Revista Fundações & Obras Geotécnicas - Ed. 69

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Revista FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS www.rudders.com.br

Ano 6 Nº 69 R$ 27,00

Junho de 2016

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Ano 6 – Nº 69 – Junho de 2016

OBRIGATORIEDADE DA CONSTRUÇÃO DE ECLUSAS CONCOMITANTEMENTE COM BARRAGENS: IMPACTOS E BENEFÍCIOS PARA GARANTIR NAVEGABILIDADE E TRANSPOSIÇÃO DE NÍVEIS D’ÁGUA FUNDAÇÕES EM ÁREAS CONTAMINADAS: FATORES DE PROLIFERAÇÃO, CONSEQUÊNCIAS, TÉCNICAS DE AMOSTRAGEM DE SOLO E RECUPERAÇÃO


EDITORIAL Revista FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

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Ano 6 – No 69 –JUNHO 2016

REVISTA IMPRESSA PARA ASSINANTES E EMPRESAS ANUNCIANTES

Na edição de número 68 (maio de 2016) comunicamos oficialmente que a revista deixará de ser produzida a partir da edição de número 69 (junho de 2016) no formato impresso e passará a ser feita apenas no formato digital – plataforma a qual dedicaremos o nosso trabalho de divulgação do título –, esse mesmo comunicado foi amplamente repassado aos nossos leitores e anunciantes por meio de mensagens de e-mail e nos canais de redes sociais de nossa editora. Após esse anúncio recebemos inúmeras ligações e mensagens pedindo que o veículo continue a ser publicado em seu formato impresso. A Editora Rudder vem enfrentando desde 2015 uma grave crise financeira que tem ameaçado a continuidade de nossa publicação. O processo de impressão e distribuição de uma revista física é uma das etapas mais onerosas dentre os trabalhos de confecção do periódico. Para que o título não seja descontinuado e possamos permanecer produzindo seu conteúdo com a mesma dedicação e qualidade, a empresa que desde o ano passado já realizou diversos cortes em seu orçamento, decidiu optar pelo cancelamento temporário do formato impresso mantendo apenas a versão digital, porém devido ao grande número de pedidos, manteremos a impressão dos exemplares e distribuição para os assinantes e empresas anunciantes ainda durante um período, para que o nosso público possa conhecer ainda mais as nossas plataformas digitais e se familiarizar com o formato da publicação digital. Tanto para o formato impresso como para o formato digital, ressaltamos que o conteúdo, layout, periodicidade e abordagem da revista permanecerão os mesmos. A revista estará disponível no formato digital para leitura online na plataforma “Issuu” e a versão impressa será produzida ainda durante um período.

Apoio da comunidade técnica

A revista Fundações & Obras Geotécnicas é uma publicação técnica mensal, com informações sobre mecânica dos solos (fundações, geotecnia, entre outros) voltada para os profissionais de engenharia civil, estudantes e pesquisadores. O periódico é o único mensal na América Latina a ter o tema “Fundações e Geotecnia” como enfoque. Além disso é avaliado pela QUALIS, conjunto de procedimentos utilizados pela CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e encontra-se atualmente com classificação B4. Em Agosto deste ano completaremos seis anos de existência e persistência na atuação editorial nesse segmento. Desde que começamos a enfrentar essa crise nós desenvolvemos diversas ações para manter a revista, assim como também buscamos constantemente investimentos para a continuidade da publicação. Continuamos batalhando pela manutenção de nosso título e para isso contamos com todo o apoio da comunidade técnica nesse momento.

Plataforma digital https://issuu.com/editorarudder Contato para dúvidas Jenniffer Lemes Tels: (11) 2641-0871 E-mail: jenni@rudders.com.br

ERRATA Na edição de número 68 (maio de 2016) da revista Fundações & Obras Geotécnicas, na seção “Artigo” (página 40) na caixa de informações sobre os autores consta o seguinte crédito errado: DSc. Marcos Porto Coordenador da UNICID | Universidade de São Paulo – INBEC | marcosfpa@hotmail.com No entanto, o correto é: DSc. Marcos Fábio Porto de Aguiar IFCE (Instituto Federal do Ceará) e UNIFOR (Universidade de Fortaleza), Fortaleza (CE) | marcosporto@ifce.edu.br


SUMÁRIO

Ano 6 – Nº 69 – Junho de 2016

34 |

66 |

16 | 03 | Coluna do conselho

28 | Vigas e lajes pré-fabricadas

04 | Destaque – Congresso

ganham destaque em grandes obras nacionais

Brasileiro de Pontes e Estruturas destaca obras das Olimpíadas 2016

08 | Notas 10 | Perfil – Sandro Sandroni

31 | Concreto reforçado com fibras carece de normalização específica no Brasil

34 | SETOR EÓLICO conta

58 | Em Foco – Fundações em áreas contaminadas

62 | O que há de novo – Trimble apresenta novas versões dos seus principais softwares

66 | GEOTECNIA

AMBIETAL – Estudo compara

14 | História

com fabricação de produtos inteiramente nacionais

digestão anaeróbia e de incineração

16 | REPORTAGEM –

36 | Artigo – Análise de

69 | Geossintéticos – Aterros

Obrigatoriedade da construção de eclusas concomitantemente com barragens possui impactos e benefícios

22 | Opinião

interação solo-estrutura em edifício de paredes de concreto moldadas no local

48 | Artigo – Cuidados e mitigações ambientais na construção de hidrovias

de conquista com uso de microgrelhas tecidas

72 | Livro 73 | Agenda


www.rudders.com.br Rua Leopoldo Machado, 236 Vila Laís CEP: 03611-020 São Paulo - SP Telefone: (11) 2641-0871 CONSELHO EDITORIAL São Paulo • Paulo José Rocha de Albuquerque • Roberto Kochen • Álvaro Rodrigues dos Santos • George Teles Paulo César Lodi • José Orlando Avesani Neto • Eraldo L. Pastore • Sussumu Niyama Minas Gerais • Sérgio C. Paraíso • Ivan Libanio Vianna Pernambuco • Stela Fucale Sukar Bahia • Moacyr Schwab de Souza Meneze • Luis Edmundo Prado de Campos Rio de Janeiro • Bernadete Ragoni Danziger • Paulo Henrique Vieira Dias • Mauricio Ehrlich • Alberto Sayão Distrito Federal • Gregório Luís Silva Araújo • Renato Pinto da Cunha • Carlos Medeiros Silva • Ennio Marques Palmeira Rio Grande do Sul • Miguel Augusto Zydan Sória • Marcos Strauss Rio Grande do Norte • Osvaldo de Freitas Neto Espírito Santo • Uberescilas Fernandes Polido

Associações que apoiam a revista

www.rudders.com.br Fundador e idealizador Francisjones Marino Lemes (in memoriam) Coordenação editorial e marketing Jenniffer Lemes (jenni@rudders.com.br) Colaboradores Gléssia Veras (Edição); Dellana Wolney, Dafne Mazaia (Texto); Rosemary Costa (Revisão); Elisa Gomes (Arte); Melchiades Ramalho (Artes Especiais) Contatos Pautas: glessia@rudders.com.br Assinaturas: assinatura@rudders.com.br Publicidade: publicidade@rudders.com.br Financeiro: financeiro@rudders.com.br Foto de capa Manu Dias / AGECOM Impressão Grafica Companygraf Importante A Revista Fundações & Obras Geotécnicas é uma publicação técnica mensal, distribuída em todo o território nacional e direcionada a profissionais da engenharia civil. Os artigos assinados são de expressa responsabilidade de seus autores e não refletem, necessariamente, a opinião da revista. Todos os direitos reservados à Editora Rudder. Nenhuma parte de seu conteúdo pode ser reproduzida por qualquer meio sem a devida autorização, por escrito, dos editores.

A revista Fundações & Obras Geotécnicas segue o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Esta publicação é avaliada pela QUALIS, conjunto de procedimentos utilizados pela CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e encontra-se atualmente com classificação B4.

IMPORTANTE: as seções “Coluna do Conselho”, “Artigo”, “Geossintéticos” e “Opinião” são seções autorais, ou seja, tem o conteúdo (de texto e fotos) produzido pelos autores, que ao publicarem na revista assumem a responsabilidade sobre a veracidade do que for exposto e o devido crédito as fontes utilizadas.

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COLUNA DO CONSELHO

OLHAR PARA ALÉM DA CRISE ERALDO L. PASTORE

Com este tema, um grupo de jovens advogados brasileiros cursando pós-­ graduação na Faculdade de Direito da NYU (Universidade de Nova York) teve a iniciativa de promover, por meio da Brazilian Legal Society at NYU Law, por eles recém-criada, um seminário no dia 11 de abril de 2016. A preocupação destes valorosos jovens era a de tentar, por meio do debate, vislumbrar o que poderiam esperar do Brasil, sua pátria, em um futuro próximo, após a superação da grave crise pela qual então passava. Essa corajosa e patriótica iniciativa desses jovens inspirou o tema do presente editorial desta importante revista que é a Fundações & Obras Geotécnicas, no qual se apresentam reflexões análogas dirigidas ao meio geotécnico brasileiro. A prosperidade do conhecimento e da boa prática da geotecnia é inequivocamente dependente da atuação de engenheiros e geólogos dessa especialidade em grandes obras de infraestrutura. Em vista disto, e para que possamos fazer uma tentativa de vislumbrar o futuro de nossas atividades, após a superação da atual crise pela qual passa nosso país, devemos nos recordar ao menos dos grandes ciclos contemporâneos de grande pujança na construção de obras no Brasil, assim como dos períodos de crises que já experimentamos. No final do governo de Juscelino Kubistchek, em 1960, a economia brasileira e as obras públicas cresciam em ritmo acelerado com a variação do PIB (Produto Interno Bruto) na casa dos 7%, criando forte demanda de serviços de infraestrutura. No governo seguinte, de Jânio Quadros, o setor de infraestrutura sofreu um significativo corte de recursos e somente três anos mais tarde, em 1963, a construção pesada retomou

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parte das atividades voltando ao pleno vapor quando da eclosão do golpe de estado de 1964. No período do governo militar (1964 a 1985), o Brasil experimentou um acelerado desenvolvimento com a construção de obras de grande porte, entre as quais importantes usinas hidrelétricas, ferrovias e rodovias. Em 1968 foi fundada a Associação Paulista de Geologia Aplicada, futura Associação Brasileira de Geologia de Engenharia e Meio Ambiente, sendo que em 1974, sob os auspícios desta entidade, o Brasil sediou um dos maiores Congressos Internacionais de Geologia de Engenharia do mundo. Nesse período, a engenharia brasileira gozava de grande prestígio realizando projetos com excelente qualidade técnica. No entanto, este período de efervescência durou até 1979-1980 quando então o país entrou em forte recessão. Por vários anos seguidos a variação do PIB brasileiro apresentou índices negativos com o ritmo de construção de grandes obras bem mais reduzido.

Em 1998, a variação foi igual a zero e praticamente de 1994 a 2000 o número de obras em construção no Brasil era insignificante. A partir de 2004 se inicia um período de maior crescimento com a variação do PIB na ordem de 5% chegando em 2010 a 7,5%. Os anos 2011 a 2013 foram especialmente ricos com inúmeras Pequenas Centrais Hidrelétricas em construção por todo o país e com obras de grande vulto se iniciando. Esta nova fase, infelizmente, também é marcada pelo forte declínio da qualidade dos projetos. Chega-se aos dias de hoje. A pior crise desde os anos 1930 se instala no Brasil com três anos seguidos de PIB negativo. As estimativas e previsões de quando o País irá superar este período desastroso são muitas. As mais otimistas estimam cerca de seis anos, ou seja, 2022 o ano em que as contas públicas deverão estar equilibradas. O atual governo trabalha com o objetivo de investir em infraestrutura tendo, para tanto, criado o Fundo Garantidor de Infraestrutura, de modo a atrair capital privado. O capital estrangeiro procurando por oportunidades de investimentos é abundante, o que seria talvez uma forma de abreviar este período de paralisia. Para isto, no entanto, o Brasil precisa urgentemente reconquistar sua credibilidade.

Eraldo L. Pastore é geólogo pela USP (Universidade de São Paulo) e doutor em Geotecnia pela mesma universidade. Foi pesquisador sênior do Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo, pesquisador do Laboratoire Central des Ponts et Chaussès de Paris, professor-doutor da UnB (Universidade de Brasília), professor visitante da Universidade de Sherbrooke (Canadá) e diretor do Instituto de Engenharia. Possui vasta experiência como consultor de obras viárias, túneis, barragens e análise de risco e arbitragem no Brasil e no exterior.


DESTAQUE

CONGRESSO BRASILEIRO DE PONTES E ESTRUTURAS DESTACA OBRAS DAS OLIMPÍADAS 2016 Além das intervenções urbanas na cidade do Rio de Janeiro, o evento trouxe em seu conteúdo programático casos práticos e novas tecnologias da construção civil

Realizado nos dias 18 a 20 de maio no Hotel Everest, no Rio de Janeiro (RJ), o IX CBPE (Congresso Brasileiro de Pontes e Estruturas) repetiu o sucesso dos anos anteriores e contou com a organização da ABECE (Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural), da ABPE (Associação Brasileira de Pontes e Estruturas), do IBRACON (Instituto Brasileiro do Concreto), IABSE (International Association for Bridge and Structural Engineering) e da IABMAS (International Association for Bridge Maintenance And Safety). A edição deste ano que recebeu mais de 300 participantes de 22 das unidades federativas brasileiras e também dezenas de palestrantes nacionais e internacionais (Portugal, Espanha e Itália), ressaltou as diversas intervenções urbanas no Rio de Janeiro, que tem como finalidade capacitar a cidade para receber os Jogos Olímpicos 2016 que acontecerão nos dias 05 a 21 de agosto. De acordo com o engenheiro, professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e presidente da ABPE, Sérgio Hampshire de Carvalho Santos, o evento teve bons resultados e consolidou-se no segmento como um espaço para troca de conhecimentos e apresentação de novas soluções. “O CBPE já se tornou uma referência para 4 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Fotos: Divulgação CBPE

Por Dellana Wolney

IX CBPE (Congresso Brasileiro de Pontes e Estruturas)

os engenheiros civis do Brasil. Realizado anualmente, alternando-se entre o Rio de Janeiro e São Paulo, este evento trata dos mais diversos temas da engenharia civil”. Toda a temática proposta no congresso, de projeto, construção, recuperação, reforço e manutenção de pontes, estádios, edifícios, indústrias, metropolitanos, portos, barragens, plataformas offshore, aerogeradores e fundações, foram tópicos abordados nas apresentações, tanto nas conferências principais, como nos trabalhos técnicos apresentados. Ao todo 18 conferências foram apresentadas no salão principal, incluindo

duas mesas-redondas. Paralelamente, em duas outras salas, foram apresentados 84 trabalhos técnicos. Após o congresso, no dia 21 de maio, foi organizada uma visita técnica ao Museu do Amanhã, conduzida pelos projetistas da estrutura, Flávio D’Alambert e Fabrício Tardivo. Santos diz que o CBPE manteve a estrutura básica dos congressos anteriores realizados no Rio de Janeiro com apresentação simultânea de conferências principais, com duração de uma hora no salão principal e de trabalhos técnicos, em duas salas menores, com duração de vinte minutos. Para ele, este formato tem se


Mesa de abertura

mostrado como o ideal para este tipo de evento.

CONFERÊNCIAS A primeira palestra “Sistemas construtivos empregados na execução industrial de pontes pré-fabricadas em concreto protendido e/ou armado” foi ministrada pelos engenheiros da empresa Arcelor Mittal, Leonardo Medeiros da Fonseca e Stelio Souza. Sequencialmente, a engenheira e especialista em produtos no Departamento Técnico da empresa MC Bauchemie Brasil para Infraestrutura e Indústria, Marina Mendonça Vieira Silva falou sobre uma solução inovadora para juntas de dilatação em pontes e viadutos. Segundo ela, uma das principais vantagens do produto chamado Nafutekt é a liberação da pista para o tráfego em 40 minutos, após a aplicação, evitando a geração de congestionamento e transtorno para motoristas e pedestres. Recentemente existia apenas um tipo de junta dilatadora no Brasil, com o qual a maioria das pontes e viadutos era construída, trata-se de juntas com perfil termoelástico, em que a grande dificuldade está na baixa durabilidade e na complexidade na hora de realizar a manutenção. Além da durabilidade prevista de cinco anos, o Nafutekt garante maior impermeabilidade e flexibilidade ao concreto, evitando os conhecidos trancos. O principal benefício da solução é a sua composição por apenas uma peça, ou seja, não é preciso realizar uma instalação em diversas fases, aumentando a trabalhabilidade, facilitando a manutenção, tornando a obra mais resistente a intempéries, como tem5 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

peraturas altas e precipitações. Silva afirma que no Brasil, o Nafutekt já está presente em algumas estruturas, como nas pontes da Rodovia dos Bandeirantes e da Rodovia D. Pedro I, ambas no Estado de São Paulo.

CASO PRÁTICO Além de soluções, na conferência foram mostrados casos de obra, como o da Linha 4 do metrô do Rio de Janeiro que ligará a Barra da Tijuca a Ipanema, com 16 km de extensão, seis estações e que será servida por 15 novos trens, com capacidade para transportar 300 mil passageiros diariamente. São mais de 18 km de trilhos colocados, equivalente a mais da metade da extensão de toda a linha, considerando as vias permanentes, por onde os trens passarão, nos dois sentidos. Há também a ponte estaiada que estabelece a conexão entre os túneis escavados em rocha a partir do Morro do Focinho do Cavalo à estação Jardim Oceânico. A ponte possui dois pilares com 72 m de altura. A construção desses pilares utilizou pistões hidráulicos para a elevação do conjunto da estrutura de apoio, conforme as exigências do andamento da obra. Conjuntamente, as dificuldades técnicas foram semelhantes em cada estrutura, devido à geologia do traçado, ao longo do qual se alternam rochas e solos arenosos com a ocorrência de lençol freático nas proximidades da superfície. Conforme informações do metrô do Rio de Janeiro, tanto o trecho no Jardim Oceânico (Barra da Tijuca) quanto na Zona Sul (Ipanema e Leblon), predominam grandes camadas de areia com granulometria de fina à grossa,

compacta a muito compacta, intercalando, por vezes, com camadas de silteargiloso, com elevado nível d’água. Nos trechos rochosos, em túneis, e nas estações São Conrado e Gávea, encontram-se rochas gnaisse, muito duras e abrasivas. Para superar esses desafios, foram utilizadas várias soluções técnicas apresentadas pelo engenheiro da empresa Promon Engenharia, Sebastião Silveira. A Promon Engenharia prestou serviços de consultoria em estudos preliminares e no ano de 2012 foi contratada pelo Consórcio Linha 4 Sul para desenvolver o projeto executivo de três estações: Nossa Senhora da Paz, Antero de Quental e Jardim de Alah. Uma das técnicas utilizadas foi a laje adicional. No projeto básico, as três estações eram maiores e previa que salas técnicas, subestações e outras estruturas de apoio seriam instaladas em uma área subterrânea adjacente, implicando maior dimensão, mais volume de escavações e mais impactos no entorno e superfície. Desta forma, a introdução de uma laje adicional, que se somaria às outras quatro já previstas no projeto básico, permitiu ganhos tanto na compactação do layout como em termos de mudanças na metodologia executiva, pois aceleraram a construção. Além disso, a laje proporcionou mais apoio às paredes diafragma, diminuindo os esforços a que elas estariam submetidas. A solução foi adotada nas três estações. “A estação Jardim de Alah, prevista originalmente para 200 m de comprimento, ficou com 150 m”, exemplifica Silveira que acrescentou-se o uso de jet grouting também como so-


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2 Idealizadores e palestrantes do IX CBPE

1 O presidente da ABECE, Augusto Guimarães Pedreira de Freitas • 2 O engenheiro, professor da UFRJ e presidente da ABPE, Sérgio Hampshire de Carvalho Santos lução, devido ao lençol freático quase à superfície. Essa escolha possibilitou que a escavação avançasse dispensando o rebaixamento do lençol freático. “Rebaixar o lençol freático bombeando água do subsolo era uma opção, mas decidimos proceder assim apenas em situações pontuais, para evitar recalques das edificações do entorno”. Na estação Jardim de Alah, no trecho inicial da Avenida Ataulfo de Paiva, foram tomados alguns cuidados técnicos especiais, tanto pela sua concepção, quanto pela constatação de que havia um morro rochoso subterrâneo junto à parede norte. Desta forma era necessário escavar, escorar as escavações mais rasas e garantir apoio para os demais volumes a serem escavados, bem como desmontar a rocha para a escavação plena da estação. Para este desafio foram adotadas as hidrofresas, que apesar de usuais, não haviam sido 6 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

usadas ainda no metrô do Rio de Janeiro, e revelara-se como decisivas para o êxito na escavação, no escoramento e no desmonte do morro rochoso a 22 m de profundidade. Por fim, pouco conhecida na América Latina, a técnica Soft Eye, que substituí as armaduras de aço por fibra de vidro, foi empregada para permitir a passagem do TBM (Tunnel Boring Machine) nas estações Jardim de Alah e Antero de Quental. Seu uso foi necessário na entrada e saída das estações para perfurar as paredes de contorno construídas anteriormente, pois o TBM consegue perfurar solo, concreto e materiais mais rochosos, mas não o aço, presente nas armaduras metálicas das paredes de contorno. Devido às suas características e por se tratar de um material mais caro, a utilização da técnica Soft Eye foi limitada à área das paredes por onde passaria o TBM. De acordo com Silveira, devido ao emprego dessa técnica, houve um prazo menor nas atividades do TBM na região das estações, redução de gastos com jet grouting (compensando os custos adicionais da fibra de vidro), e maior garantia e segurança para as edificações vizinhas.

TECNOLOGIA REMOTA “Colaboração e gerenciamento de projetos de pontes e viadutos” foi a palestra ministrada pelos representantes da empresa Trimble, Fátima Gonçalves, Carlos Costa e Rafael Ri-

goni. Na ocasião, eles levaram soluções do Tekla Structures, que são softwares direcionados para concreto armado, com a finalidade de tornar mais eficiente a gestão de projetos, desde os elementos pré-moldados até a potencialização de todo o processo de construção. Durante o congresso, a empresa levou a nova versão do software Tekla Structures, um programa tipo BIM (Building Information Modeling) mais avançado, que torna possível a modelagem precisa e executável para o mercado de concreto armado com ainda mais eficiência, aumentando a produtividade e evitando erros dispendiosos durante as fases de fabricação e construção. Gonçalves afirma que com o Tekla Structures é possível garantir que todos os elementos pré-moldados de concreto sejam fornecidos e posicionados corretamente, integrando o projeto e detalhamento à fabricação e ao gerenciamento de montagem, ou seja, desde a fase de venda e licitação, incluindo o cálculo de estimativas de custos e projeto conceitual até o detalhamento, fabricação integrada, montagem, gerenciamento e acompanhamento in loco do projeto. “O Tekla Structures 2016 também tornou a colaboração mais fácil e mais confiável por meio de funcionalidades avançadas, como o gerenciamento de alterações no arquivo IFC (Industry Foundation Classes), ou seja, os usuários do Tekla Structures conseguem ver


as alterações de profissionais de outras disciplinas do projeto nos modelos de referência IFC. Este dispositivo, chamado de Tekla Model Sharing, torna mais fácil a colaboração em projetos de modelagem. Com ele, equipes localizadas em regiões diferentes podem trabalhar em um mesmo projeto, simultaneamente. Além disso, é possível sincronizar apenas as alterações em que se está trabalhando, não o modelo inteiro, e como as modificações são salvas localmente e sincronizadas quando se está online, o trabalho permanece sempre seguro e atualizado. O Tekla Model Sharing é a única tecnologia de compartilhamento que permite a execução sem depender de uma conexão com a internet.

DIVERSIDADE DE TEMAS Outras apresentações também se destacaram ao longo dos três dias de conferência: “Impacto da protensão orgânica na construção de grandes tabuleiros de múltiplos vãos” apresentada pelo vice-presidente de vendas e marketing da empresa BERD, Diogo Graça Moura; “Nova norma ABNT para projeto de viadutos e pontes rodoviárias de aço e mistas aço-concreto”, ministrada pelos representantes da CBCA (Centro Brasileiro da Construção em Aço), Fernando Ottoboni Pinho e Zacarias Chamberlain; e “A importância do projetista na definição das metodologias executivas das obras marítimas”, com a apresentação do engenheiro da empresa Carioca Engenharia, Sérgio Dantas Hecksher. As mesas-redondas também fizeram uma contribuição expressiva para o sucesso do IX CBPE. Os temas debatidos foram: “Parque Olímpico do Rio” e “O processo de desenvolvimento de projetos no Brasil e na Europa”, mediada pelo diretor-geral da empresa ENGETI Consultoria e Engenharia, Julio Timerman e pelos engenheiros, Fernando Branco e Fernando Rebouças Stucchi. Pelo sucesso consecutivo do evento, o engenheiro, professor da UFRJ e presidente da ABPE, Sérgio Hampshire de Carvalho Santos adianta que a comunidade técnica da engenharia civil está convidada para participar da próxima edição do congresso (X CBPE) que será realizado em 2017 em São Paulo (SP). “O sucesso do IX 7 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Esta edição do CBPE recebeu mais de 300 participantes de 22 das unidades federativas brasileiras e também dezenas de palestrantes nacionais e internacionais

CBPE, com número recorde de participantes com relação às edições anteriores, mostrou que as épocas de dificuldades são ideais para uma reflexão sobre os

novos rumos da engenharia e para um investimento pessoal dos engenheiros, no aumento de seus conhecimentos e capacitação”, conclui.


NOTAS

Workshop apresenta fundamentos e benefícios do solo grampeado

Em 12 de abril, diversos professores, engenheiros e especialistas do setor de engenharia civil e geotecnia reuniram-se em Salvador, na Bahia, para compartilhar as práticas e técnicas do solo grampeado. O workshop “Solo Grampeado” foi realizado em parceria com professores da PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), da COPPE-UFRJ (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro), da UFBA (Universidade Federal da Bahia), da Unijorge (Centro Universitário Jorge Amado), e com as empresas Envgeo Engenharia, SEEL Serviços Especiais de Engenharia e Maccaferri do Brasil. Com a presença de 110 pessoas, entre profissionais e estudantes, o workshop teve como missão transmitir procedimentos e fundamentos do solo grampeado, como solução técnica de engenharia empregada em estabilização de cortes e as novas possibilidades de materiais, que proporcionam novas alternativas de revestimento de face da estrutura. Para o engenheiro e coordenador de marketing da Maccaferri, Paulo César Belesso Ferretti, o evento ajuda a esclarecer os principais pontos do tema. “Este evento é muito importante para engenheiros, técnicos, estudantes e todos aqueles que projetam ou definem uma solução de engenharia para estabilização de encostas de corte. Ele ajuda a tornar claro os conceitos de aplicação da solução, bem como as alternativas e preceitos técnicos existentes para um projeto e obra eficazes, seguros e econômicos”, garante. Dentre os tópicos explorados pelos especialistas ao longo do workshop, destacaram-se as técnicas de solo grampeado, os ensaios de arranchamento, obras, patologias e soluções propostas pela Maccaferri para projetos em solo grampeado. Conforme Ferretti, o evento exibiu outras maneiras de utilizar a técnica de maneiras mais sustentáveis e que não atrapalham o desenvolvimento do ecossistema local. “Hoje a técnica tradicional utiliza um jateamento de concreto na face da encosta ou talude após sua estabilização com os grampos e chumbadores. O workshop aproveitou para propagar a técnica aliada a um geossintético reforçado para revestimento da face da estrutura como uma geomanta com malha de dupla torção que permite a reintegração vegetal do trecho, diminuindo os impactos ambientais e permitindo o desenvolvimento das espécies de plantas locais”, menciona o engenheiro. A técnica está angariando cada vez mais adeptos pelo Brasil, atraídos pela redução de custos financeiros e ambientais, como sugere a engenheira e coordenadora de desenvolvimento de mercado do sistema MacRo (Maccaferri Rockfall Protection), An8 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Banco de imagens / MorgueFile

Evento ocorreu em Salvador, na Bahia, e reuniu mais de 100 profissionais interessados em aprender mais sobre a técnica

drea Balbuzano Pelizoni. “Os principais indicadores são o aumento significativo do número de obras, principalmente para recuperação de trechos de deslizamentos ocasionados pelos últimos desastres naturais”, explica. Além do baixo custo e da redução nos impactos negativos ao meio ambiente, a técnica também é mais rápida em relação a outras, assim como não possui tantas restrições, de acordo com Pelizoni. “As técnicas utilizadas na execução do solo grampeado permitem uma produção excepcional, sendo, em geral, o tempo de execução muito menor se comparado às soluções convencionais. O solo grampeado pode ser utilizado em diversos tipos de solos e de situações geométricas, porém algumas limitações devem ser respeitadas”, acrescenta. A engenheira também cita a facilidade ao utilizar os equipamentos necessários para a metodologia e a adaptabilidade do procedimento. “O solo grampeado pode ser executado utilizando-se equipamentos leves e de fácil manuseio. Em geral são utilizadas sondas rotativas de pequeno porte para a execução dos furos e a injeção da calda de cimento se processa, normalmente por gravidade. O processo executivo do solo grampeado permite uma grande flexibilidade de adaptação do projeto às condições geométricas do talude, inclinação da face, distribuição e dimensionamento dos grampos nos diversos estágios da construção”, diz. Segundo Paulo Ferretti, o Brasil enfrentou diversas tragédias naturais, envolvendo rupturas de taludes e os engenheiros estão notando que a técnica pode ajudar a reduzir estes problemas. “Devido aos fortes desastres naturais que assolam nosso país, as rupturas de taludes, comumente chamados de queda de barreiras em rodovias e ferrovias, se agravaram muito nos últimos anos. Dessa forma, uma técnica interessante devido a sua facilidade e


Por Dafne Mazaia

segurança para trechos de escarpas que ainda podem estar sujeitos à instabilidade é a alternativa em solo grampeado”, pontua. Foram convidados a palestrar no workshop o engenheiro da empresa SEEL Serviços Especiais de Engenharia, Paulo Henrique Dias; a professora da COPPE-UFRJ, Anna Laura Nunes; o professor da UFBA, Luis Edmundo Campos; o engenheiro da

empresa Engveo Engenharia, Hélio Baptista; os engenheiros da empresa Maccaferri do Brasil, Andrea Balbuzano e Ronaldo Oliveira, assim como alguns representantes da ABMS (Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica). Os organizadores do encontro acreditam que em breve haverá outra edição, devido a alta procura registrada.

