Revista Fundações Ed.80

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Ano 7

Maio de 2017

Nº 80 R$ 27,00

www.revistafundacoes.com.br

PROGRAMA É CRIADO PARA APOIAR CONSERVAÇÃO DA AMAZÔNIA Qualquer empreendimento no mundo que busque certificação de edificação sustentável pode contribuir com a iniciativa

SISTEMA INTELIGENTE de construção a seco

APLICAÇÃO DE FÔRMAS têxteis lineares

CONHEÇA as patologias de fundações



EXPEDIENTE www.revistafundacoes.com.br Rua Leopoldo Machado, 236 – Vila Laís CEP: 03611-020 São Paulo - SP Telefone: (11) 2641-0871 / (11) 95996-6391 *Telefone celular com atendimento também por WhatsApp: das 10h às 18h CONSELHO EDITORIAL São Paulo • Paulo José Rocha de Albuquerque • Roberto Kochen • Álvaro Rodrigues dos Santos • George Teles • Paulo César Lodi • José Orlando Avesani Neto • Eraldo L. Pastore • Sussumu Niyama • Fernando Henrique Martins Portelinha Minas Gerais Sérgio C. ParaísoI • van Libanio Vianna • Jean Rodrigo Garcia Pernambuco Stela Fucale Sukar Bahia Moacyr Schwab de Souza Menezes • Luis Edmundo Prado de Campos Rio de Janeiro Bernadete Ragoni Danziger • Paulo Henrique Vieira Dias • Mauricio Ehrlich • Alberto Sayão • Marcio Fernandes Leão Distrito Federal Gregório Luís Silva Araújo • Renato Pinto da Cunha • Carlos Medeiros Silva • Ennio Marques Palmeira Rio Grande do Sul Miguel Augusto Zydan Sória • Marcos Strauss Rio Grande do Norte Osvaldo de Freitas Neto • Carina Maia Lins Costa • Yuri Costa Espírito Santo Uberescilas Fernandes Polido Associações que apoiam a revista

Fundador e idealizador: Francisjones Marino Lemes (in memoriam) Coordenação editorial e marketing: Jenniffer Lemes (jenni@revistafundacoes.com.br) Colaboradores: Gléssia Veras (Edição); Dellana Wolney; Dafne Mazaia (Texto); Rosemary Costa (Revisão); Patricia Maeda (Projeto Gráfico); Elisa Gomes (Arte); Melchiades Ramalho (Artes Especiais) Contatos Pautas: glessia@revistafundacoes.com.br Assinaturas: assinatura@revistafundacoes.com.br Publicidade: publicidade@revistafundacoes.com.br Financeiro: financeiro@revistafundacoes.com.br Projeto Gráfico: Patrícia Maeda Foto de capa: Emmanuel DYAN / Flickr Impressão: Gráfica Elyon Importante • A revista Fundações & Obras Geotécnicas é uma publicação técnica mensal, distribuída em todo o território nacional e direcionada a profissionais da engenharia civil. Todos os direitos reservados à Editora Rudder. Nenhuma parte de seu conteúdo pode ser reproduzida por qualquer meio sem a devida autorização, por escrito, dos editores. • A publicação segue o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. • Esta publicação é avaliada pela QUALIS, conjunto de procedimentos utilizados pela CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) • e encontra-se atualmente com classificação B4. • As seções “Coluna do Conselho”, “Artigo”, “Espaço Aberto”, “Opinião” e “Memória de Cálculo” são seções autorais, ou seja, tem o conteúdo (de texto e fotos) produzido pelos autores, que ao publicarem na revista assumem a responsabilidade sobre a veracidade do que for exposto e o devido crédito as fontes utilizadas.

www.anatec.org.br DESTAQUE – 4º CBT http://4cbt.tuneis.com.br/ EM FOCO – PATOLOGIAS Fernando Schnaid fschnaid@gmail.com Thaiane Klein thaianeklein@hotmail.com NOTÍCIA 1 ANEEL www.aneel.gov.br NOTÍCIA 2 Moacyr Schwab moa.schwab@gmail.com O QUE HÁ DE NOVO MACCAFERRI https://www.maccaferri.com/br/ REPORTAGEM – TÉCNICAS CONSTRUTIVAS Via Assessoria de Imprensa: PROATIVA COMUNICAÇÃO – www.proativacomunicacao.com.br GEOTECNIA AMBIENTAL – PROJETOS SUSTENTÁVEIS Via Assessoria de Imprensa: M.Free Comunicação – www.mfree.com.br

ENTREVISTA Bernadete Ragoni Danziger www.uerj.br

COLUNA DO CONSELHO Álvaro Rodrigues dos Santos santosalvaro@uol.com.br

JOGO RÁPIDO Fabio Ferreira www.apanheidoexcel.com.br/programas

ARTIGO 1 Emília Mendonça Andrade emilia@huesker.com.br Eduardo Andrade Guanaes eduardo@huesker.com.br José Carlos Vertematti jcvtecsol@gmail.com Thiago Ordonho Araújo thiago@huesker.com.br

NOTAS SABESP comunicação_sabesp@sabesp.com.br FINTT 2017 M. Free Comunicação roberta@mfree.com.br O SETOR EM NÚMEROS IBRE / FGV Assessoria Insight rodrigo.miguez@insightnet.com.br ESPAÇO ABERTO Fernando H. M. Portelinha fportelinha@ufscar.br Marcus Vinicius Weber de Campos mcampos@tdmbrasil.com.br Wladimir Caressato Junior wcaressato@tdmbrasil.com.br

ARTIGO 2 Otávio Coaracy Brasil Gandolfo gandolfo@ipt.br Tiago de Jesus Souza tiagojs@ita.br Carlos Alberto Birelli birelli@ipt.br Vicente Luiz Galli vicenteg@ipt.br Paulo Scarano Hemsi paulosh@ita.br Paulo Cezar Aoki paulo.aoki@americantower.com

Fundações e Obras Geotécnicas

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EDITORIAL INCENTIVO PARA A CONTRIBUIÇÃO COM A SEÇÃO“HISTÓRIA”

O espaço “História” dentro da revista tem como objetivo principal apresentar aos nossos leitores um resgate a momentos importantes da engenharia brasileira que retratem especialmente atos ligados às áreas de fundações e geotecnia. Nessas 80 edições produzidas nossa equipe tem buscado imagens significativas e que venham acrescentar não somente com o simbolismo de um tempo passado, mas que também sirvam como exemplo e que sejam um fator motivador para que ações inovadoras do futuro venham a marcar as próximas páginas da história. A Editora Rudder irá incentivar com brindes – um livro do segmento ou um kit de revistas – os nossos leitores que possuam registros fotográficos antigos e expressivos e que enviarem para a publicação na seção “História”. Entre em contato no e-mail: glessia@revistafundacoes.com.br

ERRATAS

Na edição de número 78 (março) na seção “História” as fotos da seção aparecem creditadas como sendo do banco de Arquigrafia da USP, porém o crédito correto é Arcelor Mittal. Na edição de número 78 (março) na seção “Artigo” (página 42) o material intitulado “Estruturas ancoradas e suas aplicações na geotecnia”, a figura de número 13 (página 48) foi creditada errada como sendo da empresa Torcisão, quando na verdade a imagem pertence a Incotep Sistemas de Ancoragem.

DA REDAÇÃO

Freepik

PODCAST A revista Fundações & Obras Geotécnicas está produzindo podcasts sobre temas de relevância para o setor. Os podcasts são arquivos de áudio com entrevistas, depoimentos ou explanações sobre um tema em específico. Esse novo formato de conteúdo tem como objetivo oferecer materiais que abordem a temática de cobertura da revista nas mais diversas plataformas e em uma extensão que permita o acesso de maneira acessível. Os nossos arquivos estão disponíveis na plataforma Soundclound. Acesse: https://soundcloud.com/editora-rudder 2

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NESTA EDIÇÃO 18 DESTAQUE

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4º CBT, LAT 2017 e TC-204 ISSMGE abordam o futuro da atividade tuneleira no mundo

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REPORTAGEM Sistema inteligente de construção a seco ganha cada vez mais espaço no mercado

30 NOTÍCIA

Micro e minigeração de energia elétrica têm crescimento notável no mercado brasileiro

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NOTÍCIA A quem cabe apurar a responsabilidade?

42 ARTIGO

Aplicação de fôrmas têxteis tubulares para alteamento de célula de disposição de cinzas provenientes de usina termelétrica

50 ARTIGO

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A utilização da perfilagem magnética para determinação do comprimento de uma estaca

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O QUE HÁ DE NOVO Maccaferri lança nova linha de gabiões

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EM FOCO Patologias de fundações

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ESPAÇO ABERTO Uso de tubos geossintéticos para execução de travessias em acessos para caminhões “fora de estrada” em mineração

76 GEOTECNIA

AMBIENTAL Programa é criado para apoiar conservação da Amazônia SEÇÕES

04 Jogo Rápido 06 O setor em números 08 Coluna do Conselho 10 Entrevista –

Bernadete Ragoni Danziger

40 Notas 58 História 80 Livro 81 Agenda


Jogo Rápido

por Dafne Mazaia

Preocupado em atender às demandas que seu trabalho exigia, o técnico em edificações Fabio Ferreira decidiu desenvolver um recurso para facilitar a rotina de quem atua na área da construção civil. Resultado de uma necessidade que Ferreira vivenciou no setor, o aplicativo chamado de “Medição Gráfica” foi criado com o objetivo de melhorar a coleta de dados no campo. De acordo com Ferreira, sem a nova ferramenta ele tinha que recorrer a pranchetas, que muitas vezes não eram eficazes. “Os serviços em uma obra são muito variados e o dinamismo é grande, então procurei desenvolver algo que pudesse melhorar este processo, aproveitando a tecnologia atual que está cada dia mais acessível”, conta. O aplicativo lê a imagem, cruza os dados obtidos e abre um campo onde o usuário registra o percentual executado do serviço, apenas com um tablet, em vez das pranchetas. Após a coleta de informações da obra os dados são exportados, analisados e depois usados em programas como Excel ou Project. Para mais informações acesse: www.apanheidoexcel.com.br/programas.

Obras do Trevo de Triagem Norte Considerada a maior obra viária do Distrito Federal, a construção do Trevo de Triagem Norte segue em andamento e os trabalhos estão 10% executados. No dia 28 de março o governador de Brasília, Rodrigo Rollemberg realizou uma inspeção no local das obras. Ele assistiu às apresentações sobre o projeto e também visitou os dois viadutos que estão prontos. O empreendimento pretende remodelar a Ponte do Bragueto, revitalizar 10 quilômetros de pavimento e ainda a construção de duas pontes, 13 viadutos, 6 quilômetros de ciclovias e 17 quilômetros de vias. O objetivo do projeto é desafogar o trânsito local, para beneficiar 100 mil condutores por dia. As obras começaram em maio de 2014, sofreram uma paralisação no fim daquele ano e foram retomadas em junho de 2016.

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Tijolos de guerra Duas engenheiras civis formadas pela Universidade Islâmica de Gaza desenvolveram blocos de concreto com escombros de alvenaria, fruto de dez anos de guerra na região e de cinzas pozolânicas (rochas de origem vulcânica) das usinas termelétricas do local. O objetivo do projeto é construir prédios para abrigar 18 mil famílias que perderam suas moradias durante a guerra e agora vivem em abrigos. Para produzir o material, elas reduziram o volume de cimento Portland por unidade, sem perder características importantes dos blocos. Como o cimento sofre boicote de Israel e pelo fato da importação ser muito cara, Majd Mashharawi e Rawan Abddllaht estudaram uma forma que permitisse criar tijolos em alvenaria estrutural. Depois de três anos de pesquisa, elas encontraram a combinação adequada. A dupla foi apoiada por uma indústria japonesa da construção civil, que participou ativamente do crowfunding e ofereceram cursos de aperfeiçoamento para a produção dos blocos de concreto. Também receberam ajuda da ONU (Organização das Nações Unidas), por meio da UNRWA (United Nations Relief and Works Agency), que as encorajaram com o empreendimento. Banco de Imagens / Morguefile

Aplicativo


Jogo Rápido

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O setor em números

SONDAGEM DA CONSTRUÇÃO

O

O ICST (Índice de Confiança da Construção), da Fundação Getulio Vargas subiu 0,7 ponto em março, alcançando 75,1 pontos, maior nível desde junho de 2015 (76,2 pontos). “A melhora das expectativas indica uma percepção dos empresários de que o cenário de queda da atividade da construção não deve persistir por muito mais tempo. E essa redução do pessimismo já se reflete no indicador de emprego da Sondagem da Construção: a disposição de demitir nos meses seguintes tem caído continuamente. Embora isso ainda não tenha se traduzido em intenção de contratar, pode representar uma desaceleração do ritmo de queda no emprego. No entanto, enquanto a demanda insuficiente continuar sendo o principal fator limitativo à melhoria dos negócios, as demissões continuarão a superar as admissões,” comentou a coordenadora de projetos da construção da FGV/IBRE (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), Ana Maria Castelo.

1 A média móvel bimestral foi escolhida por ser construída a partir do número de meses necessários para que o componente cíclico do ICST supere as irregularidades da série, segundo o método de Meses de Dominância Cíclica (Months for Cyclical Dominance), sugerido originalmente pelo NBER (National Bureau of Economic Research e, mais recentemente, pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

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Graficos: Divulgação FGV

por Dafne Mazaia


Divulgação FGV/IBRE

A alta do ICST em março deveu-se exclusivamente às perspectivas de curto prazo do empresariado: o IE-CST (Índice de Expectativas) cresceu 1,7 ponto para 87,8 pontos – o maior desde setembro de 2014 (88,4 pontos). Os dois quesitos que compõem este subíndice aumentaram, com destaque para o indicador que mede o otimismo com a situação dos negócios nos seis meses seguintes, que variou 2,2 pontos, na margem, para 90,1 pontos. O ISA-CST (Índice da Situação Atual) recuou pelo segundo mês seguido, ao variar 0,2 ponto, atingindo 62,8 pontos. A maior contribuição para a queda veio do indicador de percepção em relação à carteira de contratos, que caiu 0,6 ponto em relação ao mês anterior, para 61,5 pontos. Com o resultado, a diferença entre o ISA-CST e o IE-CST em p.p (pontos percentuais) voltou a aumentar, alcançando novo recorde da série. O NUCI (Nível de Utilização da Capacidade) do setor recuou 0,4 p.p. em março, alcançando 63,0%.

> ANA MARIA CASTELO É economista e formou-se na UFCE (Universidade Federal do Ceará). É a atual coordenadora de projetos da construção da FGV/IBRE (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).

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Coluna do Conselho

GLÓRIA E CALVÁRIO DA ENGENHARIA BRASILEIRA

Arquivo Pessoal

A

>ÁLVARO RODRIGUES DOS SANTOs é geólogo, ex-diretor de Planejamento e Gestão do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) e atualmente trabalha como consultor em Geologia de Engenharia e Geotecnia e como diretor-presidente na empresa ARS Geologia Ltda. Também é autor dos livros “Geologia de Engenharia: Conceitos, Método e Prática”, “A Grande Barreira da Serra do Mar”, “Diálogos Geológicos”, “Cubatão”, “Enchentes e Deslizamentos: Causas e Soluções”, “Manual Básico para Elaboração e Uso da Carta Geotécnica” e “Cidades e Geologia”.

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Fundações e Obras Geotécnicas

A crise sem precedentes que vive hoje a engenharia brasileira pega nosso setor já anteriormente abalado por algumas circunstâncias da história recente do País. Tivemos um período de ouro que se estendeu, com naturais nuances, dos anos 1950 a meados dos anos 1980, quando o País apresentou crescimentos médios do PIB (Produto Interno Bruto) em torno de 7% ao ano. Nesse período prevaleceu uma orientação governamental estratégica calcada no desenvolvimentismo e no fortalecimento da empresa nacional. Foi dessa época a criação de inúmeras empresas estatais federais e estaduais, as quais constituíram equipes técnicas permanentes de excelência, o que refletiu e as induziu no mesmo patamar de excelência em um enorme elenco de empresas de consultoria e projetos criadas e estimuladas a atender às demandas públicas e privadas que se multiplicavam na área de infraestrutura. Institutos de pesquisas e universidades, de sua parte, investiram pesadamente na pesquisa e nos serviços de apoio tecnológico a todo o parque empresarial público e privado que vinha sendo criado. Foi um período de intensa efervescência tecnológica, que guindou nossa engenharia ao

mais alto nível de reconhecimento nacional e internacional. Em período subsequente, que se estendeu de meados dos anos 1980 ao ano de 2004, o Brasil entrou em perío­ do econômico recessivo, o que resultou em dificuldades enormes e grande número de extinções para as empresas privadas de consultoria e projetos. Paralelamente há um processo amplo de privatização de empresas públicas e o fim da histórica desassociação e independência entre projetista e executora. As consequências foram terríveis: dissolução das equipes técnicas permanentes no setor público e privado, enfraquecimento orientado dos institutos de pesquisas e das universidades. Um clima geral de pessimismo se instalou na engenharia nacional. De 2005 a 2013/14, refletindo políticas nacionais e uma boa situação da economia mundial houve, com a retomada de investimentos, um forte ensaio de recuperação do País e da engenharia brasileira. Nesse curto período observou-se também um início de reorganização do setor de consultoria e projetos com o advento do protagonismo de empresas de tamanho médio. Por fim, no período que se estende de 2014 aos dias atuais, com o retorno da aguda recessão econômica e circunstâncias em que pontuam quatro


Coluna do Conselho

graves ingredientes, a falta de recursos para investimentos em obras de infraestrutura, o empobrecimento geral da população, os reflexos da “Operação Lava Jato” e a obsessão neoliberal do atual governo em internacionalizar a economia nacional, a engenharia brasileira entra definitivamente em um perigoso estado pré-falimentar de perplexidade e desorientação. O terrível erro cometido pelos promotores da salutar Operação Lava Jato, ao permitir e promover a não separação entre diretores envolvidos em atos de corrupção e a figura de suas empresas de origem, cai como uma bomba atômica sobre a imagem nacional e internacional da engenharia brasileira, com terríveis e naturais decorrências. Ao mesmo tempo a intenção notória do novo Governo Federal em promover a internacionalização da economia nacional agrega um ingrediente de caráter direcionadamente letal para nosso parque empresarial. Só uma atitude da engenharia brasileira pode fazer frente a circunstâncias tão críticas: fazer “Política”, assim mesmo, com “P” maiúsculo, oferecendo a máxima resistência aos terríveis fatores que hoje lhe ameaçam sua viabilidade empresarial. Associações técnico-científicas, sindicatos, clubes, institutos de engenharia e universidades devem urgentemente se reunir e promover ações políticas de esclarecimento junto à sociedade e de influência e pressão sobre as autoridades públicas dos três poderes. Do contrário, continuaremos a sofrer as consequências da política que não fizemos, pois que se não a fizermos, outros sempre se disporão a fazê-la em nosso nome. 9

Fundações Fundaçõese eObras ObrasGeotécnicas Geotécnicas

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Entrevista

Uma carreira repleta de dedicação e pesquisas para a engenharia Com mais de 40 anos de profissão, Bernadete Danziger construiu sua história com muitas contribuições ao âmbito acadêmico e de pesquisas no setor de geotecnia no Brasil por Dafne Mazaia

Fotos: Acervo pessoal

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BERNADETE RAGONI DANZIGER

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Fundações e Obras Geotécnicas

ascida em abril de 1953, Bernadete Ragoni Danziger interessou-se pela área de exatas ainda na escola. Desde sempre incentivada por seus pais a estudar e focar em uma carreira que a tornasse independente, Danziger optou por prestar o vestibular para engenharia. Formou-se pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) em 1976. Ainda como estudante, ingressou na empresa Estacas Franki, como estagiária, onde permaneceu até 1987. Ao longo de sua carreira, desenvolveu projetos e trabalhou no controle de execução de fundações de diversos tipos, assim como participou do acompanhamento de obras de escavações, escoramentos, subsolos, rebaixamento do nível d´água, entre outros trabalhos. Concluiu o mestrado na COPPE (Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia) em 1982, onde cursou disciplinas de geotecnia e da área de estruturas. Em 1987 saiu da empresa para focar-se na área de pesquisa de análise dinâmica de cravação de estacas. Em 1991 iniciou suas atividades como pesquisadora recém-doutora na UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) e ficou até 1992, quando foi para a UFF (Universidade Federal Fluminense), atuar como professora-adjunta. Realizou seu pós-doutorado no Norwegian Geotechnical Institute, na Noruega, de 1993 a 1995. Em 2004 iniciou como docente na UERJ, onde atua na graduação e pós-graduação, na coordenação de projetos de


Entrevista

pesquisa, CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e Faperj (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro), projetos de extensão e também na orientação de monografias de graduação, dissertações de mestrado e teses de doutorado. Como surgiu o interesse pela engenharia? A opção de cursar engenharia surgiu no segundo grau, com o interesse pelas disciplinas de matemática e física. Naquela época, meus pais incentivavam muito o estudo como a única forma de se tornar independente e conquistar um espaço de realização profissional com proventos dignos. Eu também gostava muito de ler, escrever e estudar línguas, mas nunca pensei que o estudo de idiomas pudesse me levar à almejada independência. Todos os cinco filhos de meus pais tiveram êxito no primeiro vestibular, e todos cursaram a UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), exceto a filha caçula, que iniciou o curso de Arquitetura na UFRJ, mas já no seu início trocou por comunicação visual na PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro). Somos três engenheiros, um arquiteto e uma programadora visual. Quais foram as suas influências para essa escolha? Não houve influências da família. Meu pai, Francisco Rezende Ragoni, foi um grande exemplo em minha vida. Ele era bancário, vindo do interior de Minas Gerais, filho de um ferroviário, agente de Estação da Leo­ poldina. Veio muito jovem para o Rio 11

Fundações e Obras Geotécnicas

de Janeiro. Meu avô, Vicente Ragoni, era filho de imigrantes italianos. Sua mãe, minha avó paterna, sempre foi sua grande inspiradora. Educada numa família mineira de maior visibilidade cultural, estudava muito, falava francês muito bem e seu português era impecável, como de toda a sua família. Infelizmente morreu muito jovem, mas meu pai sempre teve na figura materna sua grande inspiração. Ele casou-se muito cedo com Hebe, professora primária, que deixou de cuidar dos alunos, na cidade de Além Paraíba, também em Minas Gerais, para morar no Rio de Janeiro e, em seguida, tomar conta dos cinco filhos. Meu pai, Francisco, deixou o curso de economia ainda incompleto, na Fundação Getulio Vargas, por conta da necessidade de se dedicar ao trabalho para o sustento da família, que crescia a cada dia. Esta dedicação foi muito profícua à família e também ao êxito em sua carreira. Conte-nos um pouco sobre a sua formação acadêmica. A graduação iniciada em 1972 na UFRJ, no Campus da Ilha do Fundão, foi concluída em 1976, com ênfase em mecânica dos solos. Essa ênfase teve início na Escola de Engenharia da UFRJ, hoje Escola Politécnica, em 1968, há quase cinquenta anos. A dúvida entre as ênfases em estruturas, obras hidráulicas e mecânica dos solos se resolveu quando conheci o professor Fernando Emmanuel Barata. Todos os jovens daquela época encontravam no professor Barata o acolhimento, o estímulo, a atenção com cada um de nós, que fazia nos sentir especiais, cada qual do seu jeito. A to-

Com o engenheiro Rolf Lauritzsen, acompanhando a cravação de estacas offshore em trabalho do NGI

dos o grande mestre prestigiava e acolhia de forma individual, enaltecendo o ser humano atrás do aluno repleto de dúvidas, indecisões, incertezas quanto ao caminho a seguir, do futuro que se vislumbrava. Em especial, as alunas eram todas merecedoras de grande prestígio, estímulo e atenção. Posteriormente, ao frequentar muito a sua casa em Ipanema (RJ), soube que o professor tivera uma irmã engenheira, de grande talento, que morrera prematuramente, de quem muito se orgulhava. No meu entendimento esta era uma das razões pelas quais as jovens engenheiras se sentiam tão especiais para o ilustre professor.


