Revista Fundações Ed.75

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Revista FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS www.revistafundacoes.com.br Ano 7 – Nº 75 – Dezembro de 2016 Ano 7 Nº 75 R$ 27,00

Dezembro de 2016

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CROSSRAIL: METODOLOGIA BIM REDUZ TEMPO E RISCOS NO PROJETO DA NOVA LINHA FÉRREA DE LONDRES EDIÇÃO DO COBRAMSEG/SBMR 2016 EM BELO HORIZONTE REGISTRA SUCESSO DE PÚBLICO



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16/12/16 21:02

Ano 7 – No 75 –DEZEMBRO 2016

O FIM E O COMEÇO Ando a pé pelas ruas e vejo 2016 adormecendo no silêncio do bairro, na escola fechada, na praça vazia, na plaquinha que avisa a data de reabertura das lojas. Aos poucos, o cenário da agitação em meio ao trânsito caótico, filas de supermercado e árvores festeiras que teimam em passar a noite em claro vão ficando de fundo para o ano que vai chegando. 2016 já cochila, prestes a cair num sono profundo ao final de uma saga que termina de forma vitoriosa para alguns, para outros nem tanto. Para nós da editora terminamos esse ano com a felicidade de termos conseguido até aqui manter o nosso título em circulação. Em um ano que a crise econômica no Brasil foi uma vilã frequente, vivemos alguns meses diante da possibilidade de fechamento da nossa revista. Antes de escrever esse texto estava pensando sobre como gostamos de retrospectivas e o motivo para que elas sejam sempre atrativas nessa época do ano, e refleti que não é apenas um sentimento nostálgico ou vontade de retomar as coisas, mas sim que por meio dessas lembranças em forma de retrospectivas conseguimos visualizar tudo o que enfrentamos e entender que é possível permanecermos fortes para batalhar ainda mais. Desejo a todos nossos leitores, colaboradores e anunciantes que o ano que se inicia consiga trazer muita esperança, novos projetos e grandes conquistas. Gléssia Veras Editora-chefe FOTOS DO 5º E 6º PRÊMIO MILTON VARGAS

Disponibilizamos em nosso Flickr as fotos do 5º e 6º Prêmio Milton Vargas. Link: https://flic.kr/s/aHskQ6kmf6 Por meio desse link é possível visualizar as fotos e fazer o download de qualquer uma delas, inclusive em alta resolução. Essas fotos estão liberadas por parte da editora para uso em qualquer meio desde que respeitados os seguintes critérios: - Não realizar fotomontagem com nenhuma das imagens, distorcendo seu conteúdo original; - Ao utilizar as fotos citar os créditos “Créditos para uso da foto: Munir Ahmed / Editora Rudder (5º e 6º Prêmio Milton Vargas)” 1 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


2 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


SUMÁRIO

Ano 7 – Nº 75 – Dezembro de 2016

26 |

38 |

60 | 04 | O setor em números

34 | Espaço Aberto

06 | Jogo Rápido

38 | Empresas investem em

09 | Coluna do conselho

superar desafios

10 | Destaque – Edição do

40 | Tendências e desafios de

AGROCONCRETO para

54 | Artigo – Melhoria da parcela de atrito lateral em estacas moldadas in loco

58 | O que há de novo –

COBRAMSEG/SBMR 2016 em Belo Horizonte foi um sucesso

mercado integram cada vez mais a atividade administrativa

Novo equipamento da Empretec é utilizado para substituição de tubulação

16 | Notas

42 | Artigo – Análise de

60 | GEOTECNIA

18 | Perfil – Lázaro Valentin

deformações ocorridas em um maciço Classe V durante a construção de emboque em solo grampeado para túnel duplo – Estudo de Caso

Zuquette

24 | História 26 | REPORTAGEM – Metodologia BIM reduz tempo e riscos em megaprojeto

AMBIENTAL – Cartas de

suscetibilidade agora podem ser encontradas na internet

64 | Livro 65 | Agenda


O SETOR EM NÚMEROS

IGMI-C Índice Geral do Mercado Imobiliário – Comercial

Dando continuidade à sequência programada de divulgações, o IGMI-C (Índice Geral do Mercado Imobiliário – Comercial) está sendo atualizado com informações referentes ao terceiro trimestre de 2016. Neste período, o índice é calculado a partir de uma amostra composta por 528 imóveis.

RESULTADOS A série completa do IGMI-C está apresentada na tabela abaixo, expressa em termos dos números-índice para as três versões do indicador, com base 100 no primeiro trimestre de 2000.

A evolução das taxas de variação trimestrais para as três versões do índice pode ser visualizada no gráfico abaixo.

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Por Dafne Mazaia

nos valores dos imóveis, sendo alguns índices únicos desde a série iniciada em 2000. “Os resultados do IGMI-C do terceiro trimestre de 2016 mostram uma desaceleração da rentabilidade dos imóveis comerciais, como consequência da retração do nível de atividade econômica no Brasil. Em particular, merece destaque a variação negativa nos preços nominais dos imóveis pelo segundo trimestre consecutivo, sendo estes dois trimestres os únicos com variações negativas na série histórica iniciada no primeiro trimestre de 2000”, explica. Segundo o coordenador foi registrada uma piora em comparação com o mesmo período analisado em 2015. “No segmento dos imóveis comerciais, o IGMI-C no terceiro trimestre de 2016 mostra uma piora com relação ao mesmo período de 2015: enquanto a rentabilidade do setor em termos anuais foi de 11,96% no terceiro trimestre de 2015, no mesmo período de 2016 ela caiu para 8,79%”, revela.

Divulgação FGV (Fundação Getulio Vargas)

No terceiro trimestre de 2016, as taxas de retorno da renda, capital e total foram de, respectivamente, 2,07%, -0,18% e 1,90%, sobre o trimestre anterior. A taxa de retorno do capital apresentou o segundo trimestre seguido de queda, desta vez com magnitude maior com relação à do segundo trimestre de 2016 (período que havia marcado a primeira variação negativa da taxa de retorno do capital na série histórica iniciada em 2000). Mesmo com esta queda na taxa de retorno do capital no trimestre, a taxa de retorno da renda desacelerou com relação ao trimestre anterior. A taxa de retorno anualizada continuou a tendência de redução observada desde o último trimestre de 2013 representada no gráfico abaixo.

No terceiro trimestre de 2016, as taxas anualizadas de retorno da renda, capital e total foram de, respectivamente, 8,76%, 0,03% e 8,79%. A reversão da tendência de queda das taxas anualizadas de retorno do setor imobiliário comercial continua condicionada à retomada do crescimento do nível de atividade econômica nos próximos trimestres. De acordo com o coordenador do IPC (Índice de Preços do Consumidor) Brasil do FGV / IBRE (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), Paulo Piccheti, além da desaceleração da rentabilidade dos imóveis comerciais no terceiro trimestre, cabe destacar a variação 5 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Paulo Piccheti é coordenador do IPC Brasil da FGV / IBRE, além de professor da FGV – EESP (Escola de Economia de São Paulo). Possui doutorado em economia pela University of Illinois (Estados Unidos) e mestrado em economia pela FEA / USP (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo).


JOGO RÁPIDO

Fotos: Banco de Imagens / Free Images

ABMS PRODUZ CARTA ABERTA Entre os dias 19 e 22 de outubro foi realizado um dos maiores eventos da comunidade geotécnica do Brasil, o COBRAMSEG (Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica), em Belo Horizonte, Minas Gerais. Durante o congresso diversas atividades foram concretizadas, como a elaboração da Carta Aberta da ABMS (Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica), sobre o tema “Barragens de Disposição de Rejeitos”. O documento é uma manifestação da ABMS quanto a requisitos e procedimentos que têm como finalidade promover o aumento da segurança e a redução de riscos de barragens de rejeitos, com o objetivo de alertar tanto a comunidade técnica como a sociedade em geral, em relação às medidas importantes nessa área. Para o atual presidente da ABMS, André Assis, as recomendações apresentadas são medidas que podem evitar possíveis acidentes. “Os itens presentes da carta resumem o que a ABMS julga que toda a sociedade, junto com os órgãos de controle e as associações profissionais, deve refletir e eventualmente incorporar às suas práticas porque, na visão da ABMS, isso leva a uma engenharia de maior qualidade e de menor risco à população”, avisa. Para visualizar o documento, acesse: http://bit.ly/2fJacuv.

LEI DE INCENTIVO EM SANEAMENTO

Por Dafne Mazaia

Melhores edifícios altos Arranha-céus costumam encantar por sua imponência e altura, visível em diversas cidades, como Nova York, Dubai, Canadá, entre outros. Com a proposta de reconhecer as características dessas construções foi criado em 2000 o Emporis Award Skyscraper, prêmio que elege anualmente o edifício melhor construído do planeta, acima da altura de 100 metros. A eleição mais recente premiou o complexo de edifícios Wanjing SOHO, erigido na cidade de Pequim, na China, projeto desenvolvido pela arquiteta Zaha Hadid, que faleceu em março de 2016. O complexo possui torres que medem 118, 127 e 200 metros. Na segunda colocação, ficou o Bosco Verticale, construído em Milão, na Itália, pelo escritório Boeri Studio. A fachada e as varandas são cobertas por aproximadamente 700 árvores e 90 espécies de plantas, que atenuam o ruído e controlam a temperatura. Devido a essas combinações, o empreendimento é visto como um marco na construção sustentável. O terceiro lugar do prêmio ficou com o prédio Tour D2, de Courbevoie, na França, do escritório Agence d’ Architeture Anthony Béchu. Com um design que lembra um diamante, o edifício também brilha como uma joia em dias bem iluminados. Tem 171 metros e sua cúpula corporativa possui um jardim com 500 m² aberto ao público.

A lei 13.329 que cria o REISB (Regime Especial de Incentivos para o Desenvolvimento do Saneamento Básico) foi sancionada pelo presidente Michel Temer, em agosto. O deputado João Paulo Papa (PSDB) foi o relator do projeto na Câmara dos Deputados. A lei tem como objetivo propiciar que empresas prestadoras de serviços públicos de saneamento ampliem seus investimentos no setor e possam receber concessão de créditos para pagamento de tributos federais. O Regime Especial entrará em vigor em 2018 e se estenderá até 2026. Ao longo dos anos de vigência da lei as empresas devem aumentar os investimentos em projetos que foquem o alcance das metas de universalização do abastecimento de água, assim como de coleta e tratamento de esgoto. Os empresários precisarão preservar ainda áreas de mananciais, além de fomentar o uso de inovações tecnológicas nos sistemas de abastecimento. Apenas o item que definia o mecanismo da concessão dos créditos perante a COFINS (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social) e ao PIS / PASEP (Programas de Integração Social e de Formação do Patrimônio do Servidor Público) foi vetado pelo Executivo. As empresas interessadas em aderir ao REISB precisam estar em regularidade fiscal em relação aos impostos geridos pela Secretaria da Receita Federal do Brasil. 6 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


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www.revistafundacoes.com.br Rua Leopoldo Machado, 236 Vila Laís CEP: 03611-020 São Paulo - SP Telefone: (11) 2641-0871 / (11) 95996-6391*

*Telefone celular com atendimento também por WhatsApp: das 10h às 18h

CONSELHO EDITORIAL São Paulo • Paulo José Rocha de Albuquerque • Roberto Kochen • Álvaro Rodrigues dos Santos • George Teles • Paulo César Lodi José Orlando Avesani Neto • Eraldo L. Pastore • Sussumu Niyama • Fernando Henrique Martins Portelinha Minas Gerais • Sérgio C. Paraíso • Ivan Libanio Vianna Pernambuco • Stela Fucale Sukar Bahia • Moacyr Schwab de Souza Menezes • Luis Edmundo Prado de Campos Rio de Janeiro • Bernadete Ragoni Danziger • Paulo Henrique Vieira Dias • Mauricio Ehrlich • Alberto Sayão • Marcio Fernandes Leão Distrito Federal • Gregório Luís Silva Araújo • Renato Pinto da Cunha • Carlos Medeiros Silva • Ennio Marques Palmeira Rio Grande do Sul • Miguel Augusto Zydan Sória • Marcos Strauss Rio Grande do Norte • Osvaldo de Freitas Neto Espírito Santo • Uberescilas Fernandes Polido

www.revistafundacoes.com.br Fundador e idealizador Francisjones Marino Lemes (in memoriam) Coordenação editorial e marketing Jenniffer Lemes (jenni@revistafundacoes.com.br) Colaboradores Gléssia Veras (Edição); Dellana Wolney, Dafne Mazaia (Texto); Rosemary Costa (Revisão); Elisa Gomes (Arte); Melchiades Ramalho (Artes Especiais) Contatos Pautas: glessia@revistafundacoes.com.br Assinaturas: assinatura@revistafundacoes.com.br Publicidade: publicidade@revistafundacoes.com.br Financeiro: financeiro@revistafundacoes.com.br Foto de capa ©Crossrail Ltd / Flickr Impressão Gráfica CompanyGraf Importante A Revista Fundações & Obras Geotécnicasé uma publicação técnica mensal, distribuída em todo o território nacional e direcionada a profissionais da engenharia civil. Todos os direitos reservados à Editora Rudder. Nenhuma parte de seu conteúdo pode ser reproduzida por qualquer meio sem a devida autorização, por escrito, dos editores A revista Fundações & Obras Geotécnicas segue o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Esta publicação é avaliada pela QUALIS, conjunto de procedimentos utilizados pela CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e encontra-se atualmente com classificação B4.

IMPORTANTE: as seções “Coluna do Conselho” e “Artigo” são seções autorais, ou seja, tem o conteúdo (de texto e fotos) produzido pelos autores, que ao publicarem na revista assumem a responsabilidade sobre a veracidade do que for exposto e o devido crédito as fontes utilizadas.

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COLUNA DO CONSELHO

INFRAESTRUTURA – O CAMINHO PARA UM BRASIL MELHOR

Infraestrutura de um país compreende as estruturas físicas e organizacionais para sua atuação econômica e a sustentabilidade de suas ações econômicas e sociais. Inclui, entre outros, sistemas de transporte, saneamento, energia, logística e instituições públicas (escolas, hospitais, prisões etc.). Detalhando-se um pouco mais, a infraestrutura de rodovias é o meio predominante de transporte no Brasil para cargas e pessoas. Embora amplo, o sistema é insuficiente para nossa extensão territorial e estima-se que 1,2 bilhões de pessoas passem pelas rodovias brasileiras a cada ano. As ferrovias começaram a ser implantadas no Brasil em 1808, e em 1957 foram nacionalizadas e agrupadas na Rede Ferroviária Nacional. Dentre 1999 e 2007 foram privatizadas novamente. Da mesma forma que para rodovias, o sistema ferroviário no Brasil é insuficiente para sua extensão territorial. A energia baseia-se predominantemente em hidrelétricas, com pequenas participações de usinas térmicas movidas a diesel, carvão e nuclear, e pequenas participações crescentes de geração solar e eólica. Saneamento é um caso à parte, em que pese sua reconhecida eficiência em reduzir custos de saúde pública com doenças de veiculação hídrica. Historicamente o investimento neste setor é totalmente insuficiente para se atingir metas adequadas de abastecimento de água e coleta/tratamento de esgotos. Apenas no Estado de São Paulo estas metas estão dentro de faixas aceitáveis, e coincidentemente é o estado em que estão implantadas ou em implantação as primeiras PPPs (Parcerias Público Privadas) de Saneamento. A importância da infraestrutura está bem consolidada atualmente, sendo considerada fundamental para o crescimento e desenvolvimento econômico. A sua expansão em cada país traz benefícios a curto, médio e longo prazo, como tem sido comprovado em diversos países em que, após implantação de infraestrutura mais abrangente, tiveram seus custos de logística (entre outros) reduzidos, acelerando seu desenvolvimento econômico. No Brasil essa demanda é reconhecidamente insuficiente, e o mais preocupante é que o investimento necessário para sua expansão e

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Arquivo pessoal

ROBERTO KOCHEN

manutenção tem se reduzido com o tempo. Por exemplo, em transportes, foram investidos cerca de 8,3 bilhões de reais ao ano entre 2003 e 2009, e 5,2 bilhões de reais ao ano entre 2010 e 2015. Sendo que a necessidade de investimento em infraestrutura de transporte por aqui é estimada em aproximadamente 22 bilhões de reais ao ano até 2031. Dessa forma, estamos muito aquém do que seria ideal para expandir, consolidar e manter nossa base de transportes. O recente Plano Crescer, do governo Michel Temer, prevê investimentos estimados de 36,6 bilhões de reais em vários anos, sendo quatro aeroportos, três ferrovias, dois terminais portuários e duas rodovias. Estes investimentos seriam realizados ao longo de vários anos, e, portanto, situariam-se abaixo da meta ideal para nosso país. Será necessário, sem dúvida, recorrer ao capital privado (por meio de concessões e PPPs) para aumentar o nível de investimentos em infraestrutura. No programa atual de concessões de rodovias abrange-se cerca de 19.000 km de rodovias federais e estaduais, com 59 concessionárias em 12 estados, que administram apenas 9% da malha rodoviária nacional pavimentada. Este

programa pode ser ampliado com vantagens para o governo – que coletaria as outorgas, reforçando seu orçamento – e para a sociedade, que se beneficiaria de rodovias melhor mantidas e administradas. Este é o caminho mais adequado a seguir, principalmente considerando-se que entre 2001 e 2015 houve redução de 1,6% na malha rodoviária nacional. As concessionárias de rodovias investiram 8,8 bilhões de reais ao ano entre 2010 e 2015 (sendo 45% deste valor no Estado de São Paulo), sem esse investimento, a situação da malha rodoviária nacional seria ainda pior. Para efeito de comparação com alguns “vizinhos” como Colômbia e Chile, que investem mais de 6% do PIB (Produto Interno Bruto) ao ano em infraestrutura. O Brasil necessita investir pelo menos 3% do PIB ao ano, e está muito abaixo disto, prejudicando sua competitividade. Investimentos em infraestrutura predominam na formação do capital de um país, e tem efeito multiplicador na sua economia. No Brasil esses investimentos em infraestrutura terão de ser viabilizados por meio do capital privado, em razão do crônico déficit fiscal de nossos governos. Todo investimento em infraestrutura começa com a geotecnia, com sondagens, estudos geológicos-geotécnicos, definições de movimentos de terra, contenções, fundações e escavações, dentre outros. E estes itens são os de maior impacto nos custos e cronogramas de qualquer empreendimento, devendo ser tratados com a seriedade e detalhe que empreendimentos deste tipo requerem. Em suma, investimento em infraestrutura é pré-requisito para desenvolvimento econômico, melhoria logística e redução do “Custo Brasil”. O País merece um destino melhor e o caminho para isso passa pela infraestrutura.

Roberto Kochen é engenheiro civil doutor e professor (aposentado) da Poli-USP (Escola Politecnica da Universidade de São Paulo), diretor-técnico e presidente da GeoCompany, empresa brasileira de consultoria e projetos com atuação internacional.


