por se tratar de uma nova plataforma, ainda existe uma série de limitações. Para Pedro Loures, o principal desafio ainda é mostrar que a inovação, principalmente com o uso da tecnologia, é algo possível e que pode ajudar a sociedade em todos os setores, inclusive no gerenciamento de resíduos sólidos. As startups possuem esse diferencial tecnológico que é pouco conhecido pelos geradores de sedimentos, o que pode em um primeiro momento causar desconfiança nos nossos clientes. Outro desafio é fomentar junto às empresas geradoras que o descarte correto de resíduos é essencial para a sociedade e para o meio ambiente, pois muitas vezes o fator econômico (descartar com qualquer um, licenciado ou não) é o fator decisório em muitos casos. A pouca fiscalização e a possibilidade de gastar menos, ou mesmo não gastar, faz com que algumas empresas geradoras façam uma gestão inadequada dos seus resíduos sólidos. “Apesar de todas as dificuldades, a Descarte Legal é sempre elogiada e recomendada por quem já usou. Quem nos procura e compreende o nosso funcionamento sempre elogia a iniciativa. Já participamos e ganhamos prêmios com esta iniciativa de gerenciamento de resíduos sólidos em dois eventos: Prêmio Connected Smart Cities 2015 e Prêmio Laureate Brasil Jovens Empreendedores Sociais 2015”, pontua Loures. Ele acrescenta que o maior prêmio e reconhecimento veio por meio da aprovação para o Startup Brasil – Turma 4, que é um programa de fomento do Governo Federal para a aceleração de startups. “Foi graças a esse programa de aceleração que desenvolvemos do zero toda a nossa plataforma de gerenciamento de resíduos sólidos. Durante um ano passa71 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Conclusão da negociação

VANTAGENS: • Uso gratuito; • Facilidade em encontrar empresas transportadoras e tratadoras de resíduos licenciadas; • Acesso a gráficos e históricos dos descartes realizados pela plataforma; • Segurança em destinar o resíduo sólido; • Fácil acesso à licença ambiental da empresa transportadora e/ou tratadoras de resíduos; • Parceria com empresas que praticamente transportam e tratam todos os tipos de resíduos (orgânicos, hospitalares, recicláveis, construção civil, óleos etc.); • Empresas geradoras podem escolher o tratamento que querem dar ao resíduo como, por exemplo, a incineração, compostagem, reciclagem e reutilização. LIMITAÇÕES: • A Plataforma atende atualmente somente a região metropolitana de Belo Horizonte (MG); • O atendimento é somente para pessoas jurídicas; • A Descarte Legal não possui ainda muitas empresas parceiras, assim o gerador poderá, neste momento inicial, receber poucos orçamentos.

mos pelo processo de aceleração, validação e construção da plataforma com o apoio da empresa Techmall”. Embora a atuação seja apenas na região metropolitana de Belo Horizonte (MG), frequentemente há ligações e cadastros de empresas de outros Estados do Brasil, o que demonstra o sucesso da iniciativa. A Descarte Legal é de uso gratuito, dessa

forma, qualquer empresa geradora de resíduos sólidos, seja de pequeno, médio ou grande porte pode se cadastrar e solicitar orçamentos para o descarte de seus despojos. Para utilizá-la é necessário apenas um computador ou dispositivo móvel que tenha acesso a Internet. O custo que a empresa poderá ter é o de destinar e tratar o resíduo.


LIVRO OBSERVAÇÕES GEOLÓGICAS EM ILHAS VULCÂNICAS Autor: Charles Darwin Ano: 2016 Tradutor: Leandro Thomaz Um dos maiores nomes da ciência mundial, Charles Darwin revolucionou a área biológica, ao apresentar ao mundo seus estudos e observações da evolução na Terra. O que muitos desconhecem é que o célebre pesquisador também desenvolveu algumas pesquisas no campo da geologia. Algumas dessas observações de Darwin foram realizadas durante sua viagem a bordo do HMS (Her/His Majesty’s Ship) Beagle, um navio da Marinha britânica, entre 1832 e 1836, época em que ele visitou diversas regiões do mundo. Para mostrar suas observações ao público, Darwin escreveu o livro “Observações geológicas em ilhas vulcânicas”. Quase duzentos anos depois, o geólogo brasileiro Leandro Thomaz traduziu a obra que revela o lado geológico do naturalista. Publicada originalmente em 1844, a obra apresenta as descrições e as interpretações dos processos geológicos que participaram na formação das ilhas vulcânicas. Ao longo do livro são expostas várias ilhas, assim como os arquipélagos brasileiros de São Pedro, São Paulo e Fernando de Noronha. Galápagos também recebe destaque na publicação. Entre os destaques do livro, consta a compreensão de que ilhas vulcânicas foram formadas independentemente dos continentes, além de descrições detalhadas da geomorfologia das ilhas e de suas variedades litológicas, faciológicas e texturais; observações sobre os processos de diferenciação das lavas, ambientes de vulcanismo, distribuição das ilhas oceânicas, entre outros tópicos relacionados. Leandro Thomaz decidiu traduzir a obra pela admiração que nutria pelo trabalho geológico de Darwin. Os interessados em adquirir o livro devem acessar o site www.ilhasvulcanicas.com

