Revista Fundações & Obras Geotécnicas - Ed. 70

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Revista FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS www.rudders.com.br

Ano 6 Nº 70 R$ 27,00

Julho de 2016

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Ano 6 – Nº 70 – Julho de 2016

NOVO TÚNEL DO JOÁ É BATIZADO COM O NOME DO ENGENHEIRO LUIZ JACQUES DE MORAES INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO DA LAMA DE CAL NO COMPORTAMENTO DE MISTURAS ASFÁLTICAS CAUQ


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https://goo.gl/nZ7JEJ www.linkedin.com/company/editora-rudder soundcloud.com/editora-rudder NOVO TÚNEL DO JOÁ É BATIZADO COM O NOME DO ENGENHEIRO LUIZ JACQUES DE MORAES INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO DA LAMA DE CAL NO COMPORTAMENTO DE MISTURAS ASFÁLTICAS CAUQ

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04/08/16 18:51

Ano 6 – No 70 –JULHO 2016

SOBRE PRODUZIR MATERIAIS DIDÁTICOS Antes de mais nada é preciso começar esse texto lembrando o significado da palavra “didática”, que vem do grego “techné didaktiké”, que se pode traduzir como arte ou técnica de ensinar. A didática é a parte da pedagogia que se ocupa dos métodos e técnicas de ensino, destinados a colocar em prática as diretrizes da teoria pedagógica. Ela estuda os diferentes processos de ensino e aprendizagem. Explicado o uso da palavra “didáticos” no título desse editorial, passamos para o intuito dele, discorrer sobre o ofício de produzi-los. Pessoalmente sempre fui adepta de materiais didáticos nos ambientes das redações de editoras para facilitar a comunicação e estabelecer uma padronização aos trabalhos que fazemos e aqueles que recebemos como colaboração de nossas fontes (forma como é chamada na linguagem jornalística os entrevistados e participantes de uma matéria). Nesse aspecto sempre fui um caso isolado em relação aos meus colegas de trabalho – nas empresas de comunicação por onde passei – pois um dos traços dos profissionais de comunicação, em geral, e obviamente não de forma inânime, é o desprezo pela metodologia. Os profissionais de comunicação são extremamente criativos, proativos, dedicados e flexíveis a diferentes situações, mas não possuem apreço pela didática e seu registro. Ao meu ver, um erro muito grande dentro das redações, especialmente nas que atuam em linha editorial. E agora voltando para a minha aproximação com a produção de materiais didáticos para os veículos de comunicação por onde passei, posso dizer seguramente que é uma atividade extenuante, porém recompensadora. Se dedicar durante um longo período a produção de um manual, guia de orientações e padronização exige muita paciência e dedicação, mas acima de tudo persistência, pois a cada material produzido e colocado em uso, aprendemos a partir deles que a produção de materiais didáticos é um “organismo vivo e em constante mutação”. Produzir um material didático para uma revista segmentada e com uma abordagem tão específica como a revista Fundações & Obras Geotécnicas é um desafio estimulante e uma aprendizagem inesgotável. A cada edição da revista recebo feedbacks em relação ao conteúdo de nossos materiais didáticos que me auxiliam nas anotações e revisões para a reformulação de nosso material que é revisado anualmente e reelaborado bienalmente. Confesso, é cansativo, mas não pretendo desistir dessa empreitada e sim expandi-la para cada vez tornar a nossa publicação mais acessível a todos. Gléssia Veras Editora-chefe NOTA Informamos que a seção “Geossintéticos” não será publicada temporariamente, pois nossa equipe de redação fará ajustes editoriais em seu formato. Em breve faremos um novo comunicado sobre o seu novo perfil.


SUMÁRIO

Ano 6 – Nº 70 – Julho de 2016

38 |

20 |

48 |

03 | Coluna do conselho

30 | Monitoramento geotécnico

04 | Destaque – Construction

é realizado na BR-101

32 | Curso de quatro módulos

Summit evidencia sistemas construtivos industrializados, sustentabilidade e crescimento econômico brasileiro

sobre geossintéticos é ministrado no Rio Grande do Sul

08 | Notas

presidente da ITA

12 | Entrevista – Lavoisier

38 | ARTIGO – Soil Survey:

Machado

metodologia inovadora no Brasil adotada pela CTR-RIO, para controle de qualidade da instalação de geomembranas

18 | História 20 | REPORTAGEM – Novo túnel do Joá é batizado com o nome do engenheiro Luiz Jacques de Moraes

28 | Opinião

34 | Tarcísio Celestino é o novo

42 | Artigo – Influência da Temperatura de Calcinação da Lama de Cal no Comportamento de Misturas Asfálticas CAUQ

48 | EM FOCO –

Rebaixamento temporário do lençol freático

56 | O que há de novo – Solução para confinamento e dessecagem de resíduos sólidos garante economia e versatilidade

62 | Geotecnia Ambiental – Técnica de solo-cimento é utilizada em pesquisa pelos alunos da IMED

64 | Livro 65 | Agenda


www.rudders.com.br Rua Leopoldo Machado, 236 Vila Laís CEP: 03611-020 São Paulo - SP Telefone: (11) 2641-0871 CONSELHO EDITORIAL São Paulo • Paulo José Rocha de Albuquerque • Roberto Kochen • Álvaro Rodrigues dos Santos • George Teles Paulo César Lodi • José Orlando Avesani Neto • Eraldo L. Pastore • Sussumu Niyama Minas Gerais • Sérgio C. Paraíso • Ivan Libanio Vianna Pernambuco • Stela Fucale Sukar Bahia • Moacyr Schwab de Souza Meneze • Luis Edmundo Prado de Campos Rio de Janeiro • Bernadete Ragoni Danziger • Paulo Henrique Vieira Dias • Mauricio Ehrlich • Alberto Sayão Distrito Federal • Gregório Luís Silva Araújo • Renato Pinto da Cunha • Carlos Medeiros Silva • Ennio Marques Palmeira Rio Grande do Sul • Miguel Augusto Zydan Sória • Marcos Strauss Rio Grande do Norte • Osvaldo de Freitas Neto Espírito Santo • Uberescilas Fernandes Polido

Associações que apoiam a revista

www.rudders.com.br Fundador e idealizador Francisjones Marino Lemes (in memoriam) Coordenação editorial e marketing Jenniffer Lemes (jenni@rudders.com.br) Colaboradores Gléssia Veras (Edição); Dellana Wolney, Dafne Mazaia (Texto); Rosemary Costa (Revisão); Elisa Gomes (Arte); Melchiades Ramalho (Artes Especiais) Contatos Pautas: glessia@rudders.com.br Assinaturas: assinatura@rudders.com.br Publicidade: publicidade@rudders.com.br Financeiro: financeiro@rudders.com.br Foto de capa Marcio Machado / Geo-Rio Impressão Gráfica Elyon Importante A Revista Fundações & Obras Geotécnicas é uma publicação técnica mensal, distribuída em todo o território nacional e direcionada a profissionais da engenharia civil. Os artigos assinados são de expressa responsabilidade de seus autores e não refletem, necessariamente, a opinião da revista. Todos os direitos reservados à Editora Rudder. Nenhuma parte de seu conteúdo pode ser reproduzida por qualquer meio sem a devida autorização, por escrito, dos editores.

A revista Fundações & Obras Geotécnicas segue o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Esta publicação é avaliada pela QUALIS, conjunto de procedimentos utilizados pela CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e encontra-se atualmente com classificação B4.

IMPORTANTE: as seções “Coluna do Conselho”, “Artigo”, “Geossintéticos” e “Opinião” são seções autorais, ou seja, tem o conteúdo (de texto e fotos) produzido pelos autores, que ao publicarem na revista assumem a responsabilidade sobre a veracidade do que for exposto e o devido crédito as fontes utilizadas.

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COLUNA DO CONSELHO

MAIS UMA VEZ O SPT FATOS IRRETORQUÍVEIS X CONFIABILIDADE MOACYR SCHWAB Fato 01: as Sondagens de Simples Reconhecimento com SPT (Standard Penetration Test) são o procedimento mais popular e econômico presente na quase totalidade dos projetos das obras de engenharia no Brasil. Fato 02: o SPT constitui-se em uma medida de resistência à penetração dinâmica conjugada a uma sondagem de simples reconhecimento, com a possibilidade de identificação do material colhido no decorrer do ensaio, com baixo custo, o que explica, em parte, a sua popularidade. Fato 03: em 1974, durante o V COBRAMSEF (Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia de Fundações), realizado em São Paulo (SP), um grupo seleto de profissionais do Rio de Janeiro e de São Paulo denunciou veementemente a baderna que reinava no Brasil, sem distinção de região, quanto aos processos executivos e, principalmente, quanto à competência duvidosa de pequenas empresas e/ou de profissionais responsáveis pela execução e pela apresentação dos resultados de sondagens de simples reconhecimento do subsolo. Fato 04: em 1982, registrei, em artigo publicado na Revista Técnica do Clube de Engenharia da Bahia (ano 1, vol. 1, out./dez., páginas 27 e 28, Salvador, 1982), diversas constatações, cuidados e incertezas inerentes à execução de sondagens de simples reconhecimento nas regiões Leste e Nordeste do Brasil. Fato 05: em 31 de abril de 2011, no IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) de São Paulo foi realizada a mesa-redonda “Sondagens – Método, Procedimentos e Qualidade”, promovida pela ABGE (Associação Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental) e pelo Núcleo São Paulo da ABMS (Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia 3 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Geotécnica), na qual também ficaram registradas deficiências ainda existentes e sem aparente solução em curto prazo. Fato 06: os engenheiros responsáveis pelo projeto estrutural da maioria das obras civis executadas e em execução no nosso país necessitam de e/ou utilizam dados e informações relativas ao subsolo, para desenvolver e executar seus projetos. Fato 07: os arquitetos também deveriam ter acesso a tais informações, antes de desenvolver seus estudos, mas ambos os profissionais nem sempre o fazem. Fato 08: há mais de meio século, assisto impotente ao descaso com que o assunto é tratado por colegas, por empreendedores e por órgãos públicos. Fato 09: até hoje e infelizmente, porém e quase sempre, a execução de Sondagens de Simples Reconhecimento com SPT (hoje normatizada: NBR 6.484:2001), tem sido o único instrumento utilizado em todos os estados brasileiros, pela maioria dos construtores e/ou empreendedores, visando obter aquilo que considero o mínimo de informações relativas ao subsolo e destinadas ao projeto de fundações, entre outros objetivos. Fato10: na maioria das situações de rotina, os contratantes dessas sondagens pagam por elas, mas sequer fiscalizam sua execução e repassam os relatórios recebidos,

sem analisar seu conteúdo e sem avaliar sua qualidade e/ou confiabilidade. Confiabilidade 01: como aceitar, e/ou confiar em relatórios de sondagens de simples reconhecimento que informam haver sido utilizado um “barrilete SPT”, ou “tipo Terzaghi (!?)”, ou “Raymonds (?)”, ou apresentam valores de NSPT P/100 – P/100 – P/100 – P/100 – P/100 (em sequência)?, além de outras barbaridades que não cabe aqui reproduzir. Confiabilidade 02: e como, por exemplo, confiar em quem utiliza esses dados para, recorrendo a correlações consagradas, mas de aplicação restrita, calcular valores de “tensão admissível” em kgf/cm² com aproximação de um decimal? Confiabilidade 03: até quando viveremos essa realidade? Estaremos sucumbindo diante da proliferação do vírus da incompetência, da bactéria da irresponsabilidade, dos protozoários da ignorância e dos fungos da usura? Segundo um velho ditado, “você paga pelos estudos geotécnicos, quer os rea­ lize, quer não!” (Profº. Heinz Brandl, ex-vice presidente da ISSMGE – International Society for Soil Mechanics and Geotechnical, John Mitchel Memorial Address, 7th Deep Foundation Institute Conference, Vienna, 1998). Acrescento: não apenas quem executa as sondagens, mas também quem utiliza os resultados por ela fornecidos contribui para que o projeto seja ou não confiável. Moacyr Schwab de Souza Menezes é engenheiro civil pela EPUFBA (Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia), em 1955 e master of science in civil engineering pela Purdue University (USA) (1958). Foi engenheiro do DER-BA (Departamento de Estradas de Rodagem da Bahia – Laboratório Central), entre 1956 e 1969, professor-adjunto da EPUFBA, entre 1959 e 1981, consultor autônomo, entre 1981 e 2008 e sócio da GEOTEST Projetos e Consultoria Ltda., desde 2008 até os dias atuais.


DESTAQUE

CONSTRUCTION SUMMIT EVIDENCIA SISTEMAS CONSTRUTIVOS INDUSTRIALIZADOS, SUSTENTABILIDADE E CRESCIMENTO ECONÔMICO BRASILEIRO Na ocasião, especialistas nacionais e internacionais ressaltaram a importância da arquitetura e da engenharia para o crescimento de um país

Em mais uma edição de sucesso, o Construction Summit, que aconteceu nos dias 15 e 16 de junho em São Paulo (SP), reuniu especialistas do Brasil e do exterior para debater assuntos relacionados à infraestrutura urbana que abrange o desenvolvimento das cidades, por meio de soluções construtivas que viabilizem mais acessibilidade, mobilidade, sustentabilidade e uma melhor qualidade de vida para a população. Neste contexto, a SOBRATEMA (Associação Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração) promoveu no primeiro dia de evento o seminário Cidades em Movimento, em parceria com o WRI (World Resources Institute) Cidades Sustentáveis. Os dois painéis que fizeram parte da programação discutiram “Tecnologia e Financiamento para Infraestrutura e Serviços” e “Mobilidade, Acessibilidade e Desenvolvimento Urbano”. O primeiro painel contou com a participação do especialista e colaborador do WRI Ross Centro para Cidades Sustentáveis, Diego Canales que falou sobre “Cidades Inteligentes – A Tecnologia a Serviço dos Cidadãos”. Na ocasião, ele mencionou as tendências e deu diversos exemplos de cidades inteligentes, principalmente no México e no Brasil, que já usam a tecnologia para melhorar a relação com os cidadãos e o fornecimento de serviços. “Entre as principais barreiras no processo de construção de cidades inteligentes está o desconhecimento de três pontos essenciais: formatos e protocolos abertos e padronizados; 4 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Fotos: Divulgação Mecânica de Comunicação

Por Dellana Wolney

Participantes do Construction Summit 2015


Encontro Startups

Painel Cidades em Movimento

dados abertos e interfaces abertas e documentadas, e componentes modulares (software). Esses princípios ajudam a evitar que as soluções e tecnologias escolhidas não representem um atraso no futuro próximo, em cinco ou dez anos (ou a duração de um contrato), sendo que a tecnologia é algo que evolui muito rápido”, explica. Outro desafio, segundo Canales, é saber como colocar dentro de uma agência de governo pessoas que tenham essas capacidades técnicas e tempo para inovar e escolher as melhores tecnologias. Em relação aos dados abertos, o especialista diz que eles incentivam a prestação de contas, estimulam a colaboração institucional, ajudando a quebrar barreiras dentro dos governos municipais, e incitam o empreendedorismo e a inovação, juntamente com a criação de novos modelos de negócios e serviços. “Pode não parecer de primeira instância, mas uma política de dados abertos à comunidade consegue fazer uma cidade mais inteligente”, ressalta. A palestra “A Eficiência Energética das Construções” proferida pelo especialista americano e gerente de eficiência energética das construções do WRI Ross Centro para Cidades Sustentáveis, Eric Mackres descreveu a maneira de obter a máxima eficiência energética em uma construção. Ele afirma que esta ação além de proporcionar às pessoas uma vivência em ambientes com ar mais limpo, casas e espaços de trabalho mais confortáveis e contas de serviços públicos mais baratas, também beneficia os gestores da cidade. “Cada dólar investido em eficiência economiza dois dólares em novas usinas e nos custos de distribuição de energia elétrica”, enfatiza.

trução Metálica), ABCIC (Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto), CBCA (Centro Brasileiro da Construção em Aço), Drywall (Associação Brasileira do Drywall), IABr (Instituto Aço Brasil), e da LP Brasil, promoveu o painel “Sistemas Construtivos Industrializados”. Neste painel, o presidente da ABRAMAT, Walter Cover explicou que os diversos sistemas construtivos industrializados utilizados pela construção civil brasileira alcançaram um elevado grau de maturidade e conseguiram uma convivência harmônica nas questões técnicas e institucionais atualmente. “Ao contrário do passado, quando se vivia um clima semelhante a uma guerra, hoje todos os sistemas industrializados entendem que a tendência é de soluções mistas envolvendo drywall, estrutura metálica, pré-fabricado de concreto e madeira. É claro que em aspectos comerciais, cada qual trilha seu caminho, disputando o mercado”, analisa Cover, que também recordou as principais vantagens dos sistemas construtivos industrializados. Para ele, estes benefícios se resumem basicamente em redução do tempo de execução das obras, manutenção da qualidade final da construção, redução e previsibilidade dos custos, menor geração de resíduo e redução de consumo de energia. “Já o principal obstáculo que impede o uso maior dos sistemas industrializados no Brasil atualmente é a falta de isonomia tributária com os sistemas convencionais”, aponta. Compartilhando da mesma opinião, o gerente-executivo da Associação Brasileira do Drywall, Luiz Antonio Martins Filho salientou outras dificuldades para a divulgação do uso de sistemas construtivos industrializados. “Temos questões culturais, dificuldades com a falta de infraestrutura adequada de transporte e logística, e também obstáculos legais, pois os modelos de contratação de obra pública ainda são concebidos visando características dos sistemas convencionais”. Embora as dificuldades apontadas pelos participantes do painel sejam relevantes, os vários sistemas industrializados

FACILIDADE E ECONOMIA Tradicionalmente também aconteceram os Seminários Técnicos da Construção, com a participação de importantes entidades setoriais nacionais e internacionais da construção civil. No primeiro dia a ABRAMAT, com o apoio e presença de representantes da ABCEM (Associação Brasileira da Cons5 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


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2

1 O presidente do SINAENCO, José Roberto Bernasconi • 2

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O presidente da ABRAMAT, Walter Cover • 3 O especialista e colaborador do WRI Ross

Centro para Cidades Sustentáveis, Diego Canales

têm conseguido importantes avanços. “No caso do Steel Frame, por exemplo, é possível dizer que ele está bem difundido no Brasil e com grande potencial de crescimento, pois ainda representa apenas 15% do total das obras de múltiplos pavimentos, enquanto em países como Estados Unidos já representa 50%, e no Japão chega a quase 70%”, comenta a integrante da CBCA (Comissão Executiva do Centro Brasileiro da Construção em Aço), Eneida Jardim. O painel foi encerrado pelo diretor da empresa Tecverde Engenharia, José Márcio Fernandes que enfatizou a importância de tecnologias inovadoras e sustentáveis ligadas ao sistema Woodframe. “A grande vantagem do uso de madeira é a expressiva redução na necessidade de mão de obra no canteiro. Enquanto uma construção convencional demanda 80 hora/homem por m² de obra, o nosso sistema não passa de 7 hora/homem por m². Temos testes dos materiais que nos permite assegurar que a casa construída com este sistema tem uma vida útil de 50 anos”, assegura.

