Revista Fundações Ed.76

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Revista FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS www.revistafundacoes.com.br

Ano 7 Nº 76 R$ 27,00

Janeiro de 2017

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Ano 7 – Nº 76 – Janeiro de 2017

COMPARTIMENTAÇÃO TERRITORIAL FEITA EM LORENA VISA INDIVIDUALIZAR AS DIFERENTES UNIDADES PAISAGÍSTICAS EM FUNÇÃO DO POTENCIAL PARA OCUPAÇÃO TRATAMENTO DE CONSOLIDAÇÃO EM SOLO GRAMPEADO UTILIZA INJEÇÕES DE FLUIDOS CIMENTANTES



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COMPARTIMENTAÇÃO TERRITORIAL FEITA EM LORENA VISA INDIVIDUALIZAR AS DIFERENTES UNIDADES PAISAGÍSTICAS EM FUNÇÃO DO POTENCIAL PARA OCUPAÇÃO TRATAMENTO DE CONSOLIDAÇÃO EM SOLO GRAMPEADO UTILIZA INJEÇÕES DE FLUIDOS CIMENTANTES Capa 1.indd 1

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Ano 7 – No 76 – JANEIRO 2017

PRÓXIMAS MUDANÇAS Na edição de número 77 da revista que será publicada no mês de fevereiro, traremos um projeto gráfico renovado que tem como objetivo repaginar o aspecto visual da revista. Recentemente na edição especial de número 73, nós fizemos algumas experiências para uma possível troca, e circulou no COBRAMSEG (Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica) 2016. Nossa proposta com esse novo layout é atualizar o projeto e também aproveitar o momento de transformações para inserir e trocar seções. A partir da edição 77 teremos uma nova seção intitulada “Memória de Cálculo”, coordenada pelo professor Uberescilas Polido, o espaço terá periodicidade bimestral e irá apresentar, como o próprio nome diz, a memória de cálculo de projetos e vertentes importantes para a mecânica dos solos. Nos próximos meses também faremos algumas alterações em nossos manuais de orientação para facilitar o processo de publicação de artigos na revista, estamos elaborando a entrada de uma nova seção sobre riscos geológicos e geotécnicos e repaginando algumas seções já existentes. Para que possamos melhorar ainda mais a nossa revista, gostaria de contar com a participação de vocês leitores para saber o que gostariam de ver em nosso veículo e quais sugestões de inserção ou troca de seções teriam a nos passar. Aqueles que puderem colaborar com comentários, críticas e sugestões, peço, por favor, que enviem para o e-mail: glessia@revistafundacoes.com.br Conto com a participação de todos! Gléssia Veras Editora-chefe FOTOS DO 5º E 6º PRÊMIO MILTON VARGAS

Disponibilizamos em nosso Flickr as fotos do 5º e 6º Prêmio Milton Vargas. Link: https://flic.kr/s/aHskQ6kmf6 Por meio desse link é possível visualizar as fotos e fazer o download de qualquer uma delas, inclusive em alta resolução. Essas fotos estão liberadas por parte da editora para uso em qualquer meio desde que respeitados os seguintes critérios: - Não realizar fotomontagem com nenhuma das imagens, distorcendo seu conteúdo original; - Ao utilizar as fotos citar os créditos “Créditos para uso da foto: Munir Ahmed / Editora Rudder (5º e 6º Prêmio Milton Vargas)” 1 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


2 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


SUMÁRIO

Ano 7 – Nº 76 – Janeiro de 2017

38 |

64 |

10 | 04 | O setor em números 07 | Jogo Rápido 09 | Coluna do conselho 10 | DESTAQUE – Seminário

24 | Reportagem –

52 | Artigo – Qualidade

28 | Espaço Aberto

64 | O QUE HÁ DE NOVO

Tratamento de consolidação em solo grampeado utiliza injeções de fluidos cimentantes

traz reflexões sobre os desafios da industrialização da construção civil

34 | Geo Academy democratiza

14 | Notas

38 | Os desafios da GESTÃO DE

conhecimentos sobre aplicação dos geossintéticos

de amostragem de solo compressível

– Boart Longyear traz para o Brasil tecnologia de perfuração sônica

68 | Geotecnia Ambiental –

PESSOAS na engenharia civil

Compartimentação territorial é feita em Lorena

Dinelli de Azevedo

42 | Artigo – Compactação

72 | Livro

22 | História

como Método de Melhoria de Solo Colapsível

73 | Agenda

16 | Entrevista – Cássia Maria


O SETOR EM NÚMEROS

ESTUDO DA SOBRATEMA DO MERCADO BRASILEIRO DE EQUIPAMENTOS PARA CONSTRUÇÃO 2016/2017

4 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


Por Dafne Mazaia

Ex-mini; miniescavadeiras e skid steers

5 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Divulgação FGV (Fundação Getulio Vargas)

Primeiro semestre negro: 4 em cada 5 construtoras/locadoras relataram volume de negócios abaixo de 2015. Em março, o Grupo de Dealers já previa vendas 36% abaixo de 2015 (linha amarela, isto é, equipamentos de movimentação de terra)


6 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

tenham a confiabilidade necessária bem como a segurança jurídica para participar dessas concessões”, explica. Ele ainda ressalta que os equipamentos como caminhões rodoviários, retroescavadeiras, pás carregadeiras e escavadeiras hidráulicas devem continuar a ser bem vendidos no próximo ano. Divulgação Sobratema

Para o vice-presidente da Sobratema (Associação Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração), Eurimilson Daniel, o setor está mais confiante para 2017, com uma expectativa de retomada, devido a algumas ações do Governo Federal. “Nossa expectativa é que 2017 seja um ano melhor para todo o setor, incluindo a área de equipamentos para construção, cuja estimativa é de um crescimento de 7% na linha amarela e 8% nas máquinas usadas no setor. Essa projeção de retomada está ligada aos esforços do governo para o lançamento de novos pacotes de concessões, o que vai contribuir para a melhoria da infraestrutura no País, para o retorno das obras e para que a economia volte a crescer”, pontua. Ele acrescenta que há uma expectativa para que soluções apareçam, porque elas proporcionarão um aumento na confiabilidade e também na segurança jurídica. “Neste momento, nossa expectativa é que o governo encontre soluções para a realização dos investimentos e defina regras claras neste processo, a fim de que os investidores, as construtoras, os fornecedores

Eurimilson João Daniel é graduado em administração de empresas pela Universidade de Mogi das Cruzes e possui pós-graduação em gestão de empresas pelo Instituto Municipal de Ensino Superior de São Caetano do Sul. Desde o início dos anos 1990 é associado da Sobratema e atualmente é o vice-­ presidente da associação.


JOGO RÁPIDO

PRODUTO SUSTENTÁVEL NA ESTRADA DE BELMONT A tecnologia se aproxima da construção cada vez mais, seja com equipamentos de grande porte ou com soluções químicas. O DER-RO (Departamento Estadual de Estradas de Rodagem, Infraestrutura e Serviços Públicos de Rondônia está realizando testes com o solo cola, produto capaz de enrijecer solos, geralmente empregado em bases e sub-bases de pavimentos viários. Os experimentos foram aplicados na Estrada de Belmont, em Porto Velho, que está sendo asfaltada pelo Governo de Rondônia. A rodovia será a primeira a ser pavimentada com o solo cola. Conforme o diretor-geral do DER-RO, Ezequiel Neiva, a tecnologia possui inúmeros benefícios, desde a melhora do desempenho da obra, proteção e redução de custos. “O uso do solo cola elimina o emprego de enormes volumes de materiais granulares nobres, como britas industrializadas e/ou cascalho, materiais cada vez mais escassos e difíceis para aquisição, deposição e distribuição nas obras”, explica. Além dessas vantagens, o produto ainda possibilita mais produtividade, resistência na capacidade asfáltica e economia tanto na carga horária dos envolvidos na obra, assim como diminuição de custos na execução do empreendimento. O solo cola também é de tecnologia sustentável, com uma produção química por nanotecnologia.

Fotos: Banco de Imagens / Free Images

LAUDO DA TRAGÉDIA DE MARIANA

Por Dafne Mazaia

Aplicativo do PAC Em abril de 2016 foi lançado o aplicativo do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). A tecnologia possui dados sobre empreendimentos em todos os Estados brasileiros e do Distrito Federal, com o objetivo de ampliar a transparência das ações do PAC, para que o cidadão consiga acessar de forma simples as informações do programa do Governo Federal. Desenvolvido pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, em parceria com o COPPE / UFRJ (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro), o aplicativo utiliza o georreferenciamento e por meio dele consegue informar o usuário a localização das obras, os valores, o andamento dos projetos, assim como o órgão responsável pela execução dos empreendimentos. A ferramenta também disponibiliza imagens dos projetos, além de vídeos e áudios com mais informações do Programa de Aceleração do Crescimento, entre outros dados relacionados. O aplicativo é gratuito e está disponível para download nas lojas Google Play (do sistema operacional Android) e na App Store (de dispositivos IOS).

Há mais de um ano a cidade de Mariana, em Minas Gerais, vivia a sua maior tragédia: o rompimento da barragem de Fundão, que transformou a região em um mar de lama. Ao todo, 11 mil pessoas foram prejudicadas pelo desastre. Meses depois do acidente, dados revelam que a ruptura foi causada por vários fatores que remontam a 2009. As informações foram apresentadas no final de agosto de 2016 pela Comissão Internacional contratada pela Samarco, empresa responsável pela barragem. O relatório mostra que no período de 2009 foram observados erros na construção do dreno de fundo, que levaram à revisão do projeto. Além disso, foi necessária a construção de um tapete drenante, entre os anos de 2011 e 2012, para controlar a saturação do reservatório. O laudo apresenta que nessa época ocorreu um acidente que fez com que a água chegasse a 60 metros da crista da barragem e não a 200 metros, como era previsto inicialmente. Liderada pelo engenheiro da Universidade de Alberta (Canadá), Norbert Morgenstern, a comissão elaborou o relatório, que contém estas informações e mais detalhes sobre a obra. O laudo está disponível integralmente no link: fundaoinvestigation. com/. O rompimento da barragem deixou 19 pessoas mortas e um funcionário da Samarco nunca foi encontrado. 7 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


www.revistafundacoes.com.br Rua Leopoldo Machado, 236 Vila Laís CEP: 03611-020 São Paulo - SP Telefone: (11) 2641-0871 / (11) 95996-6391*

*Telefone celular com atendimento também por WhatsApp: das 10h às 18h

CONSELHO EDITORIAL São Paulo • Paulo José Rocha de Albuquerque • Roberto Kochen • Álvaro Rodrigues dos Santos • George Teles • Paulo César Lodi José Orlando Avesani Neto • Eraldo L. Pastore • Sussumu Niyama • Fernando Henrique Martins Portelinha Minas Gerais • Sérgio C. Paraíso • Ivan Libanio Vianna Pernambuco • Stela Fucale Sukar Bahia • Moacyr Schwab de Souza Menezes • Luis Edmundo Prado de Campos Rio de Janeiro • Bernadete Ragoni Danziger • Paulo Henrique Vieira Dias • Mauricio Ehrlich • Alberto Sayão • Marcio Fernandes Leão Distrito Federal • Gregório Luís Silva Araújo • Renato Pinto da Cunha • Carlos Medeiros Silva • Ennio Marques Palmeira Rio Grande do Sul • Miguel Augusto Zydan Sória • Marcos Strauss Rio Grande do Norte • Osvaldo de Freitas Neto Espírito Santo • Uberescilas Fernandes Polido

www.revistafundacoes.com.br Fundador e idealizador Francisjones Marino Lemes (in memoriam) Coordenação editorial e marketing Jenniffer Lemes (jenni@revistafundacoes.com.br) Colaboradores Gléssia Veras (Edição); Dellana Wolney, Dafne Mazaia (Texto); Rosemary Costa (Revisão); Elisa Gomes (Arte); Melchiades Ramalho (Artes Especiais) Contatos Pautas: glessia@revistafundacoes.com.br Assinaturas: assinatura@revistafundacoes.com.br Publicidade: publicidade@revistafundacoes.com.br Financeiro: financeiro@revistafundacoes.com.br Foto de capa Arquivo Carlos Gamba Impressão Gráfica CompanyGraf Importante A Revista Fundações & Obras Geotécnicasé uma publicação técnica mensal, distribuída em todo o território nacional e direcionada a profissionais da engenharia civil. Todos os direitos reservados à Editora Rudder. Nenhuma parte de seu conteúdo pode ser reproduzida por qualquer meio sem a devida autorização, por escrito, dos editores A revista Fundações & Obras Geotécnicas segue o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Esta publicação é avaliada pela QUALIS, conjunto de procedimentos utilizados pela CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e encontra-se atualmente com classificação B4.

IMPORTANTE: as seções “Coluna do Conselho” e “Artigo” são seções autorais, ou seja, tem o conteúdo (de texto e fotos) produzido pelos autores, que ao publicarem na revista assumem a responsabilidade sobre a veracidade do que for exposto e o devido crédito as fontes utilizadas.

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COLUNA DO CONSELHO

UMA CRISE SEM PRECEDENTES: A ADEQUAÇÃO DAS EMPRESAS DE GEOTECNIA E SUA VALORIZAÇÃO PELO CONTRATANTE

Vivemos uma crise sem precedentes na história brasileira. Enquanto as grandes empreiteiras e seus corruptos e corruptores depredavam o patrimônio público, e ainda o fazem, continuam a desmerecer os serviços executados pelas empresas altamente especializadas, na geotecnia e em todos os segmentos. Os lucros auferidos pelas empresas em cima de nosso trabalho, muito especializado, sempre foram enormes e a nossa contratação é geralmente aviltada. Quando o contratante lhe chamar de “parceiro” desconfie, pois a parceria só funciona em via única e nunca será para te privilegiar. Muitas empresas do setor geotécnico passam por dificuldades, por trazer para o país o que há de mais moderno em equipamentos e tecnologia e aqui, quando são contratadas, têm sempre depreciada a remuneração dos serviços oferecidos. É quando o sonho de oferecer uma tecnologia “high tech” se transforma em pesadelo e vemos o que construímos durante décadas ir para o ralo. A redução do tamanho das empresas de geotecnia nos últimos dois anos é maior do que 50%. Obviamente acompanhou o ritmo de redução de obras provocado pela recessão que nos sufoca. Quando os prejuízos se acumulam é hora de recusar e rescindir determinados contratos, seguir em frente focando nas empresas que valorizam os nossos serviços, que pagam preços justos e não arriscam quando subpre-

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Arquivo pessoal

GEORGE TELES

ços lhes são oferecidos. As empresas sérias do setor geotécnico garantem a execução do serviço contratado, obedecendo religiosamente o projeto, elas querem e merecem o respeito de seus contratantes. Sempre procuramos adaptar os equipamentos existentes no mercado para a execução de determinados serviços, procurando assim atender ao setor, sem fazer extravagâncias, trabalhando com austeridade, pois com isto conseguiremos sair desta crise mais fortes. Por uma questão de sobrevivência, abrimos mão durante os últimos dois anos de colaboradores qualificados e vimos nossa equipe técnica minguar. Amigos de dez, quinze e vinte anos de empresa foram excluídos por diversos critérios,

sendo o principal deles a preservação da empresa como um todo, sua sobrevivência no mercado e a preservação dos colaboradores remanescentes. Não pensem que é fácil para um dirigente cortar colaboradores, não pensem que é fácil ver o seu escritório ser esvaziado e não pensem que é fácil ver os seus equipamentos encostados no depósito, sem trabalho. Administrar uma empresa nestes tempos de crise é uma prática cotidiana de escolhas muito difíceis, que terminam nos engrandecendo. Este engrandecimento é maior quando os colaboradores que ainda nos brindam com sua presença, nos trazem ideias para melhorar os nossos processos executivos, melhorando por consequência nossa produtividade e diminuindo nosso custo de gestão e produção. Esperamos que esta adequação termine por aí e que o novo governo adquira a confiança dos investidores e que o nosso Brasil retome o seu caminho de desenvolvimento. A esperança persiste em todos. Esperamos que as “sanguessugas” da nação sejam definitivamente eliminadas de nosso convívio.

George Joaquim Teles de Souza é engenheiro civil, graduado em 1976 pela EPUFBA (Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia). Gerencia a execução de obras geotécnicas em geral e de túneis, e é diretor da Solotrat Engenharia Geotécnica Ltda., com filiais em São Paulo, Centro-Oeste e Nordeste.


DESTAQUE

SEMINÁRIO TRAZ REFLEXÕES SOBRE OS DESAFIOS DA INDUSTRIALIZAÇÃO DA CONSTRUÇÃO CIVIL Em sua sétima edição, o evento reuniu cerca de 100 participantes que também discutiram as perspectivas futuras do setor

A ABCIC (Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto) promoveu no dia 22 de setembro de 2016 o 7º Seminário Internacional ABCIC, cujo tema central foi “Inovação e Ousadia para Vencer os Atuais Desafios e Gerenciar o Futuro”. O evento que reuniu palestrantes nacionais e internacionais faz parte da Jornada Internacional ABCIC 2016 Estruturas Pré-Moldadas de Concreto. No dia 23 de setembro, complementando a Jornada Internacional, também aconteceu o Curso Internacional ABCIC-FIB, que é uma iniciativa conjunta da associação com a FIB (Federação Internacional do Concreto). Cerca de 100 participantes estiveram presentes ao longo desses dois dias, dentre eles: engenheiros, arquitetos, técnicos, empresários da indústria de pré-fabricados de concreto, pesquisadores, acadêmicos da área de engenharia e profissionais ligados à construção civil. O seminário contou com a presença do engenheiro e diretor de tecnologia da construtora Sumitomo Mitsui Construction (Japão), Akio Kasuga; com o secretário-­ geral da FIB e membro da Comissão 6 de Pré-Fabricados de Concreto, David Fernandez-Ordoñez; com o diretor-proprietário da Commercial Design and Concepts, membro da Comissão 6 e coordenador do Grupo de Trabalho de Edifícios Altos TG 6.7 da FIB, George Jones; com o consultor de Planejamento Estratégico da ABCIC, Gerson Ishikawa e com o arquiteto, sócio da EGT Engenharia e professor da FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo), Paulo Eduardo Fonseca de Campos. Todos eles trouxeram temas relevantes e atuais como sustentabilidade e novas tecnologias, como o BIM (Building Information Modelling). A inovação como indutora do desenvolvimento da pré-fabricação, o futuro da ati10 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Fotos: Divulgação ABCIC

Por Dellana Wolney

Cerimônia de abertura do 7º Seminário Internacional ABCIC

vidade no Brasil, evolução das normas técnicas, uso do pré-fabricado em outros países e a atuação dos representantes brasileiros na FIB foram os tópicos que predo-


Da esquerda para a direita: David Fernandez-Ordoñez, Íria Doniak, George Jones e Akio Kasuga

minaram nos debates entre os palestrantes e participantes do seminário.

1

Da esquerda para a direita: Akio Kasuga, Íria Doniak, David FernandezOrdoñez, Marcelo Waimberg, George Jones e Gerson Ishikawa

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PARCERIAS INSTITUCIONAIS A abertura do seminário e da jornada foi realizada pela engenheira e presidente-­ executiva da ABCIC, Íria Doniak que ressaltou os desafios presentes hoje no setor, a melhor forma de vencê-los para reconstruir o segmento, bem como o papel da ABCIC no auxílio 1 Íria Doniak durante o seu pronunciamento • 2 David Fernandez-Ordoñez durante a sua palestra • 3 George e processo de reconstrução do mercado. Doniak tam- Jones durante a sua apresentação bém enfatizou a mão de obra especializada e chaAssociação Brasileira de Normas Técnicas) e diretora-técmou a atenção para a importância de um projeto completo nica do IBRACON (Instituto dos Auditores Independentes de construção de uma obra, e novamente para o papel da do Brasil), Inês Laranjeira da Silva Battagin comentou soassociação na facilitação dessa etapa. “Precisamos cada vez bre a importância das parcerias entre as entidades do semais de profissionais focados e dedicados ao trabalho”. tor, principalmente em momentos de recessão. Em relação à finalidade do evento, que já é tradicionalNa ocasião, ela aproveitou para mencionar a dinâmica de mente conhecido, Doniak diz que o objetivo da entidade, trabalho e relacionamento entre a ABCIC e o comitê, bem além da disseminação de conhecimentos, por meio das como o lançamento de novas normas pertinentes aos mapalestras é proporcionar um ambiente propício para o forteriais pré-fabricados. Em relação ao IBRACON, Battagin talecimento do relacionamento entre empresários, técnifalou sobre a futura instalação de um Comitê Técnico de cos, pesquisadores e profissionais interessados na atuação Pré-Fabricado no instituto. “Uma das ideias é desenvolver do segmento de pré-fabricado. “Relacionamento é um aspráticas para se alinhar com as normas técnicas de desemsunto que tem feito toda a diferença neste momento que penho do setor”, adianta. o País vive uma situação marcada por grandes desafios e Já a presidente da ASBEA (Associação Brasileira dos Escritóincertezas”, acredita. rios de Arquitetura), Miriam Addor também participou da Depois, a engenheira, superintendente do CB18-ABNT cerimônia de abertura, em que destacou a importância da (Comitê Brasileiro de Cimento, Concreto e Agregados da 11 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


Debate entre palestrantes e participantes

utilização de ferramentas modernas como o BIM e a maior integração entre arquitetos e projetistas, também chamando a atenção a uma necessidade de se ter projetos mais detalhados e completos. “Projetos mais detalhistas são imprescindíveis no caso dos sistemas construtivos que utilizam pré-fabricado de concreto. Acredito que se conseguirmos pensar a obra antes, com projetos mais elaborados, todos os envolvidos com a cadeia da construção conseguirão orçar e executar a obra dentro do prazo e com redução de custos. Teremos deixado um grande legado para a construção e para o País”, argumenta Addor. Também estiveram na cerimônia de abertura o representante do Sinduscon (Sindicato da Indústria da Construção Civil) e da CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), Francisco Antunes de Vasconcellos Neto, destacando que a construção industrializada é uma condição indispensável para a melhoria da qualidade e da competitividade do setor, e o membro do Conselho Deliberativo da ABECE (Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural), Eduardo Barros Millen.