MC-Bauchemie e CBT promovem evento sobre tecnologias de túneis

No dia 06 de abril, em São Paulo (SP), ocorreu a palestra “Tecnologia e Soluções em químicos para construção, recuperação e impermeabilização de Túneis”, promovida pela empresa MC-Bauchemie em parceria com o CBT (Comitê Brasileiro de Túneis). O evento, destinado aos profissionais do segmento da construção civil e da manutenção de túneis, apresentou novidades tecnológicas e de soluções para a área, tanto em nível nacional como internacional. Com a participação de mais de 90 pessoas, a palestra tinha como proposta colocar em discussão a utilização de soluções especiais para construção, recuperação e impermeabilização de túneis, como os aditivos de concreto projetado e sistemas de injeção para selamento de trincas e fissuras. Para o engenheiro civil, professor dos cursos de pós-graduação do IDD (Instituto De Luca Daher), do UPC/IPETEC (Universidade Católica de Petrópolis / Instituto de Pesquisa, Educação e Tecnologia), da Unisinos (Universidade do Vale do Rio dos Sinos) e gerente-técnico da empresa MC-Bauchemie, Emilio Minoru Takagi, que foi palestrante no encontro, o evento proporciona a atualização e ampliação do conhecimento. “A palestra é importante para o profissional conhecer os novos métodos e tecnologias disponíveis para construção, recuperação e impermeabilização de túneis, além de ampliar o conhecimento, conhecendo cases de sucesso e novos produtos”, assegura. Dentre os temas da programação do evento foi abordado o concreto projetado, projetos com esse material, sua norma, boas práticas, redosagem com aditivos; e o TBM (Tunnel Boring Machine), principais projetos, particularidades desse equipamento, quais os aditivos indicados, entre outros tópicos apresentados pelo engenheiro civil e gerente de produto na MC-Bauchemie, Holger Schmidt. Já Emilio Minoru Takagi, ministrou uma palestra sobre tecnologias de injeção de resinas elastoméricas à base de poliuretano e acrilato para impermeabilização de túneis e consolidação de solos e rochas. 9 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Divulgação MC-Bauchemie

A palestra ocorreu em São Paulo e fomentou debates sobre o uso de soluções para construção, recuperação e impermeabilização

Os participantes conheceram produtos para o condicionamento do solo, que possibilitam um aumento nas taxas de escavação, como o MC-Foamliquid, MC-Clayadditiv e MC-Soilpolymer. O case detalhado na palestra foi o do rio Emscher, na Alemanha, que envolveu aproximadamente 400 km de escavação e colocação de tubos. A história do rio Emscher é antiga. Ao longo de cem anos, serviu de canal de água de resíduos da região do Ruhr, e devido às atividades de mineração no local, não foi possível construir um sistema subterrâneo no local. Enquanto o rio Ruhr propiciava o abastecimento da região, o rio Emscher servia como uma “veia”. Apenas no início da década de 1990, após o término da extração de carvão na zona, foi erigido um canal de águas residuais, para renaturalizar o rio. O empreendimento, que custou mais de 4 bilhões de euros, deve ser concluído em 2020. De acordo com Takagi, o encontro atingiu sua missão e superou o esperado. “O público, além de participar com perguntas e argumentos, possuía um enorme nível técnico, difundindo ainda mais o conhecimento de todos. Com certeza as expectativas foram atingidas”, salienta. Os organizadores da palestra acreditam que possa haver uma próxima edição devido à grande procura no pós-evento.


PERFIL – SANDRO SANDRONI

O ENGENHEIRO QUE APRECIA A INVESTIGAÇÃO DE PROBLEMAS GEOTÉCNICOS Premiado duas vezes pela ABMS, Sandro Sandroni tem quase 50 anos de carreira e dedicação à resolução de casos complexos

Fotos: Arquivo pessoal

Por Dafne Mazaia

O engenheiro civil Sandro Salvador Sandroni

1964 e 1968. Entre 1969 e 1973 trabalhou na Sondotécnica e na Geotécnica, empresas de consultoria e projetos geotécnicos. Nos anos de 1971 e 1973 tornou-se professor auxiliar na PUC-Rio, época em que ajudou a iniciar a hoje pujante pós-graduação em geotecnia. Nesse período conseguiu realizar o mestrado, também em engenharia civil na mesma instituição. No ano de 1973, foi para a Inglaterra, onde fez outro mestrado em mecânica dos solos, no Imperial College da Universidade de Londres e, em seguida, fez o doutorado, na mesma universidade, trabalhando no laboratório de solos com argila de Londres. Em 1977, Sandroni voltou à sua cidade natal e retomou sua carreira como professor na PUC-Rio e como consultor, que prossegue até os dias de hoje. Ele revela que não vê empecilhos ao conciliar as duas atividades. “Ser professor e, portanto, um eterno estudante, ajuda na prática de consultoria. Aula tem preferência sobre compromisso profissional. Nas aulas conto o máximo da minha experiência. Nos casos práticos, falo a (minha) verdade mesmo que não agrade inteiramente a quem me contratou”, enaltece.

Foi nas imediações de um dos bairros do Rio de Janeiro, o Leblon, que o jovem Sandro Salvador Sandroni, no Colégio Santo Agostinho, escolheu prestar vestibular para a área de engenharia, na PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro). Nascido no Rio de Janeiro, em uma época onde o mundo estava se libertando dos horrores da Segunda Guerra Mundial, o futuro professor não teve dúvidas que seu caminho trilhava para os desafios da engenharia. Após sair do terceiro científico (ensino médio), Sandroni ingressou na PUC-Rio, na graduação de engenharia civil, entre

O engenheiro civil permaneceu na PUC-Rio até 1980, para depois mudar-se para o Canadá, onde foi professor visitante na Universidade de Alberta, onde lecionou mecânica dos solos. Ao voltar para o Brasil em 1981, afastou-se da PUC-Rio e começou a realizar consultorias no segmento como autônomo. Em 1985 entrou na empresa Engevix, em um grupo de consultoria interna, onde permaneceu até 1988. Foi na metade da década de 1980 que Sandroni, junto com seus colegas Willy Lacerda e Mauro Werneck, fundou a empresa Geoprojetos, que já possui mais de 30 anos de exis-

CAMINHOS PROFISSIONAIS

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Sandroni ao lado do professor Antônio José da Costa Nunes, em Recife (PE), em 1977

Durante o VI Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos, no Rio de janeiro, em 1978. Na mesa estão Mauro Werneck (ao microfone), Hamilton Oliveira, Milton Vargas e Fernando Barata

tência, com mais de 1.000 projetos realizados. Sandro Sandroni atuou como diretor e consultor no grupo até o final de 2013. Paralelamente às suas atividades na Geoprojetos, entre 1985 e 2008, o engenheiro deu aulas de barragens na pós-graduação da COPPE-UFRJ (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro). Em 2012, retornou para a PUC, como professor pesquisador. Sandroni revela que adora explicar para os alunos qualquer tema da área de geotecnia, mas os assuntos relacionados aos solos moles são, atualmente, os de sua preferência. Para ele, a rotina da universidade lhe proporciona satisfação. “Meu maior prazer no ambiente acadêmico é estudar, preparar e ministrar aulas e palestras”, declara o engenheiro civil. No ano de 2014, o professor da PUC-Rio decidiu fundar uma empresa, a uniprofissional SEA-Sandroni Engenheiros Associados, em que atua até o momento. Com quase 50 anos de carreira, ele já trabalhou em diversos segmentos da geotecnia. “Trabalhei essencialmente de consultoria em geotecnia para cerca de 600 obras no Brasil e em outros dez países, envolvendo aterros sobre argila mole, estabilização de encostas, barragens de terra e enrocamento, túneis, fundações rasas e profundas, escavações, portos, quebra-mares, estradas de rodagem, ferrovias, empreendimentos imobiliários, aeroportos, minas a céu aberto, indústrias siderúrgicas, indústrias químicas, petroquímicas e nucleares, pátios de estocagem de minério, áreas de de11 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Palestra na Cidade do México, durante o aniversário de 25 Anos da Sociedade Mexicana de Mecânica dos Solos, em 1982

pósitos de rejeitos de mineração e indústrias, depósitos de resíduos sólidos urbanos etc.”, menciona. Ao longo dos anos foi chamado para ser palestrante, relator, coordenador de debates, presidente de mesa de eventos da área, moderador de congressos e simpósios no Brasil e no exterior, entre outros. Além disso, ele já teve a oportunidade de presidir o núcleo do Rio de Janeiro da


Ato de fundação da Geoprojetos Engenharia, em 4 de novembro de 1985, com os engenheiros Sandro, Willy Lacerda e Mauro Werneck

Na plataforma de instrumentação do molhe do Rio Grande (RS), em outubro de 2009

Sandroni ao lado dos engenheiros Willy Lacerda, professor Victor de Mello e professor Michele Jamiolkovski, na empresa Geoprojetos, em 1990

Com Luciano Moraes, Francisco Lopes e Willy Lacerda, na pedreira do quebra-mar do Porto do Açu (RJ), em outubro de 2010

Sandro Sandroni em visita a campo experimental com Edgar Odebrecht e Fernando Schnaid, em Santa Catarina, no ano de 2014 12 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

ABMS (Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica), gestão que trouxe lições para ele. “Fui presidente do núcleo Rio e foi uma honra. Me candidatei por sugestão de colegas. Na ocasião, descobri que não tenho talento nenhum para política e administração. Hoje estou sempre à disposição da ABMS, mas na condição de ‘sócio atleta’ ou seja, para palestras, cursos, avaliação de trabalhos etc.”, admite.


Devido ao seu trabalho na área, já recebeu dois prêmios da ABMS: o José Machado, em 1998, concedido ao melhor projeto geotécnico, podendo ser uma obra ou estrutura geotécnica e o Prêmio Terzaghi, em 1994, que homenageia o profissional que mais contribuiu com pesquisas e artigos científicos para o ramo de engenharia civil.

REALIZAÇÃO PROFISSIONAL E REFERÊNCIAS Prestes a completar 50 anos de carreira, o engenheiro civil e professor declara que os casos mais emblemáticos sempre foram seus prediletos, aqueles que exigiam uma investigação mais apurada. “Na área profissional, o que me dá prazer é enfrentar casos de mau funcionamento cuja causa não se apresenta clara, ao menos de início”, revela. Investigar a raiz do problema o motiva e ainda é um canal de aprendizagem, segundo Sandroni. “As obras que mais me deram satisfação, sendo também as que eu mais aprendi, foram aquelas para as quais eu fui chamado depois que tinha ocorrido um problema grave, como uma ruptura ou excessos de deslocamentos. Dentre as minhas obras preferidas estão a barragem do Açu – localizada no Rio Grande Norte – (ruptura para montante por deslizamento no solo argiloso compactado durante a construção, 1981), o quebra-mar de Sergipe (ruptura pela fundação de argila mole durante a construção, 1990) e recentemente, o Porto de

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Santana, no Amapá (ruptura com liquefação em solo metaestável)”, cita o engenheiro. Como pesquisador, estudar os solos proporciona realização. “No âmbito das pesquisas, eu tive grande satisfação em participar de linhas de pesquisa sobre solos residuais e sobre solos moles na PUC-Rio e na COPPE-UFRJ”, garante. Está entre seus planos futuros a publicação de dois livros técnicos, mas ainda sem previsão de lançamento. “Estou há anos preparando um livro básico de barragens de terra e enrocamento e outro sobre solos moles. No ritmo em que andam, devem ficar prontos nos próximos 20 anos”. Entre suas referências no campo, Sandro Sandroni destaca alguns professores que o ajudaram em seu crescimento profissional, assim como teóricos e amigos. “Eu fui uma pessoa de sorte. Muitas vezes estive no lugar certo na hora certa. Convivi e fui positivamente influenciado por muitos grandes engenheiros. Tive a oportunidade de conviver e aprender com muitos dos grandes do passado (Skempton, Vaughan, Ladd, dentre outros). Destaco os professores Costa Nunes e Victor de Mello, que me deram lições e apoio profissional. E dentre os amigos em atividade sobressai o Willy Lacerda, amigo há décadas e professor de tudo o que vale a pena”, menciona. Pai de duas filhas e com um enteado, Sandroni ama a profissão e diz que “se fosse para começar outra vez, com ainda mais experiência, faria sem hesitar”.


HISTÓRIA

Obra: Imagem das obras realizadas em uma das barragens da Usina Hidrelétrica Parnaíba, possivelmente no reservatório número 2 Local: Santana de Parnaíba / São Paulo Data: Em meados de 1911 Guilherme Gaensly / Fundação Energia e Saneamento 14 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


Obra: Obras feitas em uma barragem da Usina Hidrelétrica Parnaíba, para reforma de pontos de saída de água do reservatório número 1. À esquerda há uma ensecadeira sendo construída Local: Santana de Parnaíba / São Paulo Data: Em meados de 1911 Guilherme Gaensly / Fundação Energia e Saneamento 15 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


REPORTAGEM

OBRIGATORIEDADE DA CONSTRUÇÃO DE ECLUSAS CONCOMITANTEMENTE COM BARRAGENS POSSUI IMPACTOS E BENEFÍCIOS A Lei no13.081 garante maior navegabilidade e transposição de níveis d’água eficiente Por Dellana Wolney

As eclusas são obras de engenharia hidráulica que permitem às embarcações vencer o desnível entre dois cursos d’água. Geralmente elas possibilitam a navegação entre a parte de baixo (jusante) e o reservatório da barragem (montante). Interligam também canais e lagos de níveis diferentes, bem como são utilizadas para que embarcações possam sobrepujar cachoeiras ou corredeiras (eclusas + canais). O funcionamento é similar a um elevador de navios, entretanto existem elevadores de navio, na Europa, com movimento vertical ou plano inclinado. Trata-se de uma grande câmara (reservatório) de concreto, provida de comportas de aço nas extremidades. O nível mais alto da eclusa é o do reservatório superior. A comporta só abre quando o nível da câmara da eclusa fica igual ao do reservatório. O nível inferior é o curso d’água somado à profundidade para a embarcação flutuar na câmara da eclusa. De acordo com o engenheiro e consultor de Portos e Hidrovias, Guilherme Mariante, a embarcação entra pelo nível inferior, a comporta é fechada e a câmara é cheia com água até atingir o nível superior. A comporta de montante é aberta e a embarcação continua a navegar pela barragem. Para uma embarcação descer, o processo é o inverso. O barco entra na eclusa cheia e é fechada a comporta. Por válvulas e dutos, a eclusa é esvaziada até atingir o nível inferior. A comporta só se abre quando os dois níveis são os mesmos. “O enchimento e esvaziamento das eclusas praticamente não gasta energia. Não são utilizadas bombas hidráulicas para enchê-las ou esvaziá-las. É aproveitado o princípio dos vasos comunicantes. A energia elétrica é dispendida apenas no acionamento das comportas e nas manobras de válvulas 16 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

de enchimento e esvaziamento. O consumo por tonelada transportada é irrisório”, explica Mariante.

ESTUDOS PRÉVIOS Todas as obras de engenharia impactam de alguma forma o meio ambiente, algumas mais, outras menos. As eclusas e o transporte hidroviário em geral são obras de baixo impacto ambiental, visto que o transporte hidroviário de cargas emite de 30% a 60% menos poluentes por tonelada transportada do que o transporte rodoviário. As eclusas normalmente estão inseridas em um complexo maior, como barragens e hidrelétricas, e o impacto ambiental costuma ser avaliado em conjunto. Mesmo com o baixo impacto a construção deste tipo de estrutura está classificada como pesada. Os esforços e empuxos no fundo e as paredes da câmara da eclusa são muito grandes e exigem profundos estudos e ensaios geo­técnicos. A prospecção de jazidas para areia e brita com a finada da construção também é outro aspecto que necessita de uma pesquisa. As grandes eclusas para navegação comercial são geralmente em “concreto massa”. Qualquer volume de concreto moldado in situ é considerado concreto massa. Esse tipo possui dimensões de magnitude suficientes para exigir que sejam tomadas medidas para controlar a geração de calor e a variação de volume decorrente, com a finalidade de diminuir a sua fissuração. A característica clássica da sua utilização consiste em qualquer estrutura que possua a menor dimensão, a partir de 50 cm, e requer uma análise das tensões provocadas pela reação exotérmica da hidratação do cimento. Já no campo hidrológico, vários estudos são realizados para projetar e construir uma eclusa, usuais em obras hidráulicas de


Manu Dias / AGECOM Manu Dias / AGECOM

Eclusa de Sobradinho na Bahia 17 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


Manu Dias / AGECOM

Eclusa de Sobradinho na Bahia

mesmo porte. Em especial, neste caso é o consumo de água por operação de eclusagem. Os estudos devem avaliar a disponibilidade de água a montante, para permitir a quantidade de enchimentos e esvaziamentos relativos ao fluxo de embarcações previsto em projeto. “No Canal do Panamá foram feitas muitas e grandes obras para captar água necessária à operação das grandes eclusas para o tráfego intenso de navios. No Brasil isso não é problema nas eclusas existentes nos rios Tietê (SP), Paraná (SP e MS), Taquari (RS), Jacuí (RS), Canal São Gonçalo (RS), Tocantins (PA) e São Francisco (BA e PE), embora este último esteja com sérios problemas, a hidrovia do São Francisco não deslanchou, nem mesmo quando o rio tinha água suficiente”, informa Mariante. Nas médias e grandes eclusas, as paredes da câmara são geralmente muros de arrimo por gravidade ou muros de flexão. São cargas grandes e quando possível, os muros são construídos sobre terreno rochoso. Quando não, é necessário utilizar estacas, que podem ser de todos os tipos de materiais e processos existentes: aço e concreto, pré-moldadas e in situ. O fundo da câmara da eclusa pode ter fundação em radier, ou qualquer tipo de estaqueamento, conforme o solo e subsolo. Nos muros-guia, para acesso e manobra por jusante e montante são utilizadas estacas-prancha de metal ou concreto, entre outras. “As eclusas, ainda rudimentares, já foram utilizadas por egípcios e chineses, na idade antiga. Na Europa, a primeira eclusa com câmara, mesmo sistema das atuais, foi a de Viarena em Milão, na Itália, construída no ano de 1439, projetada por Leo­ 18 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

nardo da Vinci, que inventou a comporta de Busco. Um dos meios de transporte de carga mais antigo é o hidroviário, e as eclusas foram estendendo os estirões navegáveis, com grandes embarcações, vencendo cachoeiras, corredeiras, talvegues e barragens”, esclarece o engenheiro Guilherme Mariante. Ele acrescenta que na Europa e nos Estados Unidos as hidrovias movimentam grandes quantidades de carga, principalmente granéis sólidos e líquidos, e ultimamente containers. Para essa modalidade há indiscutíveis benefícios em relação ao transporte rodoviário tais como: melhor qualidade do ar por menor emissão de poluentes/tonelada transportada, menor custo, desmatamento próximo de zero para implantação de hidrovias, segurança nas estradas, menor consumo de pneus etc.

PANORAMA BRASILEIRO Mesmo com os inúmeros benefícios e com o imenso potencial para utilização da navegação fluvial, com 63 mil km de rios, lagos e lagoas, distribuídos em todo o território nacional, do qual mais de 42 mil km desse total são navegáveis, a navegação comercial no Brasil, ocorre em apenas 22 mil km, com significativa concentração (em torno de 80%) na Amazônia, mais especificamente no complexo Solimões-Amazonas. Diante da necessidade de incentivar o desenvolvimento de empreendimentos voltados para ampliação e melhoria da navegabilidade dos rios brasileiros, muitos programas e iniciativas foram adotadas nos últimos anos no Brasil. Em 2007, o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) compreendia


Internet Archive Book Images / Flickr

Eclusa do Canal de Welland. Imagem da página 130 do livro “Diversion of Water from the Great Lakes and Niagara River” do ano de 1921

a realização de dragagens, derrocagens, sinalizações, estudos hidroviários e a construção de terminais hidroviários de carga e passageiros. Em 2010, foram publicadas as Diretrizes da Política Nacional de Transporte Hidroviário, pela SPNT (Secretaria de Política Nacional de Transporte), do Ministério dos Transportes. No ano de 2011 foi publicada a Lei nº 12.379, que dispôs sobre o SNV (Sistema Nacional de Viação). Já em 2013, a ANTAQ (Agência Nacional de Transportes Aquaviários) elaborou o PNIH (Plano Nacional de Integração Hidroviária) com o objetivo de desenvolver estudos sobre hidrovias e áreas propícias para instalações de terminais hidroviários que se conectem aos demais modais de transporte nacionais. Nesse mesmo pacote de ações, em janeiro de 2015, a Lei nº 13.081 que passou a reger o aproveitamento de hidrelétricas com sistemas de transposição de embarcações foi sancionada, com o objetivo de evitar os erros do passado e garantir o uso múltiplo dos recursos naturais. O Artigo 1º desta lei estabelece que a construção de barragens para geração de energia elétrica em vias navegáveis ou potencialmente navegáveis deverá ser concomitante com a construção total ou parcial de eclusas e outros dispositivos de transposição previstos pelo governo detentor do domínio do corpo d’água.

DETALHES O parágrafo 1º desse artigo define que o texto não se aplica aos potenciais hidráulicos, cujo aproveitamento hidrelétrico seja igual ou inferior a 50 MW, e às barragens existentes, em 19 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

construção ou já licitadas na ocasião da publicação da lei. Para o engenheiro e professor da PUC-­Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), Alberto Sayão há claras incoerências na lei, que visava as grandes hidrelétricas, embora a maioria das barragens brasileiras não produza energia elétrica. “Uma hidrelétrica de 50 MW pode ser situada em trecho navegável de rio. Barragens para abastecimento de água, irrigação, regularização, recreação etc., podem ser também situadas em trechos navegáveis. Por outro lado, aspectos positivos devem ser destacados como os custos de implantação e de licenciamento ambiental que é de responsabilidade do Ministério dos Transportes; e o planejamento, licenciamento e implantação que serão promovidos de modo a não prejudicar o cronograma, os custos e o processo para construção da usina hidrelétrica”, ressalta. Sayão também destaca a separação e independência dos aproveitamentos de recursos hídricos, quanto a custos, tarifas, estudos, projetos, licenciamento, construção, operação, manutenção e administração que não podem ser subsidiados pelo preço da energia elétrica. “Apesar do cuidado na redação da lei, restam preocupações com as interferências que surgirão com obras de eclusas e estruturas para transposição de embarcações em empreendimentos hidrelétricos”, comenta o engenheiro civil, presidente honorário do CBDB (Comitê Brasileiro de Barragens), Flávio Miguez de Mello. Como exemplos de ações conflitantes, ele cita o caso da hidrovia Tocantins-Araguaia, com diferentes empreendedores. Para vencer os 75 m de desnível de Tucuruí, o projeto previa duas eclusas


André Ribeiro / Flickr Jan Truter / Flickr

Eclusa do Canal do Panamá

em sequência, espaçadas de 5,5 km. A obra foi iniciada em 1981 e inaugurada em 2010, quase 30 anos depois. Na Hidrelétrica de Boa Esperança, a construção da eclusa, iniciada há 50 anos, ainda não foi concluída. A eclusa na Barragem de Sobradinho opera apenas duas vezes por semana. “Assim, obras hidráulicas de grande porte, com vinculações de ações e suprimentos, e com diferentes fontes de recursos, empreendedores e operadores, exibem elevado risco de insucesso”, opina.

VIABILIDADE Para o professor Alberto Sayão os cursos de água não navegáveis podem tornar-se trafegáveis com obras hidráulicas. A criação de lagos artificiais formados por barragens pode garantir o aumento da lâmina d’água e o transporte aquaviário permanente de grande volume de cargas. Entretanto, a transposição de embarcações nos locais de barragens requer a instalação de eclusas e pode causar problemas e interferências estruturais, com outros componentes da barragem, e hidráulicas, com as águas afluentes e efluentes destas. “A correta incorporação dessas estruturas cria desafios in20 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

teressantes para os projetistas. A implantação simultânea de grandes usinas hidrelétricas com obras de transposição de embarcações, garantida pela Lei nº 13.081 é importante para o desenvolvimento de empreendimentos hidráulicos com usos múltiplos”, enfatiza Sayão. Segundo o engenheiro e consultor de Portos e Hidrovias, Guilherme Mariante, a obrigatoriedade de construir eclusas nos aproveitamentos hidrelétricos já deveria ter sido determinada em lei há muitas décadas. Se assim fosse, por exemplo, Itaipu disporia de um conjunto de eclusas. São Paulo (SP) ficaria ligada a Buenos Aires, na Argentina, Montevideo, no Uruguai e Assunção, no Paraguai, atravessando boa parte das regiões mais ricas de todos os países e o cinturão de grãos. Ele diz que a Argentina e o Paraguai fizeram sua parte. Existe navegação de grandes comboios de barcaças, de Puerto Iguazu a Buenos Aires na Argentina. “Entendo também que não se deve sobrecarregar o setor elétrico, obrigando a construção de eclusas em hidrovias inviáveis a longo prazo. PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétricas) devem ser liberadas da construção de eclusas, assim como rios que permitam hidrovias com baixa capacidade de carga e rios que não permitam implantação de hidrovias sem outras obras de grande porte. O importante é o gerenciamento dos recursos hídricos por órgãos ou entidades multidisciplinares e independentes. O aproveitamento múltiplo dos recursos hídricos é norma constitucional, além de lógica e necessária”, De forma geral, a disposição amplia as possibilidades de solução para o custeio do serviço de operação das eclusas, tendo em vista que o serviço não deve ser custeado pelo consumidor nos preços da energia elétrica, mas sim, poderá ser cobrado diretamente pelo Poder Público ou por empresas concessionárias, inclusive com a possibilidade de Parcerias Público-Privadas. A Lei no 13.081 beneficia a criação de mecanismos voltados ao desenvolvimento da malha hidroviária no Brasil, pois ressalta a importância do planejamento prévio obrigatório dos empreendimentos hidrelétricos, fortalecendo o papel do desenvolvimento da engenharia.


21 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


OPINIÃO

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QUANTO VALE UMA IDEIA?