DESTAQUE

EDIÇÃO DO COBRAMSEG/SBMR 2016 EM BELO HORIZONTE FOI UM SUCESSO No total foram 1.312 participantes, 1.200 resumos submetidos, 800 trabalhos aprovados e 500 expositores

O principal evento brasileiro voltado às áreas de fundações, geotecnia, mecânica dos solos, mecânica das rochas e obras de infraestrutura chegou a sua 18ª edição neste ano. Nos dias 19 a 22 de outubro a cidade de Belo Horizonte (MG) sediou simultaneamente o 7º SBMR (Simpósio Brasileiro de Mecânica das Rochas) e o 18ª COBRAMSEG (Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica). Esta edição teve como tema central “O Futuro Sustentável do Brasil Passa por Minas”. O objetivo proposto pela Comissão Organizadora composta pelos engenheiros Cássia Maria Dinelli de Azevedo, Fernando Portugal Maia Saliba, Gustavo Rocha Vianna, Ivan Libanio Vianna (Relações Institucionais) e José Mário Queiroga Mafra foi discutir e propor soluções inovadoras, inclusive na prática da geotecnia de mineração, principalmente para o estado de Minas Gerais. Tanto o congresso, quanto o simpósio reuniram grandes nomes da geotecnia nacional e internacional, dentre eles os engenheiros André Assis (presidente da ABMS – Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica), John Atkinson (City University, Londres), Krishna Reddy (University of Illinois at Chicago), Luis Valenzuela (ex-presidente da SOCHIGE – Sociedade Chilena de Geotecnia), Nelson Aoki, Patricio Gómez (gerente-geral da empresa Itasca S.A, Chile), Roger Frank (presidente da ISSMGE – Sociedade Internacional de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica) e Scott Olson (University of Illinois). O COBRAMSEG e o SBMR 2016 foram realizados pela ABMS e pelo CBMR-ABMS (Comitê Brasileiro de Mecânica das Rochas) em parceria com a ISSMGE, por meio do seu TC306 (Technical Committee on Geo-Engineering Education), e a International Society for Rock Mechanics. Cerca de 40 empresas patrocinaram o evento, dentre elas a Deflor Bioengenharia, Geobrugg, Geosoluções, Huesker, Incotep, Mac10 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Fotos: Divulgação COBRAMSEG/SBMR

Por Dellana Wolney

Cerimônia de abertura do COBRAMSEG/SBMR 2016

caferri, Sistema Dywidag, Arcos, Bauer, CZM, Fugro In Situ, Liebherr, Mexichem/Bidim, 3Geo, Caixa, CGL Fundações, Gerdau e TDM Brasil.


Participantes dos minicursos

1

2

3

4

5

1 O professor da UnB e presidente da ABMS, André Assis • 2 O engenheiro da empresa Golder, Roy Lopes • 3 O engenheiro civil e professor de engenharia civil associado da PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), Alberto Sayão • 4 O engenheiro e professor da COPPE-UFRJ (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro), Marcio de Souza Almeida • 5 O ex-presidente da SOCHIGE (Sociedad Chilena de Geotecnia), Luis Valenzuela

HISTÓRIA O ano de 2016 comemorou 62 anos de COBRAMSEG. Neste longo trajeto, muitas coisas passaram por mudanças no Brasil, embora desde 1966 a geotecnia já mostrasse claros sinais de sua importância no cenário mundial. Continuamente, a ABMS vem reafirmando a sua posição de destaque no cenário, promovendo o intercâmbio de conhecimentos por meio de eventos como estes e muitas outras ações. Para esta edição do COBRAMSEG, o Núcleo de Minas Gerais da ABMS resgatou uma tradição histórica. “Ao percorrermos os primórdios da exploração mineral que batizou nosso estado, voltamos nosso olhar para a realização de um congresso com grande foco em discussões e soluções inovadoras para o desenvolvimento de um futuro sustentável, buscando a continuidade e aperfeiçoamento da prática da geotecnia de mineração, primordial para o contínuo crescimento de nosso País”, conforme a carta de boas vindas da Comissão Organizadora. Para o presidente da Comissão Organizadora do COBRAMSEG 2016, Gustavo Simões o evento passou por uma série de melhorias e desafios. “O COBRAMSEG é o encontro técnico-científico mais importante da engenharia geotécnica 11 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

no Brasil e até mesmo da América Latina atualmente. Isto é uma árdua conquista de 66 anos de ABMS e de muitas edições deste congresso, que inicialmente ocorria a cada quatro anos e a partir e 2006 passou a ser bianual, exatamente para dar vazão às expectativas da comunidade geotécnica brasileira”, explica. Ele diz que nos últimos anos o congresso cresceu a cada edição e nesta última edição juntou cerca de 1.800 participantes, somando os delegados e os expositores. “Trata-se de um ponto de encontro para a nossa comunidade geotécnica, que vê o evento como referência técnica e como oportunidade de networking. Já o SBMR tem uma história mais recente, mas sem dúvida vem se consolidando e hoje é um importante parceiro e responsável pelo sucesso dos eventos simultâneos. O simpósio melhorou os esforços e aumentou a sinergia destes profissionais da área de solos e de rochas”, acrescenta Simões.

PROGRAMAÇÃO Além do COBRAMSEG e do SBMR, também foram realizados paralelamente o GEOJOVEM (VII Simpósio Brasileiro e V Conferência Sul-Americana de Engenheiros Geotécnicos Jovens)


Alguns dos participantes, palestrantes, membros da comissão organizadora e expositores do COBRAMSEG/SBMR 2016

Jantar de confraternização

e o SFGE (Shaping the Future of Geotechnical Education) 2016. Dez minicursos, seis palestras plenárias, nove palestras, um workshop, uma mesa-redonda, 42 sessões paralelas com apresentação oral de trabalhos, nove sessões com apresentação de trabalhos na forma de pôster e dois fóruns de discussão também compuseram a programação dos eventos. Tradicionalmente, os minicursos do COBRAMSEG acontecem um dia antes do início do congresso. Nesta edição foram abordados temas como métodos numéricos aplicados à geotecnia, fundações em estacas metálicas, ensaios de campo (CPT – Cone Penetration Test e CPTu – Piezocone Penetration Test), análise de liquefação em barragens de rejeitos e bioengenharia de solos, abrangendo estabilização de taludes/encostas e proteção superficial de solos. A abertura do COBRAMSEG e do SBMR foi feita com a palestra “Tailings Dams and Hydraulic Fills”, proferida pelo engenheiro Luis Valenzuela. Na ocasião foi abordado um assunto de extrema importância: as barragens de rejeitos. Em entrevista a ABMS, Valenzuela enfatizou que o tema das barragens de rejeitos está em alta não só no Brasil, mas na maioria dos países nos quais a mineração é uma atividade importante. Baseado em suas experiências, ele destacou aspectos que permitem operar barragens de rejeito de uma forma mais segura. 12 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Para Valenzuela, a engenharia brasileira é conhecida e respeitada internacionalmente por sua competência, especialmente na área de geotecnia e barragens. “Lamentavelmente, nos últimos anos ocorreram diversas falhas ou rupturas de barragens em hidrelétricas e na mineração, como é o caso de Fundão, o que tem levado à elaboração de regulamentação especial sobre a segurança de barragens em geral. Após o caso da Barragem de Fundão, provavelmente haverá uma regulamentação mais específica do projeto e operação de depósitos de rejeitos”, argumenta. A Conferência Pacheco Silva, uma das ocasiões mais esperadas, nesta edição foi ministrada pelo engenheiro Nelson Aoki que falou sobre “O Paradigma do Fator de Segurança”. Em seguida aconteceram as palestras plenárias: “Recent Developments in Numerical Modeling of Cavings”, proferida pelo engenheiro Patricio Gomez; “Mecânica das Rochas em Engenharia Civil”, pelo professor da UnB (Universidade de Brasília) e presidente da ABMS, André Assis e “Recent Advances in Evaluating Liquefaction of Tailings Dams”, proferida pelo engenheiro Scott Olson. O Fórum Nacional de Interações Estruturais e o Fórum de Barragens de Rejeitos de Mineração notavelmente foi um dos pontos fortes do evento, pois reuniu diversos especialistas nacionais e internacionais para a discussão de temas relevantes e atuais. De acordo com o idealizador do Fórum de Barragens de Rejeitos de Mineração, Fernando Saliba em entrevista a ABMS, a ideia da reunião foi aproveitar a oportunidade de discutir com especialistas este tema que é bastante específico e complexo. Ele diz que a inciativa surgiu após os eventos ocorridos na cidade de Mariana (MG), que tornou não só para a comunidade técnica, mas também para o público em geral, um assunto de extrema importância. Na ocasião foram discutidos os mecanismos de liquefação e as possibilidades de disposição de rejeitos com tecnologias novas e convencionais utilizadas no Brasil e em outros países. No final do fórum, o engenheiro Rafael Jabour, que fez parte da comissão de revisão da norma brasileira de barragens de rejeitos, apresentou as modificações da norma após o acidente de Mariana. Já o Fórum Nacional de Interações Estruturais, organizado


RockBowl

Apresentação de trabalhos na forma de pôster

pela ABMS em parceria com a ABECE (Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural) foi promovido com a finalidade de ampliar e aprofundar a discussão sobre as interfaces envolvendo as áreas de infraestrutura, mesoestrutura e superestrutura. Na oportunidade foram discutidas questões comuns do trabalho de cada área.

desta peculiaridade, criou-se muita expectativa em torno deste evento. A palestra foi muito elogiada por grande parte dos participantes. Além disso, a ocasião gerou discussões muito interessantes e, pela primeira vez, houve a participação de estudantes do GEOJOVEM nos debates, que antes eram abertos apenas para professores. Também pela primeira vez na ABMS, uma das palestras foi proferida à distância por um professor da TU Delft (Delft University of Technology), Holanda, seguida de perguntas da audiência e respostas do professor Pieter de Vries.

JUVENTUDE EM FOCO Antes o SBMR era quadrienal, mas em Belo Horizonte surgiu a oportunidade de mudar e testar a periodicidade bienal do simpósio. Sem dúvida, a iniciativa foi um sucesso. O número de participantes e de artigos foi maior do que na edição passada que aconteceu em 2014, na cidade de Goiânia (GO). Para a comissão o mais importante foi ver a indústria de mineração presente, visto que é uma atividade que utiliza muito a Mecânica das Rochas, entretanto o segmento estava um pouco afastado do Comitê Brasileiro de Mecânica das Rochas nos últimos tempos e esta aproximação foi uma das grandes conquistas desta edição do evento. Durante três dias, muitos jovens engenheiros e estudantes passaram por Belo Horizonte. Esta edição do GEOJOVEM, que também aconteceu paralelamente ao SBMR, provou mais uma vez a grande participação dos novos engenheiros geotécnicos em atividades do segmento. Foram quase 150 trabalhos inscritos. Houve ainda mais uma edição do RockBowl, o jogo de perguntas e respostas sobre Mecânica das Rochas idealizado pelo CBMR. Ao todo, oito equipes participaram, representando sete universidades brasileiras: FURG (Universidade Federal do Rio Grande), UnB (Universidade de Brasília), UENF (Universidade Estadual do Norte Fluminense), UFOP (Universidade Federal de Ouro Preto), PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), UFSM (Universidade Federal de Santa Maria) e UFPR (Universidade Federal do Paraná). Ainda tendo os jovens como foco, o SFGE, evento que reúne acadêmicos de diversos países para debater a educação em engenharia geotécnica, teve um grande momento: a primeira John Burland Lecture, criada pelo TC306 da ISSMGE em homenagem ao engenheiro e professor inglês. O escolhido para ministrar a palestra foi John Atkinson. Por conta 13 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

SUPERAÇÃO O ano de 2016 foi claramente um período difícil para a construção civil e todas as suas esferas, porém os eventos, mesmo com tantas dificuldades ainda estão mantendo o seu público. Por este e outros motivos, Simões explica que a situação forçou uma organização espartana, sem absolutamente nenhum excesso, mas flexível o suficiente para absorver o tamanho do evento da forma que ele viesse a ocorrer. Mesmo preparado, o evento foi maior do que esperava, confirmando o crescimento das edições anteriores e a proposição de ser de fato o ponto de encontro da comunidade geotécnica brasileira. “Todos os eventos paralelos contaram com a participação de mais de 1.300 delegados e participantes e 500 expositores, representando as 50 empresas patrocinadoras e expositoras, o que é considerável, frente à realidade nacional. Destaca-se o fato de que todos os estados brasileiros foram representados, além de mais 15 países. Do total de inscritos, aproximadamente 60% eram profissionais e 40% estudantes, a maioria de mestrado e doutorado”, revela Gustavo Simões. Ele acrescenta que estes números reforçam a tese de que em período de crise é quando há maior necessidade de exposição, tanto dos fornecedores, como dos consumidores, que no caso são os geotécnicos. Os congressos são uma ótima oportunidade de reciclagem e de contatos, o que justifica a significativa presença dos profissionais no evento. “Após o sucesso do COBRAMSEG 2014, realizar outro evento já seria um desafio. Para agravar, a realidade econômica nes-


Participantes por categoria

tes últimos dois anos mostrou-se cruel com a engenharia, não poupando nenhum dos setores afins, portanto o maior obstáculo na organização foi acreditar que seria possível realizar um congresso com expectativas pessimistas, sob os aspectos financeiros e de participação da comunidade geotécnica”, conta Simões. Embora as perspectivas iniciais fossem pessimistas, as excelentes respostas da comunidade científica, refletida no número e qualidade dos trabalhos técnicos submetidos e da parti-

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cipação em todas as atividades dos eventos e da comunidade empresarial teve como resultado, um significativo número de empresas patrocinadoras/expositoras, que viabilizaram a realização dos eventos. Neste contexto de constantes “surpresas” nos cenários, o grande desafio foi adaptar de forma permanente a dimensão e o planejamento dos eventos. O papel institucional e midiático também impulsionou muito os resultados positivos. Há uma década a ABMS decidiu apostar em uma assessoria de imprensa em prol de uma maior interação da associação com a sociedade, mostrando a importância da engenharia geotécnica e esclarecendo as possíveis soluções para suas eventuais demandas e problemas. A ABMS também tem sido bastante ativa em atuar junto a desastres naturais e urbanos. Esta visão da atuação proativa da associação tem atraído a mídia que quer saber como a associação e seus agregados podem contribuir para as demandas da sociedade e como resolver os problemas geotécnicos da própria comunidade técnica e do País. A junção de todos estes fatores atraiu os olhares da sociedade e da mídia, fazendo do COBRAMSEG/SBMR 2016 um grande evento geotécnico.

Confira na ED.77 (fevereiro) uma matéria exclusiva sobre o RockBowl.


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NOTAS

Nova diretoria da ABMS é eleita

Banco de Imagens / Free Images

Alessander Kormann é o novo presidente da associação e iniciará a nova gestão em janeiro de 2017

Durante o COBRAMSEG (Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica) deste ano, que ocorreu entre 19 e 22 de outubro em Belo Horizonte, Minas Gerais, a ABMS (Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica) elegeu seu novo presidente, o engenheiro civil Alessander Kormann. Além dele, uma nova diretoria foi escolhida, composta pelo vice-presidente Alexandre Gusmão, pelo secretário-geral Maurício Sales, pelo secretário-executivo Paulo Maia e pelo tesoureiro Celso Corrêa. A nova gestão permanecerá até 2018 e iniciará suas atividades em janeiro de 2017. Atualmente na posição de secretário-geral, Kormann iniciou sua trajetória na associação em 1996 no núcleo-regional Paraná-Santa Catarina, como secretário e depois como presidente local. Em sua gestão, Kormann pretende atualizar o estatuto, o regimento e os regulamentos da associação, assim como harmonizar a administração central e manter ações que são bem-sucedidas, como grupos técnicos, cursos, entre outros. “Há ainda um desafio financeiro a ser contornado – o de trazer equilíbrio às contas da administração central. E manter pilares importantes da atual gestão, como 16 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

a biblioteca virtual, os cursos de curta duração e o fortalecimento de núcleos regionais, comissões técnicas, comitês e da nossa representação internacional. Tudo para estimular a atração e retenção de associados, com ênfase nos jovens geotécnicos”, pontua. Kormann informa que serão mantidas todas as ações em curso. Ele pensa em alternativas para aprimorar ainda mais a organização nessas áreas. “Um dos pontos fortes da ABMS é a promoção de eventos que tradicionalmente são um sucesso técnico e de público. A organização desses eventos, que se dá por meio de diferentes grupos, ocorre de forma independente. Por exemplo, esforços são duplicados na criação de websites e sistemas de controle do fluxo de artigos técnico-científicos. Por que não racionalizar isso tudo, evitando reinventarmos sempre as mesmas rodas? Ou seja, seguir aperfeiçoando a gestão da associação com a consolidação das melhores práticas”, esclarece. A busca pela produção de documentos técnicos, um maior apoio da ABMS na elaboração de normas técnicas e a crescente profissionalização das revistas internacionais são exemplos em curso dessa questão. O novo presidente relata ainda que o momento atual da economia pode ser um entrave em sua gestão. “A principal dificuldade é o momento atual da economia. Apesar do nosso otimismo de acreditarmos que haverá uma melhora, pode levar um tempo ainda para algo efetivo acontecer no País. E esse tempo pode ultrapassar a duração da nossa gestão”, diz. O novo mandato começará formalmente em 1º de janeiro de 2017. Antes das atividades começarem, Kormann e a nova diretoria se reunirão, em meados de dezembro, para que possam realizar uma transição adequada entre a atual gestão e a eleita, além de estabelecer um planejamento para os próximos dois anos de trabalho na ABMS.


Por Dafne Mazaia

Seminário discute aspectos legislativos e financeiros do setor portuário

Banco de Imagens / Morguefile

Evento ocorreu em novembro no Instituto de Engenharia em São Paulo e reuniu autoridades do setor público e privado Entre os palestrantes, foram convidados o presidente da ABTP (Associação Brasileira dos Terminais Portuários), Wilen Manteli, que discutiu o quadro atual dos portos brasileiros, a sócia-diretora da empresa Queiroz Maluf Sociedade de Advogados, Letícia Queiroz de Andrade, responsável por abordar o painel dos desafios jurídicos para os investidores. Após as duas primeiras palestras foi a vez do diretor de regulação e sustentabilidade da empresa Prumo Logística, Eduardo Xavier, que tratou de terminais privados na Nova Lei dos Portos. O secretário-executivo adjunto do Programa de Parcerias de Investimentos, Adalberto Vasconcelos falou sobre o PPI (Programa No ano de seu centenário, o IE (Instituto de Engenharia) promoveu diversos eventos técnicos para contribuir com os profissionais ligados à área no Brasil. Em novembro, o órgão realizou o seminário “Caminhos da Engenharia Brasileira – Capítulo XI – Atividade Portuária, por que investir?”, que ocorreu na cidade de São Paulo. Com uma estimativa de aproximadamente 150 participantes, o evento tinha como objetivo estimular a discussão entre as autoridades portuárias e a iniciativa privada sobre assuntos como a missão da ANTAQ (Agência Nacional de Transportes Aquaviários), legislação portuária, segurança jurídica para empreendedores, marcos regulatórios e perimetrais. De acordo com o engenheiro da divisão de Logística do IE e um dos organizadores do evento, José Wagner Leite Ferreira, o seminário também tem como função aproximar os setores público com o privado. “O evento é importante por incentivar a aproximação da iniciativa privada com as autoridades portuárias, visando esclarecer marcos regulatórios, lei dos portos, insegurança jurídica etc.”, afirma. Ele ainda reitera que o instituto criou expectativas com o seminário, devido à aproximação dos setores. “Tivemos a oportunidade única de reunir o público e o privado interessado em investir na atividade portuária”, revela. 17 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

de Parcerias de Investimentos). O diretor-geral da ANTAQ, Adalberto Tokarski esclareceu alguns aspectos dos portos como o rearranjo institucional e as perspectivas. O bloco sobre o terminal portuário de São Luís, no Maranhão, foi apresentado pelo CEO (Chief Executive Officer) da empresa WTorre S.A, Paulo Remy Gillet Neto. O presidente da CODESP (Companhia Docas do Estado de São Paulo), José Alex Botêlho de Oliva esclareceu pontos do Porto de Santos (SP), seus desafios e o que acontece no local. Para encerrar o dia, o diretor da ANTAQ, Mário Povia, dissertou sobre os marcos regulatórios do setor e o economista especialista em finanças e consultor portuário, Fabrizio Pierdomenico, finalizou o seminário com um alinhamento de propostas. Além de José Wagner Leite Ferreira, o evento foi coordenado pela vice-presidente de Atividades Técnicas, Mariana Pereira Marques e pelo engenheiro do departamento de Engenharia e Mobilidade Logística, Ivan Metran Whately. A ANTAQ, o CREA-SP (Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura de São Paulo), a ABTTC (Associação Brasileira dos Terminais Retroportuários e das Transportadoras de Contêineres), entre outras associações, apoiaram o seminário.