TENDÊNCIAS O primeiro palestrante do 7º Seminário da ABCIC foi o secretário-geral da FIB e membro da Comissão 6 de Pré-Fabricados de Concreto, David Fernandez-Ordoñez. Ele fez um apanhado geral das atividades promovidas pela entidade, focadas principalmente na evolução tecnológica de toda a cadeia do concreto em mais de 40 países, bem como salientou o papel institucional da federação e a importância dos membros internacionais que a compõe. Segundo Fernandez-Ordoñez, uma das principais ações rea­lizadas pela FIB é a publicação do Model Code (Código 12 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Paulo Eduardo Fonseca de Campos durante a sessão de autógrafo do livro “La Tecnología Del Microcad Aplicada a La Construcción del Habitat Social”

Modelo), que contém as mais avançadas tecnologias, soluções construtivas, materiais e sistemas. O manual tem sido utilizado também como referência e texto-base para a elaboração de diversas normas em distintos países. A última edição, lançada em 2010, influenciou sobremaneira a revisão de normas na Europa, na Ásia e na África. “Já estamos trabalhando em uma nova edição para 2020, reunindo especialistas e profissionais representantes de diversos países e, também, das comissões e grupos de trabalho”, afirma. Na sequência, o consultor de Planejamento Estratégico da ABCIC, Gerson Ishikawa falou sobre o segmento da pré-fabricação da atualidade e fez uma projeção das tendências do setor para os próximos anos. Para ele, quatro cenários distintos possuem destaque nessa lista: Canteiro de Obras, Patchwork, Solução Completa e Verticalização. O primeiro, Canteiro de Obras diz respeito à continuidade do que ocorre no mercado atual da solução de engenharia. O Patchwork que traduzido para o português, significa a arte de emendar retalhos, é a composição do sistema com diversas soluções. Já o terceiro cenário que é a Solução Completa está relacionado ao uso do pré-fabricado integrado a todos os sistemas. Por fim, o quarto, Verticalização é a integração da construção e do sistema em uma mesma empresa. Segundo ele, o primeiro cenário é o tendencial e o setor manterá sua participação no mercado da construção, que varia entre 2% a 5%. O segundo indicará uma passividade do setor, ao deixar que suas vulnerabilidades sejam expostas por outros sistemas construtivos. Já na Solução Completa, a indústria poderá ampliar sua participação em até 10x, já que será a solução de engenharia preferencial. No quarto cenário, existem fatores influenciadores como a competitividade regional, a adoção de tecnologias, além de poder ser um arranjo temporário.


INOVAÇÃO Uma das palestras mais esperadas no 7º Seminário Internacional ABCIC foi “A Inovação como Indutora do Desenvolvimento Sustentável da Indústria da Pré-Fabricação em Concreto – Uma Visão de Futuro” ministrada pelo arquiteto e professor da FAU-USP, Paulo Eduardo Fonseca de Campos. Na oportunidade, ele ressaltou a evolução dos pré-fabricados, suas inovações incrementais e radicais, assim como a utilização de GRC (Concreto Reforçado com Fibra de Vidro). De acordo com Campos, as ferramentas de gestão e instrumentos voltados para a sustentabilidade, com foco na redução do uso de materiais sem o comprometimento da segurança estrutural das obras deverão dominar os debates no que se refere à industrialização da construção. “No meu ponto de vista, o grande ativo da ABCIC, hoje e no futuro, é uma atuação voltada para aprimorar a concepção da construção industrializada. Penso que é uma entidade com legitimidade para defender a agenda da industrialização”, pontua. Durante os debates, a posição de Campos foi reforçada por Doniak, compartilhando que a indução do crescimento do pré-fabricado e da construção de forma geral depende de uma ação intensa também de representantes dos fornecedores de insumos básicos da cadeia produtiva. A participação do professor da FAU-USP Paulo Eduardo Fonseca de Campos no seminário se estendeu até o encerramento. Após todas as palestras, ele ainda participou de uma sessão de autógrafo do livro “La Tecnología Del Microcad Aplicada a La Construcción del Habitat Social”, do qual é um dos autores e também seu organizador. Antes da segunda etapa do seminário, após todas as palestras da manhã houve um debate entre palestrantes e participantes, em que foi estabelecido um consenso de que o BIM é uma ferramenta importante na indução do desenvolvimento da industrialização, incluindo o pré-fabricado de concreto. Uma das conclusões encontradas é que a evolução desse sistema construtivo passa pelo avanço da tecnologia do concreto, bem como da indústria de equipamentos e de conexões e pela contribuição das soluções ao ciclo de vida, com a redução significativa dos impactos e o consumo racional dos recursos e reutilização dos elementos em outras obras. No debate foi mencionado que os recentes dados sobre redução no consumo de cimento pelo segmento de pré-fabricado significam que a inovação está permitindo produzir peças mais esbeltas e, consequentemente, com menor uso de insumo, sem perder qualidade e nem afetar a segurança estrutural.

PRESENÇA INTERNACIONAL O período da tarde do 7º Seminário Internacional da ABCIC 13 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

trouxe dois especialistas internacionais para apresentar a aplicação da solução de engenharia no Japão e no Reino Unido. O engenheiro e diretor de tecnologia da construtora Sumitomo Mitsui Construction, Akio Kasuga, relevou as técnicas utilizadas para a construção de pontes e dos mais altos edifícios no Japão. Ele também falou sobre as condições para a atuação das construtoras no País, como por exemplo, o regulamento que não permite transportar em rodovias públicas uma carga maior do que 30 toneladas e o rigor das normas relacionadas a abalos sísmicos, já que o Japão está constantemente sob grandes riscos de terremotos. O diretor-proprietário da empresa Commercial Design and Concepts, membro da Comissão 6 e coordenador do Grupo de Trabalho de Edifícios Altos TG 6.7 da FIB, George Jones apresentou o caso de obra da construção da nova Estação Paddington, um dos principais terminais da National Rail e do metrô de Londres, Inglaterra, que teve uso intenso de pré-fabricado, elemento determinante para acelerar a construção do complexo. “Esse projeto particular é um bom exemplo de como o pré-fabricado pode ser aplicado para o benefício de todos os envolvidos com a obra. Após a avaliação de vários sistemas construtivos, o pré-fabricado de concreto foi a solução escolhida como mais adequada para este projeto, e isso foi determinado pelo contratante em parceria com a construtora”, acrescenta.

CASOS DE OBRA Para falar sobre a aplicação de estruturas pré-fabricadas em pontes no Brasil, o engenheiro da EGT Engenharia, Marcelo Waimberg trouxe diversos casos de obras feitos no País. Ele também abordou a participação brasileira no grupo de trabalho da FIB, do qual ele juntamente com o engenheiro Fernando Stucchi são os representantes da ABCIC. “A motivação desse grupo de trabalho é que as soluções pré-moldadas para obras de arte sejam largamente utilizadas em todo o mundo. A divulgação dessas variedades de soluções e aplicabilidades contribui para o desenvolvimento das práticas e da tecnologia. Vale lembrar que em cada país são aplicadas práticas diferentes bem como o projeto e a forma de execução também são distintas”, complementa. Em relação à publicação futura de um boletim sobre o tema, Waimberg adiantou que o conteúdo vai atender a realidade de cada continente. “As cargas rodoviárias em nosso país, por exemplo, são maiores do que em muitas nações e isso impacta na solução e na concepção da obra de arte”. Outro ponto importante mencionado por ele é que a publicação contará com exemplos de diferentes países, incluindo normas locais, para esclarecer as vantagens e desvantagens de cada aplicação.


NOTAS

Linha 4 do Metrô do Rio de Janeiro ganha prêmio no ITA Tunnelling Awards 2016

Divulgação / Construtora Norberto Odebrecht

Empreendimento venceu na categoria Inovação Técnica do Ano, na disputa com países como Finlândia e Noruega

Em 11 de novembro de 2016 ocorreu o ITA (International Tunneling and Underground Space Association) Tunnelling Awards, a premiação mais aguardada pela comunidade tuneleira. Entre os vencedores, estavam a Linha 4 do Metrô do Rio de Janeiro, pela construtora brasileira Norberto Odebrecht, que disputou na categoria de Inovação Técnica do Ano. Entre os concorrentes, figuravam países como Cingapura, Finlândia, Noruega e Grã-Bretanha. O evento ocorreu em Cingapura e 33 projetos foram finalistas em nove categorias. Única brasileira concorrente do prêmio, a Linha 4 do Metrô do Rio de Janeiro teve a participação de mais de 200 especialistas e 340 empresas que atuaram em sua construção. De acordo com o coordenador do TBM (Tunnel Boring Machine) da Linha 4 do Metrô, Alexandre Mahfuz, ganhar o prêmio é uma forma de reconhecimento não só para a empresa, mas também à engenharia nacional. “A premiação significa o reconhecimento mundial da qualidade da engenharia brasileira e dos profissionais que atuaram na maior obra de infraestrutura urbana da América Latina, que foi a Linha 4 do 14 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Metrô do Rio de Janeiro. Uma obra épica, com inúmeros desafios técnicos, geológicos e de prazo. Sem dúvida, é uma conquista muito importante para Construtora Norberto Odebrecht e todas as empresas envolvidas no projeto”, declara. Ele ainda acrescenta que conquistar essa vitória não era algo aguardado pela construtora. “Estar entre os finalistas do ITA Tunnelling Awards 2016, a maior premiação do setor de túneis do mundo, já foi um grande orgulho e alegria para toda a equipe. Fomos para Cingapura com a missão de apresentar ao setor o legado deixado pela Linha 4 na geração de conhecimento e inovação. Não esperávamos sermos os vencedores na categoria Inovação Técnica do Ano e recebemos com enorme satisfação o anúncio da vitória”, revela. Algumas características inovadoras possibilitaram que o projeto adquirisse o prêmio, como explica Mahfuz. “Para construir aproximadamente 5 quilômetros de túnel da Linha 4 do Metrô no subsolo arenoso de Ipanema e Leblon, na zona sul do Rio de Janeiro, a equipe precisou desenvolver novos métodos que permitissem a execução das obras com menor impacto possível na superfície e sem desapropriar imóveis. Uma das inovações foi a utilização do Tatuzão EPB Híbrido (Tunnel Boring Machine EPB – Earth Pressure Balanced), com um sistema inédito que permite a escavação em solo arenoso e em áreas muito povoadas”, esclarece. Segundo ele, antes o EPB só havia sido aplicado em regiões menos povoadas nesse tipo de solo. “Usamos pela primeira vez no mundo um EPB em solo arenoso em uma região com muitos prédios e com grande circulação de pessoas e veículos. Antes, o equipamento só havia sido utilizado outras duas vezes nesse tipo de solo, mas em trechos curtos e em áreas pouco ou nada povoadas”, salienta. Construída em seis anos, a obra usou tecnologias com menor impacto à superfície e aos moradores da região e é considerada o maior legado em mobilidade urbana que a cidade do Rio de Janeiro ganhou por conta dos Jogos Olímpicos de 2016. A segunda edição do ITA Tunnelling Awards recebeu 98 inscrições, provenientes de 25 países.


Por Dafne Mazaia

ABEG opina sobre Projeto de Lei nº 4.288/1998

Banco de Imagens / Free Images

A norma informa a obrigatoriedade de laudo geotécnico criado por geólogos ou engenheiros de minas em determinados tipos de obras

Em 1998 o deputado Elias Murad (PSDB) foi o autor do Projeto de Lei nº 4.288/1998, que determina a obrigatoriedade dos projetos de fundações de edifícios com mais de três pavimentos basearem-se em laudo geotécnico elaborado por geólogos ou engenheiros de minas, em conjunto com engenheiros civis. Quase duas décadas depois da criação da lei, a ABEG (Associação Brasileira de Empresas de Projeto e Consultoria em Engenharia Geotécnica) manifesta sua opinião em relação à norma. A associação existe desde 1997 e por isso então reúne empresas do setor, com o objetivo de proporcionar melhorias à área e aos profissionais relacionados. De acordo com o presidente da ABEG, Ilan Gotlieb, os profissionais que a lei considera como habilitados para desenvolver o laudo não possuem as atribuições técnicas necessárias para analisarem esse tipo de obra. “O engenheiro de minas não tem atribuições para a elaboração do referido laudo para obra de edificações. O geólogo tem conhecimento para elaborar um relatório de sondagens 15 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

e eventual descrição de formações geológicas dos locais, mas não tem conhecimento, em tese, para definir sistemas de fundação”, explica. Para Gotlieb, a norma precisa explicar claramente cada ponto, inclusive o que é um laudo geotécnico, para que profissionais de outras áreas percebam o segmento que está sendo tratado. “A lei deve deixar bem claro o que é o laudo geotécnico para que não faça com que profissionais despreparados executem serviços que deveriam ser realizados por profissionais capacitados”, argumenta o presidente da ABEG. O engenheiro civil em sua graduação aprende conteúdos com cálculos, física, estatística, resistência dos materiais, mecânica dos fluidos, teoria das estruturas, entre outros, assuntos que, para a ABEG, contribuem com a capacidade desse profissional em avaliar os fatores que devem ser considerados em projetos de fundações, como: projeto de arquitetura; projeto da obra; investigação das fundações vizinhas e avaliação de suas implicações sobre a obra; conhecimento das características do subsolo; análise da necessidade de escoramentos provisórios e/ou permanentes; conhecimento dos tipos de fundações existentes no mercado, assim como suas limitações técnicas; definição do método construtivo, entre outros. Segundo Gotlieb, caso a norma seja revista, um dos pontos a serem alterados é a inserção dos engenheiros civis como responsáveis pelo desenvolvimento do documento. “O projeto de lei deveria incluir os engenheiros civis, com especialização em engenharia geotécnica no elenco de profissionais responsáveis pela elaboração dos laudos geotécnicos”, reitera. Ele acrescenta que essa alteração será adequada e pertinente aos engenheiros que são da área. “Se as alterações forem no sentido de incluir os engenheiros civis com especialização em engenharia geotécnica e retirada dos engenheiros de minas, será justo com a categoria que mais atua neste tipo de obra”, declara. A ABEG escreveu sua opinião em relação ao Projeto de Lei nº 4.288, para ver o texto na íntegra, acesse: www. abeg.com.br/a-opiniao-da-abeg.


ENTREVISTA – CÁSSIA MARIA DINELLI DE AZEVEDO

A ESCOLHA PELA PROFISSÃO DO CORAÇÃO Cássia de Azevedo possui 30 anos de carreira em engenharia civil e presidiu o NRMG-ABMS na gestão 2015-2016

Fotos: Acervo pessoal

Por Dafne Mazaia

Também graduada em direito, a engenheira é a atual gestora técnica-comercial da Geomec e foi presidente do Núcleo Regional de Minas Gerais da ABMS (Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica), no ciclo de 2015 a 2016. Uma das ações que mais se destacou frente à associação foi a coordenação dos eventos “Mulheres Geotécnicas” e o fórum de interação entre estruturas, apresentados durante o COBRAMSEG (Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotecnica).

COMO SURGIU O INTERESSE PELA ENGENHARIA?

A engenheira civil e advogada, Cássia de Azevedo

Nascida em Belo Horizonte, Minas Gerais, na véspera do Natal, a engenheira Cássia Maria Dinelli de Azevedo sempre foi dedicada nos estudos. Prestou vestibular para a FUMEC (Fundação Mineira de Educação e Cultura) e ingressou no curso de engenharia civil. No final do 7º período da graduação foi chamada para trabalhar na empresa Geomec, a convite do seu professor Sérgio Maurício Pimenta Velloso. Foi na Geomec que conheceu o engenheiro Sérgio Paraíso, profissional que ela considera como seu principal mentor, assim como a engenheira Cláudia Maria Cunha da Costa. Há mais de 30 anos na empresa, ela já atuou em projetos como o Complexo Turístico de Sauípe e nas contenções do edifício Mundo Plaza, ambos na Bahia. Além deles, também trabalhou em empreendimentos como o Mirante do Sol do INPAR (Instituto Presbiteriano Álvaro Reis), em Minas Gerais, e no quadrilátero Ferrífero, também em Minas Gerais, entre outros projetos. 16 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Sempre gostei de estudar e obtive boas notas, principalmente nas ciências exatas, mas a minha primeira opção era medicina. Prestei o vestibular na época e não passei. No ano seguinte, novamente tentei medicina, mas por insistência da minha irmã Rita tentei vestibular na FUMEC (Fundação Mineira de Educação e Cultura), ela para administração e eu para engenharia. Não deu outra: passei para engenharia e fiquei entre os excedentes de medicina. Nascia a engenheira Cássia. Ao final do 7º período de engenharia decidi tentar farmácia, precisava ter certeza que estava no caminho certo e que a engenharia não era um prêmio de consolação. Passei direto na UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e comecei a fazer os dois cursos simultaneamente. Era uma maratona, mas eu adorava. Neste mesmo ano conheci por meio do professor Sérgio Maurício Pimenta Velloso a disciplina mecânica dos solos e fundações. Foi paixão à primeira vista. Ao final do ano, o professor Sérgio Velloso me convidou para ser sua estagiária na GEOMEC, empresa recém-­ fundada junto com o engenheiro Sérgio Paraíso. Este convite foi feito em uma terça-feira. Na quarta-feira, o meu professor na escola de farmácia me convidou para estagiar em seu laboratório. Naquele momento eu tive certeza que seria engenheira.

QUAIS FORAM AS SUAS INFLUÊNCIAS PARA ESSA ESCOLHA? Meus pais sempre se preocuparam em dar a mim e às minhas


Em sua formatura no primário

Cássia de Azevedo durante sua formatura do curso de engenharia civil

A engenheira também se formou em direito, em 2009

irmãs uma boa formação acadêmica, por acreditarem que somente por meio dos estudos é que uma mulher na década de 1980 poderia ser independente, entretanto não se cansavam em repetir que era muito importante fazer a escolha certa, pois seria muito mais fácil ter como profissão aquilo que nos desse prazer. Desta forma nunca limitavam as nossas escolhas, mas sempre ponderavam sobre as consequências. Por isso escolhi a engenharia. Posso dizer que tive influência dos meus avôs materno e paterno, respectivamente o saudoso Qüinto Dinelli, filho de imigrantes italianos que se estabeleceram em Belo Horizonte (Minas Gerais), e atuavam na construção civil e Olivier Alves Azevedo, um homem que tinha o dom da venda.

CONTE-NOS UM POUCO SOBRE A SUA FORMAÇÃO ACADÊMICA. Sou formada em engenharia civil e em direito pelas faculdades, FEA-FUMEC (Faculdade de Engenharia e Arquitetura da FUMEC) e FACE-FUMEC (Faculdade de Ciências Empresariais da FUMEC) respectivamente, com especialização em cursos de extensão nas áreas de projeto de fundações, projeto estrutural de concreto armado e estabilização de encostas, mas a minha grande formação se deu ao longo dos últimos 30 anos na GEOMEC, tendo o engenheiro Sérgio Paraíso como meu principal mentor e contando com o apoio inestimável da engenheira Cláudia Maria Cunha da Costa, com quem dividi ao longo deste tempo muitas horas de trabalho, preocupações e boas discussões técnicas.

Um ensaio em estacas de 2 m no rio Madeira, obra M Martins com martelo Geomec

COM OUTRA FORMAÇÃO EM DIREITO, COMO FAZ PARA CONCILIAR AS DUAS ÁREAS DE ESCOLHA? Este ano completo sete anos como formada em direito, um curso fascinante, que recomendo a todos. Apesar de ter passado na prova da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) não fui para o mercado advogar. Aplico os ensinamentos do direito para aprimorar a minha atividade na Geomec, onde atuo como gestora técnica-comercial, atividade que iniciei a convite do engenheiro Sérgio Paraíso há 15 anos, após dedicar esses anos exclusivamente à área de técnica de projetos com ênfase na área de contenções de terra. 17 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Cássia de Azevedo junto de sua equipe da Geomec, durante um workshop interno


os meus conhecimentos sobre ECD (Ensaios de Carregamento Dinâmicos) e PIT (Pile Integrity Test), tecnologias que foram incorporadas às atividades da Geomec a partir de 1990 e posteriormente provas de carga estática. Ao contrário do que muitos pensam, a atividade comercial demanda muito estudo e leitura, é necessário consubstanciar a informação com técnica, não obstante termos colegas que insistam em avaliar o produto pelo preço.

