Revista Fundações Ed.74

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Revista FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS www.revistafundacoes.com.br

Ano 7 Nº 74 R$ 27,00

Novembro de 2016

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Ano 7 – Nº 74 – Novembro de 2016

DUAS DÉCADAS MARCAM A EVOLUÇÃO DOS MUROS TERRAE NO BRASIL PORTO DO AÇU GANHA TRÊS NOVOS TERMINAIS



EDITORIAL Revista FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

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PORTO DO AÇU GANHA TRÊS NOVOS TERMINAIS Capa 1.indd 1

17/11/16 13:06

Ano 7 – No 74 –NOVEMBRO 2016

SUGESTÕES PARA O MANUAL DE PADRONIZAÇÃO DA REVISTA Nesse editorial mais uma vez enfatizamos a publicação e disponibilidade de nosso Manual de Redação e Padronização. Desde de 2012 a revista Fundações & Obras Geotécnicas começou o desenvolvimento de um manual de padronização e estilo que orientasse sobre a publicação em cada uma das seções de nosso periódico. O objetivo desde a sua criação é explicar ao que se destina aquela seção, como funciona, quais são os conteúdos de texto e imagem necessários para a sua composição e também as etapas para que isso ocorra, explicando desde os primeiros contatos dos jornalistas com os entrevistados, até o momento da publicação, envio de exemplares, concessão do arquivo digital para uso etc. A sua criação foi motivada especialmente pela novidade e, às vezes, divergências que são causadas nos primeiros contatos para a realização de uma matéria em relação às linguagens utilizadas entre duas áreas tão diferentes: a utilizada na comunicação jornalística e na engenharia civil. O resultado foi motivador: o manual se mostrou uma ferramenta extremamente didática e ilustrativa do processo de produção e finalização da revista e ampliou o nosso alcance nos contatos para as matérias, assim como também se tornou uma ferramenta de grande utilidade para a continuidade do título, mantendo o padrão que ele possui hoje. Desde então criamos também uma periodicidade para a renovação do manual e para a sua revisão. Dessa forma, o manual é renovado, ou seja, tem seu layout e propostas atualizado a cada dois anos, e é revisado anualmente. Esses prazos nos permitem um intervalo para identificar novas necessidades de alterações e também a melhor forma de aplicá-las a revista. Por fim, no final de 2015 finalizamos a nossa edição do manual que agora contempla todas as seções. Esse material de grande proveito para a agilidade e organização de nosso trabalho, também é um meio esclarecedor para aqueles que se propõem a colaborar com a revista. As orientações de cada seção serão enviadas para os nossos entrevistados e colaboradores por nossos jornalistas, sempre que houver um contato para a participação em uma seção, e é extremamente importante que ele seja lido e seguido. Em janeiro de 2017 faremos uma reformulação de nossos manuais de padronização da revista e aceitamos críticas ou sugestões sobre eles para que possamos aperfeiçoar o nosso trabalho. Basta enviar um e-mail para glessia@revistafundacoes. com.br Da redação

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SUMÁRIO

Ano 7 – Nº 74 – Novembro de 2016

22 |

36 |

52 | 52 | EM FOCO –

04 | O setor em números

32 | Espaço Aberto

06 | Jogo Rápido

36 | PORTO DO AÇU

09 | Coluna do conselho

ganha três novos terminais

Caracterização, Recuperação e Fechamento de Áreas Degradadas

40 | Antes prevenir do que

56 | O que há de novo

10 | Destaque – Participantes brasileiros marcam presença na ISC’5

14 | Notas 16 | Entrevista – Eraldo Luporini Pastore

20 | História 22 | REPORTAGEM – Duas décadas marcam a evolução dos Muros Terrae no Brasil

remediar

42 | Artigo – Estimativa da Capacidade de Carga de Sapatas Isoladas por Meio de Procedimento Estatístico

47 | Artigo – Utilização de Agregados Reciclados Provenientes de Corpos de Prova de Concreto em Substituição ao Agregado Natural em Misturas Asfálticas

– EKO/GRID é usado para remediar solos e lençóis de água contaminados

60 | Geotecnia Ambiental – Erosão costeira é muito mais que um problema ambiental

64 | Livro 65 | Agenda


O SETOR EM NÚMEROS

Por Dafne Mazaia

SONDAGEM DA INDÚSTRIA DA TRANSFORMAÇÃO Índice de Confiança da Indústria

O ICI (Índice de Confiança da Indústria) da Fundação Getulio Vargas avançou 2,1 pontos em setembro, para 88,2 pontos, o maior nível desde julho de 2014 (88,8). A expansão no mês atingiu 12 dos 19 segmentos pesquisados e foi determinada tanto pela melhora das expectativas quanto das avaliações sobre a situação atual. “Em setembro, o ICI retoma a trajetória de alta iniciada em abril, depois de breve interrupção no mês anterior. A leitura desagregada dos quesitos da pesquisa sugere uma recuperação lenta e sujeita a sobressaltos pelo lado da produção, decorrente do esforço para normalização de estoques e da recente perda de fôlego das vendas externas. O setor continua desapontado com a lentidão da recuperação da demanda interna, mas começa a apresentar maior otimismo no horizonte de seis meses”, afirma o superintendente de Estatísticas Públicas da FGV/IBRE (Fundação Getulio Vargas / Instituto Brasileiro de Economia), Aloisio Campelo Junior. Apesar do ganho acumulado de 13,5 pontos entre março e setembro, o índice permanece em nível historicamente baixo. Por exemplo, a média deste terceiro trimestre de 2016, de 87,1 pontos, terminou idêntica à do terceiro trimestre de 2014, período em que a economia brasileira já estava em recessão segundo o CODACE (Comitê de Datação de Ciclos Econômicos). Em setembro, o IE (Índice de Expectativas) avançou 2,5 pontos, para 89,8 pontos, o maior desde junho de 2014 (90,3 pontos). Já o ISA (Índice da Situação Atual) aumentou 1,5 ponto, para 86,7 pontos, o maior desde janeiro de 2015 (88,4 pontos). O indicador que mede o grau de otimismo com a tendência dos negócios 4 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

nos seis meses seguintes exerceu a maior contribuição para a alta do IE em setembro, de 5,3 pontos, para 88,9 pontos, o maior patamar desde dezembro de 2014 (91 pontos). A melhora nas percepções sobre o momento presente foi influenciada pela evolução favorável dos estoques. O percentual de empresas avaliando o nível atual de estoques como excessivos caiu de 14,1% para 12,7% entre agosto e setembro, enquanto as que os consideram insuficientes aumentou de 5,4% para 7,1% do total – o maior desde maio de 2013 (7,3%). O NUCI (Nível de Utilização da Capacidade Instalada) aumentou 0,9 p.p (ponto percentual) em setembro em relação ao mês anterior, para 74,7%, o maior desde dezembro de 2015. Houve avanço também em bases trimestrais: a média no terceiro trimestre, de 74,3%, é 0,3 p.p. superior à do trimestre imediatamente anterior.


Divulgação / FGV

Aloisio Campelo Junior é formado em economia pela PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), com “Diploma in Economics for Development” pela University of London e tem um mestrado pela FGV (Fundação Getulio Vargas), em Economia Empresarial. Atualmente é superintendente de Estatísticas Públicas do FGV/IBRE. 5 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


JOGO RÁPIDO

Banco de Imagens / Free Images

NORMA DE TERRA ARMADA FOI REVISADA Patenteada pelo engenheiro francês Henri Vidal, a tecnologia da terra armada, também conhecida como solo reforçado, ficou popular a partir da década de 1960 e cada vez mais cresce no mundo. Ela consiste em confinar aterros com o uso de placas de concreto, armaduras e a terra, como materiais. Em 2016, a norma ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) NBR 9.286:1986 – Terra Armada foi revisada e recebeu nova numeração e denominação: ABNT NBR 19.286:2016 – Muros em solos mecanicamente estabilizados. Nas primeiras reuniões para a revisão foram levantados diversos detalhes, que precisavam ser adequados, pois ocorreram algumas discordâncias, posteriormente todos os integrantes da comissão responsável chegaram a um consenso, como explica o diretor-executivo da ABEF (Associação Brasileira de Engenharia de Fundações), Marco Aurélio Alves Costa. “Identificaram-se incongruências nos procedimentos formais e houve discordância quanto à denominação original da norma, a qual, como se percebe, foi devidamente adequada”. A norma revisada foi publicada pela ABNT em 28 de setembro e já está em vigor.

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A norma ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) NBR 6.123 – Forças devidas ao vento em edificações – entrou em revisão no começo de outubro e está sob a supervisão do CB-2 (Comitê Brasileiro da Construção Civil). Segundo o professor do Departamento de Engenharia Civil e coordenador do Laboratório de Aerodinâmica da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Acir Mércio Loredo Souza, a revisão tem o objetivo de demonstrar a importância de se levar em consideração a velocidade dos ventos ao se projetar edificações. Publicada em 1988, a norma não havia passado por nenhum tipo de revisão até o momento, por ser considerada bem concebida pelos especialistas. Durante uma palestra no evento Concrete Show, que ocorreu em São Paulo (SP), o professor da UFRGS avisou aos participantes que as mudanças climáticas estão tornando o Brasil mais suscetível a fenômenos naturais, como ciclones extratropicais e tormentas TS (Thunderstorms) e que os profissionais da área precisam estar atentos e prevenir acidentes que possam ser causados pelo vento na fase de projeto da obra.

Divulgação / Huesker

Há quase dez anos, o arquiteto Oscar Niemeyer elaborou uma lista com 24 obras para que fossem tombadas pelo IPHAN (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Niemeyer também estava preocupado com o estado delas e sabia que precisavam de manutenção. Quase uma década depois, o IPHAN tenta agilizar o processo de tombamento para que algumas das obras possam ser restauradas. O primeiro tombamento foi o conjunto arquitetônico e paisagístico da Pampulha, em Minas Gerais, que também foi tombado pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura). Em maio de 2016, outras obras de Niemeyer foram tombadas: o Museu de Arte Contemporânea de Niterói, a Passarela do Samba – ambas localizadas no Rio de Janeiro – e o Parque do Ibirapuera, em São Paulo. De acordo com o Depam/Iphan (Departamento de Patrimônio Material e Fiscalização do IPHAN), não há uma pretensão de tombar todas as obras de Niemeyer, somente as mais significativas.

Norma relacionada ao vento

Banco de Imagens / Free Images

Helena R B Ghosson / Creative Commons (Arquigrafia USP)

OBRAS DE NIEMEYER SÃO TOMBADAS

Por Dafne Mazaia


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www.revistafundacoes.com.br Rua Leopoldo Machado, 236 Vila Laís CEP: 03611-020 São Paulo - SP Telefone: (11) 2641-0871 / (11) 95996-6391*

*Telefone celular com atendimento também por WhatsApp: das 10h às 18h

CONSELHO EDITORIAL São Paulo • Paulo José Rocha de Albuquerque • Roberto Kochen • Álvaro Rodrigues dos Santos • George Teles • Paulo César Lodi José Orlando Avesani Neto • Eraldo L. Pastore • Sussumu Niyama • Fernando Henrique Martins Portelinha Minas Gerais • Sérgio C. Paraíso • Ivan Libanio Vianna Pernambuco • Stela Fucale Sukar Bahia • Moacyr Schwab de Souza Menezes • Luis Edmundo Prado de Campos Rio de Janeiro • Bernadete Ragoni Danziger • Paulo Henrique Vieira Dias • Mauricio Ehrlich • Alberto Sayão • Marcio Fernandes Leão Distrito Federal • Gregório Luís Silva Araújo • Renato Pinto da Cunha • Carlos Medeiros Silva • Ennio Marques Palmeira Rio Grande do Sul • Miguel Augusto Zydan Sória • Marcos Strauss Rio Grande do Norte • Osvaldo de Freitas Neto Espírito Santo • Uberescilas Fernandes Polido

www.revistafundacoes.com.br Fundador e idealizador Francisjones Marino Lemes (in memoriam) Coordenação editorial e marketing Jenniffer Lemes (jenni@revistafundacoes.com.br) Colaboradores Gléssia Veras (Edição); Dellana Wolney, Dafne Mazaia (Texto); Rosemary Costa (Revisão); Elisa Gomes (Arte); Melchiades Ramalho (Artes Especiais) Contatos Pautas: glessia@revistafundacoes.com.br Assinaturas: assinatura@revistafundacoes.com.br Publicidade: publicidade@revistafundacoes.com.br Financeiro: financeiro@revistafundacoes.com.br Foto de capa Divulgação Huesker Impressão Gráfica CompanyGraf Importante A Revista Fundações & Obras Geotécnicasé uma publicação técnica mensal, distribuída em todo o território nacional e direcionada a profissionais da engenharia civil. Todos os direitos reservados à Editora Rudder. Nenhuma parte de seu conteúdo pode ser reproduzida por qualquer meio sem a devida autorização, por escrito, dos editores A revista Fundações & Obras Geotécnicas segue o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Esta publicação é avaliada pela QUALIS, conjunto de procedimentos utilizados pela CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e encontra-se atualmente com classificação B4.

IMPORTANTE: as seções “Coluna do Conselho” e “Artigo” são seções autorais, ou seja, tem o conteúdo (de texto e fotos) produzido pelos autores, que ao publicarem na revista assumem a responsabilidade sobre a veracidade do que for exposto e o devido crédito as fontes utilizadas.

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COLUNA DO CONSELHO

O PAPEL DA GEOLOGIA EM OBRAS DE ENGENHARIA

A geologia, como ciência, busca entender a história física de nosso planeta, a gênese dos materiais geológicos, bem como os fenômenos naturais acerca de longas Eras. A compreensão do meio físico é fundamental, já que no processo evolutivo da humanidade o desenvolvimento conjunto da infraestrutura é necessário. Na história das grandes construções, a Pirâmide de Quéops, construída entre 3.000 a 2.500 anos a.C (antes de Cristo) na cidade do Cairo, no Egito, incita a curiosidade. Com cerca de 150 m de altura e área da base de 50.000 m², ainda se encontra de pé. Foram utilizados blocos de arenito para a construção do corpo. Seria um acerto construtivo ou a experiência? A passagem do empirismo para o conhecimento sistematizado teve ao longo do seu processo insucessos construtivos e acidentes em grandes obras, como as barragens de Malpasset (França) em 1959, Vajont (Itália) em 1963, dentre outros. Apesar da disponibilidade de técnicas de investigação, esses acidentes ainda ocorrem. Há a necessidade de se compreender o comportamento de engenharia de materiais geológicos (solos, sedimentos e rochas). Solos e rochas não se comportam como materiais ideais e desta forma precisam ser tratados distintamente, considerando suas propriedades intrínsecas. O intemperismo, tão comum em países de clima tropical, como o Brasil, atua no comportamento de rochas e solos, em termos de resistência, deformação e permeabilidade etc. Como forma de subsidiar essas ques9 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Arquivo pessoal

MARCIO FERNANDES LEÃO

tões, destaca-se a Geologia de Engenharia, devido a sua grande interdisciplinaridade e estreito relacionamento com a Mecânica dos Solos, Mecânica das Rochas e Geotecnia. Os congressos da IAEG (International Society for Engineering Geology and the Environment), iniciado em 1964, incitaram a necessidade da investigação, estudo e solução de problemas de engenharia e meio ambiente, decorrentes da interação entre a geologia e os trabalhos e atividades do homem, bem como a previsão e desenvolvimento de medidas preventivas ou reparados de acidentes geológicos, conforme extraído de seu estatuto. É fundamental ter controle acerca de determinados condicionantes geológico-geotécnicos (coberturas de solos, rochas e rochas alteradas; matriz rochosa e maciço rochoso; influência

de descontinuidades e feições geológicas e ação de processos intempéricos). Para a definição e porte de uma obra, é necessário investigar, por métodos diretos, semidiretos e indiretos, de forma objetiva e racional, compreendendo a natureza geológica e prevenindo riscos construtivos e impactos ambientais. Sob a perspectiva geológica faço algumas considerações: o profissional, geólogo ou não, deve ser excelente em sua área e ao menos regular nas outras. Algumas obras, principalmente as que remetem escavações são muito dinâmicas e desta forma, quando achar que conhece a sua obra, duvide! Não investigue pouco ou muito, investigue certo; o custo com remediações ao final da obra pode ser fatal. É mais fácil mudar o seu projeto do que a natureza geológica por isso, sempre tenha ao menos um plano B. Nunca espere encontrar materiais naturais homogêneos e de comportamento isotrópico. Lembre-se acima de tudo, a geologia pode complicar a sua obra, mas uma solução barata pode ainda mais. Marcio Fernandes Leão é geólogo, com MBA (Master of Business Administration) em Gerenciamento de Projetos pela USP (Universidade de São Paulo), mestre em Geotecnia pela UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), mestre e doutorando, com ênfase em Geologia de Engenharia e Ambiental, pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Atualmente é pesquisador do LEMETRO – UFRJ (Laboratório de Mecânica e Tecnologia das Rochas), com ênfase em Mecânica das Rochas, Solos e Ensaios Laboratoriais. É membro de várias associações técnico-científicas dentre elas, ABMS (Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica) e ABGE (Associação Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental).


DESTAQUE

PARTICIPANTES BRASILEIROS MARCAM PRESENÇA NA ISC’5 Evento apresentou novidades relacionadas à geoengenharia e reuniu palestrantes renomados da área geotécnica Por Dellana Wolney

nistradas, em sua maior parte associadas à interpretação de ensaios e técnicas recentes. Dentre as apresentações destacaram-se: “Simulation of The Cone Penetration Test: Discrete and Continuum Approaches”, apresentada pelo professor da Technical University of Catalonia, Antonio Gens.

ISC’5 (5th International Conference on Geotechnical and Geophysical Site Characterisation) realizado em Gold Coast, Austrália 10 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Fotos: Divulgação ISC’5

A ISSMGE (International Society for Soil Mechanics, Geotechnical Engineering Technical Committee TC102) juntamente com a AGS (Australian Geomechanics Society) realizou nos dias 5 a 9 de setembro em Gold Coast, Austrália, o ISC’5 (5th International Conference on Geotechnical and Geophysical Site Characterisation). O Comitê Organizador composto pelos engenheiros, Allan McConnell (IGS – Insitu Geotech Services), Richard Kelly (SMEC) e Barry Lehane (University of Western Australia) elaborou uma programação diversificada, composta por palestrantes internacionais, assim como escolheu local e temporada estratégicas para fomentar o turismo no país. Um dos temas principais abordados durante a conferência foi o “Site Characterization” (em tradução livre: “Caracterização Local”), considerado como um dos componentes mais difíceis da geoengenharia. Para tratar do assunto, o ISC’5 reuniu especialistas que abordaram tópicos como melhoria da qualidade e redução das dificuldades envolvidas nessa atividade. Ao longo de três dias, várias palestras magistrais foram mi-


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O diretor-técnico da empresa Geolab, John Powell • 2 A engenheira e assistente do Instituto Politécnico da Universidade Estadual da Virgínia, Nina Stark • 3 O engenheiro e professor emérito da University of Alberta, Peter Robertson • 4 O professor da School of Civil and Environmental Engineering, Paul Mayne •

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O professor da University of California, Ross Boulanger

Também compuseram o conteúdo programático, temas como: “The GP Sampler: A New Innovation in Core Sampling” ministrada pelo special advisor da empresa Raito Kogyo e presidente da empresa Mori Geotechnique, Kenji Mori e, “Evaluating Liquefaction & Lateral Spreading in Interbedded Sand, Silt, & Clay Deposits Using the Cone Penetrometer” pelo professor da University of California, Ross Boulanger. Simultaneamente às palestras magistrais, ocorreram as sessões técnicas sobre geofísica, casos históricos, interpretação de ensaios, ensaios de laboratório e amostragem, pavimentação, caracterização em rocha, pressiômetro e dilatômetro, solo residual e projeto com base em ensaios de campo.