PERFIL – LÁZARO VALENTIN ZUQUETTE

O CAMINHO DE ROCHAS À GEOLOGIA E GEOTECNIA Geólogo e professor Lázaro Valentin Zuquette transmite seus conhecimentos há mais de 30 anos

Fotos: Acervo pessoal

Por Dafne Mazaia

opção tão usual, porém para o futuro geólogo foi quase natural. Durante seu período escolar, era cercado por livros de disciplinas de geografia e ciências, que tinham um conteúdo relacionado com geologia. A decisão veio em seu último ano do ginasial e já determinado com sua escolha, foi concluir o segundo grau de turno integral (científico e técnico agrícola) na cidade de Vera Cruz (São Paulo). Lá, Zuquette teve um contato com conhecimentos básicos sobre solos, topografia, águas, entre outros assuntos relacionados. A proximidade maior com o segmento fez com que ele estivesse adequadamente preparado para o vestibular.

VIDA ACADÊMICA E CARREIRA O geólogo e professor Lázaro Valentin Zuquette

Nascido em um pequeno vilarejo, conhecido como Vila Nova, em Jaboticabal (São Paulo), Lázaro Valentin Zuquette cresceu em ambientes rurais, com uma abundância de recursos naturais à sua volta. Tal cenário favoreceu a inclinação do jovem garoto para tornar-se um dos mais renomados geólogos do Brasil. Além do espaço natural de sua infância e adolescência, outra grande influência para sua decisão no segmento geológico foi uma atividade 18 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

para uma das disciplinas de sua grade. “A elaboração de um trabalho para as aulas de Ciências, em que montei uma coleção de rochas teve grande influência. Visto que para a obtenção das amostras fui a diversos locais na área rural em que vivia, assim como percorri uma ferrovia coletando porções de lastro e dos taludes”, recorda Zuquette. Numa cidade do interior de São Paulo, com aproximadamente 2.000 habitantes, escolher geologia não foi uma

Graduou-se em geologia na UFRRJ (Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro), onde ingressou em 1974. Segundo Zuquette, o curso possibilitou uma visão ampla de diversos setores. “A graduação foi interessante porque permitiu cursar todas as disciplinas do básico junto com os colegas de outros cursos e, portanto, ampliar a minha visão sobre a interação entre diversos campos de conhecimento”, relata. Em seus dois últimos anos de graduação realizou estágios com os professores das disciplinas de Geologia de Engenharia e Geofísica em vários projetos, como um na faixa da Rodovia Rio-Santos e na Baixada de Jacarepa-


Primeira palestra de Lázaro Zuquette em simpósio na UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso), em 1980

guá (Rio de Janeiro), trabalhos que o levaram para novos caminhos profissionais. “Estas atividades me levaram ao campo de conhecimento em geotecnia, ao gosto pela carreira universitária (incentivado pelos professores Walter Faria e Simon Burmistrov) e iniciar o mestrado em 1978 e o doutorado em seguida junto ao Programa de Pós-Graduação em Geotecnia da Escola de Engenharia de São Carlos, da Universidade de São Paulo”, relata Zuquette. Durante seu mestrado, o geólogo estudou com professores que orientaram sua formação, como Alfredo José Simon Bjomberg, Antenor Braga Paraguassu, Carlos Dinis da Gama, João Batista Nogueira, José Henrique Albiero, Nélio Gaioto, Nilson Gandolfi – com quem recebeu orientações em sua dissertação – e Nilson Midéia. Com a experiência adquirida, Zuquette resolveu seguir no âmbito acadêmico como professor. No início de 1977, iniciou suas atividades na UFRRJ, no curso de geologia até meados de 1980. Após esse período foi professor na UFMT (Universidade Federal de Mato Grosso), onde ministrou aulas de geologia de engenharia, mapeamento geológico, fotogeologia, entre outras, para os cursos de geologia, engenharia civil, agronômica e florestal, além de geografia. 19 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Zuquette em um trabalho de campo com simulador de chuva

O geólogo durante um trabalho de campo, na cidade de Blumenau (Santa Catarina), em 2008

Zuquette durante uma viagem à Tanzânia (região ocidental do continente africano) com o professor Reinaldo Lorandi e estudantes da Dinamarca e Inglaterra


Durante uma reunião de projeto em Santander, na Espanha, com colegas brasileiros, argentinos e espanhóis

O geólogo em um trabalho de campo, no Paraná, junto com a equipe do CENACID (Centro de Apoio Científico em Desastres), em 2011

Fotografia junto à porta de sua sala, no Departamento de Geotecnia na EESC – USP 20 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Também lecionou no departamento de geologia, física e matemática da USP (Universidade de São Paulo), onde deu aulas para os cursos de biologia e química, entre os anos de 1987 e 1995. Nessa época, também começou suas atividades como orientador do Programa de Pós-Graduação em Geotecnia, da EESC-USP (Escola de Engenharia de São Carlos da USP), cargo que ocupa até os dias atuais. Zuquette também trabalhou no programa de pós-graduação em geociências até o ano 2000, na UNESP (Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”), em Rio Claro, interior de São Paulo. Ainda trabalha no programa de pós-graduação em geologia, na UFPR (Universidade Federal do Paraná) e no programa de pós-graduação em recursos minerais e hidrogeologia, no IGC-­ USP (Instituto de Geociências da USP). Já ministrou mais de 30 disciplinas diferentes e, de acordo com ele, todas lhe atraem, desde as relacionadas com engenharia civil, às envolvidas com engenharia florestal. “Gosto de trabalhar com todas as disciplinas que dou. Já ministrei disciplinas com conteúdos de geologia para os cursos de geologia, engenharia civil, engenharia ambiental, engenharia agronômica, engenharia florestal, geografia, química, biologia e arquitetura” informa. Nos últimos 22 anos, ele se dedica principalmente às aulas de geologia de engenharia e de recuperação de áreas degradadas, além da disciplina de mapeamento geotécnico, riscos geológicos e geotécnicos e de avaliação de problemas ambientais de natureza geotécnica, aula que leciona desde 1987 em pós-graduações. Simultaneamente às suas atividades de docência, o geólogo ainda desenvolveu atividades em projetos e investigações, como em instalações de dutos em várias regiões, aterros sanitários industriais e de resíduos urbanos, estradas, loteamentos etc. Também realizou estudos e implantação de pedreiras, principalmente em elaboração de mapas geotécnicos e cartas de riscos. Segundo o professor, as atividades mais interessantes, fora do espaço acadêmico, foram realizadas na Bolívia. “Os trabalhos mais interessantes como aplicações de conhecimentos foram


com investigações geológicas e geotécnicas para um trecho de dutos e de uma estrada no sul da Bolívia, em função da diversidade geológica e de problemas geotécnicos potenciais”, revela. Já os trabalhos que mais lhe deram satisfação pessoal foram os mapas geotécnicos que foram desenvolvidos em diversos locais do Brasil, atividade relacionada com a área que estuda desde o início de sua carreira. “Eles estão associados a uma vertente de conhecimento que me dedico desde o início das minhas atividades profissionais em 1978 e que envolve o conhecimento de diversos aspectos do campo de conhecimento de geotecnia”, declara. O geólogo e professor também já passou pela área editorial. Junto com um colega português, foi coeditor de dois periódicos de geotecnia, o Geotecnia da SPG (Sociedade Portuguesa de Geotecnia) e Soils and Rocks da ABMS (Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica), materiais fundamentais na formação de geotécnicos, tanto no Brasil, como em Portugal, segundo Zuquette. Exercer o cargo ampliou sua visão crítica, devido ao contínuo exercício de avaliação das publicações, como explica: “Este tipo de atividade nos permite ter uma visão do pensamento de diferentes correntes dentro do campo de conhecimento por estar em contato com os manuscritos submetidos para análise e possível publicação, e assim permite desenvolver uma análise crítica mais efetiva quanto aos trabalhos desenvolvidos por uma comunidade profissional”, explana. Ele informa que o número de publicações aumentou nos últimos anos e espera que essa quantidade cresça ainda mais. “No Brasil ainda existe espaço para outros periódicos que abordem temáticas da geotecnia, desde que mantido o nível de qualidade, visto que as frentes de atuação ampliaram muito nos últimos 20 anos. Assim, espero que futuramente sejam criados outros periódicos por associações profissionais, universidades, editoras ou agrupamentos profissionais”, diz.

Zuquette no lançamento do seu livro Cartografia Geotécnica com o coautor e professor Nilson Gandolfi, ao lado do professor Nelson Aoki

O professor durante uma reunião dos membros de banca de doutoramento na Universidade de Covilhã (Portugal)

PERSPECTIVAS Autor de um livro sobre cartografia geotécnica, ao lado do professor 21 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Lázaro Zuquette no 8º Congresso Brasileiro de Geologia de Engenharia, com colegas de profissão­ e estudantes de pós-graduação em Geotecnia, em 1996


O geólogo durante o III Simpósio Latino-Americano sobre Riscos Geológicos Urbanos, em Cochabamba, na Bolívia

tais em diferentes áreas, as quais me encontro desenvolvendo os estudos básicos para selecioná-las, porém as incertezas quanto às possibilidades futuras são grandes em função da crise nas universidades e nas instituições de financiamento”, afirma. De acordo com ele, os campos experimentais serão voltados ao entendimento dos mecanismos relacionados a vários processos geológicos-geotécnicos, como o transporte de contaminantes, processos erosivos, movimentos de massa gravitacionais, áreas cársticas e recuperação de áreas degradadas. O objetivo é que dois deles sejam em Minas Gerais, um no Paraná e dois no Estado de São Paulo.

MERCADO NACIONAL E FAMÍLIA

O geólogo em uma reunião técnica com colegas da CPRM (Serviço Geológico do Brasil)

Zuquette em um trabalho de campo, na Bolívia 22 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Nilson Gandolfi, ele pretende lançar um livro sobre riscos da área, que irá abordar os diferentes tipos de fontes de eventos perigosos e os aspectos conceituais. Ele visa entregar à editora responsável no início de fevereiro de 2017. O professor também está organizando outros livros. “Encontro-me preparando um livro de temas relacionados a investigações geológicas e geotécnicas para o final do ano de 2018 e outro de geologia de engenharia para 2019”, conta. Para o futuro, Lázaro Zuquette estuda implantações experimentais, mas devido ao contexto atual de crise, ainda possui incertezas. “As minhas perspectivas futuras estão centradas na implantação de campos experimen-

Com o País vivenciando ainda uma instabilidade econômica, Zuquette acredita que nos próximos anos haverá mais obras longitudinais e offshore. “O mercado de engenharia sempre tem grandes perspectivas, mas creio que nos próximos anos elas se concentrarão em termos de obras longitudinais, visto que o País tem uma demanda por integração regional envolvendo transporte e energia. Por outro lado deve ocorrer demanda por obras offshore em função da necessidade de energia e as possibilidades de instalação de campos eólicos”, argumenta. Ao avaliar o mercado da geotecnia, o geólogo prevê uma tendência para o desenvolvimento das incertezas e estimativas de riscos e, consequentemente, haverá uma demanda para avanços em investigações geológicas-geotécnicas, interpretações e análises das informações. Ele acrescenta ainda que os ensaios de grandes dimensões e in situ também poderão estar nas perspectivas do segmento geotécnico num futuro próximo. Conforme o geólogo, professor e pai, realizar atividades em família e garantir a união entre os familiares, motiva sua vida. “Viajar é sempre uma grande motivação em nossas vidas, seja juntos ou separados, assim como uma mesa com boa comida”. No âmbito pessoal, Lázaro Valentin Zuquette é casado com Nilva e tem uma filha, Mariana.


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HISTÓRIA

Obra: Parte da fachada da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP (Universidade de São Paulo) Local: São Paulo / São Paulo Data: Entre 1971 e 1980

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Obra: Detalhe da fachada do edifício Vilanova Artigas da FAUUSP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo), em fase de construção Local: São Paulo / São Paulo Data: Entre 1961 e 1970 Créditos: Acervo da Biblioteca da FAUUSP Estas imagens foram retiradas do banco de imagens Arquigrafia da USP (Universidade de São Paulo) 25 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


REPORTAGEM

METODOLOGIA BIM REDUZ TEMPO E RISCOS EM MEGAPROJETO Uso da modelagem 3D permite que todos os envolvidos tenham acesso rápido às informações mais precisas sobre o trabalho Por Dellana Wolney

Todas as obras, seja pequena ou de grande porte, possuem as suas peculiaridades, porém elas reúnem algo em comum, que é a mobilização de diversos materiais, serviços e providências, para que a execução do início até a conclusão aconteça da forma mais eficiente possível, pois a maioria das obras precisa cumprir um cronograma estabelecido em contrato. Gerenciar essa colaboração multidisciplinar, dependendo do caso, pode se tornar um grande desafio para a empresa. Então, um agente facilitador é: quanto mais as informações sobre materiais e serviços forem conhecidas, mais assertivos serão o planejamento e a programação das atividades da obra, gerando economia e segurança para os profissionais e construtoras. O processo de captação e organização de dados dos novos empreendimentos exige a elaboração de vários documentos de planejamento e acompanhamento da execução da obra, dentre eles orçamento, cronograma de obra e cronograma físico-financeiro. Não é pouca coisa. O ideal de praticidade seria que todas estas informações da obra estivessem consolidadas e integradas em uma mesma plataforma. Essa realidade já não é mais tão distante assim com o BIM (Building Information Modeling – Modelagem da Informação da Construção) que atende estas demandas e facilita o trabalho das empresas do segmento. Diferente do desenho usual em 2D, uma mera representação planificada do que será construído, a modelagem com o conceito BIM trabalha com modelos 3D mais fáceis de assimilar e mais fiéis ao produto final.

FUNCIONALIDADE Para um produto bom e adequado, o projeto realizado em BIM deve agregar todas as partes envolvidas no planejamento de uma construção. O objetivo é gerar informações aprofundadas sobre cada detalhe da construção e que podem ser utilizadas por todos que estejam participando do projeto, desde engenheiros e 26 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

arquitetos até planejadores e responsáveis pela compra de materiais. O engenheiro de aplicações para a área de BIM da empresa Bentley Systems, Rodolfo Guilherme, afirma que a adoção do BIM pela indústria da construção ainda é recente no Brasil, porém este conceito de projetar baseado em modelos digitais 3D, políticas, processos e tecnologias é antigo. “Esta metodologia se baseia na colaboração entre todos os envolvidos no projeto, e permite o acesso rápido conjunto às informações mais precisas sobre a edificação ou instalação que se deseja construir, utilizar e preservar”. Ele explica que de maneira integrada, os profissionais podem aperfeiçoar o planejamento da obra, simulando a construção, a operação ou qualquer alteração em um modelo virtual, com retorno mais rápido de resultados, antecipando e validando custos, tempo de execução, impactos de alterações no projeto ou questões ambientais, antes mesmo da construção ser iniciada. Diferente do que muitos pensam a utilização do BIM não é feita somente na etapa estrutural. O conceito permeia todo o ciclo de vida de um empreendimento, isto é, desde as etapas preliminares de planejamento, que passam pelo projeto, construção, operação e manutenção. Para cada etapa do ciclo de vida de uma construção existem softwares capacitados para lidar com suas especificidades. O projeto de fundação é uma das etapas mais importantes e necessárias para a construção e que consta no ciclo de informações BIM.

MODELAGEM ESTRUTURAL A Bentley Systems possui ferramentas específicas para modelagem, simulação e detalhamento estrutural como AECOsim, STAAD, RAM, ProStructures entre outras. Estes produtos seguem as normas brasileiras para concreto e aço e têm a capacidade de auxiliar o projetista na definição das opções de projeto. A função deles é analisar, simular e gerar detalhamentos automatizados e listas de materiais de maneira precisa, além de permitir a integração com outros modelos BIM, para detecção de interferências.


Fotos: ©Crossrail Ltd / Flickr

Vista aérea de parte do trajeto da Crossrail

Do mesmo modo que o BIM pode ser utilizado nas etapas de planejamento e projeto, o gerente de contas corporativas da Bentley Systems, Andres Fatoreto enfatiza que também é possível a sua utilização em fases posteriores. Na etapa de projeto, os especialistas podem aplicar informações que serão relevantes para a manutenção do projeto como a vida útil do ativo, ou seja, toda a informação que considerem importante e necessária para aquele determinado elemento. Na etapa de construção, usufruindo de informações do modelo BIM é possível visualizar a sequência de construção 4D utilizando o Bentley Navigator, ou consultar um modelo em um dispositivo móvel ou, ainda, um arquivo PDF (Portable 27 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Tuneladora utilizada na Crossrail


Alguns dos túneis que compõem o trajeto do megaprojeto 28 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


Estrutura de steel frame sendo instalada na estação Whitechapel

Document Format) 3D (utilizando apenas o Adobe Reader – sistema licenciado da Adobe) na obra com os modelos tridimensionais de arquitetura, estrutura, elétrica e HVAC (Heating, Ventilation and Air Conditioning), com informações geradas a partir do AECOsim Building Designer para validar o que está sendo construído. Para a manutenção e operação é possível usar o BIM para extrair informações de fornecedores, datas de revisões ou trocas. Por sua vez, as soluções de ponta como o Bentley AssetWise e o Bentley APM (Asset Performance Manager), utilizado, por exemplo, na fase de implantação na Petrobras para controle da plataforma P-43, possibilita criar soluções para operação empregando sensores, identificando áreas problemáticas de modo a aplicar melhorias para aumentar o desempenho e segurança do empreendimento. Guilherme destaca que uma das premissas do conceito BIM além da transparência das informações é a capacidade de integração entre disciplinas e especialistas em um ambiente virtual e controlado. Por exemplo, é possível ao utilizar uma tecnologia Bentley (Bentley Navigator), integrar a geometria 3D com o cronograma da obra, gerando uma animação em 4D das sequências/evolução das atividades das obras. “Ao acompanhar o avanço físico da construção virtualmente, o consultor pode detectar problemas e sugerir alterações. Também é possível detectar interferências entre os projetos em 3D e anteceder problemas como: furos desnecessários em vigas, equipamentos com tamanhos exce29 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

dentes, entre outros, evitando gastos extras e atrasos para resolução de problemas no canteiro de obras”, detalha.