DENTRE OS TRABALHOS REALIZADOS QUAIS CONSIDERA DE MAIOR DESTAQUE OU QUE LHE TROUXERAM MAIS SATISFAÇÃO? Junto da engenheira Cláudia Costa, durante o COBRAMSEG, em 2006

Ao lado do professor Victor de Melo em um evento

A engenheira com o professor Luciano Décourt

QUAIS SÃO AS SUAS EXPERIÊNCIAS COM PROJETOS E TRABALHOS NA ÁREA DE ENGENHARIA CIVIL? Iniciei a minha vida profissional como estagiária na Geomec, tendo a oportunidade de participar de vários projetos. Os engenheiros Sérgio Paraíso e a Cláudia Costa sempre foram muito generosos com a equipe, compartilhando informações e incentivando a discussão técnica. Desta forma fui evoluindo em aprendizado e assumindo cada vez mais responsabilidades no desenvolvimento de projetos, principalmente os que tratavam de contenções de terra. Em 2000, comecei a atuar no setor comercial e por isso aprimorei 18 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Na área de projetos entre os muitos que participei, destaco as fundações do Complexo Turístico de Sauípe (Bahia) e as contenções do edifício Mundo Plaza em Salvador (Bahia), ambos da Odebrecht, pela grandiosidade dos empreendimentos e o grau de dificuldade no caso das contenções. No quadrilátero Ferrífero em que Belo Horizonte e Nova Lima, em Minas Gerais, se encontram, temos o “temperamental” filito, com os seus planos de xistosidades, que imprimem um grau de dificuldade aos projetos das contenções, por isso destaco as obras de contenções da Igreja Universal do Reino de Deus em Belo Horizonte, edifício Los Angeles, na rua Patagônia (MG), obra da Gafisa, que foi implantada em um grande declive, Mirante do Sol do INPAR (Instituto Presbiteriano Álvaro Reis), em Minas Gerais, entre outros. Na área comercial, me orgulho de ter fechado bons contratos como os ensaios dinâmicos em estacas de 2 metros de diâmetro, com martelo Geomec no rio Madeira (localizado entre os Estados do Amazonas e Rondônia), os ensaios dinâmicos de todo o Parque Olímpico do Rio 2016 e dos estádios de futebol do Mineirão (MG) e a Arena Pantanal (Mato Grosso), os projetos de fundações do Complexo Penitenciário de Neves (MG), entre outros por todo o Brasil. O que me dá mais satisfação nesta área é conseguir viabilizar um processo seja ele ensaio ou projeto, que se apresentem como desafio técnico e ou operacional. Estar à frente do núcleo regional da ABMS (Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica) nestes últimos dois anos também é um trabalho que me deu muito prazer e orgulho, entre as muitas atividades, destaco os eventos “Mulheres Geotécnicas” e o trabalho de coordenar e organizar o fórum de interação entre estruturas, projeto que nasceu da parceria da NRMG-ABMS (Núcleo Regional de Minas Gerais da Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica) e Diretoria Regional MG da ABECE (Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural), apresentado no COBRAMSEG (Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica) 2016. Foi um espaço aberto à discussão muito pertinente ao momento em que estamos vivendo no desenvolvimento e materialização de projetos geotécnicos, sejam de fundações e ou contenções de terra.

COMO FOI A EXPERIÊNCIA EM ATUAR COMO PRESIDENTE DO NÚCLEO MINAS GERAIS DA ABMS NA GESTÃO 2015-2016? Desde 2013 tenho atuado mais ativamente junto ao Núcleo Minas Gerais da ABMS. A convite do engenheiro Ivan Libanio Vianna, fui sua vice-presidente no biênio 2013-2014 e eleita presidente para o período 2015-2016. Em 2015, quando as-


sumi a presidência do Núcleo Minas Gerais, recebi do meu antecessor o legado de uma gestão de sucesso, assim como a responsabilidade do núcleo de organizar o COBRAMSEG 2016, além de uma crise econômica crescente, que prometia dificultar muito o mercado da engenharia. No entanto, como dizia o engenheiro Amaro Lanare Júnior, presidente da Usiminas na década de 1970, o engenheiro é aquele que faz com um dólar o que os demais fazem com dois, logo era melhor trabalhar muito e contar com os amigos e foi isso que a diretoria do núcleo fez. Organizamos oito eventos em 2015, o primeiro “Mulheres Geotécnicas” foi criado para abrir um espaço para que as geotécnicas do Brasil pudessem expor suas ideias. Foi um sucesso, sendo reprisado em 2016. Contamos com o apoio das empresas Gerdau e Maccaferri. Estreitamos os nossos laços com a ABECE, ampliando a troca de informações e continuamos o apoio à Defesa Civil, trabalho iniciado com o engenheiro Ivan Vianna e que conta hoje com um grupo de associados voluntários para vistoria de áreas de risco. Em 2016 continuamos com a nossa meta: oito eventos e mais um congresso. Novamente contamos com o apoio das empresas: TDM, CPR Grouting, Maccaferri e Dywidag para as solenidades. Já o congresso, foi um capítulo à parte. O evento foi composto por quatro congressos, do CBMR (Comitê Brasileiro de Mecânica das Rochas), o Geojovem, o SFGE (Shaping the Future of Geotechnical Education) e o COBRAMSEG, sendo este presidido pelo engenheiro Gustavo Ferreira Simões, professor da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) e tesoureiro do NRMG, grande responsável pelo sucesso do evento, que reuniu 1.312 inscritos de todo o Brasil além de 15 países. Contou com dois fóruns, sendo um ligado à área de estruturas e outro à mineração. O NRMG-ABMS trabalhou muito, tendo toda a diretoria se envolvido de forma direta dando suporte ao processo. Não poderia aqui deixar de registrar o meu agradecimento ao presidente da ABMS, André Assis, pelo apoio em ajudar ao núcleo sempre que solicitado e aos meus quatro cavaleiros: Gustavo Vianna, Fernando Saliba, José Mario Mafra e Gustavo Simões, membros da diretoria do núcleo que dividiram comigo as decisões e trouxeram sempre ideias inovadoras, que tentamos transformar em realidade. Resumindo, foi uma grande experiência, aproximei-me de várias pessoas interessantes que tinham experiências a serem trocadas e conteúdos a serem ouvidos e discutido, fiz um trabalho comprometido com a boa técnica buscando no jeito mineiro levar cada vez mais associados e estudantes de engenharia a participarem dos nossos eventos e conhecerem melhor a ABMS.

PENSA EM INGRESSAR NA ÁREA ACADÊMICA COMO PROFESSORA EM ALGUM MOMENTO? Para iniciar a vida acadêmica tenho que voltar aos bancos da escola para obter os títulos de mestre e/ou doutora, o que não está descartado no meu programa de vida.

PRETENDE ESCREVER ALGUM LIVRO DA ÁREA FUTURAMENTE? Apesar de ser filha de escritor, jornalista e historiador com artigos, jornais e livros publicados, não tenho esta pretensão, acho que temos fabulosos técnicos que deveriam contar as suas histórias e divulgar as suas teses, mas não me julgo parte deste grupo seleto. 19 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Junto do presidente do NRMG (Núcleo Regional de Minas Gerais), Gustavo Vianna, da gestão 2017-2018 e do vice-presidente, Fernando Saliba

Com colegas engenheiros, durante o COBRAMSEG, em 2016

Ao lado dos engenheiros Gustavo Simões e Ana Siera, no evento “Mulheres Geotécnicas II”

QUAIS SÃO OS SEUS PROJETOS FUTUROS? O meu grande projeto neste momento é conseguir sair da crise. Convencer o mercado do nosso bom serviço e vender a expertise da Geomec. Estudar também faz parte dos meus projetos, talvez o mestrado adiado por muitas vezes.

QUAL AVALIAÇÃO FAZ DA SUA TRAJETÓRIA ATÉ AQUI? Acho que sempre poderíamos ter feito mais e acredito que podemos fazer muito, portanto, tenho muito que aprender


e uma quase paralisação das atividades de engenharia, salvo a academia. O mercado ainda não se estabilizou, falta moeda. Na verdade, a maioria dos engenheiros são potencialmente abonados cidadãos que não têm dinheiro vivo, mas muito a receber. Esta situação gera insegurança, desconforto e acúmulo de dívidas muitas vezes impagáveis, levando as empresas ao colapso. O retorno será lento, precisamos que o Estado venha nos socorrer abrindo frente de serviço, para a moeda voltar a circular. Sem esta ajuda dificilmente vamos respirar aliviados.

Com o professor Atkinson e a engenheira Cláudia Costa, durante o COBRAMSEG, em 2016

Cássia de Azevedo em um workshop de estacas metálicas com representantes da Gerdau, com consultores do NRMG e o engenheiro Urbano Alonso

QUAIS SÃO AS SUAS PRINCIPAIS REFERÊNCIAS NO SEGMENTO? As minhas principais referências no segmento são de profissionais que se destacam pela bagagem técnica e comportamento, sendo: os engenheiros Sérgio Paraíso e Claudia Maria Cunha da Costa pela boa técnica e ética profissional; o engenheiro Sussumu Nyama, por ser um exemplo a ser seguido; o engenheiro Fred Falconi, por estar sempre à frente dos movimentos de renovação da nossa área; o engenheiro Alexandre Gusmão pelo seu carisma e competência; as engenheiras Bernadete Danzeger, Anna Laura Nunes, Ana Cristina Sieira e Anna Silvia Palcheco Peixoto, por serem engenheiras que não fogem a luta; o engenheiro Arthur Quaresma, pelo trabalho como tesoureiro da ABMS e pela capacidade de responder o que não tem resposta; o engenheiro Fernando Danziger, pela sua generosidade; os professores Nelson Aoki, Luciano Décourt e Urbano Alonso pela dedicação à geotecnia; o engenheiro André Assis por ser um dos melhores mediadores que eu já conheci. São muitos os engenheiros no nosso tempo que têm a minha admiração e servem de inspiração, mas o espaço é acanhado para tantos nomes.

CONTE-NOS UM POUCO SOBRE A SUA TRAJETÓRIA PESSOAL.

A engenheira com a sua família, no lançamento do livro Um Pouco de Luz, de autoria de seu pai

ainda. Gosto de estabelecer metas e sei que os limites são postos por mim, apesar do meio e do tempo serem variáveis que pesam no cumprimento dessas metas.

QUAIS SÃO AS SUAS PERSPECTIVAS PARA O MERCADO BRASILEIRO DA ENGENHARIA E GEOTECNIA?

Esta crise é muito grave pelo aspecto político, que levou de forma abrupta a uma mudança de comportamento de mercado 20 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Tenho uma família adorável. Meus pais Djalma Alves de Azevedo, advogado e jornalista, e Wilma Maria Dinelli de Azevedo, nasceram para este ofício. São pais participativos, carinhosos que sempre tiveram a maior paciência em escutar e aconselhar as suas quatro Marias. Sou a segunda das Marias, sendo a primeira a Maria Rita, administradora e economista, a terceira Maria Antônia, arquiteta e cineasta e a quarta, Maria Augusta, engenheira metalurgista com mestrado e doutorado, que trabalha nos Estados Unidos. Minhas irmãs são as minhas melhores amigas, somos muito unidas e cúmplices em todos os momentos. A minha família é meu porto seguro e é com eles que recarrego as minhas baterias. Meu principal hobby é cozinhar, uma vocação familiar. Comecei a gostar de cozinha na infância quando ficava assentada do lado do fogão na casa da minha avó materna, conversando e observando o que ela fazia. Minha mãe tem mãos de chef, quem já experimentou seus pratos sabe o que estou falando. Já consegui resolver muitos problemas de engenharia enquanto preparava um risoto, um rosbife ou fazia uma bela massa fresca. Gosto de saber a origem dos pratos, experimentar receitas novas e ir em busca de novos sabores. A minha cozinha prática é cheia de ferramentas tais como chave de fenda, martelos e alicates, quem não tem um homem por perto para abrir um vidro, usa a engenharia, que funciona super bem.


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HISTÓRIA

Obra: Vista do interior do SESC (Serviço Social do Comércio) Pompeia. A obra foi concluída em 1986 Local: São Paulo / São Paulo Data: 01 de janeiro de 1982

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Obra: Detalhe do interior do SESC (Serviço Social do Comércio) Pompeia. A construção foi concluída em 1986 Local: São Paulo / São Paulo Data: 01 de janeiro de 1982 Créditos: Arquivo Ruth Verde Zein Estas imagens foram retiradas do banco de imagens Arquigrafia da USP (Universidade de São Paulo)

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REPORTAGEM

TRATAMENTO DE CONSOLIDAÇÃO EM SOLO GRAMPEADO UTILIZA INJEÇÕES DE FLUIDOS CIMENTANTES A técnica também emprega revestimento da face do monolito com a aplicação de concreto projetado com fibras sintéticas, metálicas ou tela de aço Por Dellana Wolney

A estabilização das contenções em solo grampeado tem por base a inserção de elementos de fixação em alta densidade e com comprimentos relativamente curtos (próximos a 0,7H do talude, por exemplo). O elemento de fixação conhecido como grampo, comumente, é composto por barras de aço CA-50 de 16 mm de diâmetro com centralizadores e tubos de injeção. Há regiões brasileiras em que a injeção dos elementos de fixação é frequentemente usada, como locais com incidência de solos saprolíticos, que são extremamente anisotrópicos. Por estas características, desde a década de 1960 as barragens no Brasil em solo têm sua fundação tratada por meio de injeções de consolidação. De acordo com o engenheiro e consultor geotécnico, Cairbar Azzi Pitta um dos fatores preponderantes no conhecimento do comportamento das injeções (como adensamento e craqueamento dessas argilas) é constatado in loco quando elas são executadas nos espelhos e enfilagens dos túneis. “O método melhora os índices geotécnicos adensando o solo, pois consequentemente diminui sua permeabilidade”, afirma. Já o engenheiro e diretor da Solotrat, Alberto Casati Zirlis descreve que o tratamento é feito pela injeção no maciço de um determinado volume de material a uma pressão já estabelecida. Este material pode ocupar os vazios existentes, romper o maciço e nele se alojar, provocando o adensamento das camadas adjacentes, ou se impregnar em seus vazios. Zirlis comenta que o material injetado pode ser calda de cimento, argamassa, solo-cimento ou compostos químicos. “Usualmente são injetadas caldas de cimento. Neste contexto, para contemplar todas as possibilidades, usamos a expressão material injetado”, enfatiza. 24 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

O procedimento básico para a execução dos trabalhos envolve os seguintes passos: execução de um furo com diâmetro mínimo de 3”, até a profundidade de projeto e colocação de um tubo de PVC (Policloreto de Polivinila) rígido com diâmetro interno entre 1” e 1½”, devidamente preparado com válvulas-manchete, com espaçamentos entre 30 cm e 100 cm. “Injeta-se o material até o preenchimento total do espaço anelar entre o tubo de PVC e o furo (bainha). Pode-se alternativamente preencher a perfuração com calda de cimento, de baixo para cima e então introduzir o tubo”, descreve Zirlis que completa que a terceira e última etapa são feitas com o auxílio de um obturador duplo, em que a partir da válvula-manchete inferior, executa-se a injeção, que irá promover o rompimento da bainha e a introdução de um volume pré-determinado de material no solo, em tantas fases quantas forem necessárias.

NOVA APLICAÇÃO Baseado nas práticas anteriores, a tecnologia de injeção foi então testada na execução das contenções em solos grampeados. Pitta ressalta que o pré-adensamento do solo pelas injeções contribui para a diminuição das deformações do paramento. Essa mesma injeção que nos solos provoca adensamento com aumento da coesão e diminuição da permeabilidade nas rochas alteradas e nas fraturadas tendem a formar monólitos com melhores condições de estabilidade e menor permeabilidade. “Antes desse processo de tratamento, as críticas sobre deformação constituíam um dos problemas que o solo grampeado sofria, e criava um entrave para o desenvolvi-


Ilustrações: Arquivo Cairbar Azzi Pitta

Imagens ilustrativas

Vazios atrás das telas

mento dessa tecnologia, principalmente em obras urbanas com paredes verticais, condição em que são extremamente competitivas, pois não prejudicam o entorno da obra, pelo fato de não emitirem ruídos, vibrações e mo25 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

vimentações de caminhões nas fases de concretagem”, explica Pitta. A injeção em fases ou setores é realizada com fluidos cimentantes usuais no mercado, como calda constituída por alto


Ilustrações: Arquivo Alberto Casati Zirlis

Imagens ilustrativas

Execução de um furo com diâmetro mínimo de 3” até a profundidade de projeto

teor de cimento para solos e resina ou argamassa para rochas. O processo inicial é feito com o “tratamento de consolidação” por meio da injeção da bainha, com o preenchimento do furo com o fluido de cimentação e a imediata introdução de uma barra de aço. Pode-se instalar a barra juntamente com o tubo de injeção e, em seguida, iniciar o bombea­ mento do fluido cimentante até que ele ressurja na boca do furo sem a presença de grumos de solo. A injeção por fases é feita por mangueiras de polímeros de 8 a 10 mm de diâmetro, com comprimentos diferentes, as quais ficarão perdidas no furo. Após a cura do cimento injetado na bainha, as fases de injeção são iniciadas, primeiro pela mangueira mais longa. Depois da cura dessa injeção, esse processo é retomado nas demais mangueiras, sempre de forma descendente. Em cada fase é necessário anotar os valores de pressão e volu-

Colocação de um tubo de PVC rígido com diâmetro interno entre 1” e 1½”, devidamente preparado com válvulas-manchete, com espaçamentos entre 30 cm e 100 cm. Injeta-se o material até o preenchimento total do espaço anelar entre o tubo de PVC e o furo (bainha). Pode-se alternativamente preencher a perfuração com calda de cimento, de baixo para cima e então introduzir o tubo 26 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

me para que esses dados sejam lançados em programas de análise tridimensional posteriormente. A finalidade é que esses dados sejam interpretados pelo projetista, que indicará as possíveis correções que devem ser feitas até a obtenção de um solo adensado com índices geotécnicos adequados ao projeto. O Golden Software Surfer é um programa para a visualização de contornos em 3D (Terceira Dimensão) que também permite a modelagem da superfície. Os dados de pressão e volume injetados nos grampos, quando analisados por meio desse software, permitem a localização das estruturas do solo. A análise da visualização de contornos em 3D por meio do Golden Software Surfer dos índices geotécnicos do solo, como ângulo de atrito, coesão, permeabilidade etc., possibilitam ao projetista reavaliar a densidade e extensão das inserções dos grampos e programar um maior volume de injeção nos trechos menos estáveis, o que gera melhoria na estabilidade do monólito a ser estabilizado.