Entrevista

Parte da Tubulação do Europipe, para transporte de óleo da Noruega até o Norte da Alemanha

Trabalhos de campo com a mais jovem doutoranda, Karolyn Resch de Moraes Santos

Eu tive a sorte de ter sido escolhida pelo professor Dirceu Velloso, entre outros candidatos da turma do quarto ano, a um estágio na empresa Estacas Franki. O professor Dirceu, assim como o Barata, também prestigiava muito as alunas. Me lembro que quando entrei na Franki, onde 12

Fundações e Obras Geotécnicas

não havia engenheiras, na época, soube pelo colega Paulo Frederico Monteiro que todos os demais diretores, excetuando o professor Dirceu, não queriam uma engenheira, mas sim um engenheiro. O professor Dirceu, para sorte minha, não acolheu a opinião dos demais. Pai de

três filhas, ele tinha também razão de sobra para reconhecer o valor do trabalho feminino. Depois conheci suas filhas, uma das quais é minha dermatologista, Maria Beatriz Velloso. Antes de iniciar na Franki, eu havia prestado dois concursos: um para Furnas e outro para o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), tendo sido aprovada em ambos, mas não chamada. Já estava pensando em mudar de área, quando surgiu a oportunidade conferida pelo professor Dirceu. Trabalhei na Franki durante 12 anos, onde aprendi muito com os professores Dirceu Velloso e Nelson Aoki. Trabalhar com um time de primeira linha, todos ex-alunos dos professores Barata e Dirceu, foi um início bastante profícuo para a minha vida profissional. Como o professor Dirceu também lecionava no curso de pós-graduação na COPPE- UFRJ, logo surgiu a oportunidade de cursar o mestrado, em tempo parcial, tendo desenvolvido a tese, sob sua orientação, em assunto de interesse da Franki. O professor Dirceu colocou à minha disposição uma equipe de estagiários que me auxiliou no desenvolvimento da pesquisa de mestrado, intitulada “Estudo de Correlações entre os Ensaios de Penetração Estática e Dinâmica e suas Aplicações ao Projeto de Fundações Profundas”. Após o mestrado, concluído em 1982, e ainda na empresa, iniciei as disciplinas do doutorado em 1985. Nesta ocasião, o professor Dirceu se desligou da Franki, tendo ido para a empresa Promon Engenharia e o Aoki para a empresa Scac. Saí da Franki em


Entrevista

1987, para poder me dedicar melhor ao doutorado. Ao mesmo tempo, prestava serviços de consultoria geotécnica para a empresa Dolphin Engenharia, a convite do diretor-técnico, o engenheiro portuário Lino Machado, colega de turma e grande amigo do professor Dirceu. Lá participei de projetos de grandes portos. Finalizei o doutorado em 1991, sob a orientação do professor Francisco de Rezende Lopes e coorientação de Álvaro Maia da Costa. A tese de doutorado teve como título: “Análise Dinâmica da Cravação de Estacas”. Após um período de seis meses na UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), com uma bolsa de recém-doutor do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), trabalhando com o professor Marcus Pacheco, prestei concurso para a UFF (Universidade Federal Fluminense). No início de 1992 iniciei como docente da UFF, juntamente com o professor e grande engenheiro geotécnico Leandro de Moura Costa Filho, que compunha a equipe de Geotecnia com o professor Haroldo Braune Collet. No período entre 1993 e 1995 estive no pós-doutorado no NGI (Norwegian Geotechnical Institute), na Noruega. Lá trabalhei, principalmente, com Susanne Lacasse, Rolf Lauritzsen, Per Magne Aas, Birger Hansen, Farrok Nadim, entre outros da equipe de fundações. Quais são as suas experiências com projetos e trabalhos na área de engenharia civil? Na época em que atuei na Franki tive a oportunidade de participar de 13

Fundações e Obras Geotécnicas

Acompanhamento de leituras de instrumentação de uma grande escavação no Jardim Botânico, no Rio de Janeiro

projetos de fundações de grandes estruturas, como estruturas industriais, portuárias, escavações para implantação de grandes subsolos, entre outras. Cito algumas destas obras: escavações e contenção do subsolo do BNH (Banco Nacional de Habitação), em Curitiba (Paraná); fundações do Porto de Paranaguá (Paraná), Portobras; fundações dos Armazéns do Terminal Graneleiro de São Francisco do Sul, em Santa Catarina; fundações do Centro de Convenções e Exposições de Pernambuco; acompanhamento de recalques de prédio em Laranjeiras (Rio de Janeiro); projeto de melhoria do solo por meio de estacas de compactação para implantação de fundações diretas na ampliação do Campus da Unicap (Universidade Católica de Pernambuco), em Recife; acompanhamento de provas de carga a compressão, tração e esforço horizontal em diversas obras; fundações da Ponte sobre o Riacho Re-

ginaldo, em Pernambuco; escavação e contenção do subsolo do Edifício Júlia Guerra, em Belo Horizonte (Minas Gerais); fundações do Edifício Torre de Malecon e do edifício Santay em Guayaquil, no Equador, e Cooperativa Magisterial do Uruguai; projeto da ensecadeira do Viaduto Torre Parnamirim, em Pernambuco; fundações em estacas Mega e estacas metálicas do Edifício Cidade de Ilhéus, na Bahia, entre diversas outras obras. Havia também cursos internos na Franki de formação de engenheiros, tanto de projetos como de controle de obras, muito interessantes, ministrados pelo professor Dirceu, Nelson Aoki, bem como pelos engenheiros mais experientes de cada setor em que a empresa atuava. No início eu participava como aluna do curso, porém no final fui chamada para dar algumas aulas também. Na Franki desenvolvíamos o projeto e visitávamos as obras,


Entrevista

Em visita recente ao professor Barata, em companhia do professor Alberto Sayão

realizando também o controle da uniformidade de execução das estacas e a verificação de seu desempenho. Uma de minhas primeiras tarefas na Franki foi executar uma prova de carga em estaca metálica em Copacabana (RJ). Me recordo de como foi difícil seguir todas as prescrições da norma, uma vez que o meu colega da própria empresa, responsável pela obra, não aprovava minha missão que, segundo ele, prejudicava o andamento dos serviços que estavam sendo executados nas proximidades da área ensaiada. Na empresa Dolphin Engenharia participei da equipe que desenvolveu vários projetos, atuando nos serviços de geotecnia: ampliação do Terminal de Contêineres do Porto do Rio Grande, no Rio Grande do Sul, Portobrás; Terminal Portuário de Sergipe, Petrobras; ampliação do Cais São Francisco do Sul, em Santa Catarina, Portobrás; atracadouro e pátio de Manobras para Desembarque de Cargas 14

Fundações e Obras Geotécnicas

Pesadas das Unidades 2 e 3 da Central Nuclear Álvaro Alberto, Itaorna, em Angra dos Reis (RJ); prolongamento do Cais de Produtos Siderúrgicos, Praia Mole, no Espírito Santo, Portobras; Porto de Sepetiba, no Rio de Janeiro, Portobras; Cais de Submarinos da BACS (Base Almirante Castro e Silva), DOCM (Diretoria de Obras Civis da Marinha), no Rio de Janeiro. Em 2004, me desliguei da UFF e ingressei na UERJ, por meio de um novo concurso, uma vez que a pós-graduação da UFF não contemplava a especialidade de geotecnia. Por outro lado, na UERJ a pós-graduação em engenharia civil, incluindo as ênfases em estruturas e geotecnia, se iniciava, necessitando de novos professores. Atuando de forma intensa na universidade, tanto na UFF como na UERJ, em ensino, pesquisa e extensão, as atividades de projeto foram reduzidas à atuação em algumas consultorias geotécnicas para diferentes empresas.

Alguns trabalhos mais significativos podem ser destacados, como: o parecer geotécnico das fundações de diversas fábricas para a White Martins; parecer geotécnico do desempenho das estacas do tipo raiz da obra na rua Carlos Gomes, em Niterói (RJ); interpretação de ensaios dinâmicos das estacas pré-moldadas do SESC (Serviço Social do Comércio), na avenida Ayrton Senna, no Rio de Janeiro; parecer geotécnico das fundações dos equipamentos da White Martins em Ouro Branco, Açominas; o projeto geotécnico para a implantação do Centro Comercial Barra Express, na Ayrton Senna; parecer geotécnico sobre as fundações do Pavilhão da REVAP (Refinaria Henrique Lage); verificação do comportamento das fundações dos geradores eólicos em Fortaleza (Ceará); análise da cravabilidade das estacas do Porto do Açu, em São João da Barra (RJ); entre outros estudos. Como é o trabalho de coordenação de projetos no CNPq? Assim que entrei na UFF, em 1992, passei a ser pesquisadora do CNPq, coordenando um grupo de pesquisa na área de fundações, projeto este que tem sido renovado, desde então, de forma continuada. O título do projeto é: “Análise Estática e Dinâmica de Fundações e Interação Solo x Estrutura”. Sempre que o CNPq apresenta Editais Universais de Pesquisa, procuramos desenvolver projetos que permitam obter recursos para aquisição de equipamentos de campo e laboratório, para a realização de pesquisas com os alunos da pós-graduação, mestrado e doutorado. Além dos recursos dos órgãos de


Entrevista

fomento, procuramos manter parcerias com empresas de engenharia, algumas delas onde atuam ex-alunos, cujos serviços realizados geram banco de dados para a realização de diversas pesquisas. Muitas obras contemplando a instrumentação geotécnica são retro analisadas pelos bolsistas, gerando novas concepções de projeto e novos critérios de desempenho de comportamento de fundações. Conte-nos sobre as suas pesquisas já realizadas ao longo de sua carreira. As pesquisas realizadas envolvem principalmente ensaios de campo, desempenho de fundações e comportamento de escavações, assuntos que correspondem também a minha atuação na engenharia. Atualmente costumo propor temas para pesquisa em questões que eu gostaria também de aprender um pouco mais e esta estratégia me proporciona o avanço do conhecimento em conjunto com os alunos. Dentre estes temas, destacam-se: interação solo x estruturas. Esta linha de pesquisa objetiva a análise dos resultados de medidas de recalques e deformações em pilares em várias obras instrumentadas, desde o início da execução. Um total de nove obras já foram contempladas com instrumentação dos recalques, desde o início da construção e analisadas por vários alunos de mestrado. Uma mais recente, de doutorado, procurou quantificar a influência da deformação lenta e retração do concreto na redistribuição das cargas e uniformização dos recalques ao longo do tempo. Nesta linha de pesquisa há sempre novas obras incorporando um banco de dados cada vez mais extenso, 15

Fundações e Obras Geotécnicas

possibilitando o avanço do conhecimento deste assunto. Outro tema que tem tido interesse de jovens pesquisadores é o estudo das tensões residuais de cravação. Esta linha de pesquisa visa investigar os aspectos que mais contribuem para o desenvolvimento destas tensões. A consideração das tensões residuais é essencial à interpretação de provas de carga estáticas e dinâmicas e na previsão do comportamento de estacas cravadas. Embora não interfiram no valor da carga de ruptura, as tensões residuais têm uma influência marcante no mecanismo de transferência de carga estaca-solo. As análises paramétricas desenvolvidas em estacas metálicas cravadas em solos predominantemente arenosos mostraram aspectos interessantes relativos aos efeitos da porcentagem da carga na ponta, distribuição do atrito lateral e energia de cravação. Para qualquer distribuição de atrito lateral e energia de cravação, as tensões residuais são fortemente influenciadas pela parcela de carga na ponta. A razão entre as tensões residuais e a capacidade de carga inicialmente cresce e, em seguida, decresce com o acréscimo da porcentagem de ponta. Outra linha de pesquisa é a de confiabilidade de fundações e obras de terra. Ela tem como objetivo investigar as principais fontes de incertezas inerentes ao projeto e desempenho de fundações e obras de terra. Destacam-­ se: a variabilidade do solo, os efeitos do carregamento, os efeitos do tempo, os diferentes processos construtivos, os erros humanos, os erros de sondagens e ensaios in situ, entre outros. Como aplicação direta da análise de

confiabilidade de fundações tem sido realizados estudos de avaliação do desempenho de estaqueamentos com base numa análise concebida originalmente para estacas offshore. Estas análises foram adaptadas às fundações em terra, com resultados iniciais bastante satisfatórios. Trata-se de uma aplicação de procedimento de atualização da resistência do solo durante a cravação baseada em registros documentados durante a execução. A atualização é procedida através da aplicação dos conceitos da análise Bayesiana. Os resultados têm mostrado uma qualidade bastante satisfatória da atualização da resistência nos casos já analisados. A pesquisa de Análise Dinâmica de Cravação de Estacas também se destaca e procura aprofundar o estudo dinâmico da retro-análise de sinais de monitoramento da cravação de diferentes tipos de estacas, bem como da instrumentação do SPT (Standard Penetration Test). A incorporação de modelos de solo melhorados às análises tem proporcionado uma maior compreensão do comportamento do solo quando submetido ao carregamento dinâmico. Dentre os trabalhos realizados, quais considera de maior destaque ou que lhe trouxeram mais satisfação? É uma grande satisfação a realização de pesquisa aplicada que contribua para o melhor desempenho e comportamento das obras realizadas, resultando na redução do custo por meio do melhor conhecimento do comportamento do solo, das questões inerentes a execução, do refinamento dos modelos de análise, entre outros fatores. O melhor conhecimento das


Entrevista

Bernadete e Ian Schumann Marques Martins visitam o professor Fernando Barata

A engenheira com os filhos, Priscila e Fernando Artur

incertezas oriundas da natureza das cargas, mapeamento das variabilidades do solo, previsão acertada do comportamento do solo ao longo do tempo e das mudanças de comportamento decorrente da execução são muito relevantes à melhora do custo das obras. Neste sentido, a retroanálise de dados de execução de obras de estaqueamento, possibilitando a avaliação do desempenho e redução das incertezas é um assunto que gera fer16

Fundações e Obras Geotécnicas

ramentas importantes para a prática das fundações, contribuindo para o melhor comportamento futuro das obras de engenharia. Como é conciliar a carreira acadêmica com sua atuação em outras empresas do setor? A carreira acadêmica é muito gratificante, uma vez que o professor participa da transformação de jovens talentos por meio da educação, úni-

ca ferramenta capaz de resultar num melhor destino da sociedade. Eu considero como a mais importante tarefa do professor o ato de motivar os alunos, bem como ajudá-los a crescer e desenvolver-se como seres humanos úteis e capacitados a modificar o mundo que os cercam. Propor temas de pesquisa e acompanhar o desenvolvimento das análises e trabalhos desenvolvidos pelos alunos nos faz sentir sempre jovens como eles. A atuação prática vem em decorrência do trabalho de pesquisa, que nos capacita a resolver os problemas em sua origem, investigando suas causas, interpretando o comportamento do solo e prevendo o desempenho do empreendimento. É o resultado da integração do ensino, da pesquisa e de sua extensão na resolução dos problemas da engenharia. No âmbito do ensino quais disciplinas mais gosta de lecionar? Todas, pois é ensinando que mais se aprende, e eu adoro aprender coisas novas. Digo sempre aos alunos que nunca pretendo me aposentar, pois tenho ainda muito o que aprender. Digo sempre que quero daqui a 30 ou 40 anos estar na primeira fila, de “bengalinha”, aplaudindo o desempenho deles na apresentação de seus trabalhos futuros. Pretende escrever algum livro da área futuramente? Recentemente tive a honra de participar, com os colegas Denise Gerscovich e Robson Saramago, como um dos autores do livro “Contenções: teoria e aplicações em obras”,


Entrevista

editado pela Oficina de Textos. Estou, no momento, trabalhando num segundo livro, este sobre fundações profundas, em parceria com o professor Francisco Lopes. Neste livro, voltado para os alunos de graduação, pós-graduação e jovens engenheiros geotécnicos, estamos incluindo uma série de problemas resolvidos, retirados de casos de obras e soluções da prática. Tenho também já alinhavado com o professor Marcus Pacheco, colega da UERJ, um livro sobre aplicações da “Estatística à Engenharia Geotécnica”. O professor Marcus Pacheco ministra o curso de Métodos Probabilísticos na pós-graduação da UERJ e suas aulas merecem ser organizadas e transformadas num livro. Prometi auxiliá-lo nesta empreitada, pois é também um assunto que muito me interessa e auxilia no tratamento dos dados de campo. Quais são os seus projetos futuros? Pretendo dar continuidade às atividades de ensino, pesquisa e aplicações práticas na engenharia, tarefa bastante laboriosa, mas extremamente gratificante e profícua, que nos faz sentir sempre jovens aprendizes, a cada dia com diferentes possibilidades que se vislumbram com os novos desafios. Com uma carreira já consolidada atualmente, qual avaliação faz da sua trajetória até aqui? Olhando para trás, a trajetória até aqui já parece longa, com uma história intensa, compartilhada com muitos atores: professores que tanto me motivaram e que já se foram, outros com quem muito trabalhei, pratiquei 17

Fundações e Obras Geotécnicas

e com quem muito aprendi, que já se encontram bem idosos, muitos colegas queridos com quem tive a honra de atuar em algum projeto, em alguma consultoria etc., mas prefiro olhar sempre para a frente, e vejo ainda muito aprendizado, muitas conquistas, novos caminhos que quero seguir com novos alunos, com os mesmos antigos colegas e também com novos atores que surgem sempre, a cada dia em nossas vidas. Quais são as suas perspectivas para o mercado brasileiro da engenharia e geotecnia? Após este grande turbilhão em que vivemos na engenharia, resultado de má gestão e falta total de ética de nossos governantes e contratantes, minha expectativa é de que surja um mercado totalmente renovado e abundante para os jovens geotécnicos, que têm se preparado, se especializado e que merecem um bom lugar ao sol, praticando a boa técnica, alavancando a economia, ocupando os cargos com competência, dignidade, compromisso, seriedade, visando o bem de todos e do crescimento de nosso país. Quais são as suas principais referências no segmento? São muitas as referências que tive na engenharia geotécnica. Sou muito grata pelo que aprendi com todos que gentilmente me acolheram na profissão. Destaco aquelas pessoas que me são mais chegadas, por terem sido grandes professores, alguns ainda atuantes, colegas de destaque, de uma geração anterior à minha como

o Fernando Emmanuel Barata, Dirceu de Alencar Velloso (já falecido), Nelson Aoki, Francisco de Rezende Lopes, Willy Lacerda, Leandro Moura Costa Filho, com quem trabalhei na UFF, e Marcus Pacheco, com quem tenho trabalho muito atualmente na UERJ. Os da minha faixa etária, e aqueles mais jovens, são também numerosos, competentes e com quem também estou sempre aprendendo a cada dia. Conte-nos um pouco sobre a sua trajetória pessoal. Sou a segunda filha de um grupo de cinco, sendo meus irmãos: Virginia, Francisco, Andre e Luciana, nesta ordem cronológica. Após a morte de meus pais, Francisco em 2009 e Hebe em 2014, costumamos nos reunir para um jantar, ao menos uma vez ao mês, além, naturalmente dos eventos de família. Somos muito unidos, resultado da importância que meus pais sempre deram à família, que se reunia sempre nos almoços de domingo. Tenho dois filhos adoráveis, Priscila e Fernando Artur. Eles são os projetos mais importantes de minha vida. Agora, recentemente, em 4 de fevereiro de 2017, fui brindada com um projeto especialíssimo, minha netinha Liesel, filha de Priscila, uma grande obra divina em minha vida, um pedacinho do céu que surgiu para reforçar ainda mais o projeto de vida original. Que venham outros projetos, que venham muitos, pois a vovó vislumbra muito trabalho e um futuro laborioso e feliz pela frente!