EXPERIÊNCIA INTERNACIONAL No segundo dia, o destaque foi a participação da WOC (World of Concrete) que apresentou tecnologias de concreto utilizadas em obras civis internacionais, demonstrando como a aplicação de pesquisas de materiais, estudos de eficiência de empreiteiras e novos desenvolvimentos tecnológicos contribuem para a construção. Neste painel três palestras foram ministradas pelo presidente da CRT Concrete Consulting, Chris Tull e pelo editor da WOC, Rick Yelton. Dando sequência à programação o SINAENCO (Sindicato da Arquitetura e da Engenharia) realizou dois workshops: “O Papel da Arquitetura e da Engenharia em um Novo Brasil”, que abordou a valorização da área e dos profissionais, bem como a importância para o desenvolvimento do País; e o segundo workshop colocou em questão as novas mídias e formas de comunicação no setor da construção civil. 6 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Para o presidente do SINAENCO, José Roberto Bernasconi, a arquitetura e a engenharia têm um papel imprescindível para o crescimento de um país, principalmente por estarem presentes e atuarem de forma efetiva nos cinco pilares fundamentais: saúde, educação, segurança pública, infraestrutura e defesa nacional. No entanto, ele afirma que para que os profissionais desse setor possam trabalhar de maneira efetiva e eficiente, é necessário que ocorram mudanças. “Estamos submetidos a uma alta carga tributária, de cerca de 40% a condições difíceis de trabalho e somos uma sociedade com forte dependência de um poder. Tudo isso tem nos levado a perda de espaço e enfraquecimento de nossa capacidade de empreender. Por esse motivo, precisamos romper com essas questões que nos aprisionam. Ainda assim, temos conseguido criar novos mercados e prestar excelentes serviços de arquitetura e engenharia aqui e no exterior, com reconhecimento mundial”, opina. O presidente da SOBRATEMA, Afonso Mamede também concorda com a opinião de Bernasconi em relação à competência da engenharia e arquitetura brasileira e sobre as questões de mudanças nos modelos existentes. Segundo Mamede, o sistema atual está baseado em regras que não podem continuar como estão. “A situação atual exige uma profunda transformação, como por exemplo, realizar uma licitação após a entrega de um projeto bem estruturado e não como agora, em que é necessário apenas um projeto básico, sem licença ambiental e sem segurança jurídica, criando expectativas em relação ao custo e cronograma, mas quando temos o detalhe, isso não é possível de ser cumprido”, explica. Para contribuir com essas mudanças, instituições do setor da construção civil assinaram um manifesto para a retomada do desenvolvimento da infraestrutura nacional. “Nosso papel é contribuir para mudar os rumos, apresentando as necessidades, as carências e o que precisa ser mudado no setor da construção. Se realizarmos essas transformações,


Painel SINAENCO. Da esquerda para a direita: Afonso Mamede, Ozires Silva, Rubens Almeida, Sergio Magalhães e José Roberto Bernasconi

Salão da Sustentabilidade

naturalmente, o investimento voltará, porque sabemos que sem infraestrutura não conseguiremos escoar nossa produção. Além disso, a situação como está, quando o Brasil voltar a crescer, faltará infraestrutura, como energia e transporte”, observa Mamede.

ENCERRAMENTO

O workshop do SINAENCO ainda falou sobre o desenvolvimento das cidades, alertando sobre o crescimento urbano nos próximos 25 anos; e sobre a importância da educação que carece de mudanças para fazer com que o Brasil assuma o protagonismo global tanto em termos econômicos como sociais. Segundo o ex-ministro da Infraestrutura e presidente do Conselho de Administração do Grupo Ânima de Educação e Cultura, Ozires Silva a educação é protagonista no crescimento da capacidade de empreender num país, criando novos produtos de alto valor agregado, gerando empregos e conquistando o planeta. A SOBRATEMA juntamente com ABENDI (Associação Brasileira de Ensaios Não Destrutivos e Inspeção) lançaram no último dia de evento o primeiro sistema de certificação de terceira parte para profissionais das áreas da construção e mineração. De acordo com a SOBRATEMA, as duas entidades decidiram instituir esse sistema após verificarem a necessidade de melhorar a capacitação profissional, oferecendo uma certificação de referência que pode contribuir na regulamentação do mercado de serviços de operação de equipamentos nesses dois segmentos. O Construction Summit 2016 teve ainda uma área para mostras, que trouxe aos visitantes conteúdo técnico e especializado sobre os dois temas centrais dos seminários. A mostra VivaCidade, exposição Cidades em Movimento, mostra Light Steel Frame, encontro das Startups da Construção, mostra da Sustentabilidade e mostra Produtividade e Industrialização foram destaques durante a programação. 7 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Workshop Arquitetura e Engenharia


NOTAS

ConstruBr apresenta resultados de produtividade e atratividade de cidades paulistas

Nos dias 14 e 15 de abril, o Sinduscon-SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo) organizou a segunda edição de um dos eventos mais tradicionais do segmento, o ConstruBR, encontro que tem como objetivo debater a competitividade e produtividade do setor. Realizado em São Paulo, o congresso ocorreu paralelamente à Feicon Batimat. Com a presença de aproximadamente 400 pessoas, entre empresários da cadeia produtiva da construção, autoridades públicas e palestrantes, o evento visa identificar as necessidades do setor para garantir o crescimento e fomentar discussões para criar novas políticas, com o propósito de superar os desafios do cenário econômico atual, como pontua o presidente do Sinduscon-SP, José Romeu Ferraz Neto, este tipo de encontro fortalece e prepara os profissionais para sobreviverem à crise. “O ConstruBR teve como objetivo debater os temas mais estratégicos para o fortalecimento da indústria da construção, tendo como pano de fundo a necessidade de sobrevivência nestes tempos de crise e como horizonte estarmos preparados para a retomada da demanda que acontecerá no futuro”, reitera. Para Ferraz, o evento contribuiu para que os profissionais refletissem sobre a conjuntura atual e analisassem as possibilidades futuras, assim como para se manterem atualizados. “Foi um evento extremamente relevante para a formação de uma massa crítica em relação ao momento em que a indústria da construção se encontra e as perspectivas que se abrem para as empresas que querem estar atualizadas com produtividade, gestão, inovações em processos produtivos, construção sustentável, PPPs (Parcerias Público-Privadas), concessões e combate à corrupção”, acredita o presidente do Sinduscon-SP. Foram apresentados dois estudos: “A produtividade na construção” e “Atratividade das Sub-Regiões do Estado”. A pesquisa sobre produtividade foi realizada pelo Sinduscon-SP em conjunto com a FGV (Fundação Getulio Vargas) e exibiu os números da produtividade do segmento entre o período de 2003 e 2013, do Brasil e de mais 17 países. O estudo sobre a Atratividade das Sub-Regiões do Estado, feito pela companhia Deloitte, em parceria com o Sinduscon-SP, avaliou os potenciais de negócios de dez municípios (Ribeirão Preto, Presidente Prudente, Santos, Sorocaba, Santo André, São José dos Campos, São José do Rio Preto, Campinas, Bauru e Mogi das Cruzes) para a indústria da construção. Os 8 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Jorge Rosenberg / SindusCon-SP

Estudos foram divulgados durante o evento que ocorreu em abril na cidade de São Paulo

dados apresentados revelaram, por exemplo, que na cidade de Ribeirão Preto os focos concentram-se atualmente em habitação popular e obras públicas, com a expectativa de construção de 1.481 novas moradias, as HIS (Habitações de Interesse Social), além de 49 obras públicas. A pesquisa mostrou que em Sorocaba o foco está nas construções de domicílios para a classe D – o mesmo público de Bauru – com mais de 72 mil habitações erguidas nos últimos anos. Bauru também concentra suas obras para residências da classe D. O estudo revelou também que a cidade de Santos apresenta o menor ISS (Imposto Sobre Serviços) nos serviços de construção, somente 2%. Em Santo André foi registrado um dos maiores crescimentos de obras de infraestrutura, mais de 160% de aumento entre 2010 e 2014. Já o município de Presidente Prudente possui o ciclo mais rápido para o licenciamento e a aprovação de novos empreendimentos. Em São José dos Campos, foi verificado um crescimento de obras públicas, com ênfase em infraestrutura. Na região de São José do Rio Preto, por sua vez, dois itens se destacaram, de acordo com a pesquisa: a construção de 521 galpões logísticos, entre 2016 e 2020 e a construção de imóveis da classe C, que teve um acréscimo de 33% entre 2010 e 2014. Em Campinas, o segundo maior polo econômico do Estado de São Paulo, registrou um crescimento de imóveis residenciais acima da média em comparação com as cidades vizinhas, abrangendo todas as classes sociais. O estudo mostrou ainda que Mogi das Cruzes, juntamente com a cidade de Santos, tem o maior número médio de profissionais em empresas de construção civil. Além dos estudos, também houve debates e mesas-redondas sobre produtividade e competitividade, construção sustentável e industrializada, habitação popular no Brasil,


Por Dafne Mazaia

México, Colômbia e Chile e infraestrutura, PPPs, concessões e leis anticorrupção. Estiveram presentes no encontro o diretor presidente da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano), Marcos Penido, o presidente da

FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), José Goldemberg, o presidente da Abramat (Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção), Walter Cover, entre outros representantes do setor.

USP abrigará centro de pesquisa e inovação com foco na construção sustentável

Gerar inovação para a sociedade com um trabalho realizado com a ajuda de instituições acadêmicas e grupos empresariais não é mais algo que existe só no papel. Projeto concebido pela Poli-USP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo), com apoio da FDTE (Fundação para o Desenvolvimento Tecnológico da Engenharia), o Cics (Centro de Construção Sustentável) será desenvolvido no campus Butantã, zona oeste de São Paulo, com o objetivo de estudar e avaliar os mais diversos tipos de pesquisas e inovações que podem contribuir com a sustentabilidade na construção. Com a proposta de ser um living lab (laboratório vivo), o centro é ligado ao departamento de engenharia de construção civil do campus e será construído a partir do prédio já existente no local. O living lab abrigará a sede do LME (Laboratório de Microestrutura e Ecoefiência), além de outros que serão acoplados, como o de Sistemas Prediais e sua torre hidráulica. O edifício está em fase de projeto pelos escritórios Aflalo/Gasperini Arquitetos e Vivá Arquitetura e terá também salas de reunião e espaço multiuso. Segundo o professor do Departamento de Engenharia de Construção Civil da Poli-USP, Francisco Cardoso, o Cics experimentará soluções relacionadas com os mais variados âmbitos da área de construção verde, até mesmo o segmento de fundações. “Ele tem como objetivo, em termos de pesquisa e de difusão do conhecimento, tudo que está em torno da construção sustentável, que é extremamente amplo, desde aspectos técnicos, específicos ligados aos materiais de construção, ou a sistemas do edifício, como a fundação. Por exemplo, vamos estudar em torno do tema de fundações, o que fazer para elas serem mais sustentáveis”, informa. O próprio canteiro de obras será um experimento, como diz Cardoso: “o edifício como um todo, não só na fase dos materiais, nos sistemas construtivos, mas na fase dos canteiros de obras, na produção e depois em uso. Tudo o que tem a ver com as pesquisas, desde a escolha do projeto, do sistema, 9 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Divulgação / Departamento de Engenharia de Construção Civil da Escola Politécnica da USP

Pesquisadores e empresas se unem no Cics para desenvolver tecnologia sustentável para o setor da construção

da execução, a questão do uso e depois do fim da obra o que fazer do edifício no final de vida útil”, detalha. O projeto possui uma comissão coordenadora, que é composta pelos professores do Departamento de Engenharia de Construção Civil da Poli-USP, Francisco Cardoso, Orestes Gonçalves, Vahan Agopyan e Vanderley John. De acordo com Cardoso, o edifício será testado de forma que poderá ter peças e partes trocadas como parcela das experiências. “Ele vai servir para testar soluções. A maneira como ele está sendo projetado facilita a troca de partes do edifício, como sistemas, fachadas, coberturas etc. Outra característica por ele ser um laboratório vivo é que ele será extremamente controlado por sensores, tudo será medido: a incidência de luz, a temperatura, o teor de umidade, o gasto de energia e água, de tal maneira que se consiga fazer uma correlação entre as condições internas do edifício vivo, porque irá abrigar equipes de projeto e laboratórios, com as soluções que estão sendo testadas”, explica. Outro objetivo do centro é possibilitar uma interligação com outros departamentos dentro da universidade, assim como de outras instituições acadêmicas e também de empresas, segundo o professor. “A ideia do centro é que ele seja um ‘nó’ de articulação de redes, de colaboração, envolvendo professores e pesquisadores de outras áreas da escola,


como por exemplo, a área de geotecnia, que é parceira, além de áreas de energia com a área de arquitetura. E não só da Universidade de São Paulo, como outras equipes de projeto do mundo acadêmico, e por outro lado, essas redes têm obrigatoriamente que ter empresas, uma premissa do centro. Trabalhar em associação, com agentes da sociedade, que podem ser do setor público, com demandas específicas, e podem ser empresas, porque a inovação vem muito também delas”, acrescenta. A InterCement, empresa do ramo de cimentos, já é uma das parceiras do projeto para desenvolver concretos ecoeficientes, com baixo teor de ligante e que seja de baixo custo para diminuir a emissão de gás carbônico da indústria de cimento. Segundo Cardoso, o Cics pretende difundir conhecimento e tecnologia sustentável, tanto para o mercado, como para a sociedade civil. “Há uma preocupação com a difusão do conhecimento, seja para o mundo técnico profissional, como para o cidadão em geral. O foco neste momento é o mercado, com o setor da indústria da construção, mas num segundo momento é atingir a toda a população”, revela. Criado há mais de 45 anos, o Departamento de Engenharia de Construção Civil da USP foi o primeiro do gênero a ser construído no Brasil e quase com meio século de existência, será responsável por um projeto pioneiro na USP. A ampliação do complexo no campus Butantã tem previsão de se iniciar em 2017. As empresas que desejam participar desse projeto devem entrar em contato com a equipe do Cics por meio do site: sites.poli.usp.br/eventos/cics.

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ENTREVISTA – LAVOISIER MACHADO

DEDICAÇÃO E PERSISTÊNCIA COMO MARCAS DE UMA CARREIRA O engenheiro civil Lavoisier Machado é um profissional transformador: desde a luta pelo crescimento e divulgação dos geossintéticos no Brasil à sua atuação na Maccaferri e na IGS Por Dafne Mazaia

Fotos: Acervo pessoal

Colaborou: Carolina Carvalho

gabiões e geossintéticos no País. Na entrevista a seguir retratamos um pouco da sua história profissional.

COMO SURGIU O INTERESSE PELA ENGENHARIA?

O engenheiro civil Lavoisier Machado

A trajetória do engenheiro civil Lavoisier Machado começa na cidade de Jundiaí, no interior de São Paulo, no ano de 1953, onde nasceu e cresceu. Foi por influência de seu pai que decidiu prestar o vestibular para engenharia civil. Durante a graduação ele trabalhou em diferentes empresas, desenvolvendo as atividades de desenhista-projetista, assistente-técnico, agrimensor e, posteriormente, como engenheiro civil. Em 1980 ele foi chamado para trabalhar na empresa Maccaferri do Brasil, onde permanece até hoje e se tornou um dos principais propagadores da utilização dos geossintéticos. Sua atuação no setor também lhe rendeu um convite para presidir a IGS (Associação Brasileira de Geossintéticos) e sua gestão de quatro anos foi marcada por muito trabalho e conquistas. Além disso, ele também foi o responsável pela organização de um dos principais eventos do setor, fez palestras para estudantes e profissionais da área e ainda batalha pela difusão dos 12 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Surgiu a partir de conversas com um grande amigo para que eu fizesse o curso de agrimensura. Na época eu estava com 14 anos e ele, um ano mais velho, já fazia este curso. Entre 1966 e 1969 fiz esse curso e depois comecei a trabalhar como agrimensor – primeiramente em atividades de cálculo e desenho, e depois, em campo, na atividade propriamente dita –, ambas as experiências em São Paulo, que duraram aproximadamente dois anos. Concomitantemente, iniciei um curso pré-vestibular no Anglo que, na época, possuía uma boa reputação e um bom resultado com os seus alunos, porém somada à minha atividade escolar também estava a minha extensa jornada de trabalho: das 7h às 18h. Assim, um tempo depois decidi abandonar o cursinho e continuar apenas trabalhando. Depois de todas essas vivências, no final do ano de 1972 prestei vestibular, e nesse período da minha vida a engenharia já havia me conquistado. Decidi cursar engenharia civil também influenciado pelo meu pai que, embora tivesse como formação apenas o primário completo, sempre foi estudioso e gostava muito de engenharia, principalmente da vertente mecânica, tanto que no decorrer de sua vida desenvolveu vários inventos, chegando a patentear alguns que, infelizmente, não foram devidamente aproveitados. A partir da influência e do incentivo, ingressei na USF (Universidade São Francisco) (nome atual), antes chamada de Faculdade de Engenharia Industrial e Civil de Itatiba (São Paulo).


O início de sua vida escolar

O engenheiro, no início de sua carreira, desenhando projetos

Lavoisier Machado ao lado seus pais

No início de sua vida profissional como agrimensor

CONTE-NOS UM POUCO SOBRE A SUA FORMAÇÃO ACADÊMICA.

experiências profissionais em Jundiaí (SP). Trabalhei na Sotafe e na Construtora Andrade Gutierrez como assistente-técnico, dando apoio à área técnica para o projeto e a execução do novo sistema viário da cidade de Jundiaí. Em seguida, atuei na DERSA (Desenvolvimento Rodoviário S.A), na divisão SETEC (Serviços Técnicos) também como assistente-técnico e desenhista-­ projetista. Durante essa experiência fiz o projeto de algumas alças de trevo, acessos para postos de serviço e indústrias. Próximo de concluir a minha graduação, enquanto ministrava algumas aulas de topografia em um colégio técnico, fui convidado por um amigo a trabalhar como desenhista projetista de obras civis em uma empresa italiana que estava instalada no Brasil havia apenas dois anos, produzindo gabiões, tecnologia praticamente inédita no País. Esta empresa é a Maccaferri, que ingressei no início de 1980 e onde estou até hoje.

Como já comentei, sou graduado em engenharia civil. Ao longo de minha vida profissional fiz vários cursos de curta duração nas áreas de geotecnia, hidráulica e geossintéticos, alguns deles em países da América Latina e também na Itália. Também estudei geossintéticos com a professora Delma de Mattos Vidal, no ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica). Tenho um MBA (Master of Business Administration) em marketing pela FGV (Fundação Getulio Vargas), que me permitiu somar os meus conhecimentos de engenharia civil com as habilidades de marketing para desenvolver novos horizontes na Maccaferri.

