Ano 8 | Nº 86 | Novembro de 2017
www.revistafundacoes.com.br ISSN 2178-0668 | R$ 27,00
PROJETO DE FUNDAÇÕES DO RESIDENCIAL YACHTHOUSE UTILIZA 4.600 M³ DE CONCRETO
MAPEAMENTO geotécnico
Homenagem a SIGMUNDO GOLOMBEK
Acervo de dados GEOESPACIAIS
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CONSELHO EDITORIAL São Paulo • Paulo José Rocha de Albuquerque • Roberto Kochen • Álvaro Rodrigues dos Santos • George Teles • Paulo César Lodi • José Orlando Avesani Neto • Eraldo L. Pastore • Sussumu Niyama • Fernando Henrique Martins Portelinha Minas Gerais • Sérgio C. Paraíso • Ivan Libanio Vianna • Jean Rodrigo Garcia Pernambuco • Stela Fucale Sukar Bahia • Moacyr Schwab de Souza Menezes • Luis Edmundo Prado de Campos Rio de Janeiro • Bernadete Ragoni Danziger • Paulo Henrique Vieira Dias • Mauricio Ehrlich • Alberto Sayão • Marcio Fernandes Leão Distrito Federal • Gregório Luís Silva Araújo • Renato Pinto da Cunha • Carlos Medeiros Silva • Ennio Marques Palmeira Rio Grande do Sul • Miguel Augusto Zydan Sória • Marcos Strauss Rio Grande do Norte • Osvaldo de Freitas Neto • Carina Maia Lins Costa • Yuri Costa Espírito Santo • Uberescilas Fernandes Polido
Associações que apoiam a revista
ARTIGO Keith Soares de Jesus keith.soarez@gmail.com Gisleine Coelho de Campos gisleine@ipt.br
Fundador e idealizador: Francisjones Marino Lemes (in memoriam) Coordenação editorial e marketing: Jenniffer Lemes (jenni@revistafundacoes.com.br) Colaboradores: Gléssia Veras (Edição); Dellana Wolney (texto), Dafne Mazaia (Redes Sociais); Rosemary Costa (Revisão); Patricia Maeda (Projeto Gráfico); Agência Bud (Diagramação/Arte); Melchiades Ramalho (Artes Especiais) Contatos Pautas: glessia@revistafundacoes.com.br Assinaturas: assinatura@revistafundacoes.com.br Publicidade: publicidade@revistafundacoes.com.br Financeiro: financeiro@revistafundacoes.com.br Foto de capa: Divulgação Pasqualotto Impressão: Gráfica Elyon Importante • A revista Fundações & Obras Geotécnicas é uma publicação técnica mensal, distribuída em todo o território nacional e direcionada a profissionais da engenharia civil. Todos os direitos reservados à Editora Rudder. Nenhuma parte de seu conteúdo pode ser reproduzida por qualquer meio sem a devida autorização, por escrito, dos editores. • A publicação segue o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. • Esta publicação é avaliada pela QUALIS, conjunto de procedimentos utilizados pela CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e encontra-se atualmente com classificação B4. • As seções “Coluna do Conselho”, “Artigo”, “Espaço Aberto”, “Opinião”, “Riscos Geológicos e Geotécnicos” e “Memória de Cálculo” são seções autorais, ou seja, têm o conteúdo (de texto e fotos) produzido pelos autores, que ao publicarem na revista assumem a responsabilidade sobre a veracidade do que for exposto e o devido crédito às fontes utilizadas.
OPINIÃO Alberto Barth albarth@planoauditoria.com.br
NOTÍCIA 1 Consultrix – Milton Golombek www.consultrix.com.br
COLUNA DO CONSELHO Álvaro Rodrigues dos Santos santosalvaro@uol.com.br
EM FOCO Ana Elisa Silva de Abreu jeffepi@g.unicamp.br Jefferson de Lima Picanço anaelisa@ige.unicamp.br
NOTAS ABGE www.abge.org.br/
RISCOS GEOLÓGICOS Fernando Olavo Franciss georisk.plus@live.com
GEOTECNIA AMBIENTAL EMBRAPA – Projeto UZEE amazonia-oriental.imprensa@embrapa.br
REPORTAGEM Davi Rotilli engenharia@pasqualottoegt.com.br www.construtorapasqualotto.com.br
Fundações e Obras Geotécnicas
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EDITORIAL
Acesse o site da editora para obter o novo manual com as orientações para publicação de artigos técnicos e científicos na revista Fundações & Obras Geotécnicas. A cada edição são veiculados dois artigos técnicos. Confira abaixo os dez passos para inserção. Os 10 passos da publicação. 1o: o autor envia um e-mail indicando o interesse em participar da seção junto com uma prévia do artigo para avaliação. 2o: a editora irá avaliar a possibilidade de publicação do tema e, se escolhido, o autor receberá uma relação de datas (com a edição, o mês em que sairá na revista e a data de entrega do material) para que o autor opte por uma delas. 3o: o autor escolhe uma das datas e indica para a editora. Daí em diante será feita a reserva dessa data e fica por parte do autor o compromisso de envio na data acertada. 4o: na data correta de entrega, o autor envia os arquivos de texto e imagens para a editora. 5o: a editora recebe os materiais e confere se estão dentro das normas estabelecidas e se constam todos os arquivos necessários. 6o: a editora fará internamente os processos de edição, revisão e diagramação. 7o: após a diagramação, o autor receberá uma prova da página em PDF por e-mail para correção e aprovação. 8o: após a publicação da revista, o autor recebe pelo Correio 10 (dez) exemplares da edição com o seu artigo publicado. 9o: no prazo de até 01 (um) mês após a publicação do artigo na revista será enviado para o autor o arquivo digital em PDF da capa + artigo publicado. 10o: o artigo passa a concorrer ao Prêmio Milton Vargas.
DA REDAÇÃO 4
Fundações e Obras Geotécnicas
TÚNEL PARA BARCOS
Freepik
PUBLICAÇÃO DE ARTIGO TÉCNICO E CIENTÍFICO
A Noruega irá adotar novas medidas para tornar mais segura a navegação em seu litoral construindo um túnel para navios, o primeiro desse tipo no mundo. O túnel Stad Ship Tunnel será capaz de acomodar navios de cruzeiros e de carga de até 16.000 toneladas. As obras devem começar em 2019 com previsão de conclusão até 2023. O projeto terá 1.700 metros (5.610 pés) de comprimento, 36 metros (118 pés) de largura e 49 metros (162 pés) de altura e estima-se que o custo total da implantação do projeto será de pelo menos 2,7 bilhões de coroas, o que equivale a 315 milhões de dólares.
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10 NESTA EDIÇÃO 10
REPORTAGEM Etapa de fundações do Residencial Yachthouse utiliza 4.600 m³ de concreto
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40 EM FOCO
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Mapeamento geotécnico
18 RISCOS
AMBIENTAL Acervo hospeda dados geoespaciais da Amazônia Legal
NOTÍCIA Engenharia civil perde pioneiro da consultoria de fundações no Brasil GEOLÓGICOS Riscos: consensos e dissensões
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OPINIÃO Compliance na engenharia estratégica
26 ARTIGO
Construção de acessos e plataformas de parques eólicos: o desafio da investigação do subsolo
46 GEOTECNIA
SEÇÕES
06 Jogo Rápido 08 Coluna do Conselho 50 Notas
46 Fundações e Obras Geotécnicas
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Jogo Rápido
por Dellana Wolney
Alvenaria Robótica Inspirado em robôs que operam em avançados centros cirúrgicos, o escritório de arquitetura chinês Archi-Union criou um braço mecânico, capaz de executar ações com precisão milimétrica para construir a fachada de uma galeria de artes em Xangai, na China. A máquina, que levou cinco anos para ser programada, teve a função de assentar elementos e injetar argamassa para união dos blocos de concreto na obra. O robô é capaz de transformar cálculos em dados geométricos, o que identifica assertivamente os tijolos e os assenta, conforme o projeto. Nesta obra, o nível de dificuldade exigiria de uma equipe de homens pelo menos três meses para a finalização desta etapa, mas a máquina conseguiu executar em duas semanas. Com melhorias, futuramente o robô ainda poderá passar a construir paredes estruturais e de vedação, em projetos que empreguem alvenaria estrutural e convencional.
Inovação O consórcio formado pelas empresas Daelim, SK E & C e Limak e Yapi Merkezi OGG deu início em março deste ano às obras da ponte-pênsil com o maior vão livre do mundo. A estrutura batizada de Çanakkale 1915 terá 3,6 km de comprimento, vão livre de 2.023 m e será composta por aço e concreto. Estima-se que o custo da obra gire em torno de 2,8 bilhões de dólares, com direito à exploração do consórcio ao longo de 17 anos, por meio da cobrança de pedágio. A Çanakkale 1915 terá seis pistas e 33 saídas, somando as duas extremidades; interligará quatro importantes rodovias da Turquia; e fará ligação direta entre a capital Istambul e o novo aeroporto da região, que ainda está em construção e tem previsão para inauguração em 2018.
Urbanização
Divulgação
No dia 27 de abril foi lançado no Museu da Casa Brasileira em São Paulo (SP), o livro “As Cores da Urbanidade”, cuja autoria é da jornalista Lorette Coen. Nele são descritos os trabalhos técnico-sociais feitos com os moradores dos bairros-cota de Cubatão (SP) pela CDHU (Companhia Desenvolvimento Habitacional e Urbano), considerado como parte
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substancial do projeto para a recuperação ambiental da Serra do Mar. A autora descreve no livro o processo, as resistências, os obstáculos e as formas da ação, exemplificando como o trabalho artístico foi capaz de fortalecer o projeto social, assim como contribuir para a construção da confiança entre a população e a equipe do projeto estadual.
Viva o Progresso.
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Coluna do Conselho
Arquivo pessoal
A DIÁSPORA TECNOLÓGICA DOS PROFISSIONAIS DA ÁREA PRIVADA
> ÁLVARO RODRIGUES DOS SANTOS é geólogo, ex-diretor de Planejamento e Gestão do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) e atualmente trabalha como consultor em Geologia de Engenharia e Geotecnia e como diretor-presidente na empresa ARS Geologia Ltda. Também é autor dos livros “Geologia de Engenharia: Conceitos, Método e Prática”, “A Grande Barreira da Serra do Mar”, “Diálogos Geológicos”, “Cubatão”, “Enchentes e Deslizamentos: Causas e Soluções”, “Manual Básico para Elaboração e Uso da Carta Geotécnica” e “Cidades e Geologia”.