Destaque

4º CBT, LAT 2017 E TC-204 ISSMGE ABORDAM O FUTURO DA ATIVIDADE TUNELEIRA NO MUNDO Além das tendências, a programação dos eventos que aconteceram paralelamente contou com temas como planejamento urbano e uso do espaço subterrâneo por Dellana Wolney

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Nos dias 3 a 6 de abril, a cidade de São Paulo (SP) sediou simultaneamente três importantes eventos da área de túneis da América Latina: o 4º Congresso Brasileiro de Túneis e Estruturas Subterrâneas, o LAT 2017 (Seminário Internacional Latin American Tuneling) e o TC-204 ISSMGE (9th International Symposium on Geothecnical Aspects of Underground Construction in Soft Ground). Ao todo foram mais de 500 participantes brasileiros e estrangeiros que se reuniram para discutir temas fundamentais do segmento. Os eventos foram promovidos pela ABMS (Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica), CBT (Comitê Brasileiro de Túneis) e pela ITA-AITES (International Tunnelling and Underground Space Association) e contou com o patrocínio de empresas como CJC Engenharia e Projetos, CBP Concreto Projetado do Brasil, Herrenknecht, Incotep Sistemas de Ancoragem, UTT Mapei entre outras. Na ocasião foram apresentados diversos estudos de casos e pesquisas nas áreas de pro-

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jetos, construção, manutenção e operação de túneis e foram proferidas conferências de especialistas consagrados no segmento. Além disso, parte da programação se dedicou integralmente à apresentação de trabalhos técnicos executados por participantes brasileiros e da América Latina, bem como a exposição de produtos, serviços, equipamentos e visitas técnicas. Os dois dias que antecederam a abertura oficial do evento (31 de março e 1 de abril) foram reservados para um curso de atualização e aperfeiçoamento na área de túneis, sendo ministrado por profissionais brasileiros e estrangeiros. Temas como geologia de engenharia aplicada a túneis, métodos construtivos de poços, concreto projetado, condicionamento de maciços, túneis em solo, estimativa de parâmetros operacionais para tuneladoras e impermeabilização de túneis fizeram parte no cronograma programático.

PALESTRA MAGNA Após a abertura do primeiro dia de even-


Fotos: Divulgação 4º CBT

Destaque

4º Congresso Brasileiro de Túneis e Estruturas Subterrâneas, LAT 2017 (Seminário Internacional Latin American Tunneling) e TC-204 ISSMGE (9th International Symposium on Geothecnical Aspects of Underground Construction in Soft Ground)

to, o engenheiro, professor da UnB (Universidade de Brasília) e ex-presidente da ABMS, André Pacheco de Assis ministrou a palestra magna “Engenharia de Túneis no Brasil: Desafios e Tendências”. Na oportunidade, ele comentou sobre os caminhos que a engenharia de túneis trilhou ao longo de duas décadas, suas evoluções, as tendências e inovações futuras da engenharia de túneis no País. Para o geólogo do Metrô de São Paulo e presidente da Comissão Organizadora do 4º CBT, Hugo Cássio Rocha, o assunto tratado por Assis foi um dos pontos mais relevantes tanto nas mesas-redondas, como nos debates e palestras, embora muitas vezes tenha sido abordado indiretamente. “Neste momento de nosso país, não há como fugir dessa discussão, que envolve não só a engenharia de 19

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túneis, mas a engenharia brasileira como um todo”, observa. Pacheco foi incisivo em sua apresentação afirmando que um dos principais problemas que contribuiu para que a corrupção ocupasse também o âmago da engenharia brasileira foi a ausência de investimento e valorização dos projetos bem como, ao mesmo tempo, a permissão para que o agente público, grande contratante e hoje totalmente partidarizado, trabalhe sem planejamento, corpo técnico qualificado e crie falhas nas licitações para facilitar os “ajustes” de contrato. Assis enfatiza que há soluções e elas começam na real evolução das especificações e mudanças significativas nas diretrizes de contratação e operação das obras. “Questionar e repensar isso tudo talvez seja uma das maiores contri-

buições desta edição do congresso. Rever as necessidades de planejamento e gestão, discutir a visão estratégica da infraestrutura por parte do estado, a importância de projetos bem elaborados para diminuir as incertezas e as margens para a corrupção, a prioridade da gestão de risco adequada em obras subterrâneas, a real avaliação dos riscos de acidentes de engenharia e sua ligação com licitações malfeitas e a redução de custos”.

MESA-REDONDA O destaque do primeiro dia também foi a mesa-redonda sobre “Práticas e Perspectivas Atuais: como fortalecer a imagem da engenharia de túnel junto à sociedade”, que teve como debatedores o geólogo e diretor-presidente na empresa ARS Geologia Álvaro Rodrigues do Santos; o engenheiro


Destaque

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1. O engenheiro, professor da UnB e expresidente da ABMS, André Pacheco de Assis 2. O engenheiro do Metrô de São Paulo, Argimiro Alvarez Ferreira

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3. O geólogo e diretor-presidente na empresa ARS Geologia, Álvaro Rodrigues dos Santos 4. O engenheiro, professor da EESC-USP), gerente de engenharia civil da empresa Themag Engenharia e presidente da ITA, Tarcísio Barreto Celestino

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nharia e presidente da ITA, Tarcísio Barreto Celestino. Na ocasião, Celestino complementou as abordagens feitas anteriormente pelos outros participantes da mesa-redonda e comentou sobre o cenário difícil que o Brasil passa, inclusive neste segmento.

Para ele, as obras de infraestrutura não podem parar. “O País não pode simplesmente estagnar sua infraestrutura por tempo indeterminado. O prejuízo de obra parada, especialmente as subterrâneas, pode ser irrecuperável”, analisa. Ele também citou obras do pas-

5. O engenheiro da Odebrecht, Dante Venturini de Barros 6. O presidente da ABMS, Alessander Kormann

do Metrô de São Paulo, Argimiro Alvarez Ferreira; o engenheiro da Odebrecht, Dante Venturini Barros e o engenheiro, professor da EESC-USP (Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo) e gerente de engenharia civil da empresa Themag Enge20

Fundações e Obras Geotécnicas


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sado que foi motivo de orgulho para o Brasil, dentre elas o Metrô de São Paulo e a Usina Hidrelétrica de Itaipu. Em contrapartida, o engenheiro falou também das obras que estagnaram, mas que as oportunidades ainda existem e dependem de políticas corretas de desenvolvimento que o País precisa adotar. “A duplicação da Rodovia Regis Bittencourt que começou na década de 1970, portanto há 40 anos, e até hoje não se concluiu porque se tomou a decisão errada de fazer toda a duplicação em superfície”, exemplifica. Já Santos se aprofundou um pouco mais nas especificações e mudanças que devem ser feitas nas diretrizes de contratação e operação das obras, assunto citado por Assis anteriormente. Dentre estas diretrizes, está a reavaliação da Lei nº 8.666/1993, que estabelece normas gerais sobre licitações e contratos administrativos pertinentes a obras e serviços da administração pública. “É necessário sairmos da zona de conforto, do casulo, e informar de maneira clara que não é apenas o tipo de contrato que garante o sucesso ou insucesso das obras. É muito mais que isso, caso contrário, vamos continuar a sofrer as consequências de uma política que não fizemos. E se não fizermos, outros farão novamente”, enfatiza Santos.

ESTUDOS DE CASO No segundo dia de evento diversas palestras compuseram a programação, dentre elas: “Ama21

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Participantes dos eventos

zing Underground Construction Technology in Japan”, ministrada pelo engenheiro Hirokazu Akagi; “Serra do Cafezal – BR 116/SP – Projeto e Obra de Duplicação”, pelo engenheiro Eneo Palazzi; “Normet: Shotcrete – Otimização de Custos”, apresentada pelo pa-

lestrante Ismael Anabalon e uma mesa-redonda, cujo tema foi “Segurança e Operação em Túneis”. Uma das palestras internacionais do dia foi “O Futuro Urbano Subterrâneo: o futuro de nossas cidades”, ministrada pelo engenheiro Han Admiraal. Na oportu-


Destaque

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7. O engenheiro Eneo Palazzi ministrou a palestra “Serra do Cafezal – BR 116/SP – Projeto e Obra de Duplicação” 8. O engenheiro e professor da Sungkyunkwan University, Chungsik Yoo

Vencedores da 1ª Edição do Prêmio Professor Figueiredo Ferraz

nidade, um panorama histórico da utilização do espaço subterrâneo no mundo foi apresentado, citando desde tendências futuras até o início da história da utilização do espaço subterrâneo. “Eugène Hénard já pensava nas cidades do futuro desde 1903 com o trabalho publicado ‘Etudes sur les transformations de Paris’”, explica. Ele também citou a contribuição do arquiteto Édouard Utudjian, criador do conceito “Underground Urbanism” e fez um paralelo sobre o que atualmente a 22

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população quer e do que ela realmente precisa em relação à organização estrutural e urbanística de uma região. Com esse gancho, o engenheiro falou do que possivelmente será uma tendência para o futuro que é a conectividade e integração de espaços subterrâneos com sistemas habitacionais e de transportes integrados e o reaproveitamento do espaço na superfície para lazer e recriação. Como exemplo desta evolução ele citou o Veranda Car Park em Rotterdam, na Holanda.

EXPERIÊNCIAS INTERNACIONAIS O último dia de evento foi focado principalmente nas palestras internacionais. Tarcísio Barreto Celestino apresentou o tema “Influence of the Trough Shape on Settlement Prediction and Analysis”; o engenheiro Fernando Diez Rubio falou sobre as obras subterrâneas do Metrô de Lima, no Peru; o engenheiro Roberto Gonzalez Izquierdo fez um panorama abrangendo as principais obras subterrâneas do México como a


Destaque

grande obra hidráulica subterrânea do Túnel Churubusco-Xochiaca, bem como a obra do novo aeroporto internacional, ambas localizadas na capital do país. Já o engenheiro Andrés Marulanda comentou sobre um tema bastante relevante que foi “Práticas Contratuais”, enfatizando suas experiências na Colômbia, e o engenheiro e professor da Sungkyunkwan University, Chungsik Yoo falou detalhadamente dos projetos mais recentes de construção subterrânea na Coreia do Sul. No início de sua apresentação, Yoo mostrou dados básicos sobre a capital do país, Seul, destacando grandes obras como a Ponte de Incheon que, liga Seul ao Aeroporto Internacional de Incheon, cuja estrutura tem aproximadamente 21,38 km de comprimento total, sendo considerada a ponte mais longa da Coreia do Sul. Dentre as obras em execução na Coreia do Sul, Yoo destacou o Projeto Construtivo do Repositório do LILW (Low to Intermediate Level Waste), localizado em Gyeongju. Ele mostrou a visão sistemática da construção e citou os principais desafios geotécnicos durante a etapa de projeto do centro de armazenamento, como a inesperada condição do solo. Além disso, descreveu detalhes geológicos e propriedades geotécnicas do local que abrigaria os silos, que foram fabricados para reagir adequadamente às diversas condições geológicas da região. Em seguida, o professor da Sun23

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Homenagem especial prestada ao engenheiro e gerente-técnico da empresa Novatecna, Akira Koshima

Premiação pelo melhor artigo do congresso entregue pelo engenheiro e presidente da Comissão Técnico-Científica do 4º CBT, Luis Sózio ao geólogo do Metrô de São Paulo, Hugo Cássio Rocha e ao engenheiro do Metrô de São Paulo, Marcelo Denser Monteiro

gkyunkwan University, Chungsik Yoo apresentou detalhes sobre a linha de construção do AREX (Airport Railroad Express), descrevendo as condições de escavação dos túneis da obra, o design escolhido para essa estrutura, a caracterização do assentamento da superfície, bem como o trabalho de monitoramento das

águas subterrâneas feitas no local. Por fim, Yoo explicou sobre os projetos de expansão do Metrô de Seul, citando a construção da Linha 9 como estudo de caso principal.

DIVERSIFICAÇÃO Além das grandes palestras que abordaram planejamento urbano e


Destaque

A empresa Incotep Sistemas de Ancoragem foi a patrocinadora Ouro do 4º CBT

uso do espaço subterrâneo; túneis convencionais; túneis mecanizados; contratos, seguros e gestão de riscos no Brasil e no exterior; interferências e interação de túneis com edifícios e estruturas subterrâneas; escavações subterrâneas em mineração, óleo e gás; meio ambiente e obras subterrâneas; uso de BIM (Building Information Modelling) em projetos subterrâneos; suporte, revestimentos e materiais; condicionamento de maciços; impermeabilização e novas tecnologias em obras subterrâneas, também aconteceram diversas sessões técnicas com apresentações de trabalhos técnico-científicos de todo o mundo. Durante o evento, o CBT lançou a 1ª Edição do Prêmio Professor Figueiredo Ferraz, cujo objetivo é incentivar a produção de trabalhos de graduação, podendo concorrer TCCs (Trabalhos de Conclusão de Curso) ou Trabalhos de Iniciação Científica, nas áreas de projeto e 24

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construção, operação, manutenção e reforço de túneis, obras subterrâneas e planejamento do espaço subterrâneo. Nesta primeira edição o troféu de primeiro e segundo lugar foi entregue por Lia de Figueiredo Ferraz, filha do patrono da premiação, o engenheiro José Carlos de Figueiredo Ferraz. O primeiro lugar foi dado aos estudantes Thiago Pereira Perez; José Carlos Monteiro, José Ivaldo Alves e Rodrigo Bucciolli Pereira pela autoria do trabalho “Construção de Túneis em Áreas Urbanas com Tuneladora EPB (Earth Pressure Balance Shields)” e em segundo lugar ficou a estudante Gabriela Reis Piazzetta pelo trabalho “Aplicação do laser scanner na análise de estabilidade em escavações subterrâneas: Mina Tabiporã, Campo Largo (PR)”. Na ocasião, o CBT também prestou uma homenagem especial ao engenheiro e gerente-técnico da

empresa Novatecna, Akira Koshima, bem como à empresa Toniolo, Busnelo S/A. A homenagem a Akira retrata a gratidão de toda a comunidade tuneleira do Brasil a toda contribuição do engenheiro ao meio técnico e em prol do bem comum. Além de ter sido presidente do CBT e membro da diretoria em outras oportunidades, Koshima é lembrado pelos colegas como alguém que sempre traz ao grupo muita energia e paz, fatores primordiais ao sucesso dos grandes eventos que são frequentemente organizados pelo CBT. Em relação à Toniolo, Busnello S/A, a homenagem especial foi uma forma encontrada pelo CBT de reconhecer as ações da empresa, que há décadas se especializou em obras subterrâneas. Trata-se também de uma constante investidora em tecnologias de ponta, que refletem em obras entregues no prazo e na confiabilidade adquirida junto aos contratantes, melhorando desta forma a imagem da engenharia civil no segmento de túneis no Brasil. Por fim, na esfera científica, o 4º CBT premiou o trabalho “Teor de Quartzo Equivalente ou Grau de Alteração? Qual destes Parâmetros é mais importante nos Estudos de Abrasividade em Regiões Tropicais?” como sendo o melhor artigo do congresso. O prêmio foi entregue pelo engenheiro e presidente da Comissão Técnico-Científica do 4º CBT, Luis Sózio ao geólogo do Metrô de São Paulo, Hugo Cássio Rocha e ao engenheiro do Metrô de São Paulo, Marcelo Denser Monteiro.


Jogo Rápido

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Reportagem

Sistema inteligente de construção a seco ganha cada vez mais espaço no mercado Além do apelo ambiental, a técnica se destaca pela velocidade de execução e redução dos custos de manutenção por Dellana Wolney

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Uma das principais atividades intrínsecas à sustentabilidade é a economia de água, pois a falta de chuvas e o racionamento tem sido uma realidade para os brasileiros nos últimos tempos. As situações dos reservatórios de água no Distrito Federal, por exemplo, acendeu um sinal de alerta nos canteiros de obras e trouxe alternativas para a utilização de técnicas construtivas que empregassem menos ou nenhuma água em seu processo. A construção a seco, caracterizada por não precisar de água na formulação dos materiais da estrutura já é amplamente utilizada em paí­ ses como Estados Unidos e Canadá e aproximadamente 90% das construções atestam o uso do método. “A construção a seco pode significar o fim do desperdício dos recursos naturais. Além da água, a areia e o cimento também são dispensados”, informa o diretor comercial da empresa Ferragens Pinheiro, Roli Pinheiro. O sistema de construção a seco Steel Frame

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atualmente é um dos mais conhecidos e utilizados nas obras brasileiras. Ele se destaca por possuir uma estrutura de perfis leves de aço contraventada com placas estruturais em OSB (Oriented Strand Board), que ao se unirem funcionam gerando rigidez, forma e sustentação à edificação. Dois produtos que compõem este sistema são oferecidos pela Ferragens Pinheiro. O primeiro deles é a Placa Cimentícia que é produzida com uma mistura homogênea de cimento Portland e fios sintéticos, por meio da tecnologia CRFS (Cimento Reforçado com Fio Sintético). A placa cimentícia apresenta como principais características durabilidade, estabilidade, praticidade no manuseio e instalação, facilidade no corte, além de permitir diversos tipos de acabamentos, proporcionando versatilidade de uso para a diversidade de projetos. A Placa Cimentícia se enquadra nas exi-


Fotos: Divulgação Ferragens Pinheiro

Reportagem

Construção a seco

gências técnicas da construção moderna, oferecendo total versatilidade e permitindo as mais variadas aplicações, tais como; paredes curvas, paredes diafragma, paredes internas (áreas secas e úmidas), paredes externas sujeitas a intempéries, paredes steel framing, sinalizações e fundos para luminosos, enclausuramento de estruturas (metálicas, concreto e madeira), revestimentos, divisórias sanitárias, forros, beirais e oitões, brises, módulos construtivos, shafts e fachadas. Já o segundo produto é o Painel Wall composto de miolo de madeira laminada ou sarrafeada, contraplacando em ambas as faces por lâminas de madeira e externamente por placas cimentícias em CRFS prensadas. De acordo com a diretora-executiva da Ferragens Pinheiro, Janine Brito, o processo de industrialização dos painéis constitui-se da prensagem especial dos componentes à alta tempe27

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ratura, resultando em um produto de características técnicas de comprovada qualidade. “O Painel Wall é ideal para atender às necessidades do mercado para sistemas construtivos modernos, atuando como divisórias com atestado desempenho acústico, paredes resistentes à aplicação de cargas suspensas, mezaninos e pisos elevados na função de laje, divisórias sanitárias, shafts para enclausuramento e em sistemas construtivos, na constituição de casas, escolas, hospitais e projetos modulares. Ele contribui para a racionalização da construção e a consequente redução de desperdício de materiais”, explica. Este produto atende praticamente a todos as formas de apropriação das placas cimentícias, com exceção do trabalho em paredes curvas, isso devido à sua natureza estrutural que o revela como excelente material para utilização em substituição a la-

jes de concreto com elevado desempenho mecânico e acústico, além de possibilitar a aplicação de cargas suspensas pontuais.

VANTAGENS No contexto de solução para sistemas construtivos, várias são as possibilidades de utilização, mas que devem ser prescritas em projeto, respeitando as especificações técnicas apresentadas pelo fabricante, conforme parâmetros normativos ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). Não existe restrição quanto à criatividade dos especificadores para estes materiais (arquitetos, engenheiros, construtores etc.). O fato de ter fabricação nacional para este canal de produtos gera um diferencial em relação aos custos observados para os produtos importados, uma vez que tarifações com processos de importação deixam de existir e, consequentemente, o pro-


Reportagem

Painel Wall

Especificações básicas da Placa Cimentícia

duto pode ser oferecido ao mercado com valores atrativos. A disponibilidade do material a pronta entrega, o suporte de equipes técnicas, e a compatibilização com outros materiais relacionados às necessidades do Steel Framing no Brasil são diferenciais em relação ao material importado. Quanto às vantagens no caso das Placas Cimentícias, é que esse material passa por processo de prensagem, o que garante desempenho para a redução dos coeficientes de absorção de líquidos e consequente elevação da resistência mecânica para natureza deste produto. Elas ainda possibilitam cortes mais precisos e acabados, caracterizando este material como excelente opção para uso in natura. Os Painéis Wall por serem prensados em alta temperatura, garantem indeformabilidade, diminuem a ocorrência de ataques por pragas e impedem o destacamento entre as camadas que os compõem. A cobertura superficial com placas cimentícias caracteriza o produto como acabado e possibilita a utilização de qualquer tipo de revestimento.

Janine Brito acrescenta que as limitações também existem, no caso do Painel Wall, as soluções de vedação e revestimento podem ser pensadas como forma de potencialização do desempenho nas situações em que a solução construtiva trabalhará diretamente com a umidade para garantir a estanqueidade do miolo. Já as Placas Cimentícias não são estruturais e, portanto, dependem de estrutura de apoio, o que caracteriza o material como elemento de vedação e revestimento.

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Fundações e Obras Geotécnicas

CONSOLIDAÇÃO “Para este momento de apropriação da técnica no cenário nacional não cabe mais a análise da receptividade. A técnica de construção a seco já está consolidada e tem sido utilizada em larga escala. Possuímos escolas especializadas que qualificam a mão de obra e empresas que trabalham exclusivamente esta solução técnica. Simpósios e congressos são erigidos com este tema para discussão e validação de constantes atualizações da técnica e de materiais que compõem este cenário”, comenta Janine Brito.