Certa vez um amigo me fez uma pergunta, a qual, em primeira instância, me pareceu simples de ser respondida ou até mesmo de relevância limitada naquele momento: quanto vale uma ideia? Num primeiro instante, nos sentimos tendenciosos a emitir alguma resposta, talvez mais respaldada pelo ímpeto em falar alguma coisa que aparentemente fundamente de maneira simplista a questão, do que pela própria razão em nos aprofundarmos mais nela, até pela própria natureza do assunto. Uma ideia muitas vezes resolve ou direciona corretamente uma questão, por vezes pode eventualmente atrapalhar, se não for boa, criativa. Então, na verdade, a pergunta correta seria: quanto vale uma boa ideia? 22 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

As ideias são realidades acessíveis apenas através da inteligência, aquilo de que a mente se ocupa quando pensa. É por meio delas que o ser humano exprime um pensamento objetivo e são elementos essenciais da compreensão. São os únicos componentes do mundo real, constituído por modelos perfeitos e onde o mundo empírico é inferior. As ideias seriam simplesmente aquilo que está na mente de qualquer ser pensante, já uma boa ideia, requer uma “pitada” de criatividade, estando assim associada intimamente à inventividade, à experiência, à inteligência e ao talento, natos ou adquiridos, para criar, inventar e inovar em qualquer campo da atividade humana. Ainda enveredando sobre o referido assunto, lembro-me de uma série de outras frases que ouvi ao longo dos anos, das quais transcrevo algumas:


“Para se adquirir um equipamento basta ter o dinheiro, mas para formar uma equipe capaz de fazê-lo trabalhar eficientemente, há necessidade de tempo para treinamento” Dirceu de Alencar Velloso – Boletim nº 68 da ABMS – maio/julho de 1998

“A solução de engenharia que não tem por fundamento a experiência, chama-se temeridade e, as façanhas dos temerários devem ser atribuídas mais à sorte do que ao conhecimento” Milton Golombek – (SEFE VI – Seminário de Engenharia de Fundações Especiais) – 2008

“Que não se valorize os bons profissionais é lamentável, mas que se os condene por quererem ser competentes, criativos e inovadores, por introduzir por aqui técnicas já amplamente utilizadas e comprovadas no exterior, já é demais” Luciano Decourt – (SEFE II – Seminário de Engenharia de Fundações Especiais) – 1991

“Tradicionalmente pensa-se que o estabelecimento de um fator de segurança elevado afasta a obra da condição de ruína, mas seria a engenharia uma ciência exata, determinística, a ponto de se poder evitar a condição de ruina por meio de um simples fator de segurança, ou como ocorre na medicina, seria uma profissão sabidamente sujeita à aleatoriedade de fatores independentes e fora do seu controle? O profissional experiente de engenharia civil sabe que o fator de segurança maior que um nada significa, e não garante que a obra não venha a ruir” Nelson Aoki – (SEFE VI – Seminário de Engenharia de Fundações Especiais) – 2008

“Da mesma forma que comprar uma máquina fotográfica de última geração não transforma ninguém em fotógrafo, a compra de softwares de engenharia também não transforma o comprador em projetista ou consultor. Não existe nenhum equipamento que defina as propriedades dos solos para as condições exatas e abrangentes que existem durante a execução das fundações e nem seu comportamento futuro” Milton Golombek – (SEFE VI – Seminário de Engenharia de Fundações Especiais) – 2008 Em tempos de crise, parece haver cada vez maior tendência e até necessidade de buscar otimização de métodos e processos e redução de custos de todo lado e de qualquer maneira. Nada de errado há nisso, mas há de se observar que esse procedimento acaba por levar, muitas vezes, de forma inconsciente, a inconsequência ou até mesmo a irresponsabilidade, o que, em tese, além de enormes embaraços nas tratativas pessoais e empresariais, revertidas quase sempre em prejuízos recíprocos, proporciona uma verdadeira “fagocitose” nos coeficientes de segurança das mais variadas fases de uma determinada obra e que, obrigatoriamente, deveriam ser observados e respeitados pelos diversos profissionais que delas participam. Certa vez escrevi um artigo intitulado: “Para que mudar? Eu sempre fiz assim e deu certo!” e, naquela oportunidade, de certa maneira, já alertava alguns fatos nesse sentido e antevia outros que, segundo meu ponto de vista, estariam ainda por vir, mas algo deve ser feito, pois particular e especificamente no que tange à engenharia de fundações, as coisas não vão bem, e isso é preocupante. O fato de se efetuar uma determinada fundação sem sondagens, sem controles ou ensaios e sabidamente sem atendimento aos mínimos padrões estipulados nas normas técnicas vigentes no Brasil e “essa obra hipotética não apresentar problemas aparentes”, mesmo que surpreendente e, muitas vezes, irresponsavelmente, com as devidas ARTs (Anotações de Responsabilidade Técnica) perante os CREAs (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia) devidamente assinadas e recolhidas, não dá credenciais a quem assim fez a adotá-la como parâmetro de referência algum para que outros empreendimentos sejam efetuados de igual maneira. Basta que haja margem de segurança de 1:1 e, em tese não deveriam haver problemas, mas isso não significa que tudo esteja correto e respaldado técnica e juridicamente. Cabem aqui, pelo menos mais três frases: 23 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

“...quando ocorre o desabamento de um prédio, fica-se especulando se o problema foi na fundação ou na parte desenterrada da estrutura e se a culpa foi da carga de projeto, da execução ou do material de construção. Não se questiona por que os engenheiros civis especialistas em estruturas, geotecnia e fundações e os geólogos especialistas em geologia de engenharia não trabalharam em equipe na obra” Nelson Aoki – Reflexões Sobre a Prática de Fundações no Brasil – USP (Universidade de São Paulo) São Carlos – 2000 Atualmente, em grande parte dos empreendimentos, pelo menos aqueles de maior envergadura, surge com maior evidência a figura da seguradora, a qual, na eventualidade de ser acionada em decorrência de alguma patologia ou sinistro, tem se mostrado cada vez mais cautelosa, detalhista e perspicaz quanto à análise de toda a documentação da obra, particularmente no que tange ao cumprimento em todas as etapas (também e principalmente nas fundações), se foram cumpridos todos os requisitos normativos, independentemente de haver uma determinada ART assinada e recolhida perante o CREA. Passam então a ser minuciosamente avaliadas condições como: quantidade e qualidade das sondagens; tipos e quantidade de controles e ensaios efetuados; adequação do tipo de fundação adotada em relação a eventuais impedimentos normativos etc. Sob tal aspecto parece bastante salutar que situação evolua e fique caracterizada em muito mais empreendimentos, pois assim ocorrendo, de certa maneira, será feita uma “fiscalização”, o que, em tese, seria excelente, pois seriam coibidas as não conformidades em relação ao referencial normativo. Paralelamente a isso, entra em cena cada vez mais acentuadamente a figura do sistema. O dito sistema de gestão é uma ferramenta de trabalho e gerenciamento importante, não há dúvida alguma, mas parece estar cada vez mais voltado e adaptado a gerenciar custos e, eventualmente, documentos, pouco ou quase nada se preocupando com a qualidade. Grande parte dos serviços de fundações das obras são comercialmente contratados por departamentos de suprimentos ou compras que, muitas vezes, sabe onde fica a obra apenas pelo endereço físico e têm por meta e cri-


tério preponderante de contratação um determinado alvo financeiro previamente arbitrado estrategicamente pela própria empresa, com o objetivo de reduzir custos. Parece até redundância, mas não é, pois é assim que funciona em grande parte das contratações. Uma vez contratada essa etapa da obra passa a vigorar como gestor o sistema, como se a partir de então tudo se comporte rigorosa e religiosamente em conformidade com o que nele tenha sido previamente lançado, mas lamentavelmente as coisas não acontecem dessa maneira, principalmente na geotecnia, onde quase sempre, a heterogeneidade é regra e a homogeneidade exceção e, partindo dessa condição, quando passam a ocorrer desvios durante a execução da obra, em relação aos referenciais alimentados previamente no sistema (meramente estimativos), parece haver um verdadeiro trauma na obra, uma meta de custo fora preliminarmente estabelecida e o sistema torna-se inflexível quanto a essa questão. Surge o recurso do “aditivo contratual” que, via de regra, só é ajustado, acionado e concretizado, depois de muito desgaste e, quase sempre, algum prejuízo recíproco, porém sempre mais relevante ao executor, cujo poder de pagamento estará sempre na mão do contratante e cabe sempre ao executor a expectativa do recebimento de algo que não se encontra antecipadamente pactuado. Acionar um “aditivo contratual” quando necessário, se faz necessidade e justiça a quem executa e parece sinalizar “incompetência” de quem solicita, pois há uma meta previamente fixada, que em geral não se encontra gerenciada pela obra, e sim pelo tal sistema. Nessas circunstâncias, o melhor a ser feito é resolver eventuais não conformidades em relação ao previamente pactuado, para só depois então executar o adicional não previsto. Frases do tipo “vai fazendo que depois a gente acerta”, na maioria das vezes acaba em confusão, pois o sistema não apresenta essa opção em seu banco de dados e, lamentavelmente, é ele quem gerencia o andamento da obra, embora muitos não admitam isso. Na melhor das hipóteses, essa situação ainda se ajusta caso as pessoas que iniciaram e participaram de todo o processo de contratação ainda permanecerem nas empresas, caso contrário, sempre algum imbróglio ocorre. “...o grande desenvolvimento da informática, com uso cada vez maior dos computadores, parece que tirou de nossos engenheiros a capacidade de raciocínio” Sigmundo Golombek – “Divagações de um Engenheiro Veterano” (SEFE II – Seminário de Engenharia de Fundações Especiais) – 1991 Conforme já citado, a informática e os tais sistemas de gestão são indiscutivelmente importantes e se fazem imprescindíveis hoje em dia, mas é preciso ter sempre em mente que não devem jamais serem colocados numa situação de destaque tal que se permitam ficar “hierarquicamente aptos e condicionados” a substituírem ou se sobreporem às relações interpessoais e à real capacidade e experiência das pessoas. Por mais que um determinado software de cálculo ou de gestão seja minuciosamente concebido e estruturado para uma determinada finalidade, ele é apenas uma 24 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

ferramenta de trabalho e não o cérebro criativo ou sensato que deva decidir qualquer questão. Programas são alimentados (in puts) por seres humanos e as respostas (out puts), que habitualmente esperamos que deles saiam, devem ser sempre checadas e avaliadas. Entra em cena então a “Presença de Espírito Profissional”. Ocorre que, para se tê-la há a necessidade de saber quando e onde intervir quando algo foge do bom senso e da razão. Como assim? Não são raras as situações em que softwares de cálculo apresentam como “resposta” (out puts) condições totalmente sem lógica, tais como comprimentos de estacas incompatíveis com a possibilidade técnica e operacional de serem alcançados, esforços atuantes em determinadas estruturas (principalmente momentos fletores e forças horizontais) que fogem à lógica física e ao bom senso ou à ausência de tais esforços onde sabidamente existem, enfim, coisas desse tipo e que sequer são avaliadas com o seguinte argumento: “Foi o que deu no tal programa”. Além disso, ainda se observam concepções de projetos visando a tal “redução de custos de toda maneira”, onde se verificam, por exemplo, estacas tipo Strauss projetadas em argilas marinhas moles saturadas ou em areias submersas, estacas tipo hélice continua monitorada projetadas em argilas marinhas moles, sem quaisquer menção ou alerta ao cliente sobre os elevados sobre consumos de concreto (overbreacks), além de uma série de outras situações absurdas e conflitantes com o bom senso e com quaisquer critérios normativos. É preciso ter sempre bom senso e a presença de espírito profissional, principalmente quando o assunto é engenharia de fundações. Quem assim não age, com certeza é “franco atirador” e adepto da filosofia do “Para que mudar? Eu sempre fiz assim e deu certo!”. Há de se ter em mente, no entanto, que em épocas de crise, tudo se “espreme” e, por consequência, as margens de segurança acabam também sendo “espremidas” e sequer percebidas e, partindo dessa premissa, os problemas futuros tendem a aumentar. Sempre ter feito algo que deu certo em determinada época é uma coisa que pode até ser considerada arrojo, porém em época de crise é outra totalmente diferente, uma vez que as variáveis que favorecem o eventual surgimento de problemas aumentam consideravelmente, podendo caracterizar-se como inconsequência ou até mesmo, em determinadas situações, irresponsabilidade. Voltando aos tais custos ou à redução deles, creio que a melhor maneira de os ajustar dentro de uma determinada realidade e sem problemas, está sempre associada a boas ideias, e essas não estão por aí vagando corriqueira, aleatória e desordenadamente de tal maneira a se pensar que sejam banais e não devam ser valorizadas. Boas ideias, conforme já comentado, requerem sempre “pitadas” de criatividade, estando sempre associadas à inventividade, à experiência, à inteligência e ao talento, natos ou adquiridos, para criar, inventar e inovar em qualquer campo da atividade humana. Particularmente no campo da engenharia de fundações, preponderará sempre a experiência quanto a essa questão. No entanto, como vender uma boa ideia, vender algo invisível, se na maioria das vezes quem tem a função de


comprar não entende o que está comprando e não “enxerga” com profundidade o que se está propondo? Para quem compra, a etapa de fundações não é considerada parte da obra e sim um “desperdício de dinheiro” que ficará enterrado. “Quando estarão concluídas as fundações para que se possa começar a obra?” Pergunta relativamente corriqueira e que representa fielmente a linha de raciocínio de quem compra esse tipo de serviço, principalmente em épocas de crise. Comprar algo supostamente invisível, pagar por isso e, muitas vezes, não conseguir entender e visualizar o que se está comprando e pagando, parece algo incompreensível e até bizarro, mas é assim que as coisas funcionam em muitos casos. Tentar persuadir quem compra a pagar algo mais por isso, tendo por referência uma mera análise comparativa de preços tomados no mercado. Sob tal linha de raciocínio, comprar azulejos, pisos, louças sanitárias e coisas desse tipo, parece tarefa mais simples e prazerosa por parte de quem o faz, principalmente quando se tem que pagar elevados valores por algo que os olhos veem e o cérebro codifica e rapidamente assimila de forma diferente. Elevados valores pagos em materiais de acabamento, em geral dão status de aumento do padrão da obra e, não raras as vezes, são considerados como investimento e não custo, pois se considera que auxiliam a alavancar as vendas dos imóveis, enquanto que, no caso das fundações isso não é entendido e mensurado dessa maneira, pois nessa fase da obra, pouquíssimos compradores a visitam, pois há lama, barulho, vibrações, água, tráfego de máquinas e caminhões, enfim, todo tipo de aborrecimentos que os clientes em geral evitam. Conforme já comentei em outra oportunidade, ter experiência não é necessariamente sinônimo de ser idoso ou veterano, embora com o passar do tempo, de forma contínua, com a prática da observação ou do exercício em determinado assunto sempre se adquire experiência. De fato, muitas vezes nos questionamos em determinados momentos, quando nos deparamos com situações embaraçosas, nas quais somos colocados à prova para opinarmos sobre determinado assunto e, quando emitimos nossa opinião, a qual se embasa quase sempre pela “nossa experiência”, percebemos que também poderíamos ter observado a questão abordada sob outro ponto de vista, até melhor, uma vez que o assunto assim o permitia e não conseguimos naquele momento perceber isso. Assim sendo, passamos a perguntar ao nosso subconsciente: Experiência? Quem a tem, se a todo o momento tudo se renova? Passamos a outra parte da história, ou seja, precisamos ser criativos e ter boas ideias, continuar onde a maioria simplesmente para por acreditar que já está tudo bom. O “bom” sempre será inimigo do “ótimo” e do “excelente”. Aí está o ponto, o cerne, a questão fundamental, ou seja, a velocidade com a qual ocorrem mudanças em praticamente tudo que nos cerca, quer seja sob o aspecto pessoal ou sob o aspecto profissional. Partindo dessa premissa, parece que os mais idosos ou veteranos têm mais experiência adquirida pelo longo tempo através do qual, de maneira habitual e continuada, fizeram repetitivamente coisas que nunca apresentaram problemas sob o conceito de qualidade de 25 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

determinada época. Embora lhes sobrando a capacidade de raciocínio lógico e rápido, mostram-se carentes e reticentes de se ajustarem às novas tecnologias, novas práticas e que, muitas vezes, lhes obrigam à aceitação de um processo de reciclagem profissional, visando a adaptação ou aquisição dos conhecimentos, capacidades e atitudes, dentro da mesma profissão, devido à atualização dos progressos científicos e tecnológicos. Quanto aos mais jovens, apresentam-se quase sempre muito ávidos de adquirir experiência, porém muito mais adaptados e atualizados em relação a todos os progressos tecnológicos e científicos, possibilitando assim que se tornem mais aprimorados em menor tempo. Neste caso, a capacidade de raciocínio rápido e lógico parece estar sendo gradativamente substituída pela dependência cada vez mais acentuada e evidente dos equipamentos eletrônicos, os quais passam a consumir-lhes grande parte do tempo que deveria ser utilizado para o aprendizado prático ou trabalho e, por consequência, aquisição de experiência e, pior que isso, substituem-lhes a capacidade de raciocínio. Preocupam-se quase sempre em buscar saber fórmulas, acreditando que a prática da engenharia se resume apenas ao saber de um grande número de fórmulas e não à fundamentação para a qual foram concebidas e ao raciocínio que deve anteceder sua eventual utilização. Em toda essa questão, onde está a presença de espírito e a predisposição, características tão necessárias para se saber quando e onde intervir quando algo foge do bom senso? Estará sempre no íntimo e na responsabilidade de cada um. Na predisposição de agir e de fazer certo e não da intenção de fazer o óbvio, o trivial, o mais fácil e inconsequente, seja pelo motivo que for. Não se pode aceitar naturalmente ou admitir que máquinas passem a substituir a capacidade humana de intervenção e decisão, até mesmo por mera comodidade. Boas ideias são características humanas e nunca devem ser menosprezadas, devendo sempre ser muito valorizadas. A contratação de determinados serviços de engenharia, particularmente aqueles intimamente ligados pela sua própria natureza à criatividade e à experiência, não devem ser embasados pelo critério de menor preço. Tais serviços devem ser contratados por critérios que visem sempre a garantia plena da segurança em conformidade com as normas técnicas vigentes e ao menor custo global e não particularizado em determinado item especifico, tal como honorários de determinado projetista que foi mais criativo que outros e que, realmente resolveu determinado problema, pois foi mais além de onde os outros pararam, foi mais audacioso, porém consequente. Para tanto a valorização das boas ideias e do histórico dos profissionais e das empresas que as conceberam deve sempre preponderar na decisão. “A maioria das obras de fundações no Brasil, por questões que não cabem aqui serem discutidas, tem sido feitas de forma exageradamente conservadora. Essa postura tem sido praticada pela maioria dos engenheiros de fundações e não tem sido objeto de contestação” Luciano Decourt – (SEFE III – Seminário de Engenharia de Fundações Especiais) – 1996


“A confiabilidade nos resultados de sondagens de simples reconhecimento com SPT (Standard Penetration Test) depende, principalmente, da competência, vontade e honestidade de todos os envolvidos no processo, a começar por sua programação, passando pela execução, até a apresentação final dos resultados dessas sondagens e sua respectiva remuneração. É oportuno lembrar que, enquanto houver aqueles que contratam esse serviço e pagam por ele sem fiscalizá-lo, a qualidade deste não melhorará. Falta honestidade, preparo e responsabilidade nessa atividade tão simples e útil” Moacyr Schwab de Souza Menezes – Edição 37 da Revista Fundações e Obras Geotécnicas – Outubro/2013 26 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

“ ...somos contratados por colegas engenheiros civis e, em vez de sermos valorizados, pelos nossos pares, ocorre o contrário. Tendem a menosprezar o serviço que prestamos, desvalorizando assim nossos honorários. Todavia, esses mesmos “clientes”, quando se veem envolvidos com algum imbróglio com a justiça, não hesitam em contratar excelentes escritórios de advocacia, sem se preocupar com os custos. Façam uma pesquisa de quanto se gasta com “stands” de venda, com seus incríveis apartamentos modelo e com “folders” de papel importado e comparem com os custos dos projetos que fazemos, certamente se sentirão constrangidos” Ilan Davidson Gotlieb – Edição 40 da Revista Fundações e Obras Geotécnicas – Janeiro/2014. Algumas frases aqui registradas, direta ou indiretamente, mostram no decorrer dos anos que sempre houve alguma inquietude dos mais variados e renomados profissionais deste segmento sobre o assunto aqui abordado. Profissionais de experiência e criatividade comprovadas. Assim sendo, não creio sinceramente que estas poucas e mal traçadas linhas aqui escritas, servirão para mudar algo no momento, porém creio que servirão de referência e reflexão para que, quando surgirem problemas, já se tenha um norte para que sua causa seja identificada, e saibam por onde começar a procurar. Pergunto então: onde está a presença de espírito e a predisposição, características tão necessárias para se saber quando e onde intervir quando algo foge do bom senso? A resposta a essa pergunta deveria, no meu entender, começar a ser dada por quem contrata pelo critério do menor preço. Muitas vezes fazer o melhor que pudermos não é o suficiente, temos que ir muito além e fazer o que for necessário para alcançarmos um determinado objetivo. Em síntese, creio estar fazendo a minha parte, e com louvor. E a vida continua.

Gléssia Veras / Editora Rudder

Não é buscando subtrair alguns poucos centavos durante uma negociação, em prol de atingir um determinado alvo previamente fixado como meta financeira para determinado evento da obra que se resolverá a questão do “tal custo”. O problema é mais amplo, pois envolve toda uma concepção, criatividade, talento e, por que não dizer, capacidade diferenciada. Geralmente neste aspecto, se tratando de engenharia de fundações, literalmente falando, “o barato sempre acaba saindo caro”. As variáveis que sempre se encontram envolvidas são inúmeras e na maioria das vezes abstratas. As soluções e as respostas rápidas aos problemas sempre estarão vinculadas à capacidade e à experiência dos profissionais envolvidos e da própria empresa contratada. Que os bons profissionais projetistas e consultores sejam realmente valorizados e louvados por suas boas ideias e pelo benefício técnico e financeiro que trazem às empresas que os contratam, pois de certa maneira e, ao seu modo, têm que aprender a dominar e diariamente praticar a arte de vender o invisível. Que igualmente se valorizem e louvem as boas e responsáveis empresas, pela qualidade dos serviços que prestam e dos produtos que ofertam e, ainda, pelo currículo e pela experiência dos profissionais que as compõem, pois igualmente à sua maneira e ao seu modo também têm que aprender diariamente a dominar a arte de vender e executar o invisível. Não se pode aceitar naturalmente a ideia que a redução de determinado custo esteja associada sempre à análise comparativa de uma determinada planilha de preços, onde apenas alguns números ali apresentados se tornam referência entre o “barato e o caro” e, finalmente sejam adotados para o descarte ou a contratação de profissionais e empresas, comparadas injusta e erroneamente por profissionais que nem participaram da elaboração da referida “planilha de preços”. Em engenharia de fundações esse procedimento quase sempre leva a problemas, aqueles que logo se notam e/ ou aqueles que só aparecerão mais adiante, todavia certamente de alguma maneira aparecerão. Ainda assim, há de se considerar, que em boa parte dos empreendimentos, o custo global de uma fundação bem executada raramente ultrapassa 5% do valor do empreendimento e, em contrapartida, representa uma grande responsabilidade sobre o desempenho final. Em síntese: remunera-se muito pouco por um serviço de muita responsabilidade.

Claudio Gonçalves é graduado em Engenharia Civil pelo IEEP (Instituto de Ensino de Engenharia Paulista) (1986), é diretor Técnico da empresa SOTEF – Sociedade Técnica de Engenharia e Fundações Ltda. Foi redator da Norma NBR6122 – Projeto e Execução de Fundações (1996) e membro da comissão de elaboração da NBR-13208 – Ensaio de Carregamento Dinâmico (1994). Autor de diversos livros técnicos, foi também coordenador junto à ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) da comissão de estudos para elaboração de norma técnica para Estacas Pré-Fabricadas de Concreto ABNT NBR-16.258 (Estacas Pré-fabricadas de Concreto – Requisitos), publicada em 17 de fevereiro de 2014.


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NOTÍCIA

VIGAS E LAJES PRÉ-FABRICADAS GANHAM DESTAQUE EM GRANDES OBRAS NACIONAIS Elevado da TRENSURB de 9 km, projetos da Copa do Mundo 2014 e Olimpíadas 2016 integram o atual panorama de utilização desses produtos Por Dellana Wolney

Durante a etapa de execução da estrutura, o grande diferencial técnico ficou por conta do emprego de elementos pré-moldados protendidos. Todavia, como o processo foi industrial, a solução que mais se adequou à obra foi a pré-tração das vigas, substituindo a pós-tensão. Nesse processo, primeiro os cabos são esticados e depois o concreto é lançado. Posteriormente ao endurecimento do concreto é formada a aderência aos cabos que serão cortados.

VIGAS E LAJES ALVEOLARES Tanto as vigas quanto as lajes alveolares são elementos pré-fabricados de concreto que podem compor uma solução estrutural para uma determinada obra Arquivo TRENSURB

e vigas pré-moldadas. Totalizando, foram produzidas 1.100 vigas para cobrir os vãos típicos de 28 m, sendo três vigas por vão e 7.340 peças de lajes pré-moldadas. Na época, uma fábrica foi instalada, encostada ao canteiro, no trecho inicial da obra em São Leopoldo (RS) para a produção desses elementos. Já os pilares foram moldados in loco com fôrmas metálicas de encaixe aparafusado, desenvolvidas especialmente para a obra. Embora tenha tido um alto investimento, a utilização em larga escala equilibrou o custo e possibilitou a concretagem de dois pilares por dia. Para as vigas, a topografia plana de toda a região contribuiu para a facilidade do transporte por carretas e elas foram içadas por treliça metálica.

Arquivo TRENSURB

Em 2009, com recursos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) teve início a obra de expansão da Linha 1 do metrô da região metropolitana de Porto Alegre (RS). Entregue no primeiro semestre de 2014, o empreendimento abrange um novo trecho, com 9,3 km, partindo da estação existente São Leopoldo até a estação Novo Hamburgo, o que totaliza 43 km de linha. O projeto estimado em 953 milhões de reais foi contratado via licitação pela TRENSURB (Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre). Apesar de a obra ter sido finalizada há algum tempo, ela apresenta fatores de destaque durante a etapa de construção, pois devido à sua extensão e aos módulos repetidos, a estrutura foi projetada com lajes

Obras de expansão da Linha 1 do metrô de Porto Alegre (RS) 28 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


INSTALAÇÃO A instalação destes produtos pré-fabricados envolve uma série de etapas. Primeiramente as lajes alveolares são transportadas até a obra em cami29 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Arquivo TRENSURB

integralmente pré-fabricada ou em combinação com outros sistemas construtivos como as estruturas metálicas ou concreto moldado in loco, devido a sua versatilidade. Usualmente são fornecidas pelas empresas produtoras de estruturas pré-fabricadas montadas na obra como parte integrante de uma solução estrutural avaliada com o cliente em função da sua utilização. Devido à modulação, se estabelece o vão que juntamente com outros aspectos como logística e acessos à obra determinarão o comprimento das peças. Para o caso das vigas especificamente, elas poderão ser armadas ou protendidas. O rendimento da seção das vigas protendidas é maior e, portanto, apresenta menor peso. A determinação das tecnologias a serem adotadas será em função do projeto, na sua interface arquitetura e estrutura, já avaliando a logística que se deve a diversos fatores como capacidade dos guindastes e gruas, acessos à obra, raio de movimentação, entre outros. De acordo com a engenheira e presidente-executiva da ABCIC (Associação Brasileira da Construção Industrializada de Concreto), Íria Doniak, as lajes alveolares são constituídas de painéis de concreto protendido, possuem seção transversal com altura constante e alvéolos longitudinais, que visam diminuir a quantidade de concreto utilizado e, assim, reduzir o peso da estrutura. São produzidas industrialmente em pistas de protensão superiores a 150 m, com elevada tecnologia, em equipamentos de ponta e rigoroso controle de qualidade. “A geometria dos alvéolos deve ser definida em projeto, conforme o fabricante e os equipamentos de produção utilizados. A altura da laje será definida em razão da sobrecarga e do vão, podendo ser determinada uma capa estrutural de concreto moldado no local que tem como objetivo o acréscimo da capacidade estrutural e a constituição de uma seção composta formada pela capa, pelas próprias lajes e demais elementos da estrutura”, explica Doniak.

nhões, tomando-se o devido cuidado para que a conformação/amarração da carga não introduza tensões não previstas em projeto. É importante que haja um calço entre as peças empilhadas, usualmente de madeira ou sacos de areia, corretamente posicionados conforme procedimento da empresa, validado pelo projetista. O empilhamento máximo na estocagem varia de acordo com o comprimento e a altura das peças, devendo o fabricante e o consumidor, em função das espessuras e comprimentos usuais, manter um procedimento interno validado pelo projetista de estruturas. O empilhamento máximo na carga dependerá do atingimento máximo do peso permitido para ela, segundo a legislação e também em função do tipo de caminhão adotado. Segundo Doniak, o projeto deverá estar em conformidade com a modulação definida e a sequência é estabelecida conforme o planejamento de montagem. “Embora o sistema seja bastante flexível e adaptável às obras correntes, inclusive quando o sistema pré-fabricado substitui um sistema originalmente moldado in loco, obviamente extraímos o melhor da tecnologia quando o projeto arquitetônico já nasce incorporando os conceitos da construção industrializada, observando modulações que permitam o uso do sistema sem a necessidade de artifícios como, por exemplo, tiras de lajes com largura inferior ao padrão, recortes e variabilidade dimensional”. A norma ABNT NBR 14.861:2011 – Lajes Alveolares Pré-Moldadas de Concreto Protendido — Requisitos e Procedimentos é uma norma completa seguindo estrutura de normas europeias, contempla não somente critérios de desempenho, mas

também de produção detalhadamente no requisito 11 e também em seu requisito nove estabelece os procedimentos em relação ao capeamento e o procedimento de preenchimento das juntas longitudinais passo a passo. Previamente ao preenchimento das juntas a engenheira Íria Doniak enfatiza que é importante de avaliar se as lajes estão niveladas por baixo e que caso não estejam pode se fazer um torniquete passando pela chaveta para o ajuste. “Este procedimento é usualmente chamado de ‘equalização’. Além do posicionamento das peças é importante verificar o apoio conforme previsto em projeto e área de contato, o apoio mínimo deve ser atendido. É necessário que todas estejam niveladas e que as peças enviadas para o canteiro atendam perfeitamente as tolerâncias estabelecidas na NBR 14.861:2011”, salienta. Tanto a montagem das lajes, quanto das vigas e pilares devem ter suas conexões/ ligações de uma peça na outra previstas em projeto e em conformidade rigorosamente com as normas técnicas aplicáveis. As ligações devem ser estudadas, visando assegurar a estabilidade global da estrutura durante e após a montagem. As tolerâncias dos elementos estruturais, bem como as de montagem estão claramente descritas nas normas técnicas NBR 9.062 e NBR 14.861.