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Fundações e Obras Geotécnicas
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Como o tema é bastante delicado, preciso de início salientar que o conteúdo desse artigo não expressa uma crítica a quem quer que seja, mas sim trata-se de uma análise factual com que pretendo alertar o meio técnico da geotecnia brasileira, suas associações técnico-profissionais em especial, para a necessidade de uma profunda revisão de sua cultura técnico-associativa. Diante de sucessivas demonstrações de sua evidência tem sido abundantes em nosso meio as manifestações denunciadoras de um processo de enfraquecimento técnico da engenharia geotécnica brasileira. Penso que não há entre nós dúvidas a respeito, vivemos hoje no país um notável paradoxo tecnológico: obras e serviços que expressam a altíssima qualidade tecnológica alcançada pela engenharia nacional, sua incrível capacidade de atualização e inovação nas mais refinadas técnicas de projeto e construção, pelo que é reconhecida nacional e internacionalmente, convivendo com crescente número de obras e serviços de incrível e agressiva pobreza tecnológica, nos quais cometem-se erros que já seriam considerados crassos e primários há muitas décadas. O fenômeno não admite uma análise simplória, várias importan-
tes questões estão envolvidas em seu contexto causal: lacunas de formação escolar e de aperfeiçoamento técnico continuado, vícios e deficiências de procedimentos de contratação e remuneração, decadência do papel e do status dos serviços de fiscalização, aventureirismos empresariais, crescente prevalência do fator comercial sobre o técnico na gestão de obras, esvaziamento tecnológico da administração pública contratante etc. Eu focarei nesse artigo uma dessas questões, mas que reputo extremamente grave: a expressiva ausência dos profissionais independentes e dos profissionais empregados de empresas privadas, ou seja, de dezenas de milhares de profissionais que têm o exercício prático da engenharia como seu dia a dia, de atividades de atualização, treinamento, debate e intercâmbio técnico promovidas pelas suas associações técnico-científicas, como a ABMS (Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica) e a ABGE (Associação Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental), e pela própria academia. Refiro-me a congressos, simpósios, seminários e demais eventos técnicos, cursos de pós-graduação, atualização e aperfeiçoamento, à leitura e exame
frequente de revistas e publicações técnicas do setor, à participação em grupos e redes de discussão etc. Essas atividades, fundamentais para o amadurecimento técnico do profissional, hoje são fundamentalmente desfrutadas apenas por profissionais pertencentes a academia e a órgãos e empresas do setor público, alcançando número extremamente baixo de profissionais da área privada. Não é difícil entender os motivos desse afastamento dos profissionais do setor privado: Os colegas acadêmicos ou do setor público tem normalmente todas suas despesas de participação em eventos (abono de faltas, inscrição, locomoção, hospedagem, alimentação, dentre outros) cobertas por suas instituições. Como fator complicador, nossos eventos vêm adotando o elitizado costume de confundirem-se com oportunidades turísticas, pelo que vem sendo realizados em locais de típicos altos preços. Os colegas que labutam na atividade privada não têm a cobertura de suas empresas e em sua maioria não tem condições pessoais de arcar com o montante das despesas envolvidas na participação. As oportunidades de treinamento formal são normalmente oferecidas
pela academia na modalidade clássica de seus cursos de pós-graduação, caracteristicamente extensa carga horária para o cumprimento dos créditos exigidos. A pós-graduação provedora de titulação acadêmica faz sentido apenas dentro do contexto da carreira universitária. Frequentam preferencialmente esses cursos profissionais da própria academia, interessados na progressão de sua carreira, ou profissionais da área pública (que tem seu “ponto” liberado e, às vezes, até bolsas de apoio para tanto) interessados em vínculos acadêmicos e também em requisitos de carreira. Poucos ou inexistentes na área acadêmica são os cursos de curta duração, de especialização ou atualização, com focos técnicos mais específicos, e, portanto, voltados e vocacionados para profissionais de mercado, ou seja, com notória dificuldade de deslocamentos e de empenho de cargas horárias mais elevadas e sem interesse maior em titulações acadêmicas. Das atividades não formais de atualização e aperfeiçoamento técnico, o exame e a leitura de revistas especializadas, livros técnicos e nichos eletrônicos do setor distinguem-se como os recursos mais comuns. No entanto, aqui também nota-se a di-
ficuldade de oportunidades para os profissionais da área privada. Um exemplo: revelando mais uma vez o cacoete acadêmico que impregna nossa cultura associativa, as revistas produzidas por nossas associações técnicas têm se esmerado nas exigências de edição de artigos e matérias técnicas, buscando com isso candidataremse a classificações editoriais que as distingam como referências de valor acadêmico. Tornam-se assim revistas pesadas, pouco atraentes e tecnicamente inadequadas para aqueles que vivem o cotidiano real das obras e da geotecnia brasileira. Frente a esse quadro, de consequências técnicas claramente preocupantes para a engenharia brasileira, será importantíssimo que nossas associações técnico-científicas do setor geotécnico dediquem-se a encontrar fórmulas e expedientes que lhes permitam atrair e incorporar às suas atividades de divulgação, debate, atualização e aperfeiçoamento técnico o grande contingente de profissionais da área privada que delas hoje está, em sua maior parte, compulsoriamente apartado. Por sorte, esse é um objetivo cuja realização depende unicamente de nós mesmos, de nossa vontade e decisão. Fundações e Obras Geotécnicas
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Fotos: Divulgação Pasqualotto
Reportagem
Conceito do Residencial Yachthouse
Etapa de fundações do Residencial Yachthouse utiliza 4.600 m³ de concreto Projeto necessitou de uma execução complexa devido à magnitude das cargas envolvidas por Dellana Wolney
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Com uma estrutura grandiosa, a obra do Yachthouse Residence Club também ficou marcada pela complexa etapa de fundação executada. A imponência vai além da quantidade de andares e dos mais de 80 pavimentos em cada torre de 227 m de altura. Os números de todas as etapas impressionam.
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Fundações e Obras Geotécnicas
Nos apartamentos, a amplitude dos espaços possui cerca de 250 m² privativos e 450 m² de área total. Na etapa de fundação, que durou aproximadamente um ano e meio, pelo menos 4.562 caminhões de cimento foram utilizados, 4.600 m³ de concreto somente para
a concretagem dos blocos. Desde o ensaio, até a logística, mais de nove etapas compuseram o planejamento e até a importação de equipamentos foi necessária para a execução da concretagem. O engenheiro civil da Construtora e Incorporadora Pasqualotto, Davi Rotilli conta que na obra do Yachthouse os ensaios geotécnicos, bem como o projeto e a execução das fundações, foram importantes e complexas, devido à magnitude das cargas envolvidas. “A partir dos resultados de ensaios de caracterização do solo, por meio de sondagem tipo CPT (Cone Penetration Test), SPT (Standard Penetration Test) e rotativa, bem como das cargas previstas para a superestrutura, os profissionais de geotecnia e de projeto estrutural escolheram o tipo de fundação
mais adequada para solucionar a questão”, afirma. Com o objetivo de garantir o desempenho da solução de fundação adotada, também foram realizados diversos controles, tanto para a execução quanto para os materiais empregados na obra. O início do controle se deu pelo acompanhamento da locação das estacas e pela topografia. Para a etapa de concretagem, o cimento de cada caminhão betoneira foi ensaiado quanto à sua resistência e fluidez, bem como a posição de lançamento de cada um deles foi registrada em mapas de concretagem para garantir a rastreabilidade. Após a concretagem das estacas, procederam-se os ensaios PIT (Pile Integrity Test), para verificação da qualidade de execução, ensaios de carregamento estático e dinâmico
para a checagem dos resultados de capacidade de carga, de forma que estivessem compatíveis com o esperado em projeto.
FUNDAÇÕES A solução escolhida para a fundação foi o Radier Estaqueado que consiste em um bloco de fundação de grandes dimensões, apoiado sobre um berço formado por estacas do tipo hélice contínua monitorada. “A fase de concretagem destes blocos foi muito desafiadora, inclusive porque houve o rebaixamento do lençol freático, que exigiu um estudo minucioso, pois para esta execução também seria necessário rebaixar a água para conseguir concretar aproximadamente 5,5 m de profundidade”, explica Rotilli. Os blocos, como salientado, demandaram grandes quantidades de
Localização do empreendimento
Fundações e Obras Geotécnicas
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Reportagem
Conceito do Residencial Yachthouse
Estrutura do Residencial Yachthouse
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Fundações e Obras Geotécnicas
concreto que exigiu um traço de até 50 Mpa (Megapascal). Desta forma, foram necessários diversos estudos para cuidar da temperatura que o concreto atingiria, respeitando ao mesmo tempo as normas vigentes. Foram utilizados cerca de 100 kg de gelo por m³ de concreto. A concretagem foi realizada por camadas, a fim de não atingir os limites de temperaturas exigidos pela norma. Outro ponto de destaque foi a logística utilizada para conseguir atingir as metas diárias de concretagem. Para isso foi preciso analisar desde o tempo de descarga de um caminhão até o seu deslocamento entre a usina e a obra, visto que por ser uma cidade litorânea e com um trânsito bastante intenso, necessitou de uma atenção maior neste aspecto. As concretagens foram realizadas com duas bombas de concreto.
Cerca de 60 caminhões eram descarregados diariamente. Outras técnicas destacaram-se na obra do Yachthouse desde o traço do concreto que teve que ser desenvolvido especificamente para esses blocos de fundações até a descarga do caminhão que exigiu que o concreto tivesse no máximo 23 graus, sendo assim controlado por meio de termômetros. Nos blocos também foram instalados termopares, com a finalidade de acompanhar o crescimento de temperatura durante a hidratação do concreto. “Atingimos temperaturas entre 65º e 68º graus, estando bem abaixo do que a norma exige para concretos com adição de pozolana. As camadas concretadas por dia variaram entre 50 a 80 cm. Por estarem nesta forma, tivemos que usar recovery, um aditivo que retarda a pega do concreto até o descarregamento do próximo dia, pois
as concretagens respeitavam também o horário permitido pela cidade que era das 8h às 18h”, acrescenta Rotilli.
DESAFIOS Conheça quais foram os principais desafios que compuseram a obra do Yachthouse:
FUNDAÇÃO Dimensão do bloco, volume de concreto e peso de aço. Neste ponto, o que dificultou foi a logística para montagem da armação, composta em sua maioria por barras de diâmetro de 40 mm.
ESTRUTURA Transporte vertical de materiais, sendo que para o aço utilizou-se uma grua em cada torre e para a concretagem foi instalado um mastro para distribuição do concreto. Fundações e Obras Geotécnicas
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Reportagem
PAVIMENTOS OUTRIGGER Foram projetados dois pavimentos outrigger nas duas torres, sendo que cada um deles possui volume de concreto e peso de aço equivalente a três pavimentos de apartamento. Esse montante de materiais dificultou muito a execução.
FACHADA O planejamento de execução da fachada é muito complexo, pois se trata de um sistema unitizado. Nesta forma de execução os painéis já vêm direto da fábrica e são confeccionados com 3,24 m de altura e acoplados à estrutura do prédio por meio de ancoragens previamente fixadas. O maior desafio desse sistema é garantir que todos os painéis sejam distribuídos
para os pavimentos e o sistema de içamento para instalação.
pavimentos, escada pressurizada e janelas de desenfumagem.
PREVENTIVO CONTRA INCÊNDIO
INSTALAÇÕES HIDROSSANITÁRIAS
Nesta etapa existem diversos dispositivos não convencionais como: instalação de sprinkler em todos os
Aqui o maior desafio é garantir o bombeamento e a pressão uniforme da água em todos os apartamentos.
FICHA TÉCNICA Projeto de Fundação – REICAL Engenharia Projeto de Contenção – Emepê Fundações Fundação Profunda (Hélice Contínua) – UNIÃO, EXPLORER e EFEG – Gleison Sondagem – Solo Sondagem e Construções Prova de Carga Estática – GEOCAP Prova de Carga Dinâmica e Ensaio PIT – SOLUGEOT Soluções Geotécnicas Projeto Estrutural – REICAL Engenharia e OM RAMIR – Oscar Ramires Concreto – Concrebras
Notícia
Engenharia civil perde pioneiro da consultoria de fundações no Brasil Durante a sua trajetória profissional, Sigmundo Golombek foi consultor e projetista de fundações de grandes obras urbanas e de rodovias em todo o País por Dellana Wolney
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colecionou em sua trajetória profissional participações em grandes obras como a realização do projeto de fundações da Praça Roosevelt, em São Paulo (SP); diversas obras de arte rodoviárias (pontes e viadutos) nas rodovias
Acervo Editora Rudder
No dia 11 de agosto deste ano, a engenharia de fundações perdeu um de seus grandes expoentes: Sigmundo Golombek. Além de um exímio engenheiro geotécnico, Golombek também brilhou na área acadêmica e empresarial,
O engenheiro Sigmundo Golombek difundiu a profissão de consultores de projetos de engenharia civil no Brasil
Fundações e Obras Geotécnicas
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dos Bandeirantes e Imigrantes e outras centenas de projetos de fundações por todo o Brasil. Formado pela Poli-USP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo), desde muito cedo, Golombek mostrou o seu grande talento acadêmico. Foi na Escola de Engenharia da Universidade Mackenzie que ele dedicou 19 anos da sua vida para a docência. Contudo, o que talvez tenha marcado grandiosamente a sua trajetória seja o pioneirismo ao fundar a Consultrix, considerada a primeira empresa de consultoria independente na área de fundações e contenções do Brasil, pois até então, as próprias empresas executoras também projetavam as fundações das obras. Golombek criou um novo nicho no mercado da engenharia civil e conseguiu disseminar a importância do papel do projetista de fundações no segmento, tanto que as empresas construtoras compreenderam e, progressivamente, passaram a considerar que era a melhor alternativa, do ponto de vista técnico, contratar uma consultoria independente para fazer o projeto de fundações das futuras grandes obras. Um dos cinco filhos de Golombek, o engenheiro e atualmente diretor da Consultrix, Milton Golombek, afirma que o seu pai viveu em prol do seu trabalho e que mesmo após tantos anos, a engenharia civil ainda tinha um papel decisivo em sua vida. “Ele comparecia diariamente à empresa até o ano de 2001, após isso, deixou de fazê-lo somente devido aos problemas de saúde”. 16
Fundações e Obras Geotécnicas
Fotos: Administração do Edifício Itália
Notícia
Fundações do Edifício Itália em São Paulo (SP). Obra na qual Sigmundo Golombek participou como consultor
HOMENAGEM Reconhecendo a sua atividade profissional na área de geotecnia e fundações no Brasil, neste ano, a ABEG (Associação Brasileira das Empresas de Projetos e Consultoria em Engenharia Geotécnica) instituiu o “Prêmio ABEG Sigmundo Golombek” com a finalidade de destacar bienalmente o melhor projeto de fundações e/ou contenções, elaborado pelas empresas associadas ou associado autônomo, quites da ABEG.