Ela completa que talvez o maior obstáculo deste segmento ainda seja a mão de obra, que por não possuir qualificação e dominar apenas uma técnica ultrapassada, enxerga dificuldade na utilização de sistemas construtivos inovadores. “Estes sistemas trabalham como agentes facilitadores nas obras, pois respondem a itens de sustentabilidade, contribuem para a racionalização e limpeza do canteiro de obras, melhoram os prazos e a execução sem gerar impactos aos cronogramas de obras, são concebidos sob a ótica de projeto e, desta forma, reduzem o risco de incidências patológicas no objeto construído ao longo de sua vida útil”. A obra de ampliação do Colégio Liceu, localizado na cidade-satélite Vicente Pires, no Distrito Federal é um caso real de sucesso na utilização da técnica de construção a seco. Além da economia e rapidez, a obra foi executada no período letivo, ou seja, a presença de crianças e jovens não atrapalhou o andamento do cronograma. “Trabalhamos sem necessidade de parar as aulas no colégio. Montamos


Reportagem

Placa Cimentícia Especificações básicas do Painel Wall

uma estrutura mais rápida, limpa e prática usando o Painel Wall”, pontua o responsável pela obra do Colégio Liceu, Josafá Oliveira Nunes. Segundo ele, o principal desafio neste caso foi o acesso ao local, pois a escola estava em aula e o local apresentava algumas complicações. “Tivemos que usar um pequeno guindaste para que a execução dos painéis fosse rápida. Se fosse da forma convencional seria impossível a execução. O resultado foi desafiador para nós e surpreendente para o contratante”, finaliza Nunes.

HISTÓRIA A partir da Segunda Guerra Mundial os pré-fabricados ganharam representatividade no contexto de suprir as necessidades relacionadas ao déficit habitacional. Vários métodos foram usados e desenvolvidos nessa época, com o intuito de aumentar a produtividade, a racionalização do projeto e diminuir o tempo de construção. Devido à globalização dos mercados houve um esforço ainda na década de 1970 para padronizar as medidas da pré-fabricação. A adoção mundial do Sistema Internacional de Medidas, cujo módulo fundamental é 600 mm e os múltiplos de três, só 29

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ocorreu de fato na década de 1980, após a pressão japonesa. A diretora-executiva da Ferragens Pinheiro, Janine Brito ainda destaca que o emprego intensificado do Steel Frame ocorreu somente a partir da década de 1990, impulsionado pelo aumento no preço das construções em madeira. A principal causa deu-­ se após os desastres naturais que assolaram os Estados Unidos: primeiro o furacão Andrew em 1992 e em 1994 o terremoto Northridge. “A maioria das casas em Wood Frame mostrou-se pouco resistentes aos desastres, causando no primeiro caso o maior reembolso já pago pelas seguradoras estadunidenses e no segundo tendo 25 mortes relacionadas ao método construtivo em madeira. Assim, as companhias passaram a sobretaxar as construções em Wood Frame e subtaxar as de Steel Frame, impulsionando esse mercado que passou de 500 casas construídas em 1992 para 500.000 em 2004”, revela. No Brasil, a primeira obra em Steel Frame foi feita no ano 1998, pela construtora paulistana Sequên­ cia, um condomínio de casas de alto padrão executado em cem dias com quase todos os componentes importados. Atualmente o mercado bra-

sileiro esta consolidado na procura pela técnica e especialmente na cadeia de fornecedores. Hoje os componentes são todos feitos no Brasil com garantia de qualidade e até mesmo concorrência entre empresas. De acordo com Janine Brito, não há dados precisos quanto ao aumento do uso do Steel Frame no Brasil, no entanto, o IBS (Instituto Brasileiro de Siderurgia), que acompanha os números do aço no País, aponta que o consumo de galvanizados na construção aumentou 91% no período entre 2000 e 2008. “Embora o Steel Frame venha sendo mais utilizado em São Paulo (SP), Belo Horizonte (MG) e Curitiba (PR), gradualmente começa a se expandir em áreas fora dos grandes centros, pois seus componentes são leves e podem ser facilmente transportados”. Ela cita como exemplo de utilização de Steel Frame, as instalações da Petrobras no campo de gás de Urucu, localizado no meio da Amazônia. Outra tendência é a adoção do sistema para suprir o déficit habitacional no Brasil, o que se tornou uma perspectiva possível com a nacionalização dos componentes e barateamento dos custos de produção.


Notícia

Micro e minigeração de energia elétrica têm crescimento notável no mercado brasileiro As modalidades promovem economia financeira, consciência socioambiental e autossustentabilidade por Dellana Wolney

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Minoru Karamatsu / Flickr

A

A micro e a minigeração de energia têm crescido exponencialmente no Brasil nos últimos quatro anos, superando a marca de sete mil instalações. De acordo com os registros da ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica), o número passou de quatro conexões registradas em dezembro de 2012 para 7.658 ligações registradas em 25 janeiro de 2017, o que representa uma potência instalada de 75.071,09 kW – suficiente para abastecer 60 mil residências. Uma das fontes mais utilizadas pelos consumidores-geradores é a solar com aproximadamente 7.500 adesões. Sequencialmente na lista está a energia eólica com 45 instalações. Segundo a agência, o estado com o maior número de micro e minigeradores de energia é Minas Gerais (1.644 conexões), seguido de São Paulo (1.370) e Rio Grande do Sul (782). O número positivo na micro e na minigeração de energia no Brasil passou a ser

Energia solar


Chris Potter / Flickr

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notado a partir de 2012, quando entrou em vigor a Resolução Normativa ANEEL nº 482/2012, estabelecendo que o consumidor brasileiro poderia gerar sua própria energia elétrica por meio de fontes renováveis ou cogeração qualificada e inclusive fornecer o excedente para a rede de distribuição de sua localidade. A microgeração distribuída na central geradora pode ter potência instalada de até 75 quilowatts (kW) e a minigeração distribuída pode ter potência acima de 75 kW menor ou igual a 5 MW (sendo 3 MW para a fonte hídrica), conectadas à rede de distribuição por meio de instalações de unidades consumidoras. Segundo a ANEEL, quando a quantidade de energia gerada em determinado mês for superior à energia consumida naquele período, o consumidor fica com créditos que podem ser utilizados para diminuir a fatura dos meses seguintes. O prazo de validade dos créditos é de 60 meses e eles podem 31

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ser usados também para abater o consumo de unidades consumidoras do mesmo titular situadas em outro local, desde que na área de atendimento de uma mesma distribuidora. Esse tipo de utilização dos créditos é chamado de “autoconsumo remoto”. No caso de condomínios (empreendimentos de múltiplas unidades consumidoras), a energia gerada pode ser repartida entre os condôminos em porcentagens definidas pelos próprios consumidores. Existe ainda a figura da “geração compartilhada”, que possibilita diversos interessados se unirem em um consórcio ou em uma cooperativa, instalarem uma micro ou uma minigeração distribuída e utilizarem a energia gerada para redução das faturas dos consorciados ou cooperados.

UTILIDADE Existem alguns procedimentos necessários para conectar a micro ou a minigeração à rede da distribuidora. O primeiro passo é o preenchimento de formulários

padrões para realização da solicitação de acesso pelo consumidor. O prazo total para a distribuidora conectar usinas de até 75 kW é de 34 dias. Desde janeiro de 2017, os consumidores podem fazer a solicitação e acompanhar o andamento de seu pedido junto à distribuidora pela internet. A Resolução Normativa ANEEL 482/2012 ganhou uma revisão em novembro de 2015. Na oportunidade, a agência divulgou uma estimativa que no ano de 2024 mais de 1,2 milhão de consumidores passem a produzir sua própria energia, o equivalente a 4,5 GW (gigawatts) de potência instalada. Há uma série de benefícios que o modelo pode oferecer, o que estimula e justifica mais ainda a geração distribuída. Dentre as principais vantagens, está o adiamento de investimentos em expansão dos sistemas de transmissão e distribuição, o baixo impacto ambiental, a redução no carregamento das redes, a diminuição das perdas e a diversificação da matriz energética.


Notícia

A QUEM CABE APURAR A RESPONSABILIDADE? por Moacyr Schwab de Souza Menezes*

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Nas edições da revista Fundações & Obras Geotécnicas (Editora Rudder) publicadas entre setembro de 2014 e março de 2015, sem que houvesse qualquer tipo de troca de informações entre os autores da seção “Coluna do Conselho”, cinco colegas manifestaram, de alguma forma, sua preocupação com a frequência atual de acidentes em obras, com a baixa qualidade de projetos e de obras, com a falta de atualização do ensino da geo­tecnia e com o despreparo de engenheiros mais jovens. Este texto complementa e encerra minha contribuição traduzida na Coluna do Conselho (ED.50) e no texto da seção “Opinião” (ED.54). Tendo como objetivo único poupar tempo àqueles que não desejarem ler a íntegra da presente manifestação de pensamento, apresento, inicialmente, alguns esclarecimentos relativos a este documento. Esta é uma forma de protesto (talvez inútil), contra a inversão de valores que cresce em nosso país.

ESCLARECIMENTOS I – Este pronunciamento é mais uma contribuição de utilidade duvidosa, diante dos fatos seguintes e dos “porquês” apresentados no final deste documento. No entanto, não quero pecar por omissão ou silêncio. II – Acidentes em obras de engenharia 32

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ainda são um mal menor, tendo em conta seu percentual reduzido, quando relacionados, numericamente ou por meio de custos, ao total de obras concluídas anualmente ou plurianualmente. III – Seguindo o mesmo raciocínio, o total de roubos, de assaltos e de assassinatos, ou os novos casos de câncer, ou o número de analfabetos funcionais, ou número de leitos em hospitais também serão considerados males menores. IV – Enquanto vivo e lúcido estiver, defenderei o que penso, por meio do exemplo e compartilhando tudo o que aprendi. O exemplo vale mais do que palavras. V – Acredito e, sinceramente, também desejo estar míope ou errado, uma vez que não enxergo qualquer perspectiva de mudanças significativas e imediatas, partindo daqueles que formam a comunidade brasileira, nela incluindo os engenheiros, diante dos “porquês” apresentados no final do presente. VI – Aos mais jovens fica a oportunidade para fazer do futuro tudo o que minha geração não teve, não soube, ou não conseguiu realizar.

A ENGENHARIA DESGASTADA O primeiro documento a que me refiro, intitulado “Words of Wisdom” é


Ilustrações: Freepik

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de autoria do professor Ralph B. Peck (Prof. Ralph Peck´s Legacy Website, established by Geoengineer.org., April-May, 2010). O segundo documento, cujo título é “A Engenharia Atual”, de autoria do professor Paulo Teixeira da Cruz e foi divulgado pela ABMS (em 2007 ou 2008). Acidentes recentes levam-me a insistir no assunto do desgaste que vem sofrendo o conceito dos profissionais da engenharia perante a opinião pública. Nada de novo, além do amor que tenho por minha profissão e da vontade de contribuir para seu crescimento, cumprindo o juramento que prestei ao receber o diploma de engenheiro civil em 11 de dezembro de 1955.

CASOS DE ACIDENTES RECENTES EM OBRAS PÚBLICAS Visando a fundamentar estes comentários, relaciono alguns acidentes e/ou fatos desabonadores para a engenharia brasileira e divulgados entre o início do ano 2013 e março de 2015. Limito-me a sete casos de obras. Infelizmente, os casos por mim selecionados envolvem, com frequên­cia, profissionais de minha especialidade: geotecnia e pavimentação. No entanto, os engenheiros geotécnicos não são os verdadeiros ou os únicos responsáveis pelos fatos inaceitáveis relacionados aos pequenos acidentes a seguir identificados e a outros exemplos de menor ou de maior importância. Caso 01 – Acidentes, atrasos, alterações do projeto, no decorrer da construção e após a entrega dos 33

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estádios para a última Copa do Mundo de Futebol, sendo o mais recente a vergonhosa deficiência na drenagem do gramado do Estádio do Maracanã. Caso 02 – O tombamento de um viaduto e a interdição de outro em Belo Horizonte, em Minas Gerais. Caso 03 – O desmoronamento de um prédio no Rio de Janeiro, próximo ao Teatro Municipal. Caso 04 – A inundação parcial e o desprendimento de forros em pelo menos dois aeroportos em capitais de estados brasileiros, recém-reformados ou ampliados. Caso 05 – A interrupção da execução de uma pequena obra viária urbana, logo no início desta, em decorrência de uma falha

elementar no projeto. A identificação dessa obra e de sua localização não será feita aqui, por motivos de ordem ética e visando a evitar a hipótese de cunho político desta manifestação, que é puramente técnica. Caso 06 – A destruição de obras diversas (contenções, residências e vias urbanas) causada pela ação do mar no litoral do Nordeste. Caso 07 – Em Salvador (BA), duas rupturas de adutoras de abastecimento de água, aparentemente provocadas por escavações mecânicas, causando prejuízos materiais a moradores, transtornos no abastecimento e na mobilidade, além de custos indiretos para o cidadão que paga impostos. Na sua


Notícia

recuperação ocorreram três vazamentos, em momentos distintos, motivando o adiamento da conclusão dos serviços necessários ao restabelecimento do abastecimento de água.

AS VERDADEIRAS CAUSAS DOS ACIDENTES ILUSTRATIVOS Caso 01 – Neste caso, ajustes em projetos são inevitáveis e aceitáveis, desde que em pequena monta e/ou com frequência eventual. As diferenças entre os preços orçados e o custo final das respectivas obras são suficientes para concluir que outros fatores motivaram os aumentos nelas contabilizados. No caso do gramado do Maracanã, ficou evidente tratar-se de falha de e/ou de subdimensionamento da drenagem do gramado, para o tempo de recorrência das chuvas registradas e que deveria ser, no mínimo, superior a uma ou duas décadas. Com a palavra os projetistas e os meteorologistas. Caso 02 – Os dois acidentes com viadutos novos não decorreram de condições climáticas, nem de falha humana inevitável. Surpreendentemente, até a data de edição deste texto, não haviam sido divulgados detalhes relativos aos estudos geológico-geotécnicos realizados para fundamentar o projeto das fundações de obras daquele porte. A quase totalidade das informações divulgadas até a data em que redigi este texto concentrou-se no projeto estrutural. 34

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Caso 03 – Após o desmoronamento de um prédio no Rio de Janeiro, próximo ao Teatro Municipal, falha(s) humana(s) e técnica(s), injustificáveis, foram identificadas e divulgadas. Caso 04 – Quando da inundação parcial e o desprendimento de forros em pelo menos dois aeroportos em capitais de estados brasileiros, recém-reformados ou ampliados, ficaram evidentes as deficiências de projeto e/ou de execução, semelhantes às registradas nos estádios. Em ambos os casos, pressões externas e prazos reduzidos para o desenvolvimento dos projetos contribuíram para a ocorrência de erros e de deficiências no projeto final e na sua execução. Caso 05 – A interrupção da execução de uma pequena obra viária urbana, logo no início da implantação deu-se em decorrência de uma falha elementar no projeto. A interrupção ocorrida no início da execução da obra foi fruto da falta de participação de engenheiro com um mínimo de conhecimento geotécnico. Projetos de prancheta, numericamente corretos, não levaram em conta a compressibilidade do subsolo, evidente apesar da quantidade insuficiente de sondagens realizadas (NBR 6484:2001). Caso 06 – Há décadas que obras marítimas são realizadas no litoral brasileiro, sem qualquer análise de sua influência futura nas correntes marítimas locais. Estudos em modelos reduzidos semelhantes aos que seriam necessários já foram realizados no Brasil. São comuns no exterior. Faltou competência

e/ou vontade para realizá-los, em parte devido ao tempo necessário para a realização desses estudos de custo elevado. Caso 07 – Nos dois acidentes mencionados e em locais relativamente próximos, parece-me que um procedimento elementar não foi realizado: a inclusão, nos projetos das obras (privatização de trecho da na BR-324 e Metrô de Salvador), de desenhos com o cadastro de todas as obras e instalações subterrâneas existentes na faixa de domínio do projeto (redes de drenagem, adutoras de água tratada, rede de esgotos, redes telefônicas, redes de distribuição de energia e dutos diversos). Caso esse cadastramento exista e conste no projeto, os desenhos correspondentes deveriam estar impressos, facilmente interpretados, disponíveis e em uso no canteiro, objetivando a programação diária das escavações bem como o controle de tráfego de equipamentos e de veículos pesados, o que reduziria os riscos de ocorrência de acidentes. O fato torna-se mais grave diante do pequeno intervalo de tempo decorrido entre a execução das duas obras, assim como a proximidade dos locais em que o mesmo tipo de acidente foi registrado. Caso o cadastramento não exista, deveria ter sido executado como parte do projeto.

QUEM ASSUME OS ÔNUS DE TAIS ACIDENTES? Pouca importância tem sido dada a fatos semelhantes aos aqui


Notícia

resumidos, com frequência atribuindo os acidentes a fatores climáticos imprevisíveis e a falhas humanas inevitáveis. Atribuir toda a responsabilidade por acidentes em obras de engenharia a imperfeições do ser humano e/ ou à natureza, ou à imprevisibilidade de fatos, é, no mínimo, uma desculpa burra. As constatações acima resumidas são suficientes para levar à conclusão desagradável de que, quase sempre, clima e falhas humanas são meros coadjuvantes ou réus sem culpa.

ERROS E LICITAÇÕES Errar é humano. Tudo na vida, no entanto, tem seu lado negativo e um lado positivo. Até mesmo os erros, pois é graças a eles, com eles, ou com suas consequências, que o conhecimento evolui. Entendo que a experiência é o acúmulo consciente do aprendizado a partir dos erros cometidos ou vivenciados, desde que seja complementado por sua interpretação científica e honesta. Daí a importância de divulgar erros cometidos para interpretá-los e, assim, evitar que se repitam. Teoria e prática são complementares. Os fatos aqui apresentados são considerados corriqueiros por colegas que já estão na idade dos “enta” e que têm divulgado e defendido a necessidade de mudanças que reduzam a ocorrência de acidentes e desastres em obras de engenharia. No entanto, a cada dia aumenta o número de empresas privadas e de órgãos públicos que adotam o 35

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procedimento de licitar obras por preço global que inclua o projeto e sua execução, esquecendo que empresas dedicadas à construção não possuem, em seus quadros, equipes técnicas de projeto. Copiar procedimentos adotados em países do Hemisfério Norte, sem levar em conta as diferenças de formação, de educação e de recursos financeiros, entre outras características de cunho local, tem-se revelado inadequado para o Brasil. Lá, como cá, desonestos há. No entanto, foge ao escopo destas divagações abordar outros aspectos que não sejam técnicos. A solução mágica encontrada e adotada no Brasil é a contratação de terceiros, sem auditoria técnica dos estudos e projetos contratados e, quase sempre, sem uma coordenação das equipes de trabalho. Poucos acompanham e avaliam a evolução dos estudos e projetos que contratam. Simultaneamente, as propostas técnicas perdem seu valor e utilidade, prevalecendo as propostas de preço que, por sua vez, buscam reduzir os custos dos projetos, a começar pelos estudos de campo e em laboratório. Isto é fatal na geotecnia. Ter em mente que até mesmo foguetes e equipamentos em órbita da terra dependeram, em algum momento, de fundações assentes em solo ou rocha, isto é, não prescindiram do conhecimento geológico e geotécnico.

Entidades de classe: a grande surpresa

Após uma busca simples, no site do CONFEA (Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia), “copiei e colei” a maior parte dos dados e das informações que se seguem e que estão aqui relacionadas a fim de que seja possível, ao leitor, tomar conhecimento da quantidade de entidades que congregam engenheiros. O CDEN (Colégio de Entidades Nacionais), cuja existência eu desconhecia até o momento, “foi criado por iniciativa do CONFEA”, que, por sua vez, congrega os CREAS (Conselhos Regionais de Engenharia e Agronomia), aos quais “compete preservar o interesse da sociedade contra o exercício ilegal das profissões e o mau exercício das profissões nas áreas da saúde, meio ambiente e patrimônio”.

O CDEN tem como princípios e valores: Soberania Nacional; Cidadania e Ética Profissional; Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação Tecnológica; Serviços de Excelência à Sociedade; Valorização Profissional; Participação e Posicionamento Social; Unidade de Ação; Parceria e Transparência; Educação Continuada; Multiprofissionalidade do Sistema; Desenvolvimento Sustentável. Além dessas, há a FEBRAE (Federação Brasileira de Associações de Engenheiros), que é uma organização sem fins lucrativos, declarada de utilidade pública Federal pelo Decreto nº 34.867 de 30 de dezembro de 1953, com a função


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Vejo muito discurso e pouca ação no sentido de “preservar o interesse da sociedade contra o exercício ilegal das profissões e o mau exercício das profissões” e/ou de contribuir para reduzir a ocorrência de novos acidentes. Muita gente e muitas instituições para pouca ação.