NOTORIEDADE No Brasil, há anos o conceito BIM vem tomando força e ganhando apoio governamental, bem como de profissionais, universidades, instituições e entidades de classe. Um exemplo deste avanço é o desenvolvimento de uma normatização referente à modelagem de informação da construção pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). As normas já publicadas que englobam o assunto são: ABNT NBR ISO 12.006-2:2010, ABNT NBR 15.965-1:2011, ABNT NBR 15.965-3:2014 e ABNT NBR 15.965-2:2012. Também foram criados manuais por entidades de classe como o Guia AsBEA (Associação Brasileira Escritórios Arquitetura) – Boas Práticas em BIM, CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção) – Fundamentos BIM. E há eventos que discutem amplamente a utilização do método como os Seminários BIM do Sinduscon (Sindicato da Indústria da Construção Civil) e a BIM International Conference. “Existem no Brasil inúmeros exemplos de projetos já concebidos em BIM, desenvolvidos por escritórios da iniciativa privada e premiados internacionalmente. No âmbito governamental foi publicado pelo Governo de Santa Catarina um Caderno de Apresentação BIM que aborda os procedimentos adotados pelo Comitê de Obras e Serviços, que deverão ser utilizados pelos prestadores de serviços ao es-


Cabos para energia e sistemas de comunicação sendo instalados em um dos túneis da linha

Alinhamento da via antes da concretagem 30 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


tado para a apresentação de projetos com a modelagem”, salienta Fatoreto. No mês de setembro deste ano, a Bentley Systems patrocinou a BIC 2016 – BIM International Conference. Um dos principais palestrantes presentes na conferência foi o líder de tecnologia da informação da Crossrail Ltda., Malcolm Taylor que falou sobre os benefícios que a adoção da metodologia BIM trouxe para a maior obra de infraestrutura em execução atualmente na Europa. Segundo ele, todo o planejamento do projeto teve como base o conceito de uma fonte única, empregando a metodologia BIM para gerar um ambiente comum de dados, consolidando todas as informações sobre o projeto, modelos em 3D e 4D, contratos e toda a documentação sobre cada aspecto da obra. Na prática, estão sendo criadas duas ferrovias no projeto da Crossrail: uma real e outra virtual, sendo que qualquer alteração em uma delas é refletida imediatamente na outra. “O uso do BIM e modernas ferramentas tecnológicas não apenas contribuiu para manter o projeto estritamente dentro do orçamento e cronograma, como também gerou milhões de libras em economia ao reduzir o tempo e a mão de obra dedicados a diversos pontos da Crossrail”, afirma Taylor, e acrescenta que parte considerável dos ganhos é obtida pelo uso do BIM não apenas na fase de concepção do projeto, mas também nas etapas de construção e, posteriormente, na operação e manutenção da ferrovia. Percebendo a importância do BIM, o governo do Reino Unido determinou a sua utilização para o Nível 2 em todos os projetos com financiamento público em 2016. O Nível 2 requer a colaboração digital entre todas as partes, com dados de projeto armazenados dentro de um modelo de informação federado e por meio das normas do British Standard 1192:2007. Além de fornecer um conjunto de aplicações de software integrados em seu uso para toda a Crossrail e sua cadeia de fornecimento, a Bentley Systems anunciou recentemente a atualização bem-sucedida do ambiente comum de dados da Crossrail para obter informações de ativos pelos serviços gerenciados AssetWise da Bentley. A plataforma híbrida de computação na nuvem da Microsoft Azure fornece ao Crossrail um único local para armazenar, compartilhar e gerenciar informações de aproximadamente um milhão de ativos.

MEGAPROJETO A nova linha férrea de Londres, na Inglaterra, nomeada de Crossrail tem sido executada desde maio de 2009, concluindo mais de 100 milhões de horas trabalhadas. Ao longo de quase três anos oito máquinas de perfuração gigantes escavaram abaixo das ruas londrinas para construir 42 km de novos túneis ferroviários. Com 150 metros de comprimento, cada tuneladora utilizada na obra era capaz de suportar 1.000 toneladas e abrigar equipes de 20 pessoas que trabalharam em turnos ininterruptos de 24 horas entre os meses de maio de 2012 e maio de 2015. Atualmente, 10 mil pessoas trabalham em mais de 40 locais da construção. 31 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Construção da nova estação em Abbey Wood


A Crossrail que posteriomente passará a se chamar “Linha Elizabeth” está com 75% de suas obras concluídas

Mapa das rotas da Crossrail (Março de 2014)

O Crossrail está com 75% das suas obras concluídas e tornou-se um dos maiores projetos ferroviários e de infraestrutura em construção da Europa. A previsão é que em 2018 a construção deva abrir suas portas e que em 2019 ela esteja totalmente operacional. Por ser um megaprojeto, os investimentos foram bilionários: cerca de 14,8 bilhões de libras esterlinas (mais de 56,5 bilhões de reais). Depois de concluída, a Crossrail mudará seu nome para “Linha Elizabeth”, em homenagem à rainha do Reino Unido, Elizabeth Alexandra Maria (Elizabeth II). Estima-se que a linha transportará aproximadamente 1,5 milhão de pes32 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

soas a mais em um percurso de 45 minutos até o centro da cidade. O percurso total abrangerá 100 km através de novos túneis sob o centro de Londres desde Reading e Heathrow, na região oeste, até Shenfield e Abbey Wood, na região leste. Quarenta estações vão compor o itinerário, incluindo dez novas em Paddington, Bond Street, Tottenham Court Road, Farringdon, Liverpool Street, Whitechapel, Canary Wharf, Custom House, Woolwich e Abbey Wood. A finalidade da Crossrail é aumentar a capacidade ferroviária no centro de Londres em 10%.


33 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


ESPAÇO ABERTO

COMPARAÇÃO DOS CUSTOS CONSTRUTIVOS DE ESTRUTURAS DE SOLO REFORÇADO COM GEOSSINTÉTICOS EM RELAÇÃO A TÉCNICAS USUALMENTE APLICADAS NO MUNICÍPIO DE NATAL (RN) INTRODUÇÃO A região metropolitana do município de Natal (RN), como outras, expõe um exemplo de crescimento urbano que frequentemente demanda a utilização de técnicas de contenção de solo para aproveitamento do espaço. Situações de corte e de aterro apresentam-se muito comuns nos empreendimentos imobiliários e de infraestrutura urbana construídos nessa região. Diversos fatores devem ser considerados na escolha das técnicas a serem empregadas, tais como tipo de operação (corte ou aterro), características do solo, disponibilidade de equipamentos e custos construtivos. O comparativo de custos construtivos é, portanto, um aspecto bastante investigado na literatura, usualmente a partir da manutenção das condições de contorno do problema e da permuta apenas da técnica empregada para contenção do solo (PLÁCIDO, KAMIJI e BUENO, 2010; AVESANI NETO e HAYASHIDA, 2013). Os muros de solo reforçado com geossintéticos, apesar de amplamente empregados em diversas localidades, ainda se apresentam como uma opção pouco utilizada no Estado do Rio Grande do Norte. Isso ocorre, em parte, por desconhecimento técnico ou por certo grau de conservadorismo na escolha da solução a ser adotada. Como forma de promover 34 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

uma discussão sobre esse contexto, este artigo tem o objetivo de comparar os custos construtivos de três alternativas bastante consolidadas no meio técnico para a construção de estruturas de contenção de solos em situação de aterro (muro de gravidade, terra armada e solo reforçado com geossintéticos) na região metropolitana de Natal (RN) (solo tipicamente arenoso médio a fino, com teor de finos abaixo de 5%).

1 CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA A avaliação dos custos construtivos de uma estrutura de contenção executada na região metropolitana de Natal (RN) apresentada neste artigo foi conduzida a partir da definição de um problema de engenharia comum, com aspectos padronizados. Foi estabelecida a hipótese de construção de uma estrutura de contenção em situação de aterro para a qual seriam empregadas uma entre três alternativas técnicas: muro de gravidade, terra armada e solo reforçado com geossintéticos. Foram verificadas estruturas de contenção para desníveis entre 2 m e 10 m, assentes sobre o solo local, com uma ficha igual a 10% desse valor (ou valor mínimo de 0,40 m). Não foram considerados carregamentos externos sobre os maciços de solo. Nos serviços de terraplenagem,

não foram considerados os custos de um possível empréstimo de solo, tendo em vista que se adotou uma situação em que seria aproveitado o solo local, situação mais provável mediante o tipo de solo predominante na área de estudo. De forma a igualar a contribuição do custo para execução do reaterro, foi admitido um comprimento de compactação igual a 10 m para todas as alternativas. Aspectos e parâmetros inerentes aos parâmetros de dimensionamento de cada um dos projetos podem ser encontrados em Pessoa (2016).

1.1.1 Muro de gravidade Neste artigo, os muros de gravidade foram pré-dimensionados com a metodologia de Marchetti (2007), em formato trapezoidal e com a previsão de utilização de concreto ciclópico (fck igual a 20 MPa). Posteriormente, foram conduzidas as verificações necessárias em relação à estabilidade externa da contenção.

1.1.2 Terra armada O dimensionamento da obra hipotética avaliada neste estudo considerou o topo do paramento coincidente com o topo do aterro contido e seguiu os procedimentos estabelecidos na ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) NBR 9.286/1986. Adotou-se vida útil igual a


Figura 1 – Curva granulométrica e propriedades geotécnicas do solo em estudo (FONTOURA, 2015)

30 anos para a estrutura, que se enquadra na característica de não inundável. Foram consideradas fitas metálicas nervuradas, com tensão de escoamento igual a 250.000 kPa, zincadas, com vida útil mínima de 70 anos. O paramento considerado é composto por escamas de concreto armado, pré-moldadas e montadas à medida que o aterro é executado e as fitas metálicas são inseridas.

1.1.3 Solo reforçado com geossintético

Tabela 1 – Propriedades geotécnicas consideradas para o solo compactado Parâmetro geotécnico Densidade relativa (Dr)

95%

Índice de vazios (e)

0,60

Ângulo de atrito (ɸ)

34°

Peso específico dos sólidos (ɣs)

25,7 kN/m³

Peso específico seco (ɣd)

16,4 kN/m³

Coeficiente de empuxo ativo (Ka)

A obra hipotética objeto deste estudo foi dimensionada com faceamento em blocos, que resultam em faces com certo grau de tolerância a recalques. Empregou-se o método estabelecido por Ehrlich e Mitchell (1994), referido por Ehrlich e Becker (2009). Foi adotada uma geogrelha de poliéster com resistência à tração nominal com valores variados, segundo os cálculos para cada altura de contenção. Foi definida a compactação das duas camadas superiores executada com equipamento mecânico manual, para reduzir o seu efeito nos reforços superiores.

nos valores do NSPT (Índice de Resistência à Penetração Dinâmica) nas camadas superficiais das sondagens consultadas. Assim, foram assumidos os valores de NSPT igual a 2, de ângulo de atrito interno (ɸ) igual a 28° e de peso específico igual a 16 kN/m³. As características do solo compactado foram definidas a partir de uma densidade relativa (Dr) igual a 95% e seu correspondente ângulo de atrito interno (ɸ) obtido em ensaios de compressão triaxial (FONTOURA, 2015). Outros parâmetros foram calculados e são apresentados na Tabela 1.

1.2 Características do solo

2 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS CUSTOS CONSTRUTIVOS

Foi considerada a utilização do solo local, como medida de redução das distâncias de transporte e consequente redução de custos. Assim, definiram-se as propriedades de um solo padrão que se assemelhasse às características predominantes do solo da região metropolitana de Natal (RN), conforme a Figura 1 (FONTOURA, 2015). Adotaram-se parâmetros de resistência conservadores para esse solo, devido à existência de certa variabilidade 35 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Valor

A avaliação dos custos construtivos para implantação da estrutura de contenção hipotética conduzida neste estudo é resumida na Figura 2. A execução da obra hipotética por meio da técnica da terra armada mostrou-se, para o intervalo de desnível avaliado, como mais viável em termos de custos construtivos. Esse resultado contradiz aqueles obtidos por

0,283 Plácido, Kamiji e Bueno (2010) e por Avesani Neto e Hayashida (2013), que apontam as estruturas de solo reforçado com geossintéticos como de menor custo construtivo para o intervalo de desníveis avaliado. Esse resultado pode ser justificado pela utilização de blocos pré-moldados, que se mostra comumente mais onerosa em relação a outros sistemas de faceamento empregados em muros de solo reforçado com geossintéticos (AVESANI NETO e HAYASHIDA, 2013). Outro aspecto que possui destaque na redução dos custos construtivos da obra hipotética em terra armada diz respeito à disponibilidade de solo arenoso na região metropolitana de Natal (RN), dentro das faixas prescritas na ABNT NBR 9.286/1986. Isso reduz os custos construtivos devido à ausência (ou redução) de transporte de material (empréstimo) para compor a estrutura de contenção em terra armada. Esse aspecto possui menor impacto na solução com geossintéticos, visto que solos com certo teor de finos podem ser empregados (PORTELINHA, 2012). Assim, caso a obra seja construída em local com


Figura 2 – Custos construtivos da estrutura de contenção hipotética para as três técnicas avaliadas

ausência de solos granulares, as soluções com reforço de geossintéticos apresentarão custos construtivos mais vantajosos que aquelas em terra armada, como os exemplos estudados por Plácido, Kamiji e Bueno (2010) e por Avesani Neto e Hayashida (2013). A construção de um muro de gravidade apresentou-se como a segunda técnica de menor custo para desníveis de até 4 m, a partir do qual o solo reforçado com geossintéticos mostra-se menos oneroso. Destaca-se, por fim, que as soluções que empregam a filosofia de reforço de solo, ou seja, nas quais inclusões são instaladas concomitante à compactação do reaterro (terra armada e solo reforçado com geossintéticos) apresentaram-se mais vantajosas, com uma menor taxa de aumento nos custos construtivos em função do desnível a ser vencido.

CONCLUSÕES Este artigo apresentou um comparativo dos custos construtivos para a execução de estruturas de contenção na região metropolitana de Natal (RN). Foram avaliadas três técnicas (muro de gravidade, terra armada e solo reforçado com geossintéticos), executadas com solo local (areia média a fina, com teor de finos menor que 5%). Diante dos resultados encontrados, as seguintes conclusões podem ser estabelecidas: • A solução em terra armada apresentou-se menos onerosa para o intervalo de desníveis avaliado. Menciona-­ se que o uso de blocos pré-fabricados 36 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

para o faceamento da estrutura com geossintéticos e a disponibilidade de material granular para construção da estrutura em terra armada podem ser apresentados como fatores que contribuíram para esse resultado. • A execução de um muro de gravidade apresentou-se como a segunda técnica menos onerosa para desníveis de até 4 m. A partir desse valor, a solução em solo reforçado com geossintético assumiu esse posto. • O valor da taxa de aumento nos custos em função do aumento no desnível a ser vencido é maior para o muro de gravidade, seguido pela solução com geossintéticos e, por fim, pela solução em terra armada.

REFERÊNCIAS AVESANI NETO, J. O.; HAYASHIDA, E. M. (2013). Levantamento e compara-

ção dos custos de diferentes soluções de estruturas de contenção em aterro, COBRAE 2013 – VI Conferência Brasileira de Encostas, Angra dos Reis. EHRLICH, M.; BECKER, L. (2009). Muros e Taludes de Solo Reforçado – Projeto e Execução. São Paulo: Oficina de Textos, 2009. EHRLICH, M.; MITCHELL, J. K. (1994). Working stress design method for reinforced soil walls. Journal of Geotechnical Engineering, v. 120, n. 4, p. 625-645. FONTOURA, T. B. (2015). Comportamento tensão-deformação e resistência ao cisalhamento de uma areia de duna cimentada artificialmente. Dissertação de Mestrado, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal. MARCHETTI, O. (2007). Muros de Arrimo. São Paulo: Blucher. PESSOA, R. G. (2016). Avaliação dos custos construtivos de estruturas de contenção no município de Natal (RN). Trabalho de Conclusão de Curso, Departamento de Engenharia Civil, Universidade Federal do Rio Grande do Norte. PLÁCIDO, R. R.; Kamiji, T. S. M. M.; Bueno, B. S. (2010). Análise comparativa de custos para diferentes alternativas de estruturas de contenção, COBRAMSEG 2010 – XV Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica, Gramado. PORTELINHA, F. H. M. (2012). Avaliação experimental da influência do avanço do umedecimento no comportamento de muros de solos finos reforçados com geotêxteis não tecidos. Tese de Doutorado. Programa de Pós-Graduação em Geotecnia, Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos.

Rafael Gaspar Pessoa, Engenheiro Civil na A. Gaspar S/A rafaelpessoaeng@yahoo.com Vanessa Milena Mendes dos Santos, Discente no curso de graduação em Engenharia Civil na UnP (Universidade Potiguar) ­– vanessamilena3@hotmail.com Fagner Alexandre de Nunes França, Engenheiro Civil, Docente na UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) – fagneranfranca@gmail.com

A seção “Espaço Aberto” é uma parceria da revista Fundações & Obras Geotécnicas com associações, grupos do setor e universidades que publicam nesse espaço conteúdo técnico de interesse do público-alvo da revista. Neste mês o espaço é destinado para a abordagem do tema “Geossintéticos”, com a coordenação e revisão técnica do engenheiro civil, docente na UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), Fernando H. M. Portelinha.


37 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


NOTÍCIA

EMPRESAS INVESTEM EM AGROCONCRETO PARA SUPERAR DESAFIOS O novo nicho de mercado atrai principalmente grandes fabricantes de equipamentos como a empresa italiana Fiori

A infraestrutura está presente em todos os lugares, inclusive no setor de agronegócios que hoje cresce em ritmo acelerado, mesmo com a estagnação da economia brasileira. A FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), por meio do DEAGRO (Departamento de Agronegócios) aponta que a produção de arroz, feijão, trigo, milho, café, carnes, laticínios, ovos, soja, algodão e açúcar levará o País a deter mais de 50% do mercado mundial até 2023. E é com o desenvolvimento que a infraestrutura ganha papel de protagonista no segmento. Para acomodar toda essa cadeia produtiva agrícola ou pecuária, a execução de obras como silos, galpões, pavimentação de pequenos trechos de estrada, barragens, alojamentos e residências é cada vez mais necessária. Normalmente, trata-se de estruturas que demandam grandes quantidades de cimento e materiais pré-fabricados, o que faz o setor ainda esbarrar em alguns desafios, pois há carência de fornecedores deste tipo de material e nem todas as áreas rurais dispõem de concreteiras. Comumente é na necessidade que nasce o empreendedorismo ou vice-versa. A afirmativa pode ser aplicada ao novo nicho chamado de “agroconcreto”. Muitas empresas viram oportunidade de investir neste mercado, disponibilizando minicentrais de con38 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Fotos: Divulgação Prumo

Por Dellana Wolney

Imagem ilustrativa

creto, que podem fornecer até 100 m³/ dia. A iniciativa visa suprir a demanda por concreto e prover material para outros empreendimentos no entorno das áreas agrícolas. Os pré-fabricados à base de cimento no Brasil também estão caminhando neste

mesmo sentido. Atualmente, vários artefatos são consumidos por fazendas e sítios. De postes, que substituem os palanques de madeira, a estruturas para erguer galpões. O mais recente anuário da ABCIC (Associação Brasileira da Construção Industrializada do Concreto) aponta que


12,5% dos associados indicaram crescimento na produção dentro do agronegócio. Parte destes indicadores positivos veio das indústrias localizadas no interior dos estados das regiões Sul e Sudeste.