PRESENÇA BRASILEIRA Representantes do Brasil marcaram presença em mais um evento internacional. O professor-associado da UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas), Paulo José Rocha de Albuquerque esteve no ISC’5 e relata que pelo grande número de apresentações simultâneas, não foi possível estar presente em toda a programação. O seu critério de escolha consistiu na área de conhecimento e pesquisa que tem exercido na vida acadêmica. “Foi difícil selecionar uma ou outra palestra, pois no geral todas tiveram algum tópico de interesse, mas destaco as palestras dos colegas brasileiros que foram muito interessantes e muito discutidas ao fim das apresentações”, afirma. Apesar de não participar dos cursos promovidos pela conferência, Albuquerque conta que, ao conversar com colegas que estiveram presentes nesta parte da programação, a opinião de muitos é que o conteúdo abordado foi extremamente válido e importante, pois a maioria dos ministrantes possuía reconhecimento mundial em suas áreas de estudo. Peixoto acredita que em função da crise atual, a participação brasileira, mesmo que efetiva, estava reduzida 11 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Participantes dos painéis do ISC’5

nesta edição, mas mesmo assim, houve representação, pois dois “Technical Reports” foram realizados por brasileiros: o primeiro intitulado “Characterization of Non-­ Standard Soils” pelo engenheiro e professor da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), Fernando Schnaid, e o segundo “Rocks & Residual Soils” pelo geólogo, professor e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal de Viçosa, Eduardo Marques. “Não é possível participar de todos os congressos que ocorrem anualmente, no entanto, pela excelente organização que em geral os colegas têm realizado nos ISC’s e pela importância do tema, sempre procuro estar presente. De cinco já realizados tive a oportunidade de comparecer em três. Não esquecendo que no ano de 2012 tivemos a quarta edição do ISC em Porto de Galinhas (PE), que foi um sucesso”, comenta o professor Paulo Albuquerque. Para ele, eventos internacionais possuem seus diferenciais como a oportunidade de adquirir conhecimento do estado da arte de


cada técnica e das novidades que estão ocorrendo, tanto na academia, quanto no âmbito profissional. A professora da FEB (Faculdade de Engenharia de Bauru) da UNESP (Universidade Estadual Paulista), Anna Sílvia Pacheco Peixoto compartilha a mesma opinião e destaca que um evento de qualidade, aliado a minicursos promovidos pelas maiores autoridades de cada assunto, é uma chance ímpar de aprender diferentes técnicas.

INOVAÇÃO E HISTÓRIA Um dos cursos mais relevantes, segundo Peixoto, foi o “CPT in Geotechnical Practice”, ministrado pelo engenheiro e assessor técnico da NGI (Norwegian Geotechnical Institute), Tom Lunne; pelo engenheiro e professor emérito da University of Alberta, Peter Robertson e pelo diretor-técnico da empresa Geolab, John Powell, todos eles autores do clássico livro, “Cone Penetration Testing (CPT)”. Dentre as novidades trazidas pelo ISC’5 estava a aplicação dos ensaios de campo e interpretações dos resultados em áreas de subsolo mais complexas, como por exemplo em situações offshore. Neste âmbito, a engenheira e assistente do Instituto Politécnico da Universidade Estadual da Virgínia, Nina Stark apre-

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sentou uma nova técnica de amostragem em áreas próximas à costa. Na oportunidade, ela abordou tópicos como geotecnia costeira e marinha, dinâmica dos sedimentos subaquáticos, interação fundo do mar-estrutura e energias renováveis offshore. Como exemplo histórico e ao mesmo tempo moderno, o ISC’5 proporcionou uma visita técnica ao Brisbane Airport. O local que abriga o empreendimento é conhecido pela grande incidência de solo mole, sustentado por metros de argila altamente compressíveis e areias soltas. A complexidade de execução de obras na localidade, também está associada à presença de profundos paleocanais preenchidos com um “semelhante, mas diferente” material de alta compressibilidade. Todas as obras do Brisbane Airport exigiram uma gama de soluções de geoengenharia. A NPR (New Parallel Runway – Nova Pista Paralela), por exemplo, enfrentou todas as difíceis condições do solo descritas anteriormente. Então, desde a década de 1980, investigações locais têm sido feitas no aeroporto, englobando perfurações convencionais, testes in situ e ensaios CPT nos primeiros anos da obra, que evoluiu, incluindo ensaio DMT (Dilatometric Marchetti Test), DMT com ensaio sísmico, ensaio de penetração T-bar entre outros.


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NOTAS

Curso mostra conceitos de aterros sanitários e aplicações com geossintéticos

Divulgação / IGS Brasil

Evento aconteceu em setembro e contou como palestrantes os professores Jean-Pierre Gourc e Delma Vidal

No dia 14 de setembro, a Poli-USP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo) sediou o curso “Geossintéticos – Aplicações em Aterros Sanitários”, organizado pela IGS Brasil (Associação Brasileira de Geossintéticos). O professor emérito da Universidade Joseph Fourier (França), Jean-Pierre Gourc e a professora do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), Delma Vidal foram os palestrantes do evento. O curso teve como objetivo apresentar os conceitos gerais sobre aterros, os tipos de geossintéticos e suas funções, os sistemas de impermeabilização e de cobertura de aterros e barreiras laterais. Segundo o presidente da IGS Brasil, André Estêvão Silva, o evento focou em características fundamentais dos geossintéticos, assim como nas suas aplicações corretas. “O

curso abordou o projeto de aterros sanitários, com enfoque para os aspectos relevantes que envolve o dimensionamento, a especificação e o uso adequado dos geossintéticos com aplicação neste tipo de empreendimento”, ressalta. Com a presença de aproximadamente 80 pessoas, o curso teve como tema central “Projetos de Aterros Sanitários”, com ênfase para a utilização de geossintéticos, desde a caracterização geotécnica dos resíduos, soluções possíveis com o uso desses materiais e diversos outros aspectos. Os palestrantes apresentaram ao longo do dia painéis sobre os resíduos sólidos municipais; um bloco específico com explicações de conceitos gerais de aterros sanitários; exibiram as famílias de produtos geossintéticos; falaram sobre os sistemas de revestimento de fundo e de cobertura permanente e discutiram barreiras laterais. “Um dos destaques desse evento certamente foi a presença de um dos maiores especialistas mundiais em aplicação de geossintéticos em aterros sanitários, o professor Jean-Pierre Gourc, que é um dos precursores no estudo de geossintéticos no mundo”, pontua André Estêvão Silva. O curso teve o apoio da ABMS (Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica), do PEF-EPUSP (Departamento de Engenharia de Estruturas e Geotécnica Escola Politécnica da Universidade de São Paulo), do PPGEC (Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil) e do departamento de Geotecnia do ITA.

XII Semana de Engenharia reúne profissionais e estudantes em Brasília Evento contou com palestras e minicursos voltados para os fundamentos de softwares da área No Distrito Federal aconteceu entre os dias 19 e 21 de outubro a XII Semana Acadêmica de Engenharia Civil, evento organizado pelo IESPLAN (Instituto de Ensino Superior Planalto). O encontro tem o objetivo de reunir profissionais especializados 14 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

na área, assim como estudantes e professores, para discutirem e trocarem experiências sobre as diversas especialidades do meio, além de apresentarem empresas que atuam no setor. O encontro é uma forma de complementar a formação acadêmi-


Banco de Imagens / Morguefile

Por Dafne Mazaia

ca, por possibilitar uma reciclagem de profissionais que estão visando uma inserção no mercado de trabalho. Com um público estimado de 400 participantes nesta edição, o evento teve palestras, minicursos, mesas-redondas, workshops,

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visitas técnicas, dentre outros. Para o professor do departamento de engenharia civil do IESPLAN, Kássio Henrique de Souza, o encontro também é um meio para que os participantes possam construir suas próprias opiniões. “É um evento de elevado nível técnico, no qual profissionais vem compartilhar com nossos estudantes e professores os processos de engenharia e discutir temas de relevância técnica. A cada ano o evento promove um tema central com assunto diferente, a fim de ampliar a visão e o conhecimento dos participantes para que possam fomentar suas próprias opiniões”, argumenta. O tema desta edição foi “Gestão de Obras, Qualidade e Custos”, com um enfoque nos problemas que afetam o mercado no País. Entre os temas abordados, destacaram-se o painel com exemplos práticos na plataforma BIM (Building Information Modeling); o bloco que discutiu o uso de tecnologias para uma nova gestão de obras; um estudo de caso de um planejamento de obras no aeroporto de Guarulhos; além de discussões relacionadas às novas tecnologias, como impressora 3D e análises, por meio de cases, de desempenhos acústicos. Houve ainda um sorteio de bolsas de cursos relacionados à tecnologia BIM e três visitas técnicas em locais importantes da região Centro-Oeste.


ENTREVISTA – ERALDO LUPORINI PASTORE

A UNIÃO DA GEOTECNIA E DA GEOLOGIA O geólogo Eraldo Pastore é um profissional da área de geotecnia com atuações em várias obras no Brasil e no exterior, além de uma carreira significativa como docente

Fotos: Acervo pessoal

Por Dafne Mazaia

dos profissionais mais renomados da área, com atividades no âmbito acadêmico e participações em diversas obras, como no projeto da Usina Hidrelétrica de Pinalito, na República Dominicana, do túnel da Petrobras para a ligação do gasoduto de Caraguatatuba até Taubaté (SP), considerado o primeiro túnel escavado em TBM (Tunnel Boring Machine) em rocha no Brasil de 5 km.

COMO SURGIU O INTERESSE PELA GEOLOGIA?

O geólogo Eraldo Pastore

Eraldo Luporini Pastore nasceu em Araraquara (SP), em outubro de 1950. Por influência de amigos e devido à região onde morava – que acabava de implantar o curso –, decidiu cursar geologia na UNESP (Universidade Estadual Paulista Júlio Mesquita Filho). Trabalhou no IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) de São Paulo logo depois de formado, e aproximadamente quatro anos depois de sua graduação optou pelo mestrado na Escola de Engenharia de São Carlos da USP (Universidade de São Paulo). O doutorado surgiu em seguida, em 1991, quando ainda trabalhava no departamento de geotecnia da CESP (Companhia Energética de São Paulo). Após o doutorado em engenharia geotécnica na USP e de suas atividades como docente na UnB (Universidade de Brasília), Pastore foi para o Canadá e obteve o título de pós-doutor em geotecnia. Possui mais de 40 anos de carreira no segmento de engenharia civil, sendo 20 deles como pesquisador sênior do IPT. Tornou-se um 16 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Nasci na cidade de Araraquara (SP), no dia 29 de outubro de 1950. Morei na infância e na adolescência na cidade de São Carlos (SP), tendo depois passado quatro anos em Rio Claro (SP), onde cursei geologia na UNESP. Logo depois de formado fui contratado pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo. Moro em São Paulo há 40 anos. Morei em Brasília por dez anos e no exterior, na França e no Canadá. Quanto à opção do curso, não tive um motivo muito marcante, mas a proximidade da cidade de Rio Claro, onde acabava de ser implantado o curso de geologia (hoje UNESP), com a cidade de São Carlos onde eu morava na ocasião, ajudou na decisão. Sempre me interessei pela área de geologia de engenharia e durante minha formação profissional agregando mecânica das rochas e geotecnia. Hoje praticamente minha atuação é basicamente na área de geotecnia. Fiz vários estágios durante a graduação, inclusive na Petrobras, mas não me vi atraído por esta especialidade, assim como com a área de mineração.

QUAIS FORAM AS SUAS INFLUÊNCIAS PARA ESSA ESCOLHA? Não houve aconselhamento, mas havia alguns amigos que estavam começando a cursar geologia e isto também acabou influenciando. A vontade de meu pai era que eu fosse advogado, mas não levei muito a sério. Acabei casando-me com uma advogada e meus dois filhos são advogados. Talvez por isto quando me envolvi em vários casos de disputa em tribunais de arbitragem, como assistente-técnico ou testemunha, eu tenha me sentido muito familiarizado com o meio jurídico.


CONTE-NOS UM POUCO SOBRE A SUA FORMAÇÃO ACADÊMICA. Fiz um curso, à época de quatro anos, em tempo integral com muita dedicação. Cerca de quatro anos após a graduação me interessei em fazer mestrado e na Escola de Engenharia de São Carlos da USP (Universidade de São Paulo) acabava de ser implantado o mestrado em engenharia geotécnica. Tive excelentes professores e orientadores. Naturalmente, a ideia de fazer um doutorado na mesma área veio logo em seguida. A oportunidade surgiu em 1991, ocasião em que me encontrava prestando serviço no Departamento de Geotecnia da CESP (Companhia Energética de São Paulo) e o Estado de São Paulo construía inúmeras barragens de grande porte simultaneamente. Antes, porém, como tinha grande interesse em ir para o exterior, permaneci por um ano como pesquisador na área de Geotecnia no Laboratoire Central des Ponts et Chaussées de Paris, na França, que na época era referência mundial na área. Este período foi muito importante para minha formação profissional, apesar dos muitos sacrifícios, morando fora e recém-casado, juntamente com minha esposa e nosso primeiro filho ainda com um ano de idade. Após o doutorado em engenharia geotécnica na USP, tendo ingressado como docente no Departamento de Engenharia Civil da Universidade de Brasília, busquei novamente conhecimentos no exterior, desta vez no Canadá, onde por um ano fui professor visitante da Universidade de Sherbrooke, obtendo o título de pós-doutor em geotecnia.

QUAIS SÃO AS SUAS EXPERIÊNCIAS COM PROJETOS E TRABALHOS NA ÁREA? Tenho mais de quarenta anos de experiência na área de engenharia civil nos mais diversos tipos de obras de grande porte: rodovias, barragens, túneis, ferrovias, mineração e gasodutos, no Brasil e no exterior. Fui durante 20 anos pesquisador sênior do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo, onde pude conviver com os melhores profissionais nas áreas de geologia e engenharia civil da época. Esta oportunidade, juntamente com minha vivência no exterior, sempre junto com minha família, foi decisiva na consolidação de meus conhecimentos teóricos aprendidos na graduação e nos inúmeros cursos de pós-graduação que realizei. Entre estes não posso deixar de registrar meus agradecimentos aos professores, que além das aulas, ensinavam verdadeiras lições de vida. No campo prático tive a oportunidade de me envolver em projetos e construção de barragens e túneis na República Dominicana, Equador e Guatemala e com rodovias no Peru. No Brasil estive envolvido em dezenas de projetos de barragens, túneis e obras viárias, entre as quais obras de grande vulto como a mega Usina de Belo Monte (Pará), a Transposição do Rio São Francisco, as Ferrovias Norte-Sul, Oeste, Leste e TransNordestina, o Rodoanel Norte de São Paulo e dezenas de pequenas centrais hidrelétricas. Entre as atividades associativas e corporativas gostaria de mencionar que fui diretor da ABGE (Associação Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental) e diretor do Departamento de Minas e Geologia do Instituto de Engenharia de São Paulo, períodos nos quais tive a grande satisfação de contribuir para o desenvolvimento destas áreas do conhecimento. 17 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Pastore na aula inaugural do curso de pós-graduação em engenharia de túneis no Instituto de Engenharia, com a turma de 2014

Durante uma inspeção das obras de rodovias no Peru, em 2006. Entre a equipe, estava o seu colega o engenheiro Guy Bordeaux

Junto com sua equipe de consultores e supervisores, em visita às obras da Hidrelétrica na República Dominicana, em 2009

DENTRE OS TRABALHOS REALIZADOS QUAIS CONSIDERA DE MAIOR DESTAQUE? Sem dúvida foi o projeto da Usina Hidrelétrica de Pinalito, na República Dominicana, onde participei durante três anos do projeto e da execução da barragem em concreto rolado e um túnel de adução com 11 km de extensão, escavado com TBM


de grande intensidade. No Brasil, a experiência de ter participado como engenharia independente da Usina de Belo Monte foi um dos maiores desafios, dado o porte da obra, a responsabilidade e os inúmeros problemas enfrentados durante cerca de três anos de consultoria. Outro projeto de grande importância que tive a oportunidade de participar foi o túnel da Petrobras para ligação do gasoduto de Caraguatatuba até Taubaté (SP). Foi o primeiro túnel escavado em TBM em rocha no Brasil com extensão de 5 km. Foram muitas as lições aprendidas apesar de já ter tido experiência com tuneladoras no Equador e na República Dominicana.

COMO É CONCILIAR A CARREIRA ACADÊMICA COM OUTRAS ATIVIDADES NO SETOR? Durante uma visita ao túnel em TBM do Projeto GASTAU da Petrobras, em 2009

Pastore como membro do Painel de Consultores do Banco Mundial, juntamente com o professor Paulo Cruz, durante a inspeção de barragens no interior do Ceará, em 2010

O geólogo em uma visita à fábrica da Herrenknecht, em Schwanau (Alemanha), em 2011

(Tunnelling Bore Machine). A região, de elevado grau sísmico, e a natureza complexa da Cordilheira Dominicana foram constantes desafios para todos que estavam envolvidos no projeto. Outro grande desafio profissional foi o da escolha de um local favorável à implantação de uma barragem na Guatemala, país de geologia extremamente complexa e também sujeito a terremotos 18 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Não é muito fácil conciliar ambas as atividades, mas sempre fui partidário de que um professor na área de engenharia, para ser completo e poder transmitir com segurança conhecimentos teóricos, jamais pode ter uma atividade exclusivamente acadêmica. A prática aliada ao conhecimento teórico é a chave do sucesso de um bom profissional. Por esta razão sempre fui partidário de professores também terem uma participação ativa em projetos e construção de obras nos moldes do MIT (Massachusetts Institute of Technology) e demais universidades americanas, canadenses e europeias. As atividades acadêmicas também foram importantes, pois me obrigaram a estudar muito as matérias que lecionava. Além disso, também participei como consultor Ad Hoc do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) durante cerca de três anos no convênio Brasil-­ França (CESMAT – Centre D´Etudes Supérieures Des Matières Première), ocasião em que pude visitar as melhores escolas da França como representante do governo brasileiro nesta área. Tratei diretamente com professores como Roje Cojan e Marcel Arnould da École de Mines de Paris e François Arthaud; da Universidade de Paris IV. Outra atividade acadêmica que levava muito a sério, era a orientação de alunos de pós-graduação e a participação em bancas de mestrado e doutorado. Sempre era uma oportunidade de contribuir para o aperfeiçoamento do conhecimento do tema em pauta. Minhas disciplinas favoritas eram geologia de engenharia, geotecnia ambiental e estabilidade de taludes, as quais tive oportunidade de lecionar à nível de pós-graduação na Universidade de Brasília durante dez anos. Outra disciplina intitulada “Geotecnia de Obras Subterrâneas”, também me motivava e com grande satisfação ministrava no curso de pós-graduação em Engenharia de Túneis que tive a oportunidade de coordenar por duas vezes na cidade de São Paulo.

PRETENDE ESCREVER ALGUM LIVRO FUTURAMENTE? Sim, quem é da área acadêmica, ou já foi um dia, tem sempre latente este compromisso de querer transmitir sua experiência pessoal calcada em sólidos conhecimentos práticos e teóricos. Não é uma tarefa fácil e nem imediata, exigindo muita dedicação e tempo. No entanto, como tenho farto material dos cursos que ministrei na área de obras subterrâneas, aliado à experiência de obras em regiões sísmicas e de geologia complexa fora do Brasil, creio que será possível escrever algo de útil e prático.


QUAIS SÃO OS SEUS PROJETOS FUTUROS? Continuar com minha atividade de consultor nas áreas de geotecnia, mecânica de rochas e de solos e geologia de engenharia, disciplinas básicas para a resolução dos mais variados problemas de estabilidade de taludes, escavações subterrâneas e fundação de barragens. Apesar da crise, estou envolvido em vários projetos no Brasil, o que tem me dado motivação para prosseguir na atividade. Fui convidado pelo Núcleo Regional da Bahia do CBDB (Comitê Brasileiro de Barragens), do qual sou sócio, a proferir, juntamente com o professor Paulo Cruz, uma palestra sobre fundação de barragens em arenitos, assunto sobre o qual conseguimos sistematizar os conhecimentos adquiridos a partir da participação em várias obras, inclusive os diques da barragem de Belo Monte. Em breve também deverá ser publicado o boletim técnico do CBDB coordenado pelo engenheiro Bayardo Materon, sobre barragens de enrocamento com face de concreto e núcleo asfáltico, para o qual tivemos a oportunidade de contribuir.