OS CREAS

de representar a engenharia brasi- DESDOBRANDO leira, principalmente nos organis- A PERGUNTA “A mos internacionais. QUEM CABE A Complementando as relações RESPONSABILIDADE?” acima, pululam associações, cluOnde estavam, (ou que partibes, conselhos, federações, fun- cipação efetiva tiveram), essas asdações, institutos, sindicatos, so- sociações, federações, sociedades, ciedades e outras institutos e afins entidades, nos "HÁ DUAS COISAS na apuração de âmbitos muniresponsabilidaINFINITAS: O cipal e estadual, des pelos acidenUNIVERSO E A TOLICE tes divulgados? além de associaDOS HOMENS" ções técnicas e Quem é respon(ALBERT EINSTEIN) científicas dentre sável pelo quê? as quais destaco Quem cobre os a ABMS (Associação Brasileira e custos diretos e indiretos dos aciMecânica dos Solos e Engenharia dentes e/ou de reparos em obras Geotécnica) e a ABPv (Associação de engenharia mal executadas ou Brasileira de Pavimentação). com vida útil reduzida? 36

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Evitando mencionar as ARTs e respectivas cobranças, fato único e de constitucionalidade discutível por tratar-se de aplicação exclusiva aos engenheiros, seguem-se algumas informações complementares e de interesse para esta exposição. Segundo o Art. 33, da Seção I, Capítulo III da Lei nº 5.194, de 24 de dezembro de 1966, os Conselhos Regionais de Engenharia, Arquitetura e Agronomia “são órgãos de fiscalização do exercício das profissões de engenharia, arquitetura e agronomia, em suas regiões”. Art. 34. São atribuições dos conselhos regionais (sic) a) elaborar e alterar seu regimento interno, submetendo-o à homologação do Conselho Federal; b) criar as câmaras especializadas atendendo às condições de maior eficiência da fiscalização estabelecida na presente lei; c) examinar reclamações e representações acerca de registros; d) julgar e decidir, em grau de recurso, os processos de infração da presente lei e do Código de Ética, enviados pelas câmaras especializadas; e) julgar em grau de recurso, os


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O CDEN conta com o apoio das seguintes entidades (destaque para as exclusivas à engenharia) ABEA (Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura e Urbanismo) ABEAG (Associação Brasileira dos Engenheiros Agrícolas) ABEA (Associação Brasileira de Engenheiros de Alimentos) ABEAS (Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior) ABEE (Associação Brasileira de Engenheiros Eletricistas) ABENC (Associação Brasileira de Engenheiros Civis) ABENGE (Associação Brasileira de Educação em Engenharia) ABEQ (Associação Brasileira de Engenharia Química) ABES (Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental) ABETI (Associação Brasileira de Ensino Técnico Industrial) ANEST (Associação Nacional de Engenharia de Segurança do Trabalho) CONFAEAB (Confederação dos Engenheiros Agrônomos do Brasil) CONTAE (Conselho Nacional das Associações de Técnicos Industriais) FAEMI (Federação das Associações de Engenheiros de Minas do Brasil) FEBRAE (Federação Brasileira de Associações de Engenheiros) FEBRAGEO (Federação Brasileira de Geólogos) FENEA (Federação Nacional dos Engenheiros Agrimensores) FENEMI (Federação Nacional de Engenharia Mecânica e Industrial) FENTEC (Federação Nacional dos Técnicos Industriais) FISENGE (Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros) FNA (Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas) FNE (Federação Nacional dos Engenheiros) IAB/DN (Instituto de Arquitetos do Brasil) IBAPE (Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia) SBEA (Associação Brasileira de Engenharia Agrícola) SBEF (Sociedade Brasileira de Engenheiros Florestais) SBMET (Sociedade Brasileira de Meteorologia) SOBES (Sociedade Brasileira de Engenharia de Segurança)

processos de imposição de penalidades e multas; f ) organizar o sistema de fiscali37

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zação do exercício das profissões reguladas pela presente lei; g) publicar relatórios de seus tra-

balhos e relações dos profissionais e firmas registrados; h) examinar os requerimentos e processos de registro em geral, expedindo as carteiras profissionais ou documentos de registro; i) sugerir ao Conselho Federal medidas necessárias à regularidade dos serviços e à fiscalização do exercício das profissões reguladas nesta lei; j) agir, com a colaboração das sociedades de classe e das escolas ou faculdades de engenharia, arquitetura e agronomia, nos assuntos relacionados com a presente lei; k) cumprir e fazer cumprir a presente lei, as resoluções baixadas pelo Conselho Federal, bem como expedir atos que para isso julguem necessários; l) criar inspetorias e nomear inspetores especiais para maior eficiência da fiscalização; m) deliberar sobre assuntos de interesse geral e administrativo e sobre os casos comuns a duas ou mais especializações profissionais; n) julgar, decidir ou dirimir as questões da atribuição ou competência, das câmaras especializadas referidas no artigo 45, quando não possuir o Conselho Regional número suficiente de profissionais do mesmo grupo para constituir a respectiva câmara, como estabelece o artigo 48; o) organizar, disciplinar e manter atualizado o registro dos profissionais e pessoas jurídicas que, nos termos desta lei, se inscrevam para exercer atividades de engenharia, arquitetura ou agronomia na região; p) organizar e manter atualizado


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o registro das entidades de classe referidas no artigo 62 e das escolas e faculdades que, de acordo com esta lei, devam participar da eleição de representantes destinada a compor o Conselho Regional e o Conselho Federal; q) organizar, regulamentar e manter o registro de projetos e planos a que se refere o artigo 23; r) registrar as tabelas básicas de honorários profissionais elaboradas pelos órgãos de classe. s) autorizar o presidente a adquirir, onerar ou, mediante licitação, alienar bens imóveis (incluída pela Lei nº 6.619, de 1978).

VOLTANDO ÀS PERGUNTAS QUE NÃO QUEREM CALAR - A quem cabe apurar responsabilidades pelos acidentes e pelos custos decorrentes da falsa engenharia, denegrindo essa atividade? E depois? - A quem compete fiscalizar e acompanhar o andamento de projetos e avaliar as especificações para o controle de sua qualidade?

RESPOSTAS SIMPLES - Não há boa engenharia, ou má engenharia; há apenas uma engenharia: aquela que por meio de engenheiros devidamente preparados, visa o bem-estar comum, executando obras ou prestando serviços com qualidade, pelo menor custo, no menor prazo e com segurança para o cidadão, quer ele seja o trabalhador, quer proprietário ou simples usuário. 38

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- A responsabilidade cabe a nós todos, isto é, à sociedade nos seus três poderes e, em particular, a nós engenheiros. - Por quê? - Porque calamos. - Porque não agimos como uma categoria unida e coesa, respeitando discordâncias naturais. - Porque falta-nos vontade e persistência para somar esforços visando ao bem-estar comum, descumprindo o juramento que fizemos. - Porque tememos auditorias técnicas nos projetos e a fiscalização das obras. - Porque permanecemos em silêncio ou passivos diante daquilo que reconhecemos não ser adequado, apenas visando à nossa sobrevivência ou aos lucros, nem sempre honestos, com a desculpa de que não podemos mudar o status quo. - Porque falta-nos coragem e disposição para denunciar a incompetência e/ou a ignorância, a desonestidade e a usura, facilmente comprovados, mediante a desculpa fajuta de que é antiético denunciar quem não respeita a ética profissional. - Porque baixamos a cabeça diante da impunidade e do medo (real) de ser punidos alegando que, neste país, todo cidadão é desonesto até que se prove o contrário.

- Porque aqueles que lutam pelo que é correto podem ser acusados de “atrapalhar” a execução ou o andamento de uma obra. - Porque apresentamos “cartas” dirigidas a nossos governantes, com sugestões e recomendações visando à solução de problemas de diversas naturezas e/ou origens, ou orientações para a prevenção de catástrofes, ou planejamento, que são rapidamente esquecidas sem a cobrança permanente por parte da entidade à qual pertencem seus autores. - Porque fabricamos ou contribuí­ mos para a criação desse emaranhado de entidades de classe dispersas, que em nada contribuem para um trabalho em equipe. - Porque aceitamos a burocracia e o mundo de atribuições (de entidades) que requerem vontade e recursos para que possam vir a ser cumpridas. - Porque não detemos o poder necessário para gerar uma mudança geral de consciência e de respeito ao próximo na humanidade e, em particular, na sociedade da qual dependemos. - Em resumo: falta-nos a convergência de pensamento, a decisão de servir e a vontade de sobrepor os interesses comuns ao interesse pessoal. Somos iguais à maioria dos brasileiros, com honrosas exceções.

> *MOACYR SCHWAB DE SOUZA MENEZES é engenheiro civil pela EPUFBA (Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia), em 1955 e master of science in civil engineering pela Purdue University (USA) (1958). Foi engenheiro do DER-BA (Departamento de Estradas de Rodagem da Bahia – Laboratório Central), entre 1956 e 1969, professor-adjunto da EPUFBA, entre 1959 e 1981, consultor autônomo, entre 1981 e 2008 e sócio da GEOTEST Projetos e Consultoria Ltda., desde 2008 até os dias atuais.


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Notas

por Dafne Mazaia

Equipamento ficará em Franca no interior de São Paulo A cidade de Franca, no interior de São Paulo, se prepara para receber o equipamento da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), que vai transformar o gás do esgoto em combustível para veículos. Resultado de uma parceria entre o órgão público e o Instituto Fraunhofer, da Alemanha, a tecnologia ficará na ETE (Estação de Tratamento de Esgoto) da região. É a primeira vez que o Brasil transformará o gás proveniente de esgoto em combustível para automóveis. O biogás que será produzido passará por um sistema de remoção das impurezas, umidade e aumento da concentração de metano. Dessa forma, será gerado o biometano, que será empregado como combustível no lugar da convencional gasolina, do álcool e do GNV (Gás Natural Veicular). A tecnologia faz parte dos investimentos da Sabesp em pesquisa científica e inovação. Ao todo, o projeto custou 7,3 milhões de reais. O instituto alemão doará o equipamento para a Sabesp, além da assistência técnica. A Sabesp fará a realização das obras para a instalação do equipamento da linha de biogás e de sistema elétrico e adaptação dos veículos para o biometano, entre outros.

FINTT 2017 acontece em São Paulo

Divulgação ABINT

Evento será em abril e reunirá principais empresas do setor Entre os dias 25 e 28 de abril, ocorre em São Paulo a FINTT 2017 (Feira Internacional de Nãotecidos e Tecidos Técnicos). Considerado um dos principais eventos do setor, o encontro tem como objetivo promover e fomentar o mercado, com a divulgação de produtos, tanto do âmbito industrial quanto linhas destinadas ao consumidor final. Segundo o secretário-executivo da ABINT, Jorge Saito, a feira terá a presença de diversos profissionais renomados, que tratarão de questões relacionadas ao uso de materiais, normalização e outros temas. “O evento também contará com a presença de especialistas nacionais e internacionais que promoverão palestras e congressos sobre fabricação, aplicações, normas técnicas, entre outros”, pontua. Com a expectativa de receber aproximadamente 3.000 visitantes nesta edição, os organizadores veem o momento como importante para a troca de informações tecnológicas entre os principais players do segmento, além de ajudar também a estimular o crescimento competitivo entre as empresas. A feira será realizada no Pavilhão de Exposições Anhembi. 40

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Divulgação Sabesp

por Dafne Mazaia

Tecnologia transforma gás de esgoto em biocombustível


Jogo Rápido

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Artigo

APLICAÇÃO DE FÔRMAS TÊXTEIS TUBULARES PARA ALTEAMENTO DE CÉLULA DE DISPOSIÇÃO DE CINZAS PROVENIENTES DE USINA TERMELÉTRICA Enga Emília Mendonça Andrade – Huesker Ltda. emilia@huesker.com.br MSc. Engo Eduardo Andrade Guanaes – Huesker Ltda. eduardo@huesker.com.br Engo José Carlos Vertematti – JCV Consultoria jcvtecsol@gmail.com Engo Thiago Ordonho Araújo – Huesker Ltda. thiago@huesker.com.br

RESUMO O presente artigo descreve os trabalhos de dimensionamento, testes de campo e execução do alteamento de uma célula de rejeitos de uma usina termelétrica localizada na região Nordeste do Brasil. Tais rejeitos são compostos por cinzas provenientes da queima do carvão empregado para geração de energia. Os rejeitos eram acondicionados em uma célula de disposição convencional de rejeitos, a qual, segundo previsões de operação da usina, se esgotaria no ano de 2012. A solução proposta foi o uso de fôrmas têxteis confeccionadas em geotêxtil preenchidas com o próprio rejeito para realizar o alteamento do pátio de disposição, aumentando a capacidade do depósito sem que houvesse a necessidade de expansão de sua área. Palavras-chave: Geotêxtil; Fôrma Têxtil Tubular; Disposição de Rejeitos; Cinzas; Dessecagem.

INTRODUÇÃO A combustão de carvão mineral 42

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em plantas de geração termelétrica gera um conjunto de resíduos na fôrma de cinzas, sendo estas caracterizadas como uma mistura heterogênea de fases cristalinas e amorfas, geralmente compostas por partículas finas. A emissão deste material à atmosfera é controlada por meio de dispositivos como depuradores e precipitadores eletrostáticos e mecânicos e a disposição em grandes áreas impermeabilizadas é a solução mais comumente adotada para destinação final destes rejeitos. • Disposição final de cinzas provenientes da queima do carvão mineral. A disposição dos rejeitos provenientes da combustão de carvão mineral em grandes volumes representa um desafio aos gestores de usinas termelétricas, pois por suas características físicas são facilmente carreados e, portanto, apresentam alto potencial poluente e contaminante do ar, dos solos e das águas superficiais (Nawaz,


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2013). A ilustração contida na Figura 1 ilustra simplificadamente os mecanismos de poluição ambiental observados em áreas de disposição destes rejeitos. Os rejeitos, compostos basicamente de cinzas, são usualmente depositados em grandes áreas de disposição, e podem ser manejados a seco ou úmidos. O trato a seco consiste no transporte das cinzas por caminhões até as áreas onde o material será depositado. Como alternativa de menor custo, as cinzas misturadas à água podem ser transportadas por meio de tubulações até a área de disposição. (Lokeshappa, B, 2003) • Uso de FTTs (Fôrmas Têxteis Tubulares) para disposição de cinzas O projeto de sistemas fechados em geotêxteis para dessecagem e disposição de rejeitos requer compatibilidade hidráulica entre o material de enchimento com o geotêxtil. O excesso de migração de partículas através do geotêxtil pode afetar a estabilidade interna do material, com diminuição da resistência ao cisalhamento da massa consolidada, portanto um bom desempenho na retenção de sólidos é essencial para garantir a segurança do sistema, tratando-se especialmente de altea­ mentos feitos com fôrmas têxteis perimetrais em diques. Segundo Kutay et al. (2005), critérios de dimensionamento para sistemas de dessecagem de materiais arenosos e argilosos são amplamente discutidos na literatura, porém tais critérios não abrangem a contenção de materiais não tradicionais, como 43

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Figura 1 – Esquematização das vias de poluentes originários de áreas de disposição de cinzas provenientes da queima de carvão mineral em UTEs (Adaptado de Nawaz, 2013)

é o caso das cinzas provenientes da queima do carvão mineral, já que são materiais extremamente finos que exibem um comportamento diferente dos solos devido às diferenças na estrutura de suas partículas e composição química. Kutay et al. (2005) estudou a eficiência de retenção de diversos geotêxteis tecidos e nãotecidos, utilizando cinzas provenientes de uma usina termelétrica localizada na cidade de Baltimore, nos EUA. Os autores concluíram que, nestes casos, o desempenho da dessecagem é dependente da espessura e permissividade dos geotêxteis, além da umidade inicial do material de preenchimento. O estudo ainda sugere que a aplicação de fôrmas têxteis tubulares pode ser considerada uma solução para melhor aproveitamento das áreas destinadas ao descarte destes rejeitos. Espera-se, por meio do caso relatado no presente artigo, contribuir para a melhor compreensão desta solução, de suas vantagens e das

suas limitações, além de apontar a necessidade da realização de estudos mais aprofundados a respeito do sistema.

1DIMENSIONAMENTO Para o dimensionamento da seção transversal da fôrma têxtil tubular e da resistência à tração do geotêxtil requerida durante o preenchimento, as seguintes premissas foram consideradas: - Trata-se de um sistema bidimensional, ou seja, as seções transversais são idênticas em termos de materiais e geometria ao longo do eixo longitudinal da fôrma têxtil; - A perda de pressão decorrente da percolação do fluido através do geotêxtil e possíveis segregações do material de preenchimento são ignoradas; - O geotêxtil é flexível, com espessura e gramatura negligenciáveis; - O material de preenchimento comporta-se como um fluido hidrostático durante o preenchimento; - Esforços de cisalhamento entre o geotêxtil e o material de preenchi-


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mento não são desenvolvidos durante o preenchimento. A formulação utilizada para o dimensionamento da seção transversal da fôrma têxtil e a resistência requerida pelo geotêxtil durante o preenchimento podem ser encontradas em Liu (1981), Kazimierowicz (1994) e Carroll (1994). O cálculo da resistência requerida pelo geotêxtil durante o preenchimento e o dimensionamento da seção transversal da fôrma têxtil foram realizados por meio do software GeoCOPS 2.0, cujo funcionamento é descrito em Leshchinsky (1996). Na Figura 2 é apresentada a seção transversal esquemática de uma forma têxtil tubular, na qual são apontados os parâmetros considerados na formulação usada para cálculo das propriedades do geotêxtil e geometria do sistema. A resistência admissível do geotêxtil é obtida dividindo-se a sua resistência nominal pelo produto dos fatores de redução por danos de instalação, durabilidade, fluência e costuras. O sistema foi dimensionado para uma altura final de 3 metros, com uso de um geotêxtil que apresenta resistência máxima à tração de 105 kN/m nas direções transversal e longitudinal. Posteriormente, testes realizados em campo foram conduzidos para verificação dos parâmetros adotados no dimensionamento.

2 ESTUDO DE CASO: APLICAÇÃO DE FÔRMAS TÊXTEIS TUBULARES PARA ALTEAMENTO DE PÁTIO DE CINZAS 44

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Figura 2 – Esforços atuantes em FTTs (Fôrmas Têxteis Tubulares) (Leshchinsky, 1996)

A área de disposição de rejeitos tratada neste artigo localiza-se no terreno de uma usina termelétrica do Estado do Maranhão, com capacidade instalada de geração de 360 MW. A queima do carvão mineral nesta usina gera, diariamente, cerca de 340 toneladas de rejeito composto por cinzas. Essa UTE contava com uma célula de disposição de cinzas, com capacidade de 20.000 m³, a qual teria sua capacidade esgotada em 2012, quando iniciaram-se os estudos de alternativas para a destinação dos rejeitos após este período. Considerando a indisponibilidade de área para construção de novas células, o alteamento do depósito existente apresentou-se como única solução viável à continuidade da operação da UTE. A aplicação de fôrmas têxteis tubulares para o alteamento no perímetro da célula foi inicialmente

considerado por se tratar de um método operacionalmente mais simples, rápido e seguro do que a construção de diques convencionais, permitindo também o uso do próprio rejeito como material de construção. Além disso, a capacidade de contenção das cinzas nas fôrmas têxteis poderia conferir maior estabilidade aos diques perimetrais. Para subsidiar e verificar o dimensionamento da solução a ser adotada foi realizada uma série de testes em campo, em escalas piloto e real, os quais visaram verificar: as características requeridas do geotêxtil a ser aplicado na confecção das fôrmas têxteis; as alturas máximas das fôrmas têxteis a serem atingidas sem comprometimento da estabilidade do sistema; as condições ótimas de preparo das cinzas para preenchimento; o método de preenchimento. Os testes foram realizados entre


Os autores

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Figura 3 – Teste em campo da hidratação do rejeito de cinzas para preenchimento das fôrmas têxteis tubulares

novembro e dezembro de 2013, com fôrmas têxteis nas dimensões de 10 m de perímetro e 10 m de comprimento, confeccionadas com geotêxtil tecido em polipropileno de alta tenacidade. Durante os testes, descartou-­ se o método de preenchimento a seco das fôrmas têxteis e optou-se pela mistura prévia com água para bombeamento das cinzas. O uso de agentes floculantes foi também descartado, já que o composto formado pela mistura de cinzas com água consolidou-se no interior das fôrmas têxteis adequadamente, sem a observação de colmatação significativa ou passagem excessiva de partículas pelo geotêxtil. A Figura 3 mostra os testes de condicionamento do rejeito e preenchimento das formas têxteis, respectivamente. 45

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FTTs

Figura 4 – Seção esquemática da disposição das linhas de FTTs (Fôrmas Têxteis Tubulares) para formação do dique com altura mínima de três metros

Verificou-se, também, que o desempenho de retenção do geotêxtil escolhido para confecção das fôrmas têxteis foi adequado, com mínima passagem de cinzas ao percolado gerado. Em média, sete dias após o preenchimento as cinzas contidas apresentavam consistência adequada à

composição dos diques perimetrais. Durante os testes foi constatado, no entanto, que a altura desejável de 3 metros não poderia ser atingida com segurança pelo método proposto. Optou-se pela construção de um dique primário com 2,3 metros de altura e um dique secundário


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Figura 5 – Primeira fase: camada inferior de fôrmas têxteis tubulares

início do preenchimento para permitir uma consolidação inicial. A segunda fase, mostrada na Figura 6, foi construída em fevereiro de 2014, com 24 fôrmas têxteis tubulares de 30 metros de comprimento e 5 metros de perímetro. Os diques foram finalizados com o preenchimento dos vazios entre as fôrmas têxteis com pequenas bolsas em geotêxtil também preenchidas com cinzas, como mostrado na Figura 7. Uma vez consolidada a geometria da estrutura, uma geomembrana foi então instalada para seu revestimento. O trabalho foi concluído no ano de 2014, resultando no acréscimo de 40.000 m³ a capacidade volumétrica do depósito de cinzas. Na foto de satélite mostrada na Figura 8 é possível reconhecer a posição das fôrmas têxteis no perímetro do depósito, já em operação.

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

Figura 6 – Segunda fase: camadas inferior e superior de fôrmas têxteis tubulares

com altura de 1 m a ser executado sobre o primeiro. A Figura 4 ilustra a seção transversal das fôrmas têxteis, conforme solução adotada. As fôrmas têxteis utilizadas apresentam 22 metros de perímetro para a primeira fase de alteamento e cinco metros para a segunda fase. A construção da primeira fase 46

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iniciou-se no mês de dezembro de 2013, e compreendeu o uso de 24 fôrmas têxteis tubulares com 30 metros de comprimento e 22 metros de perímetro, posicionados em uma extensão total de 720 m, como mostra a Figura 5. Cada fôrma têxtil foi preenchida em cerca de 12 horas, com intervalo após quatro horas do

Em face das demandas crescentes por diferentes fontes geradoras de energia, a importância das usinas termelétricas é crescente na matriz energética brasileira, o que cria demanda por soluções cada vez mais eficientes para a operação destas instalações. A adoção de uma solução apropriada para o aumento da capacidade da disposição final do principal rejeito gerado na UTE em estudo apresentou-se como um grande desafio à equipe responsável, dada a indisponibilidade de área necessária à construção de um novo depósito. Desta forma, a aplicação das fôr-


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Figura 8 – Vista da área da célula de disposição de cinzas. (Fonte: Google Maps. Acesso em 15/03/2016)

Figura 7 – Preenchimento dos vazios entre fôrmas têxteis tubulares

mas têxteis tubulares apresentou-se como uma solução adequada para a rápida ampliação da capacidade do pátio de cinzas existente. A escassez de parâmetros e métodos de dimensionamento deste sistema com lodo de cinzas gerou a ne-

cessidade de se determinar em testes de campo as limitações técnicas e os métodos de operação do sistema. Foi possível concluir, após a observação dos testes e da obra finalizada, que a aplicação das fôrmas têxteis atendeu às necessidades do

projeto, além de apresentar significativas vantagens econômicas e técnicas, devido à simplicidade do sistema e compatibilidade observada com o material de preenchimento. Esta experiência bem suciedida revela a importância de se desenvolverem estudos que subsidiem tecnicamente o dimensionamento deste tipo de sistema, reduzindo a necessidade do embasamento em testes empíricos e disseminando a solução no meio acadêmico.