Os principais fatores levados em consideração pelo júri formado por cinco engenheiros das principais associações do setor no Brasil serão: inovação, monumentalidade e desafios de concepção do projeto; dificuldades de execução; ponto de vista técnico-econômico; materiais e métodos usados no controle da construção da obra. A divulgação do vencedor, que acontecerá em sessão solene, está prevista para dezembro de 2017. Fundações e Obras Geotécnicas
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Riscos Geológicos
Fotos: Arte Melchiades Ramalho / Editora Rudder
RISCOS: CONSENSOS E DISSENSÕES
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1 PONTOS DE VISTA
Não foi por acaso que, em 1994, Fell 1 chamou a atenção da comunidade científica para a grande dificuldade em estabelecer consensos quanto aos conceitos e terminologias em análises de risco. Sua observação, endossada em 2000 por Whitman2, exprimia essa constatação nos seguintes termos: “Unfortunately, there are no generally accepted definitions of the terms used in risk assessment . . . shortly after its formation in 1981, the United States Society for Risk Analysis established a committee to define risk. After 3 or 4 years of work the committee published a list of 14 candidate definitions and reported that it could not reach agreement. They recommended that a single definition of risk not be established but that everyone be free to define it as appropriate to his or her own work.” No entanto, apesar de inúmeras vezes discutida em fóruns nacionais e internacionais,
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a questão ainda permanece atual no meio acadêmico e na prática profissional. Contudo, considerando que o assunto risco é muito abrangente e que interessa diferentes classes profissionais, alguns dos inúmeros pontos de vista e abordagens do risco são comentados a seguir, sem comprometer a conceituação adotada pelo autor nas suas avaliações de riscos financeiros de obras hidrelétricas. Ao contrário, sua intenção é favorecer a compreensão de informações prestadas utilizando diferentes formas de expressão e nuances de significado, conforme resumido com muita propriedade por Breysse3. Por outro lado, considerando também que desvelar riscos em potencial não é tarefa fácil, a apreensão dos diferentes olhares sobre o assunto risco, alarga a percepção do estudioso sobre as circunstâncias e as fontes de riscos em potencial em diferentes situações.
2 CONSENSOS E DISSENSÕES 2.1 O CONCEITO DE RISCO Embora não exista consenso quanto ao conceito de risco, existem vantagens evidentes em trabalhar com a definição de risco em termos quantitativos, conforme desdobrado mais adiante4. Em termos genéricos, riscos podem comprometer a estrutura ou a funcionalidade de qualquer sistema físico ou organizacional e em qualquer tempo e lugar. No entanto, embora o termo risco seja frequentemente utilizado, tanto pelo leigo quanto pelo não especialista, as duas principais dimensões do seu conceito nem sempre permanecem presentes quando o assunto é tratado. Para dirimir qualquer dúvida a esse respeito, vale a pena refletir nos conteúdos implícitos dos
dois exemplos elementares resumidos nos dois parágrafos seguintes. • Primeiro exemplo: Todo viciado em corridas de cavalo sabe que se apostar no maior “azarão” do páreo, sua chance de perder é enorme. Em contrapartida, se o “azarão” vencer, seu prêmio poderá alimentar seu vício ainda por alguns meses. • Segundo exemplo: Toda pessoa adulta também sabe que se atravessar uma via expressa no horário do pico sem ser pela passagem de pedestres obrigatória e sem obedecer à sinalização, sua chance de ser atropelada é grande. Se for atropelada, poderá ficar machucada ou inválida ou até perder a vida. Esses dois exemplos ingênuos salientam as duas dimensões de qualquer evento de risco ER que envolva uma colisão em potencial. A primeira dimensão consiste no caráter incerto do
evento, pois ele pode ou não ocorrer. A segunda consiste no valor, positivo ou negativo, das consequências da sua materialização. Ambas as dimensões são quantificáveis sem ambiguidade: a primeira, denominada incerteza, pela probabilidade de ocorrência P do evento ER e a segunda, denominada impacto I, pelo seu provável valor contábil, ganhos e perdas, ou reportado a uma escala de referência. Assim, qualquer risco em potencial R, com probabilidade de ocorrência P, pode ser quantificado pelo valor da “esperança matemática” das prováveis consequências da materialização de um evento incerto ER, classicamente definida pelo produto PI. Em termos explícitos, esse valor resulta da multiplicação das duas dimensões essenciais do risco: sua incerteza, mensurada por uma probabilidade, e seu provável impacto, mensurada por um valor monetizado ou equivalente. Em termos mais eruditos, a materialização de um cenário de risco, originalmente apenas possível, deve ser considerada como sendo a etapa terminal de um processo contingente resultante da associação em série ou em paralelo, ou em série-paralelo, de vários encadeamentos causais no espaço-tempo, isto é, encadeamentos determinísticos, todavia, praticamente imprevisíveis por falta de recursos tecnológicos para obter e tratar antecipadamente a enorme massa de informações para prever onde e quando o evento em questão ocorrerá
ou não. Daí, por falta de competência preditiva na atualidade, tais processos são acatados como incertos, isto é, podem ou não ocorrer, contudo analisáveis com auxílio de técnicas probabilísticas aplicáveis a processos reconhecidamente contingentes. Daí decorre que o termo aleatório, quando empregado em análises de risco, traduz a impraticabilidade de aplicar ao evento sob exame, ou sob vigilância, um tratamento exclusivamente determinístico, como seria desejável.
2.2 INDO ALÉM DO CONCEITO DE RISCO Além do conceito de risco em si, análises de risco, sem prévio acordo sobre a acepção dos termos utilizados, podem resultar em desentendimentos. Para auxiliar a evitá-los, ainda que parcialmente, são apresentados a seguir, sem nenhuma pretensão de acerto incondicional, alguns verbetes de emprego usual em assuntos de risco, acompanhados do esclarecimento sobre seu sentido, todavia ordenados alfabeticamente. São acompanhados de alguns comentários sobre seus significados mais comuns e possíveis contestações. COLAPSO: colapso implica o comprometimento parcial ou total da integridade de um sistema estrutural ou funcional, capaz de evoluir para sua falência parcial ou total. CONTEMPORÂNEO ou COLOCALIZADO: adjetivos qualificativos dos riscos passíveis de ocorrência dentro do mesmo domínio temporal (por exemplo: diário, mensal, anual etc.) ou espacial (por exemplo: em uma bacia hidrográfica, em uma formação Fundações e Obras Geotécnicas
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Riscos Geológicos
geológica, acima da cota 1.000 m de um relevo bem definido etc.). Cabe advertir que o adjetivo simultâneo deve ser exclusivamente reservado para eventos ocorrentes exatamente no mesmo instante. DANOS: consequências da eventual materialização de um risco na redução (ou perda total) das estimativas dos valores, em termos de valor presente, atribuíveis aos alvos em risco. Por exemplo: degradação ou destruição total de benfeitorias, incapacitação total ou parcial de pessoas, interrupção do funcionamento de sistemas etc. Os danos podem ser expressos em termos humanos, financeiros, sociais, ambientais etc. Todavia, um tratamento não ambíguo de riscos requer a monetização dos danos, embora os critérios de avaliação nem sempre sejam consensuais. DESEMPENHO: aptidão de um sistema, depois de construído ou implantado, em operar de acordo com as especificações funcionais do seu projeto, definidas em termos do desempenho esperado ao longo de sua vida útil, sem prejuízo da qualidade da sua operação, também balizada por padrões normalizados. Um sistema com bom desempenho é capaz de: inibir falências ou colapsos catastróficos (segurança), preservar sua operacionalidade durante certo tempo (confiabilidade), entrar em operação a qualquer momento (disponibilidade) e ser reparado com brevidade quando necessário (mantenabilidade). EXPOSIÇÃO AO RISCO: a exposição ao risco qualifica as condições reinantes não apenas nos valores em risco, mas também no seu entor20
Fundações e Obras Geotécnicas
no durante a materialização de um evento de risco. Por exemplo: gama das temperaturas do meio ambiente, horários de incidência das maiores ameaças, índices pluviométricos em dado período, situação financeira do empreendedor, localização do empreendimento em área conflagrada ou assinalada por epidemias sazonais etc. FALÊNCIA: falência de um sistema implica comprometimento parcial ou total de sua estrutura ou das suas funções, contrariando as especificações de projeto. INCERTEZA: o vocábulo incerteza é geralmente definido por oposição ao vocábulo certeza, sem, todavia, definir este último. Talvez seja mais simples definir incerteza como um estado de coisas que impede uma decisão única, inequívoca. Os profissionais mais acostumados com a incerteza são os geólogos. O contrário se passa com os engenheiros que nunca duvidam dos resultados dos seus cálculos. Ambos podem alterar sua forma de pensar se dedicarem-se ao estudo do assunto risco. A incerteza pode ter várias origens, dentre as quais podem ser citadas as seguintes: Epistêmica: falta de conhecimentos, por exemplo, resultante de amostragem insuficiente, modelos inadequados, medidas inexatas na precisão desejada etc. Esse tipo de incerteza pode ser reduzido pela aquisição de mais ou de novos conhecimentos ou pelo progresso tecnológico dos instrumentos empregados na aquisição de informações. Contingente: intrínseca da situação em exame, ocasionalmente
sem possibilidade de redução pelas mais diversas razões, por exemplo, baixa resolução dos métodos de investigação disponíveis: resultados de estudos geofísicos mal contrastados etc. Ontológica: falhas e deficiências humanas, mormente no processo de comunicação. Ruídos e omissões na transmissão e recepção de informações respondem quase que invariavelmente pela instalação de incertezas nos receptores finais, geralmente os responsáveis pela solução dos riscos a serem enfrentados. Daí a necessidade da clareza e redundância na comunicação, bem como, da eliminação da sua ambiguidade mediante a uniformização dos significados dos códigos informacionais. A Torre de Babel ainda é uma ameaça significativa, muito presente na gestão de riscos. O quadro da Tabela 1 sintetiza, sem a esgotar, a questão das incertezas no domínio geológico-geotécnico. PROBABILIDADE: medida (métrica) da possibilidade de ocorrência de um determinado evento ou condição dentro de um domínio temporal ou espacial, geralmente expressa intuitivamente em termos frequenciais, por exemplo, 12/km2 ou, dependendo do hábito, 1.2∙10-5/m2, o que é a mesma coisa. Assim, a dimensão de uma probabilidade pode ser anual, semanal, por metro, por km², dentre outros. Quando em um determinado contexto não existem dúvidas quanto à forma, valor da dimensão e da unidade de medida do suporte sob exame, a medida da probabilidade de ocorrência pode ser expressa por um simples
Tabela 1 – Resumo dos tipos de incertezas no domínio geológico-geotécnico, adaptado de Breysse (op. cit.) Tipos de incertezas
Natureza das incertezas
Incertezas do meio natural
Intrínsecas ao contexto geológico e geomorfológico
Incertezas decorrentes de conhecimentos insuficientes
Na modelagem geológicogeotécnica do maciço. Nas distribuições estatísticas dos valores das propriedades dos parâmetros do maciço
Nas simulações numéricas do comportamento mecânico e hidráulico do maciço Incertezas associadas a falhas humanas
Associadas aos erros humanos, organizacionais
número, variável de 0 a 1 ou, em termos percentuais, de 0% a 100 %. O tratamento axiomático do cálculo de probabilidades prescinde dessas informações. Contudo, a dimensão e a unidade ut de medida do suporte de referência não devem ser suprimidas na prática. Com esse cuidado, será sempre possível converter a frequência relativa Fr / ut de um evento ou condição em termos de probabilidade P (-) expressa
Redução das incertezas Na variabilidade espaço-temporal Irredutíveis ou não suprimíveis, mas dos parâmetros ambientais, das aproximadamente quantificáveis, propriedades dos materiais modeláveis e simuláveis Na descrição adequada da geometria Aprimoramento e aumento da e do comportamento hidráulico e confiabilidade: mecânico do maciço. • Dos modelos e simulações Na seleção dos parâmetros, tipos de • Das amostragens e interpretações distribuição estatística, programação de dados adequada a amostragem das feições, • Dos algoritmos das simulações características e propriedades do numéricas maciço Na aptidão da simulação em predizer com alguma fidelidade o • Das inferências probabilísticas das comportamento esperado ações máximas e reações mínimas em Na escolha das ações e reações mais função dos poucos dados disponíveis desfavoráveis Nos operadores, procedimentos, Mediante reorganização, treinamento, equipamentos e coordenação dos controle de qualidade atores
por um número adimensional, conforme sugerido na Tabela 2.
RISCO SINGULAR: aplica-se a designação singular para condições ou eventos de risco cuja materialização só pode acontecer uma vez, por exemplo, a destruição total de um imóvel específico. Nesses casos, não cabe reportar a condição ou o evento a um domínio temporal ou espacial, embora circunstâncias
paralelas possam ser invocadas, por exemplo, durante a maré de sizígia de agosto de 1974 em São Luís, no Maranhão (condição previsível), ou precipitação milenar no dia 29 de outubro de 1956 no município de Trajano de Moraes, no Rio de Janeiro (condição imprevisível). Todavia, riscos singulares podem ser simulados, replicados, sob diferentes condições de contorno, possibilitando avaliar, com
Tabela 2 – Exemplo de classificação de intervalos de frequências relativas Fr / ut e de probabilidades de ocorrência P adimensionais equivalentes dentro de um período de referência TR igual a 100 unidades de tempo ut Frequência relativa Fr / ut
Probabilidade P equivalente ≤ 1 (-)
100/TR a 10/TR
100 a 10-1
10/TR a 1/TR
10-1 a 10-2
1/TR a 1/10TR
10-2 a 10-3
1/10TR a 1/100 TR
10-3 a 10-4
1/100 TR a 1/1000TR
10-4 a 10-5
NOTAS: • Sendo ut a unidade de medida de tempo, o período de referência temporal TR vale 100 ut e a frequência relativa é expressa em Fr / ut. • Tabela acima só é válida para o período de tempo de referência TR = 100∙ut. • Probabilidades inferidas com outros períodos de referência podem ser facilmente reescalonadas, mas com suportes de referência tais que P equivalente ≤ 1. • Raciocínio similar se aplica a suportes de referência espaciais, considerando uA ou uV a medida da unidade de área ou volume.
