Revista Fundações Ed. 73

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27,00



Viva o Progresso.

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Fundações e Obras Geotécnicas | 3


EDITORIAL PROPOSTA Na edição de número 73 da revista Fundações & Obras Geotécnicas trazemos uma nova proposta de identidade visual para a revista, o que na linguagem editorial chamamos de layout da publicação. Esse novo layout tem como objetivo renovar a revista e trazer junto com a mudança da linguagem visual também a inserção de novas seções, tais como “Jogo Rápido” e “O setor em números” (que substituem as seções “Notícia 3” e “Opinião”). A ideia dessa mudança veio rápido e teve que ser desenvolvida em um curto intervalo de tempo, o que certamente diminui as nossas chances de acerto e reprodução do visual dentro do idealizado, porém pretendemos corrigir e aperfeiçoar essa identidade visual no decorrer das próximas edições, alterando tudo o que não der certo ou não for bem aceito. Dessa forma, o título desse texto “proposta” é na verdade direcionada a você leitor: proponho que nos dê um voto de confiança nesse período de mudanças para que possamos tentar algo novo – contando com o retorno e opinião de vocês – e em contrapartida produziremos nas próximas edições um modelo de revista cada vez mais próximo de você e também daquilo que nos apontar como mais importante. Estamos ávidos para saber o que pensam!

midias sociais

Da redação

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NOTA

AVISO – 6ª EDIÇÃO DO PRÊMIO MILTON VARGAS Nessa edição publicamos a relação de todos os concorrentes da sexta edição do Prêmio Milton Vargas, assim como as orientações sobre as categorias e as informações do evento.

Crédito: Arte Melchiades Ramalho

issuu.com/editorarudder

4 | Fundações e Obras Geotécnicas

FOTOS DO PRÊMIO MILTON VARGAS 2014 Desde o começo do ano, a Editora Rudder criou uma página no sistema Flickr para a postagem de fotos de eventos da revista ou de coberturas fotográficas realizadas pelo veículo, de forma que pudéssemos deixar os arquivos disponíveis para os nossos leitores visualizarem, mas também fazerem o download dos arquivos de forma simples e rápida. Recentemente adicionamos a nossa página nessa rede as fotos da 4ª Edição do Prêmio Milton Vargas, realizado em 2014.


NESTA EDIÇÃO 36 |

22 | 06 | Jogo Rápido 07 | O setor em números 10 | Coluna do Conselho 12 | Perfil – Mauro Lozano 16 | Destaque – Caminhos

da Engenharia aborda a administração da crise hídrica pela Sabesp

22 | REPORTAGEM –

Primeiro Desafio de Taludes é realizado na UFPR

30 | Legislação proíbe uso de bate-estaca em Guarulhos

80 | 34 | Lei das Estatais é

publicada no Diário Oficial

36 | FENASAN 2016

surpreende em números e promove mais interação entre participantes

38 | IGS BRASIL realiza

curso para inserir os geossintéticos na graduação

48 | Artigo – Influência

da quantidade de fresado na resistência à tração de pavimentos reciclados com cimento portland

54 | Artigo – Contribuição ao

70 | Hitória 72 | Em foco – Gestão de risco em geotecnia ambiental

80 | O QUE HÁ DE NOVO

WaterGEMS é alternativa para criar, comparar e melhorar cenários de modelagem hidráulica

84 | Geotecnia Ambiental Projeto de molhe é idealizado para a praia de Gravatá

88 | Livro 89 | Agenda

estudo do forno de micro-ondas na determinação do teor de umidade dos solos

Fundações e Obras Geotécnicas | 5


| Destaque | Jogo Rápido | O setor em Números | |

por Dafne Mazaia | Notas

A quarta maior ponte pênsil do mundo – estrutura suspensa, sus| Artigopor sistema de cabos e mastros – foi inaugurada no final de tentada junho de 2016, na Turquia. Chamada de Osman Gazi Bridge, mes| Em foco mo nome do homem que fundou o Império Otomano, em 1299, a ponte possui 2.682 metros de comprimento e 1.550 metros de vão | Livro central. Localizada no noroeste do País, sobre a baía de Izmit, a ponte surpreende pelas tecnologias aplicadas no projeto. | Agenda

Construída pela empresa japonesa IHI Corporation, a obra utilizou sistemas mistosAmbiental de concreto e aço, baseando-se no projeto arquitetô| Geotecnia nico do escritório dinamarquês COWI. Ao todo, foram empregadas | O que 85.000 toneladas de aço e 125 mil m³ de concreto para erguer pilares há de novo e estruturas que são componentes do alicerce e sua sustentação. | História

Com suas estruturas ligadas como se fossem peças de lego, a ponte é integrante de um complexo rodoviário de 409 quilômetros, que conecta a maior cidade da Turquia, Istambul, ao terceiro município mais populoso turco, Izmir. Além disso, a estrutura foi concebida parar resistir a terremotos. A zona onde ela foi erguida possui alta incidência de acidentes envolvendo abalos sísmicos, de forma que a estrutura é monitorada 24 horas por 390 sensores que foram instalados em pontos estratégicos, com o objetivo de detectar possíveis vibrações.

Banco de Imagens / Free Images

CAPES disponibiliza conteúdo da ICE O portal da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) possui um acervo com diversas publicações relacionadas à engenharia civil e uma das bases que se destaca é a ICE (Institution of Civil Engineers), que é considerado o recurso online mais abrangente do mundo na área. Podem acessar o conteúdo da ICE aqueles que conectarem em computadores das IES (Instituições de Ensino Superior) e pesquisa participantes do portal. Para acessar as pesquisas e estudos, o usuário deve entrar no site do órgão (www.capes.gov.br) e pesquisar no campo “buscar”, na base da página. 6 | Fundações e Obras Geotécnicas

Huesker lança nova sede em São José dos Campos No dia 22 de agosto, a empresa Huesker Brasil inaugurou a sua nova sede na cidade de São José dos Campos, no Estado de São Paulo, às margens da Rodovia Presidente Dutra, considerada a principal conexão entre Rio de Janeiro e São Paulo. Estabelecida há quase 20 anos na região, a empresa agora possui uma área de 9 mil m². Além do projeto arquitetônico moderno, o novo espaço também ampliou a área produtiva, como explica o diretor-executivo da Huesker Brasil, Flávio Montez. “A nova sede é mais adequada aos planos de crescimento da empresa no Brasil. Nela incrementamos a capacidade de produção local dos tubos geo­ têxteis SoilTain, mantendo os padrões de qualidade exigidos por nossa matriz alemã”, destaca. A sede recém-inaugurada também propicia eficiência logística, seja pelo aumento da área de armazenamento, como também pela localização, em uma das principais rodovias da região Sudeste. Esteve presente no dia da inauguração o presidente mundial do Grupo Huesker, Hans Grandin, juntamente com os demais funcionários e representantes. A empresa realiza, no momento, estudos para novos investimentos na região.

Divulgação / Huesker

Reportagem Turquia constrói ponte resistente a terremotos Notícia


| Jogo Rápido | O setor em Números | Reportagem

Sondagem da construção – Agosto de 2016 Notícia |

por Dafne Mazaia | Notas

O ICST (Índice de Confiança da Construção) subiu 1,8 ponto em | agosto, Artigoalcançando 72,5 pontos – o maior nível desde julho de 2015. Após a segunda alta consecutiva, o índice acumula | Emdefoco ganho 5,9 pontos desde o mínimo histórico de fevereiro. Embora o índice continue muito mais próximo do registro | Livroque da média histórica e mostre uma evolução em mínimo 2016 menos favorável que a de outros segmentos produtivos | Agenda acompanhados pelo FGV/IBRE (Fundação Getulio Vargas / Instituto Brasileiro de Economia), a tendência de redução do | Geotecnia Ambiental pessimismo já parece evidente. “O | empresário começou a sinalizar que não está O que há da de construção novo apenas com expectativas menos negativas. A percepção dominante é de| História que a atividade lentamente começa numa retomada, o que já está se refletindo no indicador de mão de obra prevista. Nos últimos três meses, os empresários passaram a apontar maior intenção de contratar”, observou a coordenadora de Projetos da Construção da FGV/IBRE, Ana Maria Castelo. Índice de Confiança da Construção1

*Dados da tabela: (Dados de ago/10 a ago/16, dessazonalizados)

1 A média móvel bimestral foi escolhida por ser construída a partir do número de meses necessários para que o componente cíclico do ICST (Índice de Confiança da Construção) supere as irregularidades da série, segundo o método de Meses de Dominância Cíclica (Months for Cyclical Dominance), sugerido originalmente pelo NBER (The National Bureau of Economic Research) e, mais recentemente, pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

*Dados da tabela: Evolução sobre o mês anterior (diferença em pontos) – Julho-Agosto / Evolução sobre o mesmo mês do ano anterior (dados originais, diferença em pontos) – Julho-Agosto

O ISA-CST (Índice da Situação Atual) subiu 1,5 ponto em agosto, alcançando 64,2 pontos, o maior desde janeiro passado. Por outro lado, o fato de o índice permanecer entre os 10% mais baixos entre as 74 observações desde julho de 2010, ilustra como o nível de satisfação com o ambiente de negócios presente continua muito baixo neste início de segundo semestre. A principal contribuição à alta veio do indicador que capta a percepção da empresa em relação à situação atual da carteira de contratos, que registrou alta de 1,7 ponto em relação ao mês anterior, atingindo 63,3 pontos. O IE-CST (Índice de Expectativas) alcançou 81,4 pontos, ficando 2,1 pontos acima de julho. Dentre os quesitos que integram o índice-síntese, a expectativa com a demanda dos negócios para os próximos três meses foi o que mais contribuiu para alta no mês, com variação de 4 pontos, atingindo 81,2 pontos. O NUCI (Nível de Utilização da Capacidade) do setor ficou em 64,5% em agosto, 0,1 ponto percentual acima do resultado de julho, sinalizando certa estabilização do nível de atividade entre os dois meses. Fundações e Obras Geotécnicas | 7


| Jogo Rápido | O setor em Números | Reportagem

Notícia Segmento em destaque: preparação do terreno Notas

Sobre o autor da sondagem

O segmento de Preparação do Terreno pode ser con| Artigo siderado um indicador antecedente do setor da construção por representar uma atividade que costuma | Em foco registrar aceleração no início efetivo de obras previamente contratadas. Por isso, a evolução mais favorável | Livro deste segmento em relação à média do setor da construção nos últimos meses pode ser considerada uma | Agenda boa notícia. Em julho e agosto, o ICST das empresas de PreparaçãoAmbiental do Terreno subiu 6,3 e 5,6 pontos, res| Geotecnia pectivamente.

Ana Maria Castelo é economista e formouse na UFCE (Universidade Federal do Ceará). É a atual coordenadora de projetos da construção da FGV/IBRE (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas).

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| O que há de novo | História

Preparação do Terreno Na comparação interanual, o ICST da atividade já supera o resultado do ano passado em 9,5 pontos. “As expectativas dos empresários dessa atividade começaram a melhorar em março, mas somente nos dois últimos meses, houve também a melhora na percepção sobre a situação corrente dos negócios. Sem dúvida, essa é uma importante sinalização de que o pior para a construção pode já ter ficado para trás”, conclui Ana Castelo.

*Dados da tabela: (série dessazonalizada, em pontos) 8 | Fundações e Obras Geotécnicas


Fundações e Obras Geotécnicas | 9


| Coluna do Conselho Arquivo Pessoal

| Perfil | Destaque

Rápido AJogo BUROCRACIA | O setor em Números E A PESQUISA NO BRASIL |

| Reportagem

O

Brasil é um país que investe mais de 1% de seu PIB (Produto Interno Bruto) em pesquisa | Notícia e desenvolvimento. Ocupou a 36a posição no ranking mundial no ano de 2014, dado mais | Notas recente encontrado. Apesar de ser um valor não tão baixo (também não é considerado alto), o país | Artigo investe menos que Hungria, Estônia e Eslovênia, por exemplo, países de uma maneira geral com | Em foco menor tradição que o Brasil. Segundo o Senado Federal Brasileiro, ao se comparar a proporção, | Livro em relação ao PIB do investimento em pesquisa e desenvolvimento no Brasil, com os números das | Agenda nações da OCDE (Organização para a Cooperação Desenvolvimento Econômico) e de outros países | GeotecniaeAmbiental da América Latina e do BRICS (acrônimo que representa os cincos países emergentes que possuem | O que há de novo elevado potencial econômico e rápido crescimento | História mundial: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), percebe-se que o Brasil só está acima do México, Argentina, Chile, África do Sul e Rússia, ficando muito distante da China e da Coreia do Sul, por exemplo. Nesse contexto, existe uma diferença entre o Brasil e os outros países que é o volume de investimento em pesquisa e desenvolvimento feito pela iniciativa privada. Nosso país investe apenas 0,55% do PIB aplicado pelas empresas brasileiras, contra 2,68% investidos pelo setor privado da Coreia do Sul e 1,22% da China. Esse é um potencial relevante ainda a ser explorado aqui. Apesar de limitações orçamentárias, o Brasil possui um número crescente de publicações em periódicos. Em termos proporcionais, o Brasil é o país que mais publica na América do Sul, além de ser um dos países que mais publica nas américas. No entanto, tal produção poderia ser muito maior, caso

o processo de aquisição de materiais (como equipamentos e materiais de consumo) para pesquisa fosse menos burocrático. Um estudo conduzido pelo neurocientista da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) e do Instituto D’Or, Stevens Rehen, no ano de 2014, mostrou que, dos 165 pesquisadores, de 35 centros de pesquisa em 13 estados brasileiros, 46% já perderam material retido na alfândega, 95% já deixaram de fazer ou alteraram estudo por problemas na importação, e 51% já modificaram ou cancelaram sua pesquisa por não conseguirem substâncias controladas. São números que realmente preocupam. As compras dentro do País também envolvem processos que poderiam ser mais dinâmicos. Processos envolvendo empenho e pagamento normalmente levam meses. Apesar de haver um artigo previsto na Lei nº 8.666/93 (Lei de licitações e contratos da Administração Pública), de dispensa de licitação para alguns casos, o processo é longo e requer muitos documentos. Já existe um sistema de importação pelo CNPq (Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento), mas ele ainda necessita de ajustes de maneira a reduzir a burocracia. Temos que procurar mecanismos que diminuam a burocracia e punam aqueles que venham a gerir indevidamente os recursos públicos, sem partir do princípio em que todos são culpados e devem provar que não o são. Isso prejudica e atrasa a pesquisa no nosso país. Dessa forma, acredito que conseguiremos aumentar ainda mais a qualidade de nossas pesquisas, bem como a nossa produção científica.