REFERÊNCIAS Carroll, R.P. 1994. Submerged geotextile flexible forms using noncircular cylindrical shapes. Geotechnical Fabrics Report, IFAI. 12(8). 4-15. Kazimierowicz, K. 1994. Simple analysis of deformation of sand-sausages. Proceedings of the 5th International Conference on Geotextile, Geomembranes and Related Products, Singapore. 775-778. Kutay, M. E., A. H. Aydilek, and S. Hussein. 2005. Dewatering fly ash slurries using geotextile containers. GRI18 Conference, Geosynthetics Research in Progress, GeoFrontiers Conference, ASCE. Leshchinsky, D. Leshchinsky, O. 1996. GeoCoPs 2.0 Supplemental Notes. ADAMA Engineering, USA. 24p. Liu, G.S. 1981. Design criteria of sand sausages for beach defences. The 19th Congress of the International Association for Hydraulic Research, New Delhi, India. Subject B(b), Paper No. 6. 123-131. Lokeshappa, B., and Anil Kumar Dikshit. 2011. Disposal and management of flyash. International Conference on Life Science and Technology IPCBEE. Vol. 3. Nawaz, I. 2013. Disposal and utilization of fly ash to protect the environment. International Journal of Innovative Research in Science, Engineering and Technology 2.10 (2013): 5259-5266.

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Jogo Rápido

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A UTILIZAÇÃO DA PERFILAGEM MAGNÉTICA PARA DETERMINAÇÃO DO COMPRIMENTO DE UMA ESTACA

Otávio Coaracy Brasil Gandolfo Geofísico / Pesquisador II no IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), São Paulo (SP) gandolfo@ipt.br MSc. Tiago de Jesus Souza Discente do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Infraestrutura Aeronáutica, ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), São José dos Campos (SP) tiagojs@ita.br Carlos Alberto Birelli Geólogo / Pesquisador I no IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), São Paulo (SP) birelli@ipt.br Vicente Luiz Galli Físico / Pesquisador II no IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas), São Paulo (SP) vicenteg@ipt.br Prof. Dr. Paulo Scarano Hemsi Professor da Divisão de Engenharia Civil – ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), São José dos Campos (SP) paulosh@ita.br Eng. Paulo Cezar Aoki Gerente de Engenharia na American Tower do Brasil – São Paulo (SP) paulo.aoki@americantower.com

RESUMO Este artigo apresenta os resultados da aplicação de uma perfilagem magnética que teve como objetivo a determinação da profundidade da 50

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fundação de uma torre de telefonia, situada no município de São Paulo (SP). A fundação era do tipo estacas raiz, com diâmetro igual a 250 mm. Os resultados obtidos foram bas-

tante satisfatórios, pois foi estimada uma profundidade muito próxima da obtida com outra técnica de investigação (ensaio Sísmico Paralelo) também realizada no local. Palavras-chave: Perfilagem magnética, fundações, estacas, geofísica.

INTRODUÇÃO Por se tratarem de estruturas antigas, na maioria dos casos correntes, muitas torres e postes de telecomunicações espalhadas pelo território brasileiro não dispõem de projeto executivo ou as-built da fundação que possibilite uma análise estrutural e de capacidade de carga. O comprimento de uma estaca de fundação é um parâmetro indispensável na avaliação da sua capacidade de carga, o que se faz necessário sempre que se considera a reutilização da estrutura para outras finalidades, por exemplo, quando sujeita a maiores cargas. Os métodos de investigação indiretos (geofísicos) com ensaios restritos à superfície do terreno geralmente não produzem resultados satisfatórios para este tipo de problema.


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Por outro lado, os ensaios que utilizam um furo de sondagem posicionado nas proximidades do elemento de fundação, no qual são inseridos sensores, podem fornecer resultados satisfatórios, quando o objetivo for a determinação da profundidade do elemento com a maior precisão possível. Será apresentado neste artigo o resultado de um ensaio de perfilagem magnética para estimativa da profundidade de um elemento de fundação profunda. Neste mesmo elemento, já foi realizada anteriormente uma avaliação de comprimento utilizando-se outro ensaio geofísico, o ensaio Sísmico Paralelo.

1 MAGNETOMETRIA A magnetometria é um método geofísico que se baseia nas distorções locais do campo magnético da Terra, resultantes da presença de corpos e estruturas magnetizáveis em subsuperfície. Alguns tipos de minerais magnéticos formadores das rochas (sendo a magnetita o mais comum) ocorrem em quantidade suficiente para produzir anomalias magnéticas significativas. Em ampla escala, a magnetometria vem sendo utilizada na mineração e na prospecção de hidrocarbonetos para a investigação de estruturas geológicas regionais. Objetos ferrosos feitos pelo homem também podem gerar anomalias magnéticas. Em escala local, o método encontra aplicações na área da engenharia e arqueologia para a detecção de objetos metálicos enterrados. Na avaliação da profundidade de 51

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Figura 1 – Levantamento magnético terrestre e perfil da intensidade medida

fundações profundas existentes, em que não se dispõe da documentação de projeto, não há registros no Brasil de trabalhos em que foi utilizado o método da magnetometria. A propriedade física dos materiais investigada pelo método da magnetometria é a suscetibilidade magnética, grandeza que exprime a capacidade de um corpo de se magnetizar na presença de um campo magnético externo. Um corpo ou material ferromagnético irá causar uma distorção local no campo magnético terrestre natural. Um levantamento de magnetometria consiste em medir a intensidade do campo magnético terrestre ao longo de perfis, com a finalidade de estudar as variações laterais de suscetibilidade magnética. Com base nessas variações, o método consegue indicar e detec-

tar corpos ou estruturas que apresentem heterogeneidades laterais (elevado valor de suscetibilidade magnética) em relação aos materiais presentes no entorno, configurando o que se denomina de “anomalia magnética”. O instrumento utilizado para a medição do campo magnético é chamado magnetômetro. É um equipamento prático e versátil que permite a leitura direta do valor do campo magnético terrestre no ponto da medida. A medida pode ser do campo magnético total da Terra (HTOTAL) ou de suas três componentes (HX, HY e HZ). A unidade de medida da intensidade magnética é o nanotesla (nT). A Figura 1 ilustra um levantamento magnético terrestre e o perfil da intensidade do campo medido, mostrando a anomalia magnética


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causada pela presença de um corpo magnetizável em subsuperfície. O primeiro trabalho que se tem notícia de uma aplicação do método da magnetometria na área de fundações é o de Galli (1998). Neste trabalho foi utilizado um magnetômetro que opera na superfície do terreno, em um típico ambiente urbano. O objetivo do ensaio consistiu na identificação de oito estacas de concreto armado, cravadas no solo, na fase de fundação de uma obra situada dentro do campus do IPT em São Paulo (SP). A alta densidade de pontos de medidas no terreno (leituras efetuadas a cada meio metro), acompanhada de um elaborado processamento dos dados obtidos, permitiram a obtenção de excelentes resultados na identificação das estacas cravadas.

1.1. Ensaio de magnetometria em furo de sondagem (perfilagem magnética) Um ensaio de magnetometria também pode ser realizado em um furo de sondagem. Para este procedimento, o sensor magnético deve ser instalado em um dispositivo que é inserido no interior do furo. As técnicas geofísicas, quando realizadas em furos de sondagem, são designadas como “perfilagem de poço”. Um equipamento dedicado a este tipo de operação é denominado “perfilador magnético” (“borehole magnetic probe” ou “borehole magnetic logging tool”). O equipamento de perfilagem de poço é constituído por uma sonda 52

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Figura 2 – Perfilador magnético utilizado para determinação do comprimento de uma estaca de fundação (modificado de Jo et al., 2003)

que desce no interior do furo, um tripé, um guincho e um sistema registrador que permanecem na superfície. A descida e a subida da sonda no furo são controladas pelo guincho. A medida da profundidade é feita por um dispositivo encontrado na roldana do tripé que fica posicionado sobre a boca do furo. As informações coletadas são transmitidas via cabo para o sistema de registro e gravação dos dados. O perfilador magnético realiza medidas contínuas do campo magnético (H) ao longo do furo que não pode ter revestimento metálico. Para a determinação da profundidade de uma fundação, o furo deve estar posicionado bem próximo ao elemento a ser inspecionado. O campo magnético da Terra induz uma magnetização na armação existente na estaca de fundação. A armadura deve estar presente ao lon-

go de todo o comprimento da estaca e o furo deve ter uma profundidade maior do que a máxima profundidade esperada para o elemento de fundação (Figura 2). Os vergalhões de aço, sendo de material ferromagnético, causam uma distorção no campo magnético terrestre, intensificando-o, gerando uma anomalia em relação ao campo natural da Terra (“background”). Fora da influência da armação metálica, abaixo da base da fundação, a intensidade do campo magnético diminui, tendendo a retornar ao seu valor de “background”. O solo no entorno, não sendo ferromagnético, faz com que o campo magnético associado seja de intensidade muito menor se comparado ao campo sob a influência das armaduras metálicas da estaca. Uma estimativa da ponta da estaca de fundação pode ser feita com base


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na observação do comportamento deste sinal. A perfilagem magnética pode também oferecer excelentes resultados na determinação da máxima profundidade de estacas metálicas (perfis H e I e pranchas de aço). Há no mercado perfiladores magnéticos que podem, dentre outras aplicações, ser utilizados para determinar a profundidade de fundações. Entretanto, há outros dispositivos de perfilagem (sondas) que, possuindo um magnetômetro acoplado à sua ferramenta, são capazes de realizar medidas do campo magnético juntamente com o parâmetro específico que é destinado a medir. Exemplificando, uma sonda que mede a verticalidade de um furo possui um mecanismo interno de orientação espacial composto de um acelerômetro triaxial e de um magnetômetro triaxial. Este último é capaz de realizar medidas do campo magnético terrestre nas suas três direções e, portanto, possibilita que seja realizada uma perfilagem magnética utilizando esta sonda. Jalinoos et al. (2006) utilizaram um magnetômetro do tipo fluxgate (incorporado em uma sonda de verticalidade) para a determinação da profundidade de fundações do tipo estacas-pranchas metálicas. Segundo os autores, foi esta ferramenta que apresentou os melhores resultados dentre os três métodos testados naquele estudo de caso. O mecanismo de orientação espacial, composto por um acelerômetro triaxial e um magnetô53

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Figura 3 – Sonda de imageamento ótico (OPTV – Optical Televiewer)

metro triaxial também é encontrado em sondas de imageamento acústico e ótico que produzem imagens das paredes de um furo de sondagem, orientadas em relação ao norte magnético. O equipamento utilizado neste trabalho para as medidas do campo magnético no interior do furo foi uma sonda de imageamento ótico (OPTV – Optical Televiewer), dispositivo destinado ao televisionamento de furos de sondagem (Figura 3).

2 DESCRIÇÃO DO SITE A torre metálica de telefonia existente no site onde foi realizado o ensaio possui uma coluna única cuja geo­metria é dodecagonal e altura de 42 m. O diâmetro do topo é igual a 49,3 cm e o diâmetro da base igual a 140 cm. A torre está situada na rua Pierre Fermat, número 92, no bairro de Artur Alvim em São Paulo (SP).

A Figura 4 mostra uma visão geral da torre com as antenas e carregamentos. A torre está apoiada sobre um bloco com dimensões de 3,1 m x 3,1 m x 1,1 m onde há oito estacas do tipo raiz Ø = 250 mm, conforme ilustrado na Figura 5. A estaca raiz é um elemento de fundação que possui armadura em todo o seu comprimento. Para a realização do ensaio de perfilagem magnética, o furo foi posicionado bem próximo ao bloco de fundação (distância de 40 cm) para garantir uma boa intensidade do sinal captado pela sonda (Figura 6). O furo de 18,8 m de profundidade foi realizado dentro da máxima verticalidade possível e revestido com tubo de PVC (Policloreto de Polivinila) de 3 polegadas. O espaço anelar foi preenchido com calda de cimento e sua extremidade inferior foi tamponada.


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3 GEOLOGIA LOCAL

Figura 4 – Vista geral da torre de telefonia

Figura 5 – Detalhe do bloco de fundação: a) vista em planta (esquerda); b) vista em corte (direita)

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As informações de uma sondagem realizada no site mostram que até a profundidade de 12 m o subsolo local é composto por uma argila plástica siltosa, pouco arenosa, com coloração que varia desde amarela a cinza e de consistência variável (mole a rija). Nos quatro primeiros metros o solo tem consistência mole, o que impossibilitaria adotar fundação superficial (sapatas ou radier). Abaixo de 12 m ocorre um solo predominantemente arenoso, medianamente compacto e com porções de argila até os 14 m, seguido por uma camada de argila silto arenosa de consistência dura até os 21,6 m. Nessa camada, o solo apresenta-se resistente, possibilitando que as estacas tenham sua ponta nela apoiada. Por fim, o solo volta a ser arenoso, compacto, com nódulos milimétricos de argila até o final da sondagem. Há uma camada superficial de aterro de argila com coloração marrom amarelada, até 0,3 m. O nível d’água foi encontrado


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a 1,8 m de profundidade. Devido ao nível d’água estar próximo à superfície, adotar a solução da fundação em tubulões traria certa complexidade no decorrer da es-

cavação. Seria necessário rebaixar o lençol freático, o que acarretaria mais custos para a obra. A resistência do solo é crescente ao longo da profundidade.

Figura 6 – Furo utilizado para o ensaio de perfilagem magnética

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4 RESULTADOS OBTIDOS E DISCUSSÃO A Figura 7 mostra o ensaio de campo realizado no site. Com a sonda OPTV foram realizadas lei-

Figura 7 – Sonda OPTV utilizada para realização da perfilagem magnética


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Figura 8 – Variação do campo magnético total (HTOTAL) com a profundidade

Figura 9 – Variação em profundidade da derivada da componente vertical do campo magnético em relação à profundidade (dHz/dz)

turas do campo magnético a cada 1 cm, em sentido descendente (down) e ascendente (up) ao longo do furo. No gráfico da Figura 8 é apresentado o resultado da perfilagem magnética com as informações do campo total medido (H TOTAL). As medidas realizadas em sentido descendente (down) e ascendente (up) são praticamente coincidentes. A linha pontilhada do gráfico da Figura 8 indica o valor do campo magnético terrestre na ocasião da realização do ensaio. Este valor foi determinado a partir do IGRF (International Geomagnetic Reference Field). O IGRF fornece o valor da intensidade do campo magnético total da

das três componentes do campo magnético (H X, H Y e H Z) submetidas a algum tipo de tratamento matemático. A Figura 9 apresenta a curva da derivada da componente vertical do campo magnético em relação à profundidade (dH z/d z) versus a profundidade. Com base nos resultados mostrados na Figura 9, pode-se observar que a derivada dHz/dz tende a um valor aproximadamente constante, sem apresentar grandes variações, a partir da profundidade igual a 10 m. Este fato fica bem evidenciado observando-se a curva up do gráfico (em vermelho). Dessa forma, pode-se concluir que a profundidade máxima da estaca esteja na faixa de 10 m a

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Terra em qualquer local do planeta, em função de variáveis como a data, as coordenadas geográficas do ponto (latitude e longitude) e a sua altitude. O valor determinado foi de 22955 nT. Pode ser observado na curva da Figura 8 que a partir de 14 m de profundidade a intensidade do HTOTAL se estabiliza em aproximadamente 23660 nT. Este valor se aproxima de 22955 nT que corresponde à intensidade natural do campo magnético não perturbado (sem a influência de objetos ferromagnéticos nas proximidades). Desta informação estima-se um comprimento de 14 m para a estaca, no máximo. Informações adicionais podem ser obtidas com as medidas


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REFERÊNCIAS

Figura 10 – Projeto de fundação da torre

14 m. Esta estimativa está compatível com o resultado do ensaio Sísmico Paralelo (técnica também utilizada para determinar o comprimento de estacas de fundação) que foi realizada neste mesmo site (IPT, 2015). As informações disponibilizadas do projeto de fundação mostram que a profundidade de projeto das estacas de fundação era de 11 m (Figura 10).

CONCLUSÕES A perfilagem magnética realizada no estudo de caso aqui apresentado, em uma fundação do tipo estaca raiz com diâmetro igual 250 mm, forneceu um resultado satisfatório. Pelo fato da estaca raiz ter armadura em todo o fuste, a perfi57

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lagem magnética surge como uma opção de ensaio para aferição do comprimento do elemento. Enfatiza-se aqui que a principal finalidade deste ensaio nas obras civis está na sua capacidade de evidenciar a possível faixa de comprimento da estaca. Além disso, não há uma limitação de comprimento para a realização do ensaio. Por se tratar de uma técnica de aplicação pioneira na engenharia de fundações no Brasil, a aplicação da técnica requer aprimoramentos metodológicos, sendo este um resultado preliminar, porém promissor. O ensaio deverá ser testado em outros tipos de fundações com características distintas, no

Galli, V. L. 1998. Utilização do método magnetométrico em ambiente urbano. In: II Encontro Regional de Geotecnia e Meio Ambiente e II Workshop de Geofísica Aplicada – Anais do II ERGMA e II WGA (CD-ROM), Rio Claro – SP. IPT. 2015. Ensaios sísmicos (paralelo sísmico, crosshole, downhole) e perfilagem de indução e radiação gama natural realizados no site SPO149NP, situado na rua Pierre Fermat, 92, Artur Alvim, município de São Paulo, SP. Relatório Técnico Nº145.639-205. Jalinoos, F.; Gibson, A.; Diehl, J.; Hadfield, P.; Gordon, G. 2006. Determination of unknown length of sheet piles using three different geophysical logging tools. In: Proceedings of Highway Geophysics, St. Louis, 10p. Jo, C.H.; Cha, Y.H.; Choi, J.H. 2003. A borehole magnetic logging tool for estimating unknown foundation depths. In: 2003 Highway Geophysics NDE Conference, Orlando, FL. que se refere ao material constituinte, com a expectativa de bons resultados em estacas metálicas, em diferentes condições geométricas e geotécnicas.


Créditos: Acervo da Biblioteca da FAUUSP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo)

História

Obra: Construção da piscina do Conjunto Esportivo da Portuguesa de Desportos. O projeto de Artigas foi descartado depois dando lugar à atual configuração do Estádio da Portuguesa (Estádio Doutor Osvaldo Teixeira Duarte), em Canindé, bairro de São Paulo Local: São Paulo / São Paulo Data: Entre 1961 e 1970

Obra: Construção da piscina do Conjunto Esportivo da Portuguesa de Desportos, que depois deu lugar ao atual estádio da Portuguesa Local: São Paulo / São Paulo Data: Entre 1961 e 1970

Estas imagens foram retiradas do banco de imagens Arquigrafia da USP (Universidade de São Paulo)

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Jogo Rápido

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O que há de novo

Maccaferri lança nova linha de gabiões As soluções em malha hexagonal de dupla torção possuem novo revestimento metálico de alta durabilidade, GalMac®4R e ainda terão identificação nos arames de borda por Dellana Wolney

R Fotos: Arquivo Maccaferri

Recentemente a empresa Maccaferri lançou no Brasil as soluções em dupla torção, fabricadas a partir de fios de aço de baixo teor de carbono, que quando entrelaçados formam uma malha hexagonal, cuja dimensão e diâmetro de arame são definidos segundo a Norma Brasileira NBR 10.514 e a Norma Europeia EN 10.223-3. A partir

Figura 01 – Malha hexagonal

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desse tipo de malha, a Maccaferri fabrica seus principais tipos de soluções derivadas das malhas hexagonais de dupla torção, que são os gabiões tipo caixa, tipo saco, os colchões Reno®, as redes de alta resistência e os elementos Terramesh® System e Verde. As malhas hexagonais de dupla torção além de apresentarem as vantagens inerentes à sua forma são capazes de distri-


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Figura 02 – Gráfico de tensão x deformação da malha

Figura 03 – Composição do arame utilizado na confecção da malha hexagonal de dupla torção Maccaferri

buir de maneira quase uniforme os esforços de tração, permitindo um melhor travamento mecânico quando confinadas no solo, apresentando mais rigidez comparando-se a outros tipos de malha confeccionados por simples torção, uma vez que ao sofrer um rompimento pontual no arame que a compõe, este não se propaga garantindo a integridade da malha. O coordenador comercial da Maccaferri do Brasil, Thales Vitor Silva explica que esta característica pode ser comprovada por meio de ensaios laboratoriais, cujos resultados mostram que um pano de 1 m² de malha hexagonal em dupla torção, mesmo após sofrer quatro rupturas em pontos distintos, continua a apresentar um nível notável de resistência à tração, mantendo ainda sua funcionalidade. “O tipo de material que constitui a malha de dupla torção é imprescindível para o alcance dos resultados acima. O arame é composto por alma de aço tipo 1006

a corrosão, garantindo a vida útil das estruturas”, afirma. Para retardar a oxidação é associada ao aço a liga metálica (revestimento), que tem o seguinte princípio: pequenas células eletroquímicas guiam o processo de corrosão,

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Figura 04 – Como é a identificação no arame

de BTC (Baixo Teor de Carbono), que lhe confere características de maleabilidade e boa conformação. Além da alma em aço BTC, todos os arames recebem um revestimento metálico especial que tem a função de proteção contra


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Figura 05 – O arame de borda com identificação especial está destacado em cada produto

quando um ponto menos rea­tivo mais nobre se põe em contato com outro mais reativo ou menos nobre por meio de um eletrólito, o lugar menos nobre irá corroer, essa reação é conhecida como galvânica ou eletrolítica. Portanto, a combinação de um material mais nobre com outro menos nobre irá evitar a corrosão do primeiro.