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Riscos Geológicos
alguma confiabilidade, modelos de distribuição de sua probabilidade de ocorrência a fim de subsidiar decisões sobre um evento único. RESPOSTA AO RISCO: qualquer tipo de providência ou medida para reduzir ou coibir as ameaças associadas a um evento de risco e/ou as consequências da sua eventual materialização. A implantação, a monitoração e o controle das respostas aos riscos constituem a atividade mais efetiva do ciclo da gestão de riscos. Durante a transferência do comando de uma organização ou de um empreendimento, das equipes que foram responsáveis pela sua implantação para as equipes que passarão a ser responsáveis pela sua operação, a absoluta necessidade de prosseguir a implantação das respostas planejadas deve ser rigorosamente exigida e controlada. Caso contrário, as medidas planejadas podem não ser levadas a efeito. RISCO, PERIGO e CRISE: em 1990, o Grupo Europeu para o Estudo dos Riscos e das Catástrofes sugeriu que termos com significados controversos passassem a ser alocados ao discurso oral ou escrito, segundo sua posição na sequência temporal dos acontecimentos de um evento associado a um risco, por exemplo: risco perigo crise ou ameaça colapso. Contudo, como as nuances do significado de um vocábulo em uma determinada língua não acompanham necessariamente sua tradução para outra língua, a questão ainda não ficou bem resolvida. Por exemplo, o vocábulo aléa em francês é assinalado por uma tonalidade neutra, boa ou ruim. Seu quase equivalente hazard em inglês já possui certo sentido de 22
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um fato, evento, indesejado. Ambos, aléa e hazard, se aplicados para significar a origem, raiz ou fonte do risco, podem ser traduzidos em português por ameaça, perigo ou risco, sem conseguir agradar gregos e troianos ao mesmo tempo. Assim, para facilitar o diálogo dentro de certo grupo de pessoas envolvidas com o assunto risco, é sempre possível convencionar que: O termo ameaça aplica-se a todo e qualquer evento em potencial, contudo sempre incerto, cuja eventual materialização pode tirar a vida ou incapacitar pessoas, além de resultar em danos de toda a sorte, inclusive ambientais. O termo risco aplica-se uma das medidas mais comuns das consequências da materialização de uma ameaça, definida pelo produto da probabilidade de ocorrência dessa ameaça pelo seu provável impacto. SEGURO: o estado de um sistema é considerado seguro se preserva sua utilidade e se resguarda o ser humano e seus bens na eventual ocorrência do mais grave risco para o qual foi concebido, todavia limitado ao contexto e circunstâncias preestabelecidos. SEVERIDADE e IMPACTO: a distinção entre severidade e impacto de um risco resulta de mera convenção, nem sempre justificável e observada. Segundo os puristas do risco, o termo severidade deve ser empregado para quantificar a intensidade e a extensão das consequências danosas de um risco, mas somente contabilizáveis depois da sua eventual materialização. O termo impacto, ao contrário, só
deve ser empregado nas estimativas de danos em potencial nas análises de riscos, ainda com um caráter incerto. O primeiro é factual, o segundo uma estimativa. Daí a inadequação de definir risco pelo produto probabilidade x severidade em lugar da definição correta: probabilidade x impacto. SISTEMA: o significado mais elementar de sistema é o de um todo constituído por um conjunto de partes que interagem entre si, denominadas subsistemas, separados por interfaces reais ou virtuais. Daí a expressão genérica: analisar os riscos de um sistema ou dos seus subsistemas, muito empregada nas indústrias de ponta e de geração de energia. Os sistemas podem ser naturais, em estado selvagem, ou já afetado por ações antrópicas. Pode ser também um artefato humano, embora construídos a partir de materiais naturais ou industrializados. Podem ser desmembrados em tantos subsistemas quanto necessário para efeito de análises de risco. Nas interfaces dos seus subsistemas podem atuar forças de diferentes origens, por exemplo, nos apoios das vigas de uma ponte, ou podem dar passagens a diferentes formas de energia ou informação, por exemplo, nos conectores de uma rede elétrica. O hábito cartesiano de desmembrar sistemas para analisar os riscos de comprometimento do desempenho de suas funções, ou da sua integridade física parcial ou total, foi adaptado nas últimas décadas aos setores da construção civil e exploração de recursos minerais. VALORES EM RISCO: expressão aplicada dentro do contexto de riscos
para designar agregados com valor socioeconômico: coletividades, áreas urbanizadas, infraestruturas diversas, patrimônios ambientais, reservas de flora e fauna, instalações industriais etc. sujeitos a diferentes tipos de ameaças capazes de colocar a totalidade ou parte dos seus valores monetizados “em risco” ou “em jogo”. VULNERABILIDADE: o parâmetro vulnerabilidade vA, variável de 0 a 1, selecionado a partir de categorias estatisticamente estabelecidas em função de tipos de ameaças A, quantifica, em termos relativos, o prejuízo financeiro que um grupo de valores em risco pode sofrer com a materialização da ameaça A. Assim, se os valores em risco podem ser quantificados por um valor total Vt, o impacto IA associado
à ameaça A pode ser estimado pelo produto vA∙Vt. Obviamente, o risco RA, cuja probabilidade de ocorrência é PA, resulta do produto PA∙vA∙Vt. Tal conceito é útil na análise expedita de riscos naturais – inundações, terremotos, avalanches, sequias etc. – atingindo grandes domínios espaciais. i Fell, R. Landslide risk assessment and allowable risk, Canadian Geotechnical Journal, 31(2), 261-272,1994. ii Whitman R.V., Organizing and evaluating uncertainty in geotechnical engineering, Journal of Geotechnical and Geoenvironmental Engineering , July 2000, Vol. 126, No. 7 : pp. 583-593. iii Breysse, D. Maîtrise des Risques en Génie Civil 1: Ed. Lavoisier, 2009. iv Assis, A.P., Franciss, F. O., Rabechini, R. Gestão de Riscos – Teoria e Prática, livro em preparação.
> FERNANDO OLAVO FRANCISS formou-se em engenharia civil pela PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro) em 1958, licenciou-se em Geologia Aplicada pela Universidade de Grenoble em 1961, onde também fez doutorado em 1970 e lecionou em cursos de graduação e pós-graduação na PUC-Rio, de 1964 a 1981. Sua carreira profissional começou em 1956 como estagiário na Sondotécnica, onde permaneceu até 1991, depois de ocupar cargos de direção, para dedicar-se à prestação de consultoria especializada pela empresa Progeo. Escreveu vários artigos técnicos e quatro livros-texto dos quais o último, Fractured Rock Hydráulics, foi publicado pela Taylor&Francis em 2009. Sua prática profissional sempre o envolveu com questões geológicogeotécnicas em empreendimentos de engenharia civil e, mais recentemente, mineração.
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Conheça a nova seção da revista “Riscos Geológicos e Geotécnicos”
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Confira todas as orientações para publicação no site www.revistafundacoes.com.br Sobre o coordenador da seção: Fernando Olavo Franciss formou-se em engenharia civil pela PUC-Rio (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro) em 1958, licenciou-se em Geologia Aplicada pela Universidade de Grenoble, na França, em 1961, onde também fez seu doutorado em 1970 e lecionou em cursos de graduação e pós-graduação na PUC-Rio, de 1964 a 1981. Sua carreira profissional começou em 1956 como estagiário na Sondotécnica, onde permaneceu até 1991, depois de ocupar cargos de direção, para dedicar-se à prestação de consultoria especializada pela empresa Progeo. Escreveu vários artigos técnicos e quatro livros-texto dos quais o último, Fractured Rock Hydráulics, foi publicado pela Taylor&Francis em 2009. Sua prática profissional sempre o envolveu com questões geológico-geotécnicas em empreendimentos de engenharia civil e, mais recentemente, mineração. Freepik
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Nesta edição, a revista Fundações & Obras Geotécnicas inaugura uma nova seção que terá periodicidade quadrimestral criada para fomentar a troca de experiências e o debate sobre o tema “Riscos Geológicos e Geotécnicos” onde serão publicadas manifestações e colaborações do público leitor por meio de notas técnicas ou pontos de vista. A seção foi idealizada pelo engenheiro civil Fernando Franciss que fará a coordenação do projeto: “Um dos principais compromissos públicos das revistas técnicas e científicas consiste no seu empenho, quase missionário, em zelar pela constante promoção da qualidade das atividades do setor que prestigiam. Assim, a revista Fundações & Obras Geotécnicas, diante das atuais exigências da sociedade no sentido de reduzir os efeitos negativos dos desastres naturais e aumentar os efeitos positivos dos grandes empreendimentos, decidiu criar uma nova seção focada na gestão de Riscos Geológicos e Geotécnicos”, explica Franciss. Todas as propostas de contribuições devem ser enviadas diretamente para a avaliação do coordenador da seção no e-mail: georisk.plus@live.com
Para o atendimento de suas necessidades (energia, transporte, alimentação, moradia, segurança física, saúde, comunicação etc.), o ser humano é inexoravelmente levado a ocupar e modificar espaços naturais das mais diversas formas (cidades, agricultura, indústria, usinas elétricas, estradas, portos, canais, extração de minérios, disposição de rejeitos ou resíduos industriais e urbanos), o que já o transformou no mais poderoso agente geológico hoje atuante na superfície do planeta. Caso esses empreendimentos não levem em conta, desde seu projeto até sua implantação e operação, as características dos materiais e dos processos geológicos naturais com que vão interferir e interagir é quase certo que a natureza responda através de acidentes locais (o rompimento de uma barragem, o colapso de uma ponte, a ruptura de um talude, por exemplo), ou graves problemas regionais (o assoreamento de um rio, de um reservatório, de um porto, enchentes e deslizamentos, a contaminação de solos e de águas superficiais e subterrâneas, por exemplo), consequências todas extremamente onerosas social e financeiramente, e muitas vezes trágicas no que diz respeito à perda de vidas humanas. Enfim, mesmo com a abdicação do consumismo tresloucado e do crescimento populacional descontrolado, a epopeia civilizatória de chegarmos a uma sociedade onde todos tenham uma vida materialmente digna e espiritualmente plena, exigirá, sem dúvida, a multiplicação de novos empreendimentos humanos no planeta. Sobre as geociências aplicadas recai a enorme responsabilidade de tornar essa maravilhosa utopia técnica e ambientalmente possível, sem que a própria possibilidade da vida humana no planeta seja comprometida. Conclui-se, assim, que para assegurar-se que a humanidade tenha um futuro promissor e pleno de felicidade faz-se cada vez mais imprescindível conversar com a Terra, de tal forma que, com uma abordagem técnica de caráter preventivo, os empreendimentos humanos sejam harmônicos com a ordem original dos fenômenos e processos próprios da natureza geológica, obtendo dessa forma a garantia de seu sucesso técnico, social e ambiental. Diante dessa realidade, apelo aos meus colegas de profissão que divulguem suas experiências na solução de riscos geológicos e geotécnicos nesta nova seção da revista Fundações & Obras Geotécnicas a fim de nos ajudar a construir um futuro melhor.
Álvaro Rodrigues dos Santos é geólogo, ex-diretor de Planejamento e Gestão do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) e atualmente trabalha como consultor em Geologia de Engenharia e Geotecnia e como diretor-presidente na empresa ARS Geologia Ltda.
A revista Fundações & Obras Geotécnicas, sempre inovadora, tem uma nova seção dedicada a um tema de extrema relevância para a engenharia de fundações e obras geotécnicas: “Riscos”. Esta fascinante especialidade, sempre responsável por parcela crucial da segurança dos empreendimentos de engenharia civil e mineira, ganhará muito com o compartilhamento e a troca de conhecimentos nesta área. Atualmente, a combinação das ciências do risco e das técnicas de gestão já propõem metodologias maduras para detectar e quantificar cenários de risco com confiabilidade compatível com a complexidade do meio natural e dos empreendimentos em causa. Vejam-se as contribuições do II Congresso Internacional e VI Encontro Nacional de Riscos em 2010 em Coimbra (Portugal), bem como, as do I e II Seminários de Gestão de Riscos e Segurança de Barragens de Rejeito, sendo o último de maio de 2017, em Belo Horizonte. Assim, dirijo aos engenheiros e geólogos leitores dessa revista um especial convite para que contribuam com artigos e outras publicações sobre riscos a esta recém-criada seção da revista, no sentido de valorizar cada vez mais esta temática.
Francis Bogossian é engenheiro civil, presidente da ANE (Academia Nacional de Engenharia), ex-Presidente do Clube de Engenharia do Rio de Janeiro, fundador e presidente da empresa Geomecânica.
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CONSTRUÇÃO DE ACESSOS E PLATAFORMAS DE PARQUES EÓLICOS: O DESAFIO DA INVESTIGAÇÃO DO SUBSOLO Engª Keith Soares de Jesus, Engenheira civil, São Paulo (SP) keith.soarez@gmail.com Drª Gisleine Coelho de Campos, Pesquisadora e docente do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo), São Paulo (SP) gisleine@ipt.br
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do artigo está nas técnicas mais usuais e de aplicabilidade mais simples dos diferentes ensaios de investigação, visando contribuir para a melhoria das soluções de projeto adotadas nestes locais. Palavras-chave: Investigações Geotécnicas, Técnicas de Investigação do Subsolo, Estradas não Pavimentadas, Parques Eólicos.