REVESTIMENTOS Posteriormente à execução do tratamento com injeção, vem o estágio de revestimento de estabilização da face da parede com a aplicação de concreto projetado com fibras (sintética ou metálica) ou com tela fixada na parede. Esse processo permite melhor estabilidade da parede, sua proteção à ação das intempéries e fixação dos blocos soltos. Com auxílio de um obturador duplo, a partir da válvula-manchete inferior, executa-se a injeção, que irá promover o rompimento da bainha e a introdução de um volume pré-determinado de material no solo, em tantas fases quantas forem necessárias


Fotos: Divulgação Sheikan

Construção adjacente do túnel

Obras que utilizaram a técnica de injeção

A utilização de fibra de aço ou de fibra sintética estrutural agregada ao concreto possibilita na etapa de aplicação melhor aderência entre a face do paramento e o concreto projetado. Já para a utilização de tela metálica eletrossoldada é necessário ter um cuidado maior, visto que a aplicação de concreto projetado sobre a tela tende a formar vazios (sombra) entre a tela e o paramento a ser estabilizado. Um dos casos que utilizou a técnica foi o da obra de solo grampeado da nova biblioteca da USP (Universidade de São Paulo). O método também já foi empregado em obras de contenção para subsolo de edifícios em Santo André (SP), Alphaville (SP), São Paulo (SP); contenção de encosta na Beneficência Portuguesa em São Paulo, e na obra de um shopping no Rio de Janeiro (RJ). O engenheiro e diretor da Solotrat, Alberto Casati Zirlis destaca que na maioria dos casos de obra, a técnica foi satisfatória, pois promoveu uma melhoria significativa das características geotécnicas do solo. Ele diz que embora o processo já exista há mais de 15 anos e sua difusão seja crescente no meio técnico, o método deve ser mais difundido, pois muitos projetistas ainda não têm conhecimento da sua eficiência. 27 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Injeção para barragem

Utilização de injeção em obra de arte especial


ESPAÇO ABERTO

USO DE DIFERENTES TIPOS DE GEOTÊXTIL NO DESAGUAMENTO DE RESÍDUOS GERADOS EM ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE ÁGUA INTRODUÇÃO As ETAs (Estações de Tratamento de Água) geram resíduos durante o processo de potabilização de água para abastecimento público, sendo estes o lodo depositado nos decantadores e a ALAF (Água de Lavagem de Filtros). Estes resíduos precisam ser removidos para garantir a eficiência do sistema e tratados, sendo dispostos de forma adequada para evitar impactos ambientais negativos. No Brasil, tem-se observado que a maioria das ETAs não trata esses resíduos de maneira adequada, descartando-os, na maior parte das vezes, nos cursos d’água, desrespeitando a legislação ambiental vigente. O lodo de ETA possui aproximadamente 97% de umidade, dependendo da tecnologia de tratamento de água, formas de remoção do lodo, tempo de acúmulo do lodo nas unidades etc. Assim, para que seja viável e factível o reuso ou reciclagem do lodo é necessário que antes este seja destinado a um sistema de desaguamento natural ou mecânico, que promoverá a redução do volume do lodo, gerando um resíduo com maior concentração de sólidos e possibilitando o reuso da água e dos sólidos resultantes. Vários podem ser os métodos de remoção de água podendo ser citados: sistemas naturais, como leitos de secagem/drenagem, lagoas de lodo e “BAG”, sistemas mecânicos, como filtros-prensa, prensa 28 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Figura 1 – Etapas de desenvolvimento dos sistemas de leitos de secagem para lodo de ETA (Cordeiro, 2001)

desaguadora, centrífugas, filtros a vácuo e contipress, além de sistemas térmicos. No Brasil, devido à disponibilidade de área e clima favorável, os sistemas naturais apresentam-se como alternativa bastante promissora aliada ao fato de não necessitarem de energia elétrica e produtos químicos. O sistema de “BAGs” é construído com geotêxtil tecido de alta resistência, permitindo a drenagem de líquidos e contenção de sólidos, porém é um sistema natural fechado e, portanto, a redução de volume do lodo ocorre apenas pela drenagem da água livre, sendo a fase de secagem suprimida. Além deste fato há a necessidade de condicionamento prévio do lodo. Após o tempo necessário para remoção da água, e quando o BAG estiver cheio de sólidos, será necessário o corte do tecido para a remoção e destino final dos sólidos. Assim, é ge-

rado um novo resíduo (lodo + BAG) a ser destinado adequadamente. A estrutura básica dos sistemas tradicionais de leito de secagem é composta por uma camada drenante de brita, uma camada filtrante de areia de granulometria específica e uma camada suporte de tijolos sobre os quais o lodo é aplicado. Neste sistema, o tempo de remoção de água constitui-se da somatória do tempo de drenagem e evaporação da água, sendo que a espessura da camada suporte e drenante podem atingir alturas de aproximadamente 40 cm. Cordeiro (2001) estudou os sistemas naturais de desaguamento e a possibilidade de modificação da estrutura dos leitos de secagem tradicionais, conforme Figura 1. Neste estudo observou que a colocação de uma camada de geotêxtil nãotecidos sobre a camada filtrante do leito possibilitava uma remoção mais


Figura 2 – Dimensões do Leito de Drenagem utilizado nos ensaios

Figura 3 – Protótipo de Leito de Drenagem utilizado nos ensaios

Figura 4 – Protótipo de Leito de Drenagem utilizado nos ensaios 29 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

efetiva da água livre presente nos lodos de ETAs. Os resultados obtidos evidenciaram que a areia e a espessura da camada filtrante não eram decisivos na remoção de água livre e, desta forma, foi desenvolvido o LD (Leito de Drenagem), composto apenas por uma manta geotêxtil sobre uma camada de brita (estruturante). Assim, o sistema de Leito de Drenagem é um sistema natural aberto, que permite a redução de volume de lodo através do desaguamento, na fase de drenagem e secagem, usando geotêxtil e sem uso de condicionantes ou energia elétrica. Achon et al. (2008) empregaram em seu estudo geotêxtil tecido de gramatura 600 g/m² (espessura de 4,5 mm, porosidade maior que 90%, permeabilidade normal de 3x101 cm/s e abertura de 60 μm) e lodos provenientes de ETAs que empregam sulfato de alumínio e cloreto de polialumínio como coagulantes. Os resultados para o lodo de sulfato de alumínio (mesmo coagulante utilizado na ETA de onde foi coletado o lodo utilizado no presente trabalho) atingiram porcentagem de redução de volume de lodo entre 50% e 60% aos 120 minutos de ensaio e, após 60 minutos de ensaio, cor de 57 MgPt/l e turbidez de 4,8 NTU. Barroso et al. (2014) utilizaram em seus estudos o geotêxtil tecido de poliéster com gramatura de 600 g/m² (espessura de 4,5 mm, porosidade maior que 90%, permeabilidade normal de 3x101 cm/s e abertura de 60 μm) e realizaram seis ensaios com aplicação de amostras de lodos de ETAs convencionais que utilizam o sulfato de alumínio [Al2(SO4)3] e PAC (Cloreto de Polialumínio) como coagulantes. No ensaio com o lodo de Al2(SO4)3 o tempo de drenagem máximo foi de oito horas, usando Taxa de Aplicação de Sólidos de 7,35 kg/m². A redução de volume na fase de drenagem foi superior a 50% e a turbidez do drenado após 60 minutos apresentou valores próximos de 2,0 NTU. Com os resultados promissores do Leito de Drenagem para desaguamento de lodo de ETA e como a maioria das pesquisas realizadas usa o mesmo tipo geotêxtil nãotecido de gramatura 600 g/m², este trabalho tem


Tabela 1 – Propriedades das mantas geotêxteis utilizadas GNT 1

GNT 2

GNT 3

GT 1

GT 2

Gramatura (g/m²)

250

300

600

130

280

Permeabilidade normal (cm/s)

0,4

0,4

0,4

-

-

Abertura de filtração (μm)

120

110

60

-

-

Resistência à tração (%) (T x L)

> 70 X 70

> 70 X 70

> 70 X 70

< 35 X 35

35 X 35

Material

100 % Poliéster

100 % Poliéster

100 % Poliéster

100 % Polipropileno

100 % Polipropileno

GNT1(1)

GTN2(2)

GNT3(3)

Figura 5 – Imagem das mantas geotêxteis não tecidas estudadas Nota: (1)GNT1: nãotecida de 250 g/m²; (2)GNT2: nãotecida de 300 g/m²; (3)GNT3: nãotecida de 600 g/m².

GEOSSINTÉTICOS UTILIZADOS

GT1(4)

GT2(5)

Figura 6 – Imagem das mantas geotêxteis tecidas estudadas Nota: (4)GT1: tecida de 130 g/m²; (5)GT2: tecida de 280 g/m².

por objetivo avaliar o desaguamento de lodo de ETA em LD usando diferentes geotêxteis encontrados no mercado nacional.

ENSAIOS DE DESAGUAMENTO Foram realizados sete ensaios de desaguamento de lodo de ETA, cada um com 20 litros de lodo aplicados em protótipo de leito de drenagem esquematizado na Figura 2. Para realização dos ensaios de desaguamento foram coletadas amostras de lodo na Estação de Tratamento de Água da cidade de São Carlos (SP). A Figura 3 apresenta o protótipo de Leito de Drenagem utilizado nos ensaios. Antes do início de cada ensaio foram coletadas amostras do lodo bruto para verificar o teor e a con30 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

centração de sólidos iniciais e sua taxa de aplicação de sólidos. Durante a realização dos ensaios foi medida a redução de volume do lodo desaguado em intervalos de 1 min, 10 min, 30 min, 60 min e cada 60 min (1 hora) até finalizar a drenagem. Também foram coletadas amostras do líquido drenado para verificar a qualidade (cor, turbidez e pH) na primeira hora (1 min, 10 min, 30 min e 60 min), sendo que estas amostras retiradas serviram para medir a qualidade do drenado e também a vazão de drenagem. Os ensaios tiveram duração de 120 minutos (fim da fase de drenagem), e durante todo o processo de drenagem o protótipo de LD esteve em local coberto e, portanto, fora da influência das variáveis climáticas.

Nos ensaios foram utilizadas três geotêxteis nãotecidos, dois geotêxteis tecidos e duas composições de geotêxteis tecidos + nãotecidos. A Tabela 1 apresenta as propriedades características dos geotêxteis utilizados nos ensaios. Foram adotadas nomenclaturas para as diferentes mantas geotêxtil aplicadas, nas quais GNT significa geotêxtil nãotecido e GT, geotêxtil tecido. A Figura 5 apresenta os geotêxteis nãotecidos e tecidos estudados.

RESULTADOS Na Tabela 2 constam os geotêxteis utilizados nos ensaios de desaguamento, bem como os respectivos Teores de Sólidos Totais em % (%ST) e TAS (Taxa de Aplicação de Sólidos) em kg/m² de cada um dos ensaios realizados, além dos resultados obtidos para a porcentagem de redução de volume do lodo e para a cor e turbidez do líquido drenado. O pH do líquido drenado permaneceu entre 6 e 7 ao longo de todas as coletas realizadas, sendo assim caracterizado um pH neutro. A Figura 5 apresenta o gráfico da variação de cor e turbidez das amostras de drenado ao longo do tempo.


Tabela 2 – Parâmetros medidos durante os ensaios % redução TAS de volume (kg/m²) (120 min)

Manta

%ST

GNT 1

1,32

2,11

GNT 2

3,07

GNT 3

Cor (pcto)

Turbidez (NTU)

1 min

10 min

30 min

60 min

1 min

10 min

30 min

60 min

70,89

1310

1450

1000

620

182

252

137

60

5,01

63,20

640

310

145

42

108

34

12

3

2,50

4,08

58,25

562

405

154

86

59,9

39,5

11,8

1,6

GT 1

2,46

4,00

54,63

2000

463

319

196

5140

66

33

18

GT 1 + GNT 3

1,27

2,06

62,50

758

576

296

66

130

72

31

6

GT 2

1,69

2,74

63,00

526

495

208

60

80,9

51,2

20,2

4,9

GT 2 + GNT 1

2,12

3,45

67,30

872

718

335

127

132

97

39

13

Figura 7 – Gráfico da cor em função do tempo

Figura 8 – Gráfico da turbidez em função do tempo (1)

(1)Nota: Para melhor visualização e comparação dos resultados excluiu-se o ponto correspondente ao primeiro minuto (5140 NTU) da manta GT1 (geotêxtil tecida de 130 g/m²).

As Figuras 7 e 8 apresentam os gráficos da variação de cor e turbidez das amostras de drenado ao longo do tempo. Analisando-se os dados da Tabela 2 percebe-se que alguns geotêxteis foram mais eficazes que outros na redução de volume do lodo e na retenção de partículas do lodo, refletindo diretamente na qualidade do líquido drenado obtido. O geotêxtil nãotecido de 300 g/m² (GNT 2) alcançou porcentagem de redução de lodo aos 120 minutos de ensaio de 63,20% e alguns dos melhores resultados para a qualidade do líquido drenado: cor de 42 mgPt/l e turbidez de 3 NTU aos 120 minutos de ensaio. O geotêxtil tecido de 280 g/m² (GT 2) atingiu valores próximos aos da manta nãotecida de 300 g/ m²: 63,00% de porcentagem de re31 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

dução de volume do lodo, cor de 60 MgPt/l e turbidez de 4,9 NTU. Além destas, a composição das mantas geotêxteis tecida de 130 g/m² e nãotecida de 600 g/m² (GT 1 + GNT 3) também apresentou resultados comparáveis às mantas anteriormente citadas. Comparando com os resultados obtidos por Barroso et al. (2014) e Achon et al. (2008), usando a gramatura de 600 g/m² a manta GNT3 apresentou valores de turbidez bem parecidos 1,6 NTU, porém a redução de volume de 58,25% foi inferior a praticamente todos os geotêxteis estudados, com exceção apenas da GT1.

CONCLUSÕES Os geotêxteis que apresentaram melhores resultados de redução de volume de lodo e qualidade do

líquido drenado foram os nãotecidos de 300 g/m² (GNT2), tecido de 280 g/m² (GT2) e composição entre geotêxteis tecidos de 130 g/ m² e nãotecidos de 600 g/m² (GT 1 + GNT 3), sendo que estes também foram os únicos cujos drenados poderiam se enquadram em corpos d’água de classe II, com cor abaixo de 75 mgPt/L, de acordo com a Resolução n°357/2005 do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente). Dentre estas três, destaca-se o geotêxtil nãotecido de 300 g/m² (GNT2) devido ao seu melhor desempenho mostrado ao longo deste estudo, que demonstra além da aplicabilidade dos geotêxteis no desaguamento e redução de volume de resíduos, como o lodo gerado em Estações de Tratamento de Água, a influência do


tipo e características de cada manta usada neste sistema, incluindo a possibilidade de composições.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ACHON, C.L.; BARROSO, M. M; CORDEIRO, J.S. (2008). Leito de Drenagem: sistema natural para redução de volume de lodo de estação de tratamento de água. Revista Engenharia Sanitária e ambiental. ABES, Rio de Janeiro. Vol. 13 – Nº 1 – jan/mar 2008, 54-62p. <http://dx.doi.org/10.1590/S141341522008000100008> BARROSO, M.M., ACHON, C.L., REIS, R.F.; CORDEIRO, J.S. (2014). Drainage Bed: A Natural System for WTP Sludge Dewatering and Drying with Different Coagulant Chemicals in Tropical Countries. Journal of Water Resourceand Protection, 6, 10291036. <http://dx.doi.org/10.4236/ jwarp.2014.611097> BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA. Resolução n°

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357 de 17 de março de 2005. Dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências. Brasília, DF, 2005.

CORDEIRO, J.S. (2001) Processamento de lodos de Estações de Tratamento de Água (ETAs). In.: ANDREOLI, C.V. et al. Resíduos sólidos do saneamento: Processamento, reciclagem e disposição final. Rio de Janeiro: ABES, Projeto PROSAB.

Amanda Duarte Escobal é estudante de Engenharia Civil na Universidade Federal de São Carlos. Autora da Iniciação Científica: “Desaguamento de Lodo de ETA em Leito de Drenagem: sistema natural aberto com uso de manta geotêxtil” - amandadescobal@hotmail.com Cali Laguna Achon é engenheira civil, doutora em Engenharia Hidráulica e Saneamento pela EESC/USP (Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo), professora do Departamento de Engenharia Civil do DECiv/UFSCar (Departamento de Engenharia Civil da Universidade Federal de São Carlos) - caliachon@ufscar.br

A seção “Espaço Aberto” é uma parceria da revista Fundações & Obras Geotécnicas com associações, grupos do setor e universidades que publicam nesse espaço conteúdo técnico de interesse do público-alvo da revista. Neste mês o espaço é destinado para a abordagem do tema “Geossintéticos”, com a coordenação e revisão técnica do engenheiro civil, docente na UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), Fernando H. M. Portelinha.


33 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


NOTÍCIA

GEO ACADEMY DEMOCRATIZA CONHECIMENTOS SOBRE APLICAÇÃO DOS GEOSSINTÉTICOS A plataforma gratuita aborda questões práticas e teóricas relacionadas às fases de projeto, seleção, especificação e aplicação destes materiais

Fotos: Arquivo Geo Soluções

Por Dellana Wolney

Apresentação da Geo Academy no COBRAMSEG 2016

Por meio de uma iniciativa da empresa Geo Soluções – Strata Company foi lançada no COBRAMSEG 2016 (Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica) uma plataforma digital gratuita que reúne conteúdos técnicos e apresenta o que há de mais atual nas aplicações de geossintéticos, por meio de curtas e objetivas videoaulas. A Geo Academy, como é chamada a plataforma, nasceu da colaboração de vários profissionais do Brasil e do mundo, sem qualquer viés comercial. A ideia é disseminar e democratizar o conhecimento sobre as várias aplicações dos geossintéticos, abordando desde a fase de projeto até detalhes da etapa de instalação do material, que desde o século passado está em pleno desenvolvimento no mercado. Apesar da vasta utilização, para muitos engenheiros os geossintéticos ainda são uma incógnita e mesmo os especialistas esbarram na dificuldade de manter-­ 34 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

se atualizado sobre as novidades relacionadas ao produto e suas aplicações. De acordo com o gerente da área de projetos da Geo Soluções – Strata Company e professor da USP (Universidade de São Paulo), José Orlando Avesani Neto, com a criação de algumas necessidades, assim por meio de estudos e pesquisas, foi identificado que a maioria das universidades de engenharia ao redor do mundo não cita os geossintéticos e suas aplicações em cursos de graduação. “Os engenheiros costumam sair da faculdade seguros em lidar com materiais vistos nas disciplinas, como concreto, aço e solo, mas sem noção alguma dos geossintéticos. Isso gera um desconforto desses profissionais em relação a esse material, até então desconhecido em suas obras e projetos. A Geo Academy tem o intuito de aliviar essa questão, pois a finalidade é ser um local onde os profissionais, estudantes e


Utilização de geossintéticos 35 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


Ilustrações usadas nas aulas da Geo Academy

usuários poderão encontrar informações úteis, adequadas e consistentes”, explica.

ESTÍMULO A Geo Academy surgiu para ser uma plataforma colaborativa, semelhante ao sistema Wikipédia, por isso as contribuições de acadêmicos, professores e pesquisadores, profissionais da área e estudantes são bem-vindas para o seu crescimento, que hoje já conta com o reforço de profissionais da Geo Soluções em seu conteúdo, da Poli-USP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo), da EESC-USP (Escola de Engenharia de São Carlos da USP) e da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte). Avesani conta que a ideia foi construir uma plataforma que fosse possível ser adaptada ao nível de conhecimento 36 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

do usuário e que pudesse entregar o valor agregado que imaginava. “Nossa inspiração começou com base no conceito de ‘Criação de Valor Compartilhado’, idealizado pelo professor da Universidade Harvard, Michael Porter. Entendemos que a disponibilização de informações sobre geossintéticos pela Geo Academy possa auxiliar no crescimento do mercado e em cada um dos participantes desta cadeia”. Estruturalmente, a plataforma tem um formato modular, dividida por áreas de aplicação (como muros, taludes reforçados ou suporte de cargas). É possível encontrar aulas em lousas virtuais (sem exposição direta do interlocutor) com textos técnicos, que propiciam elevado nível de benefício para todos os interessados nestes materiais, independentemente do seu grau de conhecimento prévio (de estudantes a consultores especializados).


Ilustrações usadas nas aulas da Geo Academy

São aceitos na Geo Academy todos os materiais relativos a geossintéticos e suas aplicações. Os arquivos podem ser enviados como vídeos em lousa virtual, textos técnicos, casos de aplicações, resultados de ensaios, teses e dissertações dentre outros materiais que venham a acrescentar para o universo técnico-­ acadêmico dos geossintéticos. Os materiais são permitidos desde que tenham seu conteúdo livre de qualquer citação de marcas próprias e possuam qualidade técnica (sem erros conceituais). O professor da USP, José Orlando Avesani Neto esclarece que uma comissão está sendo criada para fazer essa regulamentação da qualidade técnica das contribuições e do filtro comercial. A coordenadora de marketing da Geo Soluções – Strata 37 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Company, Carolina Carvalho ainda enfatiza que a Geo Academy também pode ser acessada facilmente no celular, por meio do aplicativo de mesmo nome, disponível em versões para Android e IOS. “O objetivo deste aplicativo é permitir o rápido acesso ao conteúdo em qualquer lugar em que o usuário esteja, ou seja, se há uma dúvida sobre instalação de um geossintético no local da obra, por exemplo, no ato, o engenheiro pode acessar a Geo Academy e buscar o conteú­ do que vai sanar suas questões”, informa.

Para conhecer os conteúdos já disponibilizados na plataforma acesse: http://geoacademy.com.br/


NOTÍCIA

OS DESAFIOS DA GESTÃO DE PESSOAS NA ENGENHARIA CIVIL Saiba como funciona o trabalho de um coach e o que é importante para ser um bom líder de equipes de trabalho

Um dos grandes obstáculos atualmente na construção civil é a gestão de pessoas. A maioria dos engenheiros civis recém-formados costuma iniciar a sua carreira em canteiros de obras, porém a experiência é rápida, causando uma rotatividade frequente destes profissionais. Além disso, muitos optam posteriormente por posições em escritórios ou até mesmo em outras áreas, o que impacta diretamente o setor. A gestão adequada, feita por profissionais capacitados, visa reter os seus engenheiros, priorizando não só bons salários, como também fatores como plano de carreira, empregabilidade, política de gestão de pessoas, ambiente de trabalho e outros benefícios. O processo de recrutamento destes profissionais da construção civil também se tornou uma prioridade, baseando-­ se nos valores da empresa e nas necessidades do mercado. “Percebemos certa rotatividade em vários setores da economia, nos cargos operacionais principalmente. A preocupação da empresa na retenção dos profissionais é primordial para que se trabalhe benefícios condizentes, alojamentos com infraestrutura adequada e suporte constante na identificação de outras necessidades, tendo em vista a distância dos centros”, destaca a VP Executive Search da empresa Thomas Case & Associados, Fátima Trindade. 38 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Fotos: Ilustrações Freepik

Por Dellana Wolney

A gestão de pessoas é um dos grandes obstáculos atualmente na construção civil

Ela acrescenta que toda gestão requer muita proximidade dos profissionais para ouvir e entender as demandas, cuidar do emocional e ter apoio constante, mesmo que não solicitado. No caso do setor de construção, a maior parte das obras é desenvolvida em regiões distantes dos centros urbanos, sujeitas a

todo tipo de situações adversas. “Devemos incentivar atitudes como a tomada de decisões com visão estratégica para o negócio, priorizando inclusive parcerias locais, bom relacionamento, assertividade e iniciativa, já que a distância das decisões na matriz pode criar problemas de comunicação”.


Essa questão influencia até mesmo o processo de recrutamento, pois o ponto crucial e primário é entender a mobilidade do profissional. “Sabemos que as obras são pontuais e, assim que terminadas, o colaborador é designado para outra obra com perfil assemelhado às suas competências, esteja ela em qual localidade estiver. Portanto, este é o principal ponto de atenção. Neste cenário, é necessário entender a composição familiar, relacional, para que o profissional possa se locomover para os diversos locais sem criar desentendimentos”, afirma Trindade.