INOVAÇÃO Assim como as tintas e os plásticos evoluíram nas últimas décadas, visando maior durabilidade, os revestimentos metálicos também tiveram o mesmo processo. Por exemplo, quando foram desenvolvidos no ano de 1893 pela Maccaferri da Itália, os gabiões não possuíam nenhum tipo de revestimento, posteriormente começaram a ser revestidos com zincagem leve, depois por uma zincagem pesada e desde a década de 1990 vinham sendo revestidos com a liga Galfan®. Recentemente uma nova evolução dos revestimentos metálicos 62

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para produtos de malha em dupla torção chegou ao mercado. Trata-se da adoção de uma proteção ainda mais eficaz, que consiga enfrentar o aumento da agressividade do meio ambiente, garantindo a mesma durabilidade e confiança que os ­gabiões­ sempre tiveram. A liga GalMac 4R® é composta de zinco/alumínio de alta pureza associados com mischmetal (terras-raras). Ela possui qualidades singulares como proteção sacrificadora e uma barreira protetora cerca de quatro vezes melhor que a zincagem pesada. Esta nova proteção dos arames já consta na última versão da Norma Brasileira que rege os trabalhos relacionados a gabiões: NBR 8.964 – “Arames de aço de baixo teor de carbono revestidos, para gabiões e demais produtos fabricados com malha de dupla torção”. Além da proteção adicional, a Maccaferri utiliza um revestimento polimérico de engenharia, atualmente o PVC (Policloreto de Polivinila), para ambientes com

presença de água ou agressivos ao tempo, com a finalidade de proteger os fios contra as intempéries e agentes agressivos. “As soluções revestidas com a liga GalMac4R podem ser utilizadas em todo tipo de obra que possui gabiões e elementos Terramesh para contenções, proteções contra quedas de rocha, escadas hidráulicas, barragens e canalizações trapezoidais e retangulares com gabiões e colchões Reno®” revela o engenheiro e coordenador de marketing América Latina da Maccaferri, Paulo César Belesso Ferretti. Entretanto, ele diz que a utilização em obras hidráulicas e de reforço de solos faz-se necessário o revestimento adicional com polímero de engenharia de maneira a garantir ainda mais longevidade e proteger o fio de aço revestido contra ação de agentes químicos, orgânicos e da agressão mecânica oriundos do fluxo d’água e substratos do solo.

FUNCIONALIDADE Além da nova liga metálica, a Maccaferri passou a identificar os arames de borda de todos os produtos confeccionados em malha hexagonal de dupla torção. Dessa maneira, nos fios de borda reforçados, o arame será revestido com a descrição do tipo de revestimento metálico e/ou polimérico, sendo possível identificar o tipo de material que está sendo aplicado na obra, garantindo ao cliente, um material que atende às principais normas nacionais e internacio-


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nais. As soluções que agora recebem identificação são: os gabiões tipo caixa, tipo saco, os colchões Reno®, as redes de alta resistência e os elementos Terramesh® System e Verde (Figura 8). Na Figura 9 é possível detectar onde estarão os arames com a identificação. Ferretti conta que a receptividade desta solução no mercado brasileiro e latino tem sido excelente, pois a engenharia como um todo está em constante evolução, e isso só é possível graças à melhoria contínua dos produtos empregados em obras e soluções de engenharia. “O mercado busca por soluções com maior desempenho técnico e funcional, e a durabilidade do produto tem sido uma característica fundamental para se ter obras com maior vida útil e que gerem menos intervenções e manutenções. Prova disso é a norma 63

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Aplicação detalhada

NBR 15.575 sobre desempenho de edificações, que cita propriedades mínimas que os materiais devem possuir para suas respectivas aplicações como produtos de engenharia”, comenta. Contando com esse revestimento

as soluções de engenharia aumentam ainda mais seu espectro de aplicações, uma vez que passam a ser soluções agora suscetíveis de serem utilizadas em locais onde sofriam forte ação corrosiva a alma de aço dos fios da malha de dupla torção.


Em foco

PATOLOGIAS DE FUNDAÇÕES

D

Do grego, a palavra “patologia” significa “estudo da doença”, pois phatos é doença e logos é estudo. Quando aplicada à engenharia, patologia significa o estudo das anomalias que afetam o desempenho das construções. Ao se tratar das fundações, este estudo abrange as origens, sintomas, causas e mecanismo de deterioração desse elemento construtivo. Um problema de origem patológica pode ser percebido como uma situação em que a construção não apresenta o desempenho previsto em projeto.

CONCEITO Uma fundação é o resultado da necessidade de transferência de cargas da estrutura para o solo e seu dimensionamento é parte integrante de qualquer projeto de engenharia. Como a identificação das condições hidrogeo­lógicas e geotécnicas do solo são complexas, a ocorrência de problemas de fundações em obras civis tem sido observada e reportada com frequência, tanto na prática nacional como internacional. O livro “Patologia das Fundações” lançado recentemente pelos autores Jarbas Milititsky, Fernando Schnaid e Nilo Cesar Consoli (2016) reúne diversos estudos de casos que ilustram problemas usuais, suas causas e consequências.

DESENCADEAMENTO A ocorrência de patologia nas fundações pode estar associada a todos os eventos que compõem uma obra de engenharia. As fases onde os problemas podem ser originados incluem a caracterização do comportamento do solo, a análise e projeto das fundações, a exe64

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cução das fundações ou a eventos pós-conclusão, além da degradação dos materiais constituintes das fundações. Conforme Milititsky et al. (2015), as patologias das fundações podem ocorrer nas seguintes etapas: • Caracterização do comportamento do solo e investigação; • Análise e projeto das fundações; • Execução das fundações; • Eventos pós-conclusão das fundações; • Degradação dos materiais constituintes das fundações. Uma estatística de eventos estudados por Silva (1993), no Rio Grande do Sul, relata as causas de patologias em fundações de acordo com sua origem, como mostra o gráfico da foto 1. Ele destaca que a investigação do subsolo é a principal causa das origens das manifestações patológicas nas fundações. É possível afirmar que, para o sucesso de um projeto ocorrer, a correta identificação, assim como a caracterização do comportamento do solo, são fatores que necessitam de atenção. Investigações insuficientes, assim como interpretações inadequadas, podem comprometer a elaboração de um projeto de fundações eficiente. Eventos pós-conclusão das fundações também podem gerar problemas. Milititsky et al. (2015) explica que as mudanças de utilização da edificação, que geram modificações no carregamento da estrutura, bem como as alterações do uso dos vizinhos, como novas obras e também execução de grandes escavações próximas às constru-


Em foco

IDENTIFICAÇÃO Normalmente, as falhas nas fundações são detectadas a partir das manifestações ou sintomas patológicos que se expressam por modificações estruturais ou funcionais na construção, representando os sinais de aviso dos defeitos surgidos. Segundo Albiero (1996), as fundações são constituídas de elementos que ficam enterrados e inacessíveis às revisões periódicas. Por consequência, os defeitos patológicos que estes elementos apresentam não são percebidos de uma forma direta, 65

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PREVENÇÃO

Adaptado de Silva (1993)

ções, podem alterar a segurança e a estabilidade das edificações. Na etapa de análise e projeto existem problemas que podem ocorrer envolvendo não só o comportamento do solo, mas também o mecanismo de interação solo-estrutura, o desconhecimento do comportamento real das fundações, o dimensionamento estrutural inadequado, a ausência ou erro de especificações construtivas e as fundações apoiadas sobre aterros, e podem comprometer a edificação produzindo efeitos que a danifiquem, explica Milititsky et al. (2015). A NBR 6.122:2010 concede diretrizes de boas práticas para o projeto e execução de fundações. É importante verificar se tanto o projeto, quanto a execução estão em conformidade com a norma. Erros durante a execução de projetos se tornam cada vez mais comuns, por isso é necessário haver uma rígida fiscalização durante a execução da obra e o registro de ocorrências, pois são dados importantes que podem contribuir para necessidades futuras.

Foto 01- Origem dos problemas em fundações correntes no Estado do Rio Grande do Sul

porém são observados de um modo indireto, por meio das repercussões na estrutura. Por meio de uma vistoria do local é possível identificar visualmente alguns sintomas, como o aparecimento de deformações, fissuras e trincas tanto na alvenaria, quanto na estrutura de concreto. As trincas e fissuras podem ser originadas devido a recalques que é o movimento vertical descendente de um elemento estrutural. Já o recalque diferencial é a relação entre as diferenças dos recalques de dois apoios e a distância entre eles. O recalque diferencial impõe distorções à estrutura que podem acarretar em fissuras (Alonso, 1991). O recalque diferencial específico, também chamado de distorção angular ( ), é definido por:

O êxito ou fracasso de uma fundação, ou mesmo a possibilidade de aparecimento de problemas, pode ter origem em uma variada gama de aspectos que ocorrem nos vários estágios da obra, da concepção à execução. Os profissionais encarregados da etapa de caracterização de comportamento em geral não são especialistas em fundações e não acompanham o desenvolvimento de todos os eventos que dão origem às fundações construídas. Condições especiais de comportamento ou ocorrência de materiais não usuais podem não ser identificadas; o projetista das fundações nem sempre recebe informações precisas de eventos ou condições locais, o que resulta pouca representatividade das reais condições ambientais; alterações das condições encontradas durante a execução não são necessariamente relatadas; dificuldades construtivas podem comprometer as condições de projeto estabelecidas; acontecimentos pós-construção das fundações, internos à obra ou externos, podem afetar seu desempenho sem que tenham sido previstos na concepção e projeto. Todos estes aspectos devem ser avaliados de forma sistêmica e contínua para evitar ou diminuir riscos e problemas.

DESAFIOS É importante ressaltar que é natural que recalques ocorram, porém estes precisam estar previstos no projeto estrutural como recalques admissíveis.

Segundo Velloso & Lopes (2004), há informações que são de suma importância para a elaboração do projeto de fundações, como: dados do projeto da superestrutura, topografia local, dados geológicos e geotécnicos,


Arquivo Thaiane Klein

Em foco

Foto 02 - Principais técnicas de correção de falhas em fundações

e também dados referentes às construções vizinhas. Estas informações precisam ser analisadas minuciosamente pelos profissionais envolvidos no projeto, para assim serem definidos deslocamentos admissíveis e fatores de segurança que serão aplicados. No entanto, muitas vezes os projetistas recebem informações insuficientes ou, até mesmo, não recebem informações precisas de eventos ou condições locais. Essa falta de informações contribui para a ocorrência de manifestações patológicas, porém há outros fatores que podem dificultar a identificação de patologias nas fundações durante a elaboração do projeto estrutural, como por exemplo, a degradação dos materiais 66

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constituintes, a má execução das fundações e ações que ocorrem após a conclusão das fundações. Apesar de a engenharia brasileira ser eficiente e competitiva, não é incomum a existência de patologias em obras brasileiras que para Schnaid são relacionadas à cultura da engenharia nacional. Os maiores desafios para melhoria das práticas envolvem aspectos relacionados principalmente à investigação geotécnica, projeto e execução: No que diz respeito à investigação geotécnica: Criar a cultura dentro da perspectiva que investigação de subsolo não é custo, mas investimento e resulta em menores custos globais das obras, com maior segurança nas so-

luções (escolha do tipo e projetos), evitando incertezas e problemas construtivos; O planejamento de um programa de investigação deve ser concebido por um profissional experiente que possa conjugar a metodologia (procedimentos e número) e os custos à natureza (complexidade ou dificuldades) do projeto; A conjugação de diferentes métodos de ensaios de campo e laboratório, usados de forma racional, agregados com experiência prévia com o material (desk studies altamente desejável) constitui prática adequada e segura; Para evitar este grupo de problemas é essencial a contratação de serviços de empresas comprovadamente idôneas e supervisão nos trabalhos de campo por parte do contratante (não se contrata investigação de subsolo, incluindo sondagens de simples reconhecimento por custo mínimo, mas por qualidade dos executantes, mesmo para obras correntes). Algumas questões importantes a serem pontuadas quanto ao projeto: A escolha adequada do tipo de solução de um problema de fundações, considerando a real natureza do subsolo, das solicitações atuantes e desempenho da estrutura permite iniciar o processo de análise e projeto de forma segura, evitando problemas executivos, de segurança ou de desempenho; Modelos de cálculo e fórmulas de previsão de desempenho precisam ter sua utilização realizada com pleno conhecimento de sua representatividade, limitações e a variabilidade de comportamento de fundações pro-


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fundas sobre carga, com a adoção de fatores de segurança correspondentes; Somente utilizar métodos de previsão que tenham sido “calibrados” com provas de carga realizadas em perfis de subsolo semelhantes aos da obra, preferencialmente comparando mais de um modelo de cálculo; Questões como incertezas na obtenção das propriedades dos perfis de solo, sua variabilidade, adoção de perfis de projeto representativos e efeitos dos processos executivos nas propriedades do solo de fundação precisam ser considerados na adoção de fatores de segurança que realmente cubram a disparidade entre as previsões e o real comportamento sob carga das fundações de todos os elementos construídos; Projetos com especificações claras e objetivas e seu atendimento são fundamentais para o sucesso na execução de fundações; Revisão de projeto constitui-se em forma de superar boa parte dos problemas enquadrados no item análise e projeto, a ser adotada em obras especiais, situações em que programas de qualidade total ou de certificação ou de seguro exijam. Quanto à execução: Nenhum equipamento sofisticado de execução, de ensaio ou produção de serviços ou método de análise prescinde da qualidade e controle humano nas diversas etapas que constituem a solução de um problema de fundações; Experiência, prática, treinamento, conhecimento acumulado ou desenvolvido, bom senso e controle permanente constituem ingredien67

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tes insubstituíveis na boa prática da engenharia geotécnica, especialmente em fundações profundas; Supervisão de construção deve ser parte do processo de implantação de fundações; Durante a execução das fundações, os registros construtivos e de controle e a monitoração, se houver, devem ser comunicados ao projetista para avaliação das reais condições da obra; No caso de dúvida ou “não conformidade”, reforços executados durante a etapa de construção das fundações são menos traumáticos que intervenções posteriores; Finalmente é conveniente referenciar a importante contribuição do Eurocode 7, que reconhece que “o conhecimento geotécnico e o controle de execução são mais importantes para satisfazer os requisitos fundamentais de segurança de uma fundação do que a precisão dos modelos de cálculo e os coeficientes de segurança adotados”.

CORREÇÃO A escolha do método de recuperação de uma fundação, com problemas relativos às patologias, deve ser feita de forma bastante minuciosa. Existem diversos métodos e a escolha dependerá do diagnóstico obtido pelas investigações realizadas pelos profissionais envolvidos no processo. Já a recuperação estrutural é uma tentativa de restauração da capacidade inicial para qual a estrutura foi projetada. A correção dos problemas ocorridos devido às patologias pode ser um reforço estrutural ou até mesmo a substituição do elemento danifi-

cado, pois mesmo se este receber uma ação corretiva, não atenderia mais um desempenho mínimo aceitável ou o custo de manutenção corretiva seria maior que o de uma nova construção. Abaixo é apresentada uma tabela com as principais técnicas para correção de falhas em fundações:

CONSEQUÊNCIAS A má execução da fase de fundações pode acarretar diversos problemas à obra. O custo usual de uma fundação é variável, dependendo das características e condições do subsolo e em casos correntes situa-se na faixa entre 3% e 6% do custo da obra. Em casos especiais pode chegar a custos superiores, atingindo em condições especialmente adversas valores de 10% a 15% do custo global. Em casos de patologias, os custos podem exceder muitas vezes os valores iniciais, além de abalar a imagem dos profissionais envolvidos, resultar em longos, caros e desgastantes litígios para identificação de causas e responsabilidades, necessidade de evacuação de prédios, interdição de estruturas, entre outras complicações e, eventualmente, incluir a perda de vidas humanas e danos ambientais.

REFERÊNCIAS ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). NBR 6122 – Projeto e execução de fundações. Rio de Janeiro: ABNT. 2010. ALBIERO, J.H., Patologia das fundações. SEFE III (3º Seminário de Engenharia de Fundações Especiais e Geotecnia), 1996. ALONSO, U. R. Previsão e Con-


Em foco

SILVA, A. S., Levantamento de Problemas em Fundações Correntes no Estado do Rio Grande do Sul. 1993. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) – Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Por-

to Alegre. 1993. VELLOSO, D. A. LOPES, F. R. Fundações, Critérios de Projeto – Investigação do Subsolo. Edição Vol.1: Fundações Superficiais. São Paulo (SP). Oficina de Textos, 2004.

Arquivo pessoal

> FERNANDO SCHNAID é engenheiro civil pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), 1980; possui mestrado em engenharia civil pela PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro), 1983; doutorado em ciência de engenharia pela University of Oxford, 1990 e pós-doutorado pela University of Western Australia, 2004. Atualmente é professor-titular da UFRGS.

Arquivo pessoal

trole das Fundações. São Paulo (SP). Ed. Edgard Blucher, 1991. MILITITSKI, J.; CONSOLI, N.C.; SCHNAID, F. Patologia das Fundações. 2. Ed. Oficina de Textos, 2015.

THAIANE KLEIN é engenheira civil e está concluindo sua pós-graduação em planejamento, gestão e controle de obras civis pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). Possui experiência em ensaios estáticos e dinâmicos em fundações; programas de investigação e instrumentação geotécnica em obras de escavações subterrâneas; fundações rasas e profundas; e interação solo-estrutura. Atualmente trabalha na área de projetos e acompanhamento de obras.


Jogo Rápido

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Espaço Aberto

USO DE TUBOS GEOSSINTÉTICOS PARA EXECUÇÃO DE TRAVESSIAS EM ACESSOS PARA CAMINHÕES “FORA DE ESTRADA” EM MINERAÇÃO

A

INTRODUÇÃO

Carlos Antônio Centurión Panta é engenheiro civil e gerente-técnico da empresa TDM Brasil ccenturion@tdmbrasil.com.br

Fernando H. M. Portelinha é engenheiro civil e coordenador do LabGEO/UFSCar (Laboratório de Geotecnia da Universidade Federal de São Carlos) fportelinha@ufscar.br

Marcus Vinicius Weber de Campos é engenheiro civil e atua como engenheiro de projetos da empresa TDM Brasil mcampos@tdmbrasil.com.br

Wladimir Caressato Junior é engenheiro civil e atua como engenheiro de projetos da empresa TDM Brasil wcaressato@tdmbrasil.com.br

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Fundações e Obras Geotécnicas

As principais e maiores mineradoras do Brasil utilizam grandes caminhões de elevadas cargas chamados de “fora de estrada” para as suas operações mineiras, buscando elevada produção e redução nos seus custos por tonelada. Esses caminhões, com capacidade para mais de 240 m³ de minério, possuem 7,70 m de altura e podem apresentar cargas de até 620 toneladas quando carregados. Pela grande importância que esses caminhões representam para a operação mineira, e pelas complicadas condições climáticas onde normalmente elas se encontram, existem áreas encarregadas de manutenção e operações em minas, cujos engenheiros se preocupam em manter os acessos estáveis e em boas condições de circulação para evitar perdas de produtividade. Especificamente na parte de drenagem, o principal problema dessa equipe de operações era buscar opções para construir galerias da forma mais rápida possível e de alta resistência às tensões verticais

e horizontais, em substituição dos tubos de concreto reforçado que, com mais de 2,50 m de solo de cobertura, comprimento extremamente pequeno, altíssimo peso, alta porcentagem de perda por danos, complicada manipulação e instalação, geravam constantes paralizações no trânsito dos veículos “fora de estrada” devido ao fechamento de vias por períodos prolongados e onerosos que geravam perda de eficiência na operação mineira. Dentro desse contexto, o uso de geotubos de PEAD (Polietileno de Alta Densidade) corrugados foi utilizado como opção para esse tipo de solução por apresentarem alta durabilidade, elevada resistência à abrasão, facilidade de instalação e, principalmente, por serem flexíveis. A segurança e economia em dutos enterrados em grandes profundidades podem ser mais facilmente alcançados com a redução das tensões geostáticas devido ao arqueamento do solo. A pesquisa pioneira de Marston e Anderson (1913) demonstrou que as tensões que chegam em uma


Espaço aberto

estrutura enterrada são afetadas pelas características do solo de aterro, pela geo­metria da vala de escavação, pela condição de instalação e, principalmente, pela rigidez do duto enterrado. O maior avanço em dutos enterrados foi gerado pela pesquisa de Spangler (1950) que demonstrou o importante papel do recalque relativo entre o prisma de solo sobre a estrutura e o solo exterior ao prisma de deslocamento. O autor descreve que as tensões geos­ táticas no topo do duto enterrado reduzem significativamente quando os deslocamentos verticais do solo na crista do duto são maiores que o deslocamento no solo adjacente à projeção do duto, causando uma alteração radical na distribuição de tensões no duto, o que é atribuído ao fenômeno de arqueamento positivo de Terzaghi. Esse tipo de fenômeno pode ser alcançado com o uso de um duto mais flexível ou pela técnica da trincheira induzida, em que um material mais compressível é posicionado no topo de uma estrutura enterrada rígida. O presente artigo mostra aplicações de dutos flexíveis enterrados para fins de operação de mineração. O artigo aborda relatos de aplicações, assim como análises e considerações de projeto sobre o uso de tubos flexíveis e sua influência na redistribuição e redução de tensões devido ao fenômeno de arqueamento positivo.