RESUMO
INTRODUÇÃO
Com o objetivo de descrever as técnicas de investigação de subsolo mais indicadas para análise de capacidade e suporte de solos, o artigo destaca as principais técnicas de investigação conhecidas no Brasil e o grau de dificuldade de execução em campo em investigações de subsolos de parques eólicos. Considerando-se o contexto atual em que se inserem os parques eólicos, verifica-se que nas regiões em que os empreendimentos são implantados há um baixo grau de investimentos em obras de infraestrutura viária, dentro e no entorno dos parques eólicos, e por isto o enfoque
Desde os primórdios da humanidade, o homem explora os recursos naturais como forma de produzir seus bens de consumo e obter energia. No século XX, com o crescente avanço da industrialização, o homem passou a explorar os recursos naturais de maneira mais agressiva e desde então a degradação do meio ambiente tem trazido grandes consequências à sociedade. A matriz energética mundial está principalmente ligada a recursos não renováveis como carvão, petróleo e gás. Segundo pesquisa da IEA (Agência Internacional de Energia) de
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2013, o uso do petróleo como fonte de energia representava um total de 31% da matriz energética mundial; se somado aos demais combustíveis fósseis, representava 81% do total da matriz energética mundial (Figura 1). Esses dados mostram quais os próximos desafios da humanidade para tentar frenar os malefícios do uso abusivo de recursos não renováveis como fonte de energia, a partir do esgotamento dessas fontes de energia, e ainda conter os efeitos e desequilíbrios causados no meio ambiente. Entretanto, apesar das poucas mudanças previstas, alguns países têm buscado fontes de energia alternativa como forma de reduzir a dependência dos combustíveis fósseis, ou mesmo aumentar a variabilidade das fontes de energia para maior competitividade no mercado mundial, como é o caso do Brasil. Nos últimos 40 anos, o Brasil investiu prioritariamente em hidroelétricas e o sistema elétrico nacional apresentou grande enfraquecimento entre 2001 e 2002, com a conhecida “crise do apagão”; na época, uma das causas apontadas para o problema foi uma matriz energética
Figura 1 – Perspectivas de crescimento de demanda por energia primária mundial Fonte: Repsol (2015)
pouco diversificada e extremamente dependente dos recursos hídricos para a geração de energia. A energia eólica surgiu com a instalação da primeira turbina eólica no Brasil em 1992, no arquipélago de Fernando de Noronha, por meio de uma parceria entre a UFPE (Universidade Federal do Pernambuco) e a CELPE (Companhia Energética de Pernambuco) com financiamento da empresa de pesquisa dinamarquesa Folkecenter. Desde então, o cenário da energia eólica no Brasil avançou muito, segundo dados da ABEEOLICA (Associação Brasileira de Energia Eólica). Em maio de 2017, o Brasil atingiu a marca de 11 GW de capacidade instalada de energia eólica e igualou sua capacidade de geração à da Usina de Belo Monte. (SETOR..., 2017). Comumente instalados em locais muito afastados dos grandes centros, os parques eólicos enfrentam dificuldades de acesso, pela pouca infraestrutura viária do Brasil, principal modal de transporte utilizado
para deslocamentos das cargas dos componentes das turbinas, desde os fabricantes até a futura localização de implantação desses empreendimentos. Com um índice de apenas 12% de estradas pavimentadas em toda a malha viária brasileira (CONFEDERAÇÃO NACIONAL DOS TRANSPORTES, 2016), os transportes desses componentes enfrentam grandes problemas em estradas de terra com conservação quase inexistente, de geometria incompatível com as dimensões desses transportes e, ainda, com capacidade de suporte desconhecida para conjuntos transportadores de até 200 toneladas cada. As benfeitorias em estradas e acessos de terra para instalação de parques eólicos representam um pequeno percentual do custo total do empreendimento, se comparado com o custo de investimento das turbinas (em torno de 30% do total), de acordo com o estudo feito pela Consultoria Garrard Hassan, em 2013. Mediante o baixo grau de investimento nesse item, muitas vezes
os empreendedores assumem riscos elevados na falta de uma completa e detalhada investigação do subsolo. Na fase de manutenção, podese afirmar que é quase inexistente a realização de ensaios para conhecer as características dos solos das regiões onde foram implantados os parques eólicos. Ocasionalmente, é necessário trocar integralmente uma turbina por completo, e essas operações exigem que o solo suporte grandes carregamentos, considerando os pesos dos guindastes a serem utilizados e os pesos dos componentes das turbinas. Este artigo discute o que pode ser feito para garantir melhores condições de acesso aos parques, a partir da investigação mais cuidadosa, porém a baixo custo, do subsolo local.
1 OBJETIVO Tendo em vista a localização da implantação dos empreendimentos eólicos e o baixo grau de investimento no orçamento de obras para a manutenção das turbinas, o objetivo desse artigo é descrever as técnicas de investigação de subsolos mais recomendadas para esses casos, as quais possuam maior facilidade de aplicação em locais com poucos recursos, permitam correlacionar as características dos solos com a capacidade de suporte necessárias para transitar essas cargas com segurança e por fim, de maneira genérica, comentar os custos desses métodos. Essas descrições consideram ainda as restrições ambientais dos locais em que os parques são implantados e, para isso, quais os métodos de investigação indiretos podem ser utilizados nessas áreas. Fundações e Obras Geotécnicas
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2 OS MÉTODOS DE INVESTIGAÇÃO DO SUBSOLO Existe uma grande variedade de ferramentas de investigação do subsolo. Há a possibilidade de se retirar ou não amostras de solos para objeto dessa análise, o que caracteriza os chamados métodos diretos e indiretos. Os métodos diretos são aqueles que retiram amostras de solos como, por exemplo, as sondagens, ou ainda quando é possível observar o solo através de poços ou trincheiras. Quando não é possível retirar amostras de solo e é necessário recorrer a métodos que usem estimativas indiretas para determinar as propriedades desses, tem-se os denominados métodos indiretos, tais como ensaios geofísicos e sensoriamento remoto. As opções de métodos de investigação, diretos e indiretos, proporciona flexibilidade de resolução para os locais onde possa existir alguma restrição, seja por motivos de arqueologia, ambientais ou fundiários.
3 OS MÉTODOS DIRETOS DE INVESTIGAÇÃO DO SUBSOLO Os métodos diretos de investigação do subsolo são os ensaios que tem sua realização in situ. Segundo Quaresma et al. (1998) a determinação das propriedades de engenharia, em princípio, tanto poderia ser feita por meio de ensaios de laboratório quanto de ensaios de campo. Na prática, entretanto, há predominância quase que total dos ensaios in situ, ficando a investigação laboratorial restrita a 28
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alguns poucos casos especiais, em geral em solos coesivos. Para os casos de manutenção em parques eólicos, decidir por um ensaio em laboratório em contraponto ao tempo necessário para executar um reparo, pode inviabilizar a operação e prejudicar a produção de energia, com um período não contabilizado para a liberação segura e adequada da entrada dos guindastes para executar os trabalhos. Por isso, dentro deste cenário, aborda-se aqui somente os métodos diretos in situ mais rápidos e de simples realização, que podem contribuir para uma tomada de decisão de curto prazo e que impacte o menor tempo possível na paralisação das máquinas e, por conseguinte, a redução da produção de energia. Seguindo a ideia dos ensaios mais econômicos e mais utilizados, o SPT (Standard Penetration Test), ilustrado na Figura 2 é, de longe, o ensaio mais executado em vários países do mundo, e também no Brasil. Nos últimos anos, porém, a tendência é substituí-lo pelo SPT-T (SPT com medida do torque), mais completo e praticamente de mesmo custo (QUARESMA et al., 1998). O modo de execução do SPT está descrito na norma NBR 6.484 (ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2001). O índice de resistência à penetração (N), correspondente ao número de golpes associados à penetração dos últimos 30 cm do amostrador padrão, juntamente com a amostra coletada no amostrador ou por outro processo, fornece apenas uma indicação qualitativa das propriedades mecânicas
e estratigráfica do solo (SCHNAID; ODEBRECHT, 2012).
Figura 2 – Esquema de execução ensaio SPT Fonte: Schnaid e Odebrecht (2012)
O ensaio SPT-T difere do SPT, pela aplicação de um torque na haste do conjunto para gerar uma rotação do amostrador previamente cravado no terreno. Essa medida é obtida a partir da utilização de um torquímetro e tem como objetivo contribuir com um parâmetro adicional ao de resistência à penetração, obtida no SPT convencional. Segundo Schnaid e Odebrecht (2012), o torque aplicado gera um atrito entre amostrador-solo e pode ser útil na determinação de características físicas dos solos. O resultado desses ensaios é apresentado em planilha padrão, com a descrição das características do solo, o número de golpes por camada, o nível do lençol freático e a posição da
cota do furo. Como nesse ensaio são retiradas amostras para a análise tátil visual, acrescido aos dados de planilha, há a descrição do solo de acordo com essas amostras coletadas. De acordo Schnaid e Odebrecht (2012) fotos digitais e 10 g de solo devem ser reservadas para a determinação do teor de umidade; o restante das amostras devem ser utilizadas para a determinação de finos e, em alguns casos, para a determinação de matéria orgânica e cloretos. Como é comum a implantação de parques eólicos nas áreas litorâneas do Brasil, é necessária atenção para as regiões de solo mole, e por consequência a necessidade de execução de CPT (Cone Penetration Test). No ensaio CPT, conforme a Figura 3, medem-se as grandezas de resistência de ponta e do atrito lateral
resultantes da cravação da ponteira cônica, ambas utilizadas para a classificação do solo. Os estados de tensões e deformações gerados no solo devido à cravação do cone permitem usar hipóteses simplificadoras e correlações para a determinação dos parâmetros dos materiais. (SCHNAID; ODEBRECHT, 2012). O CPT é um ensaio mais elaborado e menos popular que o SPT, mas pode ser muito útil na determinação da existência de solos moles nas regiões de implantação das turbinas eólicas e dos acessos. O CPT pode e, geralmente, é utilizado como ensaio complementar ao SPT. A desvantagem do CPT em relação ao SPT e SPT-T é a necessidade de mão de obra especializada e ainda a dificuldade de transporte dos equipamentos para regiões de
Figura 3 – Detalhe de uma ponteira cone mecânica Fonte: Schnaid e Odebrecht (2012)
difícil acesso, como é o caso dos empreendimentos eólicos. Outro método direto que pode ser utilizado para a investigação de subsolos nas regiões de parques eólicos é a Borro Hammer Drill, mais conhecida como “borro”. Muito utilizada na investigação de subsolos para a implantação das linhas de transmissão, também pode ser aplicada ao longo de todos os acessos ou em pontos determinados, de maneira análoga ao processo adotado na investigação geotécnica para a locação das fundações das linhas de transmissão. Adota-se esse método principalmente quando há dificuldade de acesso aos locais de implantação das obras. A determinação de pontos ao longo dos acessos tem como finalidade principal otimizar os recursos de investigação. Apesar da intenção de otimizar os recursos, os pontos adotados como referência de investigação do subsolo na área são escolhidos para garantir uma amostra de dados consistentes para a determinação de parâmetros de resistência do solo. O ensaio é muito semelhante à sondagem à percussão, entretanto tem execução muito rápida, pois é feita sem amostragem, através da cravação de uma barra metálica padronizada, medindo-se o número de golpes necessários à penetração da barra no solo. O número de golpes do Borro é correlacionável com o índice de resistência à penetração (SPT) (DELATIM, 2013). Outro ensaio, menos popular ainda no Brasil, e que poderia ser utilizado como forma de investigar os solos de acessos de parques eólicos é o penetrôFundações e Obras Geotécnicas
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metro cônico dinâmico, denominado comumente como Cone Sul Africano (ou DCP). O ensaio consiste na cravação de um amostrador cônico através da queda livre de uma massa padronizada. A Figura 4 mostra o esquema de montagem do aparelho. A resistência do solo é obtida através do número de golpes para cravar o penetrômetro a uma dada distância predeterminada de 10 cm ou 20 cm, chamados de N10 ou N20. O ensaio exige registro contínuo dos dados e não recolhe amostras. O ensaio apresenta nomenclaturas diferentes de acordo com o peso da massa utilizada, sendo eles, em inglês: • DPL – Dynamic probing light (m=10kg); • DPM – Dynamic probing medium (m=30kg); • DPH – Dynamic probing heavy (m=50kg); • DPSH – Dynamic probing super heavy (m=63,5kg). Esse método é pouco utilizado no Brasil, mas apresenta dados que podem ser relacionados com o CBR ou ISC (California Bearing Ratio / Índice Suporte Califórnia), o índice que representa a capacidade de suporte de solos
Figura 4 – Esquema de montagem do Cone Sul Africano (DCP) Fonte: Lima (2000)
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Fundações e Obras Geotécnicas
compactados à penetração, o que pode ser traduzido em capacidade resistente. O CBR é um ensaio de laboratório, dessa forma descrevê-lo não se aplica ao objetivo desse artigo; entretanto, é muito importante dizer que um ensaio de campo que possa ser relacionado com ele traz uma vantagem de aplicação em relação aos demais. Como o índice CBR é amplamente utilizado na engenharia rodoviária, a utilização do Cone Sul Africano passa a ser muito vantajosa, se comparada ao CBR, pelo seu tempo de execução, recursos e praticidade (AGUIAR et al., 2011). Outro ensaio amplamente utilizado pelos empreendedores de energia eólica para verificação da capacidade resistente dos acessos de parques eólicos é o ensaio de placa estática. De acordo com a normativa do DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) que descreve o processo para determinação de recalques de subleitos e sub-bases em avaliação para projetos, por meio de ciclos de carregamento e descarregamento (ciclos divididos em 0,1 kg/ cm²) a aplicação de carga visa verificar o recalque causado pela aplicação de cargas no solo mediante o uso de uma placa de aço circular com 5.000 cm², por meio de macaco hidráulico com capacidade entre 10tf e 20tf. Para esse ensaio não há a previsão de avaliar outras camadas, o ensaio de placa também é utilizado para a verificação da capacidade de carga de bases e das capas de rolamento. Conforme norma, o ensaio deverá ser executado nas bordas do acesso, lado esquerdo/lado direito e no eixo. Na Figura 5, o esquema de monta-
gem dos equipamentos utilizados no ensaio. Na norma ABNT 6.489 de 1984, prova de carga direta sobre terreno de fundação, o processo de carregamento do solo é análogo ao processo descrito pela norma DNIT e tem finalidade semelhante que é determinar os recalques para a pressão máxima exercida sobre o solo.