Durante trabalhos de campo dos túneis do ramal do Agreste, obra que vai levar água do Eixo-Leste da Transposição do Rio São Francisco para a adutora do Agreste, no Nordeste

COM UMA CARREIRA JÁ CONSOLIDADA, QUAL AVALIAÇÃO FAZ DA SUA TRAJETÓRIA ATÉ AQUI? É sempre difícil falar de si mesmo, mas avalio de forma muito positiva, sempre aliando conhecimentos teóricos e práticos e tendo a oportunidade de estar envolvido em projetos de grande projeção e utilidade para nosso país. A experiência de trabalhar no exterior também foi muito gratificante, pois aprendemos muito com outras culturas enfrentando condições por vezes muito adversas.

QUAIS SÃO AS SUAS PERSPECTIVAS PARA O MERCADO BRASILEIRO DA ENGENHARIA E GEOTECNIA?

Em uma visita ao túnel São Gotardo, na Suíça, em 2011

Na edição número 69 da revista Fundações & Obras Geotécnicas publiquei um editorial a este respeito. Continuo ainda com a mesma opinião, ou seja, de que o Brasil vai ainda passar cerca de cinco a seis anos para conseguir um ritmo mais intenso de construção de grandes obras de infraestrutura.

QUAIS SÃO AS SUAS PRINCIPAIS REFERÊNCIAS NO SEGMENTO? Foram vários os professores que me serviram de exemplo como profissionais sérios e cidadãos éticos e respeitados. Entre estes cito meus orientadores no Laboratoire Central de Ponts et Chaussées de Paris: Tran Noc Lan, Claude Touranq e Marcel Rat. No Brasil não poderia me esquecer dos professores Antenor Braga Paraguaçu e Job S. Nogami, que me orientaram no mestrado e dos professores Jayme de Oliveira Campos e Paulo Teixeira da Cruz, no doutorado.

CONTE-NOS UM POUCO SOBRE A SUA TRAJETÓRIA PESSOAL. Estou casado há 36 anos com Ana Claudia Ferreira Pastore. Tivemos dois filhos: Ricardo e Fernando. Ambos seguiram a carreira da mãe (e dos avós maternos), advogada e Procuradora Federal. Sempre tive muito orgulho de meus filhos que também estudaram no exterior. Ricardo em Stanford (Estados Unidos) e Fernando na New York 19 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Com a esposa Ana Claudia e os filhos Ricardo e Fernando

University (Estados Unidos). Ambos são casados também com advogadas (Daniela e Bruna, respectivamente). Já tenho um neto de sete meses, o Guilherme. Ricardo trabalha em um respeitado escritório de advocacia em São Paulo e Fernando em um escritório multinacional de advocacia em Chicago (Estados Unidos).


HISTÓRIA

Obra: Parte de um dos edifícios da UFAM (Universidade Federal do Amazonas), em construção Local: Manaus / Amazonas Data: 01 de janeiro de 1986

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Obra: Imagem de um dos edifícios da UFAM (Universidade Federal do Amazonas), na época de sua construção Local: Manaus / Amazonas Data: 01 de janeiro de 1986 Créditos: Arquivo Ruth Verde Zein Estas imagens foram retiradas do banco de imagens Arquigrafia da USP (Universidade de São Paulo) 23 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


REPORTAGEM

DUAS DÉCADAS MARCAM A EVOLUÇÃO DOS MUROS TERRAE NO BRASIL O sistema que passou por adaptações e melhorias ao longo dos anos ainda é considerado viável e competitivo Por Dellana Wolney

Há 20 anos um sistema construtivo inovador era desenvolvido no Brasil. Três engenheiros, que na época faziam o mestrado em Geotecnia, encontraram na Incubadora de Empresas da COPPE-UFRJ (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro) a oportunidade para colocar em prática as suas ideias. Além do sistema, hoje conhecido como “Muros Terrae”, Marcos Barreto de Mendonça, Paulo José Brugger e Robson Palhas Saramago também deram início no ano de 1996 à Terrae Engenharia Geotécnica Ltda., empresa especializada em geotecnia e no desenvolvimento de sistemas construtivos. Desde então, os resultados positivos da iniciativa inovadora começaram a aparecer. Em 1997, a Terrae participou do Prêmio Inovação 97 – Projeto Alfa (RJ) realizado pela FAPERJ (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro), juntamente com o SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) e MCT (Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação). O projeto de desenvolvimento tecnológico intitulado “Muro de Contenção em Solo Reforçado com Face de Blocos Pré-Moldados Intertravados” na época foi o vencedor, dando mais um passo de sucesso nessa história. A partir do auxílio financeiro recebido pela premiação, os engenheiros começaram a desenvolver os primeiros protótipos do bloco Terrae-F, bem como os ensaios de viabilidade técnica, possibilitado por meio de uma parceria com o Laboratório de Geotecnia da COPPE-UFRJ e sob a supervisão do professor Maurício Ehrlich. O engenheiro Marcos Barreto de Mendonça lembra que a ideia de desenvolver este tipo de sistema no Brasil veio após a observação do uso de blocos pré-moldados de concreto como elementos de face de contenção em solo reforçado em obras na Europa durante a década de 1990. 22 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Apesar de na época a contenção em solo reforçado não ser muito difundida, tudo indicava que a técnica era bastante promissora. “Embora o método construtivo do faceamento ainda fosse de difícil execução, mais lento e com uma quantidade grande de resíduos gerados ao final da obra, enxergamos a oportunidade de oferecer por aqui, blocos pré-moldados para o faceamento dessas obras de contenção. Procurou-se criar um desenho de bloco que fosse adequado para os métodos construtivos brasileiros, dando origem inicialmente ao modelo Terrae-F”, afirma Mendonça. Durante o desenvolvimento dos Muros Terrae, diversos desafios foram encontrados, desde a falta de conhecimento das pessoas, até a dificuldade em desenvolver e adaptar equipamentos, mas o principal obstáculo, de acordo com o engenheiro Paulo José Brugger foi mudar a cultura brasileira em relação a esse tipo de sistema. “O País era e ainda é fortemente baseado em soluções de concreto armado. Nossos primeiros projetos sofreram muita resistência de engenheiros projetistas estruturais e mesmo de engenheiros geotécnicos que não conheciam os geossintéticos”, relata. Ele recorda que uma das primeiras obras em uma cidade do interior do Rio de Janeiro, utilizaria a solução para a recuperação de um deslizamento ocorrido em área urbana. “O cliente na época era a prefeitura da cidade, porém um dos vereadores, que era de oposição e dono da rádio local espalhou pela cidade que a prefeitura havia contratado ‘uns garotos para executarem um muro de arrimo de pano’. Nem preciso dizer que não conseguimos fazer a obra”. Para o engenheiro Robson Palhas Saramago, o “novo”, em geral, sempre encontra resistência, seja por parte dos projetistas que não conhecem a metodologia de cálculo, os


Fotos: Arquivo Huesker

Muro Terrae executado em Maringá (PR) 23 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


Muro Terrae executado em Maringá (PR)

empreiteiros que ainda não possuem familiaridade com o método executivo, ou por parte do cliente que nenhum conhecimento possui da técnica e só conhece o “nome” de outras soluções de contenção e recebe a proposta do “novo” com muita desconfiança. No entanto, as dificuldades não se resumiam apenas a falta de conhecimento da maioria. O suporte técnico e financeiro atrapalhou o processo de fabricação dos blocos, pois a empresa recém-criada não possuía capital para montar a sua própria fábrica. “Tentamos empréstimos junto a órgãos de fomento como FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos), FAPERJ e Caixa Econômica Federal, mas nunca conseguimos nada porque não tínhamos as garantias. No Brasil, realmente era muito complicado começar um negócio sem ter capital próprio”, comenta Brugger.

PARCERIA Não demorou muito para que os engenheiros idealizadores do Muro Terrae conseguissem parcerias. O empresário e diretor-executivo da empresa Huesker (que naquele momento estava se instalando no Brasil), Flávio Montez se juntou ao grupo, por realmente acreditar no futuro sucesso da solução. Dessa forma, ao longo do ano 24 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

de 1998 foram realizados diversos testes e obras-piloto que comprovaram a viabilidade técnica e econômica dos Muros Terrae. “A Huesker acreditou no projeto dos Muros Terrae desde o princípio. Já no primeiro ano de desenvolvimento do primeiro modelo de bloco colaborou com os primeiros testes, em protótipo e em escala real que foram feitos utilizando a nossa geogrelha Fortrac. O negócio foi formatado em conjunto pelas duas empresas. A partir daí, a parceria só cresceu e a Huesker passou a promover os Muros Terrae”, conta o engenheiro, diretor de desenvolvimento de mercado e gerente comercial sudamérica da Huesker, André Estêvão Silva. Muitas conquistas importantes foram geradas ao longo dos últimos 20 anos por meio desta aliança. Para o engenheiro Paulo José Brugger, os Muros Terrae só funcionam se existir um reforço em geossintético. “Na época existiam poucas empresas que comercializavam geossintéticos no Brasil, e nenhuma comercializava geogrelhas rotineiramente. As geogrelhas já eram conhecidas, mas ainda como um produto importado, caro e difícil de entender e confiar”. Responsável por disseminar uma visão mais ampla do uso dos geossintéticos em obras de construção civil, Montez


Viaduto Portante, Maringá

SEQUÊNCIA CONSTRUTIVA 1. • • • • • • • •

Preparação do terreno e início da execução: Nivelamento do terreno; Execução da fundação, quando for o caso; Vala de fundação dos blocos; Lastro (concreto magro); Colocação da primeira linha de blocos; Nivelamento e alinhamento dos blocos; Primeira camada de aterro em areia; Envelope de brita (dreno de face).

• Limpeza do excesso de brita sobre os blocos; • Seleção das geogrelhas conforme especificação de projeto; • Modulação dos painéis de geogrelha (corte com faca); • Geogrelha inserida entre blocos (conexão simples ou dupla); • Geogrelha estendida no comprimento conforme o projeto.

2. Terraplenagem • Seleção do material de aterro (podendo ser solo local); • Aterro junto à face: compactação manual; • Aterro no corpo da estrutura: compactação com rolo adequado; • Camadas de compactação acabadas na espessura de cada linha de blocos; • Energia de compactação elevada; • Controle de compactação (espessura, umidade e grau de compactação).

4. Acabamento e cuidados: • Acabamento arquitetônico; • Cuidado com o aspecto visual da face; • Possibilidade de cantos, curvas côncavas ou convexas; • Acabamento/fechamento do topo da parede; • Drenagem externa (canaletas); • Os blocos não são argamassados; • A resistência dos blocos e das camadas de geogrelhas, o espaçamento entre elas e o comprimento devem seguir as especificações do projeto executivo; • Detalhamento da drenagem e do acabamento do muro, tipo de solo e grau de compactação devem seguir as especificações do projeto executivo.

3. Montagem – Blocos Terrae e Fortrac®: • Colocação dos blocos (guia de montagem); • Preenchimento dos blocos com brita;

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Muro Terrae na Rodovia dos Tamoios (SP)

trouxe da Alemanha a ideia de abrir uma filial da Huesker, resultando na sintonia instantânea entre os criadores do Muro Terrae e a nova empresa que nascia em solos brasileiros. Juntou-se o útil ao agradável: os Muros Terrae precisavam de uma geogrelha e a Huesker precisava abrir mercados no Brasil. “A presença da Huesker abriu o caminho para a participação em feiras e congressos, pois era no seu estande que colocávamos modelos de Muros Terrae. Tivemos ainda 26 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

incentivo em muitos trabalhos de pesquisa e desenvolvimento que fizemos com universidades, além de obras instrumentadas em campo. Tudo isso contribuiu para mudar a cultura do concreto no País e as pessoas começaram a aceitar que geossintéticos e Muros Terrae especificamente são soluções viáveis e seguras”, enfatiza Brugger.

FUNCIONAMENTO O Muro Terrae é um sistema de contenção para muros em


condições de projetos de estruturas de contenção, dentre elas: paisagismo, urbanismo, canalização, revestimento de encostas e infraestrutura viária ou de edificação. A solução permite uma construção rápida e simples, utilizando o solo local como material de aterro, diminuindo bota-fora e necessidade de importação de solo na obra. Além disso, apresenta grande versatilidade na execução de patamares, curvas e cantos e oferece uma excelente opção de estética para a estrutura a ser construída. Pode ser utilizada em projetos de contenções com grandes alturas ou em áreas com relevos desafiadores. Um importante aspecto de muros segmentais é a garantia da resistência na conexão entre os blocos de face e a geo­ grelha. Os Muros Terrae possuem conexão por atrito e intertravamento da porção da geogrelha inserida entre os blocos e a brita que os preenche. Este fator garante que toda a interface na conexão trabalhe para promover a resistência adequada, sem risco de arrancamento ou desprendimento de blocos. Os Muros Terrae apresentam certificação de todas as combinações: Blocos Terrae e geogrelhas Fortrac utilizadas tipicamente em seus projetos. Os valores de resistência de conexão são obtidos por meio de ensaios apropriados, seguindo o procedimento da NCMA (National Contract Management Association) dos Estados Unidos, cujos valores oferecem subsídio para análise da estabilidade local em cada estudo e projeto. Com base nos valores certificados o projetista pode escolher pela especificação de conexão simples ou conexão dupla, com total respaldo e garantia.

LINHA DO TEMPO

aterro ou em corte. É um processo construtivo desenvolvido com base nos chamados muros segmentais, compostos por blocos pré-moldados intertravados como paramento frontal e geogrelhas de alta rigidez à tração ou grampos de aço como elementos de reforço e estruturação do maciço, que por sua vez, trabalha como muro de gravidade. O sistema, hoje amplamente consolidado no meio geotécnico brasileiro, presente em mais de 300 obras no Brasil e no exterior, pode ser utilizado em diversas situações e 27 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Em duas décadas muitas coisas mudam, se adaptam e até mesmo somem. No caso dos Muros Terrae não é diferente. Por ser o primeiro bloco pré-moldado brasileiro para face de solo reforçado, sua fabricação começou de forma manual, por meio de fôrmas metálicas e posteriormente de fibra de vidro. Pelo fato da produção na época se mostrar inviável para a demanda do mercado, o método de fabricação passou a ser mecanizado evoluindo com a progressão geométrica do mercado ao longo dos anos, sendo atualmente fabricado com prensas hidráulicas. De acordo com Medonça, foram criados ao longo desses anos vários modelos de Blocos Terrae para atender as diferentes solicitações, desde obras menores até contenções de mais de 25 m. “As características da técnica dos Muros Terrae vêm atender também a uma demanda mais moderna, que é a da sustentabilidade na construção civil”, destaca. As modificações no formato e no modo de fabricação dos blocos foram feitas para melhorar a resistência, transporte e peso principalmente, mas o sistema é basicamente o mesmo desde o início. Com o aumento do tamanho das obras e a necessidade de maior produtividade, Paulo Brugger comenta que o desafio passou a ser a logística de fornecimento dos materiais na obra e o trabalho simultâneo a terraplenagem e compactação, que devem acontecer junto com a montagem dos muros.


Barreira de Som no Aeroporto de Jundiaí (SP)

No final da década passada, especificamente entre os anos 2005 e 2010, o sistema passou a utilizar quase que exclusivamente geogrelhas de PVA (Acetato de Polivinila), que são mais rígidas do que geogrelhas de poliéster. Com a mudança, observou-se que para obras com alturas acima de oito ou dez metros, essa maior rigidez é importante para manter as deformações dentro de valores suficientemente pequenos, a fim de evitar deformações visíveis na face, decorrentes do próprio sistema de compactação dos muros.

DIFERENCIAL A contenção em solo reforçado é uma técnica, cujo atrativo é a utilização do solo local como principal material de construção da estrutura. A face do solo reforçado em Blocos Terrae é bastante utilizada por garantir uma construção mais racional e sustentável, ao aperfeiçoar as etapas construtivas e resultar numa quantidade muito menor de resíduos. Além disso, a forma de disposição dos blocos permite a execução de contornos mais suaves, proporcionando um aspecto estético diferenciado. Existem muitos tipos de muros de contenção no Brasil, que 28 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

também utilizam muitas técnicas diferentes. Por outro lado, ainda não existem muitos sistemas que empregam em sua estrutura solo reforçado com geogrelhas e face em blocos de concreto, pelo menos se comparando a países da América do Norte, Europa e Ásia. Um fator preponderante também para que os Muros Terrae ainda sejam perfeitamente modernos segundo Silva é que se trata de um sistema construtivo para obras de contenção com aplicabilidade em diversas situações típicas de projetos de contenção, atendendo a uma ampla demanda. Além disso, tem como características marcantes a facilidade construtiva e o custo competitivo, dois aspectos muito relevantes em projetos de engenharia. “Como produto, o Muro Terrae ainda está em ascensão, pois não atingiu seu estágio máximo de maturidade e popularização, por isso continua com grande potencial de crescimento e ganho de mercado”, pontua. “Acreditamos que os Muros Terrae ainda são muito competitivos, porque fomos os pioneiros no Brasil e porque aliamos a nossa marca à outra mundialmente conhecida, que é a Huesker. Nossa parceria já dura 20 anos e nunca precisamos assinar um contrato ou um papel para isso. Simplesmente


Muro Terrae em Jaguaruna (SC)

todos trabalham em prol de resolver as necessidades dos clientes com segurança, rapidez e preços justos”, revela o engenheiro Paulo José Brugger. Ele acrescenta que o trabalho de disseminação da solução com parceiros em todo o Brasil para possibilitar a fabricação dos blocos regionalmente foi e ainda é bastante intenso, o resultado disso são os representantes e equipes de montagem presentes em diversos estados brasileiros, bem como as obras com Muros Terrae realizadas em diversas regiões.

NA PRÁTICA Pelo tamanho da obra e pela responsabilidade e pioneirismo no Brasil, um dos casos mais notáveis, considerado pelos três engenheiros utilizando o sistema Muros Terrae foi o rebaixamento da linha férrea na cidade de Maringá, no Paraná. A obra contratada pela Prefeitura de Maringá, contou com o financiamento do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes). O projeto ficou a cargo da empresa Vega Engenharia e a execução sob responsabilidade da empresa C.R. Almeida. Na época, foram planejados dois trechos de Muros 29 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

FACILIDADE Para facilitar o trabalho dos projetistas foi desenvolvido, o Programa Forterrae, que utiliza a metodologia de cálculo de estruturas de solo reforçado desenvolvida pelo professor Mauricio Ehrlich e pelo professor J. K. Mitchell. O programa, além de dimensionar a estrutura de solo reforçado, possui uma saída extremamente amigável que fornece além da memória de cálculo, a seção de projeto em DWG (Banco de dados de desenho do AutoCAD). Este programa é gratuito e a equipe responsável pelos Muros Terrae está sempre disponível para fornecer todo apoio ao projetista interessado em utilizar o programa.

Terrae contendo ambos os lados da trincheira, cada um com 1,5 km de extensão a partir de cada extremidade de um segmento anteriormente rebaixado e confinado em galeria.