EQUIPAMENTOS O agroconcreto não atraiu somente as empresas especializadas em concreto, mas também criou interesse nos fabricantes de equipamentos, que atualmente estão projetando máquinas especialmente para este fim. A empresa italiana Fiori é uma das que enxergaram no Brasil uma oportunidade de expansão dos seus negócios. A fabricante apresentou ao mercado brasileiro o equipamento CBV (Concrete Batching Vehicle), que é uma central sobre rodas com tração 4 x 4, capaz de trafegar em diversos tipos de terrenos, desde os mais fáceis até os mais acidentados. Além de ser uma central móvel, ela carrega um minilaboratório a bordo, que possibilita pesar e medir todos os materiais componentes como brita, areia, cimento, água e aditivos. De acordo com o diretor da Fiori no Brasil, Antônio Carlos Grisci, a máquina pode fazer até 20 tipos diferentes de concreto e atender obras e construções em áreas de difícil acesso, impossíveis de serem atendidas pelas centrais de concreto e os caminhões betoneiras convencionais. Com vários tamanhos de balão ela pode produzir de 1,1 m³ até 5,5 m³ por batelada. O exclusivo sistema CBV permite dosar o concreto ao nível de precisão de uma central com toda a rastreabilidade do processo, com relatórios impressos e/ ou informação digital, também é possível corrigir automaticamente a quantidade de água a ser adicionada ao concreto em função da umidade da areia e dosar os aditivos de alta precisão. Grisci afirma que estudos comparativos confirmam que o custo do concreto adquirido das centrais fixas tradicionais pode chegar a ser 30% maior do que daquele produzido pelas autoconcreteiras. “Todo o contratante deste tipo de equipamento requisita alta confiabilidade, atendimento de todas as necessidades de produção e garantia da produção de concreto em qualquer lugar e em qualquer tipo de local de trabalho. Todos são unânimes em afirmar que se 39 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Imagem ilustrativa

trata de uma boa solução de obra, conferindo rapidez na execução e certificação do concreto”. Ele ainda diz que a Fiori escolheu o Brasil para investir nesses equipamentos, porque é um território de dimensões continentais e com extensas áreas rurais, onde inexiste oferta de concreto de qualidade. Por isso, o Brasil, por sua liderança na América Latina e posição geográfica, recebeu a terceira montadora da Fiori no mundo, com sede em Porto Alegre (RS), que possui uma ampla rede de distribuição e assistência técnica.

VANTAGENS As autoconcreteiras são máquinas autônomas, que funcionam como uma solução “quatro em um”, reunindo diferentes funções: centrais dosadora e misturadora, pá carregadeira e caminhão betoneira. Trata-se de um sistema para carregamento, dosagem, mistura e transporte. Substituem a central de concreto, os caminhões betoneira e a pá carregadeira, reduzindo ainda os custos com mão de obra. Dentre todas as vantagens presentes nas autoconcreteiras da Fiori, uma das mais importantes são os silos de cimento horizontais que podem ser usados para o armazenamento e a dosagem de cimento, cal, cinzas volantes, areia e outros materiais em pó ou em grãos, parti-

cularmente indicados para os canteiros móveis. Eles favorecem o aumento da produtividade do canteiro e eliminam a poeira durante a fase de carregamento do cimento. Estes tipos de silos podem ser transportados e posicionados com facilidade (sem a necessidade de sistemas de ancoragem ou de estruturas em concreto), graças às pernas de elevação telescópicas ajustáveis. Os silos “HS” da Fiori são fornecidos com motovibrador externo, bicos de fluidificação a ar, trados inclinados de descarga, filtro autolimpante interno, depósitos de plástico para a água, unidade de controle e sistema de pesagem eletrônico com células de carga (conectado via wireless com o Fiori Batch Controller). A empresa também oferece um sistema de carregamento de big-bags para pré-­ misturados, que podem ser somente brita e areia ou ainda brita, areia e cimento. Caso o big-bag contenha o pré-misturado somente de brita e areia, o silo horizontal é o complemento ideal e transforma o sistema em uma central móvel de concreto totalmente automatizada. Caso o big-bag já venha também com o cimento (requer o uso de agregados secos) e elimina-se a etapa de carregamento de cimento. Basta adicionar a água e possíveis aditivos à mistura.


NOTÍCIA

TENDÊNCIAS E DESAFIOS DE MERCADO INTEGRAM CADA VEZ MAIS A ATIVIDADE ADMINISTRATIVA Aqueles que pretendem administrar uma empresa devem se atentar a questões contábeis, jurídicas, previdenciárias e trabalhistas

O sonho de muitos é ter o próprio negócio, porém administrar uma empresa requer diversas habilidades e representa desafios, inclusive para os novos empreendedores. Para quem quer ser um administrador no futuro, seja em qualquer segmento é necessário ter consciência de que tudo tem impacto direto ou indireto em uma empresa. Um desses fatores, senão o principal, para quem vai administrar uma empresa, embora não pareça é o fator global do mercado. O espírito de liderança também é uma característica importante para que qualquer companhia evolua. Há diferenças nítidas entre ser um chefe e ser um líder, então conhecer o que os diferencia demandará paciência e aprendizado. Assim como no caso dos outros segmentos, a administração de empresas especializadas em serviços geotécnicos ou de fundações não possui uma receita pronta, entretanto deve-­ se observar, rigorosamente, uma série de normas e princípios de administração, além de toda a complexa questão contábil e jurídica brasileira, como leis tributárias, previdenciárias e trabalhistas. O advogado e diretor-executivo da ABEF (Associação Brasileira de Empresas de Engenharia de Fundações e Geotecnia) e do SINABEF (Sindicato de Indústria de Engenharia de Fundações e Geotecnia do Estado de São Paulo), Marco Aurélio Alves Costa afirma que naturalmente, os serviços de engenharia de fundações e geotecnia, objeto principal da empresa, devem ser tratados com extrema responsabilidade, perícia e prudência, portanto, pelo menos um engenheiro geotécnico deve estar intimamente ligado às decisões empresariais. Ele cita que um material importantíssimo de apoio é o Manual de Fundações da ABEF, pois no conteúdo é possível encontrar o passo a passo para que uma obra de fundação seja executada com sucesso, eliminando ou diminuindo os riscos e as falhas, e proporcionando até mesmo economia de custos da obra. 40 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Fotos: Arquivo MC-Bauchemie

Por Dellana Wolney

“Manutenção constante dos equipamentos, visando a segurança e a produtividade; extremo respeito ao cliente final; ética profissional e de mercado; observação das normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) e das NRs (Normas Regulamentadoras) do Ministério do Trabalho; atenção às questões ambientais, de vizinhança de obra e contratação de seguros de riscos de engenharia; e responsabilidade civil profissional, de vida e acidentes de trabalho. Tudo isso deve também fazer parte do cotidiano do bom empresário dessa especialidade”, comenta.

DIFERENÇA É importante saber que cada setor possui as suas particularidades. Para o sucesso de uma obra de fundações deve-se estar atento até mesmo às intempéries da natureza. A logística da obra deve ser muito bem dimensionada. O concreto, por exemplo, pode sofrer alterações prejudiciais somente com seu transporte (tempo/itinerário). Da concreteira até o campo de obra, um simples congestionamento poderá prejudi-


car um dia todo de trabalho, atingindo até o cronograma final da obra. “O exemplo apresenta algo muito peculiar à atividade de engenharia de fundações e geotecnia e, embora pareça simples, não é algo fácil de administrar, principalmente no Brasil, em que a infraestrutura é extremamente defasada e precária. A engenharia de fundações e geotecnia é uma atividade característica por sua natureza de especialidade técnica, de tal forma que a Justiça e o Ministério do Trabalho reconheceram-na, no Estado de São Paulo, como um setor distinto da construção civil. Por isso, é essencial observar os pontos sobre gestão de equipe especializada”, esclarece Costa. Além das questões técnicas, trata-se de uma atividade que requer capital intensivo, de modo que a administração de despesas, receitas e orçamentos deve ser constante. No Brasil, os incentivos do governo para empresários ainda são muito limitados, momentâneos, pontuais e engessados, principalmente pela burocracia que limita muito o acesso de investidores. Recorrer a bancos não pode ser a melhor saí­da, visto que os juros cobrados, mesmo para financiamento de equipamentos, são altos, o que inviabiliza a ampliação da produção e até mesmo a oferta de empregos. O advogado Marco Aurélio Alves Costa explica que as leis tributárias também configuram dificuldades à administração deste tipo de empresa. Para ele, as normas trabalhistas e previdenciárias são arcaicas, retrógradas e amarradas. Há receio em contratar, considerando os enormes e infindáveis encargos dessa natureza laboral. Uma simples reclamação de um ex-funcionário na Justiça do Trabalho, por exemplo, pode quebrar uma empresa. E, nesse embate, nem sempre a justiça é aplicada. “Um patrão pode não exercer corretamente as suas funções e deve por isso ser corrigido no judiciário, mas, como se sabe, muitas vezes, o empresário observa todas as regras trabalhistas e previdenciárias e, ainda assim, sofre ações judiciais de ex-empregados, inclusive sendo condenado a pagar o que, de fato, não deve. É a ‘demonização’ do empresário, um grande erro, pois tanto empregador como empregado são trabalhadores, formam o principal capital da empresa – o humano”, pontua Costa. Ele ainda acredita que é necessária a revisão da legislação trabalhista e previdenciária no País. Uma relação de trabalho mais livre, direta entre patrão e empregado, seria salutar para todos, sem grandes interferências por parte dos órgãos governamentais. Portanto, o empresário, caso não tenha condições de contratar um advogado especialista que o oriente, deverá, ele mesmo, estar sempre muito atento às questões jurídicas que envolvem sua empresa, principalmente as de ordem tributária e trabalhista, pois o descuido pode gerar uma “bola de neve”.

ENTRAVES Assim como abrir, manter uma empresa torna-se um grande desafio que abrange fatores de ordem jurídica, contábil e técnica de engenharia civil, e a concorrência desleal no mercado. Uma empresa que age corretamente tem despesas altas para manter-se. Por ser tão burocrático, Costa comenta que empresários inescrupulosos, que não têm tais despe41 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

sas para a regularidade jurídica, contábil e técnica de suas empresas, são verdadeiros predadores de mercado, pois ganham concorrências públicas e privadas, apresentando preços irrisórios. Outro desafio neste setor é a contratação de mão de obra ou a sua manutenção. É uma tarefa difícil encontrar profissionais, orientar, formar sob os aspectos técnicos e, depois, perdê-los no mercado. A falta de ética profissional e de mercado é algo sempre muito prejudicial. Devido à crise econômica há também a progressiva necessidade de demitir, o que dificulta muito a administração de empresas destes segmentos. “Não havendo obras, não haverá receita, portanto, o empresário “pé no chão”, infelizmente, é obrigado a demitir seus empregados. A empresa visa lucro, não é instituição de caridade. Assim, sem receita, não há como assumir despesas”, comenta.

TENDÊNCIAS Mesmo com os desafios, os novos empreendedores devem manter o otimismo, e acima de tudo estarem ligados às novas tendências de mercado. Algumas pesquisas podem ajudar no planejamento econômico e social da empresa, principalmente quando projetam tendências e a situação do mercado futuramente. O cenário até 2018, por exemplo, poderá passar por mudanças significativas, afetando profundamente os profissionais, os negócios e os projetos no segmento de construção civil, é o que aponta a pesquisa elaborada pelo DOT Digital Group. O relatório divulgado em outubro abrange o cenário da construção civil no Brasil, de 2016 a 2018 e conclui que o setor passa por sete importantes e significativas transformações, que tendem a afetar a mão de obra, os negócios e os projetos do segmento. De acordo com o economista e especialista no setor da construção civil, Danilo Garcia, o relatório reforça a percepção de que o cenário econômico afetou de forma bastante negativa o setor de construção civil. No entanto, o panorama atual deve acelerar o processo de transformação desse mercado no Brasil, criando novas tendências e oportunidades para as empresas. “Essa transformação afeta desde o perfil da mão de obra até os modelos de negócio e processos do setor”, enfatiza. As sete tendências para o cenário de construção civil no Brasil identificadas pelo DOT incluem: capacitação online, pois a falta de qualificação no setor tende a aumentar a busca por soluções de educação a distância; construções sustentáveis; uso de lean construction (construção enxuta), que é um modelo baseado no princípio de que nada deve ser encaminhado à produção, transportado ou comprado se não for o momento ideal e de disseminação das smart cities (cidades inteligentes). Há também a oferta de serviços agregados que, por conta do cenário de crise, pode ser uma forma de aumentar receitas, principalmente nos médios e pequenos negócios; redes colaborativas que abrangem as pequenas e médias empresas do setor de construção civil, com o intuito de aproveitar oportunidades da cooperação e a participação mais ativa das mulheres, que tem crescido significativamente nos últimos anos.


ARTIGO

ANÁLISE DE DEFORMAÇÕES OCORRIDAS EM UM MACIÇO CLASSE V DURANTE A CONSTRUÇÃO DE EMBOQUE EM SOLO GRAMPEADO PARA TÚNEL DUPLO – ESTUDO DE CASO Thiago Pereira Perez Estudante de Engenharia Civil na Universidade Nove de Julho, São Paulo (SP) thiago_0511@hotmail.com

RESUMO O presente trabalho visa fazer uma análise das deformações medidas em campo pela instrumentação geotécnica, durante a construção de um emboque em solo grampeado para túnel duplo em um maciço classe V, a obra em questão está localizada no município de Guarulhos (SP). A instrumentação e o monitoramento do maciço neste caso foi realizada a partir de leituras diárias de recalques em marcos superficiais e tassômetros, e deformações verticais através de inclinômetros instalados na zona do emboque. Ao final do trabalho será feita uma comparação entre os resultados reais medidos em campo e os valores teóricos de projeto. Palavras-Chave: Instrumentação Geotécnica; Deformações; Maciço Classe V; Emboque; Talude; Solo Grampeado; Túnel. 42 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

INTRODUÇÃO A realização da instrumentação geotécnica garante a segurança na execução de obras, especialmente em escavações, sejam em superfície ou subterrâneas. Permitindo que os parâmetros adotados no dimensionamento sejam revistos, e que medidas de reforço da estrutura sejam feitas em tempo hábil caso necessário, evitando danos permanentes ou até mesmo o colapso da estrutura. De acordo com Vallejo et al. (2002), emboques são umas das zonas mais críticas em obras de túneis, pelo fato de estarem em zonas de encostas ou zonas com menor recobrimento. Os emboques são constituídos de duas partes distintas, talude frontal e taludes laterais; que posteriormente são utilizados para construção do falso túnel, e em seguida, o túnel principal. O objetivo deste trabalho é realizar uma análise das deformações registradas em campo pela instrumentação geotécnica durante a construção de um emboque em solo grampeado para túnel duplo em um maciço classe V. A obra em questão está localizada no município de Guarulhos (SP). Será feita uma breve revisão da localização da obra, em seguida, a classificação geomecânica do maciço estudado,

seguindo a classificação de maciços RMR (Rock Mass Rating) de Bieniawski (1989). Em seguida será mostrada uma introdução sobre solos grampeados e uma caracterização resumida do emboque alvo deste trabalho. Para obtenção dos dados, foram realizadas leituras diárias de marcos superficiais, tassômetros e inclinômetros durante a fase de escavação e contenção dos taludes do emboque, da escavação das galerias laterais e por fim, das escavações dos primeiros metros das calotas de ambos os túneis. Os dados foram processados em forma de gráficos, sendo recalque (mm) x tempo (data) para os marcos superficiais e tassômetros, e profundidade (m) x deslocamento (mm) para os inclinômetros. Ao final do trabalho será realizada uma análise das deformações ocorridas no maciço, por meio de comparações entre os limites teóricos de projeto e os valores reais obtidos na obra com objetivo de avaliar o estado do maciço após a construção, e se a estrutura de contenção em solo grampeado é viável, do ponto de vista da estabilidade e segurança.

1 MATERIAIS E METODOLOGIA Para realização deste trabalho foi feita uma revisão bibliográfica dos métodos


de instrumentação geotécnica, construção de taludes e emboques para túneis em solo grampeado e escavações utilizando o NATM (New Austrian Tunneling Method). Após a revisão foi realizada uma coleta de dados referente ao projeto, tais como, investigações do subsolo na região do emboque, projeto executivo e de instrumentação. Com os dados em mãos, seguiu-se para coleta e análise dos dados da instrumentação medidos em campo durante a construção do emboque, neste caso, foram coletados dados de leituras de marcos superficiais, tassômetros e inclinômetros. Após esta coleta foi feita uma análise dos dados e em seguida uma correlação entre as fases de execução do projeto e a resposta do maciço na forma de subsidências. Feita essa análise é possível avaliar se a técnica de solo grampeado em um maciço classe V é viável em relação à estabilidade do maciço durante a construção do túnel e sua futura utilização.

1.1 Localização da obra O emboque está localizado no município de Guarulhos, em uma encosta com declividade por volta de 15°, com cobertura vegetal rasteira de pequeno porte. A encosta é parte do talvegue de drenagem que acompanha um lineamento geológico NE-SW, as seções transversais ao eixo na região indicam maior cobertura no lado do túnel externo comparado ao túnel interno, onde se tem talvegue de drenagem subparalelo ao eixo, pouco a norte do emboque, além de talvegue lateral associado a lineamento NNW-SSE. O relevo é sustentado por rochas do tipo granitoides do Complexo Embu.

1.2 Descrição do terreno De acordo com resultados obtidos por sondagens na área, o maciço apresenta características de padrão estratigráfico de colúvio sobre solo de alteração de granito milonitizado. O colúvio é composto por matacões observados em superfície e em profundidade, apresenta até 5 metros de espessura e é composto por argila silto pouco arenosa, micácea, com detritos vegetais, marrom e vermelha. O material apresenta consistência mole a média, com valores de NSPT (Índice de 43 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Resistência à Penetração) entre cinco e nove golpes. O solo de alteração de granito milonitizado é caracterizado por silte, com caulim e mica, variegado (cinza, amarelo e vermelho), com foliação milonítica reliquiares incipiente. Os valores de NSPT variam de dez golpes até índices impenetráveis à percussão, com predomínio de material medianamente compacto.