CASO DE OBRA A obra relatada foi executada na cidade de Belo Horizonte (MG), onde geotubos corrugados de PEAD foram utilizados para compor sistemas de drenagem de travessias de 71

Fundações e Obras Geotécnicas

caminhões de alta capacidade, que consistem em veículos de transporte de minério que apresentam elevada capacidade de armazenamento e, por consequência, elevadíssimo peso que não permitiria o trânsito em malhas rodoviárias tradicionais. Por essa razão, estes são chamados de “fora de estrada”. Esses caminhões, com capacidade de mais de 240 m³ de minério, possuem 7,70 m de altura e podem apresentar cargas de até 620 toneladas quando carregados. As travessias por onde passam os caminhões apresentavam diferentes alturas de aterros, sendo bastante elevadas, o que gerava tensões elevadas nas tubulações enterradas. No setor de mineração, os processos de operações em mina são dinâmicos e imprevisíveis, devido à rápida atuação que se deve ter quando apresentados danos em acessos por chuvas ou escorregamentos, e são mediamente previsíveis quando acessos devem ser gerados diariamente devido à constante mudança dos pontos de extração. Tudo com a finalidade de manter as vias (haul roads) em estado adequado de tráfego para os caminhões “fora de estrada”. Atender às exigências mínimas desses caminhões não é simples devido a sua altura e elevado peso. Cada paralização do tráfego desses caminhões por manutenção de vias ou a simples redução de velocidade por inadequada drenagem dos acessos, significam milhões de reais por ano em perdas para a companhia mineradora. Especificamente para os sistemas de drenagem, engenheiros dessas áreas tinham dois grandes problemas: (a)

usavam as típicas manilhas de concreto reforçadas ponta-bolsa de 1 m de comprimento e até 1.500 mm de diâmetro para construir as suas travessias. Com esses materiais, estes trabalhos eram especialmente demorados devido ao alto tempo que gerava para manipular tais manilhas, agravado pelo mínimo comprimento que elas possuem; (b) o processo de instalação era realizado com equipamento pesado e pessoal de apoio que necessariamente tinham de entrar nas valas escavadas para completar a instalação das manilhas. Esse processo gerava constantes conflitos com a área de segurança da mina pois, ao requerer de valas profundas para receber as manilhas de 1,50 m de diâmetro, esse serviço qualificava como “trabalho em espaço confinado” e os trabalhadores não podiam ingressar sem um confinamento lateral previamente instalado nem menos com equipamento mecânico funcionando e pendurando manilhas sobre ou ao lado deles. Tendo descartando soluções típicas como tubulações de aço ensambladas in loco, pela demora no processo de instalação e limitada eficiência hidráulica devido às suas corrugas internas, ou como as tubulações de PEAD lisas com classificação SRD, pelo alto peso de manipulação e necessidade de serem soldadas in loco (o que lhes gerava ainda mais problemas se comparados com as manilhas de concreto), a área de operações de mina aceitou como solução final os geotubos de parede dupla em PEAD ADS N-12 devido ao seu pouco peso: 36 kg/m para diâmetro de 1.050 mm e 68 Kg/m para 1.500


Espaço Aberto

mm, o grande comprimento de 6 m por barra e a sua alta eficiência hidráulica, durabilidade e resistência à abrasão, por serem fabricados em PEAD com interior liso. Imagens dos geotubos são apresentados na Figura 1. Cientes que estes diâmetros específicos de 1.050 mm e 1.500 mm têm sido usados com sucesso quando instalados cumprindo as recomendações da AASHTO (American Association of State Highway and Transportation Officials) e ASTM (American Society for Testing and Materials) em rodovias e ferrovias, e que a metodologia de cálculo disponível assumia o uso de solos homogêneos instalados com processos controlados de compactação, foram analisadas, em combinação com a equipe técnica da mineradora, todas as condições críticas que limitariam o desempenho desta tecnologia. As duas principais foram: (a) os materiais disponíveis para reaterro das valas eram argilas, areias finas resultantes do processo de cliclonamento, areias grosseiras denominadas “jigue” e uma combinação com material de maior diâmetro denominado “Itabirito”. Nenhuma delas classificada como CLASSE 1 segundo ASTM D2321; (b) limitada possibilidade de entrar nas valas escavadas com pessoal de apoio, o que por consequência significava nenhuma possibilidade de colocar equipes de compactação que permitissem atingir níveis de compactação na energia de Proctor normal recomendado pela AASHTO. Após ensaios de laboratório se de72

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Figura 1 – (a) Fabricação e (b) estocagem simples em obra dos geotubos PEAD corrugados

Figura 2 – Jigue usado nas valas (esquerda) e critério de deformação considerado nos cálculos

finiu que o material a ser usado seria o “jigue”. Esse material é classificado como CLASSE 2 de acordo com ASTM D2321 e permitiu atingir altas densidades simplesmente quando lançado dentro da vala. Com a caracterização do material em laboratório foi possível aplicar a seção 12 do procedimento da AASHTO para cálculo de pontes denominado LRFD (Load Resistance Factor Design) e determinar a espessura inicial de solo de cobertura a ser colocado como mínimo sobre o geotubo PEAD e este possa resistir as mais de 600 toneladas dos caminhões fora de estrada sem sofrer tensões internas que superem as máximas admissíveis pelo polietileno de alta densidade e

também supere os 5% de deformação máxima limitada pelo fabricante para manter a estanqueidade das juntas de tipo ponta-bolsa. Dessa forma, a deformação limite vertical de 5% devia ser obedecida para a manutenção das condições operacionais dos geotubos de drenagem. A Figura 2 ilustra o critério de deformação adotado no projeto. A espessura mínima de aterro colocado sobre a diretriz superior do geotubo DN42” foi calculada em 1,85 m, ressaltando que o método da AASHTO LRFD (2012) considera parâmetros fixos para materiais classificados conforme ASTM D2321 e com níveis de compactação conhecidos ou verificáveis. Com isso, análises


Espaço Aberto

complementares utilizando um modelo em elementos finitos foram realizadas com o uso do software PlaxisV8, com a finalidade de verificar se a pressão transmitida ao tubo pelos “fora de estrada” gerava uma deformação menor a 5% usando os valores do material “jigue” obtidos em laboratório. As propriedades do tubo de PEAD de 1.050 mm usadas nas análises estão apresentadas na Tabela 2. Com todas as análises finalizadas foi realizada a instalação de uma linha de aproximadamente 36 m de comprimento para verificar os cálculos realizados e comprovar que o problema de não ingressar na vala podia ser superado. A instalação iniciou com a escavação da vala e a colocação de um berço de “jigue” de aproximadamente 15 cm (Figura 3) para fundação da tubulação. Posteriormente, a primeira unidade de geotubo era posicionado e aterrados com o mesmo “jigue”. A segunda unidade era encaixada na unidade aterrada com o uso da retroescavadeira adaptada para encaixe do tubo. O processo de instalação resultou ser mais simples do que o imaginado, com operadores de retroescavadeiras experientes conseguiu-se instalar os geotubos PEAD N12 sem presença de nenhuma pessoa dentro da vala de drenagem conforme requerido pelo cliente. Cuidou-se também que a instalação do material de aterro seja feita em camadas e “compactando” com a concha da retroescavadeira para tentar acomodar o máximo possível o jigue dentro da vala e aos lados do geotubo. Cabe destacar que o uso metodo73

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Tabela 2 – Propriedades mecânicas do Geotubo de PEAD com 1.050 mm de diâmetro Propriedade

Norma

Valor

Rigidez a 5% de deformação

ASTM D2412-11

330 kPa

Achatamento

ASTM D2412-11

40% (sem qualquer dano)

Impacto

ASTM D2444-99

130 Joules com 6 golpes

Figura 3 – Instalação do berço de areia e posicionamento do tubo

logias de cálculo conhecidas permitiu propor o uso dos geotubos em uma aplicação fora do padrão comum de rodovias ou ferrovias com um bom desempenho. No entanto, cabe destacar que as metodologias convencionais não contemplam o fenômeno de arqueamento positivo ao utilizar tubos flexíveis. Com isso, o tópico a seguir compara as metodologias com e sem efeito do arqueamento positivo.

ARQUEAMENTO POSITIVO COM USO DE TUBOS FLEXÍVEIS

Figura 4 – Obra finalizada

A influência da rigidez do tubo foi estudada com o uso do método de elementos finitos. Neste trabalho essas análises foram conduzidas com o uso do programa comercial PlaxisV8. No programa simulou-se uma situação de aterramento de geotubo considerando o tubo assentado em 15 cm de jigue e aterrado

com 1,85 m do mesmo material. Acima deste material um aterro compactado de 1,5 m foi considerado na análise totalizando uma altura de cobertura total de 3,35 m. Acima do aterro simulou-se a carga do caminhão “fora de estrada” com o uso de uma carga equivalente distribuída gerando 800 kPa de tensão.


Espaço Aberto

Figura 5 – Tensões verticais com o uso do duto enterrado: (a) flexível; (b) rígido

Na Figura 5 são mostradas as tensões verticais que chegam na crista do elemento enterrado considerando tubo flexível (Figura 5a) e o tubo rígido (Figura 5b). A tensão máxima que chega na crista do geotubo flexível é de 15 kPa, enquanto para o tubo rígido a tensão é mais que o dobro, chegando a valores próximos de 40 kPa. Fica evidente que para o tubo flexível, a tensão vertical que na crista é maior do que para o tubo rígido é atribuída ao efeito do arqueamento do solo.

CONCLUSÃO Este trabalho mostra que o uso de tubos geossintéticos (geotubos) de grandes diâmetros apresenta-se como uma técnica que viabiliza a execução de travessias em mineração por permitir um fácil posicionamento nas valas e por agilizar de forma significativa o progresso da construção das linhas de drenagem. O fato de permitir trabalhar com unidades mais longas, leves e fle74

Fundações e Obras Geotécnicas

xíveis torna o trabalho muito mais prático e evita a paralização de operação em atividades de mineração. Dentro do contexto de eficiência técnica, destacou-se neste trabalho que o uso de tubos flexíveis pode acionar o arqueamento positivo de

Terzaghi resultando em tensões inferiores àquelas em tubos rígidos. Os resultados numéricos apresentados mostraram que a redução das tensões horizontais e verticais podem ser significativas alcançando até 60%.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AASHTO LRFD (2012). Bridge design specifications. American Association of State Highways and transportation officials. ASTM D2321 (2014). Standard Practice for Underground Installation of Thermoplastic Pipe for Sewers and Other Gravity-Flow Applications, 12p. ASTM D2412-11 (2011). Standard Test Method for Determination of External Loading Characteristics of Plastic Pipe by Parallel-Plate Loading, 7p. ASTM D2444-99 (2010). Standard Test Method for Determination of the Impact Resistance of Thermoplastic Pipe and Fittings by Means of a Tup (Falling Weight), 9p. Marston, A.; Anderson, A.O. (1913). The Theory of Loads on Pipes in Ditches: And Tests of Cement and Clay Drain Tile and Sewer Pipe. Iowa State College of Agriculture and Mechanic Arts. Spangler, M. G. (1950). Field measurements of the settlement ratios of various highway culverts. Transportation Research Board.


Jogo Rápido

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Geotecnia Ambiental

PROGRAMA É CRIADO PARA APOIAR CONSERVAÇÃO DA AMAZÔNIA Qualquer empreendimento no mundo que busque certificação de edificação sustentável pode contribuir com a iniciativa que beneficiará mais de nove mil famílias amazonenses por Dellana Wolney

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Uma parceria entre a GBC Brasil (Green Building Council Brasil), a ONG (Organização Não Governamental) responsável pela Certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) no Brasil e a FAS (Fundação Amazonas Sustentável) promove uma ação inédita em que empreendimentos imobiliários de qualquer parte do mundo poderão apoiar o financiamento de projetos sustentáveis na Amazônia e receber a certificação LEED. Estima-se que a ideia possa beneficiar diretamente nove mil famílias moradoras de 16 UC (Unidades de Conservação) do Amazonas e 581 comunidades/localidades tradicionais do interior do estado. O apoio para a conservação da Amazônia se dá por meio de uma doação para a FAS, proporcional à área do edifício em certificação, que pode variar de 0,05 centavos (dólar) por m² anuais para edifícios já existentes 4 dólares por m² para novos edifícios. A FAS é uma organização brasileira não governamental sem fins lucrativos, criada em 2008 pelo Banco Bradesco em parceria com o Governo do Estado do Amazonas. Posteriormente, a FAS passou a contar com o apoio da Coca-Cola Brasil (2009), do Fundo Amazônia (2010) e da empresa Samsung (2010), além de outras parcerias em programas e projetos desenvolvidos.

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Sua principal missão é promover o envolvimento sustentável, a conservação ambiental e a melhoria da qualidade de vida das comunidades ribeirinhas do Estado do Amazonas. As principais iniciativas são estabelecidas por meio do PBF (Programa Bolsa Floresta), PES (Programa de Educação e Saúde), PSI (Programa de Soluções Inovadoras) e Programa de Gestão e Transparência. No ano de 2016, a FAS alcançou a marca de 40.230 pessoas e 9.597 famílias beneficiadas em 16 UC estaduais do Amazonas.

COLABORAÇÃO Diversos tipos de edificações que buscam a certificação internacional LEED podem participar do programa, dentre elas: edificações corporativas, plantas industriais, escolas públicas e privadas, museus, bibliotecas e creches públicas, hotéis, shopping centers, lojas de varejo e instituições financeiras. “No mundo, este universo de edificações registradas soma um número relevante. Todas elas podem apoiar os projetos de preservação, proteção e desenvolvimento social na Amazônia”, enfatiza o diretor-executivo do GBC Brasil, Felipe Faria. Ao participar do programa, a construção recebe um ponto na certificação de “edificações


Omer Bozkurt / Flickr

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Amazônia

verdes” LEED, que pode eventualmente significar o credenciamento da edificação à certificação, que é dividida nas categorias: Básico, Prata, Ouro ou Platina, conforme a pontuação alcançada (de 40 pontos, nível certificado comum, a 110 pontos, nível máximo). Independentemente da certificação LEED, empresas ou cidadãos também podem contribuir com a FAS. As doações adquiridas são destinadas em sua totalidade às atividades concretas de conservação ambiental 77

Fundações e Obras Geotécnicas

e desenvolvimento sustentável de comunidades ribeirinhas das Unidades de Conservação estaduais do Amazonas, cujo território soma mais de 10 milhões de hectares, o que equivale a área total de Portugal. Faria explica que para ser gratificado pelo cumprimento desta prática e ganhar pontos, que somado ao atendimento de outras exigências habilitará o empreendimento a receber a certificação pretendida, o incorporador deve conservar áreas existentes

ou restaurar áreas degradadas do seu terreno, promovendo a biodiversidade e serviços ambientais locais. Idealmente a preservação ou restauração deve ocorrer no local da intervenção construtiva, mantendo 40% da vegetação nativa do terreno, se ela existir. “Inexistindo a possibilidade do cumprimento deste quesito como mencionado acima, o empreendedor poderá optar pela oferta de suporte financeiro equivalente a 0,40 (quarenta centavos de dólares) por pé quadrado


Emmanuel DYAN / Flickr

Geotecnia Ambiental

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Torbakhopper / Flickr

Imagem ilustrativa

da área construtiva total do empreendimento. Apenas duas organizações no mundo estão listadas para o recebimento deste suporte, a National Fish Wildlife Foundation e a Fundação Amazônia Sustentável”, revela.

RECEPTIVIDADE O programa veio em um momento oportuno, em que a contribuição do movimento de green building tem comprovado relevância e, um dos meios principais que certifica esta tendência sustentável da construção é a LEED. “Hoje, temos cerca de 70 mil edificações buscando a certificação LEED em 160 países e é de suma importância relacionar trabalho nas 79

Fundações e Obras Geotécnicas

cidades com a preservação das florestas e das populações que residem em áreas que carecem de serviços públicos especiais”, afirma Faria. Para ele, a iniciativa confirma que a sustentabilidade não possui fronteiras e que todos podem contribuir com a preservação e restauração de um dos maiores bens da humanidade que é a Floresta Amazônica. “Temos uma mesa-redonda representada por 40 países diferentes. Nela são elaborados estudos técnicos de alinhamento de normas e definição de prioridades no intuito de tornar a ferramenta de certificação mais efetiva”, pontua. Ele ainda acrescenta que a possibilidade de engajar os incorporadores

da construção civil com ações de proteção e preservação da biodiversidade amazônica, a maior do planeta Terra e provavelmente fonte para a cura de qualquer doença existente no mundo é de extrema importância e motivo de celebração por todos. “Devemos nos sentir próximos da Amazônia e qualquer suporte, em prol da preservação e restauração desta riqueza do Planeta é uma contribuição direcionada a todos. O Green Building Council Brasil é muito grato a todas nossas empresas associadas e profissionais engajados, bem como a Fundação Amazônia Sustentável por tornar este projeto possível”, finaliza o diretor-executivo do GBC Brasil, Felipe Faria.


Livro

DIMENSIONAMENTO DE ESTRUTURAS DE AÇO: COMPARAÇÃO ENTRE O EUROCÓDIGO3 E A NORMA NBR8800

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Com tantos materiais e soluções tecnológicas novas, o aço permanece como um dos mais queridos pelos profissionais da construção civil para a utilização nas obras. A liga metálica proporciona mais flexibilidade a um determinado projeto, assim como menos danos ao meio ambiente, aspecto que muitas empresas estão buscando hoje. Para reunir várias informações sobre o tema e formar uma base sólida aos profissionais, os professores Luis Simões da Silva, Rui Simões, Helena Gervásio, Pedro Vellasco e Luciano Lima resolveram elaborar o livro Dimensionamento de Estruturas de Aço: Comparação entre o Eurocódigo3 e a norma NBR8800. Lançamento da editora EdUERJ (Editora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro), o livro é proveniente, parcialmente, do livro Design of Steel Structures, organizado pelo comitê de Atividades Técnicas do European Convention for Constructional Steel Work. A publicação conta com uma análise dos tópicos apresentados no Eurocódigo3, além de abordar em alguns capítulos a norma brasileira NBR 8.800, que estabelece os requisitos básicos que devem ser obedecidos no projeto à temperatura ambiente de estruturas de aço e de estruturas mistas de aço e concreto de edificações. Em sua primeira edição, um dos destaques da obra é o exercício da comparação entre os resultados obtidos pela utilização do Eurocódigo3 com os procedentes do uso da NBR 8.800. Para possibilitar essa experiência aos leitores, os autores do livro recorreram aos dois parâmetros para a resolução de exercícios. A obra também enfoca teoria, descrição e exemplos práticos do dimensionamento e compõe de forma didática as diretrizes a

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Autores: Luis Simões da Silva, Rui Simões, Helena Gervásio, Pedro Vellasco e Luciano Lima Ano: 2016 Editora: EdUERJ

serem seguidas pelos profissionais que atuam com construção em aço. Com 787 páginas, o livro é fruto de uma série de publicações conjuntas entre Brasil e Portugal e consiste como um alicerce teórico para os engenheiros estruturais brasileiros, em vista da importância do aço no âmbito da construção civil, considerada muitas vezes como uma solução mais adequada para diversas aplicações na indústria da engenharia civil.


NACIONAL

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10TH INTERNATIONAL SYMPOSIUM ON FIELD MEASUREMENTS IN GEOMECHANICS Rio de Janeiro, Rio de Janeiro fmgm2018.com/2018/ O evento acontecerá na PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro). O simpósio acontece a cada quatro anos, desde 1983, e em sua décima edição promoverá palestras especiais, apresentações técnicas, o painel Jovem Engenheiro, além de exposições, workshops e tours técnicos. Entre os temas que serão debatidos, destacam-se a discussão sobre o papel das medições de desempenho de campo na avaliação de riscos geológicos, assim como a análise de construção e operação de instalações de engenharia.

CONCRETE SHOW SOUTH AMERICA São Paulo, São Paulo www.concreteshow.com.br Considerado como o maior evento do setor na América Latina e o segundo maior do mundo no segmento da construção civil, o encontro apresentará equipamentos, serviços e tecnologias para toda a cadeia produtiva, desde máquinas para terraplanagem, canteiros de obras, projetos estruturais, entre outros. Além da feira haverá também seminários, com painéis dedicados à gestão de resíduos na construção, conformidade do concreto, processos de manutenção e operação de edificações com base em normas de desempenho e demais temas relacionados com a área.

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EXTERIOR

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JULHO

GROUTING 2017 www.groutingconference.org/ Havaí, Estados Unidos O evento focará nas novas tecnologias e práticas atuais relacionadas ao Grouting, Deep Mixing e paredes de diafragma. O encontro tem como proposta atualizar os profissionais do segmento para que possam expandir seus conhecimentos técnicos com sessões principais, painéis de discussão e cursos. Entre os assuntos que serão debatidos, destacam-se os materiais adequados para rejuntamento, tecnologias de tratamento de solo, estudos de casos em aplicações de rejuntamento, deep mixing, entre outros.

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AGOSTO

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JULHO

GEOMEAST 2017 Sharm El-Sheik, Egito www.geomeast2017.org/En/ Organizado pelo SSIGE (Soil-Structure Interaction Group in Egypt) e apoiado por organizações profissionais internacionais da área de construção, o evento pretende compartilhar conhecimentos para solucionar os problemas que podem surgir em estradas, estruturas de pontes, calçadas, materiais, melhorias no solo, encostas, escavações, barragens, canais e túneis, explicando os tipos de tecnologias existentes. Na ocasião serão apresentados os mais recentes desenvolvimentos e avanços na concepção, construção e inspeções de segurança das infraestruturas de transporte.



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