4 OS MÉTODOS INDIRETOS DE INVESTIGAÇÃO DO SUBSOLO Os métodos de investigação ditos indiretos são aqueles que utilizam conceitos físicos para a determinação de propriedades dos solos. Denominados comumente como ensaios geofísicos, são não invasivos e, portanto, não destrutivos (SOUZA; GANDOLFO, 2012). Essas características podem ser vantajosas quando se tem ensaios diretos realizados em áreas muito distantes umas das outras e ainda quando se há impeditivos para a retirada de amostras de solo. Outras vantagens da utilização de métodos geofísicos são a velocidade de execução dos ensaios e a amplitude de varredura de informações, o que representa maior representatividade de amostras para estudo (SOUZA; GANDOLFO, 2012). Ainda segundo Souza e Gandolfo (2012), por serem métodos indiretos, a geofísica não dispensa as informações diretas, fundamentais para interpretações mais precisas, confiáveis e conclusivas dos resultados obtidos, dentro do maior rigor técnico possível. Dentro desse conceito, um dos ensaios frequentemente usado com finalidade de verificar as características
Figura 5 – Representação esquemática dos equipamentos do ensaio DNIT Fonte: Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (2004)
do solo em relação ao parâmetro de resistividade para fins de dimensionamento da malha de aterramento requerido nos parques eólicos é o ensaio de resistividade. Os dados obtidos mediante a realização deste poderiam, além de fornecer informações para o projeto de aterramento, fornecer informações adicionais aos SPTs, rotineiramente empregados na investigação de subsolos nessas regiões. De acordo com a norma NBR 7.117/2012 – Medição da resistividade e determinação da estratificação do solo, cada tipo de solo apresenta uma resistividade diferente, conforme pode-se observar na Tabela 1. O ensaio pode ajudar a caracterizar o solo e as várias camadas existentes no terreno, tendo em vista a variação do parâmetro de resistividade de acordo com o material encontrado. De acordo com o tipo de metodologia aplicada, na determinação da resistividade do solo descrita na NBR 7.117/2012, os dados coletados desse ensaio podem ser utilizados
para a determinação da capacidade de suporte do solo. As técnicas empregadas para a investigação indireta pelo método da eletrorrestividade são (BRAGA, 2005): • SEV (Sondagem Elétrica Vertical) caracteriza-se pela investigação vertical pontual das variações do parâmetro físico com a profundidade, em hidrogeologia é utilizada para definir zonas horizontais em estratos porosos; • O CE (Caminhamento Elétrico), que corresponde à investigação lateral das variações do parâmetro físico a uma ou várias profundidades determinadas; • A PERF (Perfilagem Elétrica) é utilizada para determinar variações verticais de resistividade em poços. Os arranjos mais utilizados são: Arranjo Schlumberger, Wenner e Dipolo/Dipolo (BRAGA, 2005).
CONCLUSÕES Tendo em vista os ensaios descritos, desde os mais usuais na investigação
do subsolo, como SPTs e CPTs, até os menos usuais como Borro e Cone Sul Africano, entre outros, pode-se perceber que é possível investigar o subsolo com técnicas que possam subsidiar minimamente a tomada de decisões mediante a verificação de alguns parâmetros do solo para a garantia de segurança das operações de equipamentos pesados dentro de um parque eólico, desde sua implantação até a manutenção. Durante a implantação dos parques eólicos, a investigação do subsolo é mais praticada, levando em consideração a fase de construção das fundações dos aerogeradores que, obrigatoriamente, exige um rigor maior da etapa de investigação tendo em vista a criticidade da construção da fundação do aerogerador, para a futura instalação da máquina, cujo custo muitas vezes supera 15 milhões de reais. Já durante a fase de manutenção, os custos tendem a ser reduzidos ao máximo e o tempo para a análise de dados geotécnicos costuma ser muito
Tabela 1 – Valores típicos de resistividade de alguns tipos de solos Tipos de solos
Faixa de resistividade Ωm
Água do mar Alagadiço, limo, humus, lama Água destilada Argila Calcário Areia Granito Basalto
Menor que 10 até 150 300 300 – 5.000 500 – 5.000 1.000 – 8.000 1.500 – 10.000 a partir de 10 000 Molhadoa: 20 – 100 Concreto Úmido: 300 – 1.000 Seco: 3.000 – 2.000.000 a A categoria “molhado” é típica de aplicação em ambientes externos. Valores inferiores a 50 Ωm são considerados altamente corrosivos.
Fonte: Associação Brasileira de Normas Técnicas (2012)
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Artigo
Tabela 2 – Quadro resumo dos ensaios Ensaio
Vantagem
Desvantagem
Custo¹
Dado Obtido
SPT
Custo de execução, mão de obra pouco qualificada
Controle de amostras, não recomendado para solos moles
R$ 203,00/m + R$ 1170,00 de mobilização da equipe.
Índice de resistência à penetração (N)
Aplicação de torque proporciona mais dados para caracterizar o solo
Controle de amostras, não recomendado para solos moles
R$ 203,00/m + R$ 1.170,00 de mobilização da equipe
Índice de resistência à penetração (N). Atrito solo – amostrador (obtenção de novos parâmetros)
CPT
Caracterização de solos moles com maior facilidade
Mão de obra especializada para execução do ensaio, dificuldade de acesso em algumas regiões devido ao equipamento
R$ 130/m, R$ 400/ensaio de dissipação, R$ 300/instalação de furo, R$ 200/relatório de furo. Não estão inclusos valores de mobilização do equipamento
Resistência de ponta e atrito lateral.
BORRO
Utilizada em locais de difícil acesso, fácil execução, não retira amostras
Apesar de ser uma vantagem do ensaio, a falta de coleta das amostras não permite detalhar algumas informações obtidas mediante a realização do Borro
R$ 354,00/m + R$ 1.000,00 de mobilização da equipe
DCP
Correlação entre os valores obtidos e o valor de CBR
Limitações de resistência
²R$ 364,00/un
PLACA
Verificação da capacidade resistente das camadas mais superficiais do solo através da correlação com o deslocamento do solo durante os ciclos de carga e descarga
O ensaio de placa está limitado à profundidade do bulbo de tensão gerado durante o carregamento
R$ 9.000,00 incluindo a mobilização da equipe
Deformação do solo
RESISTIVIDADE
Determinação das várias camadas de solo
Pode sofrer interferências e ruídos devido a correntes elétricas naturais no solo. No arranjo dipolo/dipolo há a necessidade de altas correntes no circuito de emissão
R$ 1.500,00/un
Resistividade e condutividade de solos, verificação da altura do nível d’água
SPT-T
Índice de resistência à penetração (N) sem a retirada de amostras Capacidade suporte dos solos compactados à penetração (estradas já em utilização)
¹Custo médio retirado da tabela disponível em DER/SP, e Techné. ²Preço médio dos valores de ensaio similar CBR. Fonte: Elaborado pelas autoras e com dados do Departamento de Estrada de Rodagem do Estado de São Paulo (2017) e Techné (2004).
curto, pois a operação de manutenção das máquinas é executada urgentemente, evitando assim a paralisação por grandes períodos e, consequentemente, a redução dos lucros advindos da geração. Por isso, a análise mais simplista de informações da investigação do subsolo e a obtenção de dados mais 32
Fundações e Obras Geotécnicas
diretos são extremamente vantajosos para a fase de manutenção. Apesar de não ter sido o enfoque desse artigo, o custo também influencia muito nas decisões de qual técnica escolher em detrimento de outra. Sem dúvidas, mais uma vez o SPT é o mais econômico (SCHNAID;
ODEBRECHT, 2012). Ainda segundo Schnaid e Odebrecht, os custos das investigações estão em torno de 2% a 5% do custo total da obra. A tabela 2 simplifica as informações de cada ensaio descrito anteriormente, sempre pensando na sua facilidade de aplicação e garantia mínima de dados
confiáveis para a execução segura dos trabalhos que exigem grande capacidade resistente do solo. A conclusão que se pode tirar da exposição dos ensaios anteriores é que não há um método melhor que o outro e sim, aquele que melhor se adequa à situação de campo e às restrições do entorno. Infelizmente no Brasil, a falta de comprometimento
em investir na prevenção de acidentes e uma preocupação cada vez maior com os custos, sem considerar os aspectos técnicos de determinadas ações, faz com que a análise do ponto de vista de maior economia predomine, o que nem sempre representa maior adequabilidade técnica ao cenário em estudo. Dessa maneira, considerando o contexto geral apresentado e as
experiências da engenharia brasileira, recomenda-se sempre que possível o teste de placas, que trará subsídios para avaliar quais os deslocamentos máximos previstos, de acordo com a carga máxima aplicada no solo, valor esse que pode ser definido tão logo seja escolhido qual equipamento fará a montagem ou manutenção da turbina eólica.
REFERÊNCIAS
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Fundações e Obras Geotécnicas
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Opinião
COMPLIANCE NA ENGENHARIA ESTRATÉGICA
A
Ao apresentar o segmento da engenharia estratégica para todas as nossas modalidades de atuação, a observação de sua estrutura identifica a presença da engenharia de requisitos, destacando-se a auditoria de engenharia. Nenhuma reserva de mercado pode impedir o seu desempenho, até por dispositivo legal, em auditorias de processos e procedimentos ligados à sua modalidade profissional, realizando, a exemplo da engenharia civil, de auditorias de asseguridade ou asseguração, qualidade ISO 9.001:2015, meio ambiente ISO 14.001:2015, PBQP-H, que estão inseridas dentro da classificação geral de auditorias praticadas pelas organizações. Campos, Lucila Maria de Souza, [et al.], em sua obra, Auditoria Ambiental, especifica que as auditorias se classificam quanto à aplicabilidade,
Quanto à aplicabilidade, elas serão entendidas por: • Primeira parte ou interna, quando os membros de uma organização auditam a ela própria; • Segunda parte, quando se audita alguém fora da estrutura da organização; • Terceira parte, integrando as auditorias de certificação. No tocante ao tipo, serão: • Auditoria ou análise crítica, sendo a análise interna das próprias operações; • Compliance – Conformidade, indicando o atendimento aos painéis legais e normativos; • Fase I e Fase II, a primeira genérica indicando fraquezas nos controles e a segunda específica envolvendo o identificado pela Fase I; • Due-diligence, empregado nas aquisições e fusões; • S istema de gestão, empregada nas organizações que possuam sistema de gestão; • Questões isoladas ou de desempenho, aplicadas a uma área particular da organização; E, quanto à execução: •A uditoria interna, sendo o monitoramento das normas traçadas pela organização; • Auditoria externa, sempre independente da organização, apresentando parecer sobre determinado traço auditado.
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tipo e execução, esquematicamente de acordo com o mapa mental adiante:
Fundações e Obras Geotécnicas
Arquivo Alberto Barth
Nossa atenção, no momento, deve ser dirigida às auditorias de primeira e segunda parte, respectivamente, internas ou externas, porque nelas está inserido o compliance, hoje bastante divulgado após a promulgação das leis federais nºs 13.303/16 e 12.846/13, conhecidas por Lei das Estatais e Lei Anticorrupção e da NBR ISO 37001 – Sistema de Gerenciamento Antissuborno – Requisitos com orientação para uso, publicada em
06 de março de 2017. Este Compliance se responsabilizará pela implantação de código de ética, normas e treinamentos indicando o que não pode ser feito, apoiando-se na Lei das Estatais e Anticorrupção e normas específicas que estabelecem mecanismos de transparência e governança a serem observados, como a divulgação de informações, normas de licitações e contratos, dentre outras.