AUXÍLIO Muitas empresas também têm recorrido ao coaching para melhorar a gestão de pessoas. Denominado como “coach”, este profissional tem por atividade principal contribuir para o desenvolvimento profissional e pessoal de seu cliente, potencializando habilidades em determinada área ou situação. O desafio é entender o momento que a empresa ou pessoa está passando e, por meio de metodologias, desenvolver competências para que consiga traçar objetivos e metas. O gerente de planejamento financeiro e TI da empresa DOX Planejamento, Gestão e Desenvolvimento Imobiliário, Alexandre Abdala salienta que o universo de aplicações de um coach é bastante extenso, inclusive no que é pertinente à gestão e liderança de pessoas. “Basicamente este profissional também atua no desenvolvimento e reconhecimento dos talentos dos colaboradores, gestores e líderes, com uso de metodologias que apontam e direcionam comportamentos e atitudes”, descreve. Para o coach e diretor da empresa Marca Pessoal Treinamentos Aristides Brito, o engenheiro geralmente é um profissional que já possui características importantes para o desenvolvimento de carreira, como a organização e a disciplina, então o coach utiliza essas características para estabelecer metas mais reais e trabalhar para que o cliente possa atingi-las. “Muitas vezes esse profissional foca na empresa onde trabalha e esquece-se da sua carreira e vida pessoal, então o papel do coach é 39 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Toda gestão requer muita proximidade dos profissionais para ouvir e entender as demandas, cuidar do emocional e ter apoio constante

estabelecer esse cenário trabalhando valores e visão”, comenta. Por meio de sua experiência na área, ele enfatiza que uma das peculiaridades dos profissionais de engenharia é o comprometimento, que em geral são mais intensos do que em outras áreas. “O engenheiro é mais competitivo do que muitas outras profissões, e por trabalhar a área de exatas, normalmente deixam um pouco de lado a formação das atitudes e focam mais nas habilidades, fazendo diversos cursos, muitas vezes com um foco muito bem definido”.

IMPORTÂNCIA DO GESTOR No canteiro de obras, o gestor de equipes possui uma participação expressiva na condução do empreendimento. Sua atuação se assemelha a um técnico esportivo ou um maestro que é responsável por liderar, motivar e organizar o trabalho dos funcionários. Sua função nem sempre é fácil, pois o desafio também está na prática

de coordenar pessoas que têm pensamentos, valores e experiências de vida diferentes. A meta principal é fazer com que toda a equipe tenha o mesmo objetivo e que cada um entenda sua importância. A falta de uma gestão adequada pode levar a equipe, num primeiro momento, a não atingir resultados esperados e posteriormente acarretar problemas maiores como falta de engajamento e insatisfação. Então, o gestor ao estimular boas práticas, promove qualidade aos serviços, reduz desperdícios, aumenta a segurança, diminui a rotatividade de profissionais e amplia a produtividade. A liderança de pessoas nessa área também é apresentada como um fator problemático, pois cursos para mestres, e até mesmo a faculdade de engenharia, se dedicam a ensinar aspectos técnicos e não temas pautados nas relações humanas, mas Brito diz que há bons treinamentos de liderança no mercado e quem se dispõe a fazê-los dá um


impulso na carreira. Existem também formações de oratória que melhoram a comunicação, considerada um grave problema ainda enfrentado nos canteiros de obras. “O profissional que atua na construção civil em cargos de liderança, além das questões técnicas voltadas ao desenvolvimento da obra também, tem de lidar com fatores voltados ao controle de custos, prazos, qualidade, contratações, riscos e gestão de pessoas. Na formação destes profissionais, deveriam ser incluídas minimamente noções sobre administração, finanças e jurisprudência para que seja possível lidar de forma mais segura com esses assuntos. Obviamente que o objetivo não é tornar esse profissional um generalista, mas sim possibilitar que ele tenha o conhecimento mínimo para lidar com as questões do dia a dia”, alerta Abdala.

BOAS PRÁTICAS Algumas dicas de profissionais especializados podem tornar a liderança uma tarefa mais fácil. Segundo Abdala, o líder precisa saber se expressar de forma clara, bem como escutar sua equipe, se interessar pela organização como um todo e ter visão e pensamentos sistêmicos. É importante possuir um entendimento claro sobre o potencial e as limitações de todos com quem trabalha, para que possa estimular o desenvolvimento individual e coletivo da equipe, incentivando e dando suporte a todos. “Não basta apenas apresentar um problema e esperar a equipe resolvê-lo. É necessário que o líder esteja junto para encontrar a solução. Por fim, um líder inspirador precisa ter, além da capacidade de direcionar e influenciar positivamente comportamentos que potencializem resultados, a habilidade de despertar a admiração e vontade de seus colaboradores em segui-lo nos desafios. Disciplina, respeito e humildade são os pilares de qualquer liderança”, complementa. Para Brito há um triângulo equilátero, em que os três lados da liderança são igualmente importantes: coragem, clareza e humanidade. “Com esses três elementos um líder consegue conquistar seus resultados e fazer com que a equipe se torne unida para alcançar 40 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Uma das principais ações para a boa gestão é realizar periodicamente sessões de feedback em que as pessoas possam apresentar suas ideias e críticas

DICAS PARA UMA BOA GESTÃO: • Criação e aplicação de treinamentos na metodologia Lean Construction, que visa eliminar desperdícios dentro do canteiro de obras, não só relacionados a materiais, mas também à incorreta execução dos serviços por questões de falta de capacitação ou erros de interpretação; • Estimular a realização de workshops que atualizem esses profissionais sobre as novas tendências de mercado, despertando o interesse e viabilizando o aprendizado em tempo hábil para a adoção destas novas tecnologias construtivas; • Diminuir os ruídos de comunicação entre os grupos, realizando periodicamente sessões de feedback (360 graus seria o ideal), em que as pessoas possam apresentar suas ideias e críticas de forma séria sem sofrer represálias; • Realizar grupos de trabalho para desenvolver projetos a longo prazo. Isso dá uma perspectiva positiva para todos os envolvidos; • Desenvolver palestras com pessoas de outras empresas e de outros segmentos, apresentando cases para ilustrar que os problemas vividos por aquele grupo são comuns em outras empresas.

os objetivos do grupo. Por isso, ter uma boa comunicação para transmitir as ideias com clareza é fundamental, da mesma forma que a coragem para tomar decisões que nem sempre

vão agradar a todos e finalmente ter a consciência que está lidando com pessoas, então a humanidade para tratar com humildade os pares e toda a sua equipe”, pontua.


41 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


ARTIGO

COMPACTAÇÃO COMO MÉTODO DE MELHORIA DE SOLO COLAPSÍVEL Engª Ana Patrícia Aranha de Castro Engenheira civil e mestre em Engenharia Civil e Ambiental pelo Programa de Pós-Graduação na Faculdade de Engenharia de Bauru (SP) – UNESP (Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”) eng.anadecastro@hotmail.com Engo Fábio Visnadi Prado Soares Engenheiro civil e mestrando em Engenharia Civil e Ambiental pelo Programa de Pós-Graduação na Faculdade de Engenharia de Bauru (SP) – UNESP (Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”) fvps@hotmail.com Dr. Roger Augusto Rodrigues Professor doutor na Faculdade de Engenharia de Bauru (SP) – UNESP (Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”) roger_ar@feb.unesp.br

RESUMO O colapso dos solos é um dos principais problemas da geotecnia que afeta muitas edificações, ocasionando desde danos arquitetônicos até problemas estruturais. A proposta deste trabalho é analisar a compactação como método de melhoria de um solo colapsível arenoso. Ensaios edométricos simples e ensaios edométricos com controle de sucção compõem a parte experimental dessa investigação. Os resultados obtidos demonstraram que a compactação melhora as características do solo quanto ao colapso. Quando compactado com grau de compactação de 90%, o colapso mostrou-se desprezível. Tais achados permitem concluir que a compactação é um método de melhoria que reduz os problemas de colapso, desde que as premissas básicas relacionadas ao controle de compactação sejam obedecidas. Palavras-chave: Solo Colapsível; Compactação; Colapso.

INTRODUÇÃO O colapso dos solos representa um dos principais problemas cotidianos da geotecnia. A grande disseminação de so42 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

los com este comportamento torna a compreensão do problema imprescindível para redução dos impactos negativos ocasionados pela sua ocorrência. Solos colapsíveis constituem uma categoria de solos não saturados que se caracterizam por experimentar deformações quando umedecidos, isto é, colapso, sem que haja variação significativa das sobrecargas atuantes. Estes solos apresentam uma estrutura que se mantém estável graças a algum agente capaz de conferir uma resistência adicional ao solo. Reconhece-se que a sucção é um dos principais agentes capazes de conferir uma resistência adicional aos solos não saturados e cuja redução, durante o umedecimento, pode dar origem a deformações em solos com predisposição ao colapso (VILAR e RODRIGUES, 2008). Estes solos apresentam algumas características que os predispõem ao colapso, tais como: uma estrutura porosa e baixa umidade (DUDLEY,1970). Em todo o mundo, registros de ocorrência indicam que muitos solos colapsíveis são procedentes de depósitos residuais (BRINK e KANTEY, 1961), coluvionares (HOLTZ, 1961), eólicos (JENNINGS e KNIGHT, 1957), aluviais (DUDLEY, 1970) e, ainda, de aterros deficientemente compactados (NUÑES, 1975; BOOTH, 1975; VILAR e GAIOTO, 1994). O colapso pode ser responsável por recalques em obras civis, ocasionando desde pequenos danos, tais como: o aparecimento de pequenas trincas em paredes ou danos de maior magnitude como ruína parcial de paredes, pisos e instalações hidráulicas e rupturas de elementos estruturais de concreto. Apesar de considerar que as perdas decorrentes da colapsibilidade dos solos tenham um caráter eminentemente econômico, sua quantificação, caso efetuada, proporcionaria resultados surpreendentes, dada a grande disseminação do problema. No entanto, o colapso dos solos é um tipo de problema passível de prevenção, desde que sejam aplicados procedimentos adequados que permitam sua identificação e a adoção de soluções de engenharia. A compactação é um método de melhoria que aumenta a resistência ao cisalhamento e diminui a compressibilidade do solo. Todavia, a construção de um aterro sem os devidos cuidados de compactação pode comprometer a obra. A construção de aterros mal compactados pode ocasionar, ao maciço, deformações significativas por colapso quando solicitados e umedecidos. Portanto, o controle de compactação é fundamental para promover ao solo compactado uma rigidez suficiente para suportar cargas sob efeito de va-


Figura 1 – Solos colapsíveis estudados no Brasil (modificado de FERREIRA et al., 1989)

riações sazonais e inundações devido à ruptura de tubulações de água ou esgoto, ou ainda, devido à falha em sistemas de drenagem. Este artigo trata sobre o uso da compactação como método de melhoria de um solo arenoso colapsível típico da região central do Estado de São Paulo. Ensaios edométricos simples e ensaios edométricos com controle de sucção foram realizados em amostras de solo natural e compactado em diferentes graus de compactação e desvios de umidade.

1 IDENTIFICAÇÃO DO COLAPSO DOS SOLOS Os solos colapsíveis cobrem grande parte do território nacional, sobretudo nas regiões Centro-Sul e Nordeste do País. Na Figura 1, são mostrados os locais de ocorrência de solos colapsíveis estudados no Brasil. A maioria dos estudos laboratoriais acerca dos solos colapsíveis recorre-se à realização dos ensaios edométricos simples e duplos propostos por Jennings e Knight (1975). Os ensaios edométricos simples correspondem aos que são inundados em uma determinada carga de interesse e os ensaios edométricos duplos correspondem aos ensaios gêmeos, em que dois corpos de prova, um não saturado e outro previamente inundado, são ensaiados simultaneamente e comparados (Figura 2). Jennings e Knight (1975) sugerem o uso da Equação 01 para 43 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Figura 2 – Ensaios edométricos simples e duplos propostos por Jennings e Knight (1975) (modificado de RODRIGUES, 2007)


o cálculo da deformação provocada pela inundação do solo, chamada pelos autores de potencial de colapso (PC).

Equação 1 Em que, Δe é a variação do índice de vazios devido à inundação, ei é o índice de vazios do solo correspondente à tensão em que se realizou a inundação; ΔH é a variação da altura do corpo de prova devido à inundação e Hi é a altura do corpo de prova correspondente à tensão em que se realizou a inundação. Técnicas mais modernas para realização desses ensaios com possibilidade do controle da sucção estão disponíveis, as quais permitem uma descrição mais detalhada da ocorrência e do desenvolvimento do colapso. Exemplo disso é a técnica de translação de eixos muito aplicada aos solos colapsíveis (MACHADO, 1995; SURIOL et al., 1998). A sucção é uma pressão isotrópica na água intersticial que é originada da interação ar-água-sólidos e depende basicamente da composição mineralógica, da densidade, da distribuição dos poros e do conteúdo de água do solo. A ocorrência da sucção no solo causa um aumento da pressão de contato entre as partículas sólidas que afeta o comportamento do solo, aumentando a resistência ao cisalhamento e reduzindo a compressibilidade dos solos. Na Figura 3 é ilustrado um esquema da câmara edométrica para ensaio com controle da sucção. Nestas câmaras, a parte superior é composta por uma pedra porosa comum e na parte inferior por uma pedra porosa de alto valor de entrada de ar. Na parte superior do edômetro há uma válvula que permite a entrada de ar pressurizado, possibilitando o controle da sucção do interior da câmara, por meio da técnica de translação de eixos. Na parte inferior há outra válvula que permite a drenagem da água excedente. O esquema do edômetro com controle de sucção é apresentado na Figura 3.

Figura 3 – Edômetro para ensaio com controle da sucção (modificado de MACHADO, 1995) 44 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Ensaios de campo com procedimentos muitas vezes semelhantes aos de laboratório também têm sido realizados. Estes consistem de provas de carga em estaca à compressão (MELLIOS, 1985), em estaca à tração (CARVALHO e SOUZA, 1990), em estaca com carga horizontal (MIGUEL, 1996), tubulão a céu aberto (CARNEIRO, 1999), ensaio de cone (FERREIRA et al., 1989), protótipo de sapata corrida (SOUZA, 1993) e provas de carga especialmente projetadas para medir o fenômeno, como o expanso-consolidômetro de Ferreira (1993).

2 USO DA COMPACTAÇÃO NO ESTUDO DE SOLOS COLAPSÍVEIS A compactação é um dos procedimentos mais comuns de melhoria do solo e baseia-se inicialmente na determinação da umidade ótima e da massa específica seca máxima do solo em laboratório. A execução correta da compactação em campo é fator decisivo para o bom desempenho do comportamento do solo. O uso da compactação como melhoria no solo de fundação reduz significativamente a possibilidade de colapsos por inundação (SOUZA et al., 1995). Esta alternativa trata da remoção da camada do solo de fundação e sua compactação nos valores de grau de compactação e umidade ótima que são estabelecidos por meio do ensaio Proctor Normal. Tal alternativa, entretanto, é viável para fundações diretas e superficiais. O uso de aditivos na compactação como solo-cimento (PITTA, 1984), solo cal (GEORGE, 1968) e solo fibra (TEODORO, 1999) são alternativas utilizadas para melhoria de solos, porém o custo elevado destas soluções inviabiliza o uso desses métodos para melhoria de solos colapsíveis, uma vez que a compactação sem o uso desses aditivos já é suficiente para reduzir a colapsibilidade dos solos, evidentemente quando realizada de forma correta. Na literatura científica são encontrados diversos trabalhos desenvolvidos em laboratório que tratam de estudos da colapsibilidade com solos compactados. No entanto, poucos trabalhos abordam o uso do processo de compactação como método de melhoria dos solos colapsíveis visando reduzir o colapso dos solos. Destes, destacam-se os trabalhos de Booth (1975) e Vilar (1996). Booth (1975) investigou a compactação como alternativa para reduzir os efeitos da colapsibilidade de três solos residuais por meio de ensaios edométricos. O autor relacionou o potencial de colapso dos solos com o grau de compactação e a umidade inicial antes da inundação e constatou que quanto maior a massa específica seca, menor é o potencial de colapso dos solos. Vilar (1996) realizou ensaios edométricos simples e duplos e ensaios edométricos com controle de sucção, utilizando três solos compactados com diferentes umidades e massas específicas secas. Dois dos solos constituem-se de amostras do sedimento cenozoico da cidade de São Carlos-SP, localizada na região centro-oeste do Estado de São Paulo. O outro solo é produto de um sedimento argiloso proveniente da região de Madri, na Espanha. O autor constatou a influência da sobrecarga da massa específica


seca e da umidade de compactação no colapso dos solos estudados. Os solos menos densos e mais secos em relação à umidade ótima mostraram-se mais colapsíveis. As amostras com GC (Grau de Compactação) de 84% e 78% foram as mais afetadas pelo umedecimento. Para as amostras mais secas houve uma tendência de crescimento do colapso com o aumento das sobrecargas, enquanto que na umidade ótima os colapsos foram maiores nas mais baixas sobrecargas, atingindo um máximo e decrescendo com o aumento da sobrecarga.

3 CARACTERÍSTICAS DO SOLO ESTUDADO O solo estudado está localizado na cidade de Bauru (SP), distante 320 km da capital paulista. O solo é composto por uma areia fina pouco argilosa de compacidade fofa e coloração predominante marrom avermelhado. Do ponto de vista geológico, a área ocupada pelo município pertence à Bacia Sedimentar do Paraná, e está inserida no Planalto Arenítico-Basáltico do Estado de São Paulo, Planalto Ocidental, onde o quadro geológico regional é dominado por rochas do Grupo Bauru (Cretáceo Superior), recobrindo as rochas vulcânicas da Formação Serra Geral que afloram em direção ao vale do Rio Tietê. As principais características do solo estudado de acordo com Fagundes (2014) são: massa específica dos sólidos, ρs = 2,649 g/cm3, fração argilosa = 14%, fração siltosa = 6% e fração arenosa = 80%, limite de liquidez, LL = 15%, massa específica seca máxima, ρdmax = 1,950 g/cm3 e umidade ótima, wot = 10,6% do ensaio de compactação Proctor Normal (Figura 4). Em condições naturais a 1,5 m de profundidade, o solo apresenta: massa específica, ρ = 1,59 g/cm3, massa específica seca, ρd = 1,51 g/cm3, umidade, w = 5,5%, índice de vazios, e = 0,757, porosidade, n = 43% e grau de saturação, Sr = 19,3%, onde os valores de umidade e grau saturação são correspondentes ao período da coleta das amostras utilizadas nesta caracterização. O solo é classificado como SC (grupo das areias argilosas) pelo SUCS (Sistema Unificado de Classificação dos Solos) e como LA’ (arenoso de comportamento laterítico) pela classificação

Figura 4 – Curva de compactação do ensaio de Proctor Normal (Fagundes, 2014) 45 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

MCT de Nogami e Villibor (1981). Em condições naturais, o solo possui elevada porosidade e baixo grau de saturação. O clima da região pode ser classificado como tropical de altitude ou subtropical de inverno seco. O solo da região está sujeito a mudanças sazonais de umidade e sucção devido a ciclos de umedecimento e secagem, conforme ilustrado na Figura 5.

4 MATERIAIS E MÉTODOS Os ensaios edométricos realizados neste trabalho foram divididos em duas etapas. Na primeira etapa foram realizados ensaios com controle de sucção com amostras de solo natural (indeformado). O controle da sucção foi realizado por meio da técnica de translação de eixos de Hilf (1956). A técnica consiste na mudança do referencial de pressão com o aumento da pressão de ar que existe nos espaços intergranulares do solo.