COMO FOI O INÍCIO DA SUA CARREIRA PROFISSIONAL? Minha primeira experiência profissional foi na empresa Consult, em Campinas (SP), como desenhista de levantamentos topográficos. Depois vim para São Paulo, já formado como agrimensor e trabalhei na empresa Agriplan, também realizando cálculos e desenhos de levantamentos topográficos. Em seguida ingressei na empresa Cota Engenharia, onde tive a oportunidade de trabalhar em campo como agrimensor, atuando em muitos levantamentos planialtimétricos cadastrais na cidade de São Paulo, principalmente na zona leste. Essas foram experiências muito significativas para um início de carreira, especialmente porque quando atuei nesta área, os trabalhos eram mais manuais, ou seja, os cálculos e desenhos eram praticamente feitos à mão. Hoje, com o avanço da tecnologia, esse trabalho se tornou muito mais rápido e preciso, porém sou feliz por ter aprendido e atuado no método convencional. Durante a faculdade de engenharia civil também tive outras 13 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

CONTE-NOS UM POUCO SOBRE SUAS EXPERIÊNCIAS NA EMPRESA MACCAFERRI. Pouco depois de ingressar na empresa, entre 1981 e 1985 trabalhei na função de “responsável de área”, ou seja, responsável técnico-comercial por uma área geográfica, e minha principal atividade era desenvolver estudos de viabilidade técnica-econômica para clientes da esfera pública e privada. Em 1984, o diretor-presidente da Maccaferri, engenheiro Stefano Orsi (ainda hoje nessa função) que sempre soube do meu desejo de conhecer novos países, novas culturas e ter oportunidades no exterior me fez uma excelente e desafiadora proposta: trabalhar na área da exportação da empresa. A nova função me fazia estar fora do País por mais de 120 dias/ ano, desenvolvendo atividades técnicas como visitas a locais com problemas geotécnicos e/ou hidráulicos, elaboração de


Lavoisier Machado durante o REGEO, em 2003, na cidade de Porto Alegre (RS)

Lavoisier Machado durante um evento da área

O engenheiro durante o 4º Encontro Anual da IGS Brasil, ao lado de Clovis Benvenuto

Durante uma palestra na EESC (Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo), com o professor Benedito Bueno

estudos técnicos e acompanhamento do trabalho da área comercial, por meio de representantes e distribuidores. Foi um grande desafio a ser cumprido, pois na época em questão a Maccaferri – que até então era Maccaferri do Brasil –, passou a ser responsável por todo o mercado da América Latina. Neste período, que durou seis anos, tive o prazer de conhecer todos os países da América do Sul, da América Central e alguns do Caribe. Em 1989, recebi um novo convite da empresa, desta vez para ser gerente-técnico-comercial do território brasileiro. Iniciamos o trabalho com uma equipe de cinco engenheiros, uma filial comercial em Curitiba (PR), outra em Belo Horizonte (MG). Cinco anos depois já tínhamos também filiais em Recife e Rio de Janeiro, além de uma equipe com mais de dez engenheiros civis. Foi uma época muito difícil em termos comerciais, pois convivíamos com inflação galopante. Outra passagem marcante desse período é que a Maccaferri do Brasil foi a primeira dentre as outras consorciadas no mundo a se interessar pelo trabalho com geossintéticos. 14 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Nossa equipe técnica passou a atentar que, em muitas situações, as necessidades dos nossos clientes iam além dos gabiões. Foi então que vislumbramos essa oportunidade e começamos também a distribuir geotêxteis e outros tipos de geossintéticos, como geogrelhas, geomantas e outros geossintéticos. Em 1994 ficou claro para a Maccaferri a necessidade de uma maior divulgação técnica-aplicativa destas soluções em toda a América Latina. Foi quando desenvolvemos um estruturado e inovador programa de divulgação, de gabiões e de geossintéticos. Aproveitei toda a minha vivência na área para elaborar palestras e cursos destinados a estudantes e profissionais do setor. Nesse momento dei início a uma nova fase da minha trajetória profissional na empresa, agora na função de gerente de desenvolvimento de mercado. Foram dez anos de atuação nessa função, trabalhando com um projeto pioneiro, que trouxe benefícios para a Maccaferri, mas acima de tudo para mim mesmo, principalmente em termos de crescimento pessoal e profissional, pois nada é mais gratificante do que poder transmitir nosso conhecimento para outros. Quando iniciei este trabalho, o Brasil possuía aproximadamente 135 habilitadas para o curso de engenharia, e ao finalizar esse projeto em 2005, cerca de 300 cursos de graduação nessa especialidade já estavam disponíveis. Eu me orgulho de entre 1995 e 2005 ter visitado mais de 90% das faculdades realizado mais de 800 palestras universitárias neste período. Além disso, reali-


Com colegas da Comissão Organizadora da 9th ICG (International Conference on Geosynthetics), no Guarujá (SP), em 2010

Lavoisier Machado e a professora Maria das Graças Gardoni entregam a homenagem ao professor Ennio Palmeira, durante o Geossint, em 2011

zamos muitas palestras e cursos em várias associações de engenheiros, órgãos públicos e empresas privadas. E isso foi extremamente gratificante, pois além da vivência também fiz muitos amigos, que são ícones em suas respectivas áreas, como geotecnia, hidráulica e engenharia ambiental. São muitos nomes, mas não vou citá-los para não cometer algum erro de esquecimento e cometer então uma grande injustiça. Durante este período tive a colaboração nas atividades de pré e pós-eventos da sra. Katia Fonseca, a quem quero muito agradecer.

COMO FOI A SUA ATUAÇÃO NAS ASSOCIAÇÕES DO SETOR? Comecei como componente do comitê técnico da ABINT (Associação Brasileira das Indústrias de Não Tecidos e Tecidos Técnicos), o que me levou a uma maior proximidade com os geossintéticos. O comitê da ABINT é formado por várias empresas fabricantes de geossintéticos, que discutem ações para fortalecer e fomentar o mercado. Concomitantemente a essa participação eu iniciei minha colaboração na IGS-Brasil, em meados dos anos 2000 como secretário da associação. Logo depois, entre os anos de 2003 de 2007, nas gestões do professor Benedito de Sousa Bueno, a IGS-Brasil ousou pleitear a realização do Congresso Internacional de Geossintéticos no Brasil. Foi um período muito bom, quando aprendi muito com ele, uma das pessoas mais íntegras e afáveis com quem trabalhei. 15 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Em seguida, entre os anos de 2007 a 2011 tivemos a gestão do professor Maurício Ehrlich quando atuei como vice-presidente. Durante esse período, nós tivemos o privilégio de tornar realidade o IX Congresso Internacional de Geossintéticos em maio de 2010, no Guarujá (SP). Nesse período, como vice-presidente da associação também fui o responsável pela organização da feira paralela ao congresso, que foi um sucesso com mais de 70 expositores dos cinco continentes. Para essa empreitada contei com a grande ajuda de uma profissional que conheci e trabalhei durante essa gestão e que gostaria de também deixar o meu agradecimento à sra. Carolina Carvalho, atual secretária da IGS. Depois da gestão do professor Maurício Ehrlich fui convidado a presidir a associação por dois anos. Fiquei um pouco relutante, mas no final decidi aceitar, e confesso que foi um grande desafio, mas graças a Deus e aos companheiros de diretoria, conseguimos algumas importantes realizações para a associação. Outra experiência desafiadora e gratificante foi junto a ABMS (Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica). Ao final de 2004, o então presidente recém-empossado, o engenheiro civil Alberto Sayão, a quem eu tenho uma grande admiração, me convidou para ser um colaborador da Diretoria Nacional, principalmente nas questões de divulgação interna e externa da associação, assim como em ações de relacionamento com os sócios-corporativos. Para a minha total satisfação, esta colaboração dura até hoje, pois os sucessivos presidentes, os engenheiros Jarbas Milititsky, Arsênio Negro Jr., e André Assis também aceitaram a minha colaboração. Muito me orgulham algumas das conquistas deste trabalho, como a estruturação e ampliação dos benefícios dos sócios corporativos; a elaboração de um guia de normas para os expositores nas exposições técnicas paralelas aos congressos e o aumento significativo do número de sócios corporativos neste período.

COMO VOCÊ AVALIA O APRENDIZADO DE CONCILIAR ESSAS FUNÇÕES? Nos quatro anos de gestão conduzi minhas funções na Maccaferri, e na IGS-Brasil de forma totalmente independente e ética. Foi uma gestão muito desafiadora, pois um dos principais objetivos era potencializar a associação, torná-la mais profissional e trazer algumas coisas novas para a IGS e isso foi conquistado. Ainda em relação a conciliar as funções é interessante notar que na empresa fazemos parte de um contexto hierárquico com uma linha definida. Já na IGS, principalmente como presidente, é preciso conviver com posicionamentos diferentes, opiniões diversas e fazer com que elas convirjam. Também a experiência que tive na ABINT foi desafiadora, mas ao mesmo tempo gratificante, pois sei que consegui fazer com que os associados entendessem o seu papel dentro do grupo e as atividades que cabiam a cada um, porém sempre de uma forma amigável e satisfatória para todos. Foi no período em que fui coordenador do Comitê Técnico de Geossintéticos que conseguimos reunir 26 ícones da área e editar o Manual Técnico de Geossintéticos, obra com mais de 500 páginas e referência no setor.

QUAL AVALIAÇÃO FAZ DA SUA TRAJETÓRIA ATÉ AQUI?


O engenheiro civil com a sua esposa

alguns de nossos profissionais nessa questão. E não digo isso só em termos políticos, mas também engajados com questões relevantes para a sociedade brasileira. Aqui no Brasil temos bons exemplos desta atuação como a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), que participa ativamente das grandes decisões do País. Acredito que a engenharia teria muito mais força para fazer valer seus princípios se participasse mais das decisões de desenvolvimento do Brasil. Especificamente com relação à engenharia geotécnica vejo que os profissionais brasileiros não devem nada aos geotécnicos de qualquer parte do mundo e são muito admirados fora do Brasil. Especificamente na área dos geossintéticos, o potencial brasileiro é imenso. Acredito que ainda não seja utilizado nem mesmo 10% da potencialidade desse mercado. Todavia, é um processo que realmente leva tempo, e que necessita da passagem pelo âmbito acadêmico. Atualmente, embora tenhamos cerca de 500 universidades habilitadas para o curso de engenharia civil, ainda em poucas delas são estudados os geossintéticos. E por isso, lamento não ter conseguido durante a minha gestão na IGS-Brasil, colocar em prática o projeto “Educando Educadores”, que objetiva ministrar cursos aprofundados de geossintéticos direcionados aos docentes da graduação, mas sei que a gestão atual está num processo de continuidade conseguindo tornar isso real.

O QUE PODERIA DESTACAR COMO REFERÊNCIAS POSITIVAS DO SETOR?

Lavoisier Machado junto com sua família

Durante esses 38 anos, muitos foram os desafios e obstáculos superados, e isso me traz um imenso orgulho. Eu tenho muita satisfação quando sou cumprimentado fora da Maccaferri com um sorriso largo, com um sentimento de respeito e isso é muito gratificante. Considero que tenho uma trajetória profissional vencedora e que muito serviu para a minha vida pessoal. Hoje estou com 62 anos, trabalho com algo que me satisfaz, que é passar o meu aprendizado e minhas experiências para outros profissionais. Também tenho outros objetivos profissionais fora da área da engenharia, aos quais eu já estou me dedicando e que são os negócios da família.

COM A EXPERIÊNCIA QUE POSSUI QUAIS SÃO SUAS PERSPECTIVAS PARA A ENGENHARIA NACIONAL? Acredito que a engenharia brasileira não carece de predicados técnicos, pois temos profissionais muito competentes, com conhecimentos reconhecidos mundialmente, porém vejo que o profissional brasileiro da engenharia precisa participar mais da “vida” de seu país. A nossa engenharia representa mais da metade do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil, e mesmo com toda essa relevância noto (infelizmente) um desligamento de 16 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Hoje temos várias obras de extrema importância no Brasil em que os geossintéticos estiveram presentes, em algumas até protagonistas. E por isso não poderia deixar de mencionar e elogiar as empresas fabricantes destas soluções, já que trabalham para aprimorar os produtos, as técnicas de aplicação e de projeto. Sem esse esforço, o uso e o desenvolvimento técnico-científico dos geossintéticos ficariam muito a desejar se comparado com o que já foi feito até hoje. Aqui também poderia citar muitos nomes de profissionais do setor que admiro. Professores e pesquisadores da área de geossintéticos, mas para não esquecer algum e falhar com isso prefiro, de forma representativa, usar como exemplo todos os autores do “Manual Brasileiro de Geossintéticos”, cuja primeira edição foi lançada em 2004.

CONTE-NOS UM POUCO SOBRE SUA TRAJETÓRIA FAMILIAR. Sou filho único e meus pais já faleceram. Meu pai há mais de 20 anos e minha mãe há dez anos. Meu pai era de ascendência suíça e portuguesa, e minha mãe tinha ascendência síria. Eu me casei aos 27 anos com Maria Helena. Estou casado há 35 anos e, com certeza, sem sua dedicação, companheirismo e amor não teria chegado onde cheguei. Tenho dois filhos: Bruno, o mais velho, que está terminando o curso de administração de empresas e há muito tempo trabalha em nosso negócio familiar e Caio, o mais jovem que se gradua este ano em engenharia de materiais. Para encerrar esta entrevista tenho a obrigação de dizer que se eu tive sorte em um aspecto da minha vida, certamente foi com o meu casamento e com minha família, da qual tenho muito orgulho.


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HISTÓRIA

Obra: Funcionários trabalham em um canteiro de obras para instalar estruturas metálicas próximas aos vertedouros na Usina Hidrelétrica de Caconde (SP) Local: Divinolândia / São Paulo Data: Década de 1970 Esta imagem pertence ao acervo de imagens da Fundação Energia e Saneamento 18 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


Obra: Funcionários durante a instalação de estruturas metálicas em um canteiro de obras na Usina Hidrelétrica de Caconde (SP) Local: Divinolândia / São Paulo Data: Década de 1970 Esta imagem pertence ao acervo de imagens da Fundação Energia e Saneamento 19 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


OPINIÃO

Queremos ressaltar neste artigo que os aterros são tidos por grande parte da sociedade e aqui inclui-se os engenheiros civis, arquitetos e geólogos de engenharia, envolvidos ou comprometidos em obras de aterro, que essa opinião ou compreensão aqui apresentada não é tão óbvia ou transparente, clara ou considerada verdadeira. Solos são materiais de construção para aterros, ou os solos devem ser considerados materiais para construção que vão dar origem a estruturas maciças que são os aterros. Para alguns isso pode ser curioso ou estranho, mas para os engenheiros civis geotécnicos isto é sabido e conhecido há décadas. Na verdade, os solos, que colocamos no plural, precisam ser identificados separando-os em universos distintos em função de seu tamanho e distribuição dos grãos (por exemplo: areias, siltes e argilas), umidade, entre outros índices e em função da necessidade de seus usos. Então, o geotécnico (engenheiro civil especialista em geotecnia) inicialmente classifica os solos separando-os em universos, tipos, ou camadas tipicamente iguais ou regiões representativas do subsolo. E entende, a partir disso, que terão comportamentos como material de construção, tanto como se apresentam na natureza (fundação ou remanescentes de escavações), como nos aterros a virem a constituir-se a partir destes. Após esta separação podemos então tratar cada porção de solo através de ensaios de laboratório, denominados de caracterização, índices físicos e aqueles que determinam as propriedades de engenharia (resistência, compressibilidade, permeabilidade e outras). Daí a razão de que devemos entendê-los como matérias de construção, pois nos projetos requerem-se estas propriedades para os dimensionamentos dos elementos estruturais que no caso são os aterros (estrutura maciça). Destacamos aqui os ensaios de compactação que indicam em função das condições de moldagem, comportamento dispare dos aterros. Nós geotécnicos entendemos como termo condições de moldagem, as energias de compactação e sua respectiva umidade, ou seja, sabemos que em cada par de condições “energia e umidade” os aterros de mesmo solo de origem terão solos de comportamentos diferentes, portanto, diferentes propriedades de engenharia. Devemos fazer uma analogia com concreto em que a compreensão é melhor ou mais reconhecida. No concreto é 28 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Arquivo Mauro Lozano

ECONOMIA E GARANTIA NOS ATERROS DE ALTO DESEMPENHO

mais aceito se mudar o cimento, agregados entre outros a resistência do concreto será diferente. Ora, isso também acontece nos solos onde basicamente temos a energia de compactação e umidade. Portanto, existe uma gama ampla de matérias de construção (aterros) que se atinge ao fazer aterros em diferentes condições de moldagem. Assim, a exemplo do concreto, onde se projeta um traço, para cada solo também teremos diferentes aterros para


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FASE DE OBRA – CT (CONTROLE TECNOLÓGICO) E ATO (APOIO TÉCNICO DE OBRA) 1. Controle de:  Origem dos solos  Distribuição dos solos  Espessura de camadas soltas  Número de passadas do rolo compactador  Umidade dos solos  Homogeneidade de execução 2. Rastreamento de coletas de amostras; 3. Ensaios penetrométricos; 4. Ensaios speed e frasco de areia; 5. Ensaios de hilf; 6. Ensaio de comprovatórios das propriedades de engenharia adotados no projeto;  Resistência – Triaxiais  Compressibilidade – edométricos  Fluxos de água – Permeabilidade  Subleito, reforço subleito, sub-bases ou até bases – CBR 7. Para realizar os itens acima é necessário ter as especificações técnicas do projetista geotécnico que caberá em qualquer obra de terraplenagem. Em nossa opinião, obras de aterros sem os cuidados apresentados neste texto não correspondem à boa prática de engenharia e trazem custos e riscos à sociedade.

A sociedade não especializada em solos tem uma dificuldade grande em praticar o saber que um solo poderá resultar em aterros de comportamentos díspares Arquivo Pessoal

FASE DE INVESTIGAÇÕES E PROJETO 1. Conhecer os solos disponíveis através de sondagens; 2. Definir as porções de comportamento assemelhados; 3. Obter amostras representativas de universo de solos; 4. Executar ensaios de caracterização e compactação; 5. Definir as características e os índices físicos da porção em estudo; 6. Executar ensaios especiais definidores das propriedades de engenharia (resistência, compressibilidade e hídricas), com diferentes:

 Condições de compactação (energia e umidade)  Diferentes composições com outros solos e materiais 7. Definir parâmetros de cálculo e dimensionamento da estrutura maciça; 8. Para realização dos itens anteriores temos que realizar um programa de investigações por um engenheiro geotécnico habilitado.

cada condição de compactação e consequentemente comportamentos díspares. A analogia com concreto também cabe no CT (Controle Tecnológico) que deve ser rigoroso para que saibamos e/ou para termos controle de qualidade da estrutura maciça (aterro) que estaremos construindo (material de construção). Então o comportamento de um aterro poderá e, geralmente está, à mercê de um descontrole por quem o faz, pois estes conhecimentos não estão devidamente entranhados na sociedade e, o pior, trazendo prejuízo e custos inconvenientes a ela. Daí o título deste trabalho em que pregamos o “Aterro de Alto Desempenho”, desejando a prosperidade da sociedade, apresentamos o aterro como material de construção ensejando um melhor conhecimento dos envolvidos em obras de aterro chamando-os de alto desempenho em que o conhecimento das consequências em prejuízo e custos poderão ser mitigados. Assim devemos conhecer os maciços a serem explorados em áreas denominadas erroneamente de empréstimos, escavações obrigatórias, jazidas de solos, bota-espera ou bota-fora; de modo a poder separá-los em porções assemelhadas de comportamento, fazendo em seguida sua avaliação como matéria de construção em aterros procurando o melhor para o empreendimento. Isto é, resistência compressibilidade e permeabilidade, dependendo do que se pretende aquela estrutura maciça (aterro). Que fique claro que o mesmo solo pode ser transformado em diferentes tipos de aterros ou em aterros com diferentes resistências, compressibilidades e permeabilidades. Este é um resumo do que desejamos com este texto. A sociedade não especializada em solos tem uma dificuldade grande em praticar o saber que um solo poderá resultar em aterros de comportamentos díspares. Já os geotécnicos, principalmente os de barragem, conhecem muito bem isto e fazem constantemente o uso deste conhecimento para explorar solos e realizar os aterros zoneando o maciço da barragem. O que entendemos é que aterros de terraplenagem que formarão taludes, subleito de pisos e pavimentos, muros de arrimo etc., deverão ser executados com a técnica que denominamos de aterros de alto desempenho, assim teremos um produto de acordo com as boas normas e práticas de engenharia geotécnica. Notadamente, por trazer economia e segurança aos aterros ou estruturas maciças. Destacamos que esta técnica representa algo já conhecido e pouco praticado, onde devemos:

Mauro Hernandez Lozano é engenheiro civil geotécnico pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (1977) com cursos de pós-graduação na USP (Universidade de São Paulo) atua como consultor na empresa Dýnamis Engenharia Geotécnica. É criador do Sistema TriGeo de Empreendedorismo Engenharia Geotécnica e da Empresa TriGeo Engenharia Geotécnica.