A grande vantagem que tais dispositivos trazem é que eliminam o capitalismo de laços vigente, trazendo valor ao capitalismo de origem que valoriza a competência das empresas, permitindo o resgate do tão desejado desenvolvimento econômico brasileiro de forma sustentável. Portanto, a aplicação do compliance deve ser abrangente, sob o risco dele se tornar mero selo protocolar que Fundações e Obras Geotécnicas
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Opinião
Arquivo Alberto Barth
UMA DAS FUNÇÕES DA DOUTRINA DA ENGENHARIA É TRAZER A MUDANÇA NO PARADIGMA DAS ORGANIZAÇÕES, FAZENDO COM QUE O COMPLIANCE APONTE E CLASSIFIQUE AS NÃO CONFORMIDADES, OS PONTOS FORTES E FRACOS
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Fundações e Obras Geotécnicas
não identificaria a coerência numa organização entre o que ela comunga e efetivamente pratica, ocorrendo neste caso a simples aquisição de um suposto selo anticorrupção, reduzindo o compliance a símbolo de marketing. O termo compliance é originado das instituições financeiras, atividade inicialmente desempenhada pelo departamento jurídico das organizações. Formalmente seu significado provém da língua inglesa, especificamente do verbo to comply, que corresponde a agir em consonância com determinado painel de leis, normas e regulamentos aplicável aos níveis hierárquicos das organizações. Desta forma o compliance, continua a ser o que sempre foi pelas regras da auditoria, ou seja, a avaliação dos processos de gestão, mantendo-se a importância do engajamento da alta direção na liderança da aplicação e das diretrizes delineadas, atuando na mitigação de riscos.
Isto exige um amplo conhecimento do que, como e porque a empresa produz determinado produto ou serviço, determinando a atuação de uma equipe pluriprofissional formada minimamente por engenheiros, advogados e analistas contábeis. Com a Lei Anticorrupção e a Lei das Estatais, este termo passou a integrar o repertório da alta administração e ele não deixa de ser um papel desempenhado pela auditoria, seja ela interna ou externa, sendo a interna de caráter permanente e a externa episódica, contudo marcantes na mitigação de riscos e no branding das organizações. A figura acima mostra a linha pelo ponto de vista do auditor, indicando o cuidado capital na arquitetura do plano de auditoria almejado, decidindo o padrão referencial adotado no tocante ao painel das leis aplicáveis, atendendo, por exemplo, aos itens de norma da NBR ISO 19.011 –
da matriz de conformidade, circunstanciando os níveis de conformidade através de um sistema de notas, também do uso do FMEA (Failure Mode and Effect Analysis), ditando gravidade, urgência e tendência na correção de não conformidades, além da própria engenharia diagnóstica. No entanto, para efetivar essas medidas não basta o simples tecnicismo, se fazendo necessário investir na formação integral do auditor de engenharia, levando a ele a consciência que está atuando graças à horizontalidade de seus conhecimentos na interface das doutrinas do direito, da economia e da administração corporativa ou pública, dentro de um impecável e elegante padrão de formação humana, afinal ele fará a análise transversal e vertical da organização. E como refazer isso? O auditor de engenharia deverá admitir que tal encargo não é ocupado por superioridade em relação a ninguém, principalmente o auditor líder, onde graças aos seus conhecimentos acumulados e formação humana correspondente ocupa a liderança e coordenação do evento, atuando como um verdadeiro facilitador de processos, na posição do sujeito apto a colocar tudo o que sabe somado ao conhecimento dos outros com simplicidade, assertividade e empatia. Afinal, o líder é aquele cuja virtude é fazer com que os outros façam por ele aquilo que ele já está fazendo pelos outros, constituindo a liderança do exemplo. Cuidar da saúde de uma organização exige traçar um diagnóstico e formular ações corretivas, exigindo
que o auditor-líder leve ao auditado a necessidade de se modificar por evolução através de uma rota sugerida por: • Autoconhecimento; • Autotransformação; • Autodomínio. Não cabe mais na necessidade evolutiva que se impõe a nossa sociedade o traçado simples, seja de uma doutrina, ou até crença, abordadas ainda de forma segmentada, elas devem ser consideradas de forma integral, ocorrendo harmonia e coordenação em seu entendimento necessários ao trabalho pluriprofissional. Os profissionais ao desempenharem tal papel, estarão implantando um novo modelo de atuação, passando a integrar mais efetivamente as decisões nas organizações pelo emprego da engenharia estratégica, através do conhecimento integral de tudo aquilo que produzimos, influenciando pessoas e ambientes de nosso convívio, portanto, fazendo a diferença.
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Diretrizes para auditorias de gestão de qualidade e/ou ambiental. Outra norma de suma importância é a ISO 19.600:2014 – Compliance management systems – Guidelines, que disciplina as organizações na criação, desenvolvimento, implementação, avaliação, manutenção e melhoria contínua do sistema de Gestão da Conformidade, sendo ela uma diretriz para empresas não constituindo um sistema de gestão certificável como acontece com outras normas. Uma das funções da doutrina da engenharia é trazer a mudança no paradigma das organizações, fazendo com que o compliance aponte e classifique as não conformidades, os pontos fortes e fracos, elenque as ações corretivas, demonstre a causa-raiz, e trazendo a seus integrantes a radiografia de sua organização. Agora podemos entender o termo engenharia de requisitos em sua plenitude, como sendo um processo, dentro da engenharia estratégica, particularmente da auditoria de engenharia, demonstrando o rol de posturas que incidem na produção de um documento de requisitos, bem como a sua manutenção ao longo do tempo, que será o próprio manual de compliance, produzido pela equipe de auditoria. Ao nosso caso particular da construção civil, nossas auditorias serão aplicadas a projetos executivos, sistemas de gestão, procedimentos executivos, desde obras de arte até empreendimentos imobiliários, constituindo nosso público-alvo. Serão utilizadas ferramentas tradicionais da qualimetria, a exemplo
> ALBERTO BARTH é técnico industrial em cerâmica, engenheiro civil, pós-graduado em perícias e avaliações de engenharia, perito judicial, membro titular do IBAPE/SP (Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia de São Paulo), diretor desde 1994, do Escritório Técnico de Engenharia e Consultoria Alberto Barth SS Ltda.
Fundações e Obras Geotécnicas
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Em foco
MAPEAMENTO GEOTÉCNICO
O
O Mapeamento Geotécnico é um processo de reconhecimento do meio físico, no qual estão envolvidos levantamentos de água, solo e rochas do ponto de vista das geociências e da engenharia. A sua finalidade é prover informações científicas sobre o meio físico que possam subsidiar técnicos, tomadores de decisão e a comunidade sobre como é possível aproveitar da melhor maneira os recursos naturais. O resultado deste processo é apresentado na forma de mapas ou cartas que procuram representar, classificar e organizar as informações dos solos, das rochas e das águas de superfície e subsuperfície. Estas informações são as mais diversas possíveis, quando na forma de mapa, tem a finalidade de auxiliar o planejamento de um município, como no caso dos Planos Diretores. Ajuda na tomada de decisão sobre os melhores locais, do ponto de vista da sustentabilidade, para a instalação de estabelecimentos diversos, inclusive aqueles para fins industriais. Outros tipos de obra que o mapeamento pode abranger são: linhas de metrô, dutos, estradas, portos etc.
EXEMPLO Para a construção de um aterro sanitário devem ser escolhidas áreas com camadas relativamente impermeáveis, com o intuito de diminuir a probabilidade de contaminação de aquíferos. Os mapas geotécnicos podem indicar a distribuição em superfície das camadas mais e menos permeáveis e por meio desta indicação, mostram onde as áreas de interesse para implantação de aterros sanitários estão localizadas. Em obras que envolvem estruturas enterradas é preciso estudar a formação do solo/rocha e sua adaptação aos diferentes tipos de fundações. Novamente, os mapas geotécnicos apresentam 40
Fundações e Obras Geotécnicas
a distribuição espacial das propriedades dos solos e rochas e ajudam na tomada de decisão sobre onde implantar a obra. As obras de infraestrutura e as atividades de ocupação intensiva do meio físico necessitam de um conhecimento mais aprofundado do meio em que vão se instalar. E isto é dado pela cartografia geotécnica. São instrumentos importantes de gestão ambiental em grandes operações industriais, como mineradoras, hidrelétricas, túneis, estrada, aterros sanitários, dutovias entre outros. A cartografia geotécnica também é necessária para as avaliações de impacto sobre o meio físico, a recuperação de áreas degradadas e a recuperação ambiental e nas auditorias de investigação de passivo ambiental. O planejamento de diversas áreas específicas de atividade intensivas também é objeto da cartografia geotécnica, como na gestão de áreas costeiras. Outra forma muito comum são os mapas e as cartas de suscetibilidade e risco a desastres naturais, como escorregamentos, fluxos ou enchentes. Eles indicam em planta, as áreas que potencialmente podem sofrer com estes fenômenos. A partir da estimativa de ocorrência são construídas as cartas de risco, que se baseiam na probabilidade de perdas humanas ou materiais na área de interesse. A atual política urbana é regida pelo Estatuto das Cidades (Lei 10.257 de 10 de julho de 2001), que complementa a Lei no 6.766, de 19 de dezembro de 1979 e regulamentou o Artigo 182º da Constituição Federal. Esta legislação estabelece que os municípios com mais de 20 mil habitantes e os que estão localizados em regiões metropolitanas devem fazer seu Plano Diretor. Isso implica num amplo
Fotos: NASA / Flickr
Fundações e Obras Geotécnicas
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Em foco
campo de trabalho para a realização de mapeamentos geotécnicos básicos. A Lei 12.608 de 12 de abril de 2012 também regulamenta a atuação da Defesa Civil, tem-se outro marco que fala principalmente da questão dos desastres naturais e a competência de estados e municípios. Aqui
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Fundações e Obras Geotécnicas
entra a discussão das cartas de risco e a suscetibilidade para enchentes, inundações e escorregamentos. Entre 2012-2016 cerca de 800 municípios brasileiros tiveram seu território mapeado, em convênio com o Serviço Geológico e o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas). Esta legislação
constituiu um marco no mapeamento geotécnico brasileiro. Estes mapas e cartas precisam ser feitos por um profissional habilitado, em geral geólogo ou engenheiro geotécnico. Como são documentos feitos para pessoas não especializadas, é de fundamental importância que as cartas
sejam claras e em linguagem acessível, do contrário, perdem completamente sua finalidade. Outra coisa importante é que os mapas geotécnicos, devido a sua escala e de sua rede amostral, não substituem os projetos de obra específicos. Estes devem necessariamente passar por todas as fases de projeto.
O mapeamento geotécnico somente orienta numa escala mais regional.
CLASSIFICAÇÃO O mapeamento geotécnico tem uma infinidade de aplicações. No Brasil, as mais comuns envolvem questões de planejamento urbano, regional ou rural. Um tipo comum é a carta de viabilidade, que deve ter como base todas as informações possíveis sobre o meio ambiente, considerando as relações entre os diferentes vetores de ocupação. Outro conjunto de cartas de viabilidade são as cartas de zoneamento urbano, as que tratam da viabilidade de zonas industriais e agropecuárias, aterros sanitários etc. Já as cartas de orientações conclusivas têm como objetivo permitir tomadas de decisões administrativas e econômicas. São construídas tendo como base as cartas anteriores, considerando o estado atual e as demandas futuras. Estas cartas são as que servem como base para a população e os tomadores de decisão realizar o planejamento. Em casos específicos, por exemplo, nos Planos Diretores, alguns dos aspectos apresentados no mapa geotécnico podem inclusive ser incorporados na legislação, como a delimitação de zonas não edificáveis nos sopés e cristas de falésias ou às margens de rios.
CONTRATAÇÃO, SUPERVISÃO E INTERPRETAÇÃO Existe hoje no Brasil uma grande competência nesta área. Empresas, de todos os tamanhos, que atuam principalmente na área de meio ambiente, já
oferecem este tipo de serviço. Para as grandes obras de infraestrutura e para o planejamento de grandes áreas, que necessitam da atuação estatal, existem os institutos de pesquisa, como o Instituto Geológico e empresas como o IPT com equipes que já se especializaram neste tipo de serviço. De maneira mais limitada, as universidades também podem contribuir neste papel. É fundamental que as equipes executoras das cartas geotécnicas tenham uma boa supervisão, e que todo o processo seja acompanhado por consultores independentes. Aliás, uma boa supervisão muitas vezes pode ser um entrave neste processo, na medida em que exige profissionais experientes e muita afinação entre supervisão e equipe executora. Os consultores, que tratam da validação de resultados, precisam ter experiência na área e participar de todas as etapas.