Gregório Luís Silva Araújo é formado em engenharia civil pela UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte), mestre (2004) e doutor (2009) em geotecnia pela UnB (Universidade de Brasília). Atualmente é professor-adjunto da Universidade de Brasília e tem lecionado nos cursos de engenharia civil e engenharia ambiental. É professor de disciplinas do Programa de PósGraduação em geotecnia e vem orientando pesquisas de mestrado e doutorado em várias áreas. 10 | Fundações e Obras Geotécnicas


Fundações e Obras Geotécnicas | 11


| Coluna do Conselho | Perfil | Destaque | Jogo Rápido | O setor em Números | Reportagem | Notícia | Notas | Artigo | Em foco | Livro | Agenda | Geotecnia Ambiental | O que há de novo

História Desenvolvimento e dedicação |

Com quase 40 anos de carreira, Mauro Lozano já fundou empresas de consultoria, associações do setor e ainda capacita profissionais da área por Dafne Mazaia

F

oi em seu seio familiar que Mauro Hernandez Lozano obteve inspiração para seguir a carreira como engenheiro civil, mas a ideia não partiu de seus pais e sim de um tio, o engenheiro Walter Hernandez, tido como sua primeira influência. Nascido em São Paulo, capital, em março de 1955, Lozano tornou-se um dos maiores especialistas em geotecnia no Brasil. Formado em engenharia civil pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, em 1977, Lozano relata que o início da graduação teve alguns percalços, como a morte de seu pai, porém, mesmo com as dificuldades, conseguiu encontrar algo de que gostava e se empenhou ainda mais nos estudos. “Foi muito difícil o ingresso, por falta de recursos e com o falecimento de meu pai no segundo ano da escola de engenharia. No meu quarto ano me identifiquei com a paixão do professor Paulo Neme, ao ministrar suas aulas de mecânica dos solos. E, desde então, comecei a estudar mais do que necessário ao curso”, recorda. Durante a graduação, Mauro Lozano obteve seu primeiro contato com os bastidores do funcionamento do corpo docente e estreitou seus contatos com os professores. “Ainda no quarto ano, o chefe de cadeira das disciplinas de geotecnia, o professor Mauri Gotlieb, me deu a oportunidade de ser seu monitor de cadeira e comecei a ajudar no laboratório o falecido professor Tasso”, conta.

12 | Fundações e Obras Geotécnicas


Arquivo Pessoal Arquivo Pessoal

O engenheiro civil Mauro Hernandez Lozano

O engenheiro em uma obra de estabilização de encosta, em Paraisópolis (SP)

Sua especialização foi na área de Mecânica dos Solos, Obras de Terra e Fundações, na EPUSP (Escola Politécnica da Universidade de São Paulo), entre 1978 e 1980. “Quando me formei comecei a fazer pós-graduação em engenharia geotécnica. Estudo geotecnia e a desenvolvo com a prática dos trabalhos do dia a dia, desde as investigações de laboratório e campo, projeto, acompanhamento de obra e controle tecnológico”, menciona o engenheiro civil.

Rumos profissionais Já como engenheiro civil, atuou na empresa CNEC, como engenheiro de solos, local onde ficou por quase dez anos, entre 1976 e 1985. Em seguida, foi para a GH Engenharia, onde permaneceu até 1988, como coordenador de projetos na área de geotecnia. Com suas especializações e experiência, o engenheiro foi conquistando autonomia para realizar seus projetos. Em 1987, Lozano trabalhou em um escritório próprio, com elaboração de projetos, direção técnica de obras, prestação de serviços e consultoria. Em 1988, fundou a empresa Dýnamis Engenharia Geotécnica, onde atua na função de responsável técnico. Ao longo de sua carreira realizou diversos trabalhos nas áreas de barragens e obras hidráulicas, saneamento e proteção ambiental, projetos industriais, de edificações, estradas, vias, acessos, loteamentos, conjuntos habitacionais, entre outros. Já foi o responsável técnico de várias campanhas de investigações geotécnicas de campo e também de laboratório, além de desenvolver estudos de percolação d’água, de estabilidade de taludes (aterro e cortes) e encostas, de sistemas de drenagem superficial e subterrânea, de projetos de proteção superficial contra erosão, de reforços de taludes e de fundações de edifícios e em solos moles. Também já participou de atividades relacionadas à terraplanagem, infraestrutura ferroviá­ria, pisos industriais, pavimentação, aterros de ponta e hidráulicos, em projetos de instrumentação, em sistemas de rebaixamento de lençol freático, de estudos de túneis e escavação a céu aberto, de cálculos de tensões em muros de arrimo, entre outros. Além da empresa Dýnamis, o engenheiro civil também foi sócio-fundador e vice-presidente da ABEG (Associação Brasileira das Fundações e Obras Geotécnicas | 13


| Coluna do Conselho | Perfil | Destaque

Empresas de Projetos e Consultoria de En| Jogo Rápido genharia Geotécnica), assim como participa como diretor-técnico de outras entida| O setor em Números des, como a ABMS (Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geo­ | Reportagem técnica), da ABGE (Associação Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental), | Notícia entre outras. | Notas

Quando a Dýnamis completou 25 anos de existência, | Artigo Lozano decidiu criar a empresa TriGeo (Engenharia Geotécnica Trilógica), | Em base focona ciência trilógica, que englocom ba ciência, filosofia e metafísica. O grupo | Livro constitui-se do mesmo corpo técnico da Dýnamis. Ter desenvolvido a TriGeo é uma | Agenda de suas maiores satisfações. “O que faço hoje com o Sistema TriGeo de Empreende| Geotecnia Ambiental dorismo de Engenharia Geotécnica é um | O que dos meushá trabalhos de destaque, onde inde novo visto tudo para desenvolver o empreende| História dor de engenharia geotécnica”, declara. A empresa, de consultoria e projetos em engenharia geotécnica, é considerada a única no Brasil que possui dois laboratórios para estudos do solo.

Durante uma obra de estabilização de encosta em Paraisópolis (SP)

a TriGeo nasceu dessa vontade. “Tenho uma satisfação tão grande com essa prática que criei uma Academia de Empreendedorismo de Engenharia Geotécnica”. A empresa fornece vários cursos, como de terraplanagem, de aterro reforçado, de fundações, entre outros temas relacionados. Na época que ministrava aulas na Universidade Presbiteriana Mackenzie, ele coordenou a disciplina de Mecânica dos Solos, Obras de Terra e Fundações, por aproximadamente 24 anos. Após esse período, suas atividades didáticas concentraram-se nos cursos livres. “Desenvolvi cerca de dez cursos livres de cerca de dez a 20 horas e que já apresento há mais de 15 anos”, destaca.

O prazer pelo ensino Entre 1978 e 2003, Mauro Lozano também esteve presente no corpo docente da Escola de Engenharia da Universidade Presbiteriana Mackenzie. De acordo com o engenheiro, conciliar as atividades na sala de aula com sua atuação prática no setor é proveitoso, podendo ser até mesmo uma forma a mais de aprender. “É muito agradável, pois podemos passar nossos talentos e experiência teórica e prática aos jovens. Costumo dizer e sentir que o professor ao ministrar o conhecimento é quem mais aprende”, diz. Ele explica que lecionar é uma atividade prazerosa, tanto que uma de suas empresas, Mauro Lozano criou as empresas Dýnamis e TriGeo 14 | Fundações e Obras Geotécnicas


Vários profissionais influentes passaram por sua vida, mas ele destaca alguns nomes como o professor Victor de Mello, do Departamento de Estruturas e Fundações da Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo), o engenheiro civil Milton Vargas, uma das grandes personalidades da geotecnia no Brasil, além de diversos professores e

O engenheiro em uma de suas inspeções

Mercado atual e as referências Mesmo que o cenário econômico e industrial deste ano não tenha revelado índices muito positivos, o engenheiro Mauro Lozano acredita que o mercado de engenharia no País ainda tem muito a enriquecer, ainda mais pela geotecnia ser ainda um segmento novo. “Ainda podemos prosperar muito, pois a engenharia geotécnica é jovem no Brasil e, consequentemente, atinge de forma tímida as necessidades da sociedade. Temos muitíssimo a fazer: normas, procedimentos e capacitação.”, acrescenta.

Ao longo de quase 40 anos de carreira, ele já trabalhou em obras de barragens, taludes, saneamento, entre outras

Durante uma inspeção das obras das barragens de Assis, da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), em 2005

membros da ABMS e da ABGE.

Além de atuar com engenharia geotécnica, também já ministrou aulas na Universidade Presbiteriana Mackenzie e realiza cursos livres para profissionais da área

“Temos oferecido cursos presenciais e a distância para formar uma ‘família geotécnica’ inspirada no talento dado por Deus e formada na sua palavra e para sua glória”, crê Lozano. Por meio de seus cursos, atividades presenciais e a distância, ele espera que consiga incentivar o avanço das práticas geotécnicas. Fundações e Obras Geotécnicas | 15


| Perfil | Destaque | Jogo Rápido | O setor em Números | Reportagem | Notícia | Notas | Artigo

Em foco Caminhos da Engenharia aborda a administração da Livro crise Agenda hídrica pela Sabesp | | |

| Geotecnia Ambiental Os palestrantes relataram os desafios e as soluções encontradas para solucionar o | O que há de novo colapso e planejar a segurança hídrica para | História os próximos anos

por Dellana Wolney Plateia do evento “Caminhos da Engenharia”

A

estação chuvosa do ano de 2014 no Sudeste do Brasil transcorreu com valores de chuva abaixo da média histórica. De acordo com o artigo “A seca e a crise hídrica de 2014-2015 em São Paulo (SP)”, da Revista USP (Universidade de São Paulo), a causa principal atribuída a essa falta de chuva foi a atuação de um intenso, persistente e anômalo sistema de alta pressão atmosférica que prejudicou o transporte de umidade da Amazônia. Para agravar ainda mais a situação, houve o desenvolvimento dos principais sistemas causadores de chuva: a Zona de Convergência do Atlântico Sul e as frentes frias. Esse sistema, denominado de bloqueio atmosférico, teve uma duração de 45 dias, o que é extremamente raro. Desta forma, a combinação dos baixos índices pluviométricos, o grande crescimento da demanda de água e o ineficiente gerenciamento desse recurso gerou uma “crise hídrica” durante os anos de 2014 e 2015. 16 | Fundações e Obras Geotécnicas

Na época, o volume do Sistema Cantareira, que é o maior dos sistemas administrados pela Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), que atende cerca de 8,8 milhões de pessoas na Grande São Paulo, atingiu sua reserva técnica. Mesmo a crise tendo findado, o Estado de São Paulo tem pela frente o desafio de desenvolver um plano de gestão para garantir um sistema de abastecimento que conte com o Sistema Cantareira e a recuperação do seu nível, e com obras que tragam um futuro mais seguro para a população, no que se refere a recursos hídricos. A Sabesp tem realizado diversas obras, visando ampliar a oferta de água e interligar reservatórios e sistemas. Os novos empreendimentos e investimen-


Programação

Dellana Wolney / Editora Rudder

A iniciativa intitulada “Capítulo X – Crise Hídrica: como foi administrada a pior seca da história paulista”, partiu da superintendência de Gestão de Empreendimentos da Metropolitana da empresa, que enxergou na oportunidade uma forma de dividir com os profissionais de engenharia todos os desafios da companhia no enfrentamento da crise. Na abertura do encontro, o secretário de Saneamento e Recursos Hídricos do Estado de São Paulo, Benedito Braga explicou que uma programação com tantas palestras relevantes reforça a importância de discutir o sanea­ mento e os recursos hídricos.

“Este assunto deve ser tratado de forma técnica, por uma equipe qualificada como a que temos”, comenta. Em seguida, o presidente da Sabesp, Jerson Kelman fez a primeira apresentação do dia que abordou os cenários futuros previstos pela companhia. Na ocasião, ele exaltou a equipe que venceu uma crise sem precedentes e garantiu que a população da Região Metropolitana de São Paulo não passaria mais pela mesma inquietação, isso porque a Sabesp fez diversas obras emergenciais, quanto estruturais, que promovem a segurança hídrica do Estado. Kelman relatou que quando assumiu a Sabesp, no mês de janeiro de 2015, ficou impressionado

tos são de interesse da sociedade, bem como da engenharia nacional, partindo do ponto de vista técnico. Para debater, apresentar e disseminar estas novas soluções e desafios, o tradicional evento “Caminhos da Engenharia” teve como tema nesta edição a crise hídrica em São Paulo. Realizado no dia 2 de agosto, no Instituto de Engenharia, o encontro reuniu profissionais da Sabesp para tratar os conceitos de segurança hídrica, projetos de interligação e captação já realizados e a sua importância no combate à escassez hídrica para a Região Metropolitana de São Paulo, além dos projetos futuros idealizados pela companhia.

O engenheiro da empresa GeoCompany e diretor de infraestrutura do Instituto de Engenharia, Roberto Kochen Fundações e Obras Geotécnicas | 17


| Perfil | Destaque | Jogo Rápido | O setor em Números | Reportagem | Notícia | Notas | Artigo | Em foco | Livro | Agenda

O secretário de Saneamento e Recursos Hídricos do Estado de São Paulo, Benedito Braga

| Geotecnia Ambiental | O que há de novo | História

de água, e que apesar de causar desconfortos à população, se mostrou necessária e inevitável, pois a crise foi severa e atingiu a todos. A instalação de VRPs (Válvulas Redutoras de Pressão) permite a regularidade no abastecimento. Com o avanço dos equipamentos hidráulicos e da transmissão de dados é possível acompanhar em tempo real a quantidade de água utilizada em uma determinada região e calibrar remotamente a pressão existente na tubulação local para reduzir a quantidade de água perdida. A Sabesp já aplica esta tecnologia desde a década de 1990, mas com a crise esta ação foi intensificada, com o objetivo de evitar a exaustão dos reservatórios e contribuir para a manutenção do abastecimento até a normalidade das chuvas.