NOTÍCIA

MONITORAMENTO GEOTÉCNICO É REALIZADO NA BR-101 O trabalho foi feito ao longo de 300 km e abrangeu o trecho entre Niterói e a divisa com Espírito Santo

Em abril tiveram início as obras de duplicação da BR-101 em quatro trechos simultâneos. São 20 km de intervenções e a previsão é que no período de um ano, até maio de 2017, outros três pontos receberão obras, completando 46 km com mais uma pista. Os trechos com canteiros de obras abertos estão localizados em João Neiva (ES), km 205 ao km 208; Ibiraçu (ES), km 216 ao km 220; Anchieta (ES), km 362 ao km 369; e Itapemirim (ES) km 403 ao km 409. A estimativa é que até julho deste ano também comecem as intervenções entre Serra e Fundão, no Espírito Santo, contemplando 16 km; um contorno de 8 km em Iconha (ES) e um viaduto em Viana (ES), em intersecção com a BR-262 (cerca de 2 km), completando os 46 km duplicados. A concessionária deverá entregar os 50% da via ampliados até 2019, conforme acordado com o Governo Federal. Os 475,9 km da rodovia que cortam o Espírito Santo, de Mimoso do Sul até Mucuri, na Bahia, também serão revitalizados com mudanças em pontos perigosos como contornos, viadutos e pontes. Neste projeto já existe um viaduto previsto na localidade de Caboclo Bernardo, em João Neiva, além do que será feito em Viana, no encontro com a BR-262, e sobre o rio Itaperorama, que fica em Itapemirim será construída uma ponte no km 367. Muito antes das obras serem concretizadas são feitos estudos preliminares. Em parte da obra de ampliação, a companhia ARTERIS S/A contratou a empresa Geoprojetos para a realização das monitorações ao longo de 300 km da BR-101, especificamente no trecho entre Niterói (RJ), final da Ponte Rio-Niterói e a divisa com Espírito Santo, atravessando todo o litoral fluminense a partir de Niterói até o cruzamento com o rio Itabapoana, nas proximidades da cidade de Mimoso do Sul.

MONITORAMENTO O diretor da Geoprojetos, José Roberto Brandt especifica que foi feita a monitoração da drenagem superficial e obras de arte comuns; monitoração de terraplenos e de estruturas de contenção existentes ao longo da rodovia e cadastramento e recadastramento de pontos, que tem como finalidade forne30 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Fotos: Divulgação Geoprojetos

Por Dellana Wolney

Monitoramento realizado pela empresa Geoprojetos

cer informações para subsidiar a concessionária no planejamento das atividades de manutenção, visando à segurança dos usuários. “Feito periodicamente, o monitoramento desses pontos gera ações corretivas pela concessionária que evitam ocorrências de danos ao corpo estradal impedindo, por exemplo, o agravamento de processos erosivos em taludes e até mesmo rupturas, em situações mais graves”, explica Brandt. Ele acrescenta que, além disso, foi realizada uma análise de capacidade de dispositivos de drenagem, assim como a monitoração de todos os terraplenos e estruturas de contenção. O monitoramento de campo dos dispositivos de drenagem superficial e obras de arte corrente são feitos em uma ficha própria de cada ponto já cadastrado, e após a realização de sua conferência são gerados atualizações e diagnósticos de cada elemento de drenagem superficial. Nesta etapa, Sidney Reis enfatiza que foram observados os seguintes aspectos nas fichas de campo: número do dispositivo; quilômetro inicial e final; orientação/sentido; tipo de dispositivo de drenagem; material de que é constituído; funcionalidade; estado de conservação; anomalias; proteção do pavimento e segurança do tráfego; cronograma e observações.


“O monitoramento de terraplenos e estruturas de contenção consiste em uma ferramenta importante no controle, prevenção e correção dos terraplenos e estruturas de contenção ao longo da rodovia. Durante as inspeções de campo são identificados, em ficha própria: dados gerais, cadastramento, dados geométricos do terrapleno, características gerais do terrapleno, caracterização geológico-geotécnica do maciço, dados da estrutura de contenção, sistema de drenagem a ela associado, condições gerais de umidade/saturação, tipo de processo de instabilização evidente, diagnóstico, gravidade da situação e observações gerais”, descreve. A função dos monitoramentos é apresentar o resultado das inspeções realizadas, periodicamente nos dispositivos de drenagem, levando em conta aspectos de conservação e aspecto estrutural, a fim de direcionar a concessionária para as ações necessárias de manutenção, conservação e melhorias e, até mesmo substituição, visando sempre à segurança dos usuários da rodovia.

ATUALIZAÇÃO Brandt conta como são feitas as atualizações do monitoramento geral da rodovia e das fichas de cadastramento de terraplenos e estruturas de contenção e destaca a importância do serviço para a rodovia. “A atualização das fichas de campo é feita com base no último monitoramento realizado, com o intuito de compará-lo com a situação atual dos terraplenos”. A atualização das informações permite realizar comparativos qualitativos sobre o progresso de deterioração, e assim definir em que momento uma intervenção corretiva será recomendada. Em alguns desses casos pode-se indicar a instalação de instrumentos geotécnicos mais sofisticados ou simplesmente marcos topográficos para acompanhar quantitativamente deformações, que subsidiarão a tomada de decisão sobre tipos de reforços e/ou de intervenções maiores, por exemplo. Reis conta que também foi realizada a atualização do perfil unifiliar que é empregado na comparação do último monitoramento com o atual. O perfil unifiliar é uma representação gráfica simplificada do trecho monitorado. “Nesse diagrama são colocados os pontos críticos do último monitoramento e, num segundo perfil, são colocados os pontos cruciais do monitoramento atual. Com esses dois elementos é possível, de forma expedita, comparar o aumento ou a redução dos pontos críticos e, com isso, identificar a gravidade da situação para o tráfego, de acordo com o nível de risco, em função da classificação do terrapleno”, justifica. Em grandes obras como esta os monitoramentos representam um avanço na qualidade dos serviços oferecidos aos usuários e também podem representar uma economia para concessionária, pois passam a fazer reparos preventivos e não corretivos, caso sejam seguidas recomendações dos indicadores. Considerando a responsabilidade da concessionária, os monitoramentos representam uma redução significativa dos riscos de acidentes causados por escorregamentos de encostas que levam a interrupção do fluxo de veículos. Do ponto de vista geotécnico esse recurso é fundamental, pois de um modo geral, as obras de terraplenagem (cortes e aterros), principalmente em rodovias mais antigas, sofrem forte influência da natureza como períodos de chuvas prolon31 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

gados e torrenciais, exposição a altas temperaturas e outras intempéries, que podem alterar as condições de estabilidade. Os monitoramentos permitem que sejam identificados sinais de instabilidades, marcas de erosão, elementos estabilizantes inoperantes como drenos rasos (barbacãs) ou profundos entupidos, tirantes com problemas e outras anomalias. Identificados esses problemas, que são colocados nas fichas, a concessionária é responsável pelos reparos.


NOTÍCIA

CURSO DE QUATRO MÓDULOS SOBRE GEOSSINTÉTICOS É MINISTRADO NO RIO GRANDE DO SUL Com o sucesso do evento, a intenção é que outros módulos sejam oferecidos, destacando obras hidráulicas, proteção de taludes e pavimentação

O Núcleo Rio Grande do Sul da ABMS (Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica), em parceria com a empresa Geo Soluções (Strata Company), promoveu no dia 3 maio no Campus I da UPF (Universidade de Passo Fundo) em Passo Fundo (RS) o curso “Projetando com Geossintéticos: Soluções para Engenharia Geotécnica”. Voltada principalmente para profissionais e alunos de engenharia civil, engenharia ambiental, engenharia de minas e geologia, a programação do evento incluiu palestras com os temas: reciclagem, geossintéticos, soluções geotécnicas com geossintéticos e dimensionamento de estruturas de solo reforçado com geossintéticos. Dentre os palestrantes estiveram presentes professores da IMED (Faculdade Meridional), UPF e da Poli-USP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo). A finalidade do curso foi disseminar a cultura do uso de geossintéticos, apresentando os materiais e suas diversas aplicações, com enfoque especial para o dimensionamento de geossintéticos na fase de projeto das obras. Em Passo Fundo e em Porto Alegre (RS) foi apresentado o Módulo 1 do curso: “Reforço de Solos”. Outros módulos serão oferecidos futuramente e destacarão obras hidráulicas, proteção de taludes e pavimentação. “Muitas das aplicações de geossintéticos ainda é novidade para boa parte dos profissionais, e a intenção é levar alternativas que ajudem a viabilizar os projetos em relação aos seus aspectos técnicos e econômicos. A intenção destes cursos não é promover um debate, mas entregar um conteúdo preparado por especialistas de cada tema apresentado”, afirma a coordenadora de marketing da Geo Soluções, Carolina Carvalho.

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO A primeira parte do curso foi ministrada pelo engenheiro e professor da IMED, Ronald Vera Gallegos e abrangeu investigação geotécnica; ensaios in situ e de laboratório; determinação de parâmetros de resistência do solo; cálculo de em32 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Fotos: Divulgação Geo Soluções

Por Dellana Wolney

O engenheiro e professor José Orlando Avesani Neto durante o curso

puxos de solo e sobrecargas; compactação de solo e controle de qualidade de obras de terra. Em seguida o engenheiro e professor da UPE, Márcio Felipe Floss tratou da definição, funções e aplicações dos geossintéticos. Inserida na parte II (de quatro partes), a apresentação de Floss foi sucinta e fez um apanhado dos diversos tipos de geossintéticos disponíveis no mercado, além dos tópicos funções e aplicações, ele falou sobre propriedades e ensaios destes materiais. “O tema geossintéticos é pouco abordado no nível de graduação ao redor do Brasil, o que acaba muitas vezes, excluindo esta opção na escolha de técnicas construtivas passíveis de serem executadas. Quando tratadas como uma opção, geram muitas dúvidas por parte dos projetistas e executores, uma vez que lhes faltam informações”, enfatiza. No terceiro e no quarto módulo, os engenheiros André Fanaya e José Orlando Avesani Neto finalizaram o curso exemplificando soluções geotécnicas com geossintéticos; sistemas de contenção em corte e aterro; geossintéticos na pavimentação; obras hidráulicas: soluções para canalização


Geossintético StrataGrid

Aplicação de geossintético StrataGrid em reforço de solo

e reservatórios; bioengenharia e proteção de taludes. Eles também explicaram os aspectos gerais, mecanismos de reforço e metodologias de cálculo no dimensionamento de estruturas de solo reforçado com geossintéticos. De forma geral, o curso teve boa receptividade, principalmente pelo seu baixo custo: 40 reais a inscrição para não associados da ABMS. Para Márcio Felipe Floss, sempre que surge alguma oferta ou demanda de cursos a associação tenta atender, inclusive com objetivos de interiorizar estas oportunidades, uma vez que a região de Porto Alegre já recebe a maioria. “Procuramos realizar cursos e palestras gratuitas para associados da ABMS e um baixo custo para não associados, com a intenção realmente de promover o acesso facilitado ao conhecimento e também aproximar ainda mais o público geotécnico”. Para a coordenadora de marketing da Geo Soluções, Carolina Carvalho, a grande procura pelo curso foi uma grata surpresa e é uma prova de seu sucesso, revelando a adequação do conteúdo e do formato. Ela diz que há de fato uma demanda por este tipo de informação técnica, oferecida de maneira clara e objetiva, pensada para servir como ferramenta de trabalho para os profissionais, e não como mera divulgação comercial. O sucesso foi notável, e convites para levar este e outros módulos a outras cidades já foram feitos. “Consideramos assertiva a inciativa do Núcleo Regional da ABMS no sentido de buscar parcerias com empresas com credibilidade nos setores de interesse, empresas que podem 33 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Geossintético StrataGrid

Tecnologia para sistemas de contenção Lock & Load

apoiar os cursos, oferecendo palestrantes capacitados e barateando os valores de inscrições. Assim é possível atingir profissionais em diversos estágios de suas carreiras e com graus de envolvimento com os materiais geossintéticos diferentes. Acredito que, devido ao baixo valor da inscrição, alguns inscritos podem inclusive ter sido movidos pela curiosidade e, depois do curso, sentiram-se seguros e motivados a incluir esta categoria de materiais em seus projetos”, pontua.


NOTÍCIA

TARCÍSIO CELESTINO É O NOVO PRESIDENTE DA ITA Eleito em abril deste ano, está dentre seus objetivos melhorar a questão contratual e a imagem da construção de túneis no Brasil

Durante viagem a Lisboa, Portugal, em fevereiro deste ano para participar do que seria sua última reunião como membro do conselho executivo da ITA (International Tunnelling and Underground Space Association) o presidente do CBT (Comitê Brasileiro de Túneis), Tarcísio Barreto Celestino recebeu uma notícia que o surpreendeu. Prestes a finalizar o seu mandato como vice-presidente na gestão do dinamarquês Soren Degn Eskesen, ele foi informado que seria indicado para concorrer à presidência do órgão mais importante do mundo da área de túneis. No dia 27 de abril, na Assembleia Geral da ITA, realizada simultaneamente ao WTC 2016 (World Tunnel Congress), em San Francisco, nos Estados Unidos, Celestino foi anunciado como o novo presidente da associação. Dos 68 representantes de países que estavam presentes na cerimônia, 67 deles votaram para que o brasileiro assumisse o cargo. Surpreso, o engenheiro civil revela que não achava que fosse ser eleito. “Desde o início, quando fui abordado lá em Lisboa, a minha primeira reação de foi quase não acreditar, ou de pensar ‘não vou concorrer a essa posição’, mas à medida que o tempo foi passando é claro que a reação se transformou em um grande contentamento. Isso é inevitável”, declara. Celestino acredita que as atividades que vinha cumprindo na associação o ajudaram a figurar como candidato selecionado. “O conjunto de atividades junto à ITA que eu tenho desempenhado, desde ser animador do grupo de trabalho 12 de concreto projetado, essas atividades vieram se intensificando. Na realidade, não preparei essa carreira, e do fundo da minha sinceridade, me vi surpreso quando houve menção para que eu viesse a ser o próximo presidente da ITA. É um conjunto de atividades que naturalmente levaram a essa situação, mas insisto também que há um componente dessas coincidências de estar no lugar certo, na hora certa”.

OBJETIVOS EM SUA GESTÃO Escolhido para atuar na gestão de 2016-2019, Tarcísio Celestino mantém os “pés no chão”, quando o assunto se refere a grandes mudanças que podem ser provocadas no Brasil, agora que se 34 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Divulgação / ITA

Por Dafne Mazaia

Tarcísio Barreto Celestino foi eleito presidente da ITA, em abril durante Assembleia Geral

encontra na presidência de uma associação internacional. De acordo com ele, sua função como presidente tem a capacidade de influenciar em decisões, mas não tem o poder de alterar determinadas ações. “Não vamos ter grandes esperanças de que é o presidente da ITA que tem o poder de mudar as coisas no Brasil. O que pode mudar para o setor não depende tanto da figura do presidente da ITA, mas quem está neste cargo pode influir onde efetivamente o centro de decisão das coisas poderia mudar nesse segmento”, reitera. Gerar mais visibilidade para as empresas brasileiras é um dos pontos que ele pretende que seja alcançado em sua gestão, com


Divulgação / ITA

A votação ocorreu em reunião simultânea ao World Tunnel Congress 2016, nos Estados Unidos

o objetivo de ampliar a participação do país em empreendimentos internacionais. “O que espero é que isso nos dê visibilidade do envolvimento, e em última análise eu diria até de empresas brasileiras em projetos internacionais, uma coisa que já existe. Independentemente da ITA, tem muitas construtoras, em menor escala, também projetistas brasileiras, trabalhando no exterior, mas se isso puder aumentar, por que não? Vamos fazê-lo”, sugere. Tarcísio Celestino declara que novas oportunidades vão surgir devido a sua nova posição na associação e que até já foi chamado para atuar em novos projetos fora do País. “A visibilidade que a posição de presidente da ITA já levou a que eu tenha sido convidado a participar de alguns projetos de pesquisa internacionais. Então muitas possibilidades se abrem e vamos aproveitá-las”, diz. Em meio à sua gestão, o novo presidente da ITA também espera melhorar a situação contratual de túneis no Brasil, que segundo Celestino, não é adequada, por não haver uma legislação específica. “A maneira como se contrata túneis, construção e projeto aqui no Brasil está completamente equivocada. O assunto não é simples, enquanto o contrato de obras públicas de um modo geral tem uma legislação específica em vários países, aqui nem isso temos. Obras públicas são contratadas com a mesma lei com a qual as repartições públicas compram papel higiênico, ou ar-condiciona35 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

do, ou qualquer outra coisa. Não há sequer uma legislação específica para obras públicas, e dentro deste ramo, os projetos subterrâneos requerem uma modalidade de contratação diferente. Se isso mudar, eu já não tenho dúvida de que teremos atingido um grande progresso”, argumenta. A questão de contratos inadequados vem sendo observada em alguns locais e a ITA com a missão de encontrar soluções fez uma parceria com a FIDIC (International Federation of Consulting Engineers). No entanto, ainda há muito o que ser feito, sobretudo no Brasil. Com o propósito de mudar este cenário, Tarcísio Celestino informa que o CBT já prepara ações que visam mostrar as vantagens de adequar este tópico no País. “Aqui não é apenas minha posição de presidente da ITA, mas já como presidente do CBT nós tomamos a decisão juntamente com o restante da diretoria do comittê de promover um workshop trazendo pessoas de fora, para mostrar as experiências que eles tiveram em seus países de mudança de uma lei de contratação de túneis, e que benefícios isso trouxe, tanto do ponto de vista de preços das obras, quanto de prazos de execução, benefícios para todo mundo”, salienta. Como vice-presidente, na revisão do plano estratégico da ITA ao lado de Soren Eskesen, eles verificaram a importância de melhorar a imagem da construção de túneis perante os investidores. “Nós já havíamos vislumbrado que alguns pontos precisam ser revisitados e alguns incrementados. Talvez o mais


Divulgação / ITA

Divulgação / CBT

O novo presidente assumirá a gestão 2016-2019

importante que eu vejo é mudar a imagem da construção de túneis, seja do setor público ou privado. Talvez a maior dificuldade resida hoje no setor privado, nos investidores”, diz. Celestino cita que a imagem da construção de túneis no Brasil não é positiva diante dos investidores privados, por um registro de falhas em vários âmbitos. “A imagem não é boa, por um histórico de acidentes durante a construção, mas principalmente de preços e prazos que não são bons em relação a uma estimativa inicial, seja por valores mais caros, ou de cronogramas dilatados, devido à ‘incerteza’ que a construção de túneis envolve”. Para Tarcísio Celestino, se a obra for conduzida adequadamente, essa insegurança é reduzida e melhorar esse quadro é um dos seus objetivos nessa gestão. “Essa incerteza é intrínseca, mas ela é muito diminuída quando o script é seguido corretamente, quando as investigações e o projeto não são atropelados, mas são levados adiante. A qualidade de investigação, de projeto, de execução, quando as entidades envolvidas para cada uma dessas etapas são escolhidas de acordo com os critérios que devem nortear esse tipo de escolha, os índices de segurança são muito melhores. Se eu pudesse escolher um objetivo eu diria que é mudar a imagem de túneis, seja quanto à segurança de construção, de acidentes, seja quanto à previsibilidade de prazos e de custos”, assegura.