VANTAGENS E ACEITAÇÃO A laje alveolar é muito competitiva para o emprego em obras com vãos de até 20 m. Em geral se adotam espessuras de 12 cm a 50 cm e vãos entre 6 m e 16 m. Também se recomenda sua utilização em situações em que deva apresentar bom comportamento ao fogo, desempenho térmico e acústico. O produto tem sido fortemente recomendado em edificações sustentáveis, por permitir a associação com instalações de eficiência energética, já tendo sido utilizada de forma associada a sistemas de instalações embutidas de ventilação para diminuir os custos com ar condicionado, por exemplo, patenteando um produto diferenciado na Europa para esse fim. Neste contexto, as lajes alveolares têm saído das aplicações mais convencionais dos últimos dez anos, como edificações comerciais e industriais (galpões e shop­ pings centers) de pequena e média altu-


Lajes montadas com juntas longitudinais preenchidas (chaveteamento)

Chegada do caminhão na obra com as Lajes Alveolares. O guindaste deve estar posicionado e a equipe pronta para receber e montar as lajes. Usualmente, a equipe de montagem é da própria fábrica

ra, para outras de maior altura. No Brasil já há registro de edifícios com mais de 20 pavimentos. Na Europa podemos citar os edifícios da Bélgica com pilares, lajes e vigas protendidas pré-fabricadas em estruturas de até 50 andares. Há ainda a Torre de Cristal na Espanha que adotou a laje alveolar em composição com a estrutura metálica, atingido 250 metros de altura. Mais recentemente, para viabilizar prazos reduzidos e a escassez de mão de obra especializada também se tem utilizado guindastes com maior capacidade de carga e alcance nas obras brasileiras, o que tem promovido um acréscimo no emprego das lajes alveolares. Em razão disso, edificações de múltiplos pavimentos, estádios e outras obras especiais se constituem em possibilidades de aplicação destes elementos. Doniak diz que as vantagens principais da utilização de sistemas pré-fabricados está na velocidade na construção, ausência de escoramento, diversidade de tipos, alta capacidade de vencer maiores vãos (no caso de elementos protendidos e de seções de grande eficiência estrutural), melhor organização 30 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

no canteiro de obras e uso racional de mão de obra e materiais. “Também há aspectos favoráveis à sustentabilidade, uma vez que o uso de pré-fabricado significa menor geração de resíduos nas obras e, consequentemente, menor impacto ambiental”. Em função da constante evolução tecnológica registrada nos últimos anos pelas estruturas pré-fabricadas de concreto, a ABCIC notou um expressivo aumento no seu uso em diversos tipos de obras no País ao longo da última década. E esse aumento ocorreu tanto em obras privadas, quanto em obras de infraestrutura de transporte, energia e comunicação. Na época houve ampla utilização das estruturas nas obras das arenas destinadas à Copa do Mundo de 2014 e, mais recentemente, nas instalações necessárias para a realização das Olimpíadas Rio 2016. “Nessas construções foram utilizadas desde estacas pré-fabricadas para as fundações, até lajes alveolares, vigas e pilares. Em grande parte, toda a evolução tecnológica que tem favorecido o aumento do uso do pré-fabricado de concreto se deve ao esforço e investimento constante das empresas que atuam no segmento”, comenta Doniak. Com a popularização destes produtos, a associação instituiu em 2003 o Selo de Excelência ABCIC, que se constitui no principal instrumento para o desenvolvimento sustentável do setor, possibilitando às empresas atestarem que cumpriram os requisitos de qualidade e segurança. O selo também permite agregar mais tecnologia nos processos, aumentando a competitividade e propiciando um ambiente de constante inovação.


NOTÍCIA

CONCRETO REFORÇADO COM FIBRAS CARECE DE NORMALIZAÇÃO ESPECÍFICA NO BRASIL Material que utiliza fibras em sua composição ainda está sendo explorado por grupos de pesquisa da área para elaborar práticas recomendadas aos profissionais

Banco de Imagens / MorgueFile

Por Dafne Mazaia

As fibras podem deixar o concreto mais resistente e com poucas fissuras

Em abril deste ano, diversos pesquisadores da engenharia se reuniram em São Paulo para aprimorar seus conhecimentos sobre as tendências para a normalização do CRF (Concreto Reforçado com Fibras) e divulgar trabalhos desenvolvidos por grupos de pesquisa, como o Comitê Técnico IBRACON (Instituto Brasileiro do Concreto) / ABECE (Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural) CT303. Além das últimas novidades em relação ao CRF, os profissionais debateram temas relevantes relacionados ao compósito, material que vem recebendo cada vez mais no Brasil. O CRF pode ser empregado como uma alternativa à utilização 31 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

do concreto armado para estruturas contínuas e pré-­moldados, e costuma ser aplicado em obras de infraestrutura com uma demanda social maior, como as de saneamento básico, transportes e construções que envolvam pavimentos e túneis, como explica o professor da Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo), Antônio Domingues de Figueiredo. “O concreto com fibras é mais indicado para ser aplicado em obras cujos elementos estruturais têm esforços difusos, com direcionamento variável. Como exemplo, têm-­se os pavimentos onde os esforços variam em função do posicionamento das cargas móveis que transitam sobre ele, o que pode gerar esforços de tração importantes tanto na face superior como inferior. No caso de se pensar em aplicar o CRF em lajes elevadas, como ocorre em edifícios, os teores necessários serão bem elevados e parte das fibras não irá trabalhar de maneira ampliada, já que os esforços de tração ocorrem na parte inferior da laje. Assim, uma armadura posicionada junto à face inferior da laje terá uma condição melhor de absorção dos esforços principais de tração”. Utilizados desde 1960, o concreto reforçado com fibras é composto geralmente por cimento Portland, além de fibras misturadas. Alguns profissionais acreditam que as fibras garantem uma maior resistência ao concreto, diminuindo as fissuras. Segundo o professor Antônio Domingues de Figueiredo, as fibras realmente deixam o concreto mais resistente, pois sem um reforço ele fica mais suscetível. “O concreto com fibras se constitui num compósito formado pela matriz de concreto e pelas fibras descontínuas que são distribuídas no seu interior. O objetivo dessas fibras é conferir uma capacidade resistente residual pós-fissuração ao concreto que possui características marcadamente frágeis quando não possui qualquer reforço. O comportamento frágil ocorre especialmente quando o esforço aplicado ao concreto é de tração dado que, sabidamente, o mesmo tem baixa capacidade resistente a este tipo de esforço e, também, baixa capacidade de deformação nesta situação”, explica Figueiredo.


Arquivo pessoal / Antônio Figueiredo

Arquivo pessoal / Antônio Figueiredo

O ensaio ASTM C1609. A imagem mostra uma flexão de prismas com deflexão controlada para determinação das resistências residuais pós-­ fissuração (tenacidade)

Estruturas que estejam sujeitas a sofrer impactos são também indicadas a empregar o CRF. “É sabido que as fibras aumentam muito a capacidade do concreto em resistir a impactos. Assim, estruturas que tenham risco de sofrer fortes impactos podem ter seu desempenho melhorado de maneira muito substancial com a introdução das fibras”, acrescenta Figueiredo. No entanto, o professor faz um adendo em relação à resistência, que é uma das características mais lendárias do CRF. Ele assegura que para garantir um concreto resistente, o teor da fibra precisa ser suficiente, o que pode gerar algumas implicações. “Um dos mais arraigados mitos é aquele que diz que as fibras aumentam a resistência à tração do concreto. Isto nem sempre é verdade e, para a maioria das aplicações que utilizam baixos teores (menos de 1% em volume), os ganhos de resistência são desprezíveis. Para que a fibra aumente a resistência do concreto é necessário que o seu teor seja suficiente para garantir o incremento da capacidade resistente do compósito e isto trará como efeito colateral um grande prejuízo para a trabalhabilidade da mistura, dificultando ainda mais sua viabilização”, revela. Conforme a engenheira e especialista de laboratório da Escola Politécnica da USP, Renata Monte, o CRF ainda não é usado em larga escala no Brasil no que concerne às aplicações de maior demanda estrutural, como acontece no continente europeu, devido à complexidade dos ensaios de avaliação. “Ampliar o uso do CRF para aplicações de maior demanda estrutural, como ocorre na Europa em lajes suspensas, prescinde de normas técnicas e práticas recomendadas que subsidiem sua especificação com segurança. Um dos principais desafios está no controle tecnológico. Isso ocorre porque diferente do concreto convencional, cujo controle da resistência à compressão é de concepção mais simples, no caso do CRF, os ensaios para avaliar o comportamento pós-fissuração são mais complexos”, destaca.

VANTAGENS E CARACTERÍSTICAS Entre os benefícios do concreto reforçado com fibras, constam a redução ou a eliminação das etapas de produção das armaduras, atividade recorrente quando se emprega o concreto armado convencional, além de um maior controle de fissuração 32 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Alguns segmentos pré-moldados reforçados com fibras de aço para a aplicação no revestimento de túneis TBM (Tunnel Boring Machine)

e menores riscos de corrosão (fibras de aço) ou nenhum (fibras poliméricas e de vidro álcali resistentes), em relação à armadura convencional, o que gera maior durabilidade para as estruturas. Comparado com outros tipos de concreto é possível notar muitas diferenças em relação ao CRF, como as condições de trabalhabilidade, assim como a dosagem e os tipos de ensaios, como avalia Antônio Domingues de Figueiredo. “Não basta realizar os mesmos ensaios comumente aplicados para o concreto, porque eles não são suficientes para parametrizar o material. No caso do CRF, como o comportamento é fortemente influenciado pela interação entre fibra e matriz, a dosagem e o controle devem ser feitos com foco no compósito, ao contrário do concreto armado convencional, onde se controla o concreto e o aço de modo independente e totalmente separado”, salienta. De acordo com o professor, para dimensionar as estruturas são necessários modelos específicos, pois o comportamento do CRF também se difere. “O dimensionamento das estruturas de CRF deve ser feito utilizando modelos específicos e não se pode simplesmente extrapolar os modelos desenvolvidos para o concreto armado convencional. O comportamento das estruturas, inclusive em termos de durabilidade, também é diferente e não há como utilizar os modelos de previsão executadas com o CRF”, menciona Figueiredo. Elementos caracterizados por seu comprimento com dimensões superiores às associadas à sua seção transversal, as fibras podem ser de diferentes tipos, como de carbono, que podem ser misturadas ao concreto como uma “armadura”. As fibras mais empregadas para o reforço do concreto são as de aço, vidro e as macrofibras poliméricas. Já para reforçar estruturas, as mais empregadas são as fibras de carbono. Elas possibilitam uma maior capacidade de estrutura e tornam o concreto mais seguro. “As fibras contínuas para reforço de estruturas existentes são indicadas para proporcionar um aumento da capacidade de elementos estruturais nos quais se pretende impor solicitações acima do esperado em projeto, como é o caso em mudança de uso de uma estrutura. Nesse caso, as fibras propiciarão uma ampliação da capacidade resistente do elemento de modo a suportar em condições de segurança os novos esforços solicitantes”, reitera Figueiredo.


Arquivo pessoal / Renata Monte

Arquivo pessoal / Renata Monte

Imagem do método de ensaio Barcelona

O método de ensaio de flexão JSCE-SF4

MÉTODOS DE ENSAIO PARA CRF

no Brasil quando especificado um parâmetro de controle para o CRF, seja em termos de resistência residual ou tenacidade, são considerados ensaios já consagrados como os de flexão de vigas ou punção de placas. As correlações já obtidas entre o ensaio Barcelona simplificado e os ensaios de flexão de vigas são muito boas, mas ainda não podem ser consideradas correlações gerais, pois dependem do tipo de fibra e da matriz de concreto utilizados”, pontua Monte. Norma mais antiga, a JSCE-SF4 é a mais difundida no Brasil, com uma configuração mais simples em comparação com outras, que muitas vezes indicam o uso de máquinas de ensaio com sistema fechado (closed-loop), isto é, o controle de velocidade de ensaio feito pela deflexão do corpo de prova ou pela abertura de fissura, como declara a especialista de laboratório. “O controle fechado possibilita um ensaio mais estável, sem a possibilidade de ocorrer instabilidades após a fissuração da matriz”, acrescenta a engenheira e especialista de laboratório da Escola Politécnica da USP, Renata Monte. A JSCE-SF4 não exige que o controle do ensaio seja fechado e esse pode ser um dos motivos para ela ser mais empregada atualmente e não outros procedimentos normativos mais recentes.

Ainda com uma normalização limitada no Brasil, atualmente existem apenas duas normas técnicas estabelecidas para o uso de fibras: uma que se refere à especificação das fibras de aço e outra relacionada aos tubos de concreto para obras pluviais e de saneamento, que contempla a aplicação de fibras de aço. “Percebe-se que não existem normas técnicas nacionais de métodos de ensaio para o CRF e tampouco para fibras de outras matérias-primas, como as de polipropileno e de vidro, por exemplo”, diz a especialista Renata Monte. De acordo com ela, já existe um grupo de especialistas do IBRACON em parceria com a ABECE, desenvolvendo práticas recomendadas para o uso do CRF. “O documento está sendo baseado no código modelo europeu Fib Model Code 2010. Certamente desse comitê sairão propostas de novas normas técnicas para as comissões de estudo da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas)”, conta. Para se executar com qualidade e responsabilidade uma obra é fundamental ter um controle tecnológico do material que será empregado, por isso os métodos de ensaio são importantes, sobretudo para CRF. Os ensaios mais aplicados para caracterização do CRF consistem na flexão de pequenas vigas, como detalha Renata Monte. “Como exemplo, podem ser citados os ensaios especificados pelas normas japonesas JSCE-SF4 (Japan Society of Civil Engineers – Method of tests for flexural strength and flexural toughness of steel fiber reinforced concrete) / (1984), a americana ASTM (American Society for Testing and Materials) C1609 (2012) e a europeia EN 14.651 (2007) (Test Method For Metallic Fibre Concrete). Os ensaios em placas para quantificação da energia absorvida (tenacidade) também são utilizados, principalmente para o CRF projetado, pois o controle realizado através de prismas moldados pode não ter qualquer relação com o material projetado”, especifica. Método normalizado na Espanha, o ensaio Barcelona é considerado uma alternativa para o controle corriqueiro do CRF. No entanto, o procedimento ainda necessita de correlações com os parâmetros de projeto, como informa a especialista. “Atualmente 33 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


NOTÍCIA

SETOR EÓLICO CONTA COM FABRICAÇÃO DE PRODUTOS INTEIRAMENTE NACIONAIS Esta facilidade permite atualizar as formulações com agilidade, principalmente em relação às novas tecnologias e exigências de projetos

Groman123 / Flickr

Por Dellana Wolney

Geração de energia eólica

A energia eólica tem sido uma das grandes promessas para o mercado de energia nacional. De acordo com dados do ano de 2015 da ABEEOLICA (Associação Brasileira de Energia Eólica), atualmente, esta modalidade de energia representa 4,5% da matriz elétrica nacional, com 241 usinas instaladas, gerando pouco mais de 6 GW. Quatro dessas usinas iniciaram testes no mês de janeiro de 2015: três na Bahia (Ametista – 28,54 MW, Maron – 30,24 MW e Pilões – 30,24 MW), e um no Mato Grosso do Sul (Dourados – 28,58 MW). Estima-se que o Brasil tenha um potencial eólico de 143 mil MW, dez vezes mais do que o potencial da usina hidrelétrica de Itaipu, por exemplo. Potencial também representado com 300 GW de geração eólica, o que corresponde a 2,2 vezes a matriz elétrica brasileira. Apenas no ano de 2013 foram contratados 4,7 GW de projetos eólicos, e em 2014, 2,3 GW, 34 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

todos a serem implantados até 2019, quando a capacidade eólica brasileira deverá atingir 15,2 GW. Mesmo promissor, o setor ainda enfrenta desafios, inclusive mercadológicos, como a redução dos custos de utilização de materiais e logística que precisam acompanhar esse novo cenário. Desta forma, empresas como a MC-Bauchemie no Brasil, especializada no desenvolvimento de soluções para obras de infraestrutura, edificação e indústria, têm investido na criação e melhoria de produtos direcionados às necessidades das estruturas eólicas. Hoje a MC-Bauchemie conta com uma equipe especializada para auxiliar nas especificações, suporte, além de produtos para todas as etapas, desde a instalação e fundação, até a montagem, proteção e manutenção de torres em funcionamento, pois estas estruturas estão sujeitas a danos que podem com-


prometer sua vida útil como intempéries, maresia e fissuramentos, bem como sua capacidade de geração de energia: movimentações excessivas por vazios nas fundações.

SOLUÇÕES “Nossa linha de produtos compreende todas as etapas da instalação de uma torre eólica. Durante a fabricação atuamos com aditivos especiais para o concreto (fundações e torres) e soluções para desforma e cura das peças pré-moldadas de concreto. Na etapa de montagem e proteção, atuamos com nossa linha de grautes especiais”, conta o gerente nacional de energia da MC-Bauchemie no Brasil, Rafael Fernandes. Para a etapa de manutenção, uma das principais soluções são os sistemas de injeção de resinas, para preenchimento de vazios nas fundações, visto que as movimentações excessivas estão normalmente ligadas a este fator. Os vazios são originados principalmente pela vibração das torres eólicas, que acabam permitindo a infiltração de água no interior e como consequência degrada o concreto das fundações. Já as soluções MC-Bauchemie, com sistema de injeção de resinas de baixa viscosidade e alto poder de penetração, permitem o preenchimento destes vazios por serem materiais de altas resistências que proporcionam a consolidação do concreto, assim eliminando as movimentações das torres e diminuindo as paradas do aerogerador. Bem como os vazios, os agentes de intemperismo tem uma ação de degradação relevante, especialmente nas torres de concreto. “Temos hoje um grande potencial de geração eólica no litoral, desta forma, as torres estão sujeitas a ação da salinidade e da abrasão pelas partículas sólidas carregadas pelo vento, ainda, por serem estruturas rígidas e sujeitas a vibrações, podem surgir fissuras, acelerando a degradação da torre. Neste aspecto, os revestimentos têm a finalidade de proteger a estrutura de concreto destes agentes agressivos”, descreve Fernandes. Há também os sistemas de pinturas flexíveis, que foram desenvolvidas para atender as rígidas normas da União Europeia. Trata-se de uma solução com elevadas resistências às intempéries (uma espessura de 0,35 mm destes revestimentos é equivalente a uma espessura de até 74 cm de concreto). Estas características incorporadas à sua capacidade de absorção de fissuras é um grande aliado na proteção das torres de concreto. Suas características de aderência, resistência a UV (Radiação Ultravioleta), inflamabilidade e de absorção de fissuras (crack-bridging), o colocam entre os mais eficientes sistemas para estruturas que necessitam reunir estética, baixo custo de manutenção e durabilidade.

MONTAGEM Fernandes ressalta que a linha de aditivos também é um dos insumos mais importantes no traço de concreto, sendo responsável por potencializar a sua trabalhabilidade e os ganhos de resistências. Já a linha de grautes surge no momento da montagem. Tem como desempenhos requeridos principais: resistência à fadiga, rápidos ganhos de resistência à compressão e capacidade de aderência ao aço. Os sistemas de proteção são responsáveis por aumentar a vida útil das torres, protegendo-as das ações de maresia e abrasão, 35 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

absorvendo fissuras do concreto. “Estes grautes foram desenvolvidos especialmente para o setor eólico, tendo elevadas resistências finais com a finalidade de atender a todos os requisitos de projeto e uma ótima trabalhabilidade para facilitar o processo de aplicação e manipulação. No caso de torres metálicas, eles são responsáveis por transferir as cargas da torre para a fundação, sendo, portanto o elo da estrutura metálica com a estrutura de concreto. Para as torres de concreto, uma das principais funções é promover a consolidação das diversas peças pré-­ fabricadas”, explica o gerente nacional de energia da MC-­ Bauchemie no Brasil, Rafael Fernandes. A série Emcekrete compreende todos os grautes da MC-Bauchemie, tendo dentro dela diversos produtos desenvolvidos para diferentes aplicações. No caso do setor eólico, os principais produtos são o Emcerkete 80 (para as torres de concreto) e Emcekrete 80 PLUS (para as torres metálicas). Ambos foram desenvolvidos para atender não só as solicitações de projetos, mas para garantir a adequação às realidades do mercado brasileiro (clima, processos de aplicação e equipamentos disponíveis). A fabricação é 100% nacional, o que permite atualizar as formulações com agilidade, tornando estes produtos flexíveis às novas tecnologias e exigências de projetos. Atualmente a MC-Bauchemie é a única empresa do mercado brasileiro com uma área exclusiva para atendimento técnico e comercial para o setor de geração de energia, o que permite uma comunicação técnica mais efetiva com clientes, projetistas e executores. A empresa também tem investido em soluções customizadas, pois acredita no crescimento deste mercado. “Em países como Dinamarca, Alemanha, Holanda e Portugal a energia eólica já representa uma fonte significativa. No Brasil, o investimento é mais recente, porém vem ganhando força nos últimos anos, um aumento de 93% em relação ao ano anterior. Atualmente, o País é o sétimo maior desenvolvedor deste modal. Por isso, precisamos cada vez mais ter torres bem executadas, com menores custos de manutenção e que gerem energia com mais eficiência”, conclui Fernandes.


ARTIGO

ANÁLISE DE INTERAÇÃO SOLOESTRUTURA EM EDIFÍCIO DE PAREDES DE CONCRETO MOLDADAS NO LOCAL M.Sc. Elias Testoni Engenheiro Civil na O.A. Engenharia Especial Blumenau (SC) testoni@usp.br Dr. Márcio Roberto Silva Corrêa São Carlos (SP). Professor associado do Departamento de Estruturas da EESC-USP (Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo) mcorrea@sc.usp.br

RESUMO Realizou-se o estudo dos efeitos globais causados pela interação solo-estrutura em um edifício de paredes de concreto moldadas no local com pavimento de transição sobre fundações profundas sujeito ao carregamento vertical. A análise estrutural foi feita utilizando-se um modelo de pórtico tridimensional sobre apoios elásticos. O efeito da interação solo-estrutura foi simulado por meio da aplicação de coeficientes de rigidez nos apoios da estrutura, calculados por método iterativo. Os resultados indicam que a interação solo-estrutura alterou o fluxo de tensões no edifício de maneira significativa, causando importante redistribuição de esforços nos elementos estruturais. Observou-se, também, a redução dos valores de recalques máximos e, principalmente dos recalques diferenciais dos apoios do edifício. Palavras-chave: Interação solo-estrutura; Edifícios de Paredes de concreto; Modelo Simplificado; Análise estrutural.

INTRODUÇÃO O sistema de paredes de concreto armado moldadas no local aplicado à construção de edifícios de múltiplos pavimentos em larga escala apresenta importantes vantagens em relação aos sistemas construtivos tradicionais devido ao seu alto grau de industrialização. Atualmente várias construtoras aplicam o sistema na construção de edifícios de múltiplos andares, como o mostrado na Figura 1. 36 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

No sistema de paredes de concreto moldadas no local, as paredes da edificação são moldadas na obra com utilização de fôrmas moduladas metálicas, plásticas ou de madeira. A estrutura e a vedação dos edifícios são compostas por um único elemento, a parede de concreto. Todas as paredes e as lajes de um ciclo construtivo são moldadas em uma única etapa de concretagem. A interação solo-estrutura nos edifícios de paredes de concreto ainda é um tema pouco explorado na literatura técnica que merece a atenção dos pesquisadores e dos projetistas deste tipo de estrutura. Essa interação entre o edifício de paredes de concreto e as fundações deformáveis exerce um papel importante no comportamento global da estrutura. A NBR 16.055 (ABNT, 2012) determina ser obrigatória a consideração da interação solo-estrutura em edifícios com mais de cinco pavimentos. Neste artigo são apresentados os resultados do estudo de um edifício de paredes de concreto moldadas no local com 15 pavimentos e fundações profundas por estacas. A análise estrutural foi realizada por meio de um modelo de pórtico tridimensional sobre apoios elásticos, composto exclusivamente por elementos finitos de barras considerando-se a influência da interação solo-estrutura por meio de método iterativo com o objetivo de analisar efeitos globais na estrutura.

1 METODOLOGIA Os efeitos globais foram analisados por meio de uma série de comparações entre os resultados da análise estrutural de um edifício de paredes de concreto modelo. Os resultados foram obtidos pela utilização de dois modelos de pórtico tridimensional. Um dos modelos considera como indeslocáveis os apoios da estrutura, enquanto o outro analisa a estrutura sobre apoios flexíveis por meio da aplicação de coeficientes de rigidez nos apoios considerando a interação solo-estrutura. Os resultados comparados entre os modelos são: as reações na base dos pilares, os valores de esforço normal das paredes dos edifícios e os recalques estimados nos


ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland)

Figura 1 – Edifício de paredes de concreto moldadas no local

blocos de estacas. Para a análise estrutural do edifício foi utilizado o programa computacional SAP 2000. Para o cálculo dos coeficientes de rigidez foi utilizado o método iterativo de Aoki (1987).

2 INTERAÇÃO SOLO-ESTRUTURA Em projetos estruturais convencionais, admite-se a hipótese de indeslocabilidade para os apoios da superestrutura de edifícios. Desta forma não se consideram os efeitos causados pela deformabilidade das fundações e os recalques são estimados isoladamente para cada elemento estrutural de fundação, tendo como hipótese que o elemento possa se deslocar independentemente dos demais, ou seja, como se a superestrutura fosse infinitamente flexível. Este comportamento não condiz com a realidade geotécnica, uma vez que o solo apresenta deformações e deslocamentos causados pelo carregamento que são afetadas pela rigidez da estrutura. Interação solo-estrutura é o mecanismo de influência mútua entre a superestrutura e o sistema de fundação. O processo tem início durante a construção e continua até que o estado de equilíbrio de tensões e deformações seja alcançado, tanto na estrutura quanto no maciço de solos. A interação solo-estrutura é influenciada pela rigidez da estrutura e a deformação do solo. Em edifícios convencionais causa a redistribuição dos esforços nos elementos 37 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

estruturais, principalmente nos pilares, e a diminuição dos recalques diferenciais estimados pela consideração de apoios indeslocáveis. A redistribuição dos esforços pode causar vários problemas se não for devidamente considerada, como o aparecimento de fissuras em lajes e vigas e o esmagamento de pilares. A diminuição dos recalques diferenciais pode viabilizar projetos de fundações que não seriam aceitos em uma análise convencional devido à magnitude dos recalques. Existem vários fatores que afetam os efeitos da interação solo-estrutura. Dentre eles, destacam-se os mais importantes: a rigidez relativa estrutura-solo, o número de pavimentos da edificação, a existência de edificações vizinhas e a influência da sequência construtiva.

3 MÉTODOS DE ANÁLISE 3.1 Pórtico tridimensional Para a análise estrutural do edifício estudado neste trabalho foi utilizado o modelo de pórtico tridimensional apresentado por Testoni (2013). No pórtico tridimensional cada parede de concreto a partir do segundo pavimento é representada por uma barra vertical flexível fixada a um par de barras horizontais rígidas em sua base e em seu topo conforme a Figura 2. Na Figura 2, “L” é o comprimento da parede em planta e “H” é a distância vertical entre dois pavimentos sucessivos,


Figura 2 – Discretização de uma parede por meio de barras

Os diversos pórticos planos interligados constituem o pórtico tridimensional. A ligação entre as paredes é feita por meio de conexões articuladas. Nos pontos de conexão há apenas o desenvolvimento de esforços verticais, ou seja, esforços cortantes nas ligações. Os pórticos planos são interligados horizontalmente aos níveis dos pisos por diafragmas rígidos em seus planos que simulam as lajes de concreto. Na Figura 4 é apresentado um exemplo de pórtico tridimensional equivalente. As redes de elementos de barra na parede posterior e na parede da esquerda foram suprimidas do desenho para melhor compreensão do modelo.

de centro a centro. A barra vertical possui as características elástico-geométricas da parede representada e tem seu eixo longitudinal posicionado verticalmente no centroide da seção retangular da parede, sendo seu comprimento igual à distância entre pavimentos sucessivos. As barras verticais são elementos finitos de barra tridimensional e possuem seis graus de liberdade em cada extremidade, sendo três translações e três rotações. Cabe observar que para a representação de paredes por elementos de barra é mandatória a inclusão da deformação por cisalhamento, conforme a NBR 16.055 (ABNT, 2012). Às extremidades da barra vertical são ligadas barras horizontais rígidas dispostas ao nível dos pavimentos que simulam a dimensão da parede em planta e permitem simular a interação entre as paredes que se interceptam através de suas extremidades comuns. As barras horizontais possuem grande rigidez à flexão no plano da parede. As paredes do primeiro pavimento são discretizadas por meio de redes de elementos de barra biarticulados, de modo que o efeito arco que ocorre em paredes suportadas por vigas de transição ou por elementos de fundação flexíveis seja contemplado. Substituindo-se cada trecho de parede por suas barras verticais e horizontais equivalentes, discretizando o primeiro pavimento com as vigas de transição por meio das redes de elementos de barra e representando os pilares usando barras obtêm-se pórticos planos, como o apresentado na Figura 3.