Painéis

Durante os painéis do encontro, o diretor da Metropolitana Sabesp, Paulo Massato Yoshimoto e o diretor de Tecnologia, Empreendimentos e Meio Ambiente da Sabesp, Edison Airoldi dividiram com a plateia as experiO superintendente da Unidade de Negócio Sul da Sabesp, Roberval Tavares de Souza

O presidente da Sabesp, Jerson Kelman

com a capacidade técnica do corpo de engenheiros para buscar alternativas para enfrentar a crise. “Felizmente, as escolhas foram um sucesso para que São Paulo não entrasse em colapso. Depois da primeira medida (reserva técnica), diversas ações foram tomadas, como o programa de bônus, transferência de água entre os sistemas e a diminuição da pressão nas tubulações”. Ele diz que também houve a redução de pressão nas tubulações, que é uma tecnologia praticada rotineiramente pelas companhias de saneamento para redução de perdas 18 | Fundações e Obras Geotécnicas


“As reservas técnicas, por exemplo, tiveram grande impacto. Em termos de volume, foram construídas duas barragens na Guarapiranga, em seis meses. Além das obras da Sabesp, a colaboração da população foi essencial. Os funcionários da empresa foram às ruas pedir às pessoas que economizassem. Essas pessoas tiveram um papel importantíssimo para fazer com que a população utilizasse a água de maneira racional”, enfatiza Yoshimoto.

O coordenador de Empreendimentos Sudoeste da Sabesp, Renato Frazão

ências de suas respectivas áreas no enfrentamento da crise hídrica de 2014/2015. Com o tema “Obras de Emergência no Cantareira e Reservas Técnicas”, Airoldi destacou o desafio que a Sabesp teve de administrar pouca água para uma população de mais de 20 milhões de pessoas. Ele ainda fez um panorama das obras estruturantes em curso na companhia, que têm como finalidade oferecer segurança hídrica a toda a Região Metropolitana de São Paulo, como o Sistema Produtor São Lourenço, a interligação entre as represas Jaguari (Bacia do Vale do Paraíba) e Atibainha (Sistema Cantareira) e o aproveitamento da água do Rio Itapanhaú. Yoshimoto foi categórico sobre a segurança hídrica do abastecimento em 2016. Considerando o pior cenário, ele projeta que o Cantareira estará em dezembro deste ano com 19% acumulado na represa, mais o volume das reservas técnicas. “Temos água para mais dois anos”, garante ele, esclarecendo que a sua confiança está apoiada nas obras emergenciais e estruturantes construí­ das pela Sabesp.

O coordenador de Empreendimentos Nordeste da Sabesp, Carlos Pleul

Gerente da Divisão de Manutenção Mecânica e Caldeiraria da Sabesp, Alberto Ribeiro Fundações e Obras Geotécnicas | 19


| Perfil | Destaque | Jogo Rápido | O setor em Números

Solução a longo prazo | Reportagem

Uma das palestras mais aguardadas foi a do superintendente da | Notícia Sabesp, Sílvio Leifert sobre a PPP (Parceria Público-Privada) do Sistema São Lourenço. Na ocasião, ele falou sobre aspectos téc| Notas nicos e a situação atual em que o projeto se encontra. As obras do Sistema Produtor de Água São Lourenço completaram dois | Artigo anos no mês de abril com cerca de 3.700 funcionários trabalhando em 29 canteiros. | Em foco

A primeira passagem embaixo da rodovia Raposo Tavares por onde passará a adutora de água tratada já foi finalizada, além | Livro disso, o sistema já conta com a escavação da segunda passagem, também por baixo da rodovia, que foi iniciada no mês de março. | Agenda | Geotecnia Ambiental | O que há de novo | História

A gerente do Departamento de Planejamento, Gestão e Operação Produção da Sabesp, Silvana Franco

Neste local passará uma subadutora que atenderá o bairro de Atalaia, em Cotia (SP).

O gerente da Divisão de Manutenção Elétrica e Instrumentação da Sabesp, José Carlos Basílio

O gerente da Divisão da ETA ABV da Sabesp, Angelino Aniello Saullo 20 | Fundações e Obras Geotécnicas

Outra etapa em andamento é a montagem de três reservatórios, os maiores da Sabesp, na ETA (Estação de Tratamento de Água) de Vargem Grande, com capacidade para armazenar 25 milhões de litros de água bruta cada um. No local também será construído um reservatório de concreto, que armazenará 20 milhões de litros de água tratada. Outros dois reservatórios metálicos, com capacidade para armazenar 30 milhões de litros de água, serão montados em Itapevi (SP). A condução dessa água até os setores de abastecimento, por sua vez, será realizado por meio de duas estações elevatórias e de novas adutoras e subadutoras que vão ligar o São Lourenço ao sistema já existente. Até março já foram instalados 33 quilômetros de adutoras dos 83 programados e escavados 648 metros de um túnel que terá mil


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metros e fará parte da tubulação que levará água tratada até as residências.

O coordenador de Empreendimentos de Esgotos Sul da Sabesp, Marcelo Gonçalves

Quando estiver pronto, estima-se que o empreendimento atenderá até dois milhões de moradores da Região Metropolitana de São Paulo. A captação de água será de 4,7 mil litros por segundo na Cachoeira do França, em Ibiúna. Segundo Leifert, há ainda a possibilidade de ampliação dessa oferta para 6,4 mil litros por segundo, quantia suficiente para abastecer mais 500 mil pessoas. A Sabesp já protocolou o pedido de ampliação da outorga na ANNEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) e no DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica).

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Também participaram do evento outros profissionais da Sabesp: Roberval de Souza, Renato Frazão, Carlos Pleul, Alberto Ribeiro, José Basílio, Angelino Saullo, Silvana Franco, Marcelo Gonçalves de Jesus, Marco Antonio Barros e Guilherme Machado Paixão. Cada um deles dividiu um pouco da experiência adquirida ao longo desses dois últimos anos na companhia. Por fim, um debate técnico entre o público e os participantes foi coordenado pelo engenheiro da empresa GeoCompany e diretor de infraestrutura do Instituto de Engenharia, Roberto Kochen.

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O superintendente da Sabesp, Sílvio Leifert Fundações e Obras Geotécnicas | 21


| O setor em Números

Dellana Wolney / Editora Rudder

| Reportagem | Notícia | Notas | Artigo | Em foco | Livro | Agenda | Geotecnia Ambiental | O que há de novo | História

Primeiro Desafio de Taludes

Primeiro Desafio de Taludes é realizado na UFPR A finalidade da competição é intensificar o interesse dos alunos de graduação na área da geotecnia por meio da aplicação prática de conceitos vistos em sala de aula por Dellana Wolney

22 | Fundações e Obras Geotécnicas

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o dia 12 de agosto foi realizado na UFPR (Universidade Federal do Paraná) o primeiro Desafio de Taludes. O projeto desenvolvido pelo grupo PET (Programa de Educação Tutorial) Engenharia Civil da UFPR em parceria com o Grupo de Estudos em Geotecnia contou com a supervisão do professor do Departamento de Construção Civil da UFPR, Vítor Pereira Faro, e com o patrocínio das empresas Maccaferri e Fugro In Situ e das instituições Institutos LACTEC (Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento) e da ABMS (Associação

Brasileira de Mecânica dos solos e Engenharia Geotécnica). A finalidade do desafio foi intensificar o interesse dos alunos de graduação pela área geotécnica, por meio da aplicação prática de conceitos estudados em sala de aula. Tendo isso em vista, a competição consistiu na execução de uma obra geotécnica, em modelo reduzido, simulando a construção de um talude em escala real. O edital abriu vagas para participação de quaisquer alunos matriculados no curso de engenharia civil, independente do período.


O engenheiro e coordenador de marketing América Latina da Maccaferri, Paulo César Belesso Ferretti durante a abertura da competição

uma forma de complementar os assuntos abordados em sala de aula. “Trata-se de um tema de interesse na formação técnica e científica dos nossos alunos de graduação”.

Apresentação dos regulamentos

Foram 16 vagas para equipes no total, oito destinadas a equipes da UFPR e oito vagas para outras instituições de ensino superior do Brasil. Os grupos foram formados por, no mínimo, dois integrantes e no máximo quatro. Antes do desafio foi criado pela equipe um mecanismo de esclarecimento de dúvidas, por meio de um formulário online. As perguntas e respostas feitas no questionário foram disponibilizadas em uma planilha na internet. O objetivo do mecanismo foi disponibilizar todas as respostas dadas pela organização de uma forma que não privilegiasse nenhuma equipe participante.

Iniciativa

O professor do Departamento de Construção Civil da UFPR, Vítor Pereira Faro afirma que a ideia de realizar o Desafio de Taludes surgiu após uma reunião com os alunos do Grupo PET Engenharia Civil da UFPR. Na ocasião, eles demonstraram interesse em promover algum

tipo de evento relacionado à geotecnia. “Os alunos haviam participado de um evento semelhante no II CONPET Civil (2º Congresso Nacional dos Grupos PET de Engenharia Civil), realizado em março de 2015 na Universidade Estadual de Maringá. Como eu também já havia participado de algo similar durante o meu mestrado na Universidade de Coimbra (Portugal), prontamente os incentivei a levar a ideia adiante e me disponibilizei para ajudar”, explica. A iniciativa trouxe para os alunos, além do contato com a geo­ tecnia, uma experiência prática com geossintéticos que atual­ mente são utilizados em larga escala na construção civil. Segundo o coordenador do curso de Engenharia Civil da UFPR, Julio Gomes, o segmento de geos­sintéticos provavelmente foi escolhido pela sua utilização em estruturas de contenção e proteção contra erosão e como

Como patrocinadora, a empresa Maccaferri que sempre busca contribuir com a formação de estudantes de graduação e pós-graduação na área de Engenharia Civil. Um exemplo é o trabalho que foi iniciado na década de 1990 pelo engenheiro Lavoisier Machado, em todas as universidades de engenharia do Brasil, e que continua a ser feito hoje pelos engenheiros de cada unidade da Maccaferri na América La-

A premiação do primeiro lugar compreendeu inscrições para o XVII COBRAMSEG (Congresso Brasileiro de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica) ou calculadoras científicas para todos os participantes do grupo, além de livros técnicos e materiais estilizados cedidos pela Maccaferri Fundações e Obras Geotécnicas | 23


| O setor em Números | Reportagem | Notícia | Notas | Artigo | Em foco | Livro Planejamento para a montagem do modelo real

| Agenda

| Geotecnia Ambiental | O que há de novo | História

tina. A partir dessa premissa adotada há décadas, a empresa se motivou com um evento que trouxe esse tema. “Eu como engenheiro civil, trabalhando na área de solos, sempre imaginei realizar uma competição como essa, na qual os alunos pudessem exercitar o raciocínio que uma obra geotécnica lhes obriga a ter, como definição técnica, funcional, resistência dos materiais e economia. Mesmo com a ideia, nunca havia encontrado uma instituição de ensino e um grupo de alunos com vontade de organizar e viabilizar uma competição assim”, relata o engenheiro e coordenador de marketing América Latina da Maccaferri, Paulo César Belesso Ferretti, que após tirar a 24 | Fundações e Obras Geotécnicas

ideia do papel se diz feliz, tanto do ponto de vista pessoal, como profissional.

Projeto fictício e modelo real

Para a confecção da estrutura geotécnica do desafio foi apresentado um problema fictício envolvendo a estrada duplicada de Rohan (Terra-Média) que faz ligação entre o Condado e as terras de Mordor. A organização criou este estudo de caso baseado no mundo de fantasia criado por J.R.R. Tolkien, escritor de obras como a trilogia “O Senhor dos Anéis”, “O Hobbit” e “O Silmarillion”. A descrição do local apresentou um histórico de acidentes envolvendo rompimento de taludes. Por ser influenciada pela intensa precipitação e pela inclinação dos

taludes foi necessária a reconstituição de algumas destas estruturas de terra. A missão foi dada e a necessidade foi melhorar a condição de tráfego neste “trecho da estrada”, por meio da construção de um talude pelo qual passaria o eixo da via, visto que ela é duplicada. O sentido Condado-Gondor se localiza na região do pé do talude, enquanto o sentido de retorno ao condado está na crista da estrutura. Por estas razões algumas condições foram impostas para o projeto. Primeiramente, a obra geotécnica fictícia tinha que abranger a solução do tipo “Terra Armada” com utilização de geotêxteis próprios para esta finalidade; a contenção deveria ser o mais vertical possível (inclinação de 90º), permitindo melhorias no uso do solo nesta região; a área do talude obedece-


ria duas condições: ter dimensões suficientes para execução das vias e estar nivelada, evitando trabalhos com terraplenagem; a altura mínima estabelecida foi de 40 m para possibilitar sua implantação, devido às condições geológicas locais; uso de solo local e cronograma reduzido. Na construção dos modelos reais todas as equipes tiveram os mesmos materiais e utilizaram somente o material fornecido pela organização que foi 100 kg de areia, concedida pela empresa Fugro In Situ; uma folha de 66 x 96 cm de papel-cartão; um tubo de cola; uma régua graduada; um soquete de compactação e um quadro-resumo do talude a ser preenchido no momento da execução. Fundações e Obras Geotécnicas | 25


| O setor em Números | Reportagem | Notícia | Notas | Artigo | Em foco | Livro | Agenda | Geotecnia Ambiental | O que há de novo Inserção de carga no talude

| História

Exigências

Algumas condições foram impostas para o modelo real, como a determinação que o talude deveria ser executado segundo a técnica de “Terra Armada”, pois esta prevê a utilização de geossintéticos no incremento de resistência ao talude. Para a construção do modelo, os competidores utilizaram o papel disponibilizado como reforço, estabelecendo suas dimensões segundo as fórmulas fornecidas no edital. A estrutura tinha que ser montada dentro da caixa fornecida pela Maccaferri, cujas dimensões eram de 40 x 50 x 60 cm. Um quadro-resumo do modelo de talude foi elaborado por cada equipe, pois o processo de avaliação teve início com a entrega desse material à comissão organizadora. Depois disso, foi realizada a inspeção do paramento e a medida dos parâmetros usados na avaliação. Não eram permitidas quaisquer alterações no dimensionamento do papel após a entrega do quadro-resumo e havia uma placa-guia, na qual o paramento se apoiava. Ela estava posicionada junto a uma das faces da caixa e qualquer menção a um recuo de 10 cm entre a face do talude e a face da caixa era desconsiderada.