Figura 5 – Perfis de umidade e medidas de sucção no solo e precipitação ao longo do tempo (CASTRO et al., 2015)


A

A

B

B

A

Os ensaios desta primeira etapa foram realizados de duas formas diferentes. Uma forma foi aplicando-se trajetória de carregamento-descarregamento com umidade constante, isto é, como sucção constante, onde as sucções aplicadas foram 0, 50, 100, 200 e 400 kPa. A outra forma foi com inundação ou redução de sucção em uma determinada tensão para induzir o colapso. Nesses ensaios, trajetórias de carregamento e de umedecimento gradual dos corpos Figura 6 – (a) Montagem do edômetro com controle de sucção e (b) corpo de prova ao final do ensaio de prova foram aplicadas. A sucção inicial imposta às amostras antes do colapso foi 100 kPa e as tensões de inundação foram 60, 120, 240 e 475 kPa. A Figura 6 ilustra: (a) montagem do edômetro que permite a imposição e o controle de sucção e (b) o corpo de prova ao final do ensaio. Na segunda etapa, com o propósito de avaliar a eficiência da compactação como método de melhoria do solo, foram realizados ensaios edométricos simples, isto é, com inundação em um determinado estágio de carga previamente definido e sem controle de sucção. As umidades moldadas dos corpos de prova foram de 4,5% (Δw = -6,1%), 6,5% (Δw = -4,1%), 8,5% (Δw = -2,1%), 10,6% (Δw = 0%) e 12,5% (Δw = 1,9%), enquanto as massas específicas secas foram 1,502 g/cm3 (GC = 77%), 1,560 g/cm3 (GC = 80%), 1,658 g/cm3 (GC = 85%), 1,755 g/cm3 (GC

Figura 7 – Montagem do edômetro convencional 46 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


Figura 8 – Curvas de ensaios edométricos com sucção controlada (sucção constante)

Figura 9 – Curvas de ensaios edométricos com sucção controlada (sucção inicial de 100 kPa e inundação nas tensões de 60, 120, 240 e 475 kPa)

= 90). A Figura 7 ilustra a montagem do equipamento utilizado nessa segunda etapa. Na segunda etapa, a tensão escolhida para inundação do solo foi 100 kPa, valor que é representativo dos carregamentos das fundações das edificações de pequeno porte da região. Esta tensão também é compatível com as tensões geoestáticas médias existentes a cerca de 7 m ou 8 m de profundidade, valor que delimita as camadas colapsíveis mais espessas encontradas na região.

tras indeformadas com umidade constante ou sucção constante. Os gráficos relacionam o logaritmo da tensão vertical líquida (s – ua) com o índice de vazios (e). Os resultados apresentados mostram a influência da sucção (ou da umidade) no comportamento do solo. Corpos de prova submetidos a sucções mais elevadas (menores umidades) apresentam tensões de pré-adensamento também mais elevadas, assim como mudanças na inclinação da reta virgem de compressão do solo. Quanto maior a sucção, menor é a deformação causada pelos carregamentos nos ensaios, ou seja, quanto menor a umidade, mais rígido o solo se torna. Na Figura 9 são mostrados resultados dos ensaios edométricos com sucção controlada com indução de colapso por umedecimento. É possível observar que a magnitude das deformações pelo umedecimento depende da tensão de inundação. Na Figura 9, a descontinuidade vertical das curvas, representada pela variação do índice de vazios sem variações significativas das tensões aplicadas, reflete o colapso das amostras. Para a sucção de 100 kPa ensaiada há uma tendência de crescimento dos PC (Potenciais de Colapso) com o aumento das sobrecargas. Após atingir um máximo, as deformações por umedecimento mantiveram-se constantes com o aumento das sobrecargas, dentro da faixa de tensões ensaiadas (Tabela 1).

5 RESULTADOS E ANÁLISES 5.1 Etapa 1: Ensaios com Solo Natural, Indeformado Na Figura 8 são apresentados resultados dos ensaios edométricos com sucção controlada realizados em amosTabela 1 – Potenciais de colapso para cada tensão de inundação σ – UA (kPa)

PC (%)

60

3,8

120

5,2

240

5,5

475

5,1

Tabela 2 – Potenciais de colapso obtidos para cada ensaio com amostra compactada Δw = -6,1 %

Δw = -4,1 %

Δw = -2,1 %

Δw = 0 %

Δw = 1,9 %

GC (%)

PC (%)

GC (%)

PC (%)

GC (%)

PC (%)

GC (%)

PC (%)

GC (%)

PC (%)

77

10,8

77

5,2

77

5,2

77

3,1

77

3,5

80

6,3

80

2,7

80

3,9

80

2,4

80

1,9

85

1,9

85

0,4

85

0,7

85

0,9

85

1,2

90

0,5

90

0,2

90

0,3

90

0,2

90

0,4

47 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


Figura 10 – Curvas dos ensaios edométricos com solos compactados inundados a 100 kPa

5.2 Etapa 2: Ensaios com Solo Compactado Na Figura 10, os resultados dos ensaios desta etapa são apresentados em logaritmo da tensão vertical (s) versus índice de vazios (e). Na Tabela 2, os potenciais de colapso resultantes da inundação a 100 kPa são apresentados. 48 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Com base nos resultados é possível verificar que os potenciais de colapso são mais elevados para os solos mais secos e menos densos. Os colapsos decrescem com o aumento do grau de compactação. Ao considerar o desvio de umidade de Δw de -6,1% (w = 4,5%), por exemplo, verifica-se


Figura 11 – Curvas PC versus GC para as umidades testadas de 4,5% (Δw = -6,1%), 6,5% (Δw = -4,1%), 8,5% (Δw = -2,1%), 10,6% (Δw = 0%) e 12,5% (Δw = 1,9%)

Figura 12 – Linhas de potencial de colapso no plano grau de compactação e desvio de umidade da curva de compactação Proctor Normal

que o corpo de prova compactado com GC de 77% (ρd = 1,502 g/cm3) apresentou potencial de colapso de 10,8%, enquanto o corpo de prova compactado com GC de 90% (ρd = 1,755 g/cm3) apresentou potencial de colapso de 0,5%. Os corpos de prova ensaiados com este desvio de umidade mostraram-se ainda pouco compressíveis, anteriormente à inundação, devido à elevada rigidez do solo causada pela baixa umidade (ou elevada sucção) que impede o surgimento de deformações significativas durante esta fase do ensaio. É evidente que a redução do colapso está associada ao aumento do grau de compactação do solo. Para GC de 90% a 49 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

deformação por umedecimento foi menor ou igual a 0,5% para todas as umidades de compactação testadas, o que demonstra o benefício da densificação do solo para redução do colapso. Resultados semelhantes foram obtidos por Ferreira e Monteiro (1985) para um solo arenoso coluvionar da região noroeste do Estado de São Paulo em amostras preparadas com umidade idêntica à umidade de campo e inundada com sobrecarga de 160 kPa. Estes autores verificaram que as deformações decrescem com o aumento do grau de compactação, sendo desprezíveis para graus de compactação superiores a 90%. A mesma constatação foi obtida por Vilar e Rodrigues (2015) ao analisarem a colapsibilidade de diversos solos naturais e compactados do Brasil e de outros países do mundo. Na Figura 10, ainda é possível observar que o índice de vazios inicial (eo ≈ 0,5) do solo com GC de 90% é inferior ao índice de vazios final do solo após o colapso para todos os corpos de prova compactados abaixo de 90%, independentemente da umidade de compactação. Este aspecto da variação volumétrica e do índice de vazios do solo demonstra que o GC de 90% já é suficiente para reduzir as deformações por colapso a um nível que pode ser considerado desprezível, quando inundado a 100 kPa. Na Figura 11, os potenciais de colapso são relacionados com o grau de compactação. Na Figura 11, pode ser visto claramente que o colapso torna-se desprezível para as amostras compactadas com grau de compactação de 90%, independentemente da umidade do solo anterior à inundação e ao colapso. Quanto maior a umidade inicial do solo, menor é o colapso gerado pela inundação. Apesar desta tendência, os corpos de prova menos compactos e mais úmidos ainda se revelaram um pouco suscetíveis ao colapso, sofrendo pequenas deformações por umedecimento a 100 kPa. Uma constatação que contribui para este comportamento é o fato do solo úmido já sofrer deformações significativas com a aplicação da sobrecarga, restando pouca variação volumétrica decorrente do colapso pela inundação do solo, que já se encontra com elevada umidade inicial. Em relação às amostras compactadas no ramo seco e no ramo úmido da curva de compactação é importante ressaltar que a compactação no ramo seco tende a produzir uma estrutura floculada, enquanto no ramo úmido tem-se uma estrutura dispersa. A compactação no ramo seco promove a formação de agregados de partículas com elevada resistência ao cisalhamento. Consequentemente, são gerados grandes vazios preenchidos pelo ar nestas estruturas. Já no ramo úmido estes agregados se deformam facilmente durante a compactação, reduzindo a quantidade e o tamanho dos vazios, fato que pode explicar variações dos potenciais de colapso desses solos para os mesmos desvios de umidade. Uma alternativa para visualização do efeito da compactação é por meio das linhas de igual colapso, geradas por interpolação dos valores de potencial de colapso obtidos nos ensaios (Figura 12). Como ilustrado na Figura 12, verifica-se a tendência de que quanto mais deficiente é a compactação do solo e menor a umidade de compactação, maior é a magnitude das de-


formações pelo colapso do solo, ou seja, a gravidade do problema está associada aos solos menos densos e inicialmente mais secos. Dessa forma, compactar o solo próximo da umidade ótima e com o grau de compactação acima de 90% reduz significativamente a possibilidade de ocorrência de colapso sob inundação a 100 kPa. Por isso, a ocorrência do colapso neste solo está relacionada à má compactação, uma vez que, quando atendido os requisitos básicos no tocante ao controle de compactação do solo, a colapsibilidade do solo deixa de existir. Cabe ressaltar que estas afirmações são válidas para a tensão de inundação de 100 kPa, considerada representativa pelos autores. Convém destacar ainda que amostras densas, porém, mais secas, podem apresentar deformações por colapso com a sobrecarga. Neste sentido, para sobrecargas muito elevadas existe a perspectiva de que os colapsos possam atingir valores significativos mesmo para graus de compactação elevados.

CONCLUSÃO

O solo natural é colapsível e mostrou-se dependente da umidade (ou da sucção). O solo quando submetido a sucções mais elevadas apresentou um aumento das tensões de pré-adensamento, assim como mudanças na inclinação da reta virgem de compressão do solo. Em relação ao uso da compactação como método de melhoria do solo, demonstrou ser um método eficiente, pois os colapsos decrescem com o aumento do grau de compactação. Quando compactado com grau de compactação de 90%, as deformações por umedecimento mostraram-se desprezíveis para a sobrecarga de 100 kPa, independentemente da umidade de compactação. Dessa forma, as evidências constatadas permitem concluir que para reduzir os efeitos negativos da colapsibilidade, os conceitos básicos de compactação devem ser obedecidos, pois não são poucos os exemplos de construção de aterros por simples lançamento do solo ou por má compactação, seja por deficiência de densidade ou por deficiência ou excesso de umidade.

REFERÊNCIAS

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ARTIGO

QUALIDADE DE AMOSTRAGEM DE SOLO COMPRESSÍVEL D.Sc. Maria Esther Soares Marques Docente no IME (Instituto Militar de Engenharia) Rio de Janeiro (RJ) esther@ime.eb.br M.Sc. Lígia Azevedo Berbert Engenheira civil na empresa Prodec Consultoria para Decisão S/S Ltda., Rio de Janeiro (RJ) ligia.berbert@gmail.com M.Sc. André do Valle Abreu Engenheiro civil na empresa Iqs Engenharia Ltda., Rio de Janeiro (RJ) andre@iqsengenharia.com.br M.Sc. Guilherme Roberto Slongo Engenheiro civil, Rio de Janeiro (RJ) guilhermeslongo@gmail.com

RESUMO Neste artigo são discutidos vários aspectos da qualidade de amostras e apresentados resultados de ensaios realizados com um amostrador tipo Shelby em PVC (Policloreto de Polivinila). Embora o termo qualidade das amostras de solos compressíveis seja consagrado na comunidade geotécnica, neste conceito está também incluída a qualidade dos corpos de prova, uma vez que as causas do amolgamento do solo podem ter origem tanto na obtenção da amostra e seu transporte, como na moldagem e manuseio dos corpos de prova em laboratório, influenciando diretamente os resultados dos ensaios de laboratório. Por outro lado, ao se dimensionar os projetos de aterro sobre solos moles com base em resultados de ensaios executados em amostras de má qualidade haverá erro na previsão da magnitude do recalque e de seu tempo para estabilização. Palavras-chave: Solo compressível; Amostragem; Ensaios de adensamento; Qualidade.

INTRODUÇÃO Segundo dados do IBGE, a população brasileira encontrase, em maior parte, nas áreas litorâneas do território, 52 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

onde ocorrem depósitos compressíveis de solos moles e muito moles de profundidades e espessuras diversas, conforme indicado na Figura 1. Os estudos geotécnicos realizados nas áreas de ocorrência destes depósitos, na maioria dos casos, subsidiaram projetos e obras de infraestruturas, como obras rodoviárias, portuárias e aeroportuárias, a exemplo de: Recife (COUTINHO e BELLO, 2014), Salvador (BAPTISTA e SAYÃO, 1998), Rio Grande do Sul (HALLAL et al., 2002), Santa Catarina (MARQUES e LACERDA, 2004; MAGNANI, 2006), Santos (MASSAD, 2009), Rio de Janeiro (ALMEIDA e MARQUES, 2003; BERBERT, 2016), entre outros. Um aspecto importante dos estudos geotécnicos destes depósitos é que sua caracterização mecânica em laboratório é muito dificultada pelo amolgamento destes materiais durante a coleta das amostras, seu transporte, e durante o manuseio dos corpos de prova em laboratório. A desestruturação da argila durante estes procedimentos altera os resultados de ensaios e, consequentemente, afeta o dimensionamento do projeto geotécnico. Um exemplo simplificado do problema: suponha que um aterro será executado em um terreno de 500 m x 500 m, sobre um depósito homogêneo de 12 m de argila mole. Devido ao amolgamento, a diferença no cálculo da deformação vertical específica média do depósito, foi de 5%, ou seja, maior deformação calculada a partir dos resultados do ensaio de adensamento executado em uma amostra amolgada. No cálculo de volume de terraplenagem para compensar recalques, o erro seria de 150.000 m3 a mais. Assim, uma das primeiras análises que o projetista deve fazer de posse de resultados de ensaios realizados nestas argilas é a verificação da qualidade de amostragem, já que o dimensionamento da obra depende disto. Além de afetar os parâmetros de compressibilidade, o amolgamento também afeta os parâmetros de resistência, que no caso específico de um projeto de aterro sobre solo mole, seria a resistência não drenada da argila. Os procedimentos de coleta e manuseio da amostra devem ser realizados com o maior cuidado possível, de forma a reduzir o amolgamento, já que ele é inevitável quando da extração do material de sua profundidade original. Este artigo apresenta uma discussão sobre as causas de amolgamento destes solos e apresenta resultados de ensaios realizados em Guaratiba, Rio de Janeiro, utilizando um amostrador de parede fina biselado em PVC.


Figura 1 – Localização e espessuras/profundidades de alguns depósitos compressíveis costeiros brasileiros (adaptado de IBGE, 2010)

1 AMOSTRADORES E PROCEDIMENTOS DE AMOSTRAGEM As principais causas do amolgamento devido à amostragem são: distorção mecânica devido à penetração do amostrador; distorção mecânica e sucção durante a retirada do tubo amostrador; amolgamento do solo devido à perfuração, antes da coleta da amostra, ou pelo pistão na hora da coleta; e mudança da tensão total existente em campo. Destas causas é inevitável a mudança da tensão in situ para a tensão em laboratório, pois a partir do momento que é executado o furo para coleta da amostra há uma consequente redução da tensão vertical e a sua retirada ocasiona a alteração do estado de tensões do campo para o de laboratório. As demais causas de amolgamento podem ser atenuadas pelo processo de amostragem, seja nos procedimentos de coleta, seja no design do amostrador. 53 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Para melhorar os procedimentos de coleta de amostras e reduzir o amolgamento, na década de 1970 foram desenvolvidos os amostradores Sherbrooke (LEFEBVRE & POULIN, 1979) e Laval (LA ROCHELLE et al., 1981), considerados os melhores do mundo, de grande diâmetro, 25 cm e 20 cm respectivamente, apresentados na Figura 2. Oliveira (2002) e Marques (1996) descrevem em detalhes os procedimentos de coleta com o amostradores Sherbrooke e Laval, respectivamente. Estes amostradores foram originalmente concebidos para coletar amostras das argilas de Champlain, que são argilas sensíveis, que apresentam umidade natural (wn) superior ao limite de liquidez (wL), e são muito suscetíveis ao efeito do amolgamento. Com relação à cravação do amostrador no solo durante a coleta, este procedimento provoca tensões cisalhantes entre a amostra e a parede do tubo, causando distorção no solo. A área atingida pela distorção é influenciada pela espessura da


Figura 3 – Tubo amostrador (adaptado da NBR 9.820, 1997)

Figura 2 – a) amostrador Sherbrooke (OLIVEIRA, 2002); b) amostrador Laval (MARQUES, 1996)

parede do tubo e o ângulo do bisel formado na extremidade do tubo. As regiões mais próximas ao centro do tubo são as menos afetadas por esta distorção, assim, procura-se uma maior relação diâmetro da amostra/diâmetro do corpo de prova, de forma que os corpos de prova sejam menos afetados pelo amolgamento induzido pelo processo de amostragem. No Brasil, a norma da ABNT NBR 9.820 de 1997, prescreve os procedimentos para coleta, acondicionamento e transporte de amostras indeformadas de solos de baixa consistência em furos de sondagem. A norma prescreve o valor da espessura da parede do tubo amostrador (Figura 3) variando de 75 mm a 152,4 mm, e, usualmente, nas coletas das argilas muito moles costeiras brasileiras tem se recomendado utilizar diâmetros do tubo amostrador da ordem de 100 cm. Embora este diâmetro seja bem inferior ao amostrador Sherbrooke, por exemplo, para os solos muito moles brasileiros, os diâmetros desta ordem se mostraram adequados nos ensaios comparativos realizados em argilas brasileiras com aquele amostrador (OLIVEIRA, 2002). Na Figura 3 está apresentado em detalhes o esquema do tubo amostrador, apresentado na norma e que foi adaptado para o amostrador de PVC utilizado na campanha executada em Guaratiba, no Rio de Janeiro. Com relação às medidas do tubo prescritas na norma brasileira (Figura 3), têm-se os seguintes critérios: – Índice de área, Cα, inferior a 10%, determinado pela seguinte equação:

onde D2 é o diâmetro máximo externo do tubo e D1 é o diâmetro interno do bisel de corte. – Relação de folga interna, Ci, entre 0,5% e 1%, obtida pela seguinte equação:

onde D3 é o diâmetro interno do tubo amostrador. 54 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Figura 4 – Procedimento para a extrusão e preparação de amostras de solo em laboratório: a) corte do tubo, b) agulha e fio utilizados para desprender a amostra do tubo (BARONI, 2010)

Algumas recomendações para reduzir o amolgamento durante a fase de coleta foram discutidas por Ladd & de Groot (2003), destacando-se o uso de lama para preencher o interior do furo de sondagem de maneira a compensar o alívio de tensão. Sandroni (2006) comenta que este é um procedimento simples de ser adotado na prática geotécnica e que tem contribuído para os bons resultados, no que se refere à qualidade dos ensaios. Outras práticas recomendas por Ladd & de Groot (2012) são: a) Manutenção da lama no topo do furo; b) Utilização de tubos de revestimento com o maior diâmetro possível para reduzir a variação do nível da lama quando da retirada das hastes de perfuração para a introdução das hastes com o amostrador; e c) Redução da velocidade de perfuração ao se aproximar da profundidade de amostragem. Apesar da NBR 9.820 prescrever dez minutos de espera para retirada do amostrador, na prática, dependendo do depósito, tem-se deixado de 12h até 24h, para reduzir o risco de não recuperar a amostra.