Aplicação de geogrelhas Fortrac em obras de Muros Terrae

A solução neste caso, possibilitou a utilização do solo local em toda a obra, privilegiando a mínima movimentação de terra durante a execução da terraplenagem para implantação das estruturas de contenção em solo reforçado. Por não exigir a movimentação de equipamentos e operários à frente da sua linha de locação houve a operação ininterrupta da linha férrea durante todo o período da obra. A construção se deu a uma velocidade muito elevada, com índices de produtividade 30 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

atingindo o patamar de 120 m² de face acabada por dia de trabalho. De um total de sete viadutos construídos, cinco foram executados com apoio direto sobre a crista do Muro Terrae. Ao longo de todo o trecho, a estrutura opera como base para vias urbanas expressas, o que contribuiu muito para a melhoria da mobilidade na região central da cidade. O Muro Terrae, com altura típica de 10 m ao longo de todo o trecho, foi uma ótima opção estética para a obra. Com mais de 60 mil m² de face e 6 km de extensão, somando-se as duas paredes da trincheira é um dos maiores e mais longos muros segmentais já implantados no mundo. Há também um relevante caso de obra mais recente. No início deste ano foi executado um Muro Terrae para a implantação do pedágio da Rodovia dos Tamoios, na cidade de Paraibuna (SP). O muro tem aproximadamente 200 metros de comprimento e o maior desafio foi a sua grande altura, de aproximadamente 25 metros, assim como o cronograma apertado para a finalização das obras, mesmo em períodos de chuvas na região. O projeto foi feito pela empresa Engecorps Ltda., e a execução pela empresa FBS Construtora Ltda., sob fiscalização da Concessionária Nota Tamoios. “A obra, com aproximadamente 5 mil metros quadrados de face, foi construída em aproximadamente quatro meses. Nos momentos de pico da produção foi montada uma tenda gigante sobre todo o canteiro de obras do muro para proteger a terraplenagem das chuvas”, recorda.


TRABALHO CONTÍNUO O esforço para melhorias não para. Desde o início do desenvolvimento dos Muros Terrae no Brasil trabalhos de pesquisa e desenvolvimento conjuntos, tanto com a Huesker, quanto com universidades têm sido desenvolvidos. A cooperação com a UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) é um exemplo real e importante nessa história. Já foram feitas pesquisas em várias teses de mestrado e doutorado com a instrumentação de protótipos de muros construídos em laboratório e instrumentação de obras nas mais diversas aplicações, desde muros que utilizaram solos bastante finos como muros portantes. Robson Palhas Saramago diz que nos últimos 20 anos, basea­do em pesquisas, outros formatos de blocos foram desenvolvidos e patenteados, a resistência da conexão foi estudada a partir do desenvolvimento de equipamento específico de laboratório, geogrelhas mais resistentes e menos deformáveis foram desenvolvidas e se conseguiu melhorias no traço dos blocos de concreto. Ele acredita que a proximidade dos Muros Terrae com a pesquisa se dá de forma intensa e constante. “Costumo associar que isto se deve ao fato dos três sócios dos Muros Terrae possuírem formação semelhante. Todos são mestres e doutores pela COPPE-UFRJ, sendo que dois ainda atuam como professores de universidades federais”. Ao recordar o grande trabalho, o desenvolvimento da ideia

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Da esquerda para a direita: Marcos Barreto, Paulo Brugger e Robson Saramago

e as dificuldades de implementação do sistema ao longo destas duas décadas, o resultado para Saramago é satisfatório. “Fico extremamente feliz com o sucesso alcançado pelos Muros Terrae, porém tenho certeza que ainda temos muito trabalho pela frente. Estamos com energia para participarmos de mais pesquisas, de contribuirmos com a técnica e com a engenharia e de oferecermos sempre a melhor solução para o mercado”, conclui.


ESPAÇO ABERTO

NBR-16.258 – ESTACAS PRÉ-FABRICADAS DE CONCRETO – APRESENTAÇÃO DOS PRINCIPAIS ITENS INTRODUÇÃO Quem trabalha com projeto e execução de fundações em estacas pré-fabricadas sabe que no mercado existem “estacas” e “estacas”. A NBR-16258 – Estacas Pré-Fabricadas de Concreto – Requisitos foi criada com o intuito de garantir uma qualidade mínima e necessária ao produto “estaca pré-fabricada”, independentemente do fabricante ou da região do País onde a peça é confeccionada. O objetivo deste artigo é apresentar os itens de destaque da norma e qual o seu impacto no mercado atual de estacas.

A NORMA O processo de criação da NBR-16.258 se iniciou em outubro de 2011 com o apoio do Comitê de Estacas Pré-Fabricadas da ABCIC (Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto). Contou com a participação de 42 pessoas, dentre elas 26 produtores, dez consumidores e seis participantes neutros, durante 20 meses. O texto foi aprovado no final de 2013 e passou a valer por força de lei em 17 de janeiro de 2014. A norma trata do projeto, fabricação, identificação, estocagem em fábrica, transporte, estocagem em obra e içamento do elemento pelo bate-estacas. A partir daí ela entende que o tratamento do elemento de fundação deve ser dado pelo NBR-6.122 – Projeto e Execução de Fundações. Essa norma não tem o objetivo de pa32 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

dronizar a confecção de estacas, e sim de proporcionar mais qualidade ao produto final. Os fabricantes podem (e devem) continuar fabricando estacas de diversos formatos de seção, vazadas ou cheias, protendidas ou armadas, longas ou curtas.

DEFINIÇÕES Dentre as 28 definições expostas no item 3 do texto, há três que se destacam e são apresentadas aqui: “Dimensão básica ou bitola: dimensão que melhor representa a seção transversal da estaca. Por exemplo, em uma estaca triangular ou qua-

drada, a lateral. Em uma estaca com seis ou mais lados, a maior diagonal. Em uma estaca circular, o diâmetro. (NBR-16.258)” “Estacas padrão: estacas fabricadas em conformidade com o padrão industrial de cada empresa, atendendo todos os requisitos normativos, porém sem atender esforços específicos de determinado projeto. (NBR-16.258)” “Estacas especiais: estacas fabricadas para suportarem esforços específicos de determinado projeto quando utilizadas como elemento de fundação. (NBR-16.258)”

Figura 01 – Dimensão básica ou bitola – exemplos (NBR-16.258)

Figura 02 – Informações inseridas no produto (autor)


Tabela 01 – Tabela de tolerâncias (NBR-16.258) Dimensão

Tolerância

Dimensão básica

±3%

O primeiro item é de importância indiscutível face aos diversos formatos de estacas existentes no mercado. Os dois itens seguintes apresentam a diferença entre as estacas de catálogo, que estão estocadas no pátio da fábrica sem um destino definido (estacas padrão), e as estacas fabricadas com um propósito pré-definido em projeto (estacas especiais). A norma trata quase que exclusivamente das Estacas Padrão e deixa claro que um elemento de estaca é, antes de qualquer coisa, uma peça de concreto e pode ser dimensionada para suportar esforços especiais desde que sejam obedecidas as normas vigentes.

Comprimento do elemento

“Para situações não cobertas por esta norma, devem ser seguidos os procedimentos estabelecidos nas ABNT NBR6.118 e ABNT NBR-9.062. (NBR-16.258)”

Abertura da falta de esquadro

≤ 6 mm

Dimensão básica do anel com relação à dimensão básica da estaca para medidas tiradas entre cantos diametralmente opostos

≤ 15 mm

Dimensão básica do anel com relação à dimensão básica da estaca para medidas tiradas entre arestas diametralmente apostas

≤ 6 mm

Deslocamento do anel com relação à seção transversal da estaca

≤ 6 mm

Linearidade do elemento de estaca

≤ 0,2 %

Perda de espessura da parede em estacas vazadas (com relação à espessura de projeto)

≤ 20 mm

Desvio de geometria para anéis de mesma seção (com relação à espessura da chapa de aço)

± 50 %

Desalinhamento de formas

≤ 5% Ø ≤ 2 cm

Todos os elementos de estaca devem vir agora com as seguintes informações indicadas na própria peça: Dimensão básica; Comprimento do elemento;

Figura 03 – Exemplos de estacas que não seguem a tabela acima (autor)

Transversal Longitudinal

Em estoque

Rejeitar a estaca

Durante a cravação

Se ocorrer o colapso da estaca durante a cravação, a mesma deve ser rejeitada

Em final de cravação

Verificação do caminhamento da fissura e/ou ação corretiva

Transversal

w ≤ 0,4 mm

Longitudinal

Trinca

Fissura

Tabela 02 – Tratamento de fissuras e trincas (NBR-16.258) Prosseguir com a cravação desde que sejam obedecidos os critérios de agressividade do meio Em estoque

Teste do levantamento

Durante a cravação

Rejeitar a estaca

w > 0,4 mm

Em estoque

Teste do levantamento

Durante a cravação

Rejeitar a estaca

Protendida Armada

Rejeitar a estaca

Em estoque

Rejeitar a estaca

Durante a cravação

Se ocorrer o colapso da estaca durante a cravação, a mesma deve ser rejeitada

Em final de cravação

Verificação do caminhamento da trinca (ver item 5.5.3) e/ou ação corretiva

33 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

≤ 2,5 mm

Excesso de concreto além da borda externa do anel

INFORMAÇÕES DO PRODUTO

a) b)

± 0,5 %


c) d)

Data de fabricação (concretagem); Número do lote.

Isso evita problemas tais como a cravação de bitolas erradas em obra ou o uso de estacas “verdes” que ocasionam grande número de quebras.

TOLERÂNCIAS São definidas as seguintes tolerâncias fabris para as peças de concreto. O objetivo da tabela acima é garantir que o cliente receba aquilo que foi comprado.

FISSURAS E TRINCAS A única parte da norma que trata da estaca após o seu içamento no bate-estacas é na apresentação de uma tabela para o tratamento de fissuras e trincas na peça de concreto, antes, durante e após o início da cravação do elemento no solo. O objetivo desta tabela é orientar a equipe de obra como proceder no caso do aparecimento de trincas e fissuras na peça de concreto.

CONCRETO Ficam definidas as seguintes especificações para o concreto de estacas pré-fabricadas: a) fck ≥ 40 MPa; b) Ecs (módulo de elasticidade secante) ≥ 26 GPa; c) Teor de argamassa: 40 % ≤ TA ≤ 50 %; d) Fator água cimento: a/c ≤ 0,45; e) Absorção de água por imersão ≤ 6 %. A obtenção dos valores de Ecs e a absorção deve ser feita pelo menos uma vez ao mês ou quando houver mudança no traço do concreto ou nos materiais.

ANEL DE EMENDA O anel de emenda é extensivamente discutido no texto da norma, onde são definidos valores mínimos para o comprimento da cabeleira, cobrimento das barras de transpasse e espessura do 34 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Figura 04 – Dimensões mínimas da armadura do anel de emenda (NBR-16.258)

concreto próximo da face da estaca, assim como taxa mínima da armadura transversal e longitudinal. Um dos mais importantes itens trata do formato dos anéis de emenda: “Os anéis de emenda devem ter o mesmo formato e dimensões da peça e devem estar dispostos perpendicularmente ao eixo da estaca. (NBR-16.258)”

CONCLUSÃO A NBR-16.258 é uma conquista da sociedade técnica brasileira e teve grande aceitação no mercado da construção. Já é possível perceber a mudança de postura dos fabricantes de estaca e

o aumento na qualidade dos elementos disponíveis no mercado. Com o avanço na tecnologia do concreto, ela inevitavelmente sofrerá adequações ao longo dos anos, porém é necessário que tais mudanças também ocorram nas normas “irmãs”, para que todo o potencial dessa fantástica solução de fundação possa ser melhor explorado.

REFERÊNCIAS ABNT NBR 6.118, Projeto de estruturas de concreto – Procedimento. ABNT NBR 6.122, Projeto e execução de fundações. ABNT NBR 9.062, Projeto e execução de estruturas de concreto pré-moldado.

Luis Fernando de Seixas Neves possui graduação e mestrado em geotecnia pela EESC-­ USP (Escola de Engenharia de São Carlos – Universidade de São Paulo), é engenheiro pleno na empresa Cepollina Eng. Cons., e secretário da ABMS-NRSP (Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica – Núcleo Regional São Paulo). Já trabalhou com fabricação e cravação de estacas pré-fabricadas de concreto e é coautor da série de livros “Estacas Pré-Fabricadas de Concreto – Teoria e Prática”.

A seção “Espaço Aberto” é uma parceria da revista Fundações & Obras Geotécnicas com associações do setor que publicam nesse espaço conteúdo técnico de interesse do público-alvo da revista. Nesse mês, a associação responsável pelo espaço é a ABEG (Associação Brasileira de Empresas de Projeto e Consultoria em Engenharia Geotécnica).


35 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


NOTÍCIA

PORTO DO AÇU GANHA TRÊS NOVOS TERMINAIS Especializados em petróleo, multicargas e combustíveis marítimos, os terminais somam um investimento de 1,5 bilhão de reais

Fotos: Divulgação Prumo

Por Dellana Wolney

Vista aérea dos terminais 36 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


No dia 7 de junho, o Porto do Açu abriu para visitação de autoridades e empresários do setor os seus três novos terminais: T-OIL (Terminal de Petróleo), T-MULT (Terminal Multicargas) e o TECMA (Terminal de Combustíveis Marítimos do Açu). Os empreendimentos que receberam mais de 1,5 bilhão de reais em investimentos representam o início de novos negócios no porto, diversificando os serviços que já eram prestados anteriormente. Estiveram presentes na cerimônia de inauguração o ministro dos Transportes, Portos e Aviação Civil, 37 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Maurício Quintella; o deputado federal Júlio Lopes, que representou na ocasião o Governo do Estado do Rio de Janeiro; o secretário de Desenvolvimento Econômico do Estado do Rio de Janeiro, Marco Capute; o prefeito de São João da Barra (RJ), José Amaro Martins de Souza e a prefeita de Campos (RJ), Rosinha Garotinho, acompanhada do secretário de governo, Anthony Garotinho. Os representantes da empresa alemã, Oiltanking que possui 20% do Terminal do Petróleo e será a operadora do terminal, bem como os re-

presentantes da empresa BP (British Petroleum), que detém 50% do TECMA e o presidente da empresa Shell, André Araújo também participaram do evento. Na ocasião, Araújo comentou sobre o interesse de ampliar as atividades da Shell (primeira cliente do Terminal de Petróleo) no Porto do Açu. “O porto é uma facilidade operativa. Vamos buscar alternativas aqui, como atividades de blending e armazenamento”, destaca. Aproveitando a oportunidade, o presidente da Prumo Logística, empresa que desenvolve e opera o Porto do Açu,


José Magela Bernardes, acrescentou que o porto deu certo desde o início por ser um projeto com fundamentos sólidos e características únicas. “Nossa proximidade das bacias petrolíferas de 38 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Campos (RJ) e Santos (SP) nos dá uma vantagem competitiva importante para as atividades de petróleo e gás”, afirma. Ele completa que a parceria com os governos federal, estadual e munici-

pal, que enxergaram o Porto do Açu como um vetor para o desenvolvimento da região norte-fluminense, foram e continuarão sendo essenciais para a construção de um empreendi-


mento que já é um marco para a região norte-fluminense e para o Brasil.

TERMINAIS O T-MULT está instalado no Terminal 39 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

2 (terminal onshore) do Porto do Açu. Ele representa uma nova alternativa de escoamento para o Sudeste do Brasil, possibilitando o acesso direto de clientes instalados na retroárea a um

terminal portuário, desenvolvendo o complexo industrial do porto e concretizando o conceito porto-indústria. Com este conceito, o Porto do Açu traz uma solução integrada que objetiva atender, em um único lugar, todas as necessidades dos clientes, oferecendo competividade, serviços com qualidade e reduzindo riscos. Neste mês, o TECMA começou a operar comercializando o combustível marítimo sob a marca BP Marine. Por meio de uma parceria entre as empresas Prumo Logística e BP, este terminal oferece serviços de abastecimento de combustíveis para embarcações que estiverem no porto e clientes operando na região. A operação é um marco para o Porto do Açu, que irá se configurar como a melhor opção para o abastecimento no Estado do Rio de Janeiro. Já o T-OIL é uma parceria das empresas Prumo Logística e Oiltanking, que está iniciando suas operações de comissionamento. Com atuais 20,5 metros de profundidade, e expansão prevista para 25 metros, o T-OIL está licenciado para movimentar 1,2 milhão de barris de petróleo por dia e é o único terminal privado no País para operação de transbordo de petróleo. Com três berços disponíveis ao longo de 1,4 km de quebra-mar, o terminal realizará operações seguras e rápidas, com eficiência e redução de custos para os clientes em área abrigada. Estima-se que o resultado será o aumento da competitividade do petróleo brasileiro.


NOTÍCIA

ANTES PREVENIR DO QUE REMEDIAR Veja quais tecnologias existentes hoje no mercado brasileiro podem aprimorar a manutenção de pontes e viadutos

A valorização da execução de novas obras coloca muitas vezes a conservação de estruturas mais antigas em segundo plano. Nas esferas públicas, principalmente, observa-se a ausência de políticas voltadas à definição de procedimentos sistemáticos de manutenção de obras de arte especiais como viadutos, pontes, pontilhões e passarelas. O prazo recomendável para a realização de vistorias preventivas nesse tipo de estrutura e os procedimentos e elementos que devem ser observados nas inspeções estão descritas na NBR 9.452/86 – Vistoria de Pontes e Viadutos de Concreto, que recomenda fiscalizações a cada dois anos, no máximo. Essa mesma regra enfatiza um roteiro de como deve ser efetuada uma vistoria. Vistorias preventivas tornam-se indispensáveis, pois as estruturas estão constantemente passando por ataques externos e necessitam de manutenção para o aumento de sua vida útil. A durabilidade está diretamente relacionada com a qualidade, tanto dos projetos e execução, quanto das manutenções realizadas. Se não há manutenções, sejam elas preventivas ou corretivas, a deterioração da estrutura aumenta gradativamente ao ponto de prejudicar sua capacidade estrutural. É comum observarmos pontes e viadutos, em que há vários elementos a serem recuperados, dentre eles: pavimento, juntas de dilatação, vigas, pilares e encontros. A engenheira e gerente de produto da empresa MC-Bauchemie, Marina Mendonça explica que quando algum sistema tem seu funcionamento comprometido, ele provoca a degradação de outros elementos adjacentes. Como exemplo ela cita as juntas de dilatação rodoviárias, que são consideradas o calcanhar de Aquiles nesta área, pois ao sofrerem ação deletéria, permitem a passagem de águas e detritos que migram até o aparelho de apoio agredindo-o ao longo do tempo. O ciclo de “seca-molha” do aparelho de apoio provoca perda de desempenho que, por fim, prejudica a capacidade estrutural da ponte e viaduto.

SOLUÇÕES Há algumas técnicas e produtos no mercado voltados exclusivamente para a prevenção de obras de arte especiais. A 40 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Fotos: Arquivo MC-Bauchemie

Por Dellana Wolney

O Elevado do Joá utilizou os produtos Zentrifix e Emcekrete EP

MC-Bauchemie, por exemplo, possui uma série de sistemas, que visam principalmente o aumento da durabilidade e vida útil de pontes e rodovias. Há soluções como os sistemas de recuperação estrutural, sistemas de injeção, reforço estrutural com fibras de carbono, sistemas de juntas de dilatação e sistemas de proteção estrutural. O Zentrifix CR é um dos sistemas de reparo de concreto que incorpora em sua formulação um adesivo anticarbonatação (profundidade de carbonatação em 90 dias = 0,0 mm) que dispensa o uso de pintura anticorrosiva na armadura e na ponte de aderência sobre o substrato de concreto (resistência ao arranque > 2,0 MPa). Por se tratar de um sistema de apenas uma etapa (não tem mais o tempo de espera com as demãos de pintura anticorrosiva), como benefício o cliente tem economia em sua obra e também tem a tranquilidade de que todas as etapas do reparo foram respeitadas. Isto significa melhor desempenho e maior durabilidade. Já a solução Nafutekt, que tem durabilidade prevista de cinco anos é utilizada em juntas de dilatação rodoviárias do tipo termoelástica. Ela garante uma maior integridade


O Museu do Amanhã também foi uma das obras que usou os produtos da MC-Bauchemie, neste caso o Xypex

Aplicação do Emcephob Nanoperm no Metrô do Rio de Janeiro

da estrutura com sua flexibilidade e impermeabilidade, permitindo a livre movimentação da estrutura sem que haja danos aos componentes estruturais e da própria junta. O Emcephob Nanoperm por sua vez, faz uma proteção superficial de alto desempenho. Com base de poliuretano, sua funcionalidade atende aos requisitos de proteção segundo a norma EN 1504 (normatização europeia de produtos para reparo e proteção do concreto). As suas principais características estão resumidas na abertura à difusão de vapor d’água, resistência a raios ultravioletas, resistência aos ataques de CO2 e íons de cloretos, cobrimento equivalente, além disso, o produto repele a sujeira e a água (hidrorepelente) e é antipichação.

que a recuperação e renovação dos elementos estruturais sejam feitos de forma correta”, afirma.