Carregamento máximo 26 | Fundações e Obras Geotécnicas

A classificação das equipes participantes foi feita mediante a avaliação de alguns elementos como carga suportada,

Rompimento do talude

horizontalidade da área superior, uso do tempo, quantidade de papel, deformação, tamanho da superfície de contato entre o papel e as paredes da caixa (abas) e altura do talude. Então, a nota final foi composta pela soma das notas parciais, descontadas as penalidades aplicáveis, multiplicadas por seus respectivos pesos. No desafio, muitos taludes apresentaram ruptura, outros deformação, desta forma, a equipe vencedora composta pelos estudantes da Universidade Positivo, Juliana Rodrigues Maciel, Reginaldo Rodrigues Andrade, Elesier Tabarini Silva Junior e Mário Junior foi escolhida por apresentar os melhores resultados. De acordo com Ferretti, o grupo vencedor soube engenhar e achar o ponto perfeito no desafio.


“O resultado positivo da equipe que ganhou, consistiu na economia de material, resistência e quantidades de fitas necessárias que eles utilizaram para suportar todo o carregamento de 300 kgf, com o mínimo de deformação. As equipes que ficaram em segundo e terceiro lugar, respectivamente, também suportaram as cargas máximas previstas, mas sofreram maiores deformações e tiveram menor economia de material, porém foram igualmente eficazes”, conta. Ele acredita que, durante a competição, os grupos foram percebendo o comportamento mecânico dos modelos e como deveriam avaliar a estabilidade do conjunto, levando

Equipe organizadora do Desafio de Taludes

em conta os mecanismos de falhas dos modelos que romperam e daqueles que não romperam, mas que também não economizaram material, portanto essa avaliação levou alguns grupos a voltarem para a prancheta e repensarem em seus protótipos e respectivos projetos. “A confecção das estruturas em papel no modelo reduzido representaram exatamente as condições e situações que vivenciamos em nossa vida profissional como engenheiros civis, principalmente no momento da definição de uma solução de engenharia, que deve levar em consideração os critérios técnicos, econômicos e funcionais do projeto, bem como a obra em que se está trabalhando, e esta é exatamente a missão dos engenheiros da Maccaferri, encontrar a melhor solução técnica dentro das condicionantes

impostas por nossos clientes”, destaca Ferretti.

Sucesso

O coordenador do curso de Engenharia Civil da UFPR, Julio Gomes comenta que especificamente no curso de Engenharia Civil da UFPR, a matriz curricular contempla disciplinas obrigatórias como Introdução à Engenharia Geo­ técnica, Mecânica dos Solos, Laboratório de Mecânica dos Solos, Obras Geotécnicas e Geotecnia das Fundações que dão oportunidade aos alunos de vivenciarem este segmento da engenharia civil, para que futuramente também optem por esta área. Para ele, a própria matriz curricular do curso denota a importância da área de Mecânica dos Solos e Geo­ tecnia na formação profissional do aluno da UFPR. Fundações e Obras Geotécnicas | 27


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Alguns participantes do desafio juntamente com os professores e representantes das empresas colaboradoras

Esse desafio é uma possibilidade para o aluno relacionar os conceitos teóricos, vistos em sala de aula, com o projeto e a execução do experimento e com o comportamento físico da estrutura. O estabelecimento dessa relação permite muitas coisas, como o aluno construir uma base mais sólida de conhecimento técnico e científico que será muito útil na sua atuação como profissional.

tam de pôr a ‘mão na massa’ e este tipo de atividade permite um ambiente de aprendizado distinto da sala de aula. Quanto à escolha da área, desafios dessa natureza despertam a curiosidade do aluno sobre o tema, influenciando realmente na escolha da área profissional futura, inclusive na decisão de continuar os seus estudos em nível de pós-graduação (especialização, mestrado ou doutorado)”, analisa Gomes.

“Existe também o aspecto motivacional, pois os alunos gos-

O engenheiro Paulo César Belesso Ferretti compartilha

28 | Fundações e Obras Geotécnicas

a mesma opinião e complementa que o formato da competição despertou o interesse nos alunos em fazer protótipos mais eficazes e que suportassem maiores cargas e ao mesmo tempo que economizassem material. “Vi um grupo em que um dos integrantes encarregado das compactações das camadas com o soquete padronizado, compactava todas as arestas da caixa, não deixando sequer um trecho sem estar compactado”, recorda. Ele diz que este é o conceito atrás de um muro em solo reforçado, e que os grupos perceberam que a compactação é um dos fatores fundamentais para o sucesso da estrutura e com certeza levarão isso em suas


vidas profissionais, pois quando se formarem vão se deparar com muros em solo reforçado, e assim darão mais importância à compactação das camadas de solo, um fator que muitas vezes é o agente causador de patologias estruturais e até mesmo de deformações excessivas em muros em solo reforçado. A repórter Dellana Wolney viajou para a UFPR para realizar essa cobertura a convite da empresa Maccaferri.

Equipe vencedora

Segundo lugar

Terceiro lugar

FUNDAÇÕES & OBRAS GEOTÉCNICAS • 29


| Reportagem | Notícia | Notas | Artigo | Em foco | Livro | Agenda | Geotecnia Ambiental | O que há de novo | História

Legislação proíbe uso de bate-estaca em Guarulhos A decisão sancionada e promulgada no ano passado ainda gera debates no meio técnico por Dellana Wolney

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o dia 16 de outubro de 2015, no Diário Oficial nº 051 do Município de Guarulhos (SP), foi sancionada e promulgada a lei que determina mudanças no uso de equipamento de estaqueamento na cidade. Foram incluídos no art. 143 da Lei Municipal nº 6.046/04, que trata do Código de Edificações e Licenciamento Urbano no Município de Guarulhos, alguns parágrafos que definem a proibição do uso de equipamento de estaqueamento tipo “bateestaca”, utilizado na atividade de estaqueamento da construção civil, exceto equipamentos do tipo “hélice contínua ou pré-furo hidráulico”. É comum na construção civil a utilização do bate-estaca, principalmente em obras de contenção e fundações de prédios de grande envergadura. Uma das justificativas para esta proibição é que a utilização deste tipo de equipamento, nesta época de

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aceleradas obras, tem prejudicado não apenas o descanso de muitos, mas as estruturas dos imóveis antigos, devido à inconsistência do solo e da precariedade das técnicas construtivas utilizadas na época destas construções vizinhas. A aplicação da tecnologia das estacas escavadas ou de hélice contínua ressalta-se como mais apropriada, na medida em que não geram os prejuízos lembrados. Existem atualmente, equipamentos mais modernos que podem substituí-los com segurança e que têm um impacto menor ao meio ambiente, são mais eficazes, pois diminuem a poluição sonora e os danos estruturais do entorno.

O presidente do Núcleo São Paulo da ABMS (Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia Geotécnica), Celso Nogueira Corrêa explica que na fundação as estacas cravadas (de concreto ou metálica) normalmente podem ser substituídas por estacas hélice contínua ou estacas escavadas de grande diâmetro com fluido estabilizante. As estacas hélice contínua têm limitação de comprimento, porém possuem diâmetros que variam de 0,30 a 1,20 m, já as estacas escavadas não têm limite de comprimento e os diâmetros variam entre 0,80 e 2,50 m, ou seja, são utilizadas para grandes cargas. Para contenção, as alternativas são estacas hélice secante e pa-

rede diafragma, soluções utilizadas quando o perfil geotécnico exige, ou seja, solo de baixa capacidade de suporte, a escavação e nível do lençol freático a pouca profundidade, entretanto, são soluções mais onerosas. Além do custo em alguns casos, elas têm limite mínimo de espessura, diminuindo a área útil dos subsolos.

Decisão

A decisão tem gerado discussão no meio profissional, visto que o bate-estaca é um método de fundação mais barato dentre as alternativas disponíveis. A sua proibição pode onerar os custos das obras entre outras consequências. Para o diretor-presidente do SINABEF (Sindicato da Indústria de Engenharia de Fundações e Geotecnia do Estado de São Paulo), Roberto José Foá, a proibição é incongruente com ingerência política em matéria técnica. Fundações e Obras Geotécnicas | 31


| Notícia | Notas

“Geralmente, a execução de | Artigo e estacas cravadas em fundações particular pode causar pertur| Em foco bação ambiental, incômodos e danos a vizinhos, cujas conse| Livro são de responsabilidaquências de dos construtores e seus sub| Agenda A lei em questão contratados. demonstra desconhecimento | Geotecnia Ambiental do assunto, tipifica os equipamentos de forma incorreta, e - o | O que há de novo que é mais grave - generaliza a proibição, mesmo quando não | História existem vizinhos. Isto sem falar na redução de empregos e no parque de equipamentos, muitos de última geração que exigiram pesados investimentos das empresas do setor”, afirma Foá. Ele justifica que as estacas cravadas com bate-estacas, pré-fabricadas, de concreto armado ou aço, não são escolhidas como alternativa de fundação somente pelo item custo. Algumas vezes são mais caras que as estacas escavadas, todavia, elas têm

Jon Candy / Flickr

Thomas Quine / Flickr

| Reportagem

32 | Fundações e Obras Geotécnicas

outras vantagens importantes como maior confiabilidade, pois são “cravadas”, sentindo a real reação do solo, sendo, ainda, submetidas a esforços superiores aos de utilização e facilidade nos ensaios e provas de carga. Corrêa diz que a afirmação de que a utilização de bate-estaca é um método de fundação mais barato do que a estaca escavada pode ser correta se houver possibilidade técnica da utilização das duas alternativas (cravada x escavada). “Nem sempre é possível, depende da capacidade de carga das estacas. Para pequenas cargas a estaca cravada pode ser mais vantajosa. Do ponto de vista da contenção, normalmente é o inverso, ou seja, soluções de contenções com escavações são quase sempre mais caras e só são utilizadas onde o solo e o nível do lençol freático exigem”, esclarece. As estacas cravadas também são vantajosas no que se diz respeito à qualidade superior do concreto pré-fabricado ou do metal aço, se comparado ao concreto moldado in loco, com inspeção desde o momento do recebimento das matérias-primas até o da instalação no solo e, no caso do concreto, o processo de mistura é por meio de agitadores intensivos, com rígidos controles de pesagem dos componentes e da umidade. Elas também possuem apurados controles de execução com medições das reações do solo utilizando-se das técnicas de “negas” e “repiques”, além de segurança para atravessar so-

los moles ou com nível d’água alto, obra limpa, sem resíduos de escavação e custos pré-fixados.

Representatividade

Para aprovações de leis ou decisões que envolvem algum setor técnico, consultar associações da área, além da população, também é uma tarefa importante, mas nem sempre realizada. O engenheiro Roberto José Foá diz que neste caso não houve participação do SINABEF, porém o sindicato foi procurado em busca da defesa dos direitos dos seus associados e da comunidade como um todo. “As referidas instituições (SINABEF e ABMS), efetivamente, têm competência técnica e podem contribuir para as melhores práticas nesta área da engenharia, inclusive, participando de decisões políticas que venham a ser necessárias”, pontua. Corrêa compartilha uma opinião similar à de Foá e acredita que a aprovação da lei foi uma decisão precipitada, sem discussão com o setor e que traz muitos prejuízos, podendo até inviabilizar empreendimentos e afetar diretamente a economia da cidade. “É uma temeridade uma lei que tem cunho técnico não ser discutida com o setor e com a sociedade. As associações representam, na maior parte dos casos, o ‘estado da arte’ em suas especialidades e, portanto, têm muito a contribuir com a discussão com os legisladores e a sociedade como um todo”, defende. Quanto às consequências que esta lei implica na execução dos trabalhos de fundação em uma obra, ele comenta que na maior parte dos casos, o bate-estaca é utilizado hoje para cravação de perfis metálicos utilizados na contenção de uma escavação, deste modo, a principal consequência é a impossibilidade de empreendimentos com subsolos ou com qualquer escavação. Para fundação há alternativas na maior parte das vezes. Mesmo não tendo sido consultado, o SINABEF fez seu papel de tentar reverter a situação e mostrar uma visão mais técnica


Eric Kilby / Flickr

sobre a utilização de bate-estacas. Desta forma, no dia primeiro de setembro deste ano, o desembargador do TJ-SP (do Tribunal de Justiça de São Paulo), Carlos Bueno, negou um pedido de liminar solicitado pelo SINABEF com o intuito de retomar a utilização do equipamento de “bate-estaca” no município. O sindicato pedia a suspensão da lei por inconstitucionalidade. O argumento do SINABEF é que falta ao município competência para legislar sobre uso de equipamentos em obras de construção civil, não se enquadrando o tema em assuntos de interesse local, e que a proibição legal interfere diretamente nas atividades econômicas das empresas de fundações e geotecnia. O desembargador, porém, não aceitou os argumentos do sindicato e alegou que a proibição combate a poluição sonora e os danos estruturais provocados em imóveis localizados no entorno da construção em que se realiza a atividade de estaqueamento.

Legislação em Santos

Em Santos (SP), as leis municipais complementares 683 e 684, que tratam das novas regras ao uso de bate-estacas e outros equipamentos para a construção de empreendimentos imobiliários ou obras em geral na cidade, já haviam sido sancionadas pela prefeitura. O horário para uso de máquinas e equipamentos em geral é das 8h às 18h nos dias úteis e das 8h às 12h aos sábados. No caso do bate-estaca seu uso é proibido nos finais de semana e feriado. Mesmo com estas regras não é permitido o nível de pressão sonora acima de 85 decibéis. A interrupção deve ser de 20 minutos a cada duas horas e de, no mínimo, uma hora entre 12h e 14h, de segunda a sexta. O descumprimento das regras pode acarretar na não expedição da licença, multa e até embargo da obra.