1.3 Classificação geomecânica do maciço A partir das informações do terreno, o maciço foi qualificado a partir da classificação maciços rochosos de Bieniawski (1989), RMR (Rock Mass Rating). Utilizada a tabela de classificação, chega-se a um valor de RMR 20, levando a classificar o maciço como Classe V, ou seja, qualidade muito ruim. A classificação geomecânica RMR ainda nos fornece dados geotécnicos relevantes para o projeto, como por exemplo, para um maciço de qualidade muito ruim, Classe V, a coesão é inferior a 1 kg/cm² e o ângulo de atrito é inferior a 15º.

1.4 Solo Grampeado Solo grampeado é uma técnica utilizada para estabilização taludes, com o objetivo de aumentar as forças tangenciais de atrito na superfície de ruptura. A técnica consiste em instalar elementos passivos lineares, semirrígidos, chamados de grampos. Os grampos podem ser barras ou tubos de aço, ou ainda, barras sintéticas de seção cilíndrica ou retangular. Estes elementos de reforço são posicionados horizontalmente ou inclinados no maciço, de forma a introduzir esforços resistentes de tração e cisalhamento. Segundo Ortigão e Sayão (1993), as barras de aço são instaladas em zonas estáveis do maciço, trabalhando a tração, proporcionando uma força contrária ao movimento do maciço, aumentando as tensões normais sobre a superfície de ruptura.

2.5 Caracterização do emboque

De acordo com Vallejo et al. (2002), emboques são umas das zonas mais críticas em obras de túneis, pelo fato de estarem em zonas de encostas ou zonas com menor recobrimento. Os emboques são constituídos de duas par-

tes distintas, primeiramente, taludes frontais e laterais que posteriormente são utilizados para construção do falso túnel, e o túnel principal, caracterizado pela zona de transição do talude frontal e o início dos primeiros metros do túnel principal. O emboque estudado neste trabalho (figura 1 e figura 2), é composto por três taludes, sendo dois laterais T1 e T3 e o talude frontal T2, no qual serão inseridos os túneis de aproximadamente 20 m de diâmetro máximo. A técnica utilizada para contenção do maciço foi a de solo grampeado no talude principal T2, com barras de aço 25 mm, revestido com concreto projetado de espessura 20 cm, armado com tela metálica Q246 entre camadas de 10 cm de concreto, e um sistema de drenagem composto por geocompostos lineares, DHPs (Drenos Horizontais Profundos). Na parte superior deste talude, ainda foram instalados tirantes monobarra 45tf espaçados a cada 2 m. Nos taludes laterais T1 e T3, a contenção foi realizada somente com concreto projetado de espessura 20 cm, armado com tela metálica Q246 entre as camadas de concreto. A tabela 1, mostra os valores da quantidade, distância e angulação dos tipos de pregagens utilizada na construção da contenção para o maciço. As enfilagens para os túneis são do tipo tubular injetada Schedulle 40 2.1/2” com alcance máximo de 18 m.

2.6 Túneis NATM O método de escavação de túneis NATM (New Austrian Tunneling Method) é atualmente o método mais utilizado para construção de túneis rodoviários no Brasil. Devido ao comprimento dos túneis rodoviários, que raramente são maiores do que 4-5 Km, este método apresenta-se como uma forma viável, do ponto de vista econômico, quando comparado com outros métodos construtivos. Segundo Carreira (2014), “o método consiste na escavação sequencial do maciço, utilizando concreto projetado como suporte, associado a outros elementos, como cambotas metálicas, pregagens e enfilagens, em função da capacidade autoportante do maciço”. Em função da classificação geomecâ-


nica do maciço (Classe V), os primeiros metros do emboque dos túneis abordados neste trabalho foram escavados primeiramente com a abertura de galerias laterais (Side Wall Drifts) até a zona de transição com o maciço Classe IV. Em seguida deu-se início a escavação progressiva de ambas as calotas dos túneis. A figura 3 mostrada abaixo apresenta a seção transversal padrão dos túneis escavados na região do emboque em função da classe do maciço. A área acima da linha preta mostra a escavação da calota, a área entre a linha preta e a linha verde representa a área de escavação da bancada, e a área abaixo da linha verde representa a escavação do arco invertido. Conforme a figura acima, a seção possui diâmetro máximo de 20 m, revestido com suporte primário de concreto projetado C30 e espessura de 30 cm. Com cambotas metálicas espaçadas a cada 80 cm de distância.

Figura 1 – Croqui transversal do emboque

2.7 Estimativa de deslocamentos Figura 2 – Croqui longitudinal do emboque

Tabela 1 – Quantidade de pregagens Tipo

Quantidade

Comprimento (m)

Inclinação (º)

Malha (m x m)

T1

364

12

10

1,5 X 1,5

T2

284

20

10

1,5 X 1,5

T3

58

20

0

2,0 X 2,0

T4

306

20

0

1,5 X 1,5

As estimativas de valores de recalques através de métodos semi-empíricos, podem fornecer uma informação inicial rápida a respeito dos deslocamentos, e fornecem informações iniciais, que servem como base para análise potenciais danos as estruturas acima ou adjacentes ao túnel. Peck (1969) estabeleceu por meio de análises de dados reais obtidos em obras anteriores, a equação da curva da bacia de recalques acima do túnel.

Onde, (S) representa o deslocamento vertical, (Smáx) representa o deslocamento máximo acima do eixo do túnel, (y) é a distância horizontal do ponto estudado até eixo do túnel e (i) representa a distância do ponto de inflexão em relação ao eixo do túnel. O recalque máximo (Smáx) pode ser obtido através da equação do volume de recalques:

Figura 3 – Seção transversal dos túneis escavados no maciço Classe V 44 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


O valor do ponto de inflexão (i) pode ser estimado de acordo com a equação de O´Reilly e New (1982), na qual o ponto de inflexão é aproximadamente linear em função da profundidade do túnel (H).

Onde, (H) representa a profundidade do túnel até a superfície, e valores de K podem ser estimados de acordo com os valores da tabela 2, apresentada abaixo. A geometria da bacia de recalques é definida pela seleção de valores do ponto de inflexão (i) e do volume (Vs). Os fatores que determinam o volume estão ligados com os fatores que determinam recalques em túneis, apresentados anteriormente. O termo perda de volume (Vl) ocorre na região próxima ao túnel, e pode propagar-se até a superfície causando a bacia de recalques, que pode ser entendido como o volume escavado por metro linear do túnel, e é expressado pela seguinte equação:

Figura 4 – Perfil transversal da bacia de recalques Fonte: Dimmock e Mair (2007)

Figura 5 – Perfil longitudinal da bacia de recalques Fonte: Mair e Taylor (1997)

Onde (Vt) representa a taxa estimada de perda de volume, e (Vo) representa o volume escavado do túnel. Os deslocamentos horizontais (Sh) podem ser estimados, segundo proposto por Burland et al. (2001b), assumido que ocorrem de forma radial (direcionados ao eixo do túnel), segundo a seguinte equação:

Tabela 2 – Valores típicos de K Tipo de Solo

K

Argila fissurada rija

0,4 - 0,5

Depósitos glaciais

0,5 - 0,6

Argila siltosa mole

0,6 - 0,7

Solos granulares acima do lençol freático

0,2 - 0,3

Fonte: Chapman, Metje e Stärk (2010)

Attewell (1995) sugere que os perfis longitudinais e transversais das estimativas de recalques devem ser combinados para formar um modelo 3D (figura) que representa com maior precisão, os deslocamentos na superfície, acima de um túnel escavado em solo.

2.8 Instrumentação geotécnica Segundo Rabcewicz (1974), a instrumentação e monitoramento de obras 45 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

subterrâneas fazem parte do método NATM. Quando a escavação deve ser realizada em solos, a perda de volume causada pela escavação e a alteração no equilíbrio de tensões tendem a se propagar pelo maciço, causando subsidências na superfície. Segundo Carreira (2014), “a instrumentação é instalada para conhecer os deslocamentos, deformações e pressões no maciço, além de esforços sobre elementos estruturais durante a construção”.

Conforme o projeto, a instrumentação do emboque estudado é composta por 42 marcos superficiais, nove tassômetros e três inclinômetros. De acordo com a figura 7, o croqui mostra a localização dos instrumentos. Os marcos superficiais foram instalados a 50 cm de profundidade no terreno, os tassômetros a 2 m de distância da abóbada do túnel. Estes instrumentos foram instalados respeitando uma distância de 10 m de distância hori-


Tabela 3 – Profundidade de instalação dos inclinômetros Inclinômetro

Comprimento (m)

INC-01

25

INC-02

33,5

INC-03

25

zontal e outros 10 m de distância entre as seções. Os Inclinômetros foram instalados a 3 m de distância linear da crista do talude, conforme o croqui de locação mostrado acima. A profundidade de instalação dos Inclinômetros é apresentada na tabela 3 abaixo.

Figura 6 – Perfil 3D da bacia de recalques Fonte: Attewell (1995)

Figura 7 – Croqui de locação dos instrumentos

Figura 8 – Recalques marcos superficiais túnel externo S0 e S1 46 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

3 RESULTADOS DA INSTRUMENTAÇÃO A coleta de dados realizada neste trabalho, contempla o período de construção do emboque e dos primeiros metros dos túneis, sendo que as datas são de março de 2013, na qual foram instalados os primeiros instrumentos até o final de outubro de 2015, quando as escavações dos túneis já haviam sido retomadas após um período de paralisação dos trabalhos. Os dados contidos nos gráficos abaixo, seguem um sistema de Recalque (mm) no eixo Y, e Tempo (data) no eixo X, sendo que os períodos considerados mais importantes nos trabalhos de construção foram demarcados com linhas pretas verticais nos gráficos.

3.1 Recalques dos marcos superficiais


Os primeiros marcos superficiais começaram a ser instalados a partir de 07 de novembro de 2013. As figuras 8 e 9 mostram os valores obtidos dos recalques medidos pela instrumentação do túnel externo e

as figuras 10 e 11 os recalques do túnel interno.

3.2 Recalques dos tassômetros Os tassômetros foram instalados com a construção dos taludes já em

Figura 9 – Recalques marcos superficiais túnel externo S2 e S3

Figura 10 – Recalques marcos superficiais túnel interno S0 e S1

Figura 11 – Recalques marcos superficiais túnel interno S2 e S3 47 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

andamento, e as primeiras leituras foram realizadas em 19 de março de 2014. As figuras 12 e 13 mostram os valores obtidos dos recalques medidos pela instrumentação do túnel externo e interno respectivamente.


Figura 12 – Recalques tassômetros túnel externo

Figura 13 – Recalques tassômetros túnel interno

3.3 Deslocamentos dos inclinômetros Para efeito de simplificação, devido ao fato de serem muitos gráficos serão apresentados apenas os valores acumulados dos deslocamentos dos inclinômetros ao final do período de análise deste trabalho, ou seja, outubro de 2015. Nas figuras 14 até 16 são apresentados respectivamente os dados dos inclinômetros 01, 02 e 03. Vale ressaltar que o Eixo A segue a direção N-S, e o Eixo B segue a direção E-W conforme mostra o croqui de locação dos instrumentos na figura 4.

4. ANÁLISE DOS DADOS A partir de agora o trabalho abordará como acontecem os deslocamentos 48 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

no maciço conforme a frente de escavação do túnel avança. Por fim será feita uma análise dos dados apresentados no capítulo anterior. A análise dos dados seguirá de forma conjunta para os marcos superficiais e tassômetros em relação as marcações de períodos chave mostradas nos gráficos anteriormente. Os inclinômetros serão analisados separadamente, com base nos gráficos de deslocamentos acumulados mostrados no item anterior.

4.1 Desenvolvimento dos deslocamentos no maciço Segundo Chapman, Metje e Stärk (2010), a frente de escavação do túnel afeta os deslocamentos na superfície

por volta de ± duas vezes o diâmetro do túnel, tanto para frente como para trás da frente de escavação. Os principais fatores que causam recalques na superfície durante a escavação de túneis em solo, executados pelo método NATM são: • Efeito de desconfinamento do maciço após o ciclo de avanço; • Distorção do revestimento do túnel ao sofrer o carregamento do maciço; • Perda de volume na seção, devido à sobre-escavação; • Consolidação a longo prazo do maciço, em caso de solos coesivos. Segundo Stärk (2009), existe uma sequência para o desenvolvimento dos deslocamentos no maciço, que seguem oito estágios diferentes. Esses estágios relacionam a distância da frente de escavação com a posição de um ponto de monitoramento. A figura abaixo ilustra essa ideia, ressaltando que não há unidades no modelo. No estágio 1, a frente de escavação se encontra distante do ponto de monitoramento, logo não há deslocamentos registrados. O maciço é considerado sem perturbação. No estágio 2, quando a frente de escavação avança alguns metros, os primeiros deslocamentos, embora sejam de pequena magnitude começam a aparecer no monitoramento. Nos estágios 3 e 4, a frente de escavação entra na área de influência 2D, logo o ponto de monitoramento começa a apresentar aumento significativo dos deslocamentos. Entre os estágios 4 e 5, a frente de escavação já ultrapassou o ponto de


monitoramento, porém os deslocamentos continuam a acontecer de forma acentuada. No estágio 5 é recomendado que seja instalada a primeira seção de monitoramento dentro do túnel. Entre os estágios 6 e 7, a frente de escavação começa a deixar a área de influência 2D, os deslocamentos continuam a acontecer, porém o monitoramento apresentará uma diminuição na velocidade e na magnitude dos deslocamentos. No estágio 8, a frente de escavação está fora da área de influência 2D, ponto de monitoramento começa a apresentar uma tendência de estabilidade dos deslocamentos.

Figura 14 – Deslocamentos acumulados inclinômetro 01

4.2 Níveis de alerta Segundo BTS e ICE (2004), existem dois tipos de níveis de alerta usados para controle de deslocamentos em construção de túneis: • Valores de atenção: são valores pré-­ calculados ou uma taxa de variação em algum parâmetro, que indique uma tendência anormal nos deslocamentos. • Valores de emergência: são valores que determinam uma ação imediata de verificação do funcionamento do instrumento, uma inspeção visual no campo e até paralisação temporária dos trabalhos. A seguir são apresentadas as tabelas 4 e 5 os valores teóricos para os marcos superficiais e tassômetros calculados para os recalques do maciço estudo. No seguimento do trabalho, serão feitas as análises dos recalques e dos deslocamentos horizontais ocorridos no maciço, de acordo com os dados apresentados no capítulo anterior.

Figura 15 – Deslocamentos acumulados inclinômetro 02

4.3 Análise dos marcos superficiais e tassômetros No primeiro período dos gráficos, na qual é caracterizado pelas fases de escavação e contenção dos taludes do emboque, podemos notar que os recalques medidos pelos marcos superficiais são pequenos, por volta de 10 mm no acumulado geral. Os tassômetros neste mesmo período registram recalques semelhantes entre 2 mm a 5 mm. Ao final do período de construção do emboque não foram notadas deformações 49 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Figura 16 – Deslocamentos acumulados inclinômetro 03

excessivas nestes instrumentos e o maciço se apresentava estável. No início do mês de maio de 2014 é possível notar que os recalques

aumentam de forma expressiva em um curto período de tempo. Pode-se notar que esses recalques são decorrentes do início das escavações das


Figura 17 – Desenvolvimento dos deslocamentos para um ponto de monitoramento em relação à frente de escavação Fonte: Stärk (2009)

Tabela 4 – Níveis de alerta marcos superficiais

Recalques teóricos (mm)

Marcos Superficiais

Escavação

Nível

4I/4E

3I/3E

2I/2E

1I/1E

0

Normal

29

52

82

69

57

Atenção

43

79

123

104

86

Emergência

58

105

164

139

114

Normal

39

65

96

74

62

Atenção

58

98

144

112

93

Emergência

78

131

192

149

124

Galerias

Túnel Principal

Tabela 5 – Níveis de alerta tassômetros Recalques teóricos (mm) Tassômetros Escavação Galerias

Túnel Principal

Nível

1I/1E

2I/2E

3I/3E

Normal

53

71

53

Atenção

80

107

80

Emergência

106

142

106

Normal

60

92

60

Atenção

90

138

90

Emergência

120

184

120

50 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

galerias laterais (Side Wall Drifts) dos túneis. Essas galerias foram escavadas ao longo de 35 m no túnel externo e 65 m no túnel interno. Pode-se notar que mesmo com recalques acentuados em um curto período de tempo de acordo com a tabela 4 e tabela 5 os instrumentos se mantinham dentro do limite esperado. A partir de setembro de 2014, com o início da escavação da calota, as linhas de instrumentos mostram que os recalques continuam a aumentar significativamente. De acordo com o modelo de Stärk (2009) e a influência da frente escavação de Chapman, Metje e Stärk (2010) apresentados anteriormente, pode-se notar que o incremento dos recalques é em consequência do avanço da frente de escavação. Nesse caso a calota tinha um diâmetro máximo por volta de 20 m. Logo segundo a regra proposta, a área de influência da escavação das calotas giraria em torno de 40 m para frente e 40 m para trás da face dos túneis. Os valores medidos pelos instrumentos mostram valores acumulados nos tassômetros e marcos superficiais atingindo até 175 mm e 120 mm respectivamente no túnel interno; e 90 mm, 150 mm respectivamente no túnel externo ao final deste período. Foi verificado que no túnel interno o MS 36 e o TS 02 atingiram o nível de atenção. No túnel externo nenhum instrumento excedeu os limites teóricos para este período. Nos períodos seguintes, por volta de dezembro de 2014 houve uma paralisação nas escavações dos túneis. O túnel externo estava com 57 m avançados de calota, significando que a classe do maciço se encontrava com melhor qualidade a partir dos 35 m (final das galerias). Os gráficos mostram que um pouco antes da paralisação das escavações, os recalques já apresentavam uma leve redução. O túnel interno estava com 42 m avançados de calota, o que significa que os avanços da calota ainda estavam no maciço Classe V. Devido a isso, os instrumentos registraram um valor acumulado maior dos recalques no início deste período, decorrentes do reequilíbrio das tensões no maciço.


Figura 18 – Representação da bacia de recalques com dados reais

Durante este período de paralisação, os instrumentos apresentaram comportamento com poucas variações, exceto alguns marcos superficiais das seções 2 e 3 do maciço em ambos os túneis, que apresentaram recalques entre 5 e 6 mm em poucos dias, saindo um pouco da normalidade até a presente data. Na ocasião não foi constatada nenhuma anomalia ou trincas no maciço, chegando-se a conclusão que houve apenas recalques superficiais decorrentes da chuva, associada com a imprecisão do conjunto aparelho-­ operador-clima. A partir de agosto de 2015, os trabalhos foram retomados, e foi iniciado uma etapa de tratamento para consolidação do maciço por meio de enfilagens radiais (Permeation Grouting). Com o objetivo de estabilizar totalmente o maciço e mitigar a possibilidade de recalques excessivos durante a retomada das escavações. Também foi executado o reforço do revestimento de ambos os túneis localizados no maciço Classe V. O reforço foi composto por aplicação 10 cm de concreto projetado armado com telas de aço entre camadas de 5 cm. 51 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Pode-se notar que somente em alguns instrumentos variaram, tanto em recalques, como de elevação do terreno, decorrentes das pressões de injeção das enfilagens neste período, mas nada que causasse algum dano ao emboque ou aos túneis. Quando as escavações reiniciaram, podemos notar que o maciço já não apresenta deformações excessivas e as leituras apresentam níveis constantes até a última data analisada por este trabalho. Ao final da análise foi feita uma análise da bacia de recalques (figura 18), comparando os valores dos recalques máximo (Estado de Emergência) com os valores dos recalques acumulados ao final da data que este trabalho contempla. Vale ressaltar que os túneis representados nas figuras são de caráter ilustrativo, e não possuem dimensões reais.