PREVENÇÃO Por meio da “Lei de Sitter” ou “Regra dos Cincos”, Mendonça descreve aproximadamente qual é o custo de intervenção necessário ao longo do tempo em uma estrutura, para que ela atinja certo nível de durabilidade. Pelo gráfico abaixo nota-se que a evolução do custo é uma curva exponencial ligada a uma PG (Progressão Geométrica) de razão cinco. Segundo ela, as manutenções preventivas, podem custar até 25 vezes mais que medidas corretas tomadas na fase de projeto estrutural ou arquitetônico e ser cinco vezes mais econômica que a manutenção corretiva, ou seja, caso a etapa de projeto/execução não possa ser solucionada, o melhor e mais econômico é a manutenção preventiva. “‘Não existe durabilidade sem manutenção’. Esta é uma frase que todos os engenheiros e leigos precisam entender e praticar. Toda estrutura assim como o corpo humano, degrada, e esta degradação pode ser reduzida com cuidados durante as etapas de sua vida útil. Outro ponto importante é compreender que para cada etapa, existe um tipo de tratamento. É necessário estudar e diagnosticar de forma correta para 41 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

EXEMPLOS REAIS Um dos casos mais recentes da MC-Bauchemie foi o do Rodoanel de São Paulo que utilizou o sistema de recuperação de estruturas para recomposição do concreto, em que havia manifestações patológicas. A engenheira Marina Mendonça diz que as patologias mais comuns não são encontradas somente no rodoanel, mas também em várias outras rodovias. Trata-se de segregações do concreto, disgregações (causadas por ataques de carbonatação, cloretos, sulfatos etc.), baixo cobrimento dos elementos estruturais, quebra de berço e lábio polimérico das juntas de dilatação, quebra e fissuração do pavimento de concreto. Outras obras que utilizaram sistemas de recuperação e manutenção foram: o projeto do Metrô do Rio de Janeiro (Linha 4) que necessitava de proteção para as estruturas de concreto aparente, devido à proximidade com áreas agressivas. O sistema utilizado neste caso foi o Emcephob Nanoperm especificamente na ponte estaiada que faz ligação com o túnel. No Elevado das Bandeiras (Elevado do Joá) foi utilizado o sistema de recuperação com a linha Zentrifix para recomposição de alguns trechos deteriorados. O Emcekrete 50 Plus (microconcreto com protetor anticorrosão integrado) foi empregado no reforço estrutural dos pilares. Na Ciclovia do Elevado do Joá, o Emcecolor Flex, sistema de proteção flexível de base acrílica foi usado nos elementos estruturais para protegê-los contra ataques externos como íons de cloretos. Já na Ponte do Piqueri, após colisão de um caminhão basculante com caçamba levantada contra uma viga, houve a necessidade de reforço estrutural e troca da viga danificada. Neste processo foi utilizado o sistema de fibras de carbono para que a estrutura tivesse sua capacidade devolvida.


ARTIGO

ESTIMATIVA DA CAPACIDADE DE CARGA DE SAPATAS ISOLADAS POR MEIO DE PROCEDIMENTO ESTATÍSTICO Engo Bruno Mingardi, Engenheiro Civil, Especialista em Fundações, Pós-Graduado em Docência do Ensino Superior, Sócio do Escritório GeoBr Engenheiros Consultores, Belo Horizonte (MG) brunomingardi@hotmail.com Rodolpho Cunha, Técnico em Edificações, Graduando em engenharia civil, Universidade Fumec, Belo Horizonte (MG) rodolpho.cunha@yahoo.com.br

RESUMO O objetivo é fornecer ao engenheiro geo­técnico um maior amparo em casos de litígio judicial empregando uma técnica que consiste na aplicação de duas médias aritméticas com limite de dispersão em cima dos resultados das tensões admissíveis encontradas nos dimensionamentos de sapatas isoladas de oito métodos semiempíricos estatísticos. Os resultados foram comparados com provas de carga estática realizadas em sapatas isoladas de concreto armado, e se concluiu que a técnica empregada trouxe uma excelente confiabilidade por apresentar valores bem próximos dos encontrados nas provas de carga analisadas. As sondagens podem não representar o real perfil do terreno na sua totalidade, sendo assim o uso da técnica apresentada também se justifica como forma de resguardo para o engenheiro geotécnico. 42 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Palavras-Chave: Litígio Judicial; Média Simples; Provas de Carga Estática; Sapatas Isoladas; Semiempírico Estatístico.

INTRODUÇÃO Berberian (2010) sugere a técnica utilizada neste estudo que apresenta uma forte base jurídica em casos de litígio judicial, uma vez em que o projetista geotécnico se utiliza de métodos dos mais respeitados autores e ainda faz de limites de erro e média simples para obtenção do valor final da tensão admissível utilizado no dimensionamento da sapata isolada. Foram utilizados os métodos de oito autores já consagrados que juntamente com a técnica proposta detalhada serão descritos ao longo deste artigo. O desenvolvimento de um projeto de fundação não se resume a aplicações e limitações de cada um desses processos e devido às incertezas inerentes às variações de comportamento do solo, a experiência é decisiva no dimensionamento e execução (MINGARDI, 2015, p. 1-12).

1 METODOLOGIA A técnica empregada consiste em dimensionar uma sapata isolada usando os métodos de oito autores, com os valores de tensão admissível encontrados faz-se uma primeira média aritmética simples, no valor resultante aplica-se um limite de dispersão de 30% para mais e para menos sugeri-

Tabela 1 – Pressões Básicas (admissíveis) NBR 6.122 SPT = NSPT Brasil Solo

kg/cm2

Rocha sã, maciça, sem laminações ou sinais de decomposição

30

Rochas estratificadas, com pequenas fissuras

15

Rochas alteradas ou em decomposição

3,0

Solo granulares concrecionado, conglomerado

10

Solo pedregulhoso compacto a muito compacto

6,0

Solo pedregulhoso fofo

3,0

Areia Muito Compacta

5,0

Areia Compacta

4,0

Areia Mediamente Compacta

2,0

Argila Dura

3,0

Argila Rija

2,0

Argila Média

1,0

Silte Duro

3,0

Silte Rijo

2,0

Siltemed. compacto

1,0

do pelo professor Dickran Berberian que em 50 anos de experiência como engenheiro geotécnico considerou um limite aceitável, os resultados individuais dos autores pesquisados que ficarem de fora destes limites de


dispersão são excluídos, com os valores restantes é feita uma segunda média simples, cujo valor resultante é utilizado no dimensionamento da sapata isolada. Como base esta técnica se apoia em resultados de métodos propostos pelos mais renomados pesquisadores utilizados nos principais escritórios de projetos geotécnicos brasileiros, o fato de se adotar média e limites de erro abrangendo várias sugestões consagradas, proporciona segurança e maior precisão nos resultados, e esta sugestão é o alvo deste artigo.

Já foi considerado pelo autor o fator de segurança FS=3 na capacidade de carga admissível, que não recomenda o assentamento de sapatas em solos com SPT menor de 15 golpes em areia e em argilas com SPT menor que 20 golpes.

Solo

KBerb

Areia

5,7

Areia Mto Pouco Siltosa

5,7

Areia Pouco Siltosa

5,9

Areia Siltosa

6,0

Areia Muito Siltosa

6,2

Areia Silto Argilosa

6,2

Areia Mto Pouco Argilosa

5,9

Areia Pouco Argilosa

6,2

Areia Argilosa

6,4

Areia Muito Argilosa

5,6

Areia ArgiloSiltosa

5,3

Silte

6,0

Silte Muito Pouco Aren.

5,7

Silte Pouco Arenoso

5,7

Silte Arenoso

4,3

Silte Muito Arenoso

5,6

SilteAreno Argiloso

5,9

Silte Muito Pouco Argil.

6,2

Silte Pouco Argiloso

6,2

Silte Argiloso

5,9

Silte Muito Argiloso

6,2

SilteArgilo Arenoso

6,4

Argila

6,7

Argila Mto Pouco Aren.

6,6

Argila Pouco Arenosa

6,2

Argila Arenosa

5,7

Argila Muito Arenosa

5,7

Argila ArenoSiltosa

5,6

Argila Mto Pouco Siltosa

6,2

Argila Pouco Siltosa

5,2

1.5 Milton Vargas

Argila Siltosa

6,2

Milton Vargas (1960) recomenda para todos os tipos de solo a equação 4:

Argila Muito Siltosa

5,2

Argila Silto Arenosa

4,3

1.3 Albieiro e Cintra Albieiro e Cintra (1996) recomendam para tensão admissível em kg/ cm², em qualquer tipo de solo brasileiro, na prática de projetos a seguinte equação 2:

1.1 Norma Brasileira A NBR (Norma Brasileira) 6.122/96 mostra na tabela 1 abaixo valores mínimos para pressões admissíveis no solo. As normas por via de regra oferecem somente uma indicação geral que visa claramente como ponto principal a segurança. Os valores apresentados na tabela 1, tem como referência uma sapata com largura de dois metros, com a variação das dimensões e da profundidade, estes valores podem ser modificados conforme descrito em 6.2.2.5, 6.2.2.6 e 6.2.2.7, da Norma Brasileira que também limita a aplicação desta tabela em até 300 toneladas para carga nos pilares.

Onde: a) σa: Tensão Admissível do Solo; b) NSPT: Número de golpes médio da sondagem SPT brasileira na camada de apoio da sapata. O número de golpes médio NSPT é obtido na camada de apoio da sapata de 1,5 a 2,0 vezes ao provável diâmetro da base.

1.4 Parry Parry (1977) recomenda em solos arenosos, para sapatas com profundidade Zf<Ba equação 3 abaixo:

1.2 Método Berberian Berberian (2010) em sua experiência brasileira para elaboração de projetos passou a recomendar o coeficiente KBerb com os valores indicados na tabela 2. Para o cálculo da tensão admissível, o autor utiliza a equação 1 abaixo tomando o valor do NSPT (Índice Standard Penetration Test) dentro da zona de plastificação 1,5 vezes o diâmetro B ou menor lado da base imediatamente à cota de assentamento das sapatas.

Onde: a) σa: Tensão Admissível do Solo; b) NSPT: Número de golpes médio da Sondagem SPT brasileira na camada de apoio da sapata; c) KBerb = Coeficiente de influência do solo na capacidade de carga. 43 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Tabela 2 – Valores de KBerb segundo Berberian

Onde: a) σa: Tensão Admissível do Solo; b) NSPT: Número de golpes médio da sondagem SPT brasileira, na camada de apoio da sapata. Com o valor médio de golpes de NSPT, obtidos dentro da zona de plastificação Zp=B logo abaixo da base.

Onde: a) σa: Tensão Admissível do Solo; b) NSPT: Número de golpes médio

da sondagem SPT brasileira na camada de apoio da sapata; c) KMV = Coeficiente de influência do solo na capacidade de carga.


Tabela 3 – Fatores Empíricos de Vargas Solo

KMV

Areias

5,0

Areias Siltosas

5,5

Siltes

6,0

Siltes Argilosos

6,5

Argilas

7,0

Tabela 4 – Admissíveis para sapatas em argilas NSPT

Argilas

σa kg/cm2

0a2

Muito mole

3a5

Mole

0,45 - 0,90

6a9

Média

0,90 - 1,80

9 a 16

Rija

1,80 - 3,60

16 a 30

Dura

3,60 - 7,20

> 30

Muito Dura

0 - 0,45

> 7,20

Tabela 5 – Admissíveis para sapatas em areias NSPT

Argilas

σa kg/cm2

0a4

Muito fofa

5 a 10

Fofa

0,8 - 3,0

11 a 30

Média

3,0 - 5,0

31 a 50

Compacta

>50

Muito Compacta

0,8

1.7 Victor de Mello Mello (1975) recomenda sem distinção do tipo de solo utilizar a equação 6 para obtenção da tensão admissível em kg/cm², com o NSPT entre 4 e 16 golpes.

Onde: a) σa: Tensão Admissível do Solo; b) NSPT: Número de golpes médio da sondagem SPT brasileira na camada de apoio da sapata.

1.8 Terzaghi e Peck Terzaghi e Peck (1962) recomendam como base para os valores das pressões admissíveis dispostas nas tabelas 4 e 5, com NSPT não inferior a 4 golpes, sapatas quadradas de 3 m x 3 m. Os autores também recomendam que quando o lençol freático atingir a cota de assentamento da fundação devem ser reduzidos estes valores. Fez-se necessário a comparação com provas de carga estática para uma melhor avaliação da técnica proposta e sua confiabilidade, sendo estes ensaios feitos diretamente em sapatas isoladas em concreto armado seguindo os procedimentos conforme a norma brasileira de prova de carga direta sobre terre-

no de fundação NBR (Norma Brasileira) 6.489/84. Os autores utilizaram métodos diretos (semiempíricos estatísticos) para dimensionamento das fundações com base em ensaios SPT (Standard Penetration Test) realizados de acordo com a NBR (Norma Brasileira) 6.484/01, foram pesquisadas duas provas de carga estática disponibilizadas pelo departamento de pesquisa da empresa Infrasolo Ltda., por meio do seu banco de dados sobre provas de carga. Neste artigo foi avaliado um novo conceito de carga chamada pelos autores de carga característica que fica entre a carga de ruptura e a carga admissível, marcada no ponto em que a carga aplicada no ensaio atinge um recalque máximo de 10 mm. Sendo assim, para uma média geral de vão entre pilares de 4 a 6 metros e levando em consideração uma estrutura em concreto armado e bloco cerâmico de vedação, o recalque distorcional considerado mais grave ficará na ordem de 1/500 em média, e após aplicados os fatores de segurança no dimensionamento da sapata a estrutura não apresentará falhas estruturais como fissuras e trincas tão comuns nas edificações. Para os relatórios referentes às figuras 3 e 4, foram utilizadas sapatas isoladas quadradas com as respectivas dimensões de base; Sapata S1 0,60 m x 0,60 m, apoiada a uma profundidade de 1 m, em solo de-

> 5,0

Os valores de KMV em kg/cm² se encontram na tabela 3.

1.6 Teixeira Teixeira (1996) recomenda nos solos arenosos e argilosos de São Paulo, com NSPT entre 5 e 20 golpes, para a tensão admissível Teixeira recomenda a equação 5 em kg/cm²:

Onde: a) σa: Tensão Admissível do Solo; b) NSPT: Número de golpes médio da sondagem SPT brasileira na camada de apoio da sapata. 44 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Figura 1 – Sondagem de Simples Reconhecimento SPT das Sapatas S11

Figura 2 – Sondagem de Simples Reconhecimento SPT das Sapatas S21


nominado através da sondagem – argila arenosa. O valor do NSPT considerado para o dimensionamento usando a técnica proposta foi tomado a 0,90 metros abaixo da cota de apoio da sapata, obtido multiplicando por uma vez e meio o comprimento B da base, aonde a média simples do NSPT foi igual a 13 golpes, a sapata submetida ao ensaio estático foi levada até uma carga de 35,7 toneladas. A sapata S2 0,60 m x 0,60 m, apoiada a uma profundidade de 1 m, em solo denominado através da sondagem – argila arenosa. O valor do NSPT considerado para o dimensionamento usando a técnica proposta

foi tomado a 0,90 metros abaixo da cota de apoio da sapata, obtido multiplicado por uma vez e meio o comprimento B da base da sapata, aonde a média simples do NSPT foi de 8 golpes, a sapata submetida ao ensaio estático foi levada até uma carga de 35,7 toneladas. O valor da tensão admissível considerado pelos autores é o valor da carga característica obtida no ponto marcado nos gráficos das figuras 3 e 4 dividido por três.

2 RESULTADOS Os resultados apresentados a seguir levam em consideração a sondagem da

Figura 3 – Curva Recalque versus Tensão – Prova de Carga Estática - Sapata S11

figura 1. As tabela 6 e 7 nos mostra os valores das tensões admissíveis de cada autor estudado, da primeira média e dos limites de dispersão de 30% para mais e para menos, sendo que para o tipo de solo em questão os autores Parry, Milton Vargas e Terzaghi e Peck não fornecem valores de tensão admissível. Os resultados apresentados a seguir levam em consideração a sondagem da figura 2. As tabelas 8 e 9 nos mostra os valores das tensões admissíveis de cada autor estudado, da primeira média e dos limites de dispersão de 30% para mais e para menos, sendo que para o tipo de solo em questão os autores Parry, Milton Vargas e Terzaghi e Peck não fornecem valores de tensão admissível. No primeiro caso estudado da sondagem S1, todos os autores permaneceram dentro dos limites de dispersão, por tanto o valor a ser usado no dimensionamento da sapata S1 permanecerá em 2,79 kg/cm² não havendo a necessidade de uma segunda média que seria uma média simples. No segundo caso estudado na sondagem S2, o autor Berberian e a recomendação da norma brasileira ficaram de fora dos limites de dispersão, neste caso se fez necessário o uso da segunda média simples e o valor encontrado foi de 1,95 kg/cm², sendo este o valor a ser usado no dimensionamento da sapata S2. A tabela 10 abaixo faz uma comparação dos valores das tensões admissíveis encontradas nas duas provas de carga estática executadas em sapatas isoladas de concreto armado das figuras 3 e 4, com os valores das tensões admissíveis encontradas nos dimensionamentos utilizando a técnica proposta neste artigo e o erro em porcentagem dos valores das tensões admissíveis encontradas na técnica proposta em relação aos valores encontrados na prova de carga. Ao final do desenvolvimento deste estudo, obteve-se de forma espontânea um programa para dimensionamento de sapatas isoladas quadradas, retangulares simples, ou de divisa com viga de equilíbrio, que já se encontra disponível de forma gratuita para todos os interes-

INFRASOLO. Departamento de Pesquisa e Publicação. Banco de Provas de Carga. Guaíra/ Brasília, 2015.

1

Figura 4 – Curva Recalque versus Tensão – Prova de Carga Estática – Sapata S21 45 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


Tabela 6 – Valor da Tensão Admissível dos Autores – Sondagem S1 Autor

Tensão Admissível em (kg/cm²)

Norma Brasileira

3,00

Berberian

2,28

Albieiro e Cintra

2,60

Parry

-

Milton Vargas

-

Teixeira

2,60

Victor de Mello

3,46

Terzaghi e Peck

-

Tabela 7 – Primeira Média e Limites de Dispersão Tensão Admissível em (kg/cm²) Primeira Média

2,79

Limites de Dispersão +30%

3,62

-30%

1,95

Tabela 8 – Valor da Tensão Admissível dos Autores – Sondagem S2 Autor

Tensão Admissível em (kg/cm²)

Norma Brasileira

3,00

Berberian

1,40

Albieiro e Cintra

1,60

Parry

-

Milton Vargas

-

Teixeira

1,60

Victor de Mello

2,65

Terzaghi e Peck

-

Tabela 9 – Primeira Média e Limites de Dispersão Tensão Admissível em (kg/cm²) Primeira Média

2,05

Limites de Dispersão +30%

2,65

-30%

1,43

46 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Tabela 10 – Comparativa: Valor da Tensão Admissível (Prova de Carga x Técnica Proposta) NSPT

Tensão Admissível Prova de Carga (kg/cm²)

Tensão Admissível Técnica Proposta (kg/cm²)

Erro Ԑ - Técnica Proposta em Relação à Prova de Carga (%)

Arg. Aren.