NOVO PRESIDENTE Vista como uma das mais importantes associações da área, a ITA foi fundada em 1974, por uma iniciativa de 19 países. Atualmente é composta por mais de 70 nações e possui mais de 300 afiliados, sejam corporativos ou individuais. A entidade visa promover o uso do subsolo para o benefício da população, do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável, assim como para estimular os avanços no planejamento, na concepção, na construção, na manutenção e na segurança de túneis e espaços subterrâneos. Uma das ações que a associação estimula no Brasil é o grupo de trabalho de jovens tuneleiros (CBTYM), criado em 2015, inspirado no ITA Young Members (Jovens Tuneleiros). A equipe tem o objetivo de difundir a utilização do espaço 36 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Uma das metas em sua gestão é gerar visibilidade para as empresas brasileiras e projetos no exterior

subterrâneo e as atividades da indústria de túneis para as gerações mais novas, com foco em recém-formados (jovens profissionais de até 35 anos), estudantes de graduação e aqueles que estão ingressando na área. O grupo também possibilita que os jovens deem sugestões e opiniões para o CBT, além de propiciar a troca de contato entre eles. O novo presidente da ITA é graduado em engenharia civil pela Poli-USP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo) e realizou seu mestrado e doutorado em engenharia civil pela University of California, em Berkeley, nos Estados Unidos. Somada a sua atuação nas associações da área, ele também é professor doutor no departamento de geotecnia da Escola de Engenharia de São Carlos da USP e gerente de engenharia civil da empresa Themag Engenharia. Já recebeu o prêmio Manuel Rocha, concedido pela ABMS (Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica) por suas atividades que contribuíram para o setor.


37 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


ARTIGO

SOIL SURVEY: METODOLOGIA INOVADORA NO BRASIL ADOTADA PELA CTR-RIO, PARA CONTROLE DE QUALIDADE DA INSTALAÇÃO DE GEOMEMBRANAS Priscila Zidan Engenheira Química com especialização em Gestão Ambiental, Mestrado em Ciências e MBA em Gestão de Negócios. Sócia-diretora na empresa Evolui Consultoria Ambiental. Rio de Janeiro (RJ) priscilazidan@evolui.eco.br Luiz Paulo Achcar Frigo Engenheiro Mecânico com especialização em Engenharia de Petróleo e Gás. Certificação PMP. Sócio-diretor na empresa Evolui Consultoria Ambiental. Rio de Janeiro (RJ) luizfrigo@evolui.eco.br

RESUMO

A metodologia de Soil Survey, utilizada para a inspeção de geomembranas mostra-se muito adequada para reduzir os riscos de iniciar a disposição de resíduos em uma camada de impermeabilização danificada. Estudos canadenses indicam que a densidade de danos por hectare de geomembranas instalada está em média entre 4-22 furos. O controle de qualidade utilizado nos aterros brasileiros não inclui esta metodologia ou similar. Tal fato pode não apresentar consequências perceptíveis no momento, mas que sejam verificadas a longo prazo. O aterro sanitário da CTR-Rio (Centro de Tratamento de Resíduos) adotou esta metodologia de monitoramento e os resultados encontrados após quatro anos de operação indicaram densidades de furos 38 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

variando entre 0,5 e 8 danos/hectare, para cerca de 310.000 m2 de área inspecionada. Todos os danos identificados puderam ser reparados antes no início da disposição dos resíduos. Palavras-chave: Danos na Geomembrana, Controle de Qualidade, Inspeção, Impermeabilização, Aterro Sanitário.

INTRODUÇÃO A partir do estabelecimento da Política Nacional de Resíduos Sólidos(1), no Brasil, em agosto de 2010, foi definido o prazo para o encerramento de todos os lixões no País. Apesar desta meta ter sido recentemente prorrogada (2), um número expressivo de lixões foi encerrado, dando lugar à implantação de aterros sanitários licenciados. Apesar de a normatização que estabe-

lece os padrões para licenciamento de aterros (3, 4) não definir a implantação de geomembrana em sua base, este requisito tornou-se exigência mínima pelos órgãos ambientais. Considerando que a geomembrana é utilizada como o principal agente impermeabilizante que irá impedir a contaminação do solo e das águas subterrâneas, a verificação de sua integridade após a instalação e antes da disposição dos resíduos torna-se fundamental. Atualmente, no Brasil, o método de controle de qualidade da instalação da geomembrana mais utilizado é a inspeção da solda (costura). Ele inspeciona apenas um pequeno percentual em área da geomembrana instalada, não identificando possíveis danos causados por outras origens que não a solda. Além disso, esse teste não inspeciona a geomembrana após a implantação do solo de cobertura, etapa em que ocorre a maioria dos danos, devido a utilização que equipamentos pesados na construção do Liner e aplicação efetiva de carga sobre a geomembrana. O resultado de estudos estatísticos desenvolvidos no Canadá (5), a partir dos dados de monitoramento dos vazamentos em geomembranas, em 89 projetos ao longo de dez anos (2.652.000 m2 de área), identificou que: • A densidade de danos encontrados nas geomembranas instaladas varia, em média, entre 4 e 22 danos por


hectare. Esta variação depende do nível de controle de qualidade adotado na instalação da geomembrana; • 73% dos danos causados ocorreram durante a aplicação do solo de cobertura sobre a geomembrana; 24% ocorreram durante a instalação da geomembrana e somente 2% dos danos ocorreram após a fase de implantação; • Ao contrário do que o consenso atual reconhece, a maior parte dos danos não ocorre devido a procedimentos inadequados de solda. A norma ASTM (American Society for Testing and Materials) D7007 (Standard Practices for Electrical Methods for Locating Leaks in Geomembranes Covered with Water or Earthen Materials) (6), estabelece metodologia adequada e muito difundida fora do Brasil, para controle de qualidade da geomembrana após a aplicação da camada de cobertura: o Soil Survey e o Water Survey (pesquisa em geomembranas cobertas por solo e água, respectivamente). Tratam-se dos métodos elétricos para a inspeção de geomembranas cobertas (com solo ou água, por exemplo). O princípio deste método é a aplicação de uma diferença de potencial através do material plástico para identificar se há alguma passagem de corrente, o que caracterizará que existe dano. Com o uso do método, consegue-se localizá-lo e promover o reparo antes da aplicação dos resíduos (9). Os métodos elétricos para inspeção de geomembranas são requisitos obrigatórios para aterros sanitários em alguns locais dos Estados Unidos, como é o caso de dos Estados de Nova Jersey e Texas (8). No Brasil, a metodologia do Soil Survey já foi incluída como controle de qualidade da implantação do aterro sanitário da CTR-Rio, em Seropédica (RJ). A adoção de tal prática representa uma segurança relevante para o órgão ambiental, para o empreendedor responsável pela operação do aterro e para as indústrias que dispõem seus resíduos nos aterros.

1 METODOLOGIA O aterro sanitário estudado possui quatro camadas de impermeabilização: 39 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Figura 1 – Identificação e dimensão das células implantadas que foram submetidas ao monitoramento do Soil Survey

0,50 m de argila compactada, geocomposto bentônico (GCL), manta de 1,5 mm de PEAD (Polietileno de Alta Densidade) e, outra manta, do mesmo material, com 2 mm de espessura. O espaçamento entre as mantas é feito pela aplicação de uma camada drenante, constituída por 20 cm de areia e tubos de PEAD perfurados, os chamados drenos testemunhos e 15 cm de argila (logo abaixo da manta de 2 mm). A primeira camada de geomembrana, a de 2 mm de espessura é ainda recoberta por uma camada de 0,50 m de solo compactado, a qual é chamada de selo mecânico. No caso de qualquer vazamento de chorume pela primeira geomembrana (a mais próxima da camada de resíduos), o chorume irá escoar pela camada drenante, sendo coletado através do dreno testemunho (tubos de PEAD). Já na camada de 15 cm de argila estão implantados eletrodos que são utilizados para o monitoramento de vazamentos na geomembrana após o início da disposição dos resíduos. Estes eletrodos não são utilizados para a realização da metodologia do Soil Survey. O presente estudo avaliou os resultados das inspeções por Soil Survey, desenvolvidas na primeira camada de geomembrana, ou seja, na de 2 mm de espessura e que fica logo abaixo do selo mecânico e representa a primeira barreira de impermeabilização que poderá ter contato com o lixo e chorume da célula. Em virtude da complexidade do planejamento associados às atividades de operação e implantação do aterro sanitário da CTR-Rio, as células de resíduos foram nomeadas conforme

uma codificação específica, a qual chamaremos genericamente por células de A à G. As áreas referentes a cada uma das células implantadas e testadas pela metodologia do Soil Survey seguem apresentadas na Figura 1, logo abaixo. Os resultados do presente estudo referem-se às pesquisas realizadas em aproximadamente 31 hectares de células implantadas. A metodologia do Soil Survey consiste na aplicação de uma tensão elétrica através da geomembrana. Essa tensão elétrica irá produzir um campo elétrico uniformemente distribuído quando não existem furos na geomembrana. Caso existam furos, esses são detectados e localizados por meio da identificação de anomalias no campo elétrico, causado pela fuga de corrente através desses furos. Essas anomalias do campo elétrico são identificadas por meio das medições realizadas em toda a área de implantação da manta em pontos predefinidos pelos localizados na geomembrana. Durante a inspeção, utiliza-se uma fonte de tensão ligada a dois eletrodos. O eletrodo fonte é instalado no solo sobre a geomembrana e o eletrodo de retorno será instalado no solo abaixo da geomembrana. A fonte de tensão irá gerar através do eletrodo fonte um campo elétrico no solo de cobertura. Caso haja furo na geomembrana haverá fuga de corrente elétrica no sentido do eletrodo de retorno localizado sob a geomembrana. O monitoramento de toda a área é realizado a partir da definição de uma malha pela qual são feitas as medições de


campo. O espaçamento da malha utilizado foi de 3 m e as medições foram feitas a cada 1,5 m. Os dados de campo foram coletados nos medidores portáveis e, depois transferidos para o software que realiza a interpolação dos

dados e permite sua avaliação para a localização dos danos.

2 RESULTADOS E DISCUSSÃO A partir dos resultados obtidos no monitoramento das células em estudo,

Figura 2 – Diagrama esquemático que traduz o embasamento do método do Soil Survey

Figura 3 – Técnico realizando as medições em campo referentes ao Soil Survey

calcularam-se as densidades de danos por hectares em cada caso. Estabeleceu-se também uma classificação para os danos encontrados, comparando-os com resultados já divulgados em literatura. Os dados consolidados seguem apresentados nos gráficos a seguir: De acordo com a Figura 4, a densidade de danos foi menor nas áreas A a E, tendo estes resultados ficado abaixo da média de danos por hectare encontrados nos estudos disponíveis na literatura (5). Já os resultados do monitoramento das área F e G, apesar de maiores do que as anteriores, ficaram dentro da média dos projetos estudados (5). Em relação aos tipos de danos encontrados, os cortes e as punções são os que se apresentam em maior frequência, sendo seguidos por cortes irregulares, depois falha na solda da emenda e, por fim, danos por máquinas. A comparação dos tipos de danos encontrados na CTR-Rio e os disponíveis na literatura seguem apresentados na Figura 6, a seguir. Nota-se, a partir dos dados acima, que existe grande similaridade em relação à frequência de danos por punção e corte linear na CTR-Rio e nos demais projetos estudados (5). Já os cortes irregulares foram mais frequentes na CTR-Rio e as falhas de solda, em muito menor frequência dos que as encontradas nos projetos estudados anteriormente. As figuras 7 e 8, a seguir, apresentam imagens de danos que foram identificados ao longo do monitoramento de Soil Survey, nas células da CTR-Rio. A Figura 7 representa um dano por punção de rocha e na Figura 8, tem-­ se um dano em solda de emenda entre as geomembranas.

CONCLUSÕES

Figura 4 – Densidade de danos encontrados em cada uma das células inspecionadas pelo Soil Survey no CTR-Rio 40 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

O controle de qualidade realizado com o método do Soil Survey, se mostrou eficiente em identificar danos causados na geomembrana durante sua instalação e cobertura. Os resultados do monitoramento da primeira camada de geomembrana do aterro sanitário da CTR-Rio encontram-se compatíveis com os padrões disponíveis na literatura no que se refere aos tipos de danos, porém foram identificados melhores resultados médios em relação àdensidade


Figura 5 – Classificação e percentual de ocorrência dos principais danos encontrados na geomembrana das áreas inspecionadas pelo Soil Survey

Figura 6 – Frequência de ocorrência dos diferentes tipos de danos encontrados nas pesquisas de Soil Survey da CTR-Rio comparados com aquela identificada na literatura(5)

Figura 8 – Falha identificada na solda da emenda entre as geomembranas

Figura 7 – Dano causado à geomembrana durante a instalação

de danos por hectare, em relação aos projetos estudados na literatura. Tal fato deve estar associado ao controle de qualidade que vem sendo adotado nas atividades de implantação da geomembrana neste aterro. Em virtude da realização do monitoramento do Soil Survey na primeira camada, a CTR-Rio teve a oportunidade de reparar 53 danos no total, distribuídos em torno de 31 hectares, evitar futuros vazamentos para a camada drenante e posteriores camadas de impermeabilização. Os dados obtidos demonstram que são reais e, inerentes às atividades de implantação, as possibilidades de ocorrência de danos nas geomembranas de PEAD usadas para a impermeabilização de aterros. Por este motivo é que este tipo de monitoramento deveria ser adotado, pelos aterros brasileiros, a 41 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

exemplo da CTR-Rio, como modelo de inspeção para o controle de qualidade da instalação. Tal prática, já bastante difundida fora do Brasil, representa uma inovação no País com relação ao controle de qualidade de geomembranas e ação de redução de riscos ambientais, inerente às atividades de disposição final de resíduos.

REFERÊNCIAS (1) Lei 12.305/2012: Politica Nacional de Resíduos Sólidos (2) Lei 425/2014. (3) ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS: NBR 13.896 (1987): aterros de resíduos não perigosos – critérios para projeto, implantação e operação. Rio de Janeiro, Brasil. (4) ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS NBR 8.419 (1984):

apresentação de projetos de aterros sanitários de resíduos sólidos urbanos – procedimento. Rio de Janeiro, Brasil. (5) FORGET, B.; ROLLIN, A.L., JACQUELIN, T. Lessons Learned from 10 years of leak detection surveys on geomembranes. Quebec, Canada, 2005. (6) ASTM D7007-09 (2009) – Standard Practice for Electrical Methods for Loca­ ting Leaks in Geomembranes Covered with Water or Earth Materials (7) ASTM D6747-02 (2002) – Standard Practices for Electrical Methods for Locating Leaks in Geomembranes Covered with Water or Earthen Materials. (8) THIEL, Richard; DARILEK, Glenn; LAINE, Daren. (2003) Cutting Holes for testing vs. testing for holes. GFR Magazine, June/July 2003. (9) LAINE, Daren; DARILEK, Glenn. (1993). Locating Leaks in Geomembrane Liners of Landfills Covered with a Protective Soil. Geosynthetics 93 – Vancouver, Canada – 1403-1412. (10) Relatórios de Soil Survey, disponibilizados pela CTR-Rio (Centro de Tratamento de Resíduos).


ARTIGO

INFLUÊNCIA DA TEMPERATURA DE CALCINAÇÃO DA LAMA DE CAL NO COMPORTAMENTO DE MISTURAS ASFÁLTICAS CAUQ Enga Celine Pasqual Engenheira Civil – Iomerê (SC) celinep19.eng@gmail.com MSc. Gislaine Luvizão Docente na Instituição de Ensino UNOESC (Universidade do Oeste de Santa Catarina) – Joaçaba (SC) gislaine.luvizao@unoesc.edu.br

RESUMO Pensando no desenvolvimento sustentável aliado à tecnologia, pesquisou-se a incorporação de 3,0% de lama de cal (proveniente da Celulose Irani SA) no CAUQ (Concreto Asfáltico Usinado a Quente ). Desenvolveu-se um traço com agregados da região meio oeste catarinense, e a partir deste, moldaram-se os demais traços com o resíduo em estado natural e com diferentes temperaturas de calcinação (entre 100°C e 800°C). Além disso, realizou-se uma análise química deste resíduo. Esta apresentou poucas alterações com a variação de temperatura e foram identificados como componentes de maior concentração: cálcio e carbono. Estudou-se o comportamento mecânico da mistura, avaliando os parâmetros em conjunto. A temperatura de 100°C mostrou-se ideal, com redução de aproximadamente 0,3% no consumo de CAP (Cimento Asfáltico de Petróleo). Palavras-chave: Calcinação; CAUQ; Celulose; Lama de Cal; Pavimentação.

INTRODUÇÃO Nos últimos anos, o conceito de desenvolvimento sustentável ganhou destaque em todas as atividades produtivas. A indústria da construção civil tem apresentado amplo potencial para o aproveitamento de resíduos, destacando a área rodoviária pelos grandes volumes de materiais consumidos. Em âmbito nacional, o Estado de Santa Catarina ocupa a terceira posição na produção de papel, e a quarta posição 42 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

na produção de celulose, possuindo ainda a segunda maior área reflorestada do País, com árvores tipo pinus. Atualmente, as estratégias da indústria de celulose e papel têm fortes vínculos com o tripé econômico, ambiental e social que norteia as práticas sustentáveis. Esse processo teve início com a certificação da base florestal, se ampliou e chegou aos produtos, tornando-se um importante diferencial competitivo (BRACELPA, 2013). O processo Kraft, para extração da fibra de celulose da madeira, é o mais difundido por apresentar as vantagens de possuir ciclos de cozimentos mais curtos que os demais, produzir polpas de alta resistência e ter um eficiente sistema de recuperação dos reagentes usados (SILVA JUNIOR, 2010, p. 27). A incorporação de resíduos industriais de forma a trazer benefícios ao pavimento mostra-se como uma boa oportunidade para reciclagem, lembrando de assegurar-se que as misturas tenham bom desempenho mecânico e um baixo potencial poluente.