3.2 Discretização das paredes do primeiro pavimento

Figura 3 – Pórtico plano equivalente

A distribuição de cargas verticais ao longo da altura das paredes apoiadas sobre vigas não ocorre de maneira uniforme, mas em forma de um arco atirantado onde as cargas das paredes tendem a migrar diretamente para os apoios. Desta maneira, não é possível contemplar o efeito arco usando o modelo original de pórtico tridimensional. Uma forma de incluir a influência do efeito-arco na análise é discretizar as paredes do primeiro pavimento usando uma rede de elementos lineares biarticulados (barras) dispostos de acordo com um padrão definido, sendo que as suas propriedades elásticas dependem do tipo de problema em estudo. Para a discretização do primeiro pavimento foi utilizado um padrão de rede treliçada proposto por Hrennikoff (1941) que possui como elemento básico um quadrado com duas barras diagonais em seu interior. A escolha se deve à simplicidade e à praticidade deste elemento quadrado quando da discretização das paredes do edifício estudado.

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Figura 4 – Pórtico tridimensional equivalente


O elemento básico da rede mostrado na Figura 5 é composto por quatro nós, duas barras horizontais, duas barras verticais e duas barras diagonais. As barras horizontais e verticais resistem aos esforços normais em suas respectivas direções. As barras diagonais são responsáveis por resistir ao cisalhamento por meio de um mecanismo em que uma das barras diagonais é comprimida enquanto a outra é tracionada. As barras devem ter suas extremidades articuladas ou a sua rigidez à flexão anulada. O cálculo das áreas da seção transversal das barras é feito com as equações (1) e (2).

Figura 6 – (a) modelo de treliça para uma parede de concreto (b) pórtico com modelo de treliça

por uma barra com as propriedades das vigas de transição ou vigas baldrame que suportam as paredes no primeiro pavimento. As barras rígidas da transição entre os modelos e as barras que representam as vigas de transição não devem ter suas extremidades articuladas. Os pilares que sustentam as vigas de transição também são modelados como barras.

3.3 Modelo de análise da interação solo-estrutura Figura 5 – Elemento básico da malha treliçada

(1) (2) Av, Ah Ad são as áreas da seção transversal das barras verticais, horizontais e diagonais respectivamente, “a” é o comprimento das barras horizontais ou verticais do elemento básico e “t” é a espessura da parede que está sendo discretizada. As equações para o cálculo das áreas são referentes às barras posicionadas em regiões internas da rede. Para as barras verticais e horizontais posicionadas no contorno da rede, o valor das áreas a ser adotado é igual à metade do calculado com a equação (1). Utilizando-se do elemento básico, o modelo de treliça é montado, seguindo as formas da parede. O modelo de treliça deve manter as condições de contorno originais da parede e os carregamentos devem ser aplicados aos nós dos elementos conforme mostrado na Figura 6(a). Uma barra horizontal rígida é posicionada na transição entre o pórtico tridimensional e o modelo de treliça conforme a Figura 6(b). Isto é feito para evitar que o carregamento das paredes acima do primeiro pavimento seja concentrado em apenas um nó da rede treliçada. Desta forma o carregamento das paredes é distribuído ao longo de todo o comprimento da rede treliçada. Na região inferior do modelo de treliça, as barras horizontais são substituídas 39 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

O modelo de interação solo-estrutura utilizado neste estudo é o modelo iterativo apresentado em Aoki (1987) e automatizado por Testoni (2013). Primeiramente são calculadas as reações nos apoios da superestrutura considerando a hipótese de os apoios serem indeslocáveis. As reações nos apoios (esforços axiais e momentos) são aplicadas como cargas sobre os blocos de coroamento das estacas e é feito o cálculo inicial da distribuição das cargas axiais nas estacas de cada bloco utilizando-se o método de Schiel (1957). Determina-se a capacidade de carga geotécnica das estacas por meio do método semi-empírico de Aoki e Velloso (1975), tendo como base os resultados obtidos pela sondagem à percussão do terreno. São determinados diagramas de atrito lateral e de esforço normal das estacas. O encurtamento elástico do fuste das estacas, como peças estruturais submetidas à compressão é determinado por meio de uma metodologia adaptada de Aoki (1979), tendo como base os valores de resistência lateral e de capacidade de carga das estacas determinados pelo método Aoki e Velloso. O recalque do solo, na base de cada estaca é calculado considerando-se o efeito de grupo de estacas por meio do método Aoki e Lopes (1975). Novos valores de rigidez são calculados para cada estaca, dividindo-se a carga axial inicial pelo recalque total (soma do encurtamento elástico e do recalque do solo). O cálculo da distribuição das cargas para as estacas de cada bloco é refeito, considerando-se os novos valores de rigidez apurados para as estacas. O procedimento é repetido até que haja a convergência dos valores de cargas axiais das estacas entre duas iterações sucessivas com uma tolerância desejada. Os valores de rigidez das estacas são calculados a partir das cargas axiais finais obtidas da última iteração e as deformações associadas a cada bloco são determinadas. Os coeficientes de rigi-


dez, também conhecidos como coeficientes de mola de cada apoio, são calculados dividindo-se as reações de cada apoio (Vx,My,Mz) pelas correspondentes deformações (δx, θy, θz). As reações e deformações são ilustradas na Figura 7.

o recalque do solo abaixo de cada estaca é calculado considerando-se a influência de cada uma das demais estacas do grupo. Estes recalques são utilizados na obtenção dos coeficientes de rigidez e, consequentemente no cálculo das cargas dos blocos.

4 ESTUDO DE CASO

Figura 7 – Reações, translação e rotações nos blocos de estacas

Figura 8 – Planta baixa das paredes do Edifício Niterói na direção horizontal

O caso avaliado é do Edifício Niterói, localizado na cidade de Ribeirão Preto, projetado pela empresa OSMB Engenheiros Associados Ltda. O projeto original foi ligeiramente modificado para simplificar a modelagem. O Edifício Niterói modificado possui 15 pavimentos e fundação com blocos de estacas do tipo Franki. A planta baixa do pavimento tipo possui dois eixos de simetria; desta forma somente um quarto do edifício foi modelado. As paredes externas e internas possuem espessura de 0,14 m e 0,12 m, respectivamente. A disposição e os nomes das paredes são apresentados na Figura 8 e na Figura 9 (as medidas são dadas em cm). Foram adotadas as siglas PH, e PV para as paredes na direção horizontal e vertical do desenho, respectivamente e LH e LV para os lintéis na direção horizontal e vertical, respectivamente. O carregamento vertical total distribuído em cada trecho de parede, composto pelo seu peso próprio e as cargas das lajes é apresentado na Tabela 1. O material utilizado foi o concreto armado com resistência à compressão de 35 MPa, módulo de elasticidade longitudinal igual a 28 GPa e coeficiente de Poisson igual a 0,20. Todas as paredes do edifício são apoiadas em vigas de transição de 0,80 m de altura e 0,14 m de largura. As vigas de transição são suportadas por 24 pilares de 3,00 m de altura e seção transversal quadrada com 0,60 m de lado. A planta baixa esquemática do pavimento de transição é apresentada na Figura 10.

Figura 9 – Planta baixa das paredes do Edifício Niterói na direção vertical

Os coeficientes de rigidez calculados são impostos nos apoios da superestrutura. A superestrutura é então recalculada para se determinarem novas reações nos apoios (cargas nos blocos). Todo o procedimento é repetido até que haja a convergência dos valores das reações ou dos recalques obtidos entre duas iterações consecutivas com uma tolerância preestabelecida. No processo iterativo, as rigidezes calculadas não representam simplesmente molas isoladas, mas rigidezes que dependem dos deslocamentos do solo e do grupo de estacas, garantindo a representação da continuidade do solo no meio avaliado. Isto se dá pelo fato de que, no modelo de Aoki, o efeito do grupo de estacas é considerado no cálculo dos recalques do solo abaixo de cada estaca, ou seja, 40 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Figura 10 – Planta baixa do pavimento de transição

As fundações do edifício são constituídas de 72 estacas escavadas do tipo Franki com 0,35 m de diâmetro de fuste e 0,50 m de diâmetro de base. Foi adotado o valor de 600 kN como capacidade de carga nominal das estacas. Cada bloco de estacas recebe o carregamento de apenas um pilar e possui três estacas. Os blocos de estacas foram posicionados de modo que seu centroide estivesse na mesma reta vertical do centroide dos seus respectivos pilares. A planta esquemática das fundações com a numeração e disposição das estacas


Tabela 1 – Carregamento nas paredes do Edifício Niterói Paredes Parede

PH01

PH02

PH03

PH04 PH05 PH06

PH07

PH08

Carregamento Vertical (kN)

Trecho

Pvto. Tipo

Cobertura

PH01-A

2,315

2,315

LH01-A

1,661

1,661

PH01-B

2,315

2,315

PH01-C

2,274

2,274

LH01-B

1,716

1,716

PH01-D

2,274

2,274

PH02-A

2,284

2,284

LH02-A

1,317

1,317

PH02-B

2,284

2,284

LH03-A

1,866

1,866

PH03-A

2,298

7,387

LH03-B

1,742

7,194

PH03-B

2,298

7,387

PH03-C

2,477

2,477

Paredes Parede PH08

PH09 PH10 PV01 PV02 PV03

PV04

Carregamento Vertical (kN)

Trecho

Pvto. Tipo

Cobertura

PH08-F

2,896

2,896

PH08-G

2,538

5,235

PH09-A

3,207

12,750

LH09-A

1,505

9,648

PH09-B

2,626

7,804

PH10

2,945

2,945

PV01-A

2,340

2,340

LV01-A

1,620

1,620

PV01-B

2,340

2,340

PV02

2,469

2,469

PV03

2,752

2,752

LV03-A

1,410

1,410

PV04-A

2,057

2,057

LV04-A

1,237

1,237

PV04-B

2,315

2,315

PV05

3,684

3,684

PV06-A

2,229

2,229

LV06-A

1,599

1,599

PV06-B

2,229

2,229

LH03-C

1,828

1,828

PH03-D

2,477

2,477

PH03-E

1,598

1,598

LH03-D

1,168

1,168

PH03-F

1,598

1,598

PH03-G

1,963

1,963

PV07

PV07

2,710

2,710

LH03-E

1,524

1,524

PV08

PV08

2,818

2,818

PH03-H

1,963

1,963

PV09-A

2,157

4,999

PH04-A

2,275

2,275

LV09-A

1,068

4,100

PH04-B

3,275

3,275

PV09-B

1,917

4,444

LH05-A

0,544

0,544

PV09-C

3,681

3,681

PH06-A

2,704

2,704

PV09-D

2,612

2,612

PH06-B

3,408

3,408

PV09-E

2,045

2,045

LH06-A

1,743

1,743

PV10-A

2,847

11,306

PH07-A

3,171

6,146

PV10-B

2,969

8,421

PH07-B

2,365

4,924

LV10-A

1,539

6,628

PV05 PV06

PV09

PV10

PH07-C

2,874

6,066

PV10-C

3,175

9,006

PH08-A

2,548

2,548

PV11

PV11

3,608

9,380

PH08-B

2,127

2,127

PV12

PV12

3,463

11,653

LH08-A

1,497

1,497

PV13

PV13

3,447

3,447

PH08-C

2,127

2,127

PV14

PV14

3,287

3,287

PH08-D

2,464

2,464

PV15-A

2,660

8,230

LH08-B

1,834

1,834

PH08-E

2,584

2,584

PV15-B

2,653

2,653

é apresentada na Figura 11. Foi usada a letra B para identificar os blocos de coroamento e a letra E para identificar as estacas. Uma cruz indica o centro geométrico dos blocos. 41 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

PV15

O solo de fundação da obra foi caraterizado por meio de sondagens à percussão. Os perfis geotécnicos identificados nos quatro furos realizados na campanha de sondagem são


compostos por uma primeira camada de argila silto-arenosa de consistência muito mole a média, com o índice de penetração NSPT variando de 1 a 8 até a profundidade média de 10 m. A segunda camada é composta por argila silto-arenosa dura, com NSPT variando de 18 a 44, atingindo a profundidade média de 15,5 m. A terceira e mais profunda camada identificada nas sondagens é composta por solo residual silte argilo-arenoso rijo a duro com NSPT variando entre 9 e 33, atingindo a profundidade limite das sondagens igual a 20,5 m. Os blocos 1, 2, 4, 6, 7, 8, 9, 10, 17 e 22 possuem estacas com 13 metros de comprimento. Os demais blocos possuem es-

Figura 11 – Estacas do Edifício Niterói

Tabela 2 – Carregamento inicial dos blocos de estacas do Edifício Niterói Bloco

Carregamento dos Blocos

Bloco

Carregamento dos Blocos

RX (kN)

MY (kN.m)

MZ (kN.m)

RX (kN)

MY (kN.m)

MZ (kN.m)

B1

1054,5

-43,1

-36,6

B13

636,1

18,9

-38,7

B2

847,0

39,1

-14,6

B14

780,3

0,0

52,7

B3

807,1

-0,2

-50,0

B15

887,1

-36,0

-15,9

B4

744,7

-27,1

18,0

B16

1250,6

0,0

9,0

B5

1338,5

-2,9

-36,8

B17

977,0

-36,1

30,8

B6

1272,6

14,1

-35,8

B18

1091,5

0,9

-13,3

B7

1124,5

0,0

-33,7

B19

1363,5

-19,5

20,9

B8

889,6

0,0

-33,1

B20

1174,7

-38,5

42,6

B9

1043,1

-37,1

-30,6

B21

711,5

27,4

21,3

B10

888,7

34,4

-20,7

B22

971,5

0,0

22,2

B11

557,0

-19,7

-36,8

B23

894,1

-34,9

0,0

B12

832,2

-6,0

49,6

B24

884,1

35,7

0,0

Tabela 3 – Reações verticais nos pilares do Edifício Niterói Pilar 1

Reação Vertical (kN) Pórt. Ind.

Pórt. ISE

Diferença. (%)

1054,5

944,8

-10,4

Pilar

Reação Vertical (kN) Pórt. Ind.

Pórt. ISE

Diferença. (%)

13

636,1

781,8

22,9

2

847,0

672,1

-20,7

14

780,3

980,0

25,6

3

807,1

1165,6

44,4

15

887,1

924,6

4,2

4

744,7

531,2

-28,7

16

1250,6

1175,5

-6,0

5

1338,5

1149,7

-14,1

17

977,0

1157,4

18,5

6

1272,6

1169,4

-8,1

18

1091,5

770,5

-29,4

7

1124,5

1127,1

0,2

19

1363,5

1009,5

-26,0

8

889,6

1285,8

44,5

20

1174,7

1014,9

-13,6

9

1043,1

821,2

-21,3

21

711,5

1052,9

48,0

10

888,7

536,4

-39,7

22

971,5

1269,3

30,7

11

557,0

768,7

38,0

23

894,1

968,7

8,3

12

832,2

696,1

-16,4

24

884,1

1048,6

18,6

Coef.Var. Pórt. Indesl: 22,6 % 42 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Coef.Var. Pórt. ISE: 22,8 %

Média das diferenças: 22,4 %


tacas com 12 metros de comprimento. A Tabela 2 apresenta o carregamento inicial aplicado nos blocos de coroamento das estacas considerando a indeslocabilidade dos apoios da estrutura, ou seja, antes da aplicação do método de interação solo-estrutura de Aoki. São apresentadas a reação vertical (RX) e os momentos em torno dos eixos que definem o plano horizontal (MY e MZ).

5.1 Reação vertical nos pilares do edifício

5 RESULTADOS

Foram comparados os valores do esforço normal em todas as paredes do edifício a cada dois pavimentos. Do segundo ao décimo quinto pavimento foram coletados os valores do esforço normal nas barras verticais que representam as paredes. Os valores do esforço normal em cada parede para os dois modelos e as diferenças entre os valores são apresentados nas Tabelas 4, 5 e 6.

São apresentados os resultados das comparações efetuadas entre o modelo de pórtico tridimensional com apoios indeslocáveis (Pórt.Ind.) e o pórtico tridimensional com apoios flexíveis (Pórt. ISE). São comparadas as reações nos pilares, os valores de esforço normal das paredes e os recalques nos blocos de estacas.

A comparação dos valores de reações verticais nos pilares do edifício é apresentada na Tabela 3. A diferença entre os valores das reações do modelo de pórtico com apoios flexíveis (Pórt. ISE) foram calculadas em relação às reações do modelo de pórtico com apoios indeslocáveis (Pórt. Ind).

5.2 Esforço normal nas paredes do edifício

Tabela 4 – Esforço normal nas paredes do Edifício Niterói (15o, 13o e 11o pavimento) Esforço Normal (kN) 15o pvto.

Parede

Esforço Normal (kN) 13o pvto.

Pórt. Ind.

Pórt. ISE

Difer. (%) Pórt. Ind.

Pórt. ISE

PH01

-68,8

-63,6

-7,5

-202,2

-179,1

-11,4

PH02

-27,1

-26,5

-2,3

-80,3

-76,1

PH03

-207,5

-209,2

0,8

-432,1

PH04

-57,6

-55,5

-3,7

PH06

-52,1

-51,0

PH07

-184,8

Esforço Normal (kN) 11o pvto.

Difer. (%) Pórt. Ind.

Pórt. ISE

Difer. (%)

-335,4

-293,7

-12,5

-5,2

-133,7

-126,4

-5,4

-443,4

2,6

-663,1

-683,0

3,0

-175,8

-162,3

-7,7

-295,0

-270,2

-8,4

-2,2

-152,0

-148,4

-2,4

-253,2

-246,8

-2,5

-189,3

2,5

-400,6

-433,2

8,1

-606,5

-667,0

10,0

PH08-(A-F)

-114,3

-112,9

-1,3

-367,8

-364,5

-0,9

-617,8

-612,5

-0,9

PH08-(G)

-75,1

-77,0

2,5

-131,9

-131,8

-0,1

-191,4

-189,9

-0,8

PH09-A

-217,0

-211,7

-2,5

-305,2

-306,2

0,3

-386,0

-390,0

1,1

PH09-B

-105,8

-109,7

3,7

-179,7

-194,8

8,4

-254,1

-280,4

10,4

PH10

-96,6

-94,3

-2,4

-283,5

-279,5

-1,4

-465,0

-459,9

-1,1

PV01

-42,2

-40,9

-2,9

-135,7

-129,8

-4,4

-230,2

-219,7

-4,6

PV02

-48,9

-46,3

-5,3

-153,8

-138,0

-10,2

-258,7

-229,9

-11,1

PV03

-19,2

-19,6

1,7

-52,1

-51,5

-1,3

-87,2

-86,0

-1,4

PV04

-18,6

-17,2

-7,3

-52,5

-49,2

-6,3

-86,9

-80,7

-7,1

PV05

-58,8

-54,1

-8,0

-168,9

-151,8

-10,1

-275,1

-245,2

-10,9

PV06

-19,6

-18,8

-3,9

-61,9

-61,6

-0,4

-105,4

-104,5

-0,8

PV07

-33,9

-34,8

2,6

-99,8

-99,2

-0,6

-166,5

-165,6

-0,6

PV08

-27,6

-28,0

1,7

-87,5

-79,3

-9,3

-146,5

-131,4

-10,3

PV09

-164,1

-162,8

-0,8

-452,4

-447,7

-1,1

-729,4

-719,5

-1,4

PV10

-244,0

-243,9

-0,1

-358,2

-357,2

-0,3

-488,3

-485,9

-0,5

PV11

-121,8

-122,7

0,8

-200,9

-202,8

0,9

-281,7

-284,8

1,1

PV12

-122,5

-128,2

4,7

-159,1

-166,5

4,7

-201,7

-213,6

5,9

PV13

-49,8

-50,8

2,0

-153,5

-158,6

3,3

-253,2

-262,2

3,6

PV14

-47,4

-49,1

3,6

-147,5

-155,0

5,1

-247,6

-260,9

5,3

PV15

-146,5

-153,7

4,9

-327,2

-354,7

8,4

-513,0

-562,7

9,7

MÉDIA:

3,1

MÉDIA:

4,4

MÉDIA:

5,0

43 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


As maiores diferenças entre os valores dos esforços normais nas paredes do edifício ocorreram nos pavimentos inferiores, principalmente no primeiro pavimento. A maior diferença é o alívio de 32,7% na parede PH02. A diferença média (em valor absoluto) é de 13,9%. O maior alívio ocorreu nas paredes PH02, PH04, PV08 e PV04. As paredes que receberam mais carga devido à alteração do fluxo de tensões são PH09-B, PV12, PV03 e PV07. As maiores diferenças ocorreram nas paredes PH02, PH09-B, PH04, PV08 e PV04.

5.3 Recalques nos blocos de estacas Apresentam-se os recalques verticais dos blocos de estacas estimados pelo método de Aoki para as cargas dos dois modelos de pórtico. O valor do recalque de cada bloco em cada um dos pórticos e a diferença entre os valores do pórtico so-

bre apoios flexíveis em relação ao pórtico indeslocável são apresentados na Tabela 7. Informações complementares são apresentadas na Tabela 8. Os valores de recalque nos blocos no modelo de pórtico indeslocável são os recalques calculados na primeira iteração método de Aoki.

5.4 Análise dos resultados Na comparação da reação vertical dos pilares do edifício, podem ser vistas diferenças importantes causadas pela interação solo-estrutura. O fluxo de tensões foi consideravelmente alterado, causando o incremento de carga de até 48% como ocorreu no pilar P21 e o alívio de até 40%, como no pilar P10. Nota-se que alguns dos maiores incrementos de carga ocorreram em pilares originalmente menos carregados (P21, P11, P13 e P14) e em pilares com nível interme-

Tabela 5 – Esforço normal nas paredes do Edifício Niterói (9 o, 7o e 5o pavimento) Esforço Normal (kN) 7o pvto.

Esforço Normal (kN) 9o pvto.

Parede PH01

Pórt. Ind.

Pórt. ISE

Difer. (%) Pórt. Ind.

-467,2

-407,1

-12,9

-596,7

Pórt. ISE

Esforço Normal (kN) 5o pvto.

Difer. (%) Pórt. Ind.

-519,6

-12,9

-721,6

Pórt. ISE

Difer. (%)

-631,1

-12,5

PH02

-187,7

-177,0

-5,7

-244,1

-229,2

-6,1

-303,1

-283,9

-6,3

PH03

-896,0

-924,1

3,1

-1129,8

-1165,5

3,2

-1364,2

-1406,2

3,1

PH04

-417,1

-379,4

-9,0

-545,4

-490,8

-10,0

-682,3

-603,2

-11,6

PH06

-357,9

-348,7

-2,6

-469,4

-457,7

-2,5

-596,0

-583,0

-2,2

PH07

-809,5

-897,4

10,9

-1009,4

-1124,2

11,4

-1200,2

-1339,6

11,6

PH08-(A-F)

-865,4

-859,0

-0,7

-1107,5

-1102,5

-0,5

-1338,7

-1338,8

0,0

PH08-(G)

-251,4

-248,6

-1,1

-311,6

-306,4

-1,7

-372,9

-362,8

-2,7

PH09-A

-467,7

-473,9

1,3

-551,0

-558,9

1,4

-632,3

-640,5

1,3

PH09-B

-329,3

-366,8

11,4

-405,8

-454,3

12,0

-486,2

-545,6

12,2

PH10

-645,3

-639,0

-1,0

-824,7

-817,6

-0,8

-1003,5

-996,7

-0,7

PV01

-325,2

-310,1

-4,7

-421,1

-401,0

-4,8

-518,3

-492,8

-4,9

PV02

-365,0

-323,5

-11,4

-474,1

-419,9

-11,4

-591,3

-524,1

-11,4

PV03

-122,6

-120,9

-1,3

-158,1

-156,4

-1,1

-194,0

-192,6

-0,8

PV04

-122,2

-112,5

-8,0

-159,3

-145,0

-9,0

-199,8

-179,2

-10,3

PV05

-372,4

-330,4

-11,3

-452,5

-400,3

-11,5

-500,8

-442,2

-11,7

PV06

-149,0

-147,6

-0,9

-192,6

-190,9

-0,9

-236,9

-234,4

-1,0

PV07

-233,3

-232,4

-0,4

-299,1

-298,5

-0,2

-361,7

-361,8

0,0

PV08

-207,8

-184,7

-11,2

-274,6

-240,8

-12,3

-353,4

-304,5

-13,8

PV09

-996,6

-984,0

-1,3

-1255,8

-1244,6

-0,9

-1505,8

-1503,0

-0,2

PV10

-627,4

-621,9

-0,9

-773,0

-760,9

-1,6

-926,5

-902,6

-2,6

PV11

-364,5

-369,4

1,3

-448,8

-456,4

1,7

-533,4

-546,0

2,4

PV12

-246,0

-264,0

7,3

-291,6

-317,2

8,8

-341,9

-377,8

10,5

PV13

-350,2

-362,6

3,6

-445,3

-460,2

3,4

-538,9

-554,3

2,9

PV14

-347,0

-365,7

5,4

-446,0

-469,9

5,4

-545,7

-574,8

5,3

-699,4

-772,5

10,4

-886,4

-985,0

11,1

-1074,7

-1202,8

12,0

MÉDIA:

5,4

MÉDIA:

5,6

MÉDIA:

5,9

PV15

44 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


diário de carregamento (P8, P22, P3 e P24). Por outro lado, os maiores alívios de carga se deram em alguns dos pilares originalmente mais carregados (P19, P18 e P5) e em alguns pilares com nível intermediário de carregamento (P10, P9, P2 e P12). Porém, o pilar P4 se mostrou uma exceção a esta situação, sendo um dos pilares originalmente menos carregados e apresentando um alívio de carga de 29% no pórtico sobre apoios flexíveis. A comparação do esforço normal nas paredes do edifício também levou a algumas informações relevantes. Primeiramente pode-se notar que as diferenças médias entre os valores dos esforços normais dos dois primeiros pavimentos são muito maiores do que as diferenças médias nos pavimentos mais elevados. Esta situação indica que os primeiros pavimentos são muito mais afetados pela interação solo-estrutura do que

os pavimentos superiores, o que está dentro do esperado, por ser a região mais próxima das fundações. Em relação à importância das diferenças entre os valores de esforço normal dos dois modelos, no primeiro pavimento há a ocorrência de diferenças de mais de 30% em algumas paredes, sendo alívio em algumas e aumento de carga em outras. Na comparação dos recalques, o efeito da interação solo-estrutura que fica mais evidente é a grande homogeneização que ocorre no recalque vertical dos blocos de estacas, indicado pela grande diferença que existe entre os valores dos coeficientes de variação calculados para os dois modelos e pela diminuição de 91% do recalque diferencial máximo no pórtico sobre apoios flexíveis. O valor do coeficiente de variação dos recalques passou de 20% no pórtico indeslocável para apenas 2% no pórtico com interação solo-estrutura.

Tabela 6 – Esforço normal nas paredes do Edifício Niterói (3o, 2o e 1o pavimento) Esforço Normal (kN) 3o pvto.

Parede

Esforço Normal (kN) 2o pvto.

Pórt. Ind.

Pórt. ISE

Difer. (%) Pórt. Ind.

Pórt. ISE

PH01

-839,2

-740,5

-11,8

-941,5

-824,9

-12,4

PH02

-363,8

-343,8

-5,5

-414,8

-398,5

PH03

-1608,0

-1655,3

2,9

-1799,2

PH04

-821,1

-708,4

-13,7

PH06

-757,4

-747,1

PH07

-1333,5

PH08(A-F)

Esforço Normal (kN) 1o pvto.

Difer. (%) Pórt. Ind.

Pórt. ISE

Difer. (%)

-934,4

-793,9

-15,0

-4,0

-383,7

-258,3

-32,7

-1853,4

3,0

-2771,2

-2814,2

1,6

-891,6

-767,8

-13,9

-933,1

-649,4

-30,4

-1,4

-863,9

-860,5

-0,4

-1124,8

-1172,1

4,2

-1487,5

11,6

-1276,4

-1425,9

11,7

-912,3

-880,9

-3,4

-1545,1

-1551,3

0,4

-1587,2

-1593,5

0,4

-1216,8

-1104,6

-9,2

PH08(G)

-446,8

-424,4

-5,0

-504,0

-461,3

-8,5

-555,1

-424,5

-23,5

PH09-A

-698,9

-704,0

0,7

-723,6

-736,2

1,7

-856,0

-946,4

10,6

PH09-B

-580,4

-654,2

12,7

-631,9

-718,4

13,7

-561,9

-735,7

30,9

PH10

-1166,5

-1163,8

-0,2

-1176,3

-1176,5

0,0

-914,8

-996,8

9,0

PV01

-627,7

-597,8

-4,8

-723,6

-697,4

-3,6

-960,3

-958,8

-0,2

PV02

-729,9

-647,8

-11,2

-749,8

-666,1

-11,2

-594,7

-531,8

-10,6

PV03

-222,3

-222,6

0,1

-219,7

-219,9

0,1

-254,9

-310,1

21,6

PV04

-251,5

-218,7

-13,1

-303,6

-248,5

-18,1

-493,8

-371,3

-24,8

PV05

-483,1

-426,9

-11,6

-415,7

-372,0

-10,5

-175,3

-176,6

0,8

PV06

-295,1

-289,6

-1,9

-381,1

-367,3

-3,6

-768,8

-711,4

-7,5

PV07

-413,3

-416,2

0,7

-441,9

-452,9

2,5

-500,6

-589,4

17,7

PV08

-462,4

-390,2

-15,6

-516,5

-442,0

-14,4

-823,6

-613,5

-25,5

PV09

-1743,3

-1757,8

0,8

-1874,4

-1890,0

0,8

-2043,6

-2298,0

12,5

PV10

-1090,9

-1044,5

-4,3

-1170,2

-1102,3

-5,8

-996,5

-877,6

-11,9

PV11

-617,1

-639,5

3,6

-680,8

-721,4

6,0

-864,1

-995,8

15,2

PV12

-426,8

-483,3

13,2

-549,5

-629,2

14,5

-816,7

-1004,6

23,0

PV13

-630,4

-642,1

1,9

-651,2

-655,9

0,7

-484,1

-468,5

-3,2

PV14

-646,8

-680,2

5,2

-671,2

-703,8

4,9

-431,1

-435,6

1,1

PV15

-1273,5

-1437,2

12,9

-1390,6

-1564,5

12,5

-1649,7

-1902,0

15,3

MÉDIA:

6,4

MÉDIA:

6,9

MÉDIA:

13,9

45 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


Tabela 7 – Recalques estimados dos blocos de estacas do Edifício Niterói Bloco

Recalque (mm) Pórt. Ind.