Para fundação de empreendimentos muito altos, as estacas cravadas ou escavadas, devem atingir profundidades de 50 m a 60 m. No caso das estacas cravadas, para atingir essa profundidade é imperiosa a utilização de estacas metálicas que são cravadas com martelos hidráulicos e ou vibratórios. “As restrições de horário para utilização de bate-estacas de queda livre causou algum impacto, porém o mercado se adaptou facilmente devido às características geológicas e geotécnicas da região”, destaca Corrêa. Hoje são utilizadas na fundação estacas metálicas com grande profundidade com martelo vibratório ou hidráulico de impacto, nos horários permitidos. E em alguns casos específicos para contenção com bate-estacas de queda-livre, também nos horários permitidos. Segundo Foá, neste caso de Santos, a prefeitura apenas regulamentou e não proibiu os trabalhos com este equipamento, medida considerada por ele de bom senso e aceitável.

O engenheiro Celso Nogueira Corrêa chama a atenção para o fato de que em Santos, por características do perfil geotécnico, não era comum há alguns anos, empreendimentos com subsolos, no máximo era feito um pavimento de garagem semienterrado, e consequentemente não era necessário a utilização de estacas metálicas como contenção. Após alguns anos, com o crescimento pujante da cidade, houve a necessidade de mais subsolos, porém devido ao perfil geotécnico da região se faz necessária a utilização de parede diafragma. Fundações e Obras Geotécnicas | 33


| Reportagem | Notícia | Notas

Lei das Estatais é publicada no Diário Oficial Em foco

| Artigo |

N

| Livro Com

dez vetos, a legislação também trouxe preocupação para entidades | Agenda de engenharia, por permitir que | Geotecnia empresas governamentais contratem Ambiental obras sem a necessidade de um | O que há de novo projeto de engenharia completo

o dia 30 de julho deste ano foi sancionada pelo presidente interino do Brasil, Michel Temer, a lei aprovada no dia 21 de junho pelo Congresso Nacional que prevê regras para a gestão das empresas estatais. A sanção foi publicada sob a forma da Lei nº 13.303/2016 na edição de 1º de julho do Diário Oficial da União com dez vetos. De acordo com informações da Agência Senado, Temer manteve artigos considerados “moralizadores” para a nomeação nas empresas, como a proibição de que dirigentes partidários ou com cargos políticos ocupassem diretorias de estatais, mas desistiu da solenidade para a sanção, porque a redação final dividiu aliados da Câmara dos Deputados e do Senado.

| História por Dellana Wolney

Os senadores restituíram o texto original (PLS – Projeto de Lei do Senado nº 555/2015), de autoria do senador do PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira), Tasso Jereissati, que proíbe a indicação para diretorias ou conselhos de estatais de dirigentes partidários ou de políticos que tivessem disputado eleições nos 36 meses anteriores à nomeação. Um dos vetos feito por Temer foi o artigo que proibia a participação do presidente da empresa no conselho de administração. Para ele, esse impedimento seria “inadequado do ponto de vista da gestão eficiente”, tendo em vista que o papel principal do conselho de administração é supervisionar as atividades da empresa. Outro veto é em relação à responsabilidade dos conselheiros da estatal em votações do conselho de administração. O texto vetado dava margem à interpretação de que todos poderiam ser responsabilizados pelas decisões do conselho, até mesmo os votos vencidos.

CONTRACT

ilustrações Freepik

Importância do projeto de engenharia

34 | Fundações e Obras Geotécnicas

Uma das preocupações que a Lei das Estatais trouxe está intimamente relacionada às entidades de engenharia e arquitetura do Brasil. O ponto de controvérsia da nova legislação é que ela permite que as empresas governamentais contratem obras sem a necessidade de um projeto de engenharia completo. A ABCE (Associação Brasileira de


ilustrações Freepik

dos materiais a empregar, assim como dos métodos construtivos, que são complementados por um cronograma físico e financeiro, com os quantitativos e custos de cada material, equipamento, serviço e mão de obra necessária à sua consecução. Qualquer projeto final requer a participação de profissionais com diferentes especialidades, e em cada fase de sua elaboração.

Consultores de Engenharia), o CAU (Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil) e outras oito entidades se reuniram para alertar o governo sobre as implicações da contratação de uma obra sem um projeto detalhado.

e ferroviárias; portuárias; aeroviárias; barragens; abastecimento (de água, de energia, de gás); estocagem dos mais diversos tipos de produtos; distribuição de energia de várias origens e proteção contra acidentes (naturais ou antrópicos).

O setor foi pego de surpresa, uma vez que não esperava que a Lei das Estatais também abordasse a questão das formas de licitação, porém, a previsão é que a revisão de outra lei, a que trata especificamente das licitações, incluirá a obrigatoriedade de projetos executivos completos.

Etapas

Projetos de engenharia detalhados evitam distorções e garantem orçamentos assertivos, visto que sua elaboração demanda certo tempo. De acordo com o engenheiro, consultor e sócio da empresa Geotest Projetos e Consultoria, Moacyr Schwab, há diferenças importantes entre a concepção, os objetivos, a urgência real (não a política) e o desenvolvimento de projetos de obras civis. Tais obras podem ser comerciais; industriais; residenciais; voltadas para a saúde, educação ou segurança, rodoviárias

“Qualquer projeto passa, obrigatoriamente, por uma fase de estudos do subsolo sobre o qual assentará, ainda que em parte, a obra objeto do projeto. Os solos e as rochas representam o material de construção mais heterogêneo utilizado na engenharia, inclusive para suportar as cargas provenientes das obras nela apoiadas”, explica Schwab que acrescenta que todos os projetos passam por etapas, cuja importância varia em função do tipo, da finalidade e do custo provável da obra. Estas etapas abrangem estudos de viabilidade econômica, anteprojeto, projeto básico e projeto final. O projeto final deve conter, pelo menos, um memorial descritivo, os desenhos do projeto com as respectivas memórias de cálculo e as especificações

Segundo Schwab, os seguintes fatores, principais, mas não exclusivos, são determinantes para a qualidade do projeto final: nível de conhecimento teórico associado à experiência prática dos membros de sua equipe; entrosamento entre os profissionais e nas diversas fases de elaboração do projeto, e tempo disponível para a elaboração do projeto final. “O ser humano é imperfeito. A ocorrência de ajustes eventuais, ou de pequenos erros, até mesmo no projeto final é inevitável. No entanto, falhas humanas ou decorrentes de falta de competência também costumam ocorrer. As obras da RNEST (Refinaria Abreu e Lima), das quais participei pontualmente, assim como as obras da última Copa do Mundo de Futebol, nas Olimpía­ das de 2016 e Transposição do Rio São Francisco, são mais do que suficientes para ilustrar o que continuará ocorrendo quando o que foi exposto antes não for respeitado”, destaca. Para ele, empresas construtoras são “construtoras” e não projetistas. Necessitam contratar os projetos e, por falta de conhecimento, ou de experiência, costumam errar na estimativa do valor destinado à elaboração do projeto final e/ou na avaliação do projeto básico que lhes é oferecido. “É fato notório e conhecido das empresas especializadas em projetos, que os ditos projetos básicos licitados pelos governos federal, estadual e municipal, nas duas últimas décadas, sequer correspondem a alguns anteprojetos honestos”, finaliza o engenheiro Moacyr Schwab. Fundações e Obras Geotécnicas | 35


| Notícia | Notas

Estevão Buzato / FENAZAN

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FENASAN 2016 surpreende em números e promove mais interação entre participantes Evento ocorreu em agosto e reuniu mais de 17 mil pessoas por Dafne Mazaia

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ealizada em São Paulo, capital, nos dias 16, 17 e 18 de agosto, a FENASAN (Feira Nacioal de Saneamento e Meio Ambiente) aconteceu simultaneamente ao 27º Encontro Técnico AESabesp (Associação dos Engenheiros da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), com o tema “Água ou escassez: qual o futuro que queremos?”. A feira contabilizou a presença de mais de 17 mil visitantes e 180 expositores. De acordo com a comissão organizadora do evento, foi um número expressivo de participações nesta edição, devido ao contexto econômico do País atualmente. Evento tradicional na área de saneamento básico, a FENA-

36 | Fundações e Obras Geotécnicas


SAN tem como propósito difundir a tecnologia empregada no segmento e ainda ressaltar a importância dos investimentos no ramo, para o desenvolvimento social, como explica o presidente da AESabesp, Olavo Alberto Prates Sachs. “Os serviços de água tratada, coleta e tratamento dos esgotos, drenagem e manejo de resíduos levam à melhoria da qualidade de vida das pessoas, sobretudo na área da saúde com redução da mortalidade infantil e de proliferação de doenças, além de expressiva melhoria na educação, na moradia, na renda do trabalhador, na despoluição dos rios, na preservação dos recursos hídricos, no turismo, entre outros”, conta. Voltada para acadêmicos, universitários, empresários, gestores, membros da comunidade científica dos setores de saneamento, meio ambiente, energia, saúde e segmentos ligados à infraestrutura, a feira abordou temas relacionados ao tratamento e abastecimento de água, esgotamento sanitário, drenagem das águas pluviais, análises laboratoriais, emprego de equipamentos, gerenciamento de perdas, adução e abastecimento e sistemas de coleta e disposição final, manejo de resíduos sólidos, utilização de novas fontes de energia, entre outros.

Além das 88 palestras, ocorreram também oito mesas-redondas com temas pertinentes ao saneamento ambiental e ainda o Fórum de Qualidade de Empreendimentos, assim como a premiação do Troféu AESabesp, para os destaques de 2016, entre eles, o de Jovem Profissional – categoria destinada a projetos técnicos elaborados por profissionais com menos de 30 anos de idade –, que premiou Carolina Gemelli Carneiro, primeira colocada; Liane Yuri Kondo Nakada, com a segunda posição e Bruno José Costa da Cunha, terceiro colocado. “Tivemos um campeonato de operadores da Sabesp, com a participação de equipes da diretoria metropolitana e dos sistemas regionais. Também tivemos um caminhão escola da Sabesp que levava o visitante numa viagem pelos sistemas de saneamento básico da companhia, além de um laboratório e de jogos interativos temáticos”, relata Sachs.

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| Notícia | Notas | Artigo

| Em foco IGS Brasil realiza curso para inserir os geossintéticos na graduação | Livro | Agenda já ocorreu em diversos países e tem como proposta Evento mostrar a importância desse segmento | Geotecnia Ambiental | O que há de novo

Raíssa César / GIZ

| História

Promovido pela IGS (Sociedade Internacional de Geossintéticos), o curso “Educando Educadores” aconteceu entre os dias 27 e 29 de julho, em Belo Horizonte, Minas Gerais, com a finalidade de capacitar e incentivar professores para inserirem os geossintéticos na grade dos cursos de engenharia civil das universidades brasileiras, seja como um tópico em alguma matéria ou como uma disciplina única. O curso teve a participação de 49 pessoas, dentre elas, 26 professores de universidades de diversas regiões do País; seis professores representantes da IGS e cinco membros da organização; e os instrutores: a professora do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica), Delma Vidal, o professor da UnB (Universidade de Brasília), Ennio Palmeira, do professor da Texas University, Jorge Zornberg e da professora da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), Maria das Graças Gardoni. Todo o conteúdo do evento foi planejado para mostrar as principais propriedades, funções, aplicações e metodologias dos geossintéticos, para que os participantes compreendessem a eficácia desses materiais, seja em barragens, taludes, obras de infraestrutura, recuperação de áreas degradadas, entre outros. Segundo a professora Maria das Graças Gardoni, devido à falta de uma disciplina nas faculdades que abordem 38 | Fundações e Obras Geotécnicas

os geossintéticos, muitos profissionais acabam não tendo conhecimento de suas propriedades básicas e o curso supre essa lacuna. “Os projetos de engenharia têm apresentado soluções com a utilização dos materiais geossintéticos para situações muito críticas de obra onde pode-se observar o total desconhecimento das propriedades básicas, funções e ensaios para determinação dos parâmetros necessários para o projeto. Neste contexto, o curso se apresenta como uma ferramenta importante para a aquisição e a disseminação dos conhecimentos necessários da engenharia de geossintéticos por parte dos educadores que não tiveram esta oportunidade em sua formação e para os alunos das universidades brasileiras, que irão adquirir os conhecimentos sobre os geossintéticos em uma disciplina própria do curso de graduação em engenharia”, informa. Durante o curso foram realizadas oficinas para que o participante conhecesse o produto e suas aplicações na engenharia. Os cursos serão realizados a cada dois anos, de acordo com as diretrizes da IGS Internacional, porém, no Brasil, especificamente, pode ocorrer uma nova edição no próximo ano.


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6º Prêmio Milton Vargas O Prêmio Milton Vargas é uma premiação estritamente Cultural, Artística e Científica, conforme disposto no art. 30 do Decreto nº 70.951/72, promovido pela Editora Rudder Ltda. sem qualquer modalidade de sorte ou pagamento pelos concorrentes, nem vínculo obrigatório com a compra de produtos editoriais fabricados pela empresa promovente, suas marcas ou qualquer outra forma de publicidade.

Categoria Ambiental

Categoria Fundações

Categoria Geossintéticos

Será premiado o melhor trabalho, obra, meio de desenvolvimento ou estudo, relacionado à área ambiental que tenha sido publicado na seção “Geotecnia Ambiental” entre as edições 60 e 71 da revista Fundações & Obras Geotécnicas.

Serão premiados os três melhores artigos técnicos e científicos, em primeiro, segundo e terceiro lugar – que não precisam necessariamente ter como mote principal o tema fundações, pois o nome dessa categoria é uma homenagem ao título da revista –, a partir dos critérios ‘originalidade’, ‘conjunto da obra’ e ‘apresentação técnica’, que tenham sido publicados na seção “Artigo” entre as edições 60 e 71 da revista Fundações & Obras Geotécnicas.

Será premiado o melhor trabalho, obra, meio de desenvolvimento ou estudo, relacionado à geossintéticos que tenha sido publicado apenas na seção “Geossintéticos” entre as edições 60 e 71 da revista Fundações & Obras Geotécnicas.