2 PREPARAÇÃO DE CORPOS DE PROVA Embora o termo qualidade das amostras seja consagrado na comunidade geotécnica, é evidente que também está incluído neste conceito a qualidade dos corpos de prova, uma vez que as causas do amolgamento do solo podem ter origem tanto na obtenção da amostra e seu transporte, como na moldagem e manuseio dos corpos de prova, influenciando diretamente os resultados dos ensaios de laboratório. Assim como a cravação, a extrusão da amostra do tubo amostrador em laboratório também provoca tensões cisalhantes entre a amostra e a parede do tubo, causando distorção no solo ao longo do comprimento do tubo amostrador. Para reduzir este amolgamento, Ladd & de Groot (2003) propuseram um procedimento para a extrusão das amostras do amostrador Shelby, que consiste em: cortar o tubo amostrador no comprimento necessário para o corpo de prova a ser ensaiado (Figura 4a), e cravar uma agulha de comprimento adequado entre a amostra e a


das categorias de classificação, os quais foram adaptados para as argilas moles brasileiras, que geralmente têm OCR entre 1 e 2,5. A nomenclatura do limite superior de uma categoria não coincide com a nomenclatura do limite inferior da categoria de melhor qualidade subsequente. Por exemplo, se um corpo de prova apresentar Δe/e0 = 0,08, pelo critério de Coutinho (2007) pode ser classificado como de qualidade ruim, ao mesmo tempo em que está no Figura 5 – Curvas de compressão de ensaios de adensamento realizados em laboratórios diferentes limite inferior da categoria boa com mesmo procedimento de coleta: a) ensaios realizados até a velocidade de deformação vertical = -6 -1 a regular. Para evitar dúvidas 10 s ; b) ensaios de 24 horas na avaliação, Andrade (2009) sugeriu uma modificação do critério de Coutinho (2007) parede do amostrador, passando-se então um fio metálico criando categorias intermediárias, como mostra a Tabela 1. ao redor desta interface de forma a liberar a amostra do amostrador, conforme exemplificado na Figura 4b. Com este 4 INFLUÊNCIA DA MÁ QUALIDADE DE AMOSprocedimento, o tubo amostrador é perdido e seu custo terá TRA / CORPO DE PROVA NOS RESULTADOS DE ENSAIOS DE LABORATÓRIO que ser incorporado ao custo da amostragem. Já se conhece há muito tempo os efeitos do amolgamento Remy e Aguiar (2016) apresentaram resultados de ensaios dos corpos de prova na curva de compressão. Rutledge realizados em laboratórios diferentes, mas em amostras (1944) observou que o amolgamento deslocava a curva e coletadas com os mesmos procedimentos de amostragem x log σ’ para baixo, reduzia sua inclinação e dificultava a (Figura 5), em ambos os casos sem utilizar pistão estacionário. v identificação da tensão de sobreadensamento. Coutinho Estas amostras foram enviadas para duas instituições (1976), ao estudar a argila do depósito de Sarapuí (RJ), de pesquisa diferentes e observa-se que as curvas de percebeu que a conformação retilínea do trecho virgem compressão do laboratório a) (Figura 5a) apresentaram na curva de compressão semi-logarítmica do ensaio de melhor qualidade, com os procedimentos descritos na adensamento (Figura 6) era devido à má qualidade das Figura 4 e também com ensaios edométricos realizados até -6 -1 amostras. Assim, as consequências do amolgamento velocidades de deformação vertical = 10 s . Este estudo ressalta a importância do manuseio e procedimentos de nos resultados do ensaio de adensamento, conforme as observações de laboratório são: ensaios na qualidade das curvas de compressão. - alteração no valor da variação do índice de vazios (De) em 3 AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DA AMOSTRA / função de Dσ’ e relação De:σ’ retilínea no trecho virgem da curva de compressão; CORPO DE PROVA Em evento ocorrido no Brasil em 1997, Lunne et al. (1997) - dificuldade de obtenção da tensão de sobreadensamento propuseram um critério de avaliação da qualidade baseado na (σ’vm), que fica menor; diferença relativa entre o índice de vazios inicial do corpo de - baixos valores de Cs/Cc são uma indicação de menor prova em laboratório (e0) e o índice de vazios correspondente amolgamento; à tensão vertical efetiva de campo (ev0), conforme a equação - diminuição do valor do coeficiente de adensamento, cv, a seguir. Estes índices são obtidos a partir de ensaios de ou seja, ao se utilizar resultados de ensaios de adensamento e o critério considera ainda o valor do OCR adensamento cujos corpos de provas foram amolgados, (Overconsolidation Ratio ou Razão de Sobreadensamento), o projetista vai errar em dois cálculos essenciais para o projeto geotécnico de aterros sobre solos moles: como pode ser observado na Tabela 1. magnitude de recalques e prazo para estabilização dos recalques (que afeta os prazos construtivos). Os custos associados a estes erros vão depender muito das dimensões da obra, e das características do depósito, mas Ao se descarregar a amostra no trecho sobreadensado da na maioria dos casos a investigação de boa qualidade se curva de compressão, referente à mudança da tensão in situ justifica pelas economias geradas na obra. para a tensão em laboratório, espera-se que as variações de índice de vazios sejam pequenas em amostras de qualidade. 5 CAMPANHA DE ENSAIOS EM GUARATIBA, Coutinho (2007) recomendou um critério semelhante ao RIO DE JANEIRO de Lunne et al. (1997), diferindo apenas nos valores limites 5.1 Procedimentos de amostragem 55 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


Tabela 01 - Critérios para classificação da qualidade da amostra Δe/e0 OCR

Muito boa a excelente

Boa a regular

Ruim

Muito ruim

Critério de Lunne et al. (1997) 1-2

< 0,04

0,04 – 0,07

0,07 – 0,14

> 0,14

2-4

< 0,03

0,03 – 0,05

0,05 – 0,10

> 0,10

0,08 – 0,14

> 0,14

Critério de Coutinho (2007) 1 – 2,5

< 0,05

0,05 – 0,08

Critério de Coutinho (2007) modificado (Andrade, 2009) Δe/e0

OCR

Muito boa a excelente

Muito boa a boa

Boa a regular

Regular a pobre

Pobre a muito pobre

Muito pobre

1 – 2,5

< 0,05

0,05 – 0,065

0,065 – 0,08

0,08 – 0,11

0,11 – 0,14

> 0,14

Figura 6 – Efeito do amolgamento nos resultados do ensaio de adensamento (FERREIRA e COUTINHO, 1988; COUTINHO et al. 1998)

Figura 7 – a) localização da área de coleta das amostras e b) localização das ilhas de investigação (Imagem: Portal Geo, 2016)

Foram programadas 15 verticais de coletas de amostras indeformadas de um depósito de solo muito mole situado no bairro de Guaratiba, no Rio de Janeiro, descrito em detalhes por Berbert (2016), e cuja localização está apresentada na Figura 7. A escolha das profundidades nas quais seriam coletadas as amostras para cada vertical foi baseada nos perfis de umidade obtidos em amostras deformadas das sondagens à percussão da mesma ilha de investigação. De acordo com o valor das umidades naturais apresentadas, a camada de argila mole foi

dividida em subcamadas, sendo a coleta programada no meio das subcamadas. Uma das preocupações com relação à qualidade das amostras desta campanha era a utilização de tubos amostradores tipo Shelby de PVC, com diâmetro interno de 101,4 mm, comprimento de 600 mm e parede com espessura de 2,5 mm, propostos pela empresa executora (Figura 8a). Foi utilizado um tubo de PVC comercial, porém de uma linha de tubos mais rígidos, do tipo reforçado e com espessura maior, de forma a evitar que o próprio tubo

56 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


Figura 8 – Tubo de PVC utilizado nas retiradas de amostras: a) detalhe do bisel na extremidade externa; b) tubos com amostras, lacrados e identificados; c) armazenamento das amostras para transporte

se deformasse durante a cravação. Apesar da utilização de tubo em PVC não ser prevista em norma, o procedimento foi aceito, desde que a maioria das amostras apresentasse boa qualidade. O bisel foi feito apenas na extremidade externa do tubo e manualmente com auxílio de um torno de furadeira, não existindo, portanto, um padrão nas medidas do ângulo do bisel e o tubo não foi biselado internamente, ou seja, D3=D1 (Figura 3) resultando na folga interna igual a zero. Nos tubos convencionais, embora pequena, esta folga interna causa a expansão do solo no interior do tubo. Esta expansão é uma das principais causas de amolgamento das amostras. Por outro lado, é necessário que o solo expanda e que ocorra uma aderência do solo à parede do tubo de forma suficiente a garantir a sua recuperação na manobra de subida do amostrador. O fato de a parte interna do tubo utilizado ser reta pode ter contribuído para as dificuldades na recuperação de amostras nesta campanha. O índice de área calculado, considerando-se o diâmetro interno na ausência de um diâmetro biselado, é igual a 5%, inferior ao limite máximo estabelecido pela norma. Quanto à espessura da parede do tubo igual a 2,5 mm, este valor é recomendado, de acordo com a norma, apenas para tubos com diâmetro externo igual ou superior a 120 mm e folga interna de 0,5%. Segundo a norma, os tubos com diâmetros menores devem ter espessura de parede menor. Considerando o diâmetro externo do tubo utilizado, de 103,9 mm, a espessura da parede deveria ser de, aproximadamente, no máximo 2,17 mm, mas para folga interna de 0,5%. Como não existe folga interna, apesar de a norma não prever esta situação, a espessura utilizada igual a 2,5 mm parece adequada. A sequência das atividades na retirada das amostras indeformadas de solo foi: 1) Abertura inicial com trado e colocação no terreno do tubo de PVC auxiliar, com diâmetro de 150 mm e saída lateral para esgotamento do furo; 2) Lavagem do furo com trépano até 30 cm antes da profundidade programada de coleta, retirada do trépano e descida da composição tubo amostrador e hastes até o fundo do furo; 3) Cravação estática do tubo amostrador e pausa entre 15 e 30 minutos, de forma que o solo aderisse à parede interna do amostrador. Rotação da composição para 57 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Figura 9 – a) Marcação dos segmentos de um tubo a serem cortados; b) Corte do tubo amostrador

destacar a amostra do terreno e alçamento cuidadoso do conjunto; 4) As extremidades do tubo foram lacradas com parafina e papel filme de PVC, e as amostras identificadas e transportadas para o laboratório em caixas térmicas, com serragem úmida, mantendo-se as amostras sempre na vertical (Figuras 8b e 8c). Nas primeiras coletas houve dificuldades na obtenção das amostras, mas a cada ensaio a equipe foi ganhando prática e adequando a técnica de extração. Algumas amostras, por exemplo, se desprendiam do amostrador durante a sua retirada do furo e a amostra era perdida. Passou-se a lavar o furo com mais rigor, até que a água saísse limpa, indicando não ter mais material solto; a revestir o furo; e aguardar um intervalo de tempo maior entre a cravação do tubo e a sua alçada.

5.2 Preparação dos corpos de prova Os tubos amostradores de aproximadamente 60 cm foram cuidadosamente cortados em segmentos com uma serra fina. A parte inferior dos tubos, cerca de 20 cm, foi utilizada para os ensaios de caracterização e os segmentos subsequentes de 10 cm foram utilizados para moldagem dos corpos de prova (Figura 9a). Na Figura 9b é exemplificada a divisão de um tubo amostrador. Acredita-se que nesta fase, quando comparada com a Figura 4a, há uma vantagem na utilização do PVC, que é mais fácil de ser cortado, afetando menos a amostra.


Figura 10 – Procedimentos de moldagem dos corpos de prova: a) redução do atrito entre a amostra e a parede do tubo; b) retirada da amostra com auxílio do top cap; c) cravação do anel com a amostra na posição natural; d) retirada do excesso de material ao redor do anel; e e) acerto final da base e do topo do corpo de prova

Na Figura 10 estão ilustrados os procedimentos adotados na moldagem dos corpos de prova para a execução dos ensaios de adensamento. Para a extração de cada amostra, passou-se um fio de aço (corda de violão) entre o solo e a parede do tubo diversas vezes, de forma a desprender o solo do tubo. Após a redução do atrito, a amostra era lentamente empurrada para fora do tubo com o auxílio do top cap utilizado no ensaio de adensamento, de diâmetro pouco inferior ao do amostrador (Figura 10 b). No entanto, recomenda-se a utilização de uma placa de acrílico de diâmetro ligeiramente inferior ao do tubo para evitar o puncionamento da amostra no topo caso o solo seja muito mole. A moldagem de um corpo de prova consistiu na cravação do anel metálico, de extremidade cortante, centralizado na amostra já extraída do tubo. À medida que o anel penetrava no solo, retirava-se cuidadosamente o excesso de material ao redor e na parte superior do anel, facilitando a sua penetração, muito semelhante ao que se faz em amostras em bloco. O excesso era retirado também com o auxílio de um fio de aço. A presença de conchas, às vezes, dificultava a moldagem e seguia-se com o deslocamento do anel até não se ter mais a interferência. Por fim, uma régua metálica era utilizada para o acerto 58 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

final das superfícies do topo e da base do corpo de prova. Os corpos de prova foram moldados com diâmetro de 61,7 mm e altura de 20 mm.

5.3 Avaliação da qualidade das amostras de Guaratiba Como o fator “tipo de amostrador” é apenas uma das variáveis responsáveis pelo amolgamento do solo, não se pode concluir que, caso uma amostra não atenda aos critérios de qualidade, a causa determinante seja este fator, a não ser que a maioria das amostras apresente o mesmo comportamento. Os primeiros seis ensaios de adensamento foram executados no Laboratório de Geotecnia da COPPEUFRJ (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro), utilizando o procedimento de preparação dos corpos de prova propostos por Ladd & de Groot (2003), com o objetivo de se avaliar se o procedimento de amostragem era adequado. Os resultados obtidos foram típicos de amostras amolgadas, conforme apresentado na Tabela 2, condizentes com as dificuldades durante a primeira coleta, e todos os ensaios da Zona 2 foram refeitos após segunda coleta.


Tabela 02 – Avaliação da qualidade das amostras, a partir de ensaios edométricos, primeira campanha de coleta x segunda campanha de coleta

Amostra

Prof. (m)

wn (%)

OCR

e0

ev0

Δe / e0

Cr / Cc

144,80

0,38

3,711

NP

NP

110,23

1,36

2,820

2,740

119,20

0,78

2,978

105,11

1,39

110,50

Lunne et al. (1997)

Coutinho (2007)

NP

Muito Ruim

Muito Ruim

0,028

0,07

Muito Boa a Excelente

Muito Boa a Excelente

2,530

0,150

0,07

Muito Ruim

Muito Ruim

2,520

2,320

0,079

0,15

Ruim

Boa a Regular

0,83

2,786

2,420

0,131

0,06

Ruim

Ruim

128,54

0,73

3,050

2,640

0,134

0,11

Ruim

Ruim

113,30

0,90

2,873

2,460

0,144

0,13

Muito Ruim

Muito Ruim

112,68

0,82

2,810

2,550

0,093

0,06

Ruim

Ruim

110,40

0,99

2,685

2,430

0,095

0,07

Ruim

Ruim

132,37

0,73

3,160

2,700

0,146

0,15

Muito Ruim

Muito Ruim

2,00

111,30

1,88

3,085

2,960

0,041

0,06

Boa a Regular

Muito Boa a Excelente

4,00

112,40

1,17

2,838

2,650

0,066

0,09

Boa a Regular

Boa a Regular

4,00

Z2-06

Coleta

Critério de Classificação da Qualidade

7,00

10,00

5,00 Z2-09 7,00

Z2-14

NOTA: Wn – umidade natural; OCR - razão de sobreadensamento; e0 – índice de vazios inicial do corpo de prova; ev0 – índice de vazios correspondente à tensão vertical efetiva de campo; Cc – índice de compressão; Cr – índice de recompressão.

Dois aspectos devem ser mencionados com relação a estes resultados. O primeiro é que os procedimentos iniciais de coleta não eram adequados: o furo não era lavado adequadamente, não foi utilizado revestimento, e se esperava pouco tempo entre a cravação e a retirada do tubo. O outro é que a umidade natural desses solos é relativamente alta e pode ter influenciado nos resultados. De forma, a avaliar a relação entre a qualidade das amostras e o teor de umidade natural, na Figura 11 foi feita uma comparação entre (wL-wn/wn) e a qualidade obtida nos ensaios, onde wL é o limite de liquidez. Foram atribuídos os seguintes valores para a qualidade: muito ruim = 1; ruim = 2; boa a regular = 3; e muito boa a excelente = 4. Os solos cuja umidade natural é superior ao limite de liquidez apresentam maior sensibilidade e esta afeta a qualidade da coleta. Por vezes se consegue um bom resultado na coleta, mas nem sempre, como pode ser observado no gráfico da Figura 11. Por outro lado, observase que todas as amostras cuja umidade natural era inferior ao limite de liquidez (wL-wn >0) foram classificadas como de melhor qualidade. Algumas amostras estavam tão amolgadas que não foi possível definir a transição entre o trecho sobreadensado e o trecho normalmente adensado na curva de compressibilidade, impossibilitando a 59 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Figura 11 – Comparação entre a diferença relativa do limite de liquidez e da umidade natural e qualidade das amostras

determinação da tensão de sobreadensamento e, consequentemente, a razão de sobreadensamento (OCR), como mostra a Figura 12. Diferente do que ocorreu no caso ilustrado na Figura 5, nos primeiros ensaios com o amostrador, os resultados dos ensaios realizados na COPPE-UFRJ não foram bons, mesmo utilizando o procedimento da Figura 4, porque o procedimento de coleta não foi adequado. Depois das melhorias no processo, com a sequência das atividades


torno de 60% das amostras com qualidade boa a regular segundo o critério de Lunne et al. (1997). Marques et al. (2010) avaliaram a qualidade de 33 amostras ensaiadas para diversas obras da Barra da Tijuca e Recreio e observaram que somente 24% das amostras foram de excelente ou boa qualidade, apesar dos cuidados com os procedimentos de coleta e manuseio das amostras, provavelmente também devido aos elevados valores de umidade natural daquelas amostras.

CONCLUSÕES

Figura 12 – Curvas de compressão de ensaios de adensamento realizados em laboratórios distintos e com diferentes procedimentos de coleta

na retirada das amostras indeformadas descrita, houve ligeira melhoria na qualidade das amostras da Zona 2, e considerável melhoria na qualidade das amostras da Zona 1 (Tabela 3). Isto reforça o fato que todo o processo é importante, desde os procedimentos até a preparação do corpo de prova, mas que também há um fator inerente ao tipo de solo que dificulta a amostragem. Após ajustados os procedimentos de coleta, foi realizada nova campanha, cujos resultados estão apresentados na Tabela 3. Dos 30 ensaios realizados, pelo critério de Lunne et al. (1997), 67% apresentaram qualidade entre boa a regular e muito boa a excelente, enquanto que, pelo critério de Coutinho (2007), 70% dos corpos de prova estiveram neste intervalo. Esta faixa de qualidade pode ser considerada adequada para o projeto. As amostras classificadas com qualidade ruim ou muito ruim foram justamente as que tiveram OCR menor do que 1. Um OCR inferior a 1 ocorre por duas razões: - estimativa errada do valor da tensão vertical efetiva in situ, principalmente se o solo estiver em processo de adensamento, o que não é o caso, dada a história geológica de formação do depósito em estudo e a inexistência de um aterro construído recentemente. - amolgamento. Neste caso, OCR menor do que 1 é reflexo do próprio amolgamento da amostra. A dificuldade em se obter amostras de qualidade nas argilas moles da região oeste da cidade do Rio de Janeiro é reconhecida. Baroni (2010), por exemplo, em sua dissertação de mestrado, observou que apesar de serem tomados todos os cuidados descritos, em ensaios em depósitos localizados na Barra da Tijuca, obteve em 60 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Os trabalhos de alto nível realizados para o desenvolvimento de amostradores de qualidade foram fundamentais para a melhoria da qualidade das amostras. Entretanto, devido à dificuldade de acesso dos projetistas a amostradores de elevado desempenho é possível se fazer coleta de qualidade adequada para projetos, utilizando-se o prescrito na NBR 9.820, com amostradores mais simples, melhorando os procedimentos de coleta em campo e com transporte cuidadoso das amostras do campo para o laboratório. Além disto, observa-se que a moldagem de corpo de prova é tão importante quanto o próprio tubo amostrador. O fato é que o amostrador é um dos componentes que pode conduzir ao amolgamento. Neste estudo foi testado um amostrador, relativamente mais simples, buscando seguir ao máximo a norma brasileira, com bons resultados para o solo amostrado. É importante ressaltar que a quantidade de amostras de boa qualidade recuperadas com este processo, adequada para um projeto de engenharia, não necessariamente se reproduziria em outros depósitos e que ajustes nos procedimentos de coleta devem ser realizados com o objetivo de se obter a melhor amostra possível. Embora as argilas de Guaratiba sejam classificadas como muito moles, apresentam umidades inferiores às da região oeste da cidade do Rio de Janeiro. Em específico, nesta região, há muita dificuldade na obtenção de amostragem de boa qualidade. Há também aspectos inerentes ao próprio solo, por exemplo, é muito difícil amostrar um material turfoso com 800% de umidade e grande quantidade de matéria orgânica. Outro aspecto importante é que é imprescindível o acompanhamento técnico durante todo este processo, desde os procedimentos de coleta, até os procedimentos de ensaios e análise dos resultados em escritório.