PASSO A PASSO Para a execução de um mapeamento geotécnico, deve-se inicialmente definir o seu escopo e objetivos. Isto se dá em função do cliente e do tipo de projeto. A seguir, é necessário estabelecer as escalas de trabalho e quais os atributos do meio físico que serão mapeados, ou seja, quais são as propriedades do meio físico de interesse para aquele mapeamento específico. É realizado um levantamento dos dados sobre o meio físico produzido para a área de estudo em mapeamentos anteriores. Nesta etapa identificam-se as áreas para as quais já existe uma quantidade suficiente de dados e as Fundações e Obras Geotécnicas
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Em foco
áreas em que há necessidade de se coletarem novos dados. A escala do mapeamento é fundamental para a decisão sobre a suficiência dos dados já disponíveis, pois é ela que determina o tamanho da malha de amostragem. Cada atributo escolhido tem uma variabilidade espacial e é a escala que definirá a quantidade amostral, ou seja, a distribuição espacial dos pontos de amostragem ou observação. Diferentes atributos exigem procedimentos de amostragem distintos, por exemplo, alguns atributos, como declividade do terreno e forma da encosta podem ser obtidos de forma 44
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praticamente contínua a partir de uma planta topográfica e com o auxílio de SIGs (Sistemas de Informações Geográficas). Estes atributos são do tipo indireto, pois podem ser obtidos por meio de sensores remotos, métodos geofísicos ou morfometria. Estas técnicas permitem identificar a distribuição e o comportamento dos corpos geológicos, assim como algumas de suas características físicas. Com o barateamento destes sensores e programas de computador, eles têm sido cada vez mais utilizados em mapeamento geotécnico. Outros atributos precisam ser observados ou medidos em campo,
pois sua determinação exige contato com o material a ser mapeado. Muitos testes são realizados diretamente no solo. São os chamados testes in situ. Nesta etapa podem ser coletadas amostras que serão levadas para laboratório para determinação de outras propriedades e parâmetros. A etapa seguinte é a espacialização dos resultados e análise crítica de todos os dados obtidos (bibliografia, relatórios anteriores, campo e laboratório). Neta etapa, todas as informações são sintetizadas e reunidas graficamente em mapas e cartas. Cada vez mais estes trabalhos têm sido feitos em ambientes SIG. O
produto final é um mapa ou uma carta preliminar. Nesta fase é importante a separação das unidades de mapeamento. Os diferentes atributos mapeados devem ser distribuídos em áreas homogêneas ou aceitavelmente heterogêneas. Esta é uma das fases mais sensíveis do mapeamento. Uma vez estabelecidos os limites de cada área e determinada a lei de variação de cada atributo, deve-se analisar a acurácia do mapeamento. Voltar a campo, checar os dados, submetê-los a testes e validar mapeamento. Os limites das várias áreas são examinados e redesenhados. Ao final, tem-se o mapa ou a carta geotécnica, com a distribuição espacial, em planta, das propriedades de interesse para a aplicação em questão. Finalmente é preciso organizar a legenda do mapa. Esta legenda deve comunicar os atributos de cada área mapeada por meio de cores ou padrões de texturas, o que permite a utilização da carta pelo público especializado. A legenda pode também apresentar uma interpretação das aptidões de cada área mapeada, ou seja, uma tradução das informações técnicas para os usuários menos especializados, de tal forma que os dados de interesse possam ser rapidamente obtidos pela consulta ao mapa. Por exemplo, uma área do mapa pode corresponder a solos arenosos, que ocupam os topos de colinas amplas, com nível d’água profundo (mais que 15 m) e espessura de materiais inconsolidados superior a 20 m. A interpretação para esta área do mapa poderia ser: “adequada para a abertura de loteamentos urbanos em terrenos
com declividades até 10%. Acima desta declividade, deve ser dada especial atenção ao traçado das vias e aos dispositivos de drenagem superficial e controle de erosão”. É na legenda também que consta a escala do mapa, a equipe responsável
pela sua elaboração e a data da sua publicação. Como o meio físico é constantemente alterado pelas atividades antrópicas, os mapas e cartas geotécnicas devem ser atualizados conforme surgem novas demandas de ocupação de uma região.
> ANA ELISA SILVA DE ABREU é geóloga pelo Instituto de Geociências da USP (Universidade de São Paulo) e engenheira civil pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Possui mestrado e doutorado em Geotecnia pela EESC-USP (Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo). Atualmente é professora e pesquisadora do Instituto de Geociências da UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas). > JEFFERSON DE LIMA PICANÇO é geólogo pela UFPR (Universidade Federal do Paraná). Possui mestrado e doutorado em Geociências (Geoquímica e Geotectônica) pela USP. Atualmente é professor da UNICAMP.
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ACERVO HOSPEDA DADOS GEOESPACIAIS DA AMAZÔNIA LEGAL Coleção conta com 800 mapas, 28 documentos sobre zoneamentos ecológico-econômicos com diversos dados de relevância por Dellana Wolney
E Fotos: Arquivo Embrapa
Encerrado em agosto deste ano, o Projeto UZEE-AML (Uniformização do Zoneamento Ecológico-Econômico da Amazônia Legal e Integração com Zoneamentos Agroecológicos da Região) deixa como legado um enorme acervo sobre dados geoespaciais de toda a Amazônia Legal. Contendo um gigantesco volume de informações, esta coleção é composta por 800 mapas, 28 documentos sobre zoneamentos ecológico-econômicos com dados sobre solos, clima, vegetação, aptidões agronômicas e aspec-
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tos socioeconômicos, legais e institucionais, mapas de aptidão agrícola e gestão. O sistema online que hospeda o acervo permite ao usuário consultar gratuitamente e de forma interativa, grande parte dos dados georreferenciados sobre uma determinada área, bem como manipular diferentes níveis de informação, de acordo com o seu interesse ou necessidade. O trabalho liderado pela empresa Embrapa Amazônia Oriental, gerou dezenas de publicações científicas, transfe-
rência de conhecimento e promoveu, em nove estados do Brasil, cursos de capacitação direcionados para agentes multiplicadores. De acordo com o líder do projeto e chefe-geral da Embrapa Amazônia Oriental, Adriano Venturieri, o projeto não deixa somente a ferramenta, mas centenas de pessoas capacitadas a operá-la. “Apostamos na adoção dos conhecimentos gerados para que conhecendo melhor o território amazônico, os tomadores de decisão possam avaliar as potencialidades produtivas e estimular a preservação ambiental”, revela. A iniciativa começou no ano de 2013, congregando esforços de diversas Unidades Descentralizadas da Embrapa em todo o Brasil, juntamente com o apoio do Governo Federal, por meio das instituições: MMA (Ministérios do Meio Ambiente), MCTI (Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações), MAPA (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), além dos governos dos nove estados da Amazônia Legal, com apoio da FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos) e da FUNARBE (Fundação Arthur Bernardes).
RESULTADOS Um dos produtos mais recentes do UZEE-AML lançado em Belém (PA) no início de agosto durante o Congresso Brasileiro de Ciência do Solo é o Mapa de Aptidão Agrícola das Áreas Alteradas da Amazônia Legal. Ele é responsável por mostrar a necessidade de readequação produtiva para fins de desenvolvimento regional e uso racional da terra.
O mapa abrange 2.179.923,68 km², equivalente a 40% dos 5.020.000 km² da Amazônia Legal e foi criado com base na análise e caracterização dos solos somente das áreas antropizadas da região. O recorte revela a aptidão da região para implantação de sistemas produtivos agrícolas e as áreas mais nobres voltadas à agricultura. O intuito destas informações é reduzir os riscos, aumentar o retorno dos produtores e auxiliar no planejamento de estados e municípios. Outro resultado importante do UZEE-AML é a ampliação do SIAGEO (Sistema Interativo de Análise Geoespacial da Amazônia Legal), originalmente voltado à Amazônia, para todo o território nacional. Ele agrega, em um único ambiente, um conjunto de informações espaciais de todos os estados da região, resultantes do ZEE (Zoneamento Ecológico-Econômico) da Amazônia Legal. Além de passar Fundações e Obras Geotécnicas
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para o formato digital documentos como legislações e mapas, o portal faz a organização de modo que o acesso aos conteúdos seja público e gratuito. A consulta a este sistema pode ser feita por qualquer pessoa. Nele é possível encontrar dados geoespaciais fornecidos pelos nove estados brasileiros sendo eles: Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins e oeste do Maranhão. A plataforma é construída com base no conceito de open source, permitindo o download de todos os mapas georreferenciados e a elaboração de projetos de empreendimentos na região, desde a regularização de uma propriedade, até a instalação de uma indústria.
INFRAESTRUTURA Venturieri ressalta que os dados gerados podem ser utilizados para apoio ao planejamento regional, incluindo propostas de adequação de uso da terra, identificação da aptidão agrícola,
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porém em relação à utilização nas áreas da engenharia civil e infraestrutura, ele diz que os dados não podem ser utilizados como elemento “deliberativo”, pois não possui escala adequada para este tipo de tomada de decisão, já que informações mais detalhadas requerem um levantamento detalhado. Embora o acervo tenha esta limitação, ele ainda apresenta a densidade de infraestrutura na Amazônia Legal. “Tal informação pode ser utilizada, por exemplo, para identificação de regiões carentes de investimento e para apontar ainda opções de regiões com potencial para novas obras, em função da ocupação da terra e potencial de produção”, exemplifica. Ele ainda declara que as informações sobre infraestrutura foram e ainda são importantes para as discussões sobre os processos de mudança do uso da terra na região, visto que o acesso de um território às rodovias, bem como a energia, telefonia (quer permite a conexão a internet), portos, aeroportos
etc., pode ser um dos elementos utilizados no apoio a tomada de decisão estratégica para novos investimentos. A Embrapa Solos, unidade descentralizada localizada no Rio de Janeiro (RJ), em parceria com a Embrapa Amazônia Oriental foi responsável por coordenar todo o trabalho que incluía atividades de escritório, campo e geoprocessamento da UZEE-AML. Para o líder do projeto e chefe-geral da Embrapa Amazônia Oriental Adriano Venturieri, a expertise da Embrapa Solos foi imprescindível neste projeto, principalmente porque atualmente existem poucos pedólogos em atividade na Região Amazônica.
Notas
por Dellana Wolney
ABGE busca recursos para finalização de livro Elaborado voluntariamente por 93 autores, a publicação abordará temas diversificados como o estado da arte da geologia de engenharia e ambiental no Brasil A ABGE (Associação Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental) está em busca de recursos para a impressão e publicação do livro “Geologia de Engenharia e Ambiental”. Elaborado pelo trabalho voluntário de 93 autores, a publicação possui 900 páginas e 40 capítulos, divididos em três volumes e tem como público-alvo professores e estudantes de graduação e pós-graduação em engenharia civil e geociências, bem como profissionais, empresas e entidades públicas especializadas em projeto e construção de obras ambientais e de infraestrutura. A primeira edição abrangerá dois mil exemplares e será colocada à venda por 260 reais para não-sócios e 195 reais
para os sócios da ABGE. A previsão é que ele já esteja disponível no primeiro semestre de 2018, ano em que a associação comemora 50 anos de atividade. De acordo com o geólogo e ex-presidente da ABGE, João Jerônimo Monticeli, a produção do livro que contém o estado da arte da Geologia de Engenharia e Ambiental no Brasil, está praticamente pronta. “Todos os capítulos já passaram pelos processos de revisão, arte final e diagramação, mas a sua viabilização ainda depende da obtenção dos recursos financeiros necessários à impressão e distribuição, orçados em 200 mil reais. O pedido de apoio à FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) já foi feito e, apesar da enorme crise no setor, empresas estão sendo contatadas”, revela. A ABGE convida todas as empresas a darem o seu apoio. Caso tenha interesse em conhecer as cotas de patrocínio, os autores e os assuntos que estão presentes na publicação, assim como a opinião de profissionais da área, entre em contato por meio do e-mail: joaojeronimo@terra.com.br / Telefones: (11) 3253-8641, (11) 999733110 e (24) 3371-2389 ou acesse: www.abge.org.br
prova de carga em fundações, já que envolve desde profissionais que atuam com projetos Curso dissemina a importância da de fundações, até os responsáveis pela monprova de carga em fundações tagem, execução e interpretação dos ensaios. “A realização de prova de carga é basicamente Conteúdo programático contou com uma profunda obrigatória desde a última revisão da norma de análise crítica do estado da arte na garantia da qualidade fundações. Hoje existe uma grande quantidade de obras com estacas e, com isso, houve um aumento significativo de fundações profundas deste serviço”, explica. A UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas), De forma geral, a programação abrangeu: os conceitos juntamente com o apoio da CTF (Comissão Técnica de básicos do tema; prova de carga direta e em fundações Fundações) da ABMS (Associação Brasileira de Mecânica profundas (tração, compressão e horizontal); ensaio de dos Solos e Engenharia Geotécnica) realizou nos dias 11, carregamento dinâmico; previsão da carga de ruptura a 12, 25 e 26 de agosto em Campinas (SP), o curso com partir de prova de carga interrompida prematuramente; carga horária de 30 horas “Prova de Carga em Fundações” instrumentação; ensaios dinâmicos em estacas; integridade que reuniu cerca de 27 pessoas. de estacas; ensaios PIT e cross-hole (tomografia); interPara o engenheiro e professor da UNICAMP, Paulo pretação; aplicações e limitações; casos de obra; e uma Albuquerque, o curso se tornou, ao longo do tempo, análise crítica do estado da arte na garantia da qualidade uma importante ferramenta para a disseminação da de fundações profundas. 50
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