Pórt. ISE

Diferença (%)

Bloco

Recalque (mm) Pórt. Ind.

Pórt. ISE

Diferença (%)

1

31,0

27,2

-12,3

13

25,4

26,6

4,9

2

32,4

27,1

-16,3

14

23,0

26,1

13,5

3

19,5

26,1

34,1

15

24,2

26,1

7,7

4

33,6

27,3

-18,9

16

26,3

26,1

-0,9

5

30,3

26,6

-12,1

17

23,5

26,8

13,7

6

28,0

26,3

-6,1

18

33,7

27,1

-19,4

7

25,8

26,1

1,3

19

33,6

26,8

-20,2

8

17,4

25,7

47,9

20

29,1

26,6

-8,8

9

32,7

27,2

-16,8

21

18,8

25,9

37,5

10

37,8

27,6

-27,2

22

19,6

25,8

31,8

11

24,7

26,6

7,3

23

26,4

26,7

1,2

12

30,8

27,1

-12,3

24

24,5

26,5

8,3

Tabela 8 – Informações complementares sobre os recalques dos blocos de estacas Informação complementar

Pórt. Ind. Pórt. ISE Diferença (%)

Recalque Máximo (mm)

37,8

27,6

-27,1

Recalque Diferencial Máximo (mm):

20,4

1,8

-91,1

Recalque Médio (mm)

27,2

26,6

-2,8

Coeficiente de Variação (%)

20,0

1,9

-90,3

Além disto, houve também a redução de 27% do recalque máximo calculado.

CONCLUSÕES A interação solo-estrutura causou alteração importante do fluxo de tensões do edifício de paredes de concreto e, portanto, não deve ser desprezada no dimensionamento dos elementos estruturais. As paredes do primeiro pavimento foram muito mais afetadas pela interação solo-estrutura do que as paredes dos pavimentos superiores. Já a alteração do fluxo de tensões causada pela interação solo-­ estrutura gerou mudanças consideravelmente altas do esforço normal das paredes do primeiro pavimento e das reações verticais dos apoios do edifício. As diferenças são elevadas do ponto de vista de projeto e, por isso, não devem ser desprezadas no dimensionamento dos elementos estruturais. A consideração da interação solo-estrutura causou a homogeneização dos valores estimados para os recalques dos apoios do 46 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

edifício de paredes de concreto, com a diminuição dos recalques máximos e principalmente dos recalques diferenciais.

REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 16055: Parede de concreto moldada no local para a construção de edificações – Requisitos e procedimentos. Rio de Janeiro, 2012. AOKI, Nelson. Considerações sobre o projeto e execução de fundações profundas. Seminário de fundações. Sociedade Mineira de Engenharia, Belo Horizonte, 1979. AOKI, Nelson. Modelo simples de transferência de carga de estaca vertical sujeita a carga axial de compressão. In: CICLO DE PALESTRAS SOBRE ENGENHARIA DE FUNDAÇÕES, 3., 1987, Recife. Anais... ABMS/NR, 1987. AOKI, Nelson; LOPES, Francisco de Rezende. Estimating stresses and settlements due to deep foundations by the theory of elasticity. In: 5th PAN AMERICAN CONFERENCE ON SOIL MECHANICS AND FOUNDATION ENGINEERING, 1975, Buenos Aires. Proceedings,., Buenos Aires, Tomo. I, p. 377-386. AOKI, Nelson; VELLOSO, Dirceu de Alencar. An approximate method to estimate the bearing capacity of piles. In: 5th PAN AMERICAN CONFERENCE ON SOIL MECHANICS AND FOUNDATION ENGINEERING, 1975, Buenos Aires. Proceedings, Tomo. I, p. 367-376. HRENNIKOFF, Alexander. Solution of problems of elasticity by the framework method. In: Journal of Applied Mechanics. Hong Kong, v.8, p.169-175, dez. 1941. SCHIEL, Frederico. Estática de estaqueamentos. 2. ed. São Carlos: EESC-USP, 1957. TESTONI, Elias. Análise estrutural de edifícios de paredes de concreto por meio de pórtico tridimensional sobre apoios elásticos. 2013. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Estruturas) – Escola de Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, São Carlos, SP, 2000. Disponível em: <http://www. set.eesc.usp.br/static/media/producao/2013ME_EliasTestoni.pdf>. Acesso em: 29 mar. 2016.


47 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


ARTIGO

CUIDADOS E MITIGAÇÕES AMBIENTAIS NA CONSTRUÇÃO DE HIDROVIAS Álvaro Rodrigues dos Santos Geólogo – Consultor em Geologia de Engenharia e Geotecnia santosalvaro@uol.com.br

Convidado pelo Dr. Édis Milaré, reconhecida referência nacional em Direito Ambiental, e equipe para colaborar na elaboração da obra INFRAESTRUTURA NO DIREITO DO AMBIENTE, lançada nesse início de 2016 pela Revista dos Tribunais como um importante cabedal de informações a orientar ações jurídicas na área ambiental associada a obras civis, produzi o conteúdo intitulado “Hidrovias Interiores: impactos derivados de obras civis e hidráulicas sobre o meio físico geológico”. O presente artigo tem como referência o citado conteúdo e dirige-se especialmente a profissionais de Geologia e Engenharia Geotécnica que de alguma forma se envolvem em obras hidroviárias. Seu objetivo está em colaborar para o estabelecimento de uma rotina de trabalho que contribua para uma melhor articulação e abrangência das atividades desses profissionais.

vias, por sua capacidade de substituir veículos movidos a derivados de petróleo que trafegam normalmente pela rede rodoviária. De outra parte, para projetos que se mostrem estrategicamente indispensáveis ao desenvolvimento econômico e social de uma região e do País deve haver um máximo esforço conjunto entre empreendedores e sociedade no sentido de viabilizá-los ambientalmente, posto que, nesse caso, devem ser paralelamente considerados os impactos socioeconômicos positivos e decorrentes de sua implantação e as perdas sociais e econômicas de sua não implantação. Mais uma vez o foco desse esforço viabilizador deverá estar voltado para a variável tecnológica e logística na redução dos impactos e em eventuais providências compensatórias. Dadas as características hidrográficas de nosso país, o transporte hidroviário se destaca por suas indiscutíveis virtudes frente a outros modais, pelo que nosso esforço em viabilizá-­ lo ambientalmente justifica o redobrado empenho.

1 QUESTÕES CONCEITUAIS Toda e qualquer intervenção humana no meio físico e biológico natural ocasiona impactos ambientais locais e regionais, sejam mais severos, sejam toleráveis, sejam quase imperceptíveis. Antes por um ato de inteligência do que por uma obrigação legal, impõe-se à sociedade humana reduzir ao máximo os impactos ambientais previstos em um determinado empreendimento, o que se alcança por meio de expedientes logísticos e tecnológicos de projeto, de plano de obra e operacionais. Frente aos impactos mesmo assim ainda resistentes, cabe a adoção de ações compensatórias de recuperação ambiental na própria área de interferência ou em outras áreas críticas devidamente indicadas pelos órgãos ambientais. Há que se considerar também na avaliação ambiental de um empreendimento seus eventuais impactos ambientais positivos. Exemplo apropriado são as ferrovias e as hidro48 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Foto 01 – Principais eixos hidroviários no País


2 DEFINIÇÕES E CONCEITOS

Hidrovias interiores: rios, lagos, canais, lagoas, baías, angras, enseadas e áreas marítimas consideradas abrigadas, conforme Artigo 2º, Inciso 12 da lei nº 9.537, de 11 de dezembro de 1997. Impactos Ambientais: considera-se impacto ambiental qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam: I – a saúde, a segurança e o bem-estar da população; II – as atividades sociais e econômicas; III – a biota; IV – as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; V – a qualidade dos recursos ambientais. (conforme Artigo 1º da RESOLUÇÃO CONAMA Nº 001, de 23 de janeiro de 1986) Documentos legais RESOLUÇÃO CONAMA Nº 237, de 19 de dezembro de 1997 Art. 1º – Para efeito desta resolução são adotadas as seguintes definições: I – Licenciamento Ambiental: procedimento administrativo pelo qual o órgão ambiental competente licencia a localização, instalação, ampliação e a operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras ou daquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental, considerando as disposições legais e regulamentares e as normas técnicas aplicáveis ao caso. II – Licença Ambiental: ato administrativo pelo qual o órgão ambiental competente, estabelece as condições, restrições e medidas de controle ambiental que deverão ser obedecidas pelo empreendedor, pessoa física ou jurídica, para localizar, instalar, ampliar e operar empreendimentos ou atividades utilizadoras dos recursos ambientais consideradas efetivas, potencialmente poluidoras ou aquelas que, sob qualquer forma, possam causar degradação ambiental. III – Estudos Ambientais: são todos e quaisquer estudos relativos aos aspectos ambientais relacionados à localização, instalação, operação e ampliação de uma atividade ou empreendimento, apresentado como subsídio para a análise da licença requerida, tais como: relatório ambiental, plano e projeto de controle ambiental, relatório ambiental preliminar, diagnóstico ambiental, plano de manejo, plano de recuperação de área degradada e análise preliminar de risco. IV – Impacto Ambiental Regional: é todo e qualquer impacto ambiental que afete diretamente (área de influência direta do projeto), no todo ou em parte, o território de dois ou mais Estados. Art. 8º - O Poder Público, no exercício de sua competência de controle, expedirá as seguintes licenças (RESOLUÇÃO CONAMA Nº 237, de19 de dezembro de 1997): I – LP (Licença Prévia) – concedida na fase preliminar do planejamento do empreendimento ou atividade aprovando sua localização e concepção, atestando a viabilidade ambiental e estabelecendo os requisitos básicos e condicionantes a se49 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

rem atendidos nas próximas fases de sua implementação; II – LI (Licença de Instalação) – autoriza a instalação do empreendimento ou atividade de acordo com as especificações constantes dos planos, programas e projetos aprovados, incluindo as medidas de controle ambiental e demais condicionantes, da qual constituem motivo determinante; III – LO (Licença de Operação) – autoriza a operação da atividade ou empreendimento, após a verificação do efetivo cumprimento do que consta das licenças anteriores, com as medidas de controle ambiental e condicionantes determinados para a operação. Parágrafo único: as licenças ambientais poderão ser expedidas isolada ou sucessivamente, de acordo com a natureza, características e fase do empreendimento ou atividade.

3 OBRIGATORIEDADE DE LICENCIAMENTO AMBIENTAL • “São sujeitas ao Estudo Prévio de Impacto Ambiental as Obras ou atividades potencialmente causadoras de significativa degradação do meio ambiente”. Artigo 225 da Constituição Federal. • “São sujeitos ao Estudo Prévio de Impacto Ambiental os estabelecimentos e atividades utilizadoras de recursos ambientais, consideradas efetiva e potencialmente poluidoras ou capazes de causar degradação ambiental, às quais estarão sujeitas ao licenciamento ambiental. Artigo 10º da Lei 6.938/81. • ATIVIDADES OU EMPREENDIMENTOS SUJEITOS AO LICENCIAMENTO AMBIENTAL. Anexo I DA RESOLUÇÃO CONAMA Nº 237, de 19 de dezembro de 1997. ............................................................................ ............................................................................ Obras civis - rodovias, ferrovias, hidrovias, metropolitanos - barragens e diques - canais para drenagem - retificação de curso de água - abertura de barras, embocaduras e canais - transposição de bacias hidrográficas - outras obras de arte

Foto 02 – Porto hidroviário de Miritituba, rio Tapajós – Bacia Amazônica


• DECRETO Nº 8.437, DE 22 DE ABRIL DE 2015 Art. 1º Este Decreto estabelece, em cumprimento ao disposto no art. 7º, caput, inciso XIV, “h”, e parágrafo único, da Lei Complementar nº 140, de 8 de dezembro de 2011, a tipologia de empreendimentos e atividades cujo licenciamento ambiental será de competência da União. Art. 2º Para os fins deste decreto, adotam-se as seguintes definições: ............................................................................ ............................................................................ XXIII – intervenções hidroviárias, assim compreendidas: a) implantação de hidrovias – obras e serviços de engenharia para implantação de canal de navegação em rios com potencial hidroviário com o objetivo de integração intermodal; e b) ampliação de capacidade de transporte – conjunto de ações que visam a elevar o padrão navegável da hidrovia, com a expansão do seu gabarito de navegação por meio do melhoramento das condições operacionais, da segurança e da disponibilidade de navegação, tais como, dragagem de aprofundamento e alargamento de canal, derrocamento, alargamento e proteção de vão de pontes, retificação de meandros e dispositivos de transposição de nível; XXIV – dragagem – obra ou serviço de engenharia que consiste na limpeza, desobstrução, remoção, derrocamento ou escavação de material do fundo de rios, lagos, mares, baías e canais.

Foto 03 – Hidrovia Araguaia-Tocantins 50 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

CONCLUSÃO (REFERENTE AO ITEM 3) As legislações nominadas não deixam efetivamente claro sobre a necessidade ou não do licenciamento ambiental da hidrovia enquanto projeto global. Em que pese a determinação de caráter geral constante da Resolução Conama nº 237, há por jurisprudência e atual tendência, o entendimento de que as hidrovias, entendidas como modal de transporte, não demandam licenciamento ambiental genérico. No âmbito desse entendimento os licenciamentos são exigidos especificamente para as obras civis e hidráulicas ambientalmente impactantes associadas à implantação, manutenção e operação das hidrovias.

4 ATIVIDADES E SERVIÇOS ASSOCIADOS A UMA HIDROVIA QUE DEVEM SER OBJETO DE LICENCIAMENTO AMBIENTAL Por sua relevância no empreendimento e por sua capacidade potencial de gerar impactos ambientais, são consideradas como objeto obrigatório de estudos e licenciamento ambiental as seguintes atividades e serviços envolvidos nas etapas de implantação, operação e manutenção de uma hidrovia: I – Instalação de Canteiro de Obras – Implantação da infraestrutura e da logística básicas para a condução das obras: escritórios, alojamentos, refeitório, oficinas, garagens, almoxarifado/depósitos de materiais etc. II – Derrocamento – Serviços subaquáticos de desmonte e remoção de rochas ou bancos rígidos de areia ou concreções (materiais de terceira categoria) submersos ou afloran-


tes com a finalidade de prover canal com dimensões necessárias à livre navegação desejada. III – Dragagem e Desassoreamento, Desobstrução e Limpeza – Serviços de retirada de sedimentos inconsolidados (lodos, argilas, siltes, areias, cascalhos), restos vegetais, objetos, detritos vários, para execução e manutenção dos parâmetros geométricos do canal de navegação. Existem dois grandes grupos de dragas, as mecânicas e as hidráulicas. As mecânicas aplicam-se especialmente a sedimentos coesivos (por exemplo, bancos de argila), a cascalhos de grande dimensão granulométrica e a detritos vegetais. As dragas hidráulicas a sedimentos não coesivos (siltes, areias, cascalhos). As dragas hidráulicas trabalham por sucção, podendo ter um dispositivo desagregador na extremidade como facilitador da dragagem. IV – Abertura de canais não naturais a seco e retificação de cursos – Escavação a seco de canais de navegação como corta-rios ou expedientes de transposição entre diferentes bacias hidrográficas. Serviços de eliminação ou redução de raios de curvatura de cursos naturais ou de trechos em corredeiras para permitir a livre navegação desejada.

V – Barramentos para navegação, fechamento de braços e eclusas – Os barramentos são dispositivos hidráulicos de engenharia para permitir a navegação em trechos de maior declividade ou para fechamento de braços (em casos em que o rio se divide em dois ou mais braços, pode-se fechar braços não essenciais com o objetivo de aumentar o volume de água no braço que recebeu o canal de navegação e aumentar sua capacidade de transportar sedimentos em suspensão). As eclusas são dispositivos hidráulicos que possibilitam a continuidade de curso em níveis altimétricos diferentes.

Foto 04 – Uma concepção de projeto de retificação

Foto 06 – Fechamento de um braço

Foto 07 – Eclusa da Barragem de Tucuruí 51 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Foto 05 – Sequência de barramentos e eclusas possibilitando a navegação em trechos de alta declividade (Filippo 1999)


VI – Espigões e diques – Estruturas construídas com o objetivo de interferir da dinâmica fluvial, concentrando as águas e proporcionando um nível mais alto, protegendo o canal dos efeitos de assoreamento, interferindo no balanço espacial erosão/sedimentação, protegendo áreas marginais baixas contra inundações. Os diques são normalmente transversais ao eixo fluvial e os espigões são normalmente paralelos a esse eixo.

VII – Portos, terminais, estaleiros, oficinas – instalações integrantes do projeto hidroviário situadas às margens dos cursos d’água e que poderão exigir para sua instalação, operação e manutenção os mesmos serviços de derrocamento, desassoreamento e dragagem utilizados para o canal de navegação.

VIII – Operação e Manutenção – período de real operação hidroviária em que são gerados outros impactos, como produção de ondas, havendo necessidade de permanentes serviços de manutenção do canal de navegação e solução/ correção de problemas.

5 ASPECTOS ESSENCIAIS DE MAIOR SIGNIFICADO AMBIENTAL NAS ATIVIDADES E SERVIÇOS ASSOCIADOS A UMA HIDROVIA QUE DEVEM SER OBJETO DE LICENCIAMENTO AMBIENTAL Os impactos ambientais característicos de um determinado empreendimento estão diretamente associados aos diferentes tipos de solicitações que esse empreendimento promove junto ao meio natural (físico e biológico) em que é implantado e opera. Considere-se que especialmente em um país hidrograficamente rico como o Brasil, as hidrovias normalmente aproveitam-se de cursos d’água ou lagos preexistentes, sendo poucas as situações em que se faz necessária a abertura de um canal a seco que futuramente venha a acumular a água necessária para a operação hidroviária. A seguir são devidamente planilhados os dados referentes às ações impactantes, aos impactos potenciais e às devidas medidas de mitigação para cada uma das atividades e serviços envolvidos nas etapas de implantação, operação e manutenção de uma hidrovia.

HIDROVIAS: IMPACTOS DERIVADOS DE OBRAS CIVIS E HIDRÁULICAS SOBRE O MEIO FÍSICO GEOLÓGICO. MEDIDAS MITIGADORAS - Planilha I Tipo de atividade

Ações impactantes

Impactos potenciais

Instalação de Canteiro de Obras e Acessos

- desmatamento

- processos erosivos

- fossas sépticas

- processos assoreantes

Planilha I

- produção de efluentes

- contaminação de solos

- produção de resíduos e lixo

- contaminação de águas de superfície - contaminação de água subterrânea

Mitigação - escolha de local com baixa suscetibilidade de gerar os impactos potenciais descritos - menor desmatamento possível - execução imediata de serviços de inibição e controle da erosão: sistemas de drenagem, proteção de superfícies expostas de solo - adoção de sistemas de coleta e tratamento de efluentes sanitários - adoção de sistemas de coleta, acumulação e disposição externa de efluentes líquidos - adoção de sistemas de coleta, remoção e disposição externa de todos os tipos de resíduos sólidos - Plano de Recuperação de Área Degradada para ser implementado após a desmobilização

52 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


HIDROVIAS: IMPACTOS DERIVADOS DE OBRAS CIVIS E HIDRÁULICAS SOBRE O MEIO FÍSICO GEOLÓGICO. MEDIDAS MITIGADORAS - Planilha II Tipo de atividade

Derrocamento Planilha II

Ações impactantes

Impactos potenciais

- ondas de choque - risco de morte de fauna aquática hidrodinâmicas de alta e danos estruturais especialmente intensidade produzidas por no caso de uso de explosivos detonações subaquáticas - morte ou afugentamento da - produção de perturbafauna aquática devido às alterações ções no ecossistema duran- nas condições de habitat e perturte o período de obra bações temporárias no ecossistema - introdução de alterações na dinâmica fluvial - produção de efluentes e resíduos - produção de rejeito rochoso - alterações de habitat subaquático - ocupação de área natural para bota-fora

Mitigação - proceder levantamento prévio das condições naturais de habitat subaquático de forma a permitir ao projeto a adoção de medidas redutoras e compensadoras desse impacto

- estudo completo da dinâmica fluvial da região fluvial de - alterações na dinâmica fluvial com influência e determinação das decorrentes mudanças no binômio alterações que serão promovierosão/assoreamento das com a execução da obra. Projeto deverá absorver medi- necessidade de intervenção e das de redução e correto equaocupação de área natural para cionamento desse impacto disposição do material rochoso produzido - sempre que possível adotar técnicas de desmonte por - risco de contaminação das águas meios mecânicos e hidráulicos fluviais por fluidos utilizados na movimentação e lubrificação de - somente utilizar o método maquinários de desmonte por explosivos em situações muito especiais - para esses casos utilizar planos de fogo controlado, barreiras pneumáticas e cortinas de bolha - adotar monitoramento sismográfico para controle de intensidade de ondas de choque - conceber e implantar plano de recolhimento de efluentes e resíduos - locação adequada de área de bota-fora para receber o material resultante do derrocamento. Se possível, utilizar esse material em obras complementares onde se mostre apropriado

HIDROVIAS: IMPACTOS DERIVADOS DE OBRAS CIVIS E HIDRÁULICAS SOBRE O MEIO FÍSICO GEOLÓGICO. MEDIDAS MITIGADORAS - Planilha III Tipo de atividade Dragagem, Desassoreamento Desobstrução

53 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Ações impactantes

Impactos potenciais

- produção de perturbações no ecossistema durante o período de obra

- risco de morte e/ou afugentamento de fauna aquática devido às alterações nas condições de habitat, aumento de turbidez e perturbações temporárias e definitivas no ecossistema

- aumento da turbidez - introdução de alterações na dinâmica fluvial

Mitigação - proceder levantamento prévio das condições naturais de habitat subaquático de forma a permitir ao projeto a adoção de medidas redutoras e compensadoras desse impacto


HIDROVIAS: IMPACTOS DERIVADOS DE OBRAS CIVIS E HIDRÁULICAS SOBRE O MEIO FÍSICO GEOLÓGICO. MEDIDAS MITIGADORAS - Planilha III Tipo de atividade

Ações impactantes - alterações de habitat subaquático

Limpeza

- produção de efluentes e resíduos

Planilha III

- produção de rejeitos granulares, turfosos e vegetais - ocupação de área natural para bota-fora

Impactos potenciais - alterações na dinâmica fluvial com decorrentes mudanças no binômio erosão/ assoreamento

Mitigação - estudo completo da dinâmica fluvial da região fluvial de influência e determinação das alterações que serão promovidas com a execução da obra. Projeto deverá absorver medidas de redução e correto equacionamento desse impacto

- necessidade de intervenção e ocupação - conceber e implantar plano de recolhimende área natural para to de efluentes e resíduos disposição do material produzido - locação adequada de área de bota-fora para receber o material resultante das ope- risco de contamina- rações. Se possível, utilizar esse material ção das águas fluviais em obras complementares onde se mostre por fluidos utilizados apropriado na movimentação e lubrificação de maquinários

HIDROVIAS: IMPACTOS DERIVADOS DE OBRAS CIVIS E HIDRÁULICAS SOBRE O MEIO FÍSICO GEOLÓGICO. MEDIDAS MITIGADORAS - Planilha IV Tipo de atividade

Ações impactantes - ocupação e desmatamento de faixa de terreno natural

Abertura de canais a seco e Retificação de cursos Planilha IV

Impactos potenciais

Mitigação

- grande impacto no ecossistema de superfície durante as obras

- proceder levantamento prévio das condições naturais de habitat subaquático de forma a permitir ao projeto a adoção de medidas redutoras e compensadoras desse impacto

- instalação de canteiro - alteração regional de obras e suas decor- dos fluxos de água rências ambientais superficiais e subterrâneos - abertura de estradas de acesso - risco para flora e fauna fluviais com altera- movimentação de ção das condições de maquinário pesado habitat - escavação de materiais terrosos e rochosos com uso de explosivos e técnicas mecânicas

- introdução de novas dinâmicas no binômio erosão/assoreamento

- adotar monitoramento sismográfico para controle de intensidade de ondas de choque produzida por uso de explosivos

- ação de processos erosivos sobre os taludes de cortes em solo

- imediata proteção dos taludes de solo concomitante com o aprofundamento das escavações

- exposições dos taludes de solos escavados a processos erosivos - necessidade de intervenção e ocupação - operações de rebaixa- de área natural para mento do lençol freático disposição do material rochoso produzido - produção de grande volume de rejeitos - risco de contaminaterrosos e rochosos ção de solos e águas fluviais e subterrâneas - ocupação de área por fluidos utilizados natural para disposição na movimentação e de rejeitos produzidos lubrificação de maquinários - introdução de alterações na hidráulica fluvial

54 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

- estudo completo da dinâmica fluvial da região fluvial de influência e determinação das alterações que serão promovidas com a execução da obra. Projeto deverá absorver medidas de redução e correto equacionamento desse impacto, incluindo serviços de proteção de margens

- conceber e implantar plano de recolhimento de efluentes e resíduos - locação adequada de área de bota-fora para receber o material resultante das escavações. Se possível, utilizar esse material em obras complementares onde se mostre apropriado - implementar plano de recuperação de áreas degradadas após término das obras


HIDROVIAS: IMPACTOS DERIVADOS DE OBRAS CIVIS E HIDRÁULICAS SOBRE O MEIO FÍSICO GEOLÓGICO. MEDIDAS MITIGADORAS - Planilha V Tipo de atividade

Ações impactantes

Espigões e Diques

Impactos potenciais

Mitigação

- instalação de canteiro de obras

- desmatamentos e exposição - adoção dos cuidados estipulados na de solos à erosão instalação do canteiro de obras (Planilha I) - instalação e explora- risco de morte e/ou afugenção de áreas de emtamento de fauna aquática - proceder levantamento prévio préstimo devido às alterações nas con- das condições naturais de habitat dições de habitat e perturba- abertura de estradas ções temporárias e definitivas subaquático de forma a permitir ao projeto a adoção de medidas de acesso no ecossistema redutoras e compensadoras - movimentação de - alterações na dinâmica desse impacto maquinário pesado fluvial com decorrentes mudanças no binômio erosão/ - estudo completo da dinâmica - produção de efluentes assoreamento fluvial da região fluvial de influência e e resíduos determinação das alterações - intervenção com desmataque serão promovidas com a execução mento e escavações em áreas da obra. Projeto deverá absorver me- intervenção direta na de empréstimo didas de redução e correto dinâmica fluvial equacionamento desse impacto, - risco de contaminação das incluindo serviços de proteção - perturbações no águas fluviais por fluidos uti- de margens ecossistema durante o lizados na movimentação e período de obra lubrificação de maquinários - monitorar impactos erosivos e assoreadores e aplicar programa de proteção de margens

Planilha V

- adotar monitoramento sismográfico para controle de intensidade de ondas de choque produzida por uso de explosivos nas áreas de empréstimo - conceber e implantar plano de recolhimento de efluentes e resíduos - locação adequada de área de bota-fora para receber rejeitos resultantes das escavações. Se possível, utilizar esse material em obras complementares onde se mostre apropriado - adotar plano de recuperação de áreas degradadas após término das obras junto ao canteiro de obras e áreas de empréstimo

HIDROVIAS: IMPACTOS DERIVADOS DE OBRAS CIVIS E HIDRÁULICAS SOBRE O MEIO FÍSICO GEOLÓGICO. MEDIDAS MITIGADORAS - Planilha VI Tipo de atividade

Ações impactantes

Barramentos e Eclusas

- instalação de canteiro de obras

Planilha VI

- instalação e exploração de áreas de empréstimo

Impactos potenciais - desmatamentos e exposição de solos à erosão

- risco de morte e/ou afugentamento de fauna aquática devido às drásticas - abertura de estradas de alterações nas condições acesso de habitat e perturbações temporárias e definitivas no - movimentação de ma- ecossistema quinário pesado

55 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Mitigação - adoção dos cuidados estipulados na instalação do canteiro de obras (Planilha I)