1 LAMA DE CAL A lama de cal tem como principal componente o carbonato de cálcio (CaCO3), mas é composta também por pequenas quantidades de outros carbonatos e hidróxidos de cálcio, magnésio e sódio (CARVALHO, 2006, p. 05 e BIERMANN,1993 apud SILVA JUNIOR, 2010, p. 41). A quantidade de resíduo gerada varia em função das condições operacionais de cada empresa. A empresa da origem do resíduo utilizado nesta pesquisa gera em média 3.500,00 toneladas por mês. Calcinando-se o resíduo de celulose e papel, ocorre a transformação do caulim presente no resíduo (através da remoção dos íons hidroxila (OH) da sua estrutura cristalina), o que provoca a destruição do seu arranjo atômico, resultando num componente amorfo instável, denominado metacaulim (CHRISTÓFOLLI; MARQUES FILHO, 2009 apud TRENTIN, 2011, p. 48-49). Mollina (2004, p. 249) destaca os principais componentes do resíduo de seu trabalho, comprovando a predominância do cálcio, como mostra a Tabela 1.


Tabela 1 – Principais elementos químicos inorgânicos presentes no resíduo Cálcio (%)

Sódio (%)

Magnésio (%)

Enxofre (%)

Silício (%)

81,23

10,61

4,29

2,79

0,78

Fonte: MOLINA (2004, p.249).

Carvalho (2006, p.22) informa que as destinações mais empregadas atualmente para a lama de cal são: deposição em aterros sanitários, compostagem (uso para adubação) e aplicabilidade na construção civil para revestimentos cerâmicos. Santiago (2001 apud CARVALHO, 2006, p.22) descobriu em seus estudos que os resíduos gerados pela indústria de celulose e papel apresentam nutrientes (como magnésio, fósforo e potássio) e características de matéria orgânica, que quando combinados adequadamente pela ação de microrganismos, podem resultar em compostos com propriedades químicas fertilizantes de solo. Além disso, este resíduo já constitui um excelente material corretivo de acidez do solo, atividade já empregada na região de realização deste trabalho, o meio oeste de Santa Catarina.

2 METODOLOGIA Caracterização Os materiais utilizados foram submetidos aos ensaios de caracterização física, sempre buscando seguir os procedimentos descritos pelo DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), além de ser realizada a análise química do resíduo conforme metodologia de Tedesco et al. (1995). Os materiais ensaiados (Figura 1) e seus respectivos ensaios estão descritos a seguir: • Para os agregados provenientes de basalto (brita I, pedrisco e pó de pedra): granulometria, massa específica, massa unitária, absorção, material pulverulento, equivalente de areia e adesividade;

Figura 1 – Agregados pétreos caracterizados 43 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

• Para a lama de cal: massa específica e análise química; • Para o CAP: densidade, viscosidade, penetração e ponto de amolecimento. Na Tabela 2 apresentam-se os resultados dos ensaios de caracterização dos agregados. Obtendo-se valores de massa específica real, aparente e unitária compatíveis com basalto e com o tipo de resíduo obtido. Tabela 2 – Características dos agregados

Material

Massa específica real (g/cm³)

Massa específica aparente (g/cm³)

Massa unitária (g/ cm³)

Teor de material pulverulento (%)

Absorção (%)

Brita I

2,82

2,78

1,6

0,85

1,47

Pedrisco

2,76

2,67

1,56

0,81

3,34

Pó de pedra

2,89

-

1,6

23,2

3,93

Lama de cal

2,05

-

1,34

-

-

O pó de pedra apresentou quantidade elevada de material pulverulento, tornando a mistura asfáltica mais fina granulometricamente e com maior entrosamento em sua estrutura. Apesar de possuir absorção com índices elevados, o agregado não apresentou aumento no teor de ligante em função desse fator. A Tabela 3 apresenta os resultados dos ensaios efetuados com o ligante asfáltico. Tabela 3 – Características do CAP (Cimento Asfáltico de Petróleo)

Material

Densidade g/cm³

Ponto de amolecimento (°C)

CAP

1,018

49,5

Penetração (mm)

63

Viscosidade (Temperatura °C) Usinagem

Compactação

153

143

O CAP enquadrou-se em todos os parâmetros indicados por norma quanto às suas características físicas. A lama de cal foi coletada em empresa da região meio oeste de Santa Catarina, sendo ensaiado nas condições natural e com aquecimentos variando de 100°C até 800°C, em intervalos de 100°C. A Figura 2 mostra a variação de coloração do resíduo após passar pela calcinação durante período de quatro horas. Os teores dos elementos químicos nos resíduos foram obtidos pela extração em ácidos nítrico-perclórico e posterior determinação em espectrofotômetro de absorção atômica para Ca, Fe, Mn, Mg, Zn, K e Cu e em Espectrofotômetro de absorção no UV-Visível para P e S.


Os valores de K2O e P2O5 foram obtidos através de cálculo multiplicando do valor de K por 1,2 e o valor de P por 2,29. A determinação de carbono foi realizada por combustão via seca em CHN 2400. A matéria orgânica foi obtida multiplicando o teor de carbono orgânico por 1,72, sendo que o carbono orgânico foi obtido por combustão via úmida e posterior titulometria. O pH é leitura em pH metro e a umidade é seca em estufa. Tabela 4 apresenta os resultados da análise química da lama de cal. O pH apresenta-se como um componente básico, o que é bom para misturas asfálticas. O cálcio é o componente predominante no resíduo, decorrente da matéria prima utilizada na geração do mesmo. A calcinação do resíduo influenciou desordenadamente na proporção dos componentes analisados. A composição química do resíduo é dependente exclusivamente de sua origem e do processo de obtenção do resíduo, desta forma cada geradora possuirá uma característica diferente.

Figura 2 – Resíduo calcinado

Tabela 4 – Análise química da lama de cal Análise Química

Natural

pH

Temperatura de calcinação (°C) 100

200

300

400

500

600

700

800

12,79

12,56

11,55

12,77

11,76

12,37

13,11

13,4

13,35

Umidade, %

15,19

6,55

0,83

0,58

0,61

0,51

0,21

0,22

0,09

Matéria orgânica, %

0,63

0,93

1,04

0,21

0,07

0,21

0,00

0,00

0,40

Carbono total, %

15,44

15,31

13,14

*

*

13,91

12,14

13,65

9,59

P2O5 total, %

0,024

0,026

0,027

0,027

0,028

0,027

0,028

0,029

0,030

K2O total, %

0,045

0,126

0,125

0,101

0,123

0,159

0,119

0,090

0,154

Cálcio total, %

28,90

29,37

31,03

32,29

31,65

31,61

32,12

32,19

34,52

Magnésio total, %

0,625

0,656

0,673

0,646

0,661

0,683

0,654

0,677

0,726

Enxofre total, %

0,007

0,022

0,023

0,017

0,025

0,032

0,019

0,031

0,017

Ferro total, mg/kg

681,40

742,30

792,90

690,80

765,60

742,90

767,30

807,60

793,10

Manganês total, mg/ kg

303,60

313,40

326,10

325,90

328,60

342,70

345,20

355,10

353,90

Zinco total, mg/kg

42,90

39,80

34,70

37,90

38,50

41,10

39,40

39,90

37,90

Sódio, mg/L

58,50

89,50

93,95

97,00

106,50

94,00

90,00

98,00

64,60

* Resultado não fornecido por laboratório. 44 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


Tabela 5 – Faixa granulométrica % em peso passando Peneira (mm)

Mistura do Projeto

Brita 3/4

Pedrisco

Pó de pedra

20,00

25,00

55,00

100,00

19

19,43

25,00

55,00

99,43

92,43

106,43

100

100

12,7

5,49

25,00

55,00

85,49

78,49

92,49

80

100

9,5

0,27

24,12

55,00

79,38

72,38

86,38

70

90

4,75

0,02

1,95

52,41

54,38

49,38

59,38

44

72

2

0,02

0,10

37,29

37,40

32,40

42,40

22

50

0,42

0,02

0,00

16,74

16,75

11,75

21,75

8

26

0,18

0,00

0,00

10,26

10,26

5,26

15,26

4

16

0,075

0,02

0,00

7,51

7,52

5,52

9,52

2

10

Faixa de Trabalho

Faixa “C” DNIT

Gráfico 1 – Enquadramento dos agregados na Faixa “C” DNIT

Após toda caracterização e avaliação das propriedades dos materiais componentes de uma mistura asfáltica, efetuou-se o processo de dosagem.

Faixa de trabalho Adequou-se a curva granulométrica de acordo com a faixa C da norma do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) 031 (IPR, 2006) vigentes para o emprego em pavimentos de CAUQ. A Tabela 5 e o Gráfico 1 apresentam a proporção de cada material que foi utilizado na mistura.

Moldagem dos corpos de prova A Figura 3 apresenta a mistura dos agregados antes da separação por peneiras, seguindo da mistura com o resíduo para um corpo de prova e posterior compactação com energia 45 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

mecânica de 75 golpes cada face, de acordo com os procedimentos Marshall. Desenvolveu-se um TP (Traço Padrão) e outros adicionando 3% de lama de cal no estado natural (TN) e para diferentes temperaturas do mesmo calcinado (100, 200, 300, 400, 500, 600, 700 e 800°C). Após processo de moldagem efetuou-se os procedimentos normativos e determinou-se a estabilidade e a fluência dos corpos de prova.

Determinação do teor ótimo de betume A Tabela 6 apresenta os limites dos parâmetros avaliados na mistura para determinação do teor ideal de ligante. Com todas as análise concluídas efetuou-se a comparação entre os dez traços moldados. O resumo com os dados adquiridos está apresentado na Tabela 7.


A Figura 4 apresenta as comparações entre os traços efetuados, juntamente com os principais parâmetros exigidos. O menor consumo de CAP foi obtido com o traço com adição do resíduo calcinado a 800°C (T8). O teor de CAP é o fator de maior influência no custo do pavimento, portanto, quanto menor o teor a ser utilizado, melhor. Contudo, não sendo o único parâmetro para a determinação do traço ideal, avaliaram-se os demais fatores. Para o volume de agregado mineral, todas as misturas apresentaram valor satisfatório (acima de 16%). Quanto ao volume de vazios, houve variação entre 4,3 e 5,0% entre os traços. A sinuosa variação dos primeiros traços pode ser decorrente do resíduo não apresentar-se 100% destorroado, o que fazia com que ele tivesse pequenas bolas em função do agrupamento de suas partículas um pouco úmidas. Assim, observa-se que mesmo com adição do resíduo em T7 e T8 (material mais fino) o volume de vazios não sofreu grandes alterações quando comparado ao traço padrão. A fluência foi elevada para o TP e muito baixa para o T8, estando adequados os demais traços. Para a estabilidade, todos os traços ficaram com valor satisfatório, acima de 500 kgf. Reunindo todas estas observações, mostra-se com melhores resultados mecânicos o T8, atendendo todos os parâmetros, destacando o maior valor para estabilidade, volume de vazios intermediário e apenas reduzida fluência. Para possível aplicação desta mistura T8, têm-se como inconveniente a grande quantidade de energia necessária para se calcinar o resíduo à temperatura de 800°C. O traço com adição do resíduo no estado natural (TN), também obteve valores satisfatórios, contudo é preferível adicionar o resíduo já calcinado para que não esteja sendo introduzida água indiretamente na mistura asfáltica. Sendo levado à mistura, o resíduo em estado natural contém umidade e necessitará de energia para eliminar a mesma. Pensando nisso, levanta-se a opção de adição do resíduo calcinado a 100°C. Nesta temperatura, o resíduo irá utilizar a mesma energia para aquecimento dos agregados pétreos, e obtêm-se uma mistura com o mesmo volume de vazios do TP, mas com teor de CAP reduzido de 5,80% para 5,5%. A fluência apresenta um bom desempenho e a estabilidade embora reduzida, ainda atende ao parâmetro de 500 kgf.

Figura 3 – Preparação e moldagem dos corpos de prova

Tabela 6 – Limites parâmetros VV

3 a 5%

RBV

75 a 82%

VAM

>16%

Estabilidade

>500kgf

Fluência

2 a 4 mm

Tabela 7 – Resumo dos Traços Parâmetro

TP

TN

T1

T2

T3

T4

T5

T6

T7

T8

Teor ótimo (%)

5,80

5,70

5,50

5,60

5,55

5,35

5,60

5,70

5,50

5,10

Densidade Aparente (g/ cm³)

2,45

2,37

2,38

2,37

2,38

2,38

2,38

2,38

2,39

2,45

VV (%)

4,30

4,80

4,30

4,95

4,40

5,00

4,90

4,50

4,40

4,40

VAM (%)

18,70

17,98

17,25

17,82

17,42

18,20

17,90

17,54

17,25

16,40

RBV (%)

75,00

75,00

75,00

75,00

75,00

75,00

75,00

75,00

75,00

75,10

Estabilidade (kgf)

895,0

780,0

770,0

760,0

748,0

732,0

811,0

820,0

1020,0

970,0

Fluência (mm)

4,95

3,26

3,13

2,80

3,22

3,33

3,45

3,68

2,82

1,98

46 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


REFERÊNCIAS

Figura 4 – Comparação dos parâmetros

CONCLUSÃO A partir dos resultados obtidos nos ensaios de caracterização dos materiais utilizados, verificou-se que estes estão em consonância com as características regionais. Para as características químicas da lama de cal, esta análise varia conforme o processamento da empresa e de cada região: solo, clima, espécie de árvore, poluição. Dentre os traços, identificou-se como ideal o T1, por apresentar boa estabilidade e fluência. Este traço atende aos demais parâmetros exigidos, ao mesmo tempo em que possibilita a adição do resíduo calcinado sem serem necessários maiores gastos energéticos com calcinação, já que se aproveita a temperatura de aquecimento dos agregados pétreos. Esta observação foi levada em conta não só pelo custo financeiro, mas também pela questão ambiental. Não adiantaria estar aplicando um resíduo procurando seu descarte apropriado, enquanto causa-se outro impacto ambiental para esta atividade. Portanto, a adição deste resíduo aparece como uma boa opção, resultando na redução do consumo de CAP e mantendo os parâmetros mecânicos satisfatórios por norma. 47 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

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EM FOCO

Fotos: Arquivo Marcio Leão

REBAIXAMENTO TEMPORÁRIO DO LENÇOL FREÁTICO O rebaixamento do lençol freático é indicado em todos os casos em que seja necessária a construção de qualquer obra civil que esteja situada parcialmente ou totalmente abaixo do lençol freático, até que possam ser instalados os sistemas de drenagem e impermeabilização que forneçam a segurança e a estabilidade da obra. Esta técnica pode ser empregada em qualquer obra cuja existência do nível freático possa gerar interferência direta ou indireta na operação. Não existe uma regra em função da dimensão da obra para que este método seja utilizado, sendo apenas escolhido o melhor método que seja adequado à necessidade da obra, ou seja, rebaixamento raso ou profundo e vazão esperada, levando sempre em consideração a influência que o emprego da técnica pode gerar nas áreas vizinhas da própria obra. A implantação de um sistema de rebaixamento do lençol freático se faz necessária nos casos em que novas obras serão construídas, ou obras já existentes serão reformadas ou apenas submetidas a uma manutenção preventiva ou corretiva, estando estas obras em cota inferior à do lençol local. O rebaixamento permite que os trabalhos sejam feitos com melhores condições de acesso e segurança, e muitas vezes proporcionem economia de recursos em relação à situação de trabalho submerso.

MÉTODOS DE REBAIXAMENTO Dentre os métodos existentes que permitem o rebaixamento temporário do lençol freático podem ser citados: Bombeamento direto é um método bastante simples de aplicação às es48 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Foto 01 – Aspecto geral das fundações da Barragem San Juan em solo residual jovem com passagens de rocha alterada

cavações rasas, em que a água é acumulada em valas abertas no fundo da escavação, e conectada a poços, sendo esgotada por meio de bombeamento,

cujo sistema de operação é dimensionado conforme a necessidade da obra, não evitando que as áreas fiquem levemente encharcadas, devido à lentidão


do processo e ocupando espaços importantes da obra. Apesar de simples este método não é muito indicado, inclusive quando as paredes são suportadas por sistemas impermeabilizantes e que geram elevados gradientes hidráulicos, sob a pena de rompimento do fundo da escavação e taludes, se for o caso. Outro fato que deve ser observado é se existe o carreamento de finos (piping) na água que sai das bombas, já que podem resultar recalques em construções e obras vizinhas. A remediação pode ser feita pela instalação de filtros ou pela instalação de drenos sub-horizontais profundos. Well-points ou ponteiras filtrantes aplicados a escavações rasas a pouco profundas, representam tubos de 4” com ranhuras espaçadas conectadas a ponteiras filtrantes (tubos de PVC – Policloreto de Polivinila de diâmetro inferior), com proteção de tela de nylon, instaladas em perfurações previamente executadas, com circulação de água. Uma característica que resulta da eficiência desse método é que a água retirada do solo se dá por meio do método a vácuo, exigindo assim, plena vedação do sistema. Apresenta vantagens quanto a instalação ser simples e rápida a um baixo custo, proporcionando um rebaixamento mais localizado. Na prática não é possível a obtenção do vácuo absoluto e desta forma sua utilização contempla um rebaixamento máximo entre 5 m e 7 m. Caso exista a necessidade de rebaixamentos mais profundos, recomenda-se o uso de vários estágios conectados pelo presente método. Existe dificuldade quanto à instalação em materiais pedregulhosos que exigem supervisão na operação. Poços profundos são utilizados em profundidades superiores a 5 m. Este tipo de sistema pode ser realizado por meio de dois processos distintos; o primeiro são poços injetores: escavações pouco profundas, caracterizadas pela simplicidade de instalação, baixo custo de instalação e manutenção, além de ser um rebaixamento localizado, porém o método usa baixa vazão com a necessidade de instalação de vários poços junto à escavação, dessa forma, não alcança grandes profundidades, 49 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Foto 02 – Processo de bombeamento após o erguimento da ensecadeira

Foto 03 – Escavação da fundação da barragem após o início do rebaixamento

bem como utiliza sistemas de alimentação de energia reserva para manutenção da operação. O segundo método é por meio de poços de bombeamento que utilizam bombas de recalques submersas. Este é mais indicado para escavações profundas e subterrâneas, ou em lençóis confinados permitindo a instalação em qualquer profundidade, sem limitador para o rebaixamento, além da execução que pode ser feita afastada da área escavada com o uso de vazões elevadas. Todavia, o seu custo e operação são elevados e necessita de um sistema auxiliar de geração de energia com impacto em grande área.