Avaliação

Os trabalhos concorrentes serão julgados por um corpo de jurados formado por docentes da área (mestres e doutores) isentos de participação nos trabalhos envolvidos.

Atenção

Este ano faremos duas cerimônias de entrega juntas no mesmo dia. Confira:

5º e 6º Prêmio Milton Vargas Dia 24 de novembro (quinta-feira) de 2016 Horário: das 17h às 22h Local: Avenida Queiroz Filho, 1700 – CEP: 05319-000 – São Paulo, SP (Auditório)


Esse evento tem como objetivo estimular a criatividade e a originalidade dos profissionais do setor, bem como a divulgação dos trabalhos e inovação no meio, mediante a criação de projetos que gerem tendências, livres de preconceitos, cópias e propiciando oportunidades, inclusive, de implantação consecutiva no segmento da engenharia civil.

Agora o prêmio possui 6 categorias Categoria Inovação

Categoria Obra de Fundações

Categoria Profissional do Ano

Será premiado o melhor trabalho, equipamento, técnica, meio de desenvolvimento ou estudo inovador que tenha sido publicado na seção “O que há de novo” entre as edições 60 e 71 da revista Fundações & Obras Geotécnicas.

Será premiado o melhor trabalho prático, técnica ou sistema desenvolvido em uma obra com trabalho específico de fundações que tenha sido publicado nas seções “Reportagem” ou “Notícia” entre as edições 60 e 71 da revista Fundações & Obras Geotécnicas.

Será premiado como o “melhor do ano” o profissional retratado através de um perfil ou entrevista, cuja trajetória tenha representado relevância para o segmento de fundações e geotecnia, e que tenha sido publicado na seção “Perfil / Entrevista” entre as edições 60 e 71 da revista Fundações & Obras Geotécnicas.

Informações sobre a premiação, as categorias, ou como concorrer com um trabalho devem ser enviadas para Gléssia Veras telefone: (11) 3596-8094 - glessia@rudders.com.br


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| Notas | Artigo | Em foco | Livro

INFLUÊNCIA DA QUANTIDADE DE FRESADO NA RESISTÊNCIA À TRAÇÃO DE PAVIMENTOS RECICLADOS COM CIMENTO PORTLAND | Agenda

| Geotecnia Ambiental | O que há de novo | História

Dr. Francisco Dalla Rosa, Passo Fundo (RS). Programa de PósGraduação em Engenharia Civil e Ambiental – UPF (Universidade de Passo Fundo) Passo Fundo (RS). Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil e Ambiental – UPF (Universidade de Passo Fundo) dallarosa@upf.br Enga. Elouise Muller, engenheira civil, Passo Fundo (RS) elo.rmuller@hotmail.com

Resumo

Este estudo apresenta resultados referentes ao comportamento mecânico de pavimentos reciclados com adição de cimento Portland a partir de ensaios de compressão simples e tração em ensaios de flexão com quatro apoios. A técnica de reciclagem considerada nesse estudo constitui-se do processo FDR (Full Depth Reclamation) que promove a incorporação do pavimento antigo na estrutura da base, com intuito de reduzir impactos econômicos e ambientais nas atividades de M&R (Manutenção & Reabilitação) de pavimentos deteriorados. Foi avaliada a influência da adição de diferentes quantidades de fresado misturados a materiais granulares virgens. Os resultados indicaram que as resistências das misturas não apresen48 | Fundações e Obras Geotécnicas

tam alterações significativas para as diferentes quantidades de fresado. Palavras-chave: Reciclagem Profunda; Bases Estabilizadas; Teor de fresado.

INTRODUÇÃO

No Brasil ocorre grande direcionamento do transporte de cargas para o modal rodoviário resultando numa considerável solicitação dessa infraestrutura. Tal fato resulta em grande volume de recursos financeiros necessários para as atividades de M&R (Manutenção & Reabilitação). Segundo a CNT (Confederação Nacional de Transporte) (2016), mais de 50% da malha rodoviária investigada em 2015 apresenta uma condição regular ou ruim. Concomitantemente, muitas rodovias brasileiras não apresentam atualmente uma

superestrutura compatível com o nível de solicitação gerado pelo tráfego atuante, necessitando de técnicas capazes de promover o aumento da sua capacidade de suporte. A aplicação da técnica de reciclagem profunda de pavimentos flexíveis (FDR – Full Depth Reclamation), onde ocorre incorporação do revestimento asfáltico antigo juntamente com a base presente na estrutura do pavimento, apresenta resultados satisfatórios do ponto de vista técnico, econômico e ambiental. Associada ao processo de reciclagem é possível a incorporação de aglomerantes hidráulicos (cimento ou cal), bem como ligantes asfálticos (asfalto espuma). A Figura 1 apresenta um esquema do processo de reciclagem profunda de pavimentos flexíveis com adição de cimento Portland. O processo de reciclagem nesse caso constitui-se do espalhamento de agregados [1] para correção granulométrica e adição aglomerante hidráulico em pó [2], seguida da trituração [3] de toda a camada e mistura de todos os materiais na umidade ótima de compactação. Posteriormente, é executada a com-


pactação [4] através de rolos do tipo pé-de-carneiro ou de pneus, seguido da regularização final com motoniveladora [5] e finalização da camada com rolo de chapa lisa [6].

e agregado natural, estabilizadas com adição de diferentes teores de cimento Portland. Para isso, foi rea­ lizada a caracterização tecnológica dos materiais pétreos, bem como a execução de um conjunto de ensaios de tração na flexão com quatro pontos de apoio.

1 METODOLOGIA E MATERIAIS 1.1. Caracterização dos materiais Figura 01 – Processo de reciclagem de pavimentos pelo método FDR. (Adaptado de Wirtgen, 2016)

Através da incorporação do fresado na estrutura de um pavimento antigo, permite-se que ocorra não somente a permanência de matéria-prima de qualidade para a nova base granular, mas também a redução do uso de recursos naturais, bem como a redução do consumo energético e de emissões, resultando muitas vezes numa escolha com maior sustentabilidade frente a outras técnicas de restauração. Assim, a avaliação do desempenho mecânico de materiais obtidos a partir da técnica FDR tem sido o foco de diferentes estudos a nível nacional (Pires, et al., 2016; Dalla Rosa et al., 2015; Trichês e Santos, 2013; outros) e internacional (Dixon et al., 2012; Puppala et al, 2011; Taha et al., 2002, outros). Tais estudos têm basicamente dado atenção para análise do desempenho mecânico (resistência e deformabilidade) desse tipo de material, bem como análise de aspectos econômicos e ambientais. Nesse sentido, o objetivo desse trabalho foi o de avaliar a resistência à tração de misturas contendo diferentes proporções de resíduo

Foi utilizado nesse estudo o resíduo da fresagem de um pavimento antigo localizado na BR-285 km 241, próximo ao município de Ciríaco (RS). Além do resíduo, também foi utilizado material granular virgem extraído de uma jazida localizada no município de Mormaço (RS). Ambos os materiais contêm na sua composição rocha de origem basáltica, tipicamente encontrada do norte do Rio Grande do Sul. Os materiais pétreos (resíduo e agregado natural) utilizados foram submetidos a ensaios de caracteri-

zação, todos seguindo as normativas vigentes. A massa específica e absorção (DNER-ME 195/97) do resíduo e do agregado natural apresentaram valores respectivamente iguais a 23 kN/m3 e 27 kN/m3. No caso do resíduo, foi identificado um teor de ligante asfáltico (DNERME 053/94) igual a 5,7%. Foram avaliadas as distribuições granulométricas do agregado natural do resíduo após o processo de fresagem, e do resíduo sem a presença do ligante asfáltico, seguindo as recomendações presentes na norma DNER-ME 083/98 (DNER, 1998). Os resultados são apresentados na Figura 2. A análise granulométrica do resíduo sem a presença do ligante asfáltico foi executada com o intuito identificar qualitativamente o volume de grumos presentes no resíduo coletado. Tais grumos podem interferir diretamente nos resultados de resistência à tração das misturas, uma vez que os mesmos possuem a sua superfície revestida com ligante asfáltico, o poderá impedir a interação entre o aglomerante hidráulico e os agregados.

Figura 02 – Distribuição granulométrica dos agregados utilizados no estudo Fundações e Obras Geotécnicas | 49


| Notas | Artigo | Em foco

Nesse estudo foi proposta a adi| Livro ção de diferentes proporções de resíduo (fresado) e agregado na| Agenda tural para a confecção das misturas. Durante a execução da técnica | Geotecnia Ambiental FDR, a proporção de material fresado incorporado na base antiga | O variar que há de novo irá de acordo com a profundidade que o sistema de trituração | História irá atingir. Além disso, em muitos casos é necessária a correção granulométrica da base antiga por meio da adição de material natural novo. Assim, foram estipulados os seguintes teores de resíduo iguais a 100%, 90% e 60% da mistura. Na Figura 3 são apresentadas as distribuições granulométricas obtidas a partir de cada uma das misturas analisadas nesse estudo.

Com o intuito de melhorar a capacidade de suporte do material foi utilizado o cimento Portland CP-V ARI. A escolha pelo cimento de alta resistência inicial se deu pelo curto espaço de tempo para a realização dos experimentos, onde nesse caso, após sete dias foi possível garantir que mais de 95% da resistência da mistura havia sido alcançada. Foram utilizados teores de 1%, 4% e 7% de cimento em relação ao peso seco da mistura resíduo-agregado natural, o que equivale respectivamente a um consumo de 20 kg/m3, 77 kg/m3 e 131 kg/m3.

1.2. Definição dos parâmetros de moldagem e cura das amostras

Figura 03 – Distribuição granulométrica das misturas avaliadas no estudo 50 | Fundações e Obras Geotécnicas

A definição dos parâmetros de compactação (umidade ótima e peso específico aparente seco máximo) das amostras foi realizada seguindo as recomendações da norma NBR 7.182:1988 (ABNT, 1988), utilizando-se a energia de compactação modificada. Dos nove ensaios de compactação, observou-se uma pequena variação do teor de umidade (Wot) e do peso específico aparente seco máximo (gd). O valor médio Wot obtida foi igual a 10,5% (desvio padrão de 0,5%), enquanto o gd apresentou um valor médio de 19,15 kN/m3 (desvio padrão de 0,27 kN/m3). Na Tabela 1 é apresentado um resumo dos resultados dos ensaios para cada uma das misturas propostas nesse estudo.


Tabela 1 – Resumo dos resultados experimentais observados no estudo % Fresado

40

60

90

% Cimento

Wot (%)

γd (kN/m3)

1

11,03

18,85

4

10,5

19,1

7

10,47

19,23

1

11,12

18,75

4

10,73

19,35

7

10,14

19,68

1

10,98

18,97

4

9,7

19,3

7

9,72

19,16

Os parâmetros de compactação foram essenciais para a confecção das amostras que foram submetidas a verificação da tração na flexão. Para o ensaio de tração foram moldados 2 (18 no total) corpos de prova prismáticos com dimensões de 150 x 150 x 500 milímetros, respectivamente para largura, altura e comprimento para cada combinação de teor de fresado, agregado natural e cimento. Com o objetivo de reduzir possíveis ruídos nos resultados investigados, a moldagem das amostras com suas respectivas combinações de mistura foi realizada de forma aleatorizada. Além disso, todas as amostras foram confeccionadas considerando os valores médios da umidade ótima e peso específico aparente seco máximo mencionados previamente, e moldadas em três camadas com igual altura. Durante a execução da última camada, foi utilizada uma placa de aço para promover o acabamento da face superior da amostra. Para o controle de qualidade de moldagem das amostras foi estabelecido que a variação da umidade de moldagem permanecesse inferior a ± 0,2% da umidade ótima. Além disso, definiu-se que a tolerância do peso es-

pecífico aparente seco máximo fosse igual a ± 0,5 kN/m3. O tempo de cura das amostras foi de no mínimo sete dias e realizada em câmara úmida, com temperatura igual a 23±1°C e umidade superior a 95%. Para a realização dos ensaios de tração na flexão, seguiram-se as recomendações apresentadas pela norma NBR 12.142 (ABNT, 2010). O ensaio constitui-se a aplicação de uma carga de igual valor sobre duas linhas posicionadas a 1/3 de cada apoio inferior, como apresentado na Figura 4. Essa condição de carregamento permitiu obter uma flexão pura no terço central da amostra e, por consequência, a determinação da tensão de tração na flexão. Todos os ensaios foram realizados sob uma velocidade constante e igual a 1,14 mm/minuto, e monitorada por uma célula de carga com capacidade de 10 toneladas.