4.4 Análise dos inclinômetros Começando a análise pelo inclinômetro 01 é possível notar que ao final do período, o eixo A pouco se movimentou durante as escavações e mais adiante o tratamento do maciço, apresentando deslocamento máximo por

volta de 10 mm no sentido N, entre 2 e 3 m de profundidade. O eixo B por sua vez apresentou uma movimentação maior, registrando um valor máximo de 40 mm no sentido W, entre 2 e 10 m de profundidade. O inclinômetro 02 apresentou movimentações um pouco superiores ao inclinômetro 01 em relação ao eixo A, registrando um deslocamento máximo por volta de 25 mm na direção S entre 6 e 12 m. O eixo B apresentou um valor máximo de 30 mm na direção W, entre 8 e 21 m de profundidade. O inclinômetro 03 apresentou valores próximos ao do inclinômetro 02, registrando no eixo A, deslocamento máximo de aproximadamente 45 mm na direção S, sendo apenas superficial, porém é possível notar que este inclinômetro, diferente dos outros, apresentou deslocamentos consideráveis ao longo de toda sua profundidade. O eixo B apresentou um valor máximo de 25 mm na direção W, também por quase toda sua extensão.

CONCLUSÕES Em relação aos recalques, visto que para o túnel externo, onde há uma


maior cobertura e não há presença de encosta, o maciço deformou-se de forma esperada em relação aos níveis de alerta, apresentando os maiores recalques nas duas primeiras seções da instrumentação, como era esperado levando-se em consideração o tipo de material escavado naquela região e o diâmetro dos túneis. No túnel interno, o maciço apresentou deformações maiores, notou-se que nesta área ocorreram recalques além dos limites esperados nos marcos superficiais e tassômetros que estavam situados sobre o eixo do túnel (MS12, MS36, MS37, MS45 e TS01, TS02), a respeito desse fato, deve-se levantar em consideração que além da menor cobertura nessa região, o lado interno do emboque está ao lado de uma encosta na qual não foi feito nenhum trabalho de contenção. Claramente a baixa cobertura associada ao diâmetro de escavação da calota e a encosta sem contenção contribuíram para o aumento dos recalques no túnel interno, e os gráficos mostram que a cada nova etapa de escavação, o maciço se deforma rapidamente durante o reequilíbrio das tensões. Em relação aos movimentos horizontais, como não há um nível de alerta neste projeto, a análise do emboque foi feita de forma visual. Em relação ao eixo A, os inclinômetros 01 e 02 apresentaram comportamentos considerados normais, não havendo grandes deslocamentos. O inclinômetro 03 apresentou uma maior deformação no sentido do emboque, mostrando que naquela região o maciço expôs uma tendência de maior movimentação no sentido da superfície de ruptura, muito pelo fato do instrumento estar instalado no talvegue do lado externo do terreno, o que deixa claro que em períodos chuvosos, o fluxo de água seguia em grande parte para a frente do emboque. No eixo B, todos os inclinômetros apresentaram deslocamentos em direção a encosta do lado do túnel interno, sendo visível que quanto mais próximo da encosta mais se deformaram, como por exemplo, o inclinômetro 01. Ao final deste trabalho, o emboque e o maciço não apresentaram nenhum 52 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

tipo de trinca, e nenhuma tendência à ruptura, levando a hipótese de que ao final da data de análise, as movimentações superficiais no terreno ocorriam devido um escorregamento superficial do solo na direção da encosta, por consequência da própria topografia do local. É possível afirmar que a contenção por meio de solo grampeado para emboque de túneis escavados pelo método NATM mostrou-se um método eficiente e seguro para em maciços Classe V.

REFERÊNCIAS

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53 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


ARTIGO

MELHORIA DA PARCELA DE ATRITO LATERAL EM ESTACAS MOLDADAS IN LOCO Msc. Marieli Biondo Lopes, Chapecó (SC) Docente do curso de Engenharia Civil na UNOCHAPECÓ (Universidade Comunitária da Região de Chapecó) engmary@unochapeco.edu.br Dr. Mauro Leandro Menegotto, Chapecó (SC) Docente do curso de Engenharia Ambiental na UFFS (Universidade Federal da Fronteira Sul) mauro.menegotto@uffs.edu.br Eng°. Tiago Lorenzon, Engenheiro Civil, Xanxerê (SC) tiago.lorenzon@outlook.com

RESUMO Um projeto eficiente das fundações exige bom conhecimento e análise do sistema de interação solo-estaca, fazendo com que se aprimore continuamente as técnicas relacionadas a este tema. Este trabalho apresenta uma análise comparativa do desempenho da resistência ao atrito lateral em modelos de estacas moldadas in loco. Estes modelos foram confeccionados com argamassa convencional e com argamassa com dois tipos de aditivos expansores. Os resultados medidos comprovaram um aumento do atrito lateral no contato solo-estaca de 50% e 67%, o que consequentemente provoca aumento na resistência ao atrito lateral das estacas moldadas in loco. Palavras-Chaves: Estacas Moldadas in loco; Aditivo Expansor de Argamassa; Resistência por Atrito Lateral.

INTRODUÇÃO A estabilidade e prolongamento da vida útil de estruturas de pequeno e grande porte se dá, inicialmente, por um projeto de fundação bem realizado. Para tanto, é necessário que além de se obter as informações básicas de projeto (propriedades do subsolo, combinações de cargas e melhor concepção de fundação), invista-se também em avanço tecnológico na área estrutural e geotécnica, que em alguns casos, ainda emprega sistemas arcaicos tanto na execução, quanto no estudo do projeto. 54 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Destaca-se o uso de estacas do tipo moldadas in loco pela sua relação de custo x benefício, onde seu principal material constituinte é o concreto, sendo necessário que este possua características apropriadas para o seu emprego. Além da qualidade do concreto, o sistema solo-estaca também pode e deve ser otimizado, sendo uma forma por meio do aumento da resistência por atrito lateral. Décourt (1998) descreve que a mobilização do atrito lateral pode ser influenciada, principalmente, pelo comprimento e forma da estaca. O atrito lateral unitário, a partir de uma profundidade (denominada de crítica), tende a estabilizar-se. Este caso foi explicado por Vesic em 1975 (Décourt, 1998), que aferiu seus estudos no arqueamento de solos arenosos, e atribuiu valores para a profundidade crítica de 10 diâmetros para areias fofas e 20 diâmetros para areias compactas. Kulhway (1986 apud Décourt, 1998), por sua vez, é mais generalista em relação à influência do comprimento da estaca na mobilização do atrito lateral. O autor afirma que a parcela de atrito é constante entre profundidades de 6 a 20 metros, retornando a crescer posteriormente. Portanto, o sistema solo-estaca poderá ser mais adequado e econômico, se a capacidade de carga da fundação e a resistência do concreto forem suficientemente capazes de suportar os esforços oriundos da estrutura. Uma solução eficaz no melhoramento deste sistema, pode ser a adição de materiais no concreto, como, por exemplo, a introdução de aditivos expansores de argamassa, em que algumas de suas vantagens são estabelecidas por Degussa (2006), destacando-se: o aumento de aderência das misturas à base de cimento nas superfícies de contorno e o efeito plastificante e redução da relação água/cimento. Um estudo realizado no Campo Experimental do Programa de Pós-Graduação em Geotecnia da UnB (Universidade de Brasília), idealizado por Carvalho et al. (1998), procurou investigar a influência da técnica de execução na capacidade de carga de diversos tipos de estacas. Uma destas estacas ensaiadas foi concretada utilizando-se um aditivo expansor na proporção de 1% do peso de cimento, para verificar a possível variação nos resultados da capacidade de carga. Comparou-se o comportamento das estacas a partir de dois resultados: o primeiro baseado em provas de cargas do tipo lento e o segundo, baseado em


1 MATERIAIS E MÉTODOS 1.1 Análise Laboratorial As amostras de solo utilizadas para a confecção dos modelos de ensaio foram coletadas do Campus da Unochapecó, na cidade de Chapecó (SC) e representam o subsolo da região, o qual apresenta grande parcela de solo argiloso e plástico. Com as amostras foram realizados ensaios de granulometria por peneiramento e sedimentação, limite de liquidez, limite de plasticidade, teor de umidade, massa específica dos sólidos e umidade ótima de compactação, conforme as normas brasileiras vigentes citadas por Biondo (2007) e Lorenzon (2016).

1.2 Estabelecimento dos traços de argamassa Para o estabelecimento dos traços de argamassas utilizadas na confecção dos modelos de ensaio, adaptou-se um traço de concreto comumente utilizado em obras civis, substituindo a porção de brita existente por areia. Referente à quantidade de aditivo expansor de argamassa adicionado nos traços, para os modelos do Tipo I utilizou-se 2% em relação ao peso de cimento usado e, para os modelos do Tipo II, 0,5%. As diferentes porcentagens de aditivos utilizados nas duas pesquisas explicam-se pela orientação dos fabricantes, pois utilizaram-se marcas diferentes de aditivos.

1.3 Confecção dos modelos de ensaio A confecção das amostras iniciou-se pela compactação do solo, na umidade ótima, nos cilindros utilizados para ensaio de Índice de Suporte Califórnia. Após a compactação do solo nos moldes, realizou-se uma perfuração com auxílio de um trado tipo caneco com 5 cm de diâmetro, em todo o 55 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Marieli Biondo Lopes

métodos semi-empíricos, como Aoki-Velloso (1975) e Décourt-Quaresma (1978). Ao analisarem os resultados, Carvalho et al. (1998) constataram que, o uso de expansor não promoveu melhoria da capacidade de carga para o subsolo analisado (argila silto-­ arenosa, argila pedregulho-arenosa e saprólito), havendo benefício somente em relação ao recalque da estaca. Na mesma ótica, Biondo (2007) e Lorenzon (2016) estudaram o comportamento de capacidade de carga, com relação ao atrito lateral unitário, através de modelos reduzidos de estacas moldadas in loco confeccionados em cilindros de compactação de 6. Os solos analisados foram argila silto-arenosa e argila areno-siltosa. Para o primeiro caso, as estacas foram concretadas com argamassa aditivada com 2% de expansor em relação ao peso de cimento e comparadas com modelos de estacas concretadas somente com argamassa, sem aditivo. No segundo caso, as estacas foram concretadas com 0,5% de expansor, também em relação ao peso de cimento, sendo posteriormente comparadas com modelos de estacas sem aditivo. Após a concretagem das estacas, estas foram rompidas em prensa de ISC (Índice de Suporte Califórnia) para comparação dos resultados de resistência por atrito lateral.

Figura 1 – Resultado final das perfurações preenchidas em camadas por argamassa (BIONDO, 2007)

comprimento da amostra para que o modelo só apresentasse resistência por atrito lateral. Concluída a perfuração, preencheu-se o furo de um dos moldes com argamassa aditivada e outro com argamassa sem aditivo expansor (Figura 1). Os corpos-de-prova foram deixados em cura durante 14 dias para, posteriormente, realizar o rompimento destes. Utilizou-se para o rompimento, a prensa do ensaio de ISC, onde se anotaram leituras de deslocamento e carga vertical até estabelecer o limite de carga nos modelos de estacas. Tomou-se o cuidado de deixar livre a ponta dos modelos para que não apresentassem resistência de ponta. Deste modo, o atrito unitário máximo foi determinado pela razão entre a carga de ruptura e a área da superfície lateral dos modelos de estaca.

2 RESULTADOS E DISCUSSÕES 2.1 Análise Laboratorial Os resultados dos ensaios de caracterização dos solos analisados (granulometria conjunta, limites de consistência, massa específica dos sólidos e compactação) são apresentados na Tabela 1.

2.2 Estabelecimento dos traços de argamassa O traço escolhido para os estudos foi de 1:2,5, escolhidos com base no resultado de resistência à compressão, realizado pela moldagem de corpos de prova, que ficaram sob cura úmida, e posteriormente foram rompidos aos 3,7,14 e 28 dias.

2.3 Resistência dos modelos de ensaio Para verificar o aumento do atrito lateral das estacas presentes nos corpos de prova ensaiados, determinaram-se as curvas atrito unitário x deslocamento do topo, para a amostras com e sem aditivo expansor de argamassa. A Figura 2 apresenta um modelo após o rompimento na prensa, onde pode-se avaliar a movimentação da estaca por atrito lateral, estando a ponta livre.


Tabela 1 – Resultados dos Ensaios de Caracterização Ensaios

Resultados Tipo I

Tipo II

Teor de umidade (%)

9,9

5,7

Fração de Argila (%)

76,0

65,8

Fração de Silte (%)

13,0

23,8

Fração de Areia (%)

10,0

9,3

Caracterização Textural

Argila-Silto-Arenosa

Argila-Areno-Siltosa

Limite de Liquidez (%)

60,1

57,2

Limite de Plasticidade (%)

54,3

42,6

Índice de Plasticidade (%)

5,8

14,5

2,88

2,84

Umidade Ótima (%)

37,00

33,23

Massa Específica Seca Máxima (g/cm³)

1,35

1,37

Marieli Biondo Lopes

Massa específica dos sólidos (g/cm³)

Figura 2 – Detalhe da amostra após o rompimento (BIONDO, 2007)

Figura 4 – Atrito unitário x deslocamento para modelo de ensaio com argamassa aditivada com expansor

Figura 3 – Atrito unitário x deslocamento para modelo de ensaio com argamassa sem aditivo expansor

A Figura 03 apresenta o resultado dos modelos de ensaio compactados na umidade ótima e concretados com argamassa sem aditivo, ambas com traço de 1:2,5. Verifica-se que os modelos de ensaio do Tipo I apresentaram um atrito unitário máximo de 423 kPa, enquanto nos modelos do Tipo II, a resistência por atrito lateral unitário atingiu 497 kPa. Analisa-se ainda que no primeiro caso as estacas sofreram menor deslocamento quando da aplicação da carga, comparado ao segundo caso, muito embora os resultados finais tenham sido bastante semelhantes. A Figura 04, apresenta o resultado dos modelos compactados na umidade ótima e concretados com argamassa aditivada. O resultado do Tipo I foi de 706 kPa, enquanto no Tipo II o resultado máximo obtido foi de 747 kPa. Em argila-silto-arenosa com adição de 2% de aditivo o ga­

56 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


nho de resistência por atrito lateral unitário foi de 67%. Já, na argila-areno-siltosa com 0,5% de aditivo o ganho de resistência por atrito lateral unitário foi de 50%.

CONCLUSÃO Com base nos resultados apresentados no item 2.3, conclui-­ se que o aditivo expansor de argamassa mostrou-se eficiente em solos com características texturais diferentes e em porcentagem de adições de 0,5% e 2%, de marcas diferentes. Embora os valores de resistências máximas, quando as argamassas foram aditivadas com expansores, atingiram valores aproximados nos dois casos, é importante salientar que com menor porcentagem de adição (Tipo II), o deslocamento da estaca na aplicação de carga foi menor e isso pode ser explicado pela menor presença de argila, permitindo maior aderência e expansão do aditivo. Ainda, salienta-se que trabalhos continuam sendo desenvolvidos em solos de diferentes proporções texturais para verificar a eficácia da expansibilidade do aditivo em solos arenosos. Apesar dos resultados apresentarem ganho de resistência por atrito, eles também necessitam ser verificados em esta-

57 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

cas em escala real e que utilizam concretos com agregados miúdos e graúdos na composição do seu traço.

REFERÊNCIAS

BIONDO, Marieli. Verificação do sistema solo-estaca com o uso de concreto aditivado com expansor de argamassa. 2007. Monografia (Graduação em Engenharia Civil) – Unochapecó, Chapecó, SC, 2007. CARVALHO, J.C. et al. Avaliação da adaptabilidade de métodos de previsão de capacidade de carga a diferentes tipos de estacas. In: Anais de 1998, XI Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica –COBRANSEG, Brasília, DF, 1998. DÉCOURT, L. Análise e Execução de Estacas Profundas. In W. HACHICH et al. (eds.), Fundações: Teoria e Prática, 2 ed., Editora Pini, São Paulo, SP, 1998. DEGUSSA CONSTRUCTION CHEMILCALS BRASIL. Produtos, disponível em: <http://www.degussa-cc.com.br>, acesso em 19 de mar. de 2006. LORENZON, Tiago. Reanálise da Interação Solo-Estaca Moldada “In Loco” com o uso de aditivo expansor de argamassa. 2016. Monografia (Graduação em Engenharia Civil) – Unochapecó, Chapecó, SC, 2016.


O QUE HÁ DE NOVO

NOVO EQUIPAMENTO DA EMPRETEC É UTILIZADO PARA SUBSTITUIÇÃO DE TUBULAÇÃO O Terra Extractor X400 possui até 44 toneladas de força de tração e pode operar na superfície ou de “bueiro a bueiro”

A empresa Empretec Indústria e Comércio apresentou na 27ª FENASAN (Feira Nacional de Saneamento e Meio Ambiente) que aconteceu em São Paulo (SP), no mês de agosto, os mais novos equipamentos fabricados em conjunto com a empresa suíça Terra AG. Os produtos voltados à técnica de MND (Método Não Destrutivo) são destinados a diversos tipos de obras. Dentre as novidades está o equipamento Terra Extractor X400 que normalmente é usado para a substituição de tubulação, método conhecido como “Pipe Bursting”. De acordo com o executivo de vendas da Empretec, Raphael Feltrin, neste sistema a tubulação a ser substituída é quebrada e os fragmentos são compactados no solo, ao mesmo tempo em que é instalada a nova tubulação que pode ser de mesmo diâmetro ou maior que a antiga. A técnica Pipe Bursting foi desenvolvida na Inglaterra na década de 1980, inicialmente para a troca da rede de distribuição de gás. Atualmente a sua utilização ficou mais ampla, sendo empregada até para a troca de tubulações de redes de água, esgoto e efluentes industriais. A instalação de uma nova tubulação costuma ser realizada no mesmo processo de arrebentamento ou destruição da tubulação já existen58 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Tristram Biggs / Flickr

Por Dellana Wolney

Pipe Bursting

te. Os fragmentos da tubulação substituída permanecem no solo ao redor da nova tubulação instalada. Geralmente, as técnicas e ferramentas são limitadas à substituição de tubos de materiais quebradiços como ferro fundido, cerâmica, concreto não armado, cimento amianto, dentre outros, porém já é possível usar o método para tubulações em materiais dúcteis, inclusive aços. De acordo com as diretrizes dos MNDs contidas no manual da ABRATT (As-

sociação Brasileira de Tecnologia Não Destrutiva), em alguns países, o pipe bursting é chamado de “fragmentação de tubos” (Pipe Cracking). Alguns sistemas não utilizam martelo, funcionando exclusivamente com base na força de puxamento ou no acionamento de pistões hidráulicos sobre uma cabeça cônica de arrebentamento. Para o projeto e viabilização do pipe bursting deve-se levantar informações precisas sobre os materiais da rede existente, bem como do seu


Divulgação Empretec

UTILIZAÇÃO A Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) possui um equipamento Terra Extractor X400 que costuma ser usado nas substituições de redes. Um dos casos em que a companhia utilizou o equipamento foi na substituição da tubulação antiga da rua Americano esquina com rua do Bosque na cidade de São Paulo. A rede antiga era de ferro fundido e foi substituída por PEAD (Polietileno de Alta Densidade) de 75 mm. O Terra Extractor X400 foi escolhido devido a sua velocidade de substituição e por ser um equipamento compacto. Por estas características não houve a necessidade de interditar as vias de tráfego no entorno.