HIDROVIAS: IMPACTOS DERIVADOS DE OBRAS CIVIS E HIDRÁULICAS SOBRE O MEIO FÍSICO GEOLÓGICO. MEDIDAS MITIGADORAS - Planilha VI Tipo de atividade

Ações impactantes

Barramentos e Eclusas

- produção de efluentes e resíduos

Planilha VI

- intervenção direta na dinâmica fluvial - desmatamento da área do futuro lago

Impactos potenciais

Mitigação

- alterações na dinâmica fluvial com decorrentes mudanças no binômio erosão/ assoreamento

- proceder levantamento prévio das condições naturais de habitat subaquático de forma a permitir ao projeto a adoção de medidas redutoras e compensadoras desse impacto

- intervenção com desmatamento e escavações em áreas de empréstimo

- estudo completo da dinâmica fluvial da região fluvial de influência e determinação das altera- formação de lago - risco de contaminação das ções que serão promovidas com águas fluviais por fluidos uti- a execução da obra. Projeto deverá - ação e variações rápidas lizados na movimentação e absorver medidas de redução e corredo nível d’água do lago lubrificação de maquinários to equacionamento desse impacto, incluindo serviços de - perda de área natural a céu proteção de margens aberto pelo afogamento promovido pelo lago formado - adotar monitoramento sismográfico para controle - fortes alterações na dinâde intensidade de ondas de mica das águas superficiais e choque produzida por uso de no nível freático regional explosivos nas áreas de empréstimo - possibilidade de desequilíbrios geotécnicos em instalações próximas devido - conceber e implantar plano de recolhimento de efluentes à elevação do nível freático e resíduos provocada pelo lago - desestabilização geotécnica de taludes das margens do lago

- locação adequada de área de bota-fora para receber rejeitos resultantes das escavações. Se possível, utilizar esse material em obras complementares onde se mostre apropriado - monitoramento para definir necessidade de proteção de margens e taludes do lago formado - adotar plano de recuperação de áreas degradadas após término das obras junto ao canteiro de obras e áreas de empréstimo - monitoramento para avaliar impactos geotécnicos provocados pela elevação e por flutuações do nível freático

HIDROVIAS: IMPACTOS DERIVADOS DE OBRAS CIVIS E HIDRÁULICAS SOBRE O MEIO FÍSICO GEOLÓGICO. MEDIDAS MITIGADORAS - Planilha VII Tipo de atividade Portos, Terminais, Estaleiros, Oficinas Planilha VII

Ações impactantes Todas as ações descritas para as atividades de Derrocamento, Dragagem, Desassoreamento, Desobstrução, Limpeza, Espigões e Diques

56 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Impactos potenciais

Mitigação

Todos os impactos descritos para as ações relacionadas: planilhas II e III

- escolha de local com baixa suscetibilidade de gerar os impactos potenciais descritos - todas as recomendações descritas para as ações relacionadas: planilhas II e III


Gilberto Marques

Foto 09 – Trecho Hidrovia Tietê-Paraná. Eclusa de Buritama

HIDROVIAS: IMPACTOS DERIVADOS DE OBRAS CIVIS E HIDRÁULICAS SOBRE O MEIO FÍSICO GEOLÓGICO. MEDIDAS MITIGADORAS - Planilha VIII Tipo de atividade Operação e Manutenção Planilha VIII

Ações impactantes - produção de ondas - produção de efluentes - dragagem, desassoreamento, desobstrução e limpeza - alteração paisagística

Impactos potenciais - erosão de margens provocada pelo embate de ondas de navegação - os mesmos impactos associados às ações de dragagem, desassoreamento, desobstrução e limpeza: planilha III - alteração paisagística que poderá associar o rio a uma via de transporte e não mais a uma feição físiográfica natural

Mitigação - ampla campanha de proteção de margens contra a erosão, seja com a utilização de espigões, quebra-ondas, enrocamento e/ou intensificação do reflorestamento ciliar. - todas as recomendações descritas para as ações relacionadas aos serviços de dragagem, desassoreamento, desobstrução e limpeza: planilha III - implementação de ações paisagísticas, especialmente para recomposição das matas ciliares, de forma a reforçar a associação do rio com sua histórica feição físiográfica natural - adoção de Plano de Monitoramento Ambiental

57 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


EM FOCO

Solo contaminado é o local onde há contaminação potencial ou efetiva causada pela introdução de substâncias ou resíduos que nela tenham sido depositados, acumulados, enterrados ou infiltrados de forma planejada ou não, produzindo danos materiais e extrapatrimoniais ao meio ambiente. Para ser considerado contaminado, o solo (ou água subterrânea) deve ter a presença de substâncias químicas decorrentes de atividades antrópicas, em concentrações tais que restrinjam a utilização desse recurso ambiental para os usos atuais ou pretendidos, definidas com base em avaliação de risco à saúde humana, assim como aos bens a proteger, em cenário de exposição padronizado ou específico. Estas definições estão presentes na Resolução 420/09 – “Dispõe sobre critérios e valores orientadores de qualidade do solo quanto à presença de substâncias químicas e estabelece diretrizes para o gerenciamento ambiental de áreas contaminadas por essas substâncias em decorrência de atividades antrópicas”, que também introduz o conceito de qualidade do solo. Não existe um valor fixo de concentração de contaminante e sim valores limites. Por exemplo, um solo de determinado Estado do Brasil pode ter naturalmente certo valor de concentração de um metal (cadmio, por exemplo). Este valor é chamado de VRQ (Valor de Referência de Qualidade). Para cada contaminante, existe um valor de concentração limite, o qual o solo consegue manter suas funções principais (moradia, crescimento de plantas e habitat de seres vivos); este valor é cha58 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Arquivo Antonio Thomé

FUNDAÇÕES EM ÁREAS CONTAMINADAS

Esquema de contaminação

mado de VP (Valor de Prevenção), que no caso do cadmio é igual a 1,3 mg/kg. Valores de cadmio acima deste valor devem ser estudados. No entanto, o que interessa para a engenharia, são valores de concentrações que podem trazer consequên­cias nocivas ou a impossibilidade de uso do solo. Este valor é chamado de VI (Valor de Investigação). Há três valores de investigação, devido ao uso, ou seja, um solo que vai ser utilizado para fins agrícolas deve ter concentração mais baixa de cadmio (3 mg/kg) para poder ser utilizado, enquanto para uso da instalação de indústrias se permite

até 20 mg/kg de concentração de cadmio. Portanto, um solo para ser considerado contaminado, precisa apresentar valores do contaminante acima do VI, dependendo do uso futuro pretendido. Hoje todos os solos são classificados segundo a sua qualidade pela Resolução 420/09 do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente). O Anexo II da resolução CONAMA apresenta os limites de VRQ, VP e VI. • Classe 1 (quando todos os valores estão abaixo do VRQ): não requerem ações; • Classe 2 (concentrações de pelo menos uma substância


Arquivo Antonio Thomé

Número de pontos de coleta na investigação confirmatória em função do tamanho da área fonte

Arquivo Antonio Thomé

química > VRQ ≤ VP): poderá requerer uma avaliação do órgão ambiental; Classe 3 (concentrações de pelo menos uma substância química >VP e ≤ VI): requer identificação da fonte potencial de contaminação, avaliação da ocorrência natural da substância, controle das fontes de contaminação e monitoramento da qualidade do solo e da água subterrânea; Classe 4 (uma substância química > VI): requer ação de monitoramento e remediação.

FATORES DE CONTAMINAÇÃO

TÉCNICAS DE AMOSTRAGEM DE SOLO • • • • • •

Solos superficiais (até 1,50 m); Pás e picaretas; Trados de caneco, manuais ou mecânicos; Trado de rosca; Trado holandês; Amostradores tubulares (barrilete – “tubo aberto”, meia-cana, tubo fechado e tubo de parede fina).

59 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Técnica de amostragem

Fotos: Arquivo Antonio Thomé

Embora possam existir solos, em tese, que naturalmente apresentem concentrações acima do VI, geralmente os fatores que levam um solo a ser considerado contaminado são ações antrópicas. Na área urbana, o solo pode ser contaminado por esgoto doméstico lançado diretamente no solo (sumidouros), vazamento de canalizações de esgoto, atividades industriais, armazenamento de resíduos sólidos, infiltração de águas de chuvas contaminadas (run off), vazamento de combustíveis, acidentes com matéria-prima de processos industriais, entre outros. Na área rural, o principal contaminante do solo é aplicação de fertilizantes e pesticidas, mas também pode destacar a aplicação de adubos orgânicos in natura (esterco de animais), tanques sépticos, criação de animais em confinamento etc. Todas estas fontes de contaminação podem ser orgânicas ou inorgânicas.

Amostragem com cravação direta

RECUPERAÇÃO Se um terreno está contaminado, o solo é classificado como Classe 4 e requer uma série de ações. Estas ações são de responsabilidade do proprietário da área. As alternativas de intervenção para reabilitação de áreas contaminadas poderão contemplar, de forma não excludente, as seguintes ações: 1. Eliminação de perigo ou redução a níveis toleráveis dos riscos

à segurança pública, à saúde humana e ao meio ambiente; 2. Zoneamento e restrição dos usos e ocupação do solo e das águas superficiais e subterrâneas; 3. Aplicação de técnicas de remediação; 4. Monitoramento. Em outras palavras, deve se fazer uma série de investigações geotéc-


Arquivo Antonio Thomé Midwest Soil Remediation / Flickr

SVE (Extração de Vapor) in situ

nicas com a finalidade de confirmar que a área é contaminada, e preparar o modelo conceitual do comportamento deste contaminante. Após realizar a análise de risco para avaliar se é necessário ou não a intervenção, ou se o solo tem capacidade de se autorregenerar, ou seja, voltar às condições de Classe 1 e 2, caso exista risco, a ação de intervenção será a aplicação de técnicas de remediação e existem muitas técnicas que podem ser aplicadas. Para solos não saturados podem ser utilizadas: SVE (Extração de Vapor), Dessorção Termal, Lavagem de Solo (Soil Washing), Solidificação/Estabilização, Vitrificação, Biorremediação e Fitorremediação. Para solos saturados: Barreiras Reativas Permeáveis, Oxidação/Redução Química, Aeração In Situ (In Situ Sparging), Eletrocinética, Bombear e Tratar (Pump and Treat). Ainda existem técnicas auxiliares como faturamento de solos e barreiras impermeáveis. Deve-se destacar que geralmente as técnicas são utilizadas em conjunto para atingir o objetivo de descontaminação do solo, por exemplo, na aplicação da dessorção termal terá que ocorrer a extração de vapor e assim por diante.

FUNDAÇÕES DE ÁREAS CONTAMINADAS

VHE / Flickr

Desorção Termal

A construção de fundações somente poderá ser utilizada em solos de Classe 1, 2 e 3. Neste caso deve-se avaliar se o contaminante pode interagir com o material constituinte na fundação, por exemplo, utilizando uma fundação de concreto, deve-­ se avaliar se o contaminante não irá ao longo do tempo influenciar na durabilidade deste material. Esse é um assunto novo e ainda em desenvolvimento. Para evitar problemas, geralmente, se aumenta o consumo de cimento por metros cúbicos de concreto e se adota cobrimentos de armaduras maiores.

CONSEQUÊNCIAS

Soil Washing 60 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Apesar de um assunto ainda novo, caso não seja feita a recuperação do solo contaminado, inclusive se o contaminante for volátil e com bai-


Arquivo Antonio Thomé

Olympic Delivery Authority / Flickr

SDOT Photos / Flickr

xo ponto de ignição pode acontecer casos extremos de explosões. Se o contaminante for radioativo ou cancerígeno, pode colocar os funcionários em risco durante a construção das fundações. Além da perda de propriedades do material. Dessa forma, recomenda-se não edificar locais que estejam com solo contaminado, sem realização de estudos aprofundados e a realização de análise de risco.

Barreira Reativa Permeável

CRC CARE / Flickr

Biorremediação do Parque Olímpico no Reino Unido

ABORDAGEM ACADÊMICA Este é um assunto muito estudado no mundo, mas no Brasil as pesquisas e estudos ainda estão no início do processo, ainda não há dados concretos de quantas áreas contaminadas existem no País e quais os principais tipos de contaminantes. Por aqui existem alguns grupos de pesquisa que estão estudando o tema e suas principais técnicas utilizadas atualmente como a biorremediação e oxidação in situ. Estudos recentes vêm trabalhando com a aplicação de nanotecnologias na descontaminação dos solos. O papel da geotecnia ambiental é muito importante em todas as fases de gerência de uma área contaminada como na fase de investigação confirmatória e detalhada (base para projeto de remediação e análise de risco); na modelagem ambiental (técnicas de obtenção de parâmetros e novos 61 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Oxidação/Redução in situ

Aeração in situ

modelos) e, por fim, todo o projeto de remediação transforma-se em obra de engenharia geotécnica.

Ambiental e em 2014 concluiu seu pós-­ doutorado na University of Illinois em Chicago, nos Estados Unidos, na área de Remediação de Solos e Águas Subterrâneas. Atualmente é professor-titular e pesquisador da UPE (Universidade de Passo Fundo) nos cursos de Engenharia Civil, Engenharia Ambiental, Arquitetura e PPGENG (Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil e Ambiental) com área de concentração em Infraestrutura e Meio Ambiente. Atua como consultor geotécnico da empresa Infrageo Engenharia, Geotecnia e Meio Ambiente Ltda.

Antonio Thomé é engenheiro civil pela Universidade Federal de Santa Maria, 1991, possui mestrado em Engenharia Civil (Geotecnia), 1994 e doutorado em Engenharia Civil (Geotecnia), 1999 pela UFRS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Em 1998 realizou doutorado sanduíche na University of Manitoba, Canadá com ênfase em Geotecnologia


O QUE HÁ DE NOVO

TRIMBLE APRESENTA NOVAS VERSÕES DOS SEUS PRINCIPAIS SOFTWARES O aperfeiçoamento abrange a melhoria do fluxo de trabalho de projetos da construção civil por meio de layouts eficientes

A Feicon Batimat 2016, que aconteceu nos dias 12 a 16 de abril em São Paulo (SP), reuniu diversas tecnologias, produtos e serviços apresentados por empresas nacionais e internacionais. A empesa Trimble, por meio de sua divisão Trimble Buildings, marcou presença na feira e aproveitou para apresentar soluções que potencializam o ciclo completo das etapas de projeto, construção e operação na construção civil. Estas soluções, que estão presentes em cerca de 150 países têm como finalidade permitir que arquitetos, engenheiros, empreiteiros e proprietários de obras, alcancem agilidade e eficiên­ cia em seus serviços, transformando o modo de projetar, construir e operar uma infraestrutura. Na ocasião, a empresa mostrou a nova versão do Tekla Structures, o software BIM (Building Information Modeling) mais avançado, que torna possível a modelagem precisa e executável de estruturas metálicas e de concreto armado. A nova versão oferece uma modelagem ainda mais eficiente, aumentando a produtividade e evitando erros dispendiosos durante as fases de fabricação e construção. O software já está disponível para download e tem suporte em português e em outros 16 idiomas, inclusive coreano, introduzido neste lançamento. 62 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Fotos: Divulgação Trimble

Por Dellana Wolney

Tekla Structures


“O Tekla Structures traz novas ferramentas que automatizam a modelagem de estruturas pré-moldadas, como a inserção global de armaduras. Atendendo necessidades do mercado brasileiro, novos componentes foram desenvolvidos para acelerar a edição de desenhos de detalhamento, representação de armaduras e anotações diversas”, explica o engenheiro de suporte técnico da Trimble, Carlos Costa. Ele acrescenta que a ferramenta proporciona uma interface nova e simplificada para o usuário que acelera o aprendizado por meio de recursos, facilitando a modelagem e adiantando o processo do projeto. Devido aos menus personalizáveis e aos ícones de fácil reconhecimento, os usuários economizam tempo e aumentam a eficiência durante a modelagem, enquanto as cores consistentes ajudam a identificar imediatamente o que é procurado nos modelos. A nova versão se destaca pela utilização e gerenciamento do conteúdo do modelo, assim como a criação de relatórios de forma mais eficiente. “Detectar possíveis falhas durante a fase do projeto, quando elas são mais simples de serem corrigidas em vez do retrabalho no canteiro de obras, pode trazer economias. A inserção de informações repetitivas para fabricação, como recobrimento para peças pré-moldadas, pode ser automatizada para aumentar a produtividade”, comenta o gerente-geral da Trimble Buildings Structures Division, Risto Räty.

Tekla Structures: coordenação de projeto pré-moldado

AMPLITUDE Incorporando uma série de vantagens, o Tekla Structures 2016 tornou a colaboração mais fácil e mais confiável por meio de funcionalidades avançadas, como o gerenciamento de alterações no arquivo IFC (Industry Foundation Classes). Agora, os usuários do Tekla Structures conseguem ver as alterações de profissionais de outras disciplinas do projeto nos modelos de referência IFC. Com esta tendência, os modelos executáveis criados com o Tekla Structures oferecem suporte para informação detalhadamente, orga63 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Tekla Structural Designer

nizando padrões, gerenciando tarefas, evitando conflitos das estruturas e aumentando a eficiência e produtividade. Toda a equipe de uma obra

pode trabalhar simultaneamente no modelo, pois o dispositivo Tekla Model Sharing torna mais fácil a colaboração em projetos de modelagem.


Tekla Structural Designer – modelo de análise de elementos finitos

Além da possibilidade de trabalho simultâneo, ele possibilita sincronizar apenas as alterações em que se está trabalhando, não o modelo inteiro. Como as alterações são salvas localmente e sincronizadas quando online, o trabalho permanece sempre seguro e atualizado. O Tekla Model Sharing é única tecnologia de compartilhamento que permite a execução sem depender de uma conexão com a internet. “Muitos dos novos recursos e das novas melhorias foram desenvolvidos para atender às solicitações dos clientes. Por exemplo, a produção de desenhos ficou mais rápida em virtude das melhorias feitas na funcionalidade e a uma biblioteca 2D, que é uma coleção de detalhes 2D prontos, como parafusos, que os usuários podem utilizar em vez de ter que desenhá-los. Reutilizar detalhes 2D específicos do cliente economiza ainda mais tempo”, afirma Räty.

COLABORAÇÃO APRIMORADA

Tekla Tedds Analysis Large 64 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Também foi apresentado pela Trimble o Tekla Structural Designer 2016 que é uma ferramenta de engenharia para analisar e projetar edifícios com eficiên­cia. A nova versão conta com importantes melhorias no desempenho da modelagem e processamento durante as fases de análise e projeto de estruturas, podendo lidar até mesmo com modelos maiores e mais complexos. A versão do software expande suas capacidades de projeto, considerando abalos sísmicos com verificações de detalhamento e projeto estrutural para códigos de estruturas de concreto dos Estados Unidos, o que permite o uso em regiões com altas classificações quanto à possibilidade de terremotos. Agora é possível projetar fundações como blocos ou sapatas corridas para diversos códigos internacionais dentro do mesmo modelo. Há também na nova versão da ferramenta, a possibilidade de projetar edifícios de estrutura metálica e concreto armado para códigos indianos, o que melhora a experiên­ cia do usuário e permite que enge-


nheiros criem modelos e projetos de forma rápida e eficiente. O Tekla Structural Designer 2016 junta os fluxos de trabalho em BIM aberto e a compatibilidade com IFC, simplificando os processos e reduzindo o trabalho manual. Os usuários podem compartilhar e revisar os projetos de forma simultânea com profissionais de outras disciplinas, mesmo nas fases iniciais do fluxo de trabalho: projeto, construção e operação.

AUTOMATIZAÇÃO Por fim, foi lançada a nova versão do Tekla Tedds, responsável por automatizar cálculos estruturais repetitivos. Desta vez ele foi aprimorado com recursos adicionais também solicitados pelos clientes. As novas opções trazem mais flexibilidade e opções para análise e projeto de paredes de retenção, fundações, vigas de estrutura metálica e concreto armado para normas de construção dos Estados Unidos e da Europa.

65 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

DISPONIBILIDADE O Tekla Structures 2016, o Tekla Structural Designer 2016 e o Tekla Tedds 2016 já estão disponíveis. Para fazer o download, acesse: Tekla Structures: http://www.teklastructures.com Tekla Structural Designer: http://url.tekla.com/TeklaStructuralDesigner2016DownloadNow Tekla Tedds: http://url.tekla.com/TeklaTedds2016DownloadNow

Com os cálculos abrangentes, o trabalho é fácil e rápido, evitando falhas humanas nas combinações de carga. Os modelos de documentos, que podem ser combinados aos padrões da empresa, incluindo layouts e logotipos, economizam tempo e melhoram a apresentação. “Durante o tempo em que o Tekla Tedds faz a automação de cálculos, a análise estrutural e a modelagem 3D é realizada no Tekla Structural Designer de forma intuitiva. Finalizando o processo, o Tekla Structures traz o detalhamento, gerenciamento, fabri-

cação e construção”, descreve a diretora de novos negócios da Trimble, Fátima Gonçalves. Ela ainda salienta que durante a Feicon Batimat 2016 também foi lançada a ligação do escritório com o canteiro de obras, feita a partir da integração do modelo executável Tekla com alocação de pontos de fundações e outros por meio da estação robótica total específica para estruturas. Segundo Gonçalves, a estação tem precisão milimétrica e garante que o projeto seja construído conforme planejado.


GEOTECNIA AMBIENTAL

ESTUDO COMPARA DIGESTÃO ANAERÓBIA E DE INCINERAÇÃO A dissertação de mestrado também aborda questões socioeconômicas, a crescente demanda pela geração de energia elétrica e o aumento da quantidade de resíduos sólidos no Brasil

Em uma parceria com o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), por meio do Programa Novos Talentos, o engenheiro ambiental e aluno do IEE (Instituto de Energia e Ambiente) da USP (Universidade de São Paulo), Clauber Barão Leite tem trabalhado em um projeto que visa a avaliação comparativa de duas tecnologias de tratamento: digestão anaeróbia e incineração de resíduos sólidos com aproveitamento energético. A pesquisa faz parte da sua dissertação de mestrado e a escolha do tema foi motivada principalmente por fatores socioeconômicos como a crescente demanda pela geração de energia elétrica; o aumento da quantidade de resíduos sólidos e a intenção de buscar uma solução conjunta neste contexto. “Já vinha trabalhando profissionalmente com o tema ‘Resíduos Sólidos’. Com o advento da PNRS (Política Nacional de Resíduos Sólidos), vi que estávamos de frente a um novo paradigma”, comenta Leite. No Artigo 9º, Lei nº 12.305/10 estabelece uma nova ordem na gestão e gerenciamento dos resíduos sólidos: não geração, redução, reutilização, reciclagem, tratamento dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos, ou seja, a forma com que as atividades de gerenciamento de resíduos vinham sido feitas até então, ganham uma nova forma a partir da lei, que vai além da questão do fim dos lixões. Ela é clara e cita que somente rejeitos deveriam ir para aterros sanitários. Leite ainda acrescenta que na definição do que é rejeito, no item XV do Artigo 3º, consta que “rejeitos são resíduos sólidos que, depois de esgotadas todas as possibilidades de tratamento e recuperação por processos tecnológicos disponíveis e economicamente viáveis, não apresentam outra possibilidade que não a disposição final ambientalmente adequada”. Portanto, sua ideia nesta pesquisa é avaliar tecnologias disponíveis no mundo e demonstrar a viabilidade econômica delas.

CONSCIENTIZAÇÃO Analisando a composição dos resíduos no Brasil, a média é 66 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

ACE Solid Waste / Flickr

Por Dellana Wolney

de 50% de material orgânico, 25% a 30% de resíduos passíveis de reciclagem e o restante (20% a 25%) do rejeito propriamente dito. “Somente os rejeitos deveriam ser destinados aos aterros; tudo o que é passível de aproveitamento, tanto orgânicos como recicláveis, deveria passar por um tratamento antes da destinação final, mas isso ainda não acontece”, afirma o pesquisador Clauber Barão Leite. Para ele, qualquer resíduo que é gerado é alguma ineficiência do sistema, se há resíduo há perdas, porém, existem perdas que são inevitáveis, principalmente quando se fala em termos energéticos. Quando se trata do resíduo reciclável, além do poder calorífico intrínseco a esse material, também tem toda a energia necessária para a extração, transporte e transformação do recurso natural. Em relação ao resíduo orgânico, também existe esse desperdício na cadeia, mas desse tipo de resíduo é possível o aproveitamento do biogás. Leite descreve que o melhor resíduo em qualquer visão é aquele que não é gerado, entretanto, uma vez gerado, deve-se fazer com que ele passe por todas as etapas da


Wisconsin Department of Natural Resources / Flickr

mais de 41% das 78,6 milhões de toneladas de resíduos sólidos gerados no Brasil em 2014 tiveram como destino lixões e aterros controlados. Esta pesquisa envolveu 400 municípios, o equivalente a 91,7 milhões de pessoas, e apontou que o brasileiro gera, em média, 1,062 kg de lixo diariamente. Os dados coletados na pesquisa apontaram ainda que 52,5% dos resíduos eram provenientes da região Sudeste do País.

DELIMITAÇÃO

ordem de prioridade proposta pela PNRS. Essa ordem de prioridade também faz com que haja um uso mais eficiente dos recursos e seja diminuída a disposição em aterros. “Há de fato um potencial que pode ser explorado, mas quando ele é colocado no contexto do setor energético vemos que não é tão grande assim. Existem sinergias que ajudam e viabilizam empreendimentos que sem o componente energético não teriam essa possibilidade. É preciso uma nova consciência, senão poderemos chegar à conclusão absurda de quanto mais resíduos forem gerados, melhor será, pois haverá mais energia”, analisa.

MÉTODO A digestão anaeróbia e a incineração, escolhidos para o estudo, são os processos mais utilizados para o tratamento dos resíduos sólidos, principalmente na Europa e nos Estados Unidos. O trabalho segue uma linha de comparação, adaptando o cenário para a realidade brasileira. A ideia é que não basta transferir uma tecnologia bem-sucedida do exterior para o Brasil, pois existem diferenças nos tipos de resíduos e nos hábitos da população. Todos estes fatores provocam impactos na operação e nos custos. Embora ainda não estejam presentes no Brasil em larga escala, Leite optou pelas duas tecnologias por conta da rentabilidade econômica, enfatizando que processos como o plasma térmico e a gaseificação estão ainda em um patamar científico ou não têm viabilidade comercial. Segundo ele, o ponto chave na gestão de resíduos e na aplicação de qualquer tecnologia é a sua coleta diferenciada. Quanto mais ampla, e eficaz, melhor será o aproveitamento dos detritos. “Acredito que a melhor opção é uma coleta feita em três tipos: orgânicos, recicláveis e rejeitos. Dessa forma, os custos podem ser reduzidos e devidamente alocados com seus responsáveis. Uma política de educação ambiental para a população, para que essa separação seja feita, permitiria que as portas para novas tecnologias fossem abertas. Há alguns avanços no Brasil, mas ainda são tímidos, ficando restritos a iniciativa privada ou programas muito pontuais de algumas prefeituras”, ressalta. De acordo com um estudo da ABRELPE (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais), 67 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Na pesquisa da IEE, inicialmente a ideia era Estudar o cenário de cinco regiões administrativas do Estado de São Paulo: São Paulo, Campinas, Santos, São José dos Campos e Sorocaba, que representam cerca de 70% dos resíduos gerados no Estado, entretanto o pesquisador Clauber Barão Leite decidiu delimitar a área de estudo para a região metropolitana da capital paulistana, devido ao maior número de equipamentos instalados. Existem biodigestores nas cidades vizinhas a São Paulo, e projetos de instalação de incineradores em Barueri (SP) e em São Bernardo do Campo (SP), por exemplo. Os levantamentos de dados econômicos e da legislação referente aos resíduos sólidos feitos pelo pesquisador estão sob a orientação da professora do IEE-USP e do Programa de Pós-Graduação em Energia, Virginia Parente, enquanto as questões tecnológicas estão sendo discutidas com o pesquisador do Laboratório de Energia Térmica do IPT, Ademar Hakuo Ushima que afirma que o trabalho tem total sinergia com o projeto em andamento no IPT, RSU (Resíduos Sólidos Urbanos) Energia. Para a comparação entre os dois métodos, o pesquisador considerou um desempenho econômico-financeiro necessário ao atendimento de uma oferta de mil toneladas diárias de resíduos sólidos, para cada uma das alternativas propostas. Foram obtidas preliminarmente informações de duas instalações, o que se pretende aprofundar ainda no estudo com a coleta de mais dados. Os primeiros resultados apontaram a necessidade de um investimento de 160 milhões de reais para a instalação de um incinerador, a um custo operacional de 44,6 milhões de reais por ano, enquanto o biodigestor demandaria tanto menor capital (140 milhões de reais), quanto desembolso anual para seu funcionamento (25 milhões de reais). A análise preliminar de Fluxo de Caixa Descontado da alternativa do biodigestor revelou uma viabilidade econômico-financeira significativa no cenário econômico atual do País, produzindo uma TIR (Taxa Interna de Retorno) de 13,9%, no caso da alternativa da incineração, a mesma análise revelou um prejuízo acumulado de 292 milhões de reais.