DHP (Drenos Horizontais Profundos) são bastante utilizados quando é necessária a drenagem de camadas ou determinadas feições geológicas de forma localizada, porém nada impede que seu uso possa ser feito em arranjos com espaçamentos distintos. Apesar do seu nome, ele pode ser instalado levemente inclinado para baixo, para evitar a colmatação das entradas por precipitados de compostos ferrosos, sendo recomendado o uso de bombas de vácuo para melhorar sua eficiência. O sistema permite o alívio de poropressões em pontos distantes da face de escavação, taludes de corte e


Foto 04 – Detalhe do dreno de alívio instalado na fundação

fundação de aterros, melhorando a estabilidade, útil na drenagem de obras subterrâneas (aquíferos confinados). Apesar da eficiência esse sistema é dependente da compartimentação estrutural e hidrogeológica do maciço, e muitas vezes sua instalação é feita por tentativa e erro. Drenos de Alívio – Da mesma forma que os DHPs podem ser instalados em camadas e feições geológicas, os drenos de alívio têm como objetivo principal a redução da subpressão, principalmente na fundação de barragens de concreto. Devido a sua grande utilização neste tipo de obra, eles são responsáveis, no caso de fundações em maciços rochosos por drenar a água que percola as descontinuidades mais permeáveis do maciço, sendo instalados no interior das galerias de drenagem. Quando o maciço de fundação é composto por solo, são utilizados os chamados drenos de areia (devido ao seu preenchimento por este material) também verticais, que podem ser empregados na consolidação da fundação, como também aplicados em aterros, ou no caso de solos de baixa permeabilidade de poços de alívio (utilizados para transferência de volumes maiores de água, em relação aos outros métodos, além da prevenção de piping). Galeria de Drenagem é um sistema geralmente utilizado em grandes obras, quando há a necessidade de aporte de elevados volumes de água, ou o uso dos outros sistemas anteriormente citados. Ele não é aplicável ou funcional e costuma ser usado especificamente em fundações de barragens, drenagem em túneis e taludes de cava de mineração, apresentando elevado custo. Representa uma sequência de drenos horizontais profundos em maciços de solo ou drenos de alívio em maciços rochosos.

ENSAIOS PRELIMINARES

Foto 05 – Perfuração para instalação de drenos de alívio 50 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Para a aplicação do sistema de rebaixamento temporário do lençol freático é recomendada a realização de mapea­ mento geológico, com definição de aspectos estruturais e hidrogeológicos para a escolha do sistema de rebaixamento e posteriormente a execução de investigações geotécnicas, desde


sondagens a percussão, rotativas até mesmo ensaios especiais, como CPTu (Piezocone Penetration Test) em situações mais específicas, além de ensaios de permeabilidade em solo (Lefranc) ou em rochas (Lugeon). Podem ser coletadas amostras deformadas para ensaios de caracterização, por exemplo, entre outros métodos. Em alguns casos, são coletadas amostras indeformadas para ensaios laboratoriais mais específicos, como ensaio de adensamento e ensaios triaxiais. Quando existente, podem ser usados resultados de instrumentação geotécnica. Desta forma, devem ser utilizadas todas as técnicas disponíveis para o perfeito conhecimento da permeabilidade e regime de fluxo nos materiais envolvidos, definição das propriedades constitutivas e comportamento geotécnico do maciço envolvido.

EXECUÇÃO O rebaixamento temporário do lençol freático na maioria dos casos é caracterizado por ser executado um pouco antes do início das escavações, sendo da mesma forma, finalizado após o seu término imediato. Em casos específicos, quando é necessário a redução da subpressão e conhecimento dos seus efeitos, as etapas de início e fim podem acontecer em intervalos de tempo maiores às operações de pré-escavação e pós-escavação. Em certas situações, a obra pode exigir que o rebaixamento do lençol freático seja permanente. De qualquer forma, para a realização do rebaixamento é necessário o conhecimento prévio da compartimentação estrutural e hidrogeológico do maciço, para dimensionar o melhor sistema a ser utilizado e que atenda seguramente a obra de maneira eficaz. Devido à existência de métodos diversificados para o rebaixamento, são feitas incialmente intervenções no maciço, por meio de aberturas, seja por escavação direta ou por perfuração de poços. São instaladas as aparelhagens necessárias ao rebaixamento, como tubos com ou sem filtros, sistemas de bombas, que podem estar conectadas a sistemas individuais ou múltiplos. No caso de certos sistemas, como em poços profundos, por exemplo, é ne51 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Foto 06 – Detalhe de parte da fundação da Barragem San Juan, em que pode ser observada a sequência de drenos de alívio instalados

Foto 07 – Perfuração para instalação de piezômetro junto à ombreira direita da barragem


cessária a provisão de sistemas de energia complementares de forma a não interromper o processo de rebaixamento. Em todos os casos é necessária a vistoria dos equipamentos utilizados e monitoria do nível d’água e piezométrico. Para estes últimos é recomendada a instalação de instrumentação geotécnica compatível. Du-

rante o processo de escavação é preciso observar os efeitos causados pelo processo de rebaixamento, não apenas no local da obra, mas em seu raio de influência. Terminada a escavação, o processo de rebaixamento pode ser interrompido, protelado ou mantido permanentemente, conforme a necessidade da obra.

EQUIPAMENTOS Os equipamentos geralmente utilizados são máquinas escavadoras ou perfuratrizes, para criação de acessos no maciço. São utilizadas outras ferramentas nas fases de operação do rebaixamento do lençol como bombas, de variados portes, tubos, filtros, sistemas coletores etc.

DRENAGEM E IMPERMEABILIZAÇÃO

Arquivo Gisleine Coelho

Foto 08 – Processo de escavação da fundação da barragem mostrando a eficácia do sistema de rebaixamento

A existência de sistemas de drenagem e impermeabilização em obras, principalmente relacionadas a escavações são bastante necessárias, tendo em vista que permitem a redução da possibilidade de ruptura de taludes, melhoram a eficácia de processos de compactação, diminuem ou evitam infiltrações nas zonas escavadas, dentre outras aplicações. Entretanto, é preciso ressaltar que o rebaixamento do lençol freático, independentemente do perío­ do de duração, altera as condições do maciço e das áreas vizinhas, já que este processo diminui a poropressão e aumenta a tensão efetiva, podendo gerar recalques, por exemplo. A presença de

Foto 09 – Desenho esquemático ilustrativo de um dos processos de rebaixamento do lençol freático 52 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


água, além de afetar o estado de tensões no maciço ainda pode gerar modificações físico-químicas e reduzir as soluções executivas.

MELHORIAS Com o rebaixamento do lençol evita-se o fluxo de água nas etapas de escavação, o que traz maior estabilidade e, por conseguinte, segurança à obra. A presença de água muitas vezes impossibilita a execução de alguns serviços na construção civil, em outras, exige o uso de técnicas mais complexas e de maior custo. Embora seja imprescindível para a execução de determinadas obras subterrâneas é evidente que há riscos de danos na própria obra e em imóveis vizinhos quando se usa o rebaixamento.

IMPACTOS

ALTERAÇÕES O rebaixamento do lençol freático impõe uma diminuição das pressões neutras no solo e, consequentemente, um aumento das tensões efetivas. Aumento de tensões efetivas podem provocar recalques absolutos ou diferenciais nas estruturas que estejam dentro do raio de influência do rebaixamento em curso. Estes recalques, dependendo das

características dos solos e das estruturas, podem comprometer o desempenho e até mesmo a segurança de algumas construções.

CUIDADOS Antes do início do processo de rebaixamento recomenda-se vistoriar e registrar a condição em que se encontram as estruturas existentes no raio de influência previsto do rebaixamento, para que se possa acompanhar depois eventuais efeitos danosos do processo. Outra medida importante é monitorar, por meio de instrumentação específica, as estruturas mais sensíveis à variação do nível do lençol e também a posição do lençol durante o processo de rebaixamento. O monitoramento do próprio rebaixamento é fundamental para evitar o carreamento de materiais, e também para evitar o surgimento ou agravamento de patologias em imóveis vizinhos.

AÇÕES PROTETIVAS Além da vistoria inicial e da instrumentação indicada, vistorias periódicas na região feitas por especialistas podem ajudar na identificação de sinais que apontem a iminência de danos ou risArquivo Gisleine Coelho

Independentemente do sistema que será empregado para o rebaixamento esta operação sempre irá provocar alteração no estado de tensões dos solos, podendo causar recalques em estruturas vizinhas, em especial se estas estiverem apoiadas sobre a camadas de solos compressíveis (por exemplo, argilas moles). Um exemplo dos efeitos

danosos pode ser observado nas fotos de número 09, 10 e 11. Para a implantação de uma obra fez um corte do terreno natural, tendo-se implantado algumas ponteiras para rebaixamento temporário, a fim de permitir a execução das fundações. Dadas as características de compressibilidade do solo local e ao fato das edificações vizinhas terem sido construídas sobre fundações diretas, o processo de rebaixamento provocou recalques diferenciais que afetaram seriamente o desempenho de alguns imóveis. Outro problema que pode ocorrer é o levantamento de fundo de escavações, quando o rebaixamento induz forças de percolação elevadas em locais onde existam areias finas.

Foto 10 – Sistema de ponteira empregado para permitir a execução de fundações por estacas escavadas 53 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


Arquivo pessoal Arquivo pessoal

Arquivo Gisleine Coelho

Gisleine Coelho de Campos é engenheira civil pela USP (Universidade de São Paulo) 1990, possui mestrado e doutorado em Engenharia Civil pela mesma universidade na área de Geotecnia. Atualmente é pesquisadora do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo), coordenadora de curso e professora da Universidade Anhembi Morumbi. Realiza trabalhos na área de geotecnia, com ênfase em fundações e escavações, tendo experiência no desenvolvimento de pesquisas e serviços técnicos especializados em fundações por estacas, instrumentação de obras geotécnicas, investigação geológico-­ geotécnica, ensaios em modelos reduzidos e em temas relacionados à engenharia urbana. De 2007 a 2012, participou da Diretoria do Núcleo São Paulo da ABMS (Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica) e atualmente participa das Comissões de Ensino, Pós-Graduação e do Comitê Estratégico do IPT. Marcio Fernandes Leão é geólogo e mestre em geotecnia pela UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), mestre e doutorando em Geologia de Engenharia e Ambiental pela UFRJ, possui MBA (Master of Business Administration) em Gerenciamento de Projetos pela USP. Atualmente é geólogo sênior na empresa Drilltec e pesquisador, com linhas de pesquisa relacionadas à Mecânica dos Solos, Rochas e Ensaios Laboratoriais. É especialista na área de investigações convencionais e especiais, bem como instrumentação geotécnica, para grandes obras de arte em engenharia civil, principalmente vinculadas a perfis de alteração. É também membro da CEE-­ ABMS (Comissão de Estudos Especiais da ABMS), responsável pela revisão de normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) para ensaios tecnológicos.

Foto 11 – Recalques diferenciais em imóvel apoiado sobre fundação direta, em decorrência de obra de rebaixamento implantada a menos de 100 m de distância

cos às estruturas, o que pode auxiliar na tomada de decisões em curto intervalo de tempo, sem que haja prejuízos à obra e às estruturas vizinhas.

CASO DE OBRA O projeto construtivo da Barragem San Juan, executado no rio San Juan, Península de Samaná, na República Dominicana foi concluída em 2009. Trata-­ se de uma barragem, do tipo concreto-gravidade que possui aproximadamente 12 m de altura sendo fundada em solos residuais jovem de rochas xisto intercaladas com rochas mármore, com presença de dissoluções cársticas, com passagens alteradas dessas rochas. Devido a essa estrutura ser um corpo monolítico de concreto, sua estabilidade é basicamente assegurada em função das cargas (peso do corpo da barragem) aplicadas à fundação, de forma distribuída. A área, em termos de extensão abrangida para a instalação da barragem, foi em torno de 16.000 m², sendo a fundação escavada 13 m abaixo da cota original do rio. Em função da grande necessidade da escavação da fundação da barragem em materiais inicialmente submersos, houve a necessidade da adoção de técnicas de rebaixamento para melhoria das condições geotécnicas, permitindo assim, a 54 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

ampliação de soluções e possibilidades operacionais na execução do projeto. Após o desvio total do rio, a área a ser escavada foi drenada com o auxílio de bombas e posteriormente foram instalados drenos de areia e alívio (redução da subpressão), com 75 mm de diâmetro, nas camadas subjacentes (solo residual jovem, rocha alterada) e galerias de drenagem junto à fundação do maciço, em função da presença de estruturas reliquiares, descontinuidades e marcante foliação das rochas alteradas, que resultam em uma permeabilidade anisotrópica. Devido a não utilização de filtros em drenos de alívio, foram escolhidos pontos em que existia conhecimento sobre a granulometria dos materiais intemperizados, evitando que ocorresse carreamento de partículas e processos de piping. Na região em torno do barramento foram realizados mapeamentos geológico-geotécnicos complementares para a identificação de zonas que poderiam sofrer recalques. Para monitorar a eficácia dos drenos de alívio foram instalados cerca de 30 piezômetros e 20 medidores de nível d’água em pontos estratégicos para leitura. A técnica de rebaixamento escolhida atendeu as expectativas e não mostrou surpresas durante o período de escavação e pós-­ construtivo da obra.


55 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


O QUE HÁ DE NOVO

SOLUÇÃO PARA CONFINAMENTO E DESSECAGEM DE RESÍDUOS SÓLIDOS GARANTE ECONOMIA E VERSATILIDADE Além de sustentável, a geoforma SoilTain DW evita o descarte inadequado de efluentes Por Dellana Wolney

A responsabilidade com o meio ambiente há algum tempo tem sido protagonista na construção civil. As empresas do setor têm se adaptado à tendência, adequando e criando novas tecnologias focadas na sustentabilidade. A empresa Huesker tem dado a sua contribuição neste contexto, principalmente em relação à engenharia com geossintéticos. Um dos sistemas que está em evidência devido as suas características sustentáveis é o SoilTain DW, que é uma geoforma linear para confinamento e dessecagem de lodo ou lama. O produto terá destaque no estande da empresa durante a 27ª FENASAN (Feira Nacional de Saneamento e Meio Ambiente) que acontece nos dias 16 a 18 de agosto de 2016, no Pavilhão Vermelho do Expo Center Norte, em São Paulo (SP). Normalmente, a tecnologia é utilizada na dessecagem e confinamento de efluentes industriais ou domésticos de ETAs (Estações de Tratamento de Água) ou em ETEs (Estações de Tratamento de Esgoto), e garante o aumento significativo do teor de sólidos do lodo armazenado, possibilitando a remoção mecanizada 56 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

ou o confinamento dos sólidos com menores demandas de espaço e em volumes reduzidos. Ela funciona retendo os efluentes, permanentemente ou provisoriamente, em fôrmas têxteis que atuam como filtros, concentrando sólidos em seu interior, e expulsando o líquido clarificado. Este processo resulta em redução do volume dos lodos, que se concentram em uma torta com alto teor de sólidos no interior das geoformas. A engenheira ambiental da Huesker Brasil, Emília Andrade explica que os geotêxteis utilizados para a confecção das geoformas são compostos por filamentos de polipropileno. Os tecidos possuem alta tenacidade, com estabilizantes anti-UV (Radiação Ultravioleta), que conferem alta resistência à insolação. Além disso, os geotêxteis são concebidos para potencializar o desempenho hidráulico, garantindo alta permeabilidade e baixa suscetibilidade à colmatação, e rápida dessecagem de lodos e lamas. O produto é costurado de forma que resulte em “cilindros” com dimensões variáveis, de acordo com

as necessidades do consumidor. O preenchimento das geoformas é feito por meio de bocais distribuídos em sua superfície, com o lodo até que as geoformas atinjam uma altura máxima predeterminada, o que caracteriza o volume máximo que elas suportam. Após o preenchimento inicial, parte da fase líquida do lodo (clarificado) é expulsa pelos poros do tecido, e o volume contido na geoformas diminui, possibilitando um novo preenchimento. Pode-se dizer que o preenchimento é feito em ciclos, até o limite de armazenamento da geoforma. Encerradas essas séries, inicia-se a fase de consolidação, com duração variada, para que o restante do clarificado seja removido e o lodo atinja o teor de sólidos desejado dentro das geoformas.

INSTALAÇÃO De acordo com o engenheiro da Huesker Brasil, Eduardo Guanaes, a instalação e operação do SoilTain DW é simplificada, requer baixa manutenção, e representa uma alternativa eficiente e ambientalmente correta para a disposição de resíduos, com vanta-


Fotos: Divulgação Huesker

SoilTain DW 57 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


Dessecagem de lodos com o sistema SoilTain

Processo de dessecagem e trincheira drenante que conduz o percolado para reciclagem nos reatores 58 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


VANTAGENS DO SISTEMA SOILTAIN DW • •

• •

Apresenta alto desempenho, equivalente e até mesmo superior aos sistemas convencionais de dessecagem, por meio de um produto mais simples e versátil; O processo de dessecagem é realizado pela atuação do peso próprio dos lodos contidos no interior das geoformas, aliado às propriedades do geotêxtil, que faz a retenção dos sólidos e a rápida drenagem do percolado. Desta forma, não se faz necessário o uso de energia elétrica para sua operação; A operação extremamente simples requer mínima qualificação da mão de obra envolvida, além de pouca manutenção em comparação a qualquer outro sistema de dessecagem; As geoformas são confeccionadas sob medida, em tamanhos personalizados de acordo com as necessidades dos clientes, como tamanho de área disponível para disposição das geoformas, volumes de lodo a serem dessecados etc.; Todas estas características impactam diretamente na redução dos custos do tratamento e disposição de lodos, lamas ou sedimentos, sem comprometimento de seu desempenho.

SoilTain® DW instalada na ETE Uberabinha 59 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

gens significativas em comparação aos métodos tradicionais. “O lançamento dos efluentes líquidos resultantes do tratamento convencional de resíduos representa grande potencial de degradação do meio ambiente. A técnica de dessecagem de lodos por FTTs (Fôrmas Têxteis Tubulares) reduz drasticamente este risco. A geoforma SoilTain DW certamente está entre as soluções mais eficientes na redução do teor de sólidos. Outra vantagem da técnica é a economia de água que pode ser muito representativa, dependendo do processo utilizado. Em algumas estações de tratamento a redução pode ser de até 65% no processo de limpeza dos filtros”, ressalta Guanaes. As geoformas são instaladas sobre um berço drenante, geralmente impermeabilizado, para evitar a infiltração do percolado no solo. Elas possuem alças fixas em suas laterais, para facilitar seu manuseio e instalação, e podem ser fornecidas dobradas sobre pallets ou em bobinas. Em ambos os casos, basta esticar as geoformas sobre o berço drenante e fixar as alças com piquetes para evitar movimentações indesejáveis durante o preenchimento. Embora o sistema SoilTain DW apresente diversas vantagens, a sua principal limitação, como relata a engenheira ambiental da Huesker Brasil, Emília Andrade, é a indisponibilidade de espaço para acomodação das geoformas, o que pode ser resolvido, em muitos casos, com o empilhamento dos módulos, possibilitando economia de espaço. “O tempo total para dessecagem é determinado pela fase de consolidação do lodo na geoforma, que é variável e também pode ser um fator limitante para a aplicação do sistema. Por isso é necessária a realização de estudos de viabilidade para os projetos, em que estes fatores limitantes são significativos para o funcionamento global da obra, com o intuito de verificar a adequabilidade do sistema SoilTain DW às necessidades específicas de cada empreendimento”, descreve. Para ela, os sistemas de dessecagem


CASO DE OBRA DA ETE UBERABINHA EM UBERLÂNDIA (MG) Uma das primeiras utilizações das FTTs SoilTain foi realizada na ETE Uberabinha, em 2007. Esta ETE tratava aproximadamente 95% do esgoto produzido pelos 660 mil habitantes e, nas horas de pico, as centrífugas instaladas não tinham capacidade de dessecar todo o lodo tratado. Isto também acontecia quando uma das centrífugas ficava inoperante, devido à necessidade de manutenção preventiva ou corretiva. A solução foi utilizar duas FTTs SoilTain com 60 m de comprimento, 18,3 m de perímetro e 2,50 m de altura máxima, atuando em paralelo com as centrífugas existentes. As FTTs recebiam cerca de 40 m³/h de lodo tratado, com teor de sólidos de 6% em peso, e os dessecava elevando seu teor de sólidos para 22%, durante vários ciclos de carga e dessecagem. Conforme as FTTs preenchiam totalmente com torta a 22%, elas eram abertas em suas geratrizes superiores, seu conteúdo era extraído mecanicamente por retroescavadeiras e duas novas FTTs eram repostas. Todos os parâmetros de projeto exigidos pelo corpo técnico do laboratório da ETE Uberabinha foram atingidos, garantindo 400% de eficiência de drenagem e 99,6% de eficiência de filtração.