13

2,59

2,79

7,16

Arg. Aren.

8

2,96

1,95

-34.12

Sapata

Tipo de Solo

S1 S2

sados por meio do contato de e-mail dos autores deste artigo.

CONCLUSÃO Com os resultados encontrados na tabela 10 foi possível verificar que a engenharia geotécnica não é uma ciência exata e que erros inerentes às variações de comportamento do solo por vezes podem gerar resultados inesperados, como o resultado da sapata S2 que em seu relatório de prova de carga apresentado na figura 4 mostrou um comportamento que não condiz com o valor de NSPT apresentado na sondagem S2 da figura 2, sendo este de oito golpes, e que caso fosse este o real valor do número de golpes a sapata isolada teria que apresentar um valor de tensão admissível menor que os 2,96 kg/cm² apresentados. Analisando os oito métodos dos autores citados neste artigo, observamos que as metodologias propostas adotavam como via de regra o uso de um coeficiente de segurança Fs = 3. Assim concluímos que a dispersão adotada de 30% se fez segura e eficaz conforme apontado nos resultados, e em casos de litígio judicial ao se dimensionar uma sapata utilizando a técnica proposta neste artigo o engenheiro se apoia em base sólida, uma vez em que além de se reunir a experiência de autores já consagrados, ainda foram acrescidas duas médias com limite de dispersão, trazendo segurança e uma excelente precisão nos resultados. É imprescindível que se reúna mais dados de provas de carga estática realizadas em sapatas isoladas de concreto armado, sem a utilização de métodos de extrapolação ou provas de carga estática realizadas em placa, de diversas regiões do País para que futuramente possamos consolidar esta técnica com maior excelência.

AGRADECIMENTOS Agradecemos aos amigos, ao professor

Dickran Berberian pelo conhecimento inestimável oferecido e ao professor Wilson Reis pela forte base. Se alguém nos admira tem que admirar vocês também, obrigado.

REFERÊNCIAS ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas (2001).NBR 6484 – Sondagens de Simples Reconhecimento com SPT. Rio de Janeiro. ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas (1996). NBR 6.122 – Projeto e Execução de Fundações. Rio de Janeiro. ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas (1984).NBR 6489 – Prova de Carga Direta sobre terreno de fundação. Rio de Janeiro. BERBERIAN, D. Engenharia de Fundações. 23ª ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília.GeoTECH Press Experimental Revisada, 2010. CINTRA, J. C. A. & ALBIEIRO, J. H.: Fundações Teórica e Prática. ABEF/ ABMS, São Paulo, 1996,320 p. DE MELLO, V. F. B. The Philosophy as Statistics and Probability Applied in Soil Mech, Porcd 2nd. Int. Conf on Applic. of Statistics. 1975. MINGARDI B. Métodos Semiempírico para Cálculo de Hélice Contínua de acordo com a NBR 6122. 2015. 92 f. TCC (Graduação) – Curso de Engenharia Civil, Centro Universitário Una, Belo Horizonte, 2015. PARRY, R.H.G., 1977. “Estimating Bearing Capacity in Sand from SPT Values.” Journal of the Geotechnical Engineering Division, ASCE, Vol. 103, No. GT9. 1977. TEIXEIRA, A. H. & GODOY N. S. Fundações Teoria e Prática. Recalques Admissíveis Cap.7.7. São Paulo: Editora Pini.1996. TERZAGHI, K.; PECK, R. B. Mecânica dos solos na prática da engenharia. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1962. 659 p. VARGAS, Milton. Fundações para Edifícios. Escola Politécnica de São Paulo.1960.


ARTIGO

UTILIZAÇÃO DE AGREGADOS RECICLADOS PROVENIENTES DE CORPOS DE PROVA DE CONCRETO EM SUBSTITUIÇÃO AO AGREGADO NATURAL EM MISTURAS ASFÁLTICAS Engᵃ Pâmela Jaíne Silva da Silva Engenheira Civil, Arroio Trinta (SC) pamj_ss@hotmail.com MSc. Gislaine Luvizão Docente na Instituição de Ensino UNOESC (Universidade do Oeste de Santa Catarina) – Joaçaba (SC) gislaine.luvizao@unoesc.edu.br MSc. Fabiano Alexandre Nienov Docente na Instituição de Ensino UNOESC (Universidade do Oeste de Santa Catarina) – Joaçaba (SC) fabiano.nienov@unoesc.edu.br MSc. Lucas Quioca Zampieri Docente na Instituição de Ensino UNOESC (Universidade do Oeste de Santa Catarina) – Joaçaba (SC) lucas.zampieri@unoesc.edu.br

RESUMO Uma das formas de se verificar a qualidade do concreto é através da confecção de corpos de prova de concreto para a análise de resistência. Nesta pesquisa realizou-se a substituição do agregado graúdo pelo resíduo de corpos de prova de concreto em CAUQ (Concreto Asfaltico Usinado a Quente). Desenvolveu-se um TP (Traço Padrão), enquadrando-o na Faixa “C” do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes). A partir do TP foram desenvolvidos os traços com substituição de 25%, 50%, 75% e 100% do agregado graúdo pelo resíduo britado. Com isso observou-se que os traços com substituição apresentaram comportamentos satisfatórios. Obtendo-se como ideal o traço de 50% de substituição (T50). Conclui-se que a substituição do agregado graúdo natural pelo resíduo de corpos de prova de concreto como satisfatória para CAUQ. 47 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Palavras-chave: CAUQ; Resíduo; Concreto; Pavimento.

INTRODUÇÃO Com o acelerado crescimento das cidades, a demanda da construção civil aumentou rapidamente e, por consequência, cada vez mais as empresas zelam pela qualidade dos materiais empregados. Uma das formas de se verificar a qualidade é a confecção de corpos de prova de concreto para a análise de resistência do concreto empregado nas obras. Contudo este procedimento de verificação causa resíduos, pois os corpos de provas após seu rompimento são descartados normalmente em aterros, juntamente com outros resíduos podendo causar danos ao meio ambiente. Este tipo de resíduo enquadrado pelo CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) nº 307, como classe A, juntamente com argamassas, tijolos e outros, considerados resíduos de construção e demolição possuem um potencial excelente para reutilização principalmente em obras de construção civil. Esta reutilização reduz significativamente entre 20% a 50% os impactos ambientais causados por este setor (LIMA, 2005, p. 3). Como há poucos estudos empregando este resíduo em misturas asfálticas, surgiu a possibilidade de empregar e avaliar o seu comportamento nessa linha. Este estudo vem analisar e avaliar este comportamento na substituição do agregado graúdo pelo resíduo após sua britagem.

1 RESÍDUOS SÓLIDOS No campo da reciclagem dos resíduos da construção civil, países como Holanda, Bélgica e Dinamarca reciclam em torno de 90% de seus resíduos de construção e demolição, sendo que estes países estão acima da média da Europa, que reciclam 28% de todo o resíduo produzido de acordo com Fernandes e Motta (2005, apud NÓBREGA E MELO, 2009). No Brasil, apesar dos 20 anos de descobrimento da técnica de reciclagem, o reaproveitamento não chega a 5% dos re-


Tabela 1 – Quantidade total de RCD coletados no Brasil 2010

2011

Região

RCD Coletado (t/dia)/Índice (kg/hab/dia)

População Urbana (hab)

RCD Coletado (t/dia)

Índice (kg/habitante/dia)

Brasil

99354 / 0,618

162.318.568

106.549

0,656

Fonte: ABRELPE; IBGE (2011)

Tabela 2 – Relação dos corpos de prova rompidos por mês na região meio-oeste de Santa Catarina Concreteira

Cidade

Quantidade

Andreetta

Concórdia

200

Aterplan

Caçador/ Fraiburgo

300

Concrebal

Capinzal/ Ibicaré

360

Fetz

Videira

700

Kerbermix

Concórdia

450

Laboratório UNOESC

Joaçaba

550

Neumix

Treze Tílias

144

Polimix

Videira

200

Supermix

Joaçaba

TOTAL

380 3.284

Figura 1 – Metodologia experimental

síduos sólidos produzidos, sendo que a geração média nas cidades brasileiras é de 500 kg/ano/pessoa (FERNANDES E MOTTA, 2005, apud NÓBREGA E MELO, 2009). Pesquisa realizada pela ABRELPE (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais) e IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), referente a quantidade de RCD (Resíduos da Construção Civil e Demolição) são coletados pelos municípios brasileiros, comparando-se os anos de 2010 e 2011, que constatou um aumento de mais de 7% na coleta desse (ABRELPE 2011, p. 88). A Tabela 1 relata esta pesquisa. Atualmente, muitas empresas do setor da construção civil vêm buscando uma adequação às exigências de uma construção mais sustentável e eficiente (VIEIRA E FIGUEIREDO, 2013, p.41).

2 METODOLOGIA Para o desenvolvimento da pesquisa seguiu-se a metodologia descrita na Figura 1, que apresenta desde as pesquisas iniciais que deram subsídios para a execução do experimento até a avaliação dos resultados obtidos com essa substituição. O experimento contempla a dosagem Marshall de cinco misturas em concreto asfáltico denominadas de Traço Padrão sendo o traço adotado como de projeto. 48 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Figura 2 – Laboratórios da Região Centro-Oeste (SC)

Devido a pouca obtenção de finos no resíduo britado adotou-se para esta pesquisa a substituição na mistura somente do agregado graúdo pelo resíduo. Para as misturas que consistem na substituição do agregado graúdo pelo resíduo foram realizadas para a substituição de 25% o traço 25% (T25); para a substituição de 50% o traço 50% (T50); substituição de 75% o traço 75% (T75) e para a substituição de 100% o traço 100% (T100). A localização dos laboratórios presentes na região meio-­ oeste de Santa Catarina está representada na Figura 2. A geração mensal de corpos de prova por laboratório pesquisado está apresentada na Tabela 2, com uma geração mensal média de 3.284 corpos de prova, sendo o laboratório da construtora Fetz o que mais contribui.


Figura 3 – Processo de britagem

Figura 4 – Agregados e resíduos ensaiados

Tabela 5 – Resumo dos parâmetros de todos os traços

Tabela 3 – Caracterização do CAP Material

Densidade

CAP

Temperatura (°C)

Penetração (0,1mm)

Ponto de Amolecimento (ºC)

Usinagem

Compactação

59

49,9

155

146

1,018

Tabela 4 – Massa específica e unitária dos agregados Massa específica real

Massa unitária

Absorção

(kg/dm³)

(kg/dm³)

(%)

(%)

Brita I

2,67

1,29

2,09

1,70

Pedrisco

2,70

1,24

2,98

2,26

Pó de pedra

2,65

1,50

Resíduo

2,38

1,05

Material

Teor Pulverulento

8,80 6,46

0,85

A coleta dos corpos de prova foi feita no Laboratório de Materiais da UNOESC, localizado na cidade de Joaçaba (SC). Posteriormente foram britados em um britador móvel CCM 5030 (Figura 3), localizado na cidade de Arroio Trinta (SC). Os agregados pétreos e o resíduo podem ser visualizados na Figura 4. Todos os agregados e o ligante foram caracterizados de acordo com as normas vigentes do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes e ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas).

3 RESULTADOS Com a caracterização do cimento asfáltico de petróleo, obteve-­ se os resultados contidos na Tabela 3. O CAP (Cimento Asfáltico de Petróleo) classificado como CAP 50/70, com densidade de 1,018, ponto de amolecimento entorno de 50°C e temperatura de usinagem e compactação dentro dos parâmetros. Os agregados pétreos apresentaram massa específica real em média de 2,67 g/cm³, massa unitária entorno de 1,34 g/ cm³ e absorção de 2,5%. Em contrapartida, o resíduo possui massa específica unitária inferior ao agregado pétreo, 2,38 g/cm³ e 1,05 g/cm³ respectivamente, com absorção elevada chegando à 6,46%. 49 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Figura 5 – Granulometria da Mistura TP

TP

T25

T50

T75

T100

Teor de projeto (%)

5,35

5,09

5,49

5,83

5,89

DMM (g/cm³)

2,47

2,44

2,40

2,37

2,34

Densidade aparente (g/cm³)

2,29

2,27

2,23

2,19

2,17

VV (%)

4,00

3,9

4,00

4,10

4,10

VAM (%)

16,00

15,3

16,05

16,70

16,80

RBV (%)

75,00

75,00

75,00

75,00

75,00

Estabilidade (kgf )

800

750

900,10

1150,00

1050,00

Fluência (mm)

2,3

3,1

2,9

2,6

3,1

Em uma mistura asfáltica a alta absorção eleva o teor de ligante necessário para garantir as características físicas e mecânicas da mistura. Todos os resultados podem ser avaliados na Tabela 4. Devido à alta absorção, baixa massa específica e grande porosidade, o agregado reciclado não obteve bom desempenho na adesividade levando a utilização de aditivo para melhorar esta propriedade. Para tanto foi utilizado cal hidratado (CH III) na porcentagem de 2,5% do teor de ligante. Para a moldagem dos corpos de prova enquadrou-se os materiais na faixa granulométrica, como apresentado na Figura 5, lembrando que para cada substituição houve alteração na curva granulométrica. Mesmo com a alteração todos se encontraram dentro dos limites. A partir de todos dos resultados obtidos pode-se realizar uma comparação entre todos os traços. A Tabela 5 apresenta um resumo de todos os parâmetros avaliados, sendo que foi levado em consideração os limites estabelecidos pela norma DNIT ES 031 (IPR, 2006). A Figura 6 destaca os diferentes teores ótimos de CAP encontrados para cada mistura. Observando a Figura 6, entende-se que o consumo de CAP ficou entre 5,0% a 6,0%, sendo que o traço que apresentou o menor consumo de ligante foi o com substituição de 25%. O teor de ligante é o fator de maior influência no custo do pavimento, portanto quanto menor o teor mais econômico. Como pode ser observado, o consumo de CAP aumentou com a adição do resíduo, isso pode ser decorrente da alta absorção do agregado reciclado.


Figura 6 – Comparação de consumo de CAP

Figura 8 – Comparações Vv

Figura 7 – Comparação Densidade Aparente

Figura 9 – Comparação VAM

A Figura 7 relaciona os diferentes valores para a densidade aparente de cada traço. Os valores de densidade aparente apresentaram o comportamento decrescente conforme se substituiu o agregado pelo resíduo, variando de 2,29 g/cm³ para o TP a 2,17 g/cm³ para o T100, devido ao resíduo apresentar massa específica inferior ao agregado. A Figura 8, demostra as variações para volume de vazios dos traços, a linha vermelha indica os limites recomendados por norma para que a mistura apresente bom comportamento. Através da Figura 8, pode-se perceber que o parâmetro volume de vazios na mistura apresentou variações crescentes, porém baixa entre os traços, isso devido à alta absorção do resíduo que por consequência aumenta o Vv, contudo todos os traços permaneceram entre os limites estabelecidos pelo DNIT entre 3% a 5%. A Figura 9, apresenta as mudanças entre os traços para o parâmetro de vazios de agregado mineral. Como se pode observar na Figura 9, o traço de 25% apresentou vazios de agregado mineral inferior ao mínimo de 16%, os demais apresentaram valores acima do mínimo. Sendo que o comportamento deste parâmetro para os traços com substituição foi crescente, devido também à alta absorção do resíduo e inferior densidade em comparação ao agregado natural. A Figura 10 apresenta o comportamento de estabilidade das misturas desenvolvidas. Analisando a Figura 10, concluiu-se que todos os traços obtiveram estabilidades acima do estabelecido pelo DNIT, sendo que o traço de 75% de substituição destacou-se por 50 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Figura 10 – Comparação Estabilidades

apresentar a maior delas (1150 kgf ), ressaltando que este não é o único parâmetro ao se analisar para a escolha do traço ideal.

CONCLUSÃO A ideia da realização deste estudo surgiu com a observação da necessidade de encontrar uma destinação correta e eficaz aos corpos de prova rompidos no Laboratório de Materiais da UNOESC – Joaçaba. Partindo deste problema, com a pesquisa realizada chegando ao número de aproximadamente 3.284 unidades de corpos de prova rompidos por mês na região e que não possuíam destino ideal. Nos ensaios realizados para o resíduo, um ponto significativo foi a alta absorção de 6,46%, por se tratar de um


resíduo proveniente de concreto, como consequência resultando em maior consumo de CAP. Com todos os parâmetros analisados, pode-se concluir que o melhor traço a se utilizar é de 50% de substituição, pois obedeceu todos os parâmetros analisados, utilizando teor ótimo de 5,49%, apresentando volume de vazios de 4%, estabilidade de 900,10 kgf e fluência de 2,9 mm. Esta escolha foi baseada no custo final da camada de revestimento asfáltico, uma vez que o ligante asfáltico representa em torno de 40% do custo da camada. Dentre os teores de substituição, não se aconselha a utilização apenas do traço de 25%, pois apesar de apresentar o menor consumo de CAP, não se obteve comportamento satisfatório nos demais parâmetros analisados e expôs a menor estabilidade dentre todos. Dessa forma, a partir dos resultados obtidos a substituição do agregado graúdo pelo resíduo torna-se uma boa opção, pois ela influenciou na mistura, obtendo boa estabilidade e os parâmetros permaneceram satisfatórios perante a norma, porém com o acréscimo do resíduo o consumo de CAP aumentou, sendo um ponto negativo para esta substituição.

REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMPRESAS DE LIMPEZA PÚBLICA E RESÍDUOS ESPECIAIS. Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil, 2011. Disponível em < http://www. cidadessustentaveis.org.br/sites/default/files/arquivos/panorama_residuos_solidos_abrelpe_2011.pdf>. Acesso em: 27 de abril.2014. BARBOSA JÚNIOR; Álvaro Sérgio; FORTES, Rita Moura. Estudo da Utilização de agregado Reciclado em Misturas de Concreto de Cimento Portland Para Pavimentação. In: 50º congresso Brasileiro do Concreto. 2008. São Paulo. 2008. Disponível em< http://meusite.mackenzie.com.br/rmfortes/publicacoes/50CBC0502.pdf> Acesso em: 29 de abril.2014. BRASILEIRO, Luzana Leite. Utilização de Agregados Provenientes de RCD em Substituição ao Agregado Natural no Concreto Asfáltico. 2008. Dissertação (Pós-Graduação em Ciências dos Materiais)- Universidade Federal do Piauí. Teresina. 2013. Disponível em < http://ufpi.br/subsiteFiles/materiais/arquivos/files/DISSERTACAO%20-%20Luzana.pdf > Acesso em 25 abril. 2014. BERNUCCI, Liedi Bariani; MOTTA, Luana Maria Goretti; CERATTI, Jorge Augusto Pereira; SOARES, Jorge Barbosa. Pavimentação Asfáltica: formação básica para engenheiros. Rio de Janeiro: Petrobras, 2007. 09 p. CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE-CONAMA – Nº 307 – Procedimentos para a gestão dos resíduos da construção civil. 2008. p. 2. Disponível em< http:// licenciamento.cetesb.sp.gov.br/legislacao/federal/resolucoes/2008_Res_CONAMA_307.pdf> Acesso em: 23 de abril. 2014. DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRAESTRUTURA DE TRÂNSITO. DNIT – ES 031: Pavimentos flexíveis: Concreto asfáltico – especificação de serviço, Rio de Janeiro, 2006. GONÇALVES, Frederico Guilherme Bastos et al. Reutilização dos Resíduos de Corpos de Prova de Concreto (RCPC) como Revestimento de Pavimentação. Prêmio destaque ODEBRECHT. Salvador. 2012. Disponível em: < https://www.premiodestaque. com/Files/Works/125/1817.pdf>. Acesso em 21 de mar. 2014. NÓBREGA, Renan Dantas; MELO, Ricardo Almeida de. Uso do Agregado de Resíduo da Construção Civil na Pavimentação Urbana em João Pessoa. ENARC 2009. Feira de Santana. 2009. Disponível em: <http://www.ct.ufpb.br/ricardo/ricardo/producao/2009/ENARC%202009%20-%20U1-013.pdf>. Acesso em: 27 de abri.2014. PASQUAL, Celine. Influência da Temperatura de Calcinação da Lama de Cal, no Comportamento de Misturas Asfálticas CAUQ. 2013. Relatório de Pesquisa (CNPq – PIBITI) - Universidade do Oeste de Santa Catarina, Joaçaba, 2013. VIEIRA, Luiz de B.P.; FIGUEIREDO, Antonio D. de. Resíduos da Concreteira: o aproveitamento do problema. 55º Congresso Brasileiro do Concreto do Instituto Brasileiro do Concreto (IBRACON), Gramado, 2013.p. 41-44. 51 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


EM FOCO

Agência Brasília / Flickr

CARACTERIZAÇÃO, RECUPERAÇÃO E FECHAMENTO DE ÁREAS DEGRADADAS

Área degradada em Brasília (DF)

Áreas degradadas são áreas ou glebas onde se constata uma alteração da qualidade ambiental, geralmente causada por atividade humana ou eventualmente por fatores naturais. A degradação pode ser resultante de uma intervenção específica e isolada, como a operação de lavra de minério ou a terraplenagem em uma obra de engenharia civil, assim como por um conjunto de ações que podem atuar de modo sinérgico no ambiente e gerar 52 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

efeitos cumulativos. Caso não sejam aplicadas medidas para corrigir ou atenuar essa degradação, recuperando o quanto antes a qualidade ambiental do local, as consequências podem se acentuar com o tempo e evoluir para situações com maior alcance e gravidade. Existem empresas que se restringem a atender apenas casos que tenham aspectos relacionados à geotecnia ambiental, tratando especificamente

de vazadouros e lixões de resíduos sólidos urbanos, embora os resíduos industriais possam também estar presentes, já que essas áreas não dispõem ou não dispuseram ao longo de todo o tempo de utilização de condições de controle e classificação dos resíduos despejados. O descarte a céu aberto de resíduos sólidos, lixo, sem sistemas de proteção ambientais gera áreas degradadas.