VIABILIDADE Com este levantamento, a tecnologia de biodigestão está se mostrando até o momento mais viável em comparação à incineração, mas o pesquisador alerta que algumas premissas precisam ser respeitadas: a primeira é a coleta diferenciada, que ainda não acontece em todas as cidades brasileiras e demandaria, segundo ele, um choque de gestão, pela necessidade de um controle rígido do material que seria usado no equipamento, com a finalidade de propiciar um composto de melhor qualidade.


Ryan Johnson / Flickr

DESAFIOS E ACEITAÇÃO

O outro princípio é a de reciclagem de todos os resíduos passíveis de reaproveitamento, o que tampouco acontece hoje: “Somente é reciclado o que tem valor econômico, como as garrafas PET (Poli Tereftalato de Etileno) e as latas de alumínio. O isopor, por exemplo, pode ser reciclado, mas tem baixo valor e acaba sendo destinado aos aterros, assim como o vidro”, comenta. Os gastos para a instalação das plantas e da operação das duas tecnologias não encontram viabilidade, no entanto, quando são comparados aos valores de deposição dos resíduos em aterros que são pagos pelas administrações municipais (de 50 a 60 reais) atualmente aos prestadores de serviços de transporte do lixo. “Para dar viabilidade à instalação de um biodigestor, o valor por tonelada ficaria em torno de 80 reais, e para a instalação de um incinerador o valor por tonelada chegaria aproximadamente a 160 reais, ou seja, os custos são mais altos do que a simples disposição em aterros. Isso mostra que será necessária uma nova maneira para tratar os passivos ambientais para que sejam cumpridos os objetivos da PNRS. Em algum momento, não será mais possível aceitar resíduos sólidos em aterros, e sim, somente rejeitos”, ressalta Leite. Em relação aos benefícios e malefícios das técnicas, as informações ainda estão sendo levantadas. O incinerador estudado é o do tipo Mass Burn, que não requer uma separação dos resíduos. Na verdade, para essa tecnologia, quanto maior o poder calorífico do resíduo, melhor, e os resíduos que mais contribuem para o poder calorífico como um todo são os plásticos e os papéis. “Aqui há uma concorrência direta pelo material reciclável com os catadores, hoje o que existe de coleta seletiva no Brasil é feito graças a essa categoria, que vem sendo marginalizada na gestão. A única vantagem que existe no incinerador é que ele dá a falsa ideia de que o problema está sendo resolvido rapidamente com a redução do volume. Digo ‘falsa’, porque se deve analisar o problema de uma forma mais ampla e não apenas o problema de como tirar o lixo da porta”, argumenta o pesquisador. Para ele, embora a lei estabeleça esse novo paradigma, ainda são poucas as alternativas em vigor no Brasil. Muitos estados e prefeituras têm encarado os aterros como uma alternativa de tratamento, que é uma visão equivocada da PNRS. Partindo dessa alternativa, do ponto de vista econômico, tanto a biodigestão quanto a incineração têm desvantagens. 68 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Nesta pesquisa, o principal desafio tem sido a falta de dados. No caso da geração de resíduos no Brasil, os dados disponíveis de geração e composição gravimétrica não são muito atualizados. Por isso, buscam-se fontes de dados independentes e de qualidade, alguns dados que estão sendo utilizados são da iniciativa privada, o que pode comprometer os resultados finais. Também por serem tecnologias praticamente inexistentes no Brasil, há uma dificuldade com os dados econômicos, muitas premissas dos estudos foram baseadas em dados de fora do país, porém com o custo em dólar, que teve uma mudança significativa nos últimos anos, afetando bastante o resultado da análise. Mesmo com estes obstáculos, é por meio de pesquisas como estas que a ciência evolui e traz para a sociedade novas tecnologias e soluções. No entanto, para Clauber Barão Leite ainda faltam muitos avanços, e neste contexto, muitas pesquisas científicas no tema poderiam se desenvolver, caso as prefeituras e empresas fizessem parcerias com as universidades, pois o estudo aplicado é um ponto de partida para que se alcance a sustentabilidade desejada do sistema. “As pesquisas podem ajudar os tomadores de decisão na escolha de uma melhor alternativa, ou até mesmo para verificar os prós e os contras de cada uma. Infelizmente, tem aparecido nas prefeituras muitos vendedores com ‘soluções mágicas’, sem nenhum respaldo científico. O que as pesquisas acadêmicas podem ajudar é pelo menos filtrar e separar essas ‘tecnologias mágicas’”, finaliza.


GEOSSINTÉTICOS

Fotos: Arquivo Maccaferri

ATERROS DE CONQUISTA COM USO DE MICROGRELHAS TECIDAS INTRODUÇÃO Áreas antes consideradas impróprias para a construção, cada vez mais transformam-se em canteiros de obras das mais diversas naturezas. É cada vez mais comum a utilização de áreas com baixa capacidade de suporte, os chamados solos moles para a construção de galpões industriais, shoppings, rodovias etc. A questão principal que motiva essas utilizações é a falta de áreas livres dentro de grandes centros, que tornariam fretes mais econômicos e garantiriam melhores acessos a serviços importantes para o bom funcionamento de empresas e afins. Este crescente no número de obras sobre estas áreas de baixa capacidade de suporte está também atrelado ao constante desenvolvimento dos geossintéticos e ao surgimento de novos produtos, muitas vezes, capazes de concatenar funções antes exercidas pela combinação de outras soluções, como é o caso das microgrelhas tecidas, que combinam as propriedades físicas e hidráulicas dos geotêxteis, como a boa permeabilidade e pequena abertura aparente, com a elevada resistência à tração das geogrelhas.

Figura 1 – Confinamento de berço de rachão com microgrelha tecida

1 MICROGRELHAS As microgrelhas são produzidas a partir de filamentos de poliéster de alta tenacidade que mobilizam elevada resistência à tração, fabricados através do entrelaçamento flexuoso dos elementos. Para sua proteção contra danos de instalação, ataques químicos, biológicos e ambientais, as microgrelhas são revestidas com materiais sintéticos de alta resistência. São materiais extremamente versáteis e podem ser aplicadas em diversos tipos de obras nas áreas de infraestrutura, construção civil e obras ambientais como, por exemplo, no confinamento de berços de rachão (Figura 1), onde a elevada resistência ao puncionamento combinada a resistência aos esforços de tração da microgrelha garantem um ótimo desempenho técnico da construção, com excelente relação custo-benefício quando comparada a outras soluções similares. Outra propriedade muito importante das microgrelhas é seu revestimento plástico, que protege os fios de poliéster de alta tenacidade, responsáveis pela elevada resistência à tração do material, dos danos oriundos de sua instalação e dos danos relacionados ao ambiente agressivo onde o material será disposto, entre outros. Essa proteção permite a instalação das microgrelhas em áreas com possibilidade de 69 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Figura 2 – Microgrelha Tecida aplicada em entulheira como camada separadora e de reforço


contaminação, como aterros sanitários, aterros de rejeitos e entulheiras (Figura 2).

2 ATERROS DE CONQUISTA Os aterros de conquistas consistem na construção de plataformas de trabalho, em forma de deposição do solo de boa qualidade, sobre materiais com baixa capacidade de suporte, que sem essa técnica não permitiram o tráfego de equipamentos pesados. Sem um geossintético separador na interface entre fundação de baixa capacidade de suporte e aterro de boa qualidade, ocorre uma mistura dos materiais, com boa parte do novo aterro adentrando ao solo mole, resultando em um desperdício do material lançado e de todo o trabalho envolvido. Já com um geossintético adequado, não acontece a mistura dos materiais, e assim todo material de aterro lançado exercerá adequadamente sua função. No entanto, para garantir que esta separação não seja perdida durante os trabalhos de execução, esse geossintético deve possuir boa resistência à tração e ao puncionamento, para garantir sua sobrevivência após o lançamento de solo, pedregulhos ou mesmo entulho sobre ele. Além disso, parte da resistência à tração do material é responsável pelo reforço do aterro construído (Figura 3). Exatamente por combinar todas estas propriedades, a Microgrelha MacGrid® Net da empresa Maccaferri vem sendo utilizada na construção de aterros de conquista, pois sua abertura aparente é da casa dos milímetros (Figura 4), o que é suficiente para impedir a mistura dos materiais de aterro e de fundação, sua resistência à tração em ambas as direções (longitudinal e transversal) é de 45 kN/m e sua resistência ao puncionamento é de 3.400 N, todas propriedades coerentes com esta aplicação. Além disso, devido às características de seu revestimento e de sua construção (montagem dos fios), a microgrelha possui excelente interação com o solo adjacente, o que lhe permite transferir parte de sua resistência, reforçando o aterro ao mesmo tempo em que separa os materiais.

Figura 3 – Contribuição da microgrelha tecida na separação dos materiais e do reforço do aterro

3 INSTALAÇÃO DA SOLUÇÃO A execução dos aterros de conquista com utilização das microgrelhas é realizada de forma rápida e fácil, iniciando pelo desenrolar do geossintético sobre a área em questão (Figura 5), sempre considerando uma sobreposição lateral mínima de pelo menos 20 cm entre rolos (Figura 6). Uma regularização prévia, principalmente com a retirada de galhos e outros materiais perfurantes é o ideal, porém nem sempre é possível, visto à natureza das obras de aterros de conquista, realizadas em áreas de difícil acesso. Aplicadas as microgrelhas, devidamente alinhadas e esticadas (Figura 7), dá-se início ao lançamento do solo sobre o geossintético, sempre se tomando o devido cuidado para que equipamentos pesados não caminhem diretamente sobre o geossintético, ou seja, o maquinário deve lançar material de aterro sobre a microgrelha e caminhar sobre o material ao mesmo tempo em que o espalha, da mesma forma como é realizado para outros geossintéticos. A compactação do solo sobre o geossintético deve acontecer normalmente, em camadas de 20 cm a 25 cm, com 70 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Figura 4 – Abertura aparente das Microgrelhas

Figura 5 – Desenrolar da microgrelha tecida sobre o solo de baixa capacidade


Figura 6 – Sobreposição de dois rolos de microgrelha com largura mínima de 20 cm

Figura 9 – Finalização do aterro de conquista com solo compactado sobre o geossintético

controle de compactação e umidade, como em um aterro convencional (Figura 9).

CONCLUSÃO Soluções mais práticas, rápidas e inteligentes, sempre irão resultar em obras mais econômicas, mais seguras e menos agressivas ao meio ambiente, e o advento dos geossintéticos, seguido de sua constante evolução, permite que a engenharia civil caminhe sempre nesta direção. As microgrelhas representam uma nova geração de geossintéticos, com algumas características provindas dos geotêxteis e outras oriundas das geogrelhas, dessa forma esses materiais podem auxiliar significativamente projetistas, construtores e demais interessados na prática da boa engenharia.

Figura 7 – Microgrelhas tecidas devidamente alinhadas e esticadas

Figura 8 – Solo de boa qualidade sendo depositado sobre a microgrelha tecida 71 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

Paulo Rocha é engenheiro civil graduado pela EESC-USP (Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo), pós-­ graduado em Gerenciamento de Projetos PMI pelo SENAC (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial) e estudante no programa de mestrado em Engenharia Geotécnica da UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas). É professor-adjunto no Centro Universitário Padre Anchieta e coordenador técnico da empresa Maccaferri América Latina, onde presta suporte técnico para engenheiros, projetistas, técnicos e clientes da empresa.

A seção “Geossintéticos” é um espaço da revista Fundações & Obras Geotécnicas em parceria com o CTG (Comitê Técnico de Geossintéticos) em que mensalmente é publicado um texto de autores vinculados a empresas participantes desse grupo. O CTG é formado por empresas fabricantes de geossintéticos no Brasil associadas à ABINT (Associação Brasileira das Indústrias de Nãotecidos e Tecidos Técnicos). Dentro do grupo estão produtoras nacionais, utilizando diversos polímeros como PP (Polipropileno), PET (Poliéster), PE (Polietileno) e PVC (Policloreto de Vinila). As empresas que atualmente compõem o comitê são: Bidim, Braskem, Cipatex, Huesker, Maccaferri, Ober, Santa Fé, Sansuy e Roma.


LIVRO RADIER SIMPLES, ARMADO E PROTENDIDO (TEORIA E PRÁTICA) Autor: Fábio Albino de Souza Ano: 2016 Tipo de fundação direta ou superficial, muito utilizada nos Estados Unidos, o radier é empregado geralmente em construção de sobrados e casas térreas para distribuir a carga da edificação de uma maneira harmônica e uniforme no terreno. Classificados como armados ou protendidos, os radiers estão ainda ganhando espaço no Brasil. No final de abril, o engenheiro civil, Fábio Albino de Souza, lançou o livro “Radier simples, armado e protendido (Teoria e Prática)”, para divulgar os conceitos fundamentais relacionados aos radiers. Depois de anos tentando publicar seu livro, Souza verificou que a melhor maneira de ver seu projeto divulgado para o público seria por meio de financiamento coletivo. O engenheiro optou por inscrever a obra no Catarse – atualmente a maior plataforma de crowfunding do Brasil – e atingiu sua meta. Graças ao apoio do público, ele conseguiu lançar o livro e os primeiros que receber a obra finalizada serão os apoiadores do Catarse. Dividido em 12 capítulos, a publicação apresenta os principais fundamentos e os conceitos avançados relacionados ao dimensionamento e verificação de radiers nas modalidades: simples, armado e protendido. Ao longo das páginas há explicações detalhadas sobre radier estaqueado, protendido e em solos expansíveis. O livro trata tanto da parte geotécnica, como dos dimensionamentos do radier. Também é explorada uma metodologia para o cálculo de radiers protendidos em solos expansíveis, com base nas condições brasileiras. Direcionado a estudantes de engenharia civil interessados na técnica e para profissionais da área que queiram aprofundar seus conhecimentos, o livro já teve exemplares doados para a biblioteca da Metrocamp, universidade que tem o autor como coordenador do curso de Pós-Graduação em Elementos Protendidos.

Para comprar as obras indicadas nesta seção, envie um e-mail para assinatura@rudders.com.br

72 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS


AGENDA BRASIL 15 A 17 DE JUNHO CONSTRUCTION EXPO 2016

São Paulo, São Paulo

www.constructionexpo.com.br

Apoiada por mais de 130 entidades do setor, a terceira edição do evento reunirá o complexo de serviços, equipamentos e materiais voltados à área da construção civil brasileira, com o objetivo de mostrar ao público as principais novidades e tendências do segmento. A edição de 2016 pretende juntar os setores público e o privado, com palestras, exposições de produtos e serviços e salões temáticos, que apresentam de uma maneira diferente os cases, os sistemas construtivos, os projetos, as ideias, entre outros.

20 A 22 DE JUNHO

CBCI 2016 – 7º CONGRESSO BRASILEIRO DO CIMENTO

São Paulo, São Paulo www.7cbci.com.br/

No ano em que a ABCP (Associação Brasileira de Cimento Portland) completa 80 anos de história, acontecerá a sétima edição do evento, como principal acontecimento comemorativo. Com a expectativa de atrair aproximadamente 350 profissionais envolvidos com empresas fornecedoras da indústria de cimento, assim como pesquisadores, estudantes, entre outros, o encontro discutirá inovações na fabricação do cimento, também debaterá questões de controles ambientais, a normatização e qualidade do cimento, além de analisar os novos tipos e aplicações do material.

TÉCNICO AESABESP – 27º CONGRESSO NACIONAL DE SANEAMENTO E MEIO AMBIENTE

São Paulo, São Paulo www.fenasan.com.br

Considerado como um dos maiores eventos do setor de saneamento na América Latina, a feira e o encontro técnico reúnem em média anualmente 17.000 pessoas, um público composto por empresários, pesquisadores de órgãos públicos e privados, acadêmicos, estudantes, técnicos e demais interessados no assunto. O evento propõe a difusão da tecnologia utilizada na área de saneamento ambiental, assim como a exposição de produtos empregados no tratamento e abastecimento de água, em drenagem de águas pluviais, esgotamento sanitário e demais setores relacionados.

24 A 26 DE AGOSTO

CONCRETE SHOW SOUTH AMERICA

São Paulo, São Paulo www.concreteshow.com.br

Reconhecido como o maior evento do setor na América Latina e o segundo maior do mundo no segmento da construção civil, o encontro apresentará equipamentos, serviços e tecnologias para toda a cadeia produtiva, desde máquinas para terraplanagem, para canteiros de obras, projetos estruturais, entre outros. Além da feira, haverá também seminários, com painéis dedicados à gestão de resíduos na construção, conformidade do concreto, processos de manutenção e operação de edificações com base em normas de desempenho e demais temas relacionados com a área.

EXTERIOR

26 A 30 DE JUNHO

26 A 30 DE JUNHO DE 2016

Foz do Iguaçu, Paraná

Padova, Itália

IABMAS 2016 – 8th CONFERENCE ON BRIDGE MAINTENANCE, SAFETY AND MANAGEMENT www.iabmas2016.org/

Organizado pela IABMAS (International Association for Bridge Maintenance And Safety), o evento tem como objetivo proporcionar um espaço para a troca de experiências relacionadas com a manutenção de pontes, segurança e gerenciamento. O encontro pretende atrair acadêmicos, pesquisadores e profissionais da área, para discutir os novos métodos de design, os sistemas de engenharia de fundação, ensaios não-destrutivos, reparação e substituição, entre outros tópicos relacionados.

16 A 18 DE AGOSTO

FENASAN 2016 – 27ª FEIRA NACIONAL DE SANEAMENTO E MEIO AMBIENTE / ENCONTRO

IB2MAC – 16TH INTERNATIONAL BRICK AND BLOCK MANSORY CONFERENCE www.16ibmac.com/

Realizado a cada quatro anos, desde 1967 o evento é considerado um dos principais encontros relacionados ao segmento de alvenaria. Ao longo dos cinco dias de evento, haverá especialistas de diversas partes do mundo discutindo as principais tendências, novas técnicas e tecnologias de construção, além de debates dos códigos e normas existentes, a conservação de edifícios históricos, assim como apresentações de estudos de caso, entre outros.

JULHO/AGOSTO

HELICAL PILES & TIEBACKS

Califórnia, Estados Unidos http://bit.ly/1oV2S1W

14 E 15 DE JULHO DE 2016 CURSO INTERNACIONAL SOBRE O MODELO BIELAS E TIRANTES

São Paulo, São Paulo http://bit.ly/1TLrF2T

Promovido pela ABECE (Associação Brasileira de Engenharia e Consultoria Estrutural), o curso mostrará os modelos de bielas e tirantes de campos de tensões e estimulará a discussão das suas conexões. No primeiro dia, os participantes aprenderão a parte teórica e no segundo encontro haverá demonstração de exemplos e aplicações práticas. O evento será ministrado pelos engenheiros Aurélio Muttoni e Miguel Fernández Ruiz, profissionais que se destacam no segmento.

73 • FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS

O seminário apresentará as melhores maneiras de elaborar projetos adequados, de aplicações e instalações de estacas helicoidais e tiebacks (tipos de ligações), em condições de carga sísmica e laterais, assim como vai mostrar estudos de caso sobre a concepção e utilização de sistemas helicoidais sobre projetos novos e de retrofit – termo aplicado para reformas customizadas. Também serão discutidas as inovações em design, construção e equipamentos.

01 A 03 DE AGOSTO

S3: SLOPES, SLIDES AND STABILIZATION

Denver, Estados Unidos

http://bit.ly/1RQ5hb5 Ao longo de três dias, o evento apresentará os principais conceitos de design e histórias de casos que ilustram a aplicação efetiva das fundações profundas para a estabilização de encostas e suporte de escavação. Os palestrantes vão mostrar os projetos recentes e futuros, com explicações sobre equipamentos, materiais, técnicas, entre outros. Haverá um espaço com exposição de serviços de empreiteiros e engenheiros, no Exhibit Hall.

09 A 10 DE SETEMBRO

DFI-INDIA 2016: 6TH CONFERENCE ON DEEP FOUNDATIONS TECHNOLOGIES FOR INFRASTRUCTURE DEVELOPMENT IN INDIA

Kolkata, Índia

http://bit.ly/1q6PJ6R

O evento debaterá a evolução da tecnologia e mostrará histórias de casos em sistemas de bate-estacas perfuradas. Também haverá discussões sobre melhorias do solo, sistemas de escavação profunda e engenharia de solo macio em aplicações subterrâneas. Antes da conferência, haverá um workshop de um dia. O encontro é voltado para empreiteiros, representantes governamentais, designers e demais profissionais envolvidos com projetos geotécnicos e com construção. Também terá exposição de produtos e serviços no local.

12 A 15 DE OUTUBRO

DFI INTERNATIONAL CONFERENCE ON DEEP FOUNDATIONS, SEEPAGE CONTROL AND REMEDIATION

New York, Estados Unidos http://bit.ly/1rXCer0

O evento, realizado anualmente, mostrará nessa edição pesquisas relacionadas com controle de escoamento e remediação para projetos de barragens e diques no mundo todo. A conferência pretende atrair profissionais da indústria, engenheiros, empreiteiros, agências governamentais e acadêmicos, com o objetivo de reunir e compartilhar experiências, ideias em sessões técnicas informativas, que vão pautar as recentes inovações em tecnologia de fundações profundas.

26 A 29 DE OUTUBRO

CINPAR – XII CONGRESSO INTERNACIONAL SOBRE PATOLOGIA E REABILITAÇÃO DE ESTRUTURAS

Porto, Portugal

web.fe.up.pt/~cinpar/pt/

Em sua 12º edição o evento abordará temas de patologia, reabilitação de estruturas e métodos construtivos. O congresso é destinado aos profissionais da construção civil, engenharia e arquitetura, que buscam atualizar-se no setor. Durante os três dias do encontro, os participantes terão a possibilidade de aprender mais as técnicas de reabilitação e reforços.


AGENDA BRASIL 09 E 10 DE MARÇO DE 2016 BRASCON 2016

São Paulo, São Paulo http://bit.ly/1MKI55h

Destinado a diretores, gerentes, técnicos, construtores e investidores do setor de concretagem, pré-moldados e agregados, o evento apresentará, por meio de palestras com sessões técnicas e comerciais, os conhecimentos atuais do segmento, além de fomentar discussões dos principais desafios, avanços tecnológicos e as oportunidades da indústria. Os participantes terão acesso a informações de inovação, sustentabilidade, qualidade ambiental nas obras, manutenção, engenharia, construção e demais tópicos relacionados. Em sua terceira edição, o evento contará com mesasredondas e o prêmio “Obra mais Notável de Concreto”.

29 A 31 DE MARÇO DE 2016 BRAZIL ROAD EXPO 2016

Promovido pela Alconpat Brasil (Associação Brasileira de Patologia das Construções), o evento funcionará como um fórum, onde colocará em pauta a recuperação de estruturas, controle de qualidade e patologias. Voltado para profissionais do segmento da construção, engenheiros, técnicos e estudantes, o encontro pretende ainda tornar público estudos e pesquisas científicas das áreas relacionadas.

10 A 13 DE MAIO DE 2016

III CONGRESSO DA SOCIEDADE DE ANÁLISE DE RISCOS LATINO-AMERICANA SRA-LA

São Paulo, São Paulo http://www.abge.org.br/3clasra-la

Em sua terceira edição, o evento tem como tema central o “Desenvolvimento e riscos no contexto Latino-­ Americano”, com o objetivo de enaltecer a análise de riscos como um recurso para auxiliar as ações de prevenções de riscos nas mais diversas formas. Haverá cursos pré-congresso, conferências, mesas-redondas, sessões técnicas e ainda apresentações de trabalhos orais no Espaço Ágora, local onde será possível a exibição de vários trabalhos orais simultâneos.

São Paulo, São Paulo www.brazilroadexpo.com.br

O evento tem como objetivo discutir pavimentações e apresentar soluções que possibilitem um avanço neste cenário. A conferência promoverá o compartilhamento de informações, exibirá novidades dos fabricantes, apresentará os produtos para construção e manutenção de pontes, túneis, viadutos, além de materiais para a pavimentação em asfalto e concreto. Os participantes ainda poderão conferir itens para drenagem, contenção de encostas, sistemas e produtos para segurança.

12 A 16 DE ABRIL DE 2016 FEICON BATIMAT 2016

São Paulo, São Paulo www.feicon.com.br

Com mais de 20 anos de existência, o evento permite que diversos setores da área da construção civil possam expor seus produtos que incluem: máquinas, tintas, solventes, revestimentos, além de alguns acessórios de decoração, como artigos de louça sanitária, por exemplo. Os participantes podem conferir as tendências e os lançamentos da área da construção civil. O evento é voltado para engenheiros, arquitetos e profissionais envolvidos com o setor.

18 A 20 DE ABRIL DE 2016

2º CONGRESSO BRASILEIRO DE PATOLOGIA DAS CONSTRUÇÕES

Belém, Pará

alconpat.org.br/cbpat2016/

EXTERIOR

geotécnica e estrutural. Ao longo de quatro dias, a conferência pretende estimular a coordenação e o entendimento entre o meio profissional e acadêmico, além de apresentações de dados essenciais para a fomentação do avanço tecnológico do setor e o incentivo à melhoria da prática profissional.

02 E 03 DE MARÇO DE 2016

3RD RESIDENTIAL BUILDING DESIGN AND CONSTRUCTION CONFERENCE

Pensilvânia, Estados Unidos www.phrc.psu.edu/conferences/3rd-rbdcc

Em sua terceira edição, o evento tem como objetivo fomentar o debate entre pesquisadores, profissionais de design, fabricantes, construtores e demais envolvidos com o setor da construção, para atualizarem-se dos avanços e pesquisas do setor e inovações relacionadas com edifícios residenciais, tanto habitações simples, como as mais tecnológicas. Entre os temas, destacam-se as alternativas de geração de energia, a construção de sistemas fotovoltaicos integrados, danos de fogo e proteção, tecnologias em casas pré-fabricadas, entre outros tópicos.

22 A 28 DE ABRIL DE 2016

WORLD TUNNEL CONGRESS – NAT2016

São Francisco, Estados Unidos www.wtc2016.us/

01 A 05 DE FEVEREIRO DE 2016 WORLD OF CONCRETE

Las Vegas, Estados Unidos www.worldofconcrete.com

Las Vegas, cidade mais populosa de Nevada, sediará um dos eventos mais famosos da construção civil. Exposição dedicada, sobretudo, ao concreto comercial e à construção de alvenaria, o World of Concrete exibe máquinas de construção, as novas ferramentas do mercado, produtos mais recentes empregados em canteiros de obras, assim como cursos de segurança e treinamento da área. Entre os destaques do evento, estão as áreas de exposição ao ar livre. A programação ainda conta com seminários de especialistas com as principais tendências do segmento.

14 A 17 DE FEVEREIRO DE 2016 GEOTECHNICAL & STRUCTURAL ENGINEERING CONGRESS

Phoenix, Estados Unidos geo-structures.org/

Com a participação de mais de 100 expositores, o congresso espera reunir engenheiros geotécnicos e estruturais, além de funcionários de órgãos públicos e profissionais ligados ao tema de engenharia

Com expectativa de receber mais de 2.500 participantes, o evento mostrará as tendências do segmento de túneis no mundo, com 600 apresentações técnicas e mais de 250 expositores. Durante o congresso, haverá painéis e estudos de casos de métodos empregados em diferentes projetos de túneis, nas diversas regiões do planeta, com o objetivo de compartilhar experiências entre os profissionais da área.

08 A 11 DE MAIO DE 2016

IABSE CONFERENCE GUANGZHOU 2016

Guangzhou, China http://bit.ly/1R6DajP

Promovida pela IABSE (International Association for Bridge and Structural Engineering), a conferência terá como foco a engenharia de estruturas e tentará mostrar que a área é a responsável por promover a sustentabilidade na sociedade. Dentre os temas abordados, destacam-se as novas tecnologias que estão sendo desenvolvidas para a área, além de discussões sobre concretos de alta performance e de aço, pontes dos mais variados tipos, como ferroviárias e marítimas, entre outros.

26 A 30 DE JUNHO DE 2016

IB2MAC – 16TH INTERNATIONAL BRICK AND BLOCK MANSORY CONFERENCE

01 A 02 DE ABRIL DE 2016

Padova, Itália

CTF 2016 – 2ª CONFERÊNCIA EM TECNOLOGIA DE FUNDAÇÕES

www.16ibmac.com/

Campinas, São Paulo

Realizado a cada quatro anos, desde 1967 o evento é considerado um dos principais encontros relacionados ao segmento de alvenaria. Ao longo dos cinco dias de programação, haverá especialistas de diversas partes do mundo discutindo as principais tendências, novas técnicas e tecnologias de construção, além de debates dos códigos e normas existentes, a conservação de edifícios históricos, assim como apresentações de estudos de caso, entre outros.

www.acquacon.com.br/ctf2016

Com o tema “Estacas Cravadas por Impacto ou Vibração: Perspectivas Atuais e Futuras”, o evento acontecerá na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e devido ao sucesso da primeira edição, em 2013, os organizadores, membros da CTF (Comissão Técnica de Fundações) da ABMS (Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica), com o apoio do NRSP (Núcleo Regional de São Paulo) resolveram dar continuidade ao evento. Haverá mesas-redondas e discussões sobre o uso e custos das pesquisas e técnicas relacionadas às estacas de deslocamento e cravadas de concreto ou metálicas.

FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS • 97



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