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Tabela 03 – Avaliação da qualidade das amostras, a partir de ensaios edométricos Amostra

Critério de Classificação da Qualidade

Prof. (m)

wn (%)

OCR

e0

ev0

Δe / e0

Cr / Cc

3,00

108,60

2,43

2,890

2,800

0,031

5,00

40,10

NP

1,040

0,930

2,00

111,60

2,48

3,020

6,00

130,00

1,84

8,00

130,50

1,50

Lunne et al. (1997)

Coutinho (2007)

0,10

Boa a Regular

Muito Boa a Excelente

0,106

NP

Muito Ruim

NP

2,950

0,023

0,08

Muito Boa a Excelente

Muito Boa a Excelente

3,340

3,210

0,039

0,07

Muito Boa a Excelente

Muito Boa a Excelente

1,41

3,440

3,300

0,041

0,05

Boa a Regular

Muito Boa a Excelente

75,20

2,72

1,920

1,870

0,026

0,09

Muito Boa a Excelente

Não se aplica (OCR >2,5)

3,50

118,68

1,91

3,187

3,080

0,034

0,05

Muito Boa a Excelente

Muito Boa a Excelente

3,00

115,90

0,31

2,910

2,450

0,158

0,34

Muito Ruim

Muito Ruim

3,00

113,22

2,08

2,975

2,880

0,032

0,09

Boa a Regular

Muito Boa a Excelente

5,00

125,31

1,07

3,292

3,080

0,064

0,10

Boa a Regular

Boa a Regular

7,00

129,36

1,23

3,457

3,300

0,045

0,05

Boa a Regular

Muito Boa a Excelente

2,00

71,70

2,27

1,830

1,740

0,049

0,17

Boa a Regular

Muito Boa a Excelente

6,00

147,30

1,03

3,870

3,640

0,059

0,08

Boa a Regular

Boa a Regular

10,00

139,10

0,77

3,740

3,280

0,123

0,07

Ruim

Ruim

2,00

73,00

1,10

1,920

1,780

0,073

0,12

Ruim

Boa a Regular

5,00

122,00

0,86

3,230

2,900

0,102

0,10

Ruim

Ruim

3,00

132,29

3,34

3,488

3,430

0,017

0,06

Muito Boa a Excelente

Não se aplica (OCR >2,5)

7,00

132,00

1,39

3,470

3,290

0,052

0,06

Boa a Regular

Boa a Regular

Z1-50

2,00

78,40

1,98

2,130

2,030

0,047

0,13

Boa a Regular

Muito Boa a Excelente

Z1-60

4,00

118,07

1,79

3,088

2,980

0,035

0,04

Muito Boa a Excelente

Muito Boa a Excelente

Z1-04

Z1-14

Z1-18

Z1-20

Z1-27

Z1-29

Z1-33

Z1-36

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63 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


O QUE HÁ DE NOVO

BOART LONGYEAR TRAZ PARA O BRASIL TECNOLOGIA DE PERFURAÇÃO SÔNICA O método pode ser utilizado em obras de geotecnia, mineração, bem como na perfuração de poços artesianos e sondagens ambientais

A empresa americana Boart Longyear traz para o Brasil o conceito de equipamento de sondagem sônica, por meio da sonda LS®250 Minisonic®, capaz de executar um método de perfuração que utiliza a energia ressonante de alta frequência para eliminar ou diminuir a fricção entre o material a ser perfurado e a broca utilizada, o que permite tanto a penetração eficiente quanto a recuperação máxima do testemunho/amostra em uma variedade de condições do subsolo. Devido a estas características, o LS®250 tem se mostrado a solução ideal para sondagem em pilhas de lixiviação, bauxita, areias mineralizadas, manganês, urânio e níquel laterítico. Podendo ser utilizado também para amostragens de resíduos de minas, tais como barragens de rejeito, pilhas de estéril e ouro disseminado. Outras aplicabilidades para este equipamento incluem a instalação de poços de monitoramento, amostragem contínua de solo e caracterização de água subterrânea para definir a contaminação e auxiliar na limpeza local. O engenheiro de minas da Boart Longyear, Marcio Brambila conta que a tecnologia de perfuração sônica não é novidade na América, porém ela vem sendo aprimorada e cada vez mais difundida em todo o mundo. “Possuímos um longo histórico de fabricação e operação de equipamentos e ferramentas sônicas. Prevemos uma grande oportunidade de expansão deste mercado aqui no Brasil, devido à existência de inúmeras empresas com pilhas de estéril e barragens de rejeitos a serem retomadas futuramente”, afirma. Ele acrescenta que outro campo de vasta aplicação para os equipamentos sônicos no Brasil é a área ambiental, uma vez que esta tecnologia possui a capacidade de perfuração em terrenos inconsolidados com desvios inferiores a 1%, sem a utilização de qualquer fluido de perfuração, evitando a contaminação cruzada e recuperando praticamente 100% do material da perfuração. 64 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Fotos: Arquivo Boart L

Por Dellana Wolney

Minisonic LS250

FUNCIONAMENTO A tecnologia de perfuração sônica foi utilizada pela primeira vez nos Estados Unidos em meados da década de 1980. Hoje com mais de 30 anos de aperfeiçoamento esta técnica já é amplamente usada por muitas empresas de perfuração em todo o mundo, mas é quase desconhecida aqui no Brasil. Para o seu funcionamento é empregada a energia ressonante para avançar o amostrador ou revestimento por meio das formações do subsolo, esta energia é gerada pela criação de alta frequência por um oscilador sônico. Dois pesos excêntricos girando em sentidos opostos dentro da caixa sônica produzem a energia ressonante que é transmitida pelas hastes até a face do bit ou coroa de perfuração, simultaneamente é acrescentada a rotação na composição de perfuração para distribuir uniformemente a energia que será utilizada para avançar o amostrador ou revestimento no subsolo. O operador controla a frequência de rotação dos pesos excêntricos combinando várias frequências sônicas, para encontrar a


Sondagem feita em areia pelo Minisonic

Minisonic LS250

Zonas de transição

Sondagem feita em seixos

CARACTERÍSTICAS DA SONDA LS®250: • A perfuração sônica é mais rápida do que os métodos de perfuração de solo convencionais. Dependendo das condições específicas do local, pode ser até cinco vezes mais rápido; • Com a possibilidade de não utilizar fluidos, pode reduzir a geração de resíduos em até 80%; • As amostras contínuas e relativamente intactas proporcionam mais informações; • As esteiras emborrachadas de 600 mm garantem acesso a terrenos frágeis e locais de perfuração de difícil alcance; • Níveis de ruídos menores e dispositivos como o apresentador de hastes e bloqueio de rotação garantem maior segurança para os trabalhadores; • A limitação de uso da tecnologia sônica está na profundidade alcançada, que se limita a furos com até 250 metros. Como os equipamentos sônicos utilizam a energia ressonante para avançar o amostrador, esta possui perda de energia com o aumento da profundidade. 65 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


Sondagem sônica (ilustração)

que resulte na máxima produtividade em cada formação geológica. Quando a energia sônica ressonante coincide com a frequência da composição de perfuração, a ressonância ocorre. Isso resulta na máxima quantidade de energia que pode ser liberada à face do bit. Ao mesmo tempo o atrito do solo contra a superfície externa da composição de perfuração é reduzido substancialmente, resultando num avanço bastante rápido. Entre os inúmeros procedimentos possíveis, que dependem das condições locais e objetivo do trabalho, o mais comum envolve o avanço de um amostrador, o qual estará por dentro de um revestimento de maior diâmetro que protege o furo e previne contra colapso das paredes.

APLICABILIDADE Brambila explica que a perfuração sônica pode ser aplicada em obras de geotecnia, mineração, bem como na perfuração de poços artesianos e sondagens ambientais. “Em todos estes campos o melhor desempenho da sondagem sônica está justamente onde os métodos de sondagem convencional encontram maiores desafios como nos terrenos inconsolidados (arenosos e/ou argilosos)”.

66 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Sondagem sônica passo a passo

Ele acrescenta que a técnica também é extremamente viável em aterros com presença de entulhos ou blocos de rochas mais duros e terrenos ambientalmente sensíveis, em que se deve evitar a contaminação de amostras com fluidos de perfuração ou contaminação de amostras de determinadas camadas de solo/rocha com material subjacente ou adjacente. A divisão de serviços de sondagem da Boart Longyear já realizou alguns trabalhos no Brasil com o equipamento de sondagem sônica. Nesta ocasião foi empregada uma sonda modelo LS®600, que é de um porte maior do que a LS®250. Todos estes produtos já estão disponíveis para venda.


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GEOTECNIA AMBIENTAL

COMPARTIMENTAÇÃO TERRITORIAL É FEITA EM LORENA A iniciativa promovida com o subsídio do PATEM visa individualizar as diferentes unidades paisagísticas circunscritas em função do potencial para ocupação ou aproveitamento dos recursos naturais

Recentemente foi desenvolvida por meio de uma parceria entre o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) e a Prefeitura de Lorena (SP) uma compartimentação territorial do meio físico do município, que tem como finalidade o fornecimento de bases técnicas para o desenvolvimento sustentável da mineração e da ocupação nas áreas de planície e encosta nos próximos anos. A compartimentação do meio físico diz respeito à divisão de um determinado território em áreas distintas a partir de algumas de suas características ambientais. A finalidade desta compartimentação é individualizar as diferentes unidades paisagísticas circunscritas em função, por exemplo, do potencial para a ocupação ou aproveitamento dos recursos naturais ou da vocação para a manutenção dos ecossistemas naturais que estas áreas possam apresentar. A iniciativa foi promovida com o subsídio do PATEM (Programa de Apoio Tecnológico aos Municípios), que é uma linha de financiamento criada pela SDECTI (Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado de São Paulo). Com o programa é possível que os municípios paulistas de pequeno e médio porte utilizem a capacitação técnica 68 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Fotos: Arquivo Carlos Gamba

Por Dellana Wolney

Áreas agrícolas inseridas na planície do rio Paraíba do Sul. Ao fundo é possível observar a mancha urbana e os outros compartimentos geomorfológicos (colinas e serras)

do IPT por meio da contratação de serviços de pesquisa. Entre as áreas que o PATEM abrange estão: estudos relativos ao uso do solo, recursos minerais, infraestrutura pública, áreas de risco e dinâmica socioeconômica. Para acessar os recursos do PATEM, os municípios precisam fazer uma solicitação por escrito diretamente à SDECTI

descrevendo qual é a demanda técnica a ser atendida com recursos do programa. Uma vez selecionadas, as requisições passam a ter à sua disposição a maior parte dos recursos disponíveis para atendimento de suas demandas. Cabe ao município apenas a aprovação de uma pequena contrapartida para a celebração do convênio.


DESENVOLVIMENTO Após a etapa de financiamento, no caso de Lorena foi feito um relatório iniciado no mês de dezembro de 2015 e, conforme cronograma previsto, concluído no mês de maio de 2016, totalizando seis meses de execução, cujas informações devem auxiliar as próximas discussões relacionadas à atualização do Plano Diretor do Município. De maneira geral, o relatório compreende um detalhamento das características geológicas e geomorfológicas do território municipal. Em virtude de haver um componente ligado à atividade de mineração, esse relatório também traz uma abordagem sobre o potencial e a demanda por recursos minerais, e ainda, um mapeamento atualizado do uso e da cobertura e a delimitação dos compartimentos ambientais consolidados, essencialmente em função de características da ocupação e da morfologia dos terrenos. O geógrafo e pesquisador da Seção de Recursos Minerais e Tecnologia Cerâmica do IPT, Carlos Gamba, conta que os trabalhos que estão sendo realizados para a conclusão da compartimentação territorial incluem reuniões com a Secretaria do Meio Ambiente de Lorena e a elaboração de mapas temáticos da geologia, geomorfologia, relação de títulos minerários incidentes sobre o território e do uso e ocupação da terra. “Estes levantamentos fazem parte de um procedimento padrão que tem por finalidade identificar as características ambientais e as particularidades do município estudado. Uma característica exclusiva do projeto em Lorena é que não se trata apenas de mineração, mas de um estudo mais abrangente sobre o meio físico. Com a compartimentação territorial foi possível sugerir as áreas mais indicadas para a mineração, preservação e expansão urbana”, explica Gamba.

RELEVÂNCIA Segundo ele, a questão do desenvolvimento sustentável está presente 69 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Mineração de areia em meandro abandonado do rio Paraíba do Sul

Frente de lavra de mineração de areia em trecho da planície do rio Paraíba do Sul

nas recomendações fornecidas não somente ao município de Lorena, mas nos projetos do PATEM em geral. O objetivo não é só promover as atividades de preservação do território com vistas ao meio ambiente e à qualidade de vida da população, mas também evitar

possíveis pressões do Ministério Público com relação a riscos no futuro. Por esse motivo, a ideia de que a mineração não é uma atividade-fim e sim uma atividade-meio é bastante trabalhada nos municípios, pois o empreendimento voltado à mineração em uma


no planejamento de políticas públicas, efetivando-as em termos de gestão. “Em essência, os trabalhos do PATEM têm esse objetivo, cada um com um foco: fornecer informações e subsídios técnicos para que as cidades possam conduzir melhor suas políticas de desenvolvimento e preservação. Amanhã, quando forem escolher um lugar pra implantar uma indústria ou área de mineração, olharão para o relatório e, a partir das sugestões, podem tomar a melhor decisão”, enfatiza.

ESCOLHA Remanescentes de mata ciliar e várzea na planície do rio Paraíba do Sul

Compartimentos geomorfológicos presentes no município de Lorena: planície aluvionar do rio Paraíba do Sul (primeiro plano); terraços e colinas (segundo plano, no centro da imagem); sistemas de serra (terceiro plano)

área é finito. Então, antes de ele começar é preciso planejar a recuperação e o uso futuro da área, que incluem desde o reflorestamento, até a construção de parques de recreação, por exemplo. O geógrafo e pesquisador da Seção de Recursos Minerais e Tecnologia Cerâmi70 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

ca do IPT, Carlos Gamba ainda destaca que é importante fornecer bases técnicas detalhadas para que o município possa pensar em seu desenvolvimento futuro, o que é uma situação ainda pouco recorrente no Brasil, e por fim tornar possível a inclusão dessas informações

A solicitação do trabalho de compartimentação territorial partiu do próprio município de Lorena, como uma demanda do PATEM. O pesquisador Carlos Gamba descreve que a cidade se encontra no médio curso do rio Paraíba do Sul, num trecho onde se inicia um estreitamento da planície aluvial. Por conta desse afunilamento, estas áreas mais planas, tradicionalmente priorizadas para os assentamentos urbanos, são menos abundantes. Em detrimento de uma porção territorial bem mais ampla que é dominada por terrenos colinosos e serranos. “Este compartimento de relevo mais suave, além de apresentar um alto potencial para a implantação de empreendimentos imobiliários, também possui relevância na questão ambiental, uma vez que concentra expressivas reservas de areia, principalmente nos meandros abandonados do rio Paraíba do Sul, e remanescentes de vegetação de várzea e de mata ciliar, que ao longo dos anos vêm sendo depauperadas pela ação humana”, salienta. É nesse contexto de conflito que o trabalho desenvolvido pelo IPT no município de Lorena ganha importância. A competição nestas áreas de planície demandou uma atividade de caracterização deste ambiente, cuja finalidade principal foi subsidiar ações de planejamento, que diminuam os impactos futuros sobre estes terrenos mais vulneráveis.


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LIVRO IMPLANTAÇÃO BIM PARA CONSTRUTORAS E INCORPORADORAS Organizador: Wilton Catelani Editora: CBIC e SENAI Ano: 2016 Plataforma em expansão, o BIM (Building Information Modeling) caracteriza-se como um conjunto de informações, processos e tecnologias que, unidos, possibilitam a modelagem, o armazenamento, a troca, entre outras funcionalidades, que geram uma metodologia capaz de gerenciar o processo de projetar uma edificação e analisar o seu desempenho. Em países como Estados Unidos, Inglaterra e Cingapura, por exemplo, o BIM tornou-se uma exigência nos processos licitatórios. Atentos nessa tendência mundial, a CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), por meio de seu departamento COMAT (Comissão de Materiais, Tecnologia, Qualidade e Produtividade), em parceria com o SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), tem realizado uma série de iniciativas para divulgar o conceito no País, por meio do projeto “Disseminação do BIM”. Uma delas é a coletânea Implantação BIM para Construtoras e Incorporadoras. Elaborada pelo consultor da CBIC, Wilton Catelani, a coletânea teve seu primeiro volume lançado durante o 88º ENIC (Encontro Nacional da Indústria da Construção), ocorrido em maio, em Foz do Iguaçu (Paraná). Com cinco livros ao todo, o material tem como objetivo disseminar os principais fundamentos do BIM, seus benefícios, modelos, aplicações, instruções de como utilizar, quais obstáculos podem existir, entre outros aspectos da tecnologia. Enquanto o primeiro livro introduz os conceitos fundamentais do BIM, o segundo livro já destaca a implantação da tecnologia, além das barreiras que podem existir e mostra definições de estratégias. O terceiro volume apresenta as regras para viabilizar o trabalho colaborativo da plataforma, assim como sua codificação, padronização e softwares. O quarto número revela os fluxos de trabalho do BIM e o quinto livro exibe as formas de contratação da tecnologia, os direitos e as responsabilidades. Para saber mais sobre a coletânea, acesse: cbic.org.br/bim/.

Para comprar as obras indicadas nesta seção, envie um e-mail para assinatura@revistafundacoes.com.br

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AGENDA BRASIL 21 A 23 DE MARÇO DE 2017 BRAZIL ROAD EXPO

São Paulo, São Paulo www.brazilroadexpo.com.br

Em sua última edição, o evento reuniu aproximadamente 4.000 visitantes e 100 marcas expositoras. É um encontro tradicional para profissionais da área de infraestrutura viária e rodoviária, e tem como objetivo discutir pavimentações e apresentar soluções que possibilitem um avanço neste cenário. O congresso exibirá novidades dos fabricantes e apresentará os produtos para construção e manutenção de pontes, túneis, viadutos, além de materiais para a pavimentação em asfalto e concreto. Os participantes poderão conferir itens para drenagem, contenção de encostas, sistemas e produtos para segurança.

3 DE ABRIL DE 2017

4º CBTE SEMINÁRIO INTERNACIONAL “LATIN AMERICAN TUNNELING – LAT 2017

São Paulo, São Paulo http://4cbt.tuneis.com.br/index.php

Um dos mais esperados eventos do setor tuneleiro na América Latina, a solenidade acontece simultaneamente ao 9th International Symposium on Geothecnical Aspects of Underground Construction in Soft Ground. Durante o seminário serão apresentados 17 temas voltados para os profissionais envolvidos com a área de estruturas subterrâneas, por meio de debates, troca de experiências, exibição de novas tecnologias, com tendências do setor de projeto, construção, manutenção e operação. Haverá ainda a realização de um curso de atualização e aprimoramento no segmento de túneis.

para engenheiros, arquitetos e profissionais envolvidos com o setor.

6 DE ABRIL DE 2017

9TH INTERNATIONAL SYMPOSIUM ON GEOTECHNICAL ASPECTS OF UNDERGROUND CONSTRUCTION IN SOFT GROUND

São Paulo, São Paulo is-saopaulo.com/welcome.php

Evento tradicional da área, sua próxima edição acontece no Brasil, país com necessidades e potencial de construção subterrânea. Especialistas do mundo inteiro se reunirão em São Paulo para apresentar e debater as contribuições e experiências na construção subterrânea em terreno macio (soft ground). A convenção ocorrerá simultaneamente ao Seminário Latino-Americano e o 4º CBT, encontros que juntos já somaram mais de 600 especialistas locais e internacionais.

9 A 11 DE MAIO DE 2017 MUNDO GEO CONNECT

São Paulo, São Paulo mundogeoconnect.com/2017/

Realizado anualmente pela empresa MundoGEO, grupo que atua no segmento geoespacial e de drones, o evento é considerado um dos maiores do segmento. Em sua última edição, o encontro reuniu especialistas, empresários e pesquisadores de vários países da América Latina e demais continentes, com a presença de mais de 3.200 pessoas e 120 palestrantes.

PILED FOUNDATIONS & GROUND IMPROVEMENT TECHNOLOGY FOR THE MODERN BUILDING AND INFRASTRUCTURE SECTOR

Melbourne, Austrália http://bit.ly/2bcy9qP

A conferência abrangerá estacas em fundações e obras de melhoramento do solo associado à evolução de construção e infraestrutura, além de incluir requisitos de retenção para porões. Os palestrantes compartilharão suas experiências, aspectos de concepção, construção e desempenho para trabalhar com estacas, além de abordar a melhoria do solo e técnicas para construção e obras de infraestrutura.

29 DE MARÇO A 01 DE ABRIL DE 2017

ISM 2017: MICROPILES RESISTING AND REMEDIATING THE EFFECTS OF MOTHER NATURE

Vancouver, Canadá http://bit.ly/2btGTdV

Organizado pela ISM (International Society for Micropiles), pela ADSC (International Association of Foundation Drilling) e pelo DFI (Deep Foundations Institute), o evento retorna à América do Norte. O workshop manterá o formato tradicional, com sessões sobre aspectos da tecnologia de microestacas. Haverá também uma competição internacional de microestacas, que selecionará o melhor projeto do gênero no mundo.

06 A 08 DE ABRIL DE 2017 STRUCTURES CONGRESS

EXTERIOR

04 A 08 DE ABRIL DE 2017

12 A 15 DE MARÇO DE 2017

São Paulo, São Paulo

Orlando, Estados Unidos

www.feicon.com.br

geotechnicalfrontiers.com/

Com mais de 20 anos de existência, o evento permite que diversos setores da área da construção civil possam expor seus produtos como: máquinas, tintas, solventes, revestimentos, além de alguns acessórios de decoração, como artigos de louça sanitária, por exemplo. Os participantes podem conferir as tendências e os lançamentos da área da construção civil. O evento é voltado

Realizada a cada seis anos, a feira é o local onde a indústria se une para compartilhar os desenvolvimentos em engenharia e de tecnologias geotécnicas. Ao longo dos quatro dias de evento haverá mais de 200 exposições, com cursos de curta duração, painéis de discussão, palestras de formação e trabalhos técnicos apresentados por especialistas do ramo.

FEICONBATIMAT 2017

21 E 22 DE MARÇO DE 2017

GEOTECHNICAL FRONTIERS

Colorado, Estados Unidos www.structurescongress.org

Direcionado para engenheiros estruturais e civis, proprietários de negócios, pesquisadores, professores e estudantes, o evento terá sessões técnicas que darão ao participante DPS (Horas de Desenvolvimento Profissional), com o propósito de atender às necessidades da comunidade de engenharia estrutural. Oferecerá ainda oportunidades de trocas de contatos e ao mesmo tempo estimulará o entendimento entre a academia e a prática de engenheiros.

01 A 04 DE MAIO DE 2017 OFFSHORE TECHNOLOGY CONFERENCE

Houston, Estados Unidos 2017.otcnet.org/

16 A 18 DE MAIO DE 2017 XXXI SNGB – SEMINÁRIO NACIONAL DE GRANDES BARRAGENS

Belo Horizonte, Minas Gerais http://bit.ly/2dKYL5D

Durante três dias, a capital de Minas Gerais sediará um dos mais tradicionais encontros da área de barragens no Brasil. Entre os principais temas que serão apresentados aos participantes, destacam-se o bloco dos benefícios ambientais causados por barragens e reservatórios, que mostrará aspectos como a redução do uso de usinas termelétricas geradoras de gás efeito estufa, por exemplo. Também será colocada em pauta a avaliação econômica de barragens e empreendimentos hidráulicos, a partir de estudos de caso, entre outros temas relacionados.

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Criada em 1969, a OTC (Offshore Technology Conference) é realizada anualmente, em Houston, nos Estados Unidos. Consagrado mundialmente, o congresso é considerado como o maior evento do mundo para a indústria de petróleo e gás, com uma participação de, em média, 2.400 expositores e participantes de 120 países em cada edição. O encontro tem como objetivo reunir os profissionais de energia para o compartilhamento de ideias e experiências, além de ser um espaço para a atualização das principais tendências científicas e técnicas para recursos offshore e questões ambientais.



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