2 RESULTADOS

Nas Figuras 5 e 6 são apresentados os resultados referentes aos ensaios de tração na flexão para as diferentes combinações de fresado, agregado natural e cimento. Observase que a dispersão dos resultados foi relativamente baixa, onde em média a variação foi de 8% e máxima de 27%. Com relação ao desempenho das misturas com 1% e 4% de cimento, os resultados indicaram que não houve acréscimo significativo da resistência à tração com a diminuição do teor de resíduo. Contudo, para misturas que continham teores de 7% apresentaram ganhos de resistência maiores para as amostras que continham 60% de resíduo e 40% de agregado natural, indicando que a substituição parcial do fresado com o agregado natural poderá resultar numa capacidade de suporte superior quando comparada com misturas que contenham somente fresado. Acredita-se que o acréscimo de resistência das amostras que continham menor quantidade de resíduo esteja vinculado com a interação com o aglomerante hidráulico utilizado no estudo e o ligante asfáltico presente no resíduo. A película formada nesse caso pode contribuir para uma

Figura 04 – Ensaio à tração na flexão seguindo a norma NBR 12.142 (ABNT, 2010) Fundações e Obras Geotécnicas | 51


| Notas | Artigo | Em foco

possível redução da resistência | Livro do material à tração, ocasionando valores relativamente baixos | Agendacomparados com misquando turas que continham agregado | Geotecnia Ambiental ao resínatural em substituição duo. Além disso, por ser forma| O de quematerial há de novo do pétreo e ligante asfáltico, o resíduo contém gru| História mos dos quais podem apresentar resistência menor que a nova cimentação criada pelo aglomerante hidráulico, interferindo no ganho de resistência das misturas estabilizadas. Figura 05 – Influência do teor de resíduo na resistência à tração por flexão

Figura 6 – Influência do teor de cimento na resistência à tração por flexão

Por outro lado, deve-se levar em conta que o acréscimo de aglomerantes hidráulicos além de resultar um acréscimo da resistência, também promoverá um aumen52 | Fundações e Obras Geotécnicas

to da rigidez do material. Nesse sentido, deve-se levar em conta o potencial de fragilidade desse material estabilizado, uma vez que misturas com teores baixos

de cimento apresentarão razões entre o módulo de elasticidade ou resiliência (dependendo do nível de cimentação) e resistência à tração relativamente elevados, in-


dicando assim uma camada sujeita à ruptura precoce por fadiga. Contudo, mais experimentos são necessários para a confirmação dessa hipótese.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esse estudo abordou a discussão do uso do resíduo retirado a partir da fresagem de pavimentos antigos, incorporado a agregados naturais com o intuito da aplicação em bases granulares estabilizadas com cimento Portland. A caracterização tecnológica foi realizada, incluindo a análise granulométrica do resíduo com e sem a presença de ligante asfáltico. Além disso, diferentes proporções de resíduo, agregado natural e cimento foram avaliados com o objetivo de identificar padrões de resistência à tração, em função dessas três variáveis analisadas. Observou-se que nas misturas com maiores quantidades de cimento houveram acréscimos consideráveis da resistência à tração. As amostras moldadas com teores de cimento iguais a 1% e 4% não demonstraram modificações significativas da resistência à tração com a substituição do resíduo pelo agregado natural. Entretanto, as amostras com adição de 7% de cimento apresentaram influência do volume de agregado natural incorporado na mistura, de tal forma que para as misturas com 60% de resíduo e 40% de agregado natural apresentaram maiores valores de resistência à tração. Apesar do uso da técnica da reciclagem profunda ainda não ser adotada com frequência no Brasil é necessário se conside-

rar essa alternativa de restauração no contexto de uma análise de ciclo de vida LCCA (Life Cycle Cost Analysis), em comparação com outras alternativas de restauração com o objetivo de se obter soluções otimizadas para a restauração desse tipo de estrutura.

REFERÊNCIAS

Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT. NBR 7.182:1988 – Solo – Ensaio de compactação. 10p. 1998. __________.NBR 12142 - Concreto — Determinação da resistência à tração na flexão de corpos de prova prismáticos. 5p. 2010. Confederação Nacional do Transporte (CNT). Anuário CNT do Transporte 2016. Disponível em: < http://anuariodotransporte.cnt. org.br/> Acesso em: 20 jul. 2016. Dalla Rosa, F.; Jorge, F. S.; Brito, L. A. T.; Ceratti, J. A.; Análise do comportamento mecânico de um pavimento reciclado com adição de diferentes agentes estabilizadores. Transportes (Rio de Janeiro), v. 23, p. 95-104, 2015. Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT). Agregados: Determinação da absorção e da massa específica de agregados graúdos (DNER-ME 195/97). 1998. 6p. __________. Agregados: análise granulométrica (DNER-ME 083/98). 1998. 5p. __________. Misturas betuminosas: percentagem de betume (DNER-ME 053/94). 5p. 1994.

Dixon, P. A.; Factors affecting the strength of road base stabilized with cement slurry or dry cement in conjunction with full-depth reclamation. Journal of the Transportation Research Board – TRB. Vol. 2310. 10p. 2012. Pires, G. M.; Specht, L. P.; Pinheiro, R. J. B.; Pereira, D. S.; Renz, E. M.; Comportamento mecânico de material fresado após processo de estabilização granulométrica e química por meio da incorporação de cimento e cinza de casca de arroz moída. Revista Matéria, v.21, n.2, pp. 365 – 384, 2016. Puppala, A. J.; Hoyos, L. R.; Potturi, A. K.; Resilient Moduli Response of Moderately Cement-Treated Reclaimed Asphalt Pavement Aggregates. Journal of Materials in Civil Engineering – ASCE. Vol. 23, No. 7, pag. 990998. 2011. Taha, R.; Ai-Harthy, A.; Ai -Shamsi, K.; Ai-Zubeidi, M.; Cement Stabilization of Reclaimed Asphalt Pavement Aggregate for Road Bases and Subbases. Journal of Materials in Civil Engineering – ASCE. Vol. 14, No. 3, pag. 239-245. 2002. Trichês, G.; Santos, A.; Desempenho da Reciclagem com Adição de Cimento da Rodovia SC 150. In: 42 RAP, 2013, Gramado. 42.a. Reunião Anual de Pavimentação. Rio de Janeiro: ABPv. 12p. 2013. Wirtgen. Cold Recycler and Soil Stabilizer WR model series catalog.

68p. 2016.

Fundações e Obras Geotécnicas | 53


| Notas | Artigo | Em foco | Livro

CONTRIBUIÇÃO AO ESTUDO DO FORNO DE MICRO-ONDAS NA DETERMINAÇÃO DO TEOR DE UMIDADE DOS SOLOS | Agenda

| Geotecnia Ambiental | O que há de novo | História

Engª. Yashmine Landi, engenheira civil, Goiânia (GO) yashminelandi@hotmail.com Engª. Flavia Nunes Rabelo, engenheira civil, Goiânia (GO) flavianunesr@gmail.com

RESUMO

O presente artigo tem como finalidade avaliar e comparar a metodologia do forno de micro-ondas na determinação do teor de umidade em três solos regionais, confrontando os resultados obtidos com os índices encontrados por meio do método da Estufa, preconizado pela Associação Brasileira de Normas Técnicas em sua NBR 6.457/86. Após a conclusão dos trabalhos foi possível avaliar que o uso do forno de micro-ondas para determinação do teor de umidade dos solos finos apresentou resultados compatíveis com os resultados da estufa, tornando assim confiável o uso do primeiro método em ensaios de determinação do teor de umidade de solos. Palavras-chave: Mecânica dos solos; Teor de umidade; Forno de micro-ondas; Estufa.

Introdução

O conhecimento do índice físico de teor de umidade do solo é uma informação técnica fundamental para uma análise criteriosa sobre o comportamento dos maciços e estruturas de solos nas diversas obras geotécnicas da construção civil, além de ser uma refe54 | Fundações e Obras Geotécnicas

rência para análise da fertilidade e produtividade dos solos nas ciências da terra, na ecologia e na preservação e conservação de unidades ambientais (CAPUTO, 1977). É notório que as metodologias desenvolvidas e empregadas para se proceder a determinação do teor de umidade dos solos não sofreram grandes modificações ao longo das décadas, ficando esta técnica restrita basicamente ao método da estufa empregado em larga escala no laboratório e ao método do umidímetro tipo Speedy, este último praticado em campo (CAPUTO, 1977). Em relação ao primeiro método é conveniente ressaltar que este índice físico é por vez obtido após a secagem de uma amostra natural por um período mínimo de 12 horas (solos arenosos e pedregulhosos) em um aparelho cuja temperatura deverá ser mantida constante em torno de 105°C ou 110°C, segundo NBR 6.457/86, sendo que em alguns casos, conforme teoria dos solos tropicais, esta temperatura poderá permanecer na ordem de 60 a 80°C, porém prevalecendo o mesmo período de tempo, fator este que se constitui na maior desvantagem do método da estufa. Outra forma de se determinar o teor de umidade dos solos é através do método umidímetro tipo Speedy, procedimento este preconizado pelo DNIT/DNER (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes / Departamento Nacional de Estradas de Rodagem) em sua ME (Método de Ensino) 052/94, onde uma quantidade de solo úmido e colocado em recipiente hermeticamente fechado e sob contato de carbureto de cálcio, o que resulta posteriormente na


formação do gás acetileno e na geração de uma pressão interna, pressão que é registrada e convertida por tabela de aferição em teor de umidade do solo. Este método traz como vantagem a rapidez para obtenção do índice de umidade, o que o credencia como o mais indicado para ser empregado em obras. A reação sendo feita em recipiente hermético, e na presença de excesso de carbureto de cálcio (carbureto), ocorre o desprendimento de gás que desenvolve internamente uma pressão proporcional à quantidade de água inicialmente na amostra examinada. O teor de umidade na amostra analisada é indicado por um manômetro, capaz de medir a pressão, instalado no próprio recipiente. Em período não tão longínquo havia também o emprego das técnicas denominadas de método da frigideira e do álcool para se obter de forma mais rápida o teor de umidade dos solos o que de certa forma constituía num instrumento fundamental para acelerar os procedimentos de laboratório e de campo que viessem a depender da obtenção do índice de umidade do solo, porém em função de submeter os solos a uma fonte de calor de maior intensidade (temperatura) ou direta (fogo), foram suprimidos das normas técnicas e das especificações dos órgãos de fiscalização de obras para efeitos da determinação deste parâmetro, seja a nível de campo ou de laboratório. Recentemente outras metodologias de determinação do teor de umidade dos solos vêm sendo amplamente estudadas e propostas visando acelerar o tempo para obtenção dos resultados, contudo sem que as mesmas venham trazer ou conduzir prejuízos à confiabilidade dos resultados aferidos. Uma destas propostas, que é fonte deste artigo, é o método do forno micro-ondas, procedimento este cunho de outros trabalhos acadêmicos, principalmente na área das ciências agronômicas, conforme dados literários a serem relatados.

1 TEOR DE UMIDADE

O teor de umidade dos solos é definido como sendo a relação entre o peso da água existente no solo e o peso seco das partículas sólidas do solo, expressa em porcentagem (CAPUTO, 1977). Segundo a nomenclatura internacional adotada, o teor é representado pela letra w, que corresponde à palavra em inglês “Water”, sendo seu resultado obtido pela di-

visão entre a massa de água livre e higroscópica (Mw) contida em uma amostra de solo úmida pela massa seca deste solo (Ms), expresso em percentagem. O teor de umidade é fundamental na previsão do comportamento dos solos que serão utilizados em determinadas áreas da construção civil, como por exemplo, na construção de barragens e terraplenos para estradas. Para determinação do teor de umidade dos solos, utilizam-se hoje de várias metodologias, tais como o método da estufa, o método do umidímetro Speedy e método do fogareiro. Quando da obtenção do teor de umidade ótimo de um solo para uma aplicação específica é de suma importância que este teor não seja alterado, pois suas aplicações podem não resultar em um trabalho satisfatório, conforme previsto em laboratório, visto que a umidade é um índice de grande importância para a construção civil e que influencia muito no comportamento do solo. Destaca-se na oportunidade que todas as obras de engenharia civil se apoiam sobre o solo ou em maciços rochosos, e em muitas situações o solo é utilizado como material de construção constituindo-se como elemento construtivo. Como exemplificação pode-se citar as barragens e os aterros de estradas. Portanto, a estabilidade e o comportamento funcional e estético da obra serão determinados, em grande parte, pelo desempenho dos materiais usados nos maciços terrosos. Daí a importância da utilização do teor de umidade ótimo determinado em laboratório, que se constitui em um elemento que interfere no comportamento deste material. Um dos métodos mais utilizados atualmente, o método da Estufa, consiste em secar o solo em estufa com temperatura ente 105°C e 110°C de 12 a 24 horas. Este é hoje o método mais preciso de determinação do teor de umidade dos solos, sendo aplicado em laboratórios. Esta metodologia apresenta vantagem em relação às demais por apresentar resultados confiáveis, porém apresenta como inconveniente ou desvantagem o tempo excessivo para obtenção deste índice físico. O método do Umidímetro Speedy, contido na norma DNER 052/94 é constituído por um reservatório Fundações e Obras Geotécnicas | 55


| Notas | Artigo | Em foco

metálico fechado que se comunica com um manôme| Livro tro destinado a medir a pressão interna. Dentro deste reservatório são colocadas em contato certas quanti| Agenda dades de solo úmido e uma determinada porção de Carbureto de Cálcio. A água contida no solo, combi| Geotecnia nando-se com Ambiental o CaC2 geram o gás acetileno e a partir daí pela variação da pressão interna obtém-se o teor | Oumidade que há existente de novona amostra de solo. Este método de apresenta o resultado do teor de umidade com bastan| História te rapidez, porém é menos confiável que o método da estufa (DNER 052/94). O método da Frigideira consiste em se coletar uma massa de solo e determinar sua massa úmida. Em seguida procede-se sua secagem numa frigideira posta sobre um fogareiro e, uma vez seca a amostra, determina-se novamente sua massa. Apesar das imprecisões inerentes ao processo, o método permite a determinação do teor de umidade com precisão suficiente para o controle de compactação (LOLLO, 2007). O método do Álcool é o modo pelo qual se determina a umidade de solos e de agregados miúdos pelo emprego de álcool etílico. A umidade se determina pela adição de álcool à amostra e a sua posterior queima. Pesa-se a amostragem inicial e após a queima para se determinar a massa de água perdida através da evaporação.