RECUPERAÇÃO A recuperação de áreas tende a variar muito, conforme cada situação. Há alguns tipos básicos de medidas de recuperação aplicáveis, por exemplo: a uma área mais natural, existem medidas de revegetação (que visam restabelecer a qualidade do ambiente sob o ponto de vista do biótico ou ecológico); as de estabilização geotécnica (que visam estabilizar os terrenos e assegurar a 53 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Wisconsin Department of Natural Resources / Flickr

DETECÇÃO A CETESB (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo) estabelece para o Estado de São Paulo os procedimentos relativos ao gerenciamento de áreas degradadas, por meio do Manual de Gerenciamento de Áreas Contaminadas, bem como regulamentos de decisões de diretoria que atualizam os procedimentos para os estudos de recuperação. São necessários, principalmente, estudos da geologia e hidrogeologia local, com consideração de aspectos geotécnicos, realização de prospecções e análise das condições de emissão dos efluentes. Os aspectos a serem observados são: poluição das águas superficiais e subterrâneas, emissão de gases tóxicos, estabilidade geotécnica da disposição e análise ambiental do local e entorno, definindo riscos e restrições ambientais infligidas. Pela prática, a caracterização de uma área degradada deve ser orientada pelo tipo de atividade que gerou essa situação. Antes de qualquer iniciativa, deve-­ se conhecer o histórico da degradação no local. A definição da caracterização a realizar dependerá desse conhecimento. Em função disso, pode-se buscar os métodos e técnicas mais adequados para caracterizar a degradação. Se não for possível decifrar o histórico, deve-se ao menos identificar os materiais e processos de degradação envolvidos. No caso de áreas degradadas pela disposição de resíduos perigosos no solo, por exemplo, é fundamental saber os tipos de substâncias e contaminantes presentes, bem como seu comportamento dinâmico no solo e no subsolo.

Recuperação de área de aterro sanitário

qualidade física do ambiente, inclusive para que a revegetação possa se desenvolver de maneira satisfatória) e as de remediação (que objetivam, sobretudo, tratar solos contaminados). Em geral, essas medidas são aplicadas de maneira combinada em uma mesma área. No caso de uma área degradada situa­ da em zona urbana, podem ser agregadas outras medidas de caráter social, cultural e institucional, por vezes denominadas de medidas de revitalização. Do mesmo modo, na recuperação ou reabilitação de uma vila ou uma quadra urbana que tenha sido também caracterizada como uma área degradada, essas medidas poderão, inclusive, adquirir importância relativamente maior. Esse pode ser o caso, por exemplo, de uma antiga pedreira abandonada em área urbana, em que poderia ser instalado um parque público, no qual serão necessárias medidas para assegurar a qualidade do ambiente, tendo como condição as demandas da comunidade. Tecnicamente, a recuperação de uma área também depende do grau de contaminação e das condições geológicas locais, podendo ser desde um pequeno cercamento, restrições de uso de água subterrânea e monitoramento ambiental, até a instalação de barreiras hidráu-

licas e de gases, com reconformações geométricas do maciço, monitoramento geotécnico, disciplinamento das águas superficiais, cobertura e remoção dos lixiviados e chorume, para um tratamento adequado. Além de trabalhos geológicos e geotécnicos é necessária a implantação de projetos de obras civis para a mitigação dos impactos e recuperação possível, dentro das condições de proteções ambientais prescritas pela lei.

PROCEDIMENTOS As metodologias que devem ser seguidas para recuperar uma área degradada envolvem levantamentos de aspectos de meio físico, meio antrópico e biótico, com o intuito de diminuir os impactos ambientais encontrados. Uma avaliação conceitual preliminar é exigida para levantar o histórico da disposição irregular local, definindo se a área é potencialmente contaminada. A partir desse levantamento, procede-se aos estudos de detalhe que vão desde uma investigação confirmatória até uma detalhada, com avaliação de riscos e planos de intervenção. Se for o caso, o passo seguinte é a elaboração de um projeto de remediação. Os métodos são de execução de sondagens nos resíduos locais, poços de monitoramento para avaliação da qualidade


Onno Kluyt / Flickr

de pequeno porte, seguindo-se de revegetação por espécies herbáceas, arbustivas ou arbóreas, conforme o caso.

TECNOLOGIAS As medidas citadas acima são as mais usuais. No caso das medidas de remediação, há uma variedade de soluções disponíveis no mercado, mas é necessário ter cautela, pois a adoção da medida mais adequada de recuperação dependerá de uma boa caracterização da área degradada. Tecnologias estrangeiras são, em geral, mais caras e de difícil adaptação às condições ambientais e de resíduos sólidos urbanos locais.

FECHAMENTO DE ÁREAS

DFAT (Department of Foreign Affairs and Trade) / Flickr

Aterro sanitário

Área de mineração

das águas subterrâneas, monitoramento da qualidade das águas superficiais, por meio de amostragens e ensaios analíticos, poços de monitoramento de gases no entorno e eventuais residências periféricas, terraplenagem do maciço com cobertura projetada dos resíduos, instalação de drenos de lixiviados, gases e de drenagem das águas de chuva e, por último, instalação de instrumentos geotécnicos para monitorar a estabilidade do maciço. 54 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Uma área degradada em uma encosta que esteja sujeita à ação de processos erosivos e movimentos gravitacionais de massa pode ser estabilizada, objetivando proteger os solos superficiais e saprolíticos expostos à ação das águas pluviais. Essa estabilização deve ser iniciada pela conformação topográfica do terreno e pela instalação de um sistema de drenagem superficial, envolvendo canaletas e outras estruturas

Em princípio, toda atividade, inclusive o fechamento de áreas degradadas, depende de uma autorização. No caso da mineração, por exemplo, o fechamento é uma atividade importante e hoje incorporada à fiscalização por parte dos órgãos setoriais e ambientais competentes. O mesmo ocorre com indústrias. Na prática, a principal preocupação sobre o assunto é para que não restem passivos ambientais. A recuperação pode ser conduzida após o fechamento, mas melhor seria se fosse ao menos iniciada antes. Há casos em que a revitalização da área poderá ser retomada, desde que os fins de uso sejam compatíveis com os impactos já mitigados ou a mitigar, propostos. Isso depende muito de custos. Um caso relevante foi a remediação de uma área portuária contaminada por resíduos industriais e urbanos, em que os resíduos puderam ser removidos e transportados para um aterro sanitário licenciado, devido à alta rentabilidade de implantação de berços marítimos e uso da área como retroporto. Trata-se de um caso raro, mas possível. O desafio foi a caracterização ambiental dos contaminantes em um estudo detalhado, além de uma inversão de capital, de grande monta. Restou também uma obrigação de monitoramento ambiental da área para garantir o controle da remediação adotada, para os fins de uso estabelecido, porto marítimo.


DESAFIOS O Brasil ainda enfrenta dificuldades em termos de tecnologia, legislação e âmbito social no que tange à recuperação de áreas degradadas. Talvez a maior delas ainda seja a da responsabilização da pessoa física ou jurídica que causou a degradação, de modo a que ela venha a arcar com os custos da recuperação. O ideal é que a recuperação seja iniciada ainda durante a fase de operação da atividade, quando se pode mobilizar equipes e equipamentos disponíveis para a tarefa, 55 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

rigosos e outros materiais indesejáveis no interior do maciço construído.

Arquivo Pessoal

A cobrança da legislação ambiental, especialmente em relação ao tratamento de áreas degradadas tem sido frequente. Existem normas e legislações que devem ser seguidas. No caso de lixões urbanos em lugares não adequados, a legislação ambiental já os define como crime ambiental desde 1998, embora a Constituição de 1988 já previsse essa infração. A lei federal no 10.305/2010, na qual se estabelece a Política Nacional de Resíduos Sólidos, reforça a necessidade de erradicação dos lixões, com meta estabelecida e não cumprida para 2014. Essa é a principal lei que define as infrações em manutenção das áreas degradadas por resíduos sólidos urbanos, com a imposição de adotar a disposição dos resíduos em aterros sanitários, com toda a proteção ambiental requerida. Além do fechamento dos lixões é necessário a recuperação ambiental local, a fim de diminuir riscos e definir ações de intervenção. Há uma série de normas técnicas e legais vigentes no País sobre o assunto, às quais podem variar um pouco de acordo com o regramento de cada estado e município. Pode-se destacar, para o caso da mineração, o dispositivo constitucional que tornou obrigatória a recuperação de áreas degradadas por parte do empreendedor desde 1988, bem como toda a legislação correlata subsequente. A constituição paulista, por exemplo, ampliou a abrangência dessa obrigatoriedade, que pode ser requerida para outros tipos de atividades.

como no caso de uma mineração ou indústria em operação. O problema maior ocorre quando a atividade se encerra e a área é abandonada, pois nessa situação, sobretudo quando se passa muito tempo, a magnitude da degradação pode atingir níveis que acabam inviabilizando a recuperação sob o ponto de vista econômico-­ financeiro. Além disso, quando abandonada, a área pode ficar sujeita ao uso e ocupação irregular, como se vê com frequência em regiões urbanas, onde é comum a ocupação habitacional precária e o lançamento inadequado de resíduos nessas áreas abandonadas, o que acaba gerando sérios problemas adicionais de natureza socioambiental.

Clovis Benvenuto é engenheiro civil e mestre em engenharia de solos pela Poli-USP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo). Possui especialização pelo IWWG (International Waste Working Group) em Landfill Processes and Emissions, Landfill Design and Barriers, Leachate Management e Landfill Gas Management. Atualmente é diretor-técnico da empresa Geotech Engenharia e Meio Ambiente e vice-presidente da ABLP (Associação Brasileira de Resíduos Sólidos e Limpeza Pública).

Arquivo Pessoal

LEGISLAÇÃO

Omar Yazbek Bitar é geólogo pela USP (Universidade de São Paulo), 1978, mestre em geociências pela UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas), 1990, e doutor em engenharia pela USP, 1997. Desde 1986 é pesquisador e docente no IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo). Possui experiência profissional em geociências aplicadas, com ênfase em análise e cartografia de processos geodinâmicos externos, atuando nos seguintes temas: avaliação e mitigação de impactos ambientais; cartografia geotécnica e geoambiental; mapeamento de áreas suscetíveis a processos do meio físico que podem gerar desastres naturais; acompanhamento ambiental de obras de engenharia; planejamento urbano e regional; mineração e meio ambiente; avaliação ambiental integrada de cidades e de bacias hidrográficas; desenvolvimento de indicadores ambientais e habitação de interesse social.

SUCESSO Há alguns casos de remediação que tiveram sucesso. Em minas situadas em áreas rurais, por exemplo, há diversos exemplos de recuperação de terrenos lavrados com emprego predominante de métodos e técnicas de estabilização geotécnica e de revegetação. Ainda sobre mineração, há diversas áreas hoje em zonas urbanas que foram exploradas no passado e acabaram sendo reabilitadas posteriormente pelo poder público para fins de instalação de equipamentos de lazer, cultura, esportes e recreação. O Parque do Ibirapuera, em São Paulo (SP) é um desses casos, em que antes havia portos de areia. Outro caso, ainda em São Paulo, é o da antiga Pedreira Itaquera, cuja reabilitação envolveu o desenvolvimento de duas atividades sequenciais, uma vez que a cava gerada pela extração mineral foi primeiramente utilizada como aterro para disposição de resíduos inertes e depois de preenchida se converteu em um empreendimento imobiliário. Cada caso tem sua história peculiar. O da Pedreira Itaquera, por exemplo, que já foi contada em algumas pesquisas e publicações, enfrentou o desafio de montar um bom sistema de triagem dos resíduos recebidos, que eram provenientes de obras diversas de demolição na região metropolitana, com a finalidade de não abrigar resíduos pe-


O QUE HÁ DE NOVO

EKO/GRID É USADO PARA REMEDIAR SOLOS E LENÇÓIS DE ÁGUA CONTAMINADOS O sistema é eficaz contra hidrocarbonetos e se adequa a qualquer tipo de meio ambiente Por Dellana Wolney

A empresa Aquamec apresentou durante a 27ª FENASAN (Feira Nacional de Saneamento e Meio Ambiente) tecnologias voltadas para o meio ambiente, assim como as suas recentes parcerias com fabricantes internacionais. O sistema EKO/GRID para remediação in situ de solos e lençóis de água contaminados foi uma das inovações exibidas na ocasião. O sistema EKO/GRID consiste na aplicação de uma corrente elétrica de baixa intensidade em uma série de eletrodos metálicos horizontais e verticais instalados no local contaminado. Os eletrodos são operados por uma unidade de controle que envia padrões aprofundados de tensão pulsada para criar um campo eletrocinético na área de tratamento. A aplicação da solução pode ser feita em quaisquer áreas contaminadas (fábricas antigas, oleodutos, postos de combustíveis, refinarias, terminais, entre outros) por hidrocarbonetos. A supervisora de processos da Aquamec, Sonia Ticianeli Mucciolo alerta que é importante conhecer a condutividade do solo, ter a contaminação caracterizada e a quantidade de macronutrientes para o dimensionamento do sistema, “como o tratamento é local, muitos custos são eliminados”, diz. Mucciolo explica que o EKO/GRID é ca56 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

paz de remover os compostos derivados de hidrocarbonetos de modo simples e viável economicamente. O sistema opera com tensão de 10 a 16 volts e potência de 750 watts. Os eletrodos de baixa corrente elétrica do sistema aceleram as reações naturais. Basicamente, a degradação dos contaminantes se inicia com os impulsos elétricos numa fase denominada de oxidação. “Esta etapa é complementada pela biorremediação, devido às condições propícias deixadas no ambiente remediado pela primeira fase, que essencialmente quebra as cadeias de carbono, tornando os compostos biodegradáveis. A biorremediação acontece com o desenvolvimento local dos micro-organismos presentes no solo, visto que estão em uma condição ideal, sem qualquer adição de micro-organismos externos ao ambiente. Os produtos resultantes do tratamento são: gás carbônico (e água) e o pH (Potencial Hidrogeniônico) que é mantido em condições naturais”, ressalta.

EFICIÊNCIA O EKO/GRID extingue a necessidade de remoção da terra a outro local para tratamento, promovendo economia. A remoção da terra contaminada era um tipo de remediação de solo muito usada no passado, especialmente pela fal-

ta de alternativas eficazes. Atualmente, devido aos altos custos de movimentação de terra, transporte e especialmente incineração do solo contaminado, esta técnica é extremamente onerosa. Além do fato que, caso o local tenha ainda água subterrânea contaminada, apenas a substituição do solo não seria suficiente como remediação. Propício para todos os ambientes e com possibilidade de tratamento em profundidades consideráveis, com uma unidade da solução pode-se tratar cerca de 10.000 m³ a 15.000 m³ de solo contaminado. Cada unidade é instalada em uma área de aproximadamente 100 m x 100 m, com um eletrodo vertical rígido a cada cinco metros. A profundidade do eletrodo pode atingir até oito metros. Depois da instalação dos eletrodos verticais, são colocados os eletrodos horizontais flexíveis, conectando cada linha ao painel de controle. Esta operação é realizada até a formação completa da malha do sistema. Sonia Ticianeli Mucciolo destaca que pela corrente aplicada ser de baixa intensidade, não ocorre qualquer alteração ou interferência nas estruturas ou fundações localizadas nas proximidades. “O sistema também é inofensivo ao meio ambiente, às pessoas e animais que usam ou circulam pela


U.S. Army Corps of Engineers / Flickr

Fotos: Divulgação Aquamec

Instalação do EKO/GRID

área em tratamento. Idealmente, ele é instalado em áreas livres de interferências construtivas (bases ou colunas), as quais são desviadas ou perfuradas para a implantação da malha. Um estudo de instalação adequado é feito em cada caso”. A limitação da tecnologia está na descontaminação de solos ou água subterrânea abaixo de 10 m de profundidade ou locais com muitas interferências civis e que não permitam perfuração para instalação dos eletrodos. Entretanto, o baixo 57 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

VANTAGENS DO EKO/GRID: • Trata simultaneamente água e solo; • Eficaz em todos os hidrocarbonetos; • Apropriado para todos os ambientes; • Alta escalabilidade; • Possibilidade para tratar profundidades consideráveis; • Não utiliza aditivos químicos; • Não precisa substituir o solo ou utilizar solo adicional, por isso não há emissões de carbono por transporte de resíduos; • Consumo mínimo de energia elétrica, porque pode ser alimentado por energia solar ou eólica.


O sistema pode ser utilizado para remediação in situ de solos contaminados

Operação do sistema

consumo energético e a facilidade de operação são pontos fortes dessa tecnologia. “A receptividade do EKO/ GRID tem sido excelente e os clientes nacionais e internacionais que o utilizaram ficaram satisfeitos com os resultados alcançados e com a facilidade na operação”, conta Mucciolo. 58 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

UTILIZAÇÃO O EKO/GRID foi empregado em uma remediação de hidrocarbonetos alifáticos na Finlândia no ano de 2012. No local, a incidência principal era de solo arenoso. Havia também uma camada fina de turfa de 10 cm a 50 cm, encontrada na profundidade de um metro. A

água subterrânea atingia 2,5 m de profundidade. Os poluentes encontrados no local foram: frações de diesel C10-C21; uma pequena quantidade de frações mais longas C21-C40; teor de carbono total máximo (C10-C40) medido > 100.000 mg/kg e volume tratado de aproximadamente 15.000 m³. O resultado do tratamento foi interrompido quando 90% da área atingiu o nível alvo de 1.000 mg/kg. No Equador (2014), a solução foi empregada na remediação de solo contaminado por derramamento de petróleo. As condições do local eram severas, pois abrangiam uma área contaminada de aproximadamente 2.000 m² e a profundidade da contaminação atingia quatro metros. Foram encontradas frações de cadeia média de hidrocarbonetos alifáticos; teor de carbono total que variava entre 2.500 e 35.000 PPM (Partes por Milhão), dependendo do local. O volume tratado foi cerca de 6.000 m³. Atualmente, o local está em fase de monitoramento, mas grande parte da contaminação foi remedida em apenas 40 dias. O caso no Brasil, no ano de 2014, abrangeu a remediação de hidrocarbonetos aromáticos policíclicos. O local era um terminal de trem com estação de trabalho para vagões de carga. Os contaminantes foram acumulados ao longo de 30 anos de operação. A água subterrânea estava a 35 cm de profundidade e havia uma forte maré na área e alta salinidade. O nível do poluente benzo (a) pireno foi detectado inicialmente 252% acima do limite de intervenção. O resultado apresentou decréscimo de 95% dos poluentes presentes durante os primeiros 30 dias, no entanto, por precaução devido à maré, manteve-se o funcionamento do sistema de remediação por mais 30 dias. Mucciolo relata que para todos os casos esta solução foi a mais adequada, pois os locais estavam em pontos muito distantes de incineradores de solo. Além disso, dois exemplos apresentaram vegetação importante que foi preservada. Os volumes a serem tratados eram grandiosos e ainda havia contaminação da água subterrânea. Todas as condições foram determinantes para a implantação deste sistema que se mostrou econômico e efetivo.