Desenho Esquemático Funcional

Teor de Sólidos – Lodo e Torta Gerada x Tempo

de lodos e lamas por meio de geoformas ainda pode ser considerada uma inovação no mercado brasileiro. A confecção de geoformas no Brasil começou desde os anos 1970, porém 60 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

esta aplicação em sistemas de dessecagem tem sido estudada e aplicada apenas há alguns anos. O grande alcance obtido por esta solução num período relativamente curto de tem-

po é indicativo de seu grande potencial de aplicação em diversas áreas, pois se caracteriza como um sistema altamente eficiente em termos de custos e desempenho técnico.


61 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


GEOTECNIA AMBIENTAL

TÉCNICA DE SOLO-CIMENTO É UTILIZADA EM PESQUISA PELOS ALUNOS DA IMED Ainda em andamento, o estudo prévio apresenta os passos iniciais na avaliação e análise da contribuição do cimento nas propriedades de um solo argiloso

A técnica de solo-cimento tem se tornado cada vez mais atrativa na construção civil, pois melhora as propriedades do solo local, constituindo-se como uma boa opção para o projeto. O material alternativo de baixo custo é obtido pela mistura de solo, água e um pouco de cimento. A massa compactada endurece em poucos dias, ganhando consistência e durabilidade suficientes para diversas aplicações, desde paredes e pisos até muros de arrimo. Na etapa inicial da obra, a solução pode ser empregada na construção de base para pavimentos, na proteção de taludes em barragens de terra e como camadas de suporte para fundações superficiais. Entretanto, ainda não existem metodologias de dosagem e critérios racionais como existem no caso do concreto, em que a água e o cimento desempenham papel fundamental na obtenção da resistência desejada. No artigo “Análise da contribuição da adição de cimento nas características de um solo argiloso” publicado nos anais do GEORS 2015 (VIII Seminário de Engenharia Geotécnica do Rio Grande do Sul) foram exemplificados os passos iniciais na avaliação e análise da contribuição do cimento nas propriedades de um solo argiloso. A ideia do estudo surgiu a partir da necessidade de melhorar as características dos solos, principalmente no que tange a utilização de materiais que constituem o reforço de subleito, base e sub-base de pavimentos. “É recorrente a utilização de materiais granulares misturados com materiais cimentantes, com o intuito de aumentar a resistência. Tendo em vista que a região do Planalto do Rio Grande do Sul não apresenta disponibilidade de solos arenosos, o custo de transporte para importá-lo torna-se considerável. O mesmo raciocínio pode ser utilizado em relação à utilização de materiais granulares rochosos. Por esta razão pensamos em estudar e avaliar o comportamento de um material abundante na região, no caso, os solos argilosos oriundos de rochas basálticas”, explica o professor da IMED (Faculdade Meridional), Álvaro Pereira. Inicialmente o projeto contou com o apoio de bolsas de Iniciação Científica da FAPERGS (Fundação de Amparo à 62 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Fotos: Arquivo Douglas Robaldo

Por Dellana Wolney

Local de amostragem da Jazida em Vanini (RS)

Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul). Depois, com a ativação do laboratório de Geotecnia da Faculdade IMED, os trabalhos foram desenvolvidos após os conhecimentos básicos adquiridos na matéria de Mecânica dos Solos. “A ideia inicial era avaliar a capacidade de resistência desse solo e agregar o cimento Portland como uma alternativa economicamente viável para a sua melhoria, podendo ser usado em diversas obras da engenharia com baixo custo e pouco impacto ambiental. Quando ocorre a hidratação do cimento dentro da porção do solo aparecem ramificações relativamente fortes que reforçam a sua estrutura. É uma técnica construtiva que, devido às suas características de baixo custo por metro quadrado, reduz e/ou elimina o custo


de transporte dos materiais empregados”, conta o autor da pesquisa e aluno da IMED, Douglas Luis Carissimo Robaldo.

DESENVOLVIMENTO O estudo que ainda está em andamento busca determinar e quantificar a influência da mistura de cimento e solo nas propriedades físicas do solo, para diferentes teores de cimento. O objetivo é avaliar a influência de diferentes dosagens desse material nos resultados de ensaios de compactação, resistência à compressão simples, CBR (Índice de Suporte Califórnia) e edométrico. Para isso já foram realizados os ensaios de compactação Proctor para energia normal e alguns ensaios de compressão simples (ruptura aos sete e 28 dias). De acordo com o professor da IMED, Luis Eduardo Formigheri a região do município de Vanini, situado ao norte do Estado do Rio Grande do Sul, pertencente à microrregião de Passo Fundo (RS) já possui algumas pesquisas envolvendo a caracterização de solos argilosos, porém eles optaram por utilizar o solo de um local ainda não estudado, além disso o local de amostragem para a pesquisa é uma jazida de importância significativa para a região. Segundo Formigheri, geotecnicamente falando, este solo em específico apresenta boa capacidade de suporte, permeabilidade intermediária e alto risco de erosão devido aos relevos acidentados a que estes solos estão associados. Quando compactados tendem a melhorar sua capacidade de suporte e reduzir a permeabilidade significativamente. Os primeiros ensaios foram feitos para determinar as propriedades físicas do material em questão e também foram realizados ensaios de compactação. Após as primeiras etapas, veio a parte experimental, em que foi realizada a dosagem de cimento na mistura, feita por meio de baterias de ensaios realizados em laboratório. Nesta pesquisa determinaram-se as seguintes dosagens (teor de cimento): 1%; 3%; 5%; e 7% de cimento em relação à massa de solo. Douglas Luis Carissimo Robaldo descreve que os valores dos teores de umidade a serem utilizados na moldagem foram definidos a partir dos ensaios de compactação realizados, ou seja, o teor de umidade ótimo obtido para cada uma das misturas. O cimento utilizado na mistura consiste em um CP II – Z – 32 (da marca SUPREMO), tem em sua composição a adição de material pozolânico. Este material apresenta um ótimo tempo de pega iniciando no período de ≥ 1 hora após a hidratação e o fim do tempo de pega em ≤10 horas, sua resistência inicial em três dias ≥ 10 Mpa (Megapascoal), e aos 28 dias ≥ 32 MPa.

RESULTADOS Os resultados obtidos a partir dos ensaios de compactação e de compressão simples até a etapa atual do desenvolvimento da pesquisa foram apresentados no artigo para o solo na condição natural e para diferentes teores de cimento. A metodologia de ensaios consistiu da permanência do material remoldado no laboratório com temperatura controlada (22ºC) até o equilíbrio com a umidade do ar, resultando em uma umidade de aproximadamente 5%. Optou-se pela execução dos ensaios de compactação com reuso. De forma resumida, o estudo constatou a evidente influência da mistura de cimento no comportamento do material de pes63 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Corpos de prova moldados aguardando tempo ideal para o rompimento

Rompimento dos corpos de prova

quisa, tanto quanto na densidade do material quanto na quantidade de água que define o teor de umidade ótimo e na sua resistência; também descreveu o procedimento da curva de compactação, comparando-se com o solo natural, assim como as curvas de compactação para os teores de cimento; e a resistência a simples inserção de cimento na mistura, que representou um acréscimo na resistência do material de pesquisa. Atualmente, estão em andamento os ensaios CBR, com as diferentes dosagens de cimento para verificar sua influência nos valores da expansão e resistência. Também estão sendo executados os ensaios endometricos (adensamento) no solo natural e com dosagem em cimento, com o intuito de verificar a influência da dosagem de cimento na variação do índice de vazios para diferentes níveis de carregamento. “Os resultados obtidos até o momento estão dentro do comportamento esperado encontrado na literatura técnica, em que são claras as melhoras nas características de resistência dos solos com a inserção de um material cimentante, porém a partir de uma determinada dosagem a contribuição na resistência deixa de ser significativa, resultando na necessidade de uma análise técnica e econômica para a determinação da ‘dosagem ótima’”, explica Álvaro Pereira. Para os autores da pesquisa, um dos principais desafios em todas as etapas já feitas foi o primeiro contato com a parte de laboratório. “Mesmo tendo o apoio das normas técnicas, bibliografias e de profissionais competentes na orientação dos trabalhos, os ensaios devem ser executados rigorosamente, pois qualquer erro inviabiliza o desempenho da caracterização da amostra. O processo consiste em ciclos repetitivos de ensaios, a fim de obter os resultados mais coerentes possíveis”, conclui Robaldo.


LIVRO PROJETO DE USINAS HIDRELÉTRICAS Autor: Geraldo Magela Pereira Editora: Oficina de Textos Ano: 2015 Considerada como uma das principais fontes de energia no Brasil, as UHEs (Usinas Hidrelétricas de Energia) careciam de um material que contasse cada detalhe sobre a história, legislação, evolução de projetos, entre outros. Havia informações publicadas isoladamente, divulgadas por comitês técnicos, institutos e universidades. Com a missão de explorar o mundo das usinas hidrelétricas e torná-lo mais acessível para os profissionais, o engenheiro Geraldo Magela Pereira desenvolveu o livro “Projeto de Usinas Hidrelétricas”. Disponível em ebook e em versão impressa, a publicação, com 520 páginas, mostra todos os aspectos de uma UHE, com detalhes de projetos até a interligação à rede de transmissão. O livro começa com dados históricos no Brasil, contando alguns eventos marcantes, além de apresentar também as principais usinas hidrelétricas do mundo. O autor discorre ao longo dos capítulos as diretrizes para as fases de inventário, os estudos hidrológicos e energéticos, geológicos e geotécnicos, barragens e vertedouros, assim como a resolução de demandas legislativas e burocráticas. Semelhante a um manual, o livro possui ainda diversos exemplos reais, com cases dos principais acidentes com barragens no Brasil e no mundo, apresentando e discutindo os riscos, as formas de prevenção e a gestão do patrimônio. Também há tópicos voltados para os tipos de usinas hidrelétricas existentes, seus aspectos construtivos, quais os equipamentos mecânicos principais, entre outros. Com uma vasta experiência no setor, Magela já participou de projetos de usinas como Balbina, na cidade de Presidente Figueiredo, no Amazonas; na usina de Tucuruí, no Pará, no projeto de Santa Isabel (divisa entre Tocantins e Pará) entre outras. O livro é destinado a profissionais da engenharia, seja civil, mecânica, elétrica ou ambiental, além de geólogos interessados na construção de usinas hidrelétricas.

Para comprar as obras indicadas nesta seção, envie um e-mail para assinatura@rudders.com.br

64 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


AGENDA BRASIL 16 A 18 DE AGOSTO

FENASAN 2016 – 27ª FEIRA NACIONAL DE SANEAMENTO E MEIO AMBIENTE / ENCONTRO TÉCNICO AESABESP – 27º CONGRESSO NACIONAL DE SANEAMENTO E MEIO AMBIENTE

São Paulo, São Paulo www.fenasan.com.br

Considerado como um dos maiores eventos do setor de saneamento na América Latina, a feira e o encontro técnico reúnem anualmente 17.000 participantes, com um público composto por empresários, pesquisadores de órgãos públicos e privados, acadêmicos, estudantes, técnicos e demais interessados no assunto. O evento propõe a difusão da tecnologia utilizada na área de saneamento ambiental, assim como a exposição de produtos empregados no tratamento e abastecimento de água, em drenagem de águas pluviais, esgotamento sanitário e demais setores relacionados.

22 DE AGOSTO

I SEMIPAR – SEMINÁRIO DE PATOLOGIA E RECUPERAÇÃO ESTRUTURAL

Recife, Pernambuco www.semipar.com/

Em sua primeira edição, o evento será realizado na Escola Politécnica da Universidade de Pernambuco e tem como propósito estimular novos conhecimentos entre os participantes, além de divulgar as técnicas e tecnologias relacionadas à área de patologia das edificações e à recuperação de estruturas. Aberto para profissionais e estudantes, o seminário terá palestras e minicursos, como o de “Ensaios para diagnósticos de problemas e manifestações patológicas em edificações e obras civis”, e “A manutenção predial como forma de prevenção e identificação das manifestações patológicas das construções”, entre outros.

24 A 26 DE AGOSTO

CONCRETE SHOW SOUTH AMERICA

São Paulo, São Paulo www.concreteshow.com.br

Reconhecido como o maior evento do setor na América Latina e o segundo maior do mundo no segmento da construção civil, o encontro apresentará equipamentos, serviços e tecnologias para toda a cadeia produtiva, desde máquinas para terraplanagem, canteiros de obras, projetos estruturais, entre outros. Além da feira, haverá também seminários, com painéis dedicados à gestão de resíduos na construção, conformidade do concreto, processos de manutenção e operação de edificações com base em normas de desempenho e demais temas relacionados com a área.

15 DE SETEMBRO

OFICINA TEMÁTICA INDUSTRIALIZAÇÃO E GESTÃO DA PRODUTIVIDADE NA CONSTRUÇÃO

São Paulo, São Paulo http://bit.ly/1U9h0jb

O evento debaterá conceitos, práticas e soluções que muitas empresas estão aderindo em seus projetos e tipologias, com o objetivo de aumentar a produtividade e elevar a industrialização da construção. A oficina é direcionada a diretores, gestores de incorporadoras, construtoras, arquitetos, projetistas, fornecedores de materiais, equipamentos e serviços, administradores de condomínio, professores, pesquisadores e demais interessados no tema.

21 A 23 DE SETEMBRO

XVI ENTAC – ENCONTRO NACIONAL DE TECNOLOGIA DO AMBIENTE CONSTRUÍDO

São Paulo, São Paulo entac2016.pcc.usp.br/

Realizado a cada dois anos o encontro é considerado o maior evento brasileiro na área de tecnologia do ambiente construído. Promovido pela ANTAC (Associação Nacional de Tecnologia do Ambiente Construído), com o objetivo de integrar a academia e o mercado, para envolver os agentes do setor da construção civil. O tema desta edição é “Os Desafios e as Perspectivas da Internacionalização da Construção”. O evento é direcionado a professores, pesquisadores, estudantes de graduação e pós-graduação, construtores, projetistas, arquitetos e demais profissionais relacionados.

EXTERIOR 01 A 03 DE AGOSTO

S3: SLOPES, SLIDES AND STABILIZATION

Denver, Estados Unidos http://bit.ly/1RQ5hb5

Ao longo de três dias, o evento apresentará os principais conceitos de design e histórias de casos que ilustram a aplicação efetiva das fundações profundas para a estabilização de encostas e suporte de escavação. Os palestrantes vão mostrar os projetos recentes e futuros, com explicações sobre equipamentos, materiais, técnicas, entre outros. Haverá um espaço com exposição de serviços de empreiteiros e engenheiros no Exhibit Hall.

10 A 12 DE AGOSTO

USE OF HELICAL PILES AND TIEBACKS IN SEISMIC & LATERAL LOAD CONDITIONS

Califórnia, Estados Unidos http://bit.ly/1UEzG7x

O seminário apresentará as melhores maneiras de

elaborar projetos adequados, de aplicações e instalações de estacas helicoidais e tiebacks (tipos de ligações), em condições de carga sísmica e laterais. Também serão exibidos tópicos de materiais, construção e procedimentos de teste, além de demonstrações de instalação e avaliações de estacas helicoidais em sistemas de fundações na Califórnia.

16 A 18 DE AGOSTO EXPO EDIFICARE PUEBLA 2016

Puebla, México

www.expoedificarepuebla.com/

A feira exibirá as tendências e novidades do setor da construção, como materiais, máquinas, tecnologia, artigos de serralheria e de ferramentas, além de utensílios para carpintaria ou eletricidade. O evento é destinado a fabricantes, arquitetos, mestres de obras, engenheiros, construtores e demais profissionais relacionados com o segmento da construção civil. A sustentabilidade também será pautada durante o congresso.

09 A 10 DE SETEMBRO

DFI-INDIA 2016: 6TH CONFERENCE ON DEEP FOUNDATIONS TECHNOLOGIES FOR INFRASTRUCTURE DEVELOPMENT IN INDIA

Kolkata, Índia

http://bit.ly/1q6PJ6R

O evento debaterá a evolução da tecnologia e mostrará casos em sistemas de bate-estacas perfuradas. Também haverá discussões sobre melhorias do solo, sistemas de escavação profunda e engenharia de solo macio em aplicações subterrâneas. Antes da conferência haverá um workshop com duração de um dia. O encontro é voltado para empreiteiros, representantes governamentais e demais profissionais envolvidos com projetos geotécnicos e construção.

12 A 15 DE OUTUBRO

DFI INTERNATIONAL CONFERENCE ON DEEP FOUNDATIONS, SEEPAGE CONTROL AND REMEDIATION Nova York, Estados Unidos http://bit.ly/1rXCer0

O evento, realizado anualmente, mostrará nessa edição pesquisas relacionadas com o controle de escoamento e remediação para projetos de barragens e diques no mundo todo. A conferência pretende atrair profissionais da indústria, engenheiros, empreiteiros, agências governamentais e acadêmicas, com o objetivo de reunir e compartilhar experiências, ideias em sessões técnicas informativas, que vão pautar as recentes inovações em tecnologia de fundações profundas.

26 A 29 DE OUTUBRO

CINPAR – XII CONGRESSO INTERNACIONAL SOBRE PATOLOGIA E REABILITAÇÃO DE ESTRUTURAS Porto, Portugal web.fe.up.pt/~cinpar/pt/

20 A 22 DE SETEMBRO CONSTRUMETAL 2016 – CONGRESSO LATINO-AMERICANO DA CONSTRUÇÃO METÁLICA

São Paulo, São Paulo www.abcem.org.br/construmetal/

Consagrado como o maior evento da construção metálica da América Latina, o Construmetal 2016 terá um amplo programa de conferências internacionais e palestras técnicas, reunindo conferencistas que irão apresentar e discutir os principais temas relacionados ao desenvolvimento do setor, junto a renomados profissionais, líderes, investidores e formadores de opinião do segmento.

65 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Em sua 12ª edição o evento abordará temas de patologia, reabilitação de estruturas e métodos construtivos. O congresso é destinado aos profissionais da construção civil, engenharia e arquitetura, que buscam atualizarse no setor. Durante os três dias do encontro, os participantes terão a possibilidade de aprender mais as técnicas de reabilitação e reforços de estruturas, assim como verificar quais são as manifestações patológicas recorrentes e analisar ensaios não destrutivos e destrutivos para avaliação de estruturas.



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