Para comprar as obras indicadas nesta seção, envie um e-mail para assinatura@rudders.com.br

72 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


AGENDA BRASIL 25 DE OUTUBRO

11º PRÊMIO MASTERINSTAL

São Paulo, São Paulo

www.premiomasterinstal.com.br

O evento tem como objetivo dar visibilidade ao setor de instalações e enaltecer iniciativas pioneiras no segmento, assim como destacar as melhores práticas na execução de obras de instalação e na qualificação da mão de obra setorial especializada. O MASTERINSTAL premia e divulga empresas que se distinguiram no mercado de instalações, seja por seus produtos e serviços, pela produtividade, entre outros, que foram analisados durante a fase de obras ou como um benefício a longo prazo para os clientes.

26 DE OUTUBRO

7º SEMINÁRIO INTERNACIONAL BIM – MODELAGEM DA INFORMAÇÃO DA CONSTRUÇÃO

São Paulo, São Paulo

eventos.sindusconsp.com.br/bim2016

Considerado um dos seminários mais consagrados do tema no Brasil, o evento é conhecido por antecipar tendências do mercado e conta com a presença de diversos especialistas brasileiros e do exterior. Com o objetivo de fomentar o sistema BIM (Building Information Modeling), o encontro proporcionará a troca de experiências, mostrará cases nacionais e internacionais e também apresentará pesquisas que estão ocorrendo em universidades brasileiras.

7 A 9 DE NOVEMBRO

II CONGRESSO LUSO-BRASILEIRO DE MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEIS

João Pessoa, Paraíba

sites.usp.br/constrambi/iicongressolusobrasileiro/

Em sua segunda edição, o evento visa mostrar soluções e recursos sustentáveis na área de construção civil. Ao longo dos dias irá apresentar palestras e exibir artigos acadêmicos, relacionados com os seguintes temas: aproveitamento de resíduos de materiais de construção; materiais cimentícios de menor impacto ambiental; biopolímeros; bioarquitetura; bambu, fibras vegetais e madeira; eficiência energética e ciclo de vida de materiais de construção, entre outros.

8 A 10 DE NOVEMBRO

FEIPLAR COMPOSITES & FEIPUR – FEIRA E CONGRESSO INTERNACIONAIS DE COMPOSITES,

POLIURETANO E COMPOSTOS TERMOPLÁSTICOS / PLÁSTICO DE ENGENHARIA

São Paulo, São Paulo www.feiplar.com.br/

Durante os três dias da feira, os visitantes poderão conferir novas soluções em matérias-primas, produtos auxiliares, equipamentos e tecnologias aos fabricantes de peças em composites, poliuretano ou plásticos de engenharia/compostos termoplásticos da América Latina. O evento tem como propósito ajudar no crescimento desse setor que se encontra em expansão nos últimos anos.

8 DE DEZEMBRO

ENCONTRO DE DIRETORES E GESTORES DA CONSTRUÇÃO – TENDÊNCIAS DA ECONOMIA, PERSPECTIVAS DA CONSTRUÇÃO E PRÁTICAS DE GESTÃO

São Paulo, São Paulo http://migre.me/uFWd2

Voltado para gestores de incorporadoras, construtoras, arquitetos, projetistas, fornecedores de materiais, imobiliárias e demais profissionais relacionados com o setor, o evento tem como finalidade promover o debate sobre a economia e as perspectivas para o mercado imobiliário. Durante o encontro, serão compartilhados cases de sucesso em variados âmbitos, exibidos por líderes do segmento da construção civil.