Divulgação Empretec

Andy Rogers

Equipamento Terra Extractor X400

Divulgação Empretec

Equipamento Terra Extractor X400 posicionado na vala para trabalho

EQUIPAMENTO

Equipamento Terra Extractor X400 com bobina de cabos

estado de deterioração. É importante, por exemplo, conhecer a eventual existência de reparos localizados e de seções com envelopamento de concreto. Os ramais e as redes auxiliares devem ser desacoplados antes da substituição da rede principal. Eles são religados à nova rede posteriormente, normalmente por uma pequena escavação. A quantidade e frequência de ligações são fatores que influenciam a viabilidade econômica do método por arrebentamento. 59 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

O Terra Extractor X400 possui até 44 toneladas de força de tração, pode operar na superfície ou de “bueiro a bueiro” com estrutura especial de caixa de passagem e em tubulação velha de diâmetro 38 mm até 254 mm por até 152 metros de distância. O equipamento ainda possui controle remoto para manuseio total automático de 480 ft/h, braçadeiras de cabos com ranhuras longitudinais e cilindro de cabo que opera simultaneamente. Mais dois equipamentos ainda compõem o X400: o Extractor e a Unidade Hidráulica. O bursting de tubulação com cabo fornece alto grau de flexibilidade. “A edição padrão vem com força de tração de 10-45 t, mas fornecemos arrebentadores de cabo com até 200 toneladas se solicitado”, enfatiza Feltrin, que ainda

acrescenta: “Embora o equipamento apresente diversas funcionalidades, há também limitações como neste caso, o diâmetro da tubulação. No Terra Extractor X400 é de 40 toneladas tendo sua limitação para tubos de até 300 mm dependendo da distância”. “A Empretec trouxe o equipamento no final de 2014 para o Brasil, após uma parceria com a Terra AG. Desde então temos fabricado 70% do Terra Extractor X400 no País com o incentivo do FINAME (Agência Especial de Financiamento Industrial), subsidiária do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). O resultado de todo o esforço é que o equipamento tem sido bem aceito no Brasil, com muitos projetos de utilização na fase final de planejamento”, pontua Feltrin.


GEOTECNIA AMBIENTAL

CARTAS DE SUSCETIBILIDADE AGORA PODEM SER ENCONTRADAS NA INTERNET A iniciativa é do IPT com a colaboração da Secretaria de Estado do Meio Ambiente de São Paulo Por Dellana Wolney

O Laboratório de Recursos Hídricos e Avaliação Geoambiental do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo) com o apoio da SMA (Secretaria de Estado do Meio Ambiente de São Paulo) disponibilizaram na internet diversas cartas de suscetibilidade que foram desenvolvidas nos últimos anos para o CPRM (Serviço Geológico do Brasil) por meio da plataforma DataGeo. A iniciativa cumpre umas das metas do PDN (Programa Estadual de Prevenção de Desastres Naturais e de Redução de Riscos Geológicos) estabelecido em 2011 com a finalidade de elaborar medidas preventivas e mitigadoras, aperfeiçoando suas ferramentas de gestão, investindo na capacitação de seus profissionais e realizando pesquisas aplicadas. O projeto das cartas teve início há quatro anos por meio de uma iniciativa do governo federal para o mapeamento de suscetibilidades, movimentos gravitacionais de massa e inundações em alguns municípios do País. A sua concepção foi um ano após a série de deslizamentos ocorridos na região serrana do Rio de Janeiro, que deixou muitos mortos e desabrigados. Nesta época, o governo divulgou que 826 municípios brasileiros estavam localizados em regiões com algum risco de 60 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

desastres, devido as suas características físicas naturais. Embora a abertura e acesso das informações ao público sejam considerados como um dos principais benefícios do projeto, a disponibilização com apoio da SMA ao trabalho do laboratório é visto como imprescindível pelos pesquisadores, pois é por meio desse canal que o instituto pode publicar e divulgar seus relatórios sempre que considerá-los relevantes. De acordo com a nota técnica explicativa do IPT, Cartas de Suscetibilidade a Movimentos Gravitacionais de Massa e Inundações – 1:25.000”, o conhecimento prévio das suscetibilidades dos terrenos à geração e desenvolvimento de fenômenos e processos do meio físico, em que a dinâmica pode ocasionar desastres ambientais é de grande importância aos municípios, contribuindo para o planejamento do uso e ocupação do solo, controle da expansão urbana, avaliação de cenários potenciais de riscos e, ainda, no âmbito regional, auxílio na elaboração de zoneamentos ecológico-econômicos. O documento diz ainda que a caracterização do grau de suscetibilidade a determinado processo do meio físico em uma área específica deve impor as correspondentes medidas de restrição à ocupação, de modo a evitar

a formação de novas áreas de risco, bem como induzir o desenvolvimento de normas técnicas e práticas que possam assegurar o uso adequado do solo em áreas não ocupadas e fomentar ações voltadas à redução de riscos em áreas ocupadas, especialmente nas urbanizadas.

METODOLOGIA Por se tratar de um processo continuado, os dados para o desenvolvimento das cartas de suscetibilidade disponíveis no DatagGo são frequentemente atualizados pela equipe do laboratório. Os pesquisadores estão se dedicando atualmente aos estudos que contemplarão os municípios de Apiaí e Iporanga, ao sul do Estado de São Paulo. Cidades como Conchas e Cesário Lange, a oeste, e Cananeia, no litoral sul paulista, estão tendo seus dados organizados para a disponibilização. Utilizando este método, a CPRM já mapeou 212 municípios, enquanto o laboratório do IPT realizou o trabalho em outros 111, sendo 47 no Estado de São Paulo e os demais nos Estados de Minas Gerais, Espírito Santo, Paraná e Santa Catarina. Todas foram elaboradas com o intuito de prevenir desastres naturais como os que aconteceram no Rio de Janeiro no ano de 2011.


Fotos: Divulgação CPRM

Aspecto geral das Cartas Geotécnicas

A pesquisadora Ana Candida Cavani afirma que o laboratório tem duas metas a cumprir no PDN: a publicação no DataGeo das cartas de suscetibilidade e também de todas as cartas geo­técnicas já elaboradas pelo IPT até o final de 2018. Uma organização para a publicação já está sendo feita, o que significa a adequação ao padrão necessário para inserção no DataGeo. “Cerca de 60 cartas geotécnicas podem ser encontradas nos mais diferentes formatos. Recentemente, fomos convidados pela EMPLASA (Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano S.A), instituição pública vinculada a Secretaria Estadual da Casa Civil, a disponibilizar os mes61 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Para consultar as cartas de suscetibilidade elaboradas pelo laboratório nos municípios paulistas basta acessar a página do DataGeo, da Secretaria do Meio Ambiente: http://datageo.ambiente.sp.gov.br/app/?ctx=DATAGEO ou no IDE-SP: http://www.idesp.sp.gov.br/Visualizador Todas as cartas elaboradas para os municípios brasileiros também podem ser acessadas no site da CPRM: www.cprm.gov.br

mos dados na IDE-SP (Infraestrutura de Dados Espaciais do Estado de São Paulo)”, conta Cavani.

CARTA GEOTÉCNICA Trata-se de uma ferramenta de planejamento que surgiu há mais de um

século em países da Europa. Elas integram dados e informações básicas sobre as características geotécnicas dos terrenos em uma determinada área e suas possíveis interações com as intervenções humanas relacionadas ao processo de uso e ocupação do solo.


Aspecto geral das Cartas de Suscetibilidade a Movimentos Gravitacionais de Massa e Inundações

No século XVIII, os dados e informações reunidos tinham a finalidade de subsidiar a construção de obras de engenharia, mas só a partir do século XX, as cartas geotécnicas passaram a incluir também conteúdos destinados a contribuir nas atividades de planejamento e ordenamento territorial, bem como na gestão de riscos e na prevenção de desastres naturais. A carta geotécnica apresenta-se na forma de um documento cartográfico, elaborado por meio de trabalhos de mapeamento realizados em campo e laboratório. Elas resumem o conhecimento do meio físico e seus processos geodinâmicos atuantes, bem como as recomendações sobre medidas estruturais e não estruturais que devem ser adotadas para que eventuais intervenções no ambiente sejam realizadas de maneira adequada às características geotécnicas dos terrenos. A primeira carta geotécnica de áreas urbanas publicada no Brasil foi elaborada pelo IPT em 1980, na escala geográfica aproximada de 1:5.000 e 62 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

abrangia a região dos morros das cidades litorâneas de Santos (SP) e São Vicente (SP). Desde então, muitas outras cartas geotécnicas de interesse municipal foram realizadas no País, contemplando áreas urbanas e rurais,

em pequenas, médias e grandes cidades. Estes documentos também podem ser denominados de cartas geoambientais, dependendo do enfoque adotado em sua elaboração, sobretudo quando salientam aspectos ambientais.


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LIVRO CONTENÇÕES: TEORIA E APLICAÇÕES EM OBRAS Autores: Bernadete Ragoni Danziger, Denise M. S. Gerscovich e Robson Palhas Saramago Editora: Oficina de Textos Ano: 2016

Consideradas como etapas fundamentais em diversos projetos de engenharia, como rodovias, ferrovias, pontes, barragens, usinas, entre outras obras, as contenções são construídas com o objetivo de propiciar estabilidade contra a ruptura de maciços, além de evitar possíveis escorregamentos causados pelo próprio peso ou por acidentes externos. Seja como muros de arrimo, cortinas de estaca e paredes de diafragma, elas representam uma parte clássica da engenharia geotécnica. Para tratar mais profundamente este tema, os engenheiros Bernadete Ragoni Danziger, Denise M. S. Gerscovich e Robson Palhas Saramago desenvolveram o livro “Contenções: teoria e aplicações em obras”. Composto por 240 páginas, o livro aborda questões de projeto e construção de obras de contenção. A publicação mostra a estimativa de empuxos de terra em variadas condições de solicitação impostas pela obra, com ênfase na estrutura de contenção, sequência construtiva e escavações. Os autores apresentaram o papel essencial das investigações para obras de contenção, além das aplicações que podem ser realizadas. Ao longo do livro são exibidos tipos de obras do gênero, como muros de arrimo e contenção dos mais diversos tipos e materiais, sejam tradicionais, não convencionais, como solo reforçado e cortinas atirantadas. Também são exibidos os movimentos associados a escavações, verificação de estabilidade, além do dimensionamento das estruturas de contenção analisadas. Dividido em duas partes, com oito capítulos, o livro expõe ainda métodos clássicos e avanços da área, com exemplos de cálculo e várias ilustrações com teor didático para as estruturas apresentadas. A publicação está disponível em versão física, e-book e ainda pode ser adquirida por capítulos, que também são vendidos separadamente.

Para comprar as obras indicadas nesta seção, envie um e-mail para assinatura@revistafundacoes.com.br

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AGENDA BRASIL 21 A 23 DE MARÇO DE 2017 BRAZIL ROAD EXPO

São Paulo, São Paulo www.brazilroadexpo.com.br

Em sua última edição, o evento reuniu aproximadamente 4.000 visitantes e 100 marcas expositoras. É um encontro tradicional para profissionais da área de infraestrutura viária e rodoviária, e tem como objetivo discutir pavimentações e apresentar soluções que possibilitem um avanço neste cenário. O congresso exibirá novidades dos fabricantes, apresentará os produtos para construção e manutenção de pontes, túneis, viadutos, além de materiais para a pavimentação em asfalto e concreto. Os participantes poderão conferir itens para drenagem, contenção de encostas, sistemas e produtos para segurança.

3 DE ABRIL DE 2017

4º CBTE SEMINÁRIO INTERNACIONAL “LATIN AMERICAN TUNNELING – LAT 2017

São Paulo, São Paulo

http://4cbt.tuneis.com.br/index.php

Um dos mais esperados eventos do setor tuneleiro na América Latina, o evento acontece simultaneamente ao 9th International Symposium on Geothecnical Aspects of Underground Construction in Soft Ground. Durante o seminário serão apresentados 17 temas voltados para os profissionais envolvidos com a área de estruturas subterrâneas, por meio de debates, troca de experiências, exibição de novas tecnologias, com tendências do setor de projeto, construção, manutenção e operação. Haverá ainda a realização de um curso de atualização e aprimoramento no segmento de túneis.

04 A 08 DE ABRIL DE 2017 FEICONBATIMAT 2017

São Paulo, São Paulo www.feicon.com.br

Com mais de 20 anos de existência, o evento permite que diversos setores da área da construção civil possam expor seus produtos como: máquinas, tintas, solventes, revestimentos, além de alguns acessórios de decoração, como artigos de louça sanitária, por exemplo. Os participantes podem conferir as tendências e lançamentos da área da construção civil. O evento é voltado para engenheiros, arquitetos e profissionais envolvidos com o setor.

9 A 11 DE MAIO DE 2017 MUNDO GEO CONNECT

São Paulo, São Paulo

mundogeoconnect.com/2017/

dústria se une para compartilhar os desenvolvimentos em engenharia e de tecnologias geotécnicas. Ao longo dos quatro dias de evento haverá mais de 200 exposições, com cursos de curta duração, painéis de discussão, palestras de formação e trabalhos técnicos apresentados por especialistas do ramo.

Realizado anualmente pela empresa MundoGEO, grupo que atua no segmento geoespacial e de drones, o evento é considerado um dos maiores do segmento. Em sua última edição, o encontro reuniu especialistas, empresários, pesquisadores de vários países da América Latina e demais continentes, com a presença de mais de 3.200 pessoas e 120 palestrantes.

21 E 22 DE MARÇO DE 2017

16 A 18 DE MAIO DE 2017

Melbourne, Austrália

XXXI SNGB – SEMINÁRIO NACIONAL DE GRANDES BARRAGENS

Belo Horizonte, Minas Gerais http://bit.ly/2dKYL5D

Durante três dias, a capital de Minas Gerais sediará um dos mais tradicionais encontros da área de barragens no Brasil. Entre os principais temas que serão apresentados aos participantes, destacam-se o bloco dos benefícios ambientais causados por barragens e reservatórios, que mostrará aspectos como a redução do uso de usinas termelétricas geradoras de gás efeito estufa, por exemplo. Também será colocada em pauta a avaliação econômica de barragens e empreendimentos hidráulicos, com estudos de caso, entre outros temas relacionados.

PILED FOUNDATIONS & GROUND IMPROVEMENT TECHNOLOGY FOR THE MODERN BUILDING AND INFRASTRUCTURE SECTOR http://bit.ly/2bcy9qP

A conferência abrangerá estacas em fundações e obras de melhoramento do solo associado à evolução de construção e infraestrutura, além de incluir requisitos de retenção para porões. Os palestrantes compartilharão suas experiências, aspectos de concepção, construção e desempenho para trabalhar com estacas, além de abordar a melhoria do solo e técnicas para construção e obras de infraestrutura.

29 DE MARÇO A 01 DE ABRIL DE 2017 ISM 2017: MICROPILES RESISTING AND REMEDIATING THE EFFECTS OF MOTHER NATURE

Vancouver, Canadá

EXTERIOR 4 A 6 DE JANEIRO DE 2017

INTERNATIONAL PERSPECTIVE ON WATER RESOURCES AND THE ENVIRONMENT CONFERENCE

Wuhan, China

http://bit.ly/2b7gund

A conferência tem como objetivo apresentar uma variedade de tópicos relacionados à gestão de recursos hídricos ambientais e sustentáveis. Também haverá sessões técnicas sobre os países desenvolvidos e em desenvolvimento. Entre os temas que serão explorados nas palestras, destacam-se a modelagem e gestão dos pantanais; tratamento de águas residuais; problemas e soluções de abastecimento de água, entre outros.

12 A 15 DE MARÇO DE 2017 GEOTECHNICAL FRONTIERS

Orlando, Estados Unidos geotechnicalfrontiers.com/

Realizada a cada seis anos, a feira é o local onde a in-

http://bit.ly/2btGTdV

Organizado pela ISM (International Society for Micropiles), pela ADSC (International Association of Foundation Drilling) e pelo DFI (Deep Foundations Institute), o evento retorna à América do Norte. O workshop manterá o formato tradicional, com sessões sobre aspectos da tecnologia de microestacas. Haverá também uma competição internacional de microestacas que selecionará o melhor projeto do gênero no mundo.

06 A 08 DE ABRIL DE 2017 STRUCTURES CONGRESS

Colorado, Estados Unidos www.structurescongress.org

Direcionado para engenheiros estruturais e civis, proprietários de negócios, pesquisadores, professores e estudantes, o evento terá sessões técnicas que darão ao participante DPS (Horas de Desenvolvimento Profissional), com o propósito de atender às necessidades da comunidade de engenharia estrutural. Oferecerá ainda oportunidades de trocas de contatos e ao mesmo tempo estimulará o entendimento entre a academia e a prática de engenheiros.

15 A 19 DE JULHO DE 2017 GEOMEAST 2017

Sharm El-Sheik, Egito

6 DE ABRIL DE 2017 9TH INTERNATIONAL SYMPOSIUM ON GEOTECHNICAL ASPECTS OF UNDERGROUND CONSTRUCTION IN SOFT GROUND

São Paulo, São Paulo is-saopaulo.com/welcome.php

Evento tradicional da área, sua próxima edição acontece no Brasil, país com necessidades e potencial de construção subterrânea. Especialistas do mundo inteiro se reunirão em São Paulo para apresentar e debater as contribuições e experiências na construção subterrânea em terreno macio (soft ground). A convenção ocorrerá simultaneamente ao Seminário Latino-Americano e o 4º CBT, encontros que juntos já somaram mais de 600 especialistas locais e internacionais.

65 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

www.geomeast2017.org/En/

Organizado pelo SSIGE (Soil-Structure Interaction Group in Egypt) e apoiado por organizações profissionais internacionais da área de construção, o evento tem como objetivo compartilhar conhecimentos para solucionar os problemas que podem surgir em estradas, estruturas de pontes, calçadas, materiais, melhorias no solo, encostas, escavações, barragens, canais e túneis, explicando os tipos de tecnologias existentes. O evento irá apresentar os mais recentes desenvolvimentos e avanços na concepção, construção e inspeções de segurança das infraestruturas de transporte.



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