59 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


GEOTECNIA AMBIENTAL

EROSÃO COSTEIRA É MUITO MAIS QUE UM PROBLEMA AMBIENTAL Questões de caráter social, como a ocupação desordenada e inadequada de orlas marítimas, também ocasionam o processo erosivo

É conhecido que as zonas costeiras costumam sofrer com erosão. No caso do Brasil, existem centenas de praias em que o processo é bastante severo, requerendo na maior parte das vezes medidas de recuperação ou contenção que ao mesmo tempo mantenha a integridade ecológica dos ecossistemas costeiros, reduza os conflitos de uso dos recursos naturais, mantenha a saúde do meio ambiente e facilite o progresso do desenvolvimento multissetorial, respeitando os valores humanos e os recursos naturais. Embora a erosão costeira seja um tema frequentemente abordado, principalmente nas instituições de pesquisa do País, as políticas de planejamento e ordenamento territorial, especialmente na esfera da gestão costeira, ainda são pouco incorporadas aos conhecimentos adquiridos. Os resultados são catastróficos, como o desperdício de recursos financeiros públicos com a implantação de obras inadequadas de engenharia costeira que aceleram ainda mais a erosão. As ações do poder público ainda “engatinham” ao lidar com problemas desta natureza e suas causas, que abrangem além dos fenômenos ambientais (elevação do nível do mar, mudanças climáticas e seus efeitos), problemas de caráter social, como a ocupação desordenada e inadequada de orlas marítimas. Ainda há muitos pontos que devem ser discutidos em relação à 60 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Arquivo Eduardo Siegle

Por Dellana Wolney

Ilha Comprida (SP)

gestão da zona costeira e a prevenção, redução e mitigação da erosão. São múltiplos os fatores que agravam o processo: elevação do nível do mar; diminuição da quantidade de sedimentos fornecidos ao litoral, que está na maior parte, direta ou indiretamente relacionada com as atividades humanas; degradação antropogênica das estruturas naturais que afetam o litoral já debilitado pela elevação do nível do mar e pela diminuição do abastecimento de sedimentos; e obras pesadas de engenha-

ria costeira, que só pelo fato de serem estruturas estáticas e rígidas a sua inserção impacta expressivamente um meio profundamente dinâmico.

PROCESSO O professor do Departamento de Oceanografia Física do Instituto Ocea­nográfico da USP (Universidade de São Paulo), Eduardo Siegle explica que os sedimentos que formam uma praia são constantemente retrabalhados por ondas. Ele diz que


IMPACTOS A zona costeira apresenta facilidades como clima ameno, uma fonte de alimentos, transporte e meio de escoamento de mercadorias, o que propiciou o estabelecimento de muitas cidades litorâneas. Atualmente, melhorias nas rodovias e abertura de novas estradas simplificaram o acesso às praias que eram antes isoladas, isso ocorreu principalmente na região Nordeste do Brasil. Ações como essa favoreceram a ocupação por casas de 61 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Arquivo Eduardo Siegle

de acordo com a literatura, ondas de tempestade têm a tendência destrutiva ao alcançar a costa, pelo seu maior alcance e maior energia. Isso faz com que um volume maior de sedimentos seja remobilizado e jogado no sistema costeiro. Esses sedimentos são transportados por correntes geradas por ondas que atuam paralela e transversalmente à praia, enquanto ondas de tempo bom apresentam caráter construtivo. Em geral, estas ondas depositam sedimentos na praia e a variação deles causada pelas ondas é chamada de balanço sedimentar. Esse pode ser considerado positivo quando uma praia recebe mais sedimentos do que perde para o sistema. Já o balanço sedimentar negativo é quando uma praia perde mais sedimentos do que ganha. Para esse processo de perda de sedimentos é dado o nome de erosão costeira. Siegle reforça que as atividades humanas intensificam os processos de erosão costeira e acrescenta que como causas naturais, também colaboram a intensificação de tempestades, a subsidência tectônica e as alterações nas bacias hidrográficas. “São causas antrópicas a subsidência do solo, a retirada de areia para atividades humanas, a construção de barragens e a ocupação irregular ou inadequada”. Ele explica que a erosão costeira é um fenômeno natural que sempre esteve e estará presente. Variações no clima de ondas resultam em fases erosivas ou deposicionais da praia. Por exemplo, ondas mais fortes nos meses de inverno resultam em praias com perfis erosivos e ondas menos energéticas associadas aos meses de verão permitem a deposição de sedimentos e recomposição da praia.

Praia Arpoador em Fortaleza (CE)

veraneio e o turismo. Nas décadas de 1970 e 1980 havia pouca ou nenhuma preocupação ambiental nesse sentido. Um dos principais impactos das mudanças climáticas é o nível do mar. Dados do IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change) apontam que até 2100, no melhor cenário, o nível do mar vai subir cerca de 0,20 m e, no pior cenário, cerca de 0,80 m. O derretimento das geleiras faz com que o nível do mar aumente, intensificando os processos erosivos na zona costeira. O litoral brasileiro apresenta extensão de 8.500 km, onde estão localizados 17 estados de acordo com o Ministério do Meio Ambiente. No relatório de Erosão e Progradação do Litoral Brasileiro publicado pelo MMA (Ministério do Meio Ambiente) em 1996, foram verificados processos de erosão em todos os estados. Entretanto, a erosão costeira no Brasil ocorre em focos e o problema desse processo é quando ele ocorre nas proximidades das áreas urbanas, como nos Estados de Pernambuco e Ceará. “A erosão costeira verificada atualmente no litoral brasileiro, traduz prejuízos financeiros de custo elevado para manutenção da infraestrutura urbana. O agravamento do processo causado pela elevação do nível do mar representa danos sem precedentes. Nesse sentido, ações de gestão e planeja-

mento urbano são urgentes para redução dos prejuízos”, comenta o geó­ grafo e especialista em Oceanografia Geológica, Paulo Henrique Gomes de Oliveira Sousa.

AGRAVANTE Algumas obras de engenharia costeira podem acelerar ainda mais a erosão. Por isso, o professor do Departamento de Oceanografia Física do Instituto Oceanográfico da USP, Eduardo Siegle afirma que cada obra tem sua funcionalidade e são construídas para conter o processo de erosão em determinado local. “O que ocorre é que as obras necessitam de estudos da dinâmica costeira para sua implantação, além de manutenção. Cada caso requer um estudo para escolher uma obra adequada em razão da intensidade da erosão, características da praia etc. Existem obras que funcionam e obras que podem, eventualmente, transferir o problema para praias próximas”, esclarece. Estruturas rígidas, como espigões e muros de contenção podem resultar na aceleração da erosão costeira, em função de sua interferência no balanço sedimentar costeiro. Muros paralelos à costa, em eventos de tempestade, acabam recebendo diretamente a ação de ondas em função da sobrelevação do nível do mar que pode estar


Soapbeard / Flickr

Para conter a erosão, foi realizada uma série de intervenções compostas por alimentação artificial de praias e implantação de espigões em toda a orla da cidade. O problema é que o processo de erosão foi transferido para as praias adjacentes e já alcançou o município de Caucaia, localizado no Leste de Fortaleza. A praias de Iparana e Icaraí estão sob processo severo de erosão costeira.

MEDIDAS

Exemplo de erosão costeira

associado às ressacas. Dessa forma, os sedimentos da praia adjacentes ficam saturados de água, e combinado com a turbulência gerada pelas ondas são retirados da praia. Esse processo resulta muitas vezes na exposição da base do muro, acarretando a sua queda e destruição. Quando espigões são construídos perpendicularmente à praia, resultam na interrupção do transporte de sedimentos, fazendo com que o material se deposite em um dos lados da obra. Localmente isso pode até resultar em progradação da linha de costa, no entanto, esse material que ali ficou retido 62 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

fará falta em praias adjacentes, resultando na erosão à jusante da corrente litorânea. Dessa forma, nos casos em que espigões são construídos, existe esse efeito dominó, resultando na construção de uma série de espigões ao longo de trechos do litoral. Como exemplo, o professor Eduardo Siegle cita a implantação do Porto de Mucuripe, em Fortaleza (CE), no final da década de 1930. A sua construção requereu obras para proteger a área portuária da ação das ondas. Isso, associado com a ocupação desordenada na orla da cidade, culminou num processo erosivo severo a oeste do porto.

Sousa comenta que a principal medida contra a erosão costeira é a gestão ambiental e planejamento ou ordenamento territorial adequado. Ele explica que o processo de ocupação se dá sem respeitar a dinâmica ambiental da zona costeira. O maior desafio é compatibilizar o crescimento urbano com a preservação dos recursos costeiros, isso engloba ecossistemas e feições, como os campos de dunas. Outras opções são obras de engenharia costeira. “Esta opção requer estudos minuciosos da dinâmica local para a sua implantação. Infelizmente, em muitos casos, essas obras, que deveriam ser a última opção de proteção costeira são implantadas em caráter de urgência, quando os processos erosivos já estão agravados. Muitas dessas obras alteram o balanço sedimentar costeiro, resultando em impactos severos para a região da obra e praias adjacentes”, destaca Sousa. Para ele, uma alternativa menos agressiva na proteção costeira é a realimentação da praia com sedimentos, buscando assim a sua recomposição e o seu efeito de proteção da linha de costa. As praias naturais são a melhor forma de proteção costeira e a sua manutenção depende da ocupação ordenada de áreas litorâneas. Por fim, Siegle cita que existem alguns mecanismos para o gerenciamento costeiro como as UCs (Unidades de Conservação), o PNGC (Plano Nacional de Gerenciamento Costeiro) e o Projeto Orla. Entretanto, ele ressalta que poucas ações são observadas pelo poder público, principalmente nas esferas estaduais e municipais, pois ainda faltam ações de prevenção e respeito à legislação ambiental, gestão e ordenamento territorial.


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LIVRO MICROCONCRETO DE ALTO DESEMPEÑO; LA TECNOLOGÍA DEL MICROCAD APLICADA EN LA CONSTRUCCIÓN DEL HÁBITAT SOCIAL Autores: Paulo Eduardo Fonseca de Campos, José Adolfo Peña, Maximino Bocalandro, Walter Kruk, Dante Agustín Pipa e Olga Río Organizadores: CYTED e CNPq Ano: 2016 Tecnologia de alta resistência mecânica e durabilidade, a argamassa armada ou MicroCAD (microconcreto), foi descoberta no século XIX pelo agricultor francês Joseph-Louis Lambot e desde então vem conquistando o interesse de profissionais da construção civil. Para tentar explicar mais sobre o material, o arquiteto e professor da FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo), Paulo Eduardo Fonseca de Campos, ao lado de mais cinco especialistas da Argentina, Venezuela, Cuba, Uruguai e Espanha, lançaram o livro “Microconcreto de Alto Desempeño; La tecnología del MicroCAD aplicada en la construcción del hábitat social“, durante a Jornada Internacional ABCIC 2016 – Estruturas Pré-Moldadas de Concreto, em setembro. O microCAD proporciona a produção de peças mais finas e leves, com mais facilidade na hora do transporte, além disso, tem uma espessura pequena, que varia de 20 mm a 30 mm, característica que possibilita mais economia de material e consequente diminuição nos custos de montagem e produção de uma estrutura pré-fabricada. Com 200 páginas, o livro está escrito em espanhol e conta com textos técnicos, tabelas, gráficos e diversas imagens de obras realizadas.

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AGENDA BRASIL 03 DE DEZEMBRO

CURSO EXECUÇÃO DE ESTRUTURAS DE AÇO

Online

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Destinado a profissionais que trabalham na concepção, na execução e na gerência de empreendimentos, além de engenheiros e arquitetos interessados em se aprofundar no processo de fabricação, de transporte e de montagem de estruturas de aço, o curso tem como proposta transmitir os conceitos essenciais relacionados às estruturas de aço, com destaque para atividades e cuidados em cada etapa.

8 DE DEZEMBRO

ENCONTRO DE DIRETORES E GESTORES DA CONSTRUÇÃO – TENDÊNCIAS DA ECONOMIA, PERSPECTIVAS DA CONSTRUÇÃO E PRÁTICAS DE GESTÃO

São Paulo, São Paulo http://migre.me/uFWd2

Voltado para gestores de incorporadoras, construtoras, arquitetos, projetistas, fornecedores de materiais, imobiliárias e demais profissionais relacionados com o setor, o evento tem como finalidade promover o debate sobre a economia e as perspectivas para o mercado imobiliário. Durante o encontro, serão compartilhados cases de sucesso em variados âmbitos, exibidos por líderes do segmento da construção civil.

3 DE ABRIL DE 2017

4º CBT E SEMINÁRIO INTERNACIONAL “LATIN AMERICAN TUNNELING – LAT 2017

São Paulo, São Paulo

http://4cbt.tuneis.com.br/index.php

Um dos mais esperados eventos do setor tuneleiro na América Latina, o evento acontece simultaneamente ao 9th International Symposium on Geothecnical Aspects of Underground Construction in Soft Ground. Durante o seminário, serão apresentados 17 temas voltados para os profissionais envolvidos com a área de estruturas subterrâneas, por meio de debates, troca de experiências, exibição de novas tecnologias, com tendências do setor de projeto, construção, manutenção e operação. Haverá ainda a realização de um curso de atualização e aprimoramento no segmento de túneis.

6 DE ABRIL DE 2017

9TH INTERNATIONAL SYMPOSIUM ON GEOTECHNICAL ASPECTS OF

UNDERGROUND CONSTRUCTION IN SOFT GROUND

São Paulo, São Paulo

is-saopaulo.com/welcome.php

Evento tradicional da área, sua próxima edição acontece no Brasil, país com necessidades e potencial de construção subterrânea. Especialistas do mundo inteiro se reunirão em São Paulo para apresentar e debater as contribuições e experiências na construção subterrânea em terreno macio (soft ground). A convenção ocorrerá simultaneamente ao Seminário Latino-Americano e ao 4º CBT, encontros que juntos já somaram mais de 600 especialistas locais e internacionais.

9 A 11 DE MAIO DE 2017 MUNDO GEO CONNECT

São Paulo, São Paulo

mundogeoconnect.com/2017/

Realizado anualmente pela empresa MundoGEO, grupo que atua no segmento geoespacial e de drones, o evento é considerado um dos maiores do setor. Em sua última edição, o encontro reuniu especialistas, empresários, pesquisadores de vários países da América Latina e demais continentes, com a presença de mais de 3.200 pessoas e 120 palestrantes.

tos em engenharia e de tecnologias geotécnicas. Ao longo dos quatro dias de evento haverá mais de 200 exposições, com cursos de curta duração, painéis de discussão, palestras de formação e trabalhos técnicos apresentados por especialistas do ramo.

21 E 22 DE MARÇO DE 2017

PILED FOUNDATIONS & GROUND IMPROVEMENT TECHNOLOGY FOR THE MODERN BUILDING AND INFRASTRUCTURE SECTOR

Melbourne, Austrália http://bit.ly/2bcy9qP

A conferência abrangerá estacas em fundações e obras de melhoramento do solo associado à evolução de construção e infraestrutura, além de incluir requisitos de retenção para porões. Os palestrantes compartilharão suas experiências, aspectos de concepção, construção e desempenho para trabalhar com estacas, além de abordar a melhoria do solo e técnicas para construção e obras de infraestrutura.

29 DE MARÇO A 01 DE ABRIL DE 2017 ISM 2017: MICROPILES RESISTING AND REMEDIATING THE EFFECTS OF MOTHER NATURE

Vancouver, Canadá

EXTERIOR 4 A 6 DE JANEIRO DE 2017

INTERNATIONAL PERSPECTIVE ON WATER RESOURCES AND THE ENVIRONMENT CONFERENCE

Wuhan, China

http://bit.ly/2b7gund

A conferência tem como objetivo apresentar uma variedade de tópicos relacionados à gestão de recursos hídricos ambientais e sustentáveis. Também haverá sessões técnicas sobre os países desenvolvidos e em desenvolvimento. Entre os temas que serão explorados nas palestras, destacam-se a modelagem e gestão dos pantanais; tratamento de águas residuais; problemas e soluções de abastecimento de água, entre outros.

http://bit.ly/2btGTdV

Organizado pela ISM (International Society for Micropiles), pela ADSC (International Association of Foundation Drilling) e pelo DFI (Deep Foundations Institute), o evento retorna à América do Norte. O workshop manterá o formato tradicional, com sessões sobre aspectos da tecnologia de microestacas. Haverá também uma competição internacional de microestacas, que selecionará o melhor projeto do gênero no mundo.

06 A 08 DE ABRIL DE 2017 STRUCTURES CONGRESS

Colorado, Estados Unidos www.structurescongress.org

geotechnicalfrontiers.com/

Direcionado para engenheiros estruturais e civis, proprietários de negócios, pesquisadores, professores, estudantes, o evento terá sessões técnicas que darão ao participante DPS (Horas de Desenvolvimento Profissional), com o propósito de atender às necessidades da comunidade de engenharia estrutural. Oferecerá ainda oportunidades de trocas de contatos e ao mesmo tempo estimulará o entendimento entre a academia e a prática de engenheiros.

Realizada a cada seis anos, a feira é o local onde a indústria se une para compartilhar os desenvolvimen-

15 A 19 DE JULHO DE 2017

12 A 15 DE MARÇO DE 2017 GEOTECHNICAL FRONTIERS

Orlando, Estados Unidos

GEOMEAST 2017

Sharm El- Sheik, Egito

16 A 18 DE MAIO DE 2017 XXXI SNGB – SEMINÁRIO NACIONAL DE GRANDES BARRAGENS

Belo Horizonte, Minas Gerais http://bit.ly/2dKYL5D

Durante três dias, a capital de Minas Gerais sediará um dos mais tradicionais encontros da área de barragens no Brasil. Entre os principais temas que serão apresentados aos participantes, destacam-se o bloco dos benefícios ambientais causados por barragens e reservatórios, que mostrará aspectos como a redução do uso de usinas termelétricas geradoras de gás efeito estufa, por exemplo. Também será colocada em pauta a avaliação econômica de barragens e empreendimentos hidráulicos, com estudos de caso, entre outros temas relacionados.

65 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

www.geomeast2017.org/En/

Organizado pelo SSIGE (Soil-Structure Interaction Group in Egypt) e apoiado por organizações profissionais internacionais da área de construção, o evento tem como objetivo compartilhar conhecimentos para solucionar os problemas que podem surgir em estradas, estruturas de pontes, calçadas, materiais, melhorias no solo, encostas, escavações, barragens, canais e túneis, explicando os tipos de tecnologias existentes. O evento irá apresentar os mais recentes desenvolvimentos e avanços na concepção, construção e inspeções de segurança das infraestruturas de transporte.



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