4 A 6 DE JANEIRO DE 2017

INTERNATIONAL PERSPECTIVE ON WATER RESOURCES AND THE ENVIRONMENT CONFERENCE

Wuhan, China

http://bit.ly/2b7gund

A conferência tem como objetivo apresentar uma variedade de tópicos relacionados à gestão de recursos hídricos ambientais e sustentáveis. Também haverá sessões técnicas sobre os países desenvolvidos e em desenvolvimento. Entre os temas que serão explorados nas palestras, destacam-se modelagem e gestão dos pantanais; tratamento de águas residuais; problemas e soluções de abastecimento de água, entre outros.

12 A 15 DE MARÇO DE 2017 GEOTECHNICAL FRONTIERS

Orlando, Estados Unidos geotechnicalfrontiers.com/

EXTERIOR 20 DE OUTUBRO GEOCHARLOTTE

Carolina do Norte, Estados Unidos geotechnicalfrontiers.com/geocharlotte/

Ao longo do evento serão apresentadas as mais recentes técnicas e conceitos geossintéticos do momento. Haverá também três cursos de curta duração (ética, drenagem e filtração), assim como três palestras de formação, que discutirão o reforço de solo e o controle de erosão, entre outros temas relacionados. Um dos painéis será organizado pelo GMA (Geosynthetic Materials Association).

26 A 29 DE OUTUBRO

CINPAR – XII CONGRESSO INTERNACIONAL SOBRE PATOLOGIA E REABILITAÇÃO DE ESTRUTURAS

Porto, Portugal

web.fe.up.pt/~cinpar/pt/

Em sua 12º edição, o evento abordará temas so-

19 A 22 DE OUTUBRO COBRAMSEG 2016 – XVIII CONGRESSO BRASILEIRO DE MECÂNICA DOS SOLOS E ENGENHARIA GEOTÉCNICA / SBMR – VII SIMPÓSIO BRASILEIRO DE MECÂNICA DOS SOLOS

Belo Horizonte, Minas Gerais cobramseg2016.com.br/

Visto como um dos mais importantes eventos da área de geotecnia no Brasil, o COBRAMSEG terá como tema central este ano o “Futuro sustentável do Brasil passa por Minas”, que proporcionará debates da exploração consciente de recursos naturais e a responsabilidade de desenvolvimentos de projetos. Essa edição contará ainda com novidades como a edição Sul-Americana do GEOJOVEM – Simpósio de Engenheiros Geotécnicos Jovens e da realização do SFGE 2016 – Shaping the Future of Geotechnical Education, conferência que abordará o ensino da geotecnia.

73 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

bre patologia, reabilitação de estruturas e métodos construtivos. O congresso é destinado aos profissionais da construção civil, engenharia e arquitetura, que buscam atualizar-se no setor. Durante os três dias do encontro, os participantes terão a possibilidade de aprender mais as técnicas de reabilitação e reforços de estruturas, assim como verificar quais são as manifestações patológicas recorrentes e analisar os ensaios não destrutivos e destrutivos para avaliação de estruturas.

Realizada a cada seis anos, a feira é o local onde a indústria se une para compartilhar os desenvolvimentos em engenharia e de tecnologias geotécnicas. Ao longo dos quatro dias de evento haverá mais de 200 exposições, com cursos de curta duração, painéis de discussão, palestras de formação e trabalhos técnicos apresentados por especialistas do ramo.

21 E 22 DE MARÇO DE 2017

PILED FOUNDATIONS & GROUND IMPROVEMENT TECHNOLOGY FOR THE MODERN BUILDING AND INFRASTRUCTURE SECTOR

Melbourne, Austrália http://bit.ly/2bcy9qP

A conferência abrangerá estacas em fundações e obras de melhoramento do solo associado à evolução de construção e infraestrutura, além de incluir requisitos de retenção para porões. Os palestrantes compartilharão suas experiências, aspectos de concepção, construção e desempenho para trabalhar com estacas, além de abordar a melhoria do solo e técnicas para construção e obras de infraestrutura.

29 DE MARÇO A 01 DE ABRIL DE 2017

ISM 2017: MICROPILES RESISTING AND REMEDIATING THE EFFECTS OF MOTHER NATURE

Vancouver, Canadá http://bit.ly/2btGTdV

Organizado pela ISM (International Society for Micropiles), pela ADSC (International Association of Foundation Drilling) e pelo DFI (Deep Foundations Institute), o evento retorna à América do Norte. O workshop manterá o formato tradicional, com sessões de palestras sobre os aspectos da tecnologia de microestacas. Haverá também uma competição internacional de microestacas, que selecionará o melhor projeto do gênero do mundo.



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