2 PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO DO FORNO MICRO-ONDAS

As micro-ondas são ondas eletromagnéticas e, como tais, portadoras de energia. Cobrem a faixa de frequên­ cia do espectro eletromagnético que varia de 300 a 300.000 MHz, correspondendo à faixa de comprimentos de onda de 1 cm a 1 m. De acordo com o regulamento da Comissão Federal de Comunicações e das Leis Internacionais de Rádio, somente quatro frequências são permitidas para uso industrial, científico e doméstico: 915, 2450, 5800 e 22125 MHz. Os fornos de micro-ondas comerciais fabricados para uso doméstico ou para laboratórios empregam micro-ondas de 2450 MHz (KINGSTON & JESSIE, 1988; KRUG et al., 2000). A potência gerada por um forno de micro-ondas do tipo doméstico ou analítico cobre a faixa de 600 a 700 W, mas alguns equipamentos modernos operam com 56 | Fundações e Obras Geotécnicas

a potência de 1.100 W o que, em outras palavras, significa o fornecimento de até 15.774 cal.min-1 (1 kW = 239 cal.s-1). Os fornos de micro-ondas são compostos, basicamente, pelos seguintes componentes: a) Magnetron – dispositivo no qual as micro-ondas são geradas; b) Guia de Ondas – construído de metal, tem paredes refletoras para o direcionamento das micro­-ondas produzidas no magnetron para o interior da cavidade do forno. c) Cavidade – espaço interno do forno, onde as amostras são colocadas para serem irradiadas. Possui paredes refletoras, a fim de que haja maior aproveitamento da energia contida nas micro-ondas e deve ser totalmente selada, para evitar vazamentos, que poriam em risco o operador. O princípio de funcionamento do forno de micro-ondas baseia-se em: o magnetron emite ondas eletromagnéticas através de uma antena, sendo as ondas produzidas conduzidas pelo guia de onda até a cavidade contendo o material a ser aquecido. A fim de proteger o magnetron, toda radiação não absorvida é refletida pelas paredes da cavidade na direção de um guia de ondas secundário, onde o excesso de energia é dissipado. O aquecimento de um material por radiação de micro-ondas ocorre devido à interação da onda eletromagnética com o dipolo elétrico da molécula. Envolve princípios físico-químicos, tais como: temperatura, capacidade calorífica, ligação química, estrutura molecular e constante dielétrica (KINGSTON, 1988). A absorção da radiação das micro-ondas por íons dissolvidos e pelos solventes (água) provoca aumento considerável na temperatura em curto espaço de tempo, que se deve principalmente a dois mecanismos: rotação de dipolos e migração iônica. A rotação de dipolos refere-se ao efeito que o campo elétrico oscilante das micro-ondas causa às moléculas da amostra, que possuem momento dipolar induzido ou permanente. Quando um campo é aplicado, as moléculas, que possuem momento de dipolo elétrico tendem a se alinhar com o campo. Quando o campo que provocou a orientação dos dipolos moleculares é removido, ocorre relaxação dielétrica, isto é, as moléculas tendem a retornar aos estados anteriores (menos alinhados).


Esse campo se alterna rapidamente, cerca de 5 bilhões de vezes por segundo para a frequência aplicada de 2450 MHz. Essa oscilação provoca considerável fricção intermolecular, resultando na geração de calor. Desta forma, os alimentos são aquecidos de dentro para fora, deixando frios o forno e o recipiente. Para aproveitar as características favoráveis de rápido aquecimento, diversos métodos que empregam radiação de micro-ondas vêm sendo propostos em laboratórios químicos desde a década de 1970, envolvendo preparo de amostras, síntese, extrações, secagem etc. Alguns artigos sobre os ensaios de determinação do teor de umidade dos solos foram publicados e demonstram resultados muito divergentes quando comparados com a estufa. O solo que melhor apresentou o teor de umidade foi o solo arenoso. Por conta do motivo mencionado, este trabalho foi realizado utilizando também outros tipos de solos.

Figura 2 – Amostra 2 selecionada para pesquisa

3 ESCOLHA DOS TIPOS DE SOLO

Foram escolhidas três amostras de solos regionais, coletadas em diferentes pontos da cidade de GoiâniaGO, sendo elas duas argilas e um silte. Denominaremos como sendo: a) Amostra 1 – Solo com coloração rosa coletado em uma obra no Setor Bueno; b) Amostra 2 – Solo apresentando coloração amarelada, coletada na região central de Goiânia; c) Amostra 3 – Solo apresentando coloração avermelhada, coletada em uma obra no Setor Bueno. Os solos selecionados para a pesquisa estão ilustrados nas figuras abaixo.

Figura 3 – Amostra 3 selecionada para pesquisa

As amostras foram coletadas e acondicionadas em sacos plásticos para posterior seleção de porções menores. Todas as amostras foram identificadas, secadas ao ar livre, destorroadas e quarteadas, para que houvesse melhor homogeneidade. Todos os procedimentos foram realizados conforme orientações da NBR 6.457/86.

4 ENSAIOS DE CARACTERIZAÇÃO DAS AMOSTRAS

Figura 1 – Amostra 1 selecionada para pesquisa

Foram realizados ensaios de Massa Específica conforme a NBR 6.508/84, teor de umidade higroscópica, conforme a NBR 6.457 Anexo, granulometria por peneiramento e sedimentação, conforme a NBR 7.181/84 e limites de consistência conforme as NBRs 7.180/84 e 6.454/84. Fundações e Obras Geotécnicas | 57


| Notas | Artigo | Em foco

5 ENSAIOS DE TEOR DE UMIDADE

teor de umidade pelo método da estufa utilizando-se três cápsulas para cada ponto de umidade, permanecendo essas cápsulas na estufa com uma temperatura em torno de 105ºC por um período de 24 horas.

| Geotecnia Para a realização do estudo de determinação do teor Ambiental de umidade dos solos através do forno de micro-on| O que das em comparação com a estufa, inicialmente foram há de novo pesadas 1.000 gramas de amostra para cada composi| História ção, sendo essas amostras submetidas posteriormente ao peneiramento em malha #2,00 mm. O ensaio para determinar a umidade foi realizado apenas nas amostras que passaram pela peneira.

Na sequência da metodologia de trabalho foram selecionadas duas amostras do solo utilizado para determinar a umidade pelo método da estufa para a realização do teor de umidade pelo forno de micro-ondas. Foram pesadas duas amostras de 50 gramas para cada ponto de umidade sendo as mesmas colocadas dentro de um cadinho de porcelana e levadas ao forno de micro-ondas à potência máxima por um período de 20 minutos, orientações provenientes da revisão bibliográfica.

| Livro Utilizando-se

das informações da revisão bibliográfica e definido o método experimental, procedeu-se a pre| Agenda paração das amostras.

Para se determinar a umidade higroscópica do solo foi realizado um ensaio com as amostras utilizando a fração que passou na peneira #2,00 mm, sendo este valor constituído do primeiro dado a ser levantado nesta pesquisa. Na sequência da pesquisa, foram adicionadas quantidades diferentes de água nas amostras cuja massa inicial era de 1.000 gramas, sendo essas amostras submetidas também ao peneiramento na peneira supracitada. Visava-se atingir os respectivos teores de umidade de 5%, 10%, 20% e 30%, sendo esta quantidade de água adicionada calculada em função da umidade higroscópica. Estas umidades foram definidas no intuito de avaliar a eficiência do micro-ondas em diferentes teores de umidade para cada tipo de solo, verificando se haveria variação com os resultados obtidos pelo método da estufa. As amostras de solo foram preparadas através de um procedimento padronizado. Após a adição da água, elas foram homogeneizadas e acondicionadas em sacos plásticos hermeticamente fechados, permanecendo em repouso por um período de 24 horas. Ao fim deste período as amostras foram peneiradas na malha #2,00 mm conforme já relatado anteriormente, sendo que na sequência foram realizados os ensaios de

Ao fim dos períodos relatados acima, foram retiradas as cápsulas da estufa e do forno de micro-ondas, sendo colocadas dentro do dessecador até que atingisse uma temperatura de equilíbrio com o meio externo, e na sequência foram determinadas suas massas secas e por fim, realizamos o cálculo conforme a fórmula de determinação do teor de umidade.

6 RESULTADOS E DISCUSSÕES 6.1 Ensaios de caracterização 6.1.1 Umidade higroscópica

Umidade higroscópica é a máxima quantidade de água, em percentagem, que o solo é capaz de adsorver da atmosfera, em forma de vapor, e manter em equilíbrio com o ambiente. É a água perdida por uma amostra de solo seca ao ar (TFSA – Terra Fina Seca ao Ar), quando aquecida a 105-110ºC, por 24 horas, em uma estufa (TFSE – Terra Fina Seca em Estufa). As amostras coletadas para a realização do trabalho apresentaram baixa umidade higroscópica, como podemos observar nos dados obtidos dos ensaios de umidade higroscópica representados nas tabelas 1, 2 e 3 abaixo.

Tabela 1 – Umidade Higroscópica – Amostra 1 AMOSTRA 1 Peso Kg: 1,00

1 2

Cápsula

C (g)

C + S + A1 (g)

C + S2 (g)

Água (g)

Solo (g)

Umidade (%)

142

26,7

63,32

63

0,32

36,3

0,88

174

10,76

57,09

56,6

0,49

45,84

1,07

C + S + A = massa da cápsula + massa do solo + massa da água C + S = massa da cápsula + massa do solo

58 | Fundações e Obras Geotécnicas

Média (%) 1,0


Tabela 2 – Umidade Higroscópica – Amostra 2 AMOSTRA 2 Peso Kg: 1,00 Cápsula

C (g)

C + S + A (g)

C + S (g)

Água (g)

Solo (g)

Umidade (%)

50

11,09

77,18

76,8

0,38

65,71

0,58

222

13,4

74,59

74,2

0,39

60,8

0,64

Média (%)

0,6

Tabela 3 – Umidade Higroscópica – Amostra 3 AMOSTRA 3 Peso Kg: 1,00 Cápsula

C (g)

C + S + A (g)

C + S (g)

Água (g)

Solo (g)

Umidade (%)

280

14,52

55,81

55,1

0,71

40,58

1,75

85

16,73

46,61

46,28

0,33

29,55

1,12

Média (%)

1,4

6.1.2 Granulometria por peneiramento

Para os ensaios de Granulometria por peneiramento foram obtidos os resultados apresentados abaixo na tabela 4: Tabela 4 – Peneiramento – Escalas Granulométricas ESCALAS GRANULOMÉTRICAS Percentual (%) Denominação

ABNT NBR 6502/1995

ASTM D 422-63 (90)

76,0 a 4,8 mm

DNER Amostra 1

Amostra 2

Amostra 3

Pedregulho

60,0 a 2,0 mm

76,0 a 2,0 mm

Grosso

60,0 a 20,0 mm

6,03

11,61

0,00

Médio

20,0 a 6,00 mm

26,04

23,22

3,23

Fino

6,0 a 2,0 mm

40,52

22,70

10,56

Areia

2,0 a 0,60 mm

4,8 a 0,075 mm

2,0 a 0,075 mm

Grossa

0,60 a 0,20 mm

4,8 a 2,0 00

2,0 a 0,075 mm

12,11

14,32

26,69

Média

0,20 a 0,06 mm

2,0 a 0,42 mm

3,52

4,78

16,00

Fina

0,06 a 0,06 mm

0,42 a 0,075 mm

0,42 a 0,075 mm

6,00

1,56

14,30

Silte/Argila

0,06 a 0,002 mm

0,075 a 0,05 mm

0,075 a 0,005 mm

3,91

20,50

17,32

Fundações e Obras Geotécnicas | 59


| Notas | Artigo | Em foco

6.1.2.1 Curva granulométrica | Livro

| Agenda | Geotecnia Ambiental | O que há de novo | História

Figura 4 – Curva Granulométrica

6.1.3 Ensaios de massa específica, limites de consistência e classificação dos solos transportation research board

Em função da granulometria e dos limites de consis-

tência encontrados, podemos classificar os solos ensaiados conforme a Classificação TRB (Transportation Research Board). A tabela 5 abaixo apresenta os resultados das análises realizadas dos ensaios de caracterização e da classificação.

Tabela 5 – Ensaios de Massa Específica, Limites de Consistência e Classificação dos Solos TRB Limites de Consistência Umidade Higroscópica

Massa Específica (KN/m³)

Amostra 1

0,98%

Amostra 2 Amostra 3

SOLOS

Classificação dos Solos - TRB (antigo HRB)

Classificação dos Solos SUCS

NP

A3

SW ou SP

25

15

A2 - 6

SC ou SM

20

8

A2 - 4

SC ou SM

LL (%)

LP (%)

IP (%)

26,3

NP

NP

0,61%

27,2

40

1,43%

27

28

60 | Fundações e Obras Geotécnicas


Segundo a classificação TRB (antigo HRB), os solos que se classificam entre A1 e A2-7 são materiais granulares, que apresentam 35% ou menos passando na peneira nº 200. Segundo a Classificação do SUCS (Sistema Unificado de Classificação de Solos), os solos são de granulação

grossa e mais de metade é maior que a abertura da peneira de malha nº 40.

6.2 Ensaios de teor de umidade 6.2.1 Método da estufa

Tabela 6 – Umidade Higroscópica AMOSTRA 1 CAP

CAP (G)

C+S+A

C+S

ÁGUA

SOLO

UMIDADE %

48

60,77

221,85

221,2

0,65

160,43

0,41%

49

61,42

229,47

228,69

0,78

167,27

0,47%

60

61,81

232,42

231,85

0,57

170,04

0,34%

MÉDIA

0,4%

AMOSTRA 2 CAP

CAP (G)

C+S+A

C+S

ÁGUA

SOLO

UMIDADE %

8

57,75

226,28

225,17

1,11

167,42

0,66%

12

52,42

205,46

204,59

0,87

152,17

0,57%

27

58,22

241,07

239,94

1,13

181,72

0,62%

MÉDIA

0,6%

AMOSTRA 3 CAP

CAP (G)

C+S+A

C+S

ÁGUA

SOLO

UMIDADE %

7

61,03

208,94

207,01

1,93

145,98

1,32%

57

60,57

213,69

210,81

2,88

150,24

1,92%

s/n

57,88

257,49

254,18

3,31

196,3

1,69%

6.2.1.1 Umidade Prevista de 5%

Observou-se uma dispersão de umidade na Amostra

MÉDIA

1,6%

1, que pode ser devido às condições climáticas do laboratório e o tipo de solo classificado como arenoso.

Tabela 7 – Umidade Prevista de 5% AMOSTRA 1 CAP

CAP (G)

C+S+A

C+S

ÁGUA

SOLO

UMIDADE %

28

52,04

206,26

202,77

3,49

150,73

2,32%

30

62,52

246,2

239,77

6,43

177,25

3,63%

S/N

54,44

211,97

206,69

5,28

152,25

3,47%

MÉDIA

3,1%

AMOSTRA 2 CAP

CAP (G)

C+S+A

C+S

ÁGUA

SOLO

UMIDADE %

7

61,13

271,5

261,73

9,77

200,6

4,87%

57

60,68

262,03

252,61

9,42

191,93

4,91%

60

61,95

231,09

223,32

7,77

161,37

4,82%

CAP

CAP (G)

C+S+A

C+S

ÁGUA

SOLO

UMIDADE %

66

59,64

214,36

208,09

6,27

148,45

4,22%

78

56,08

178,86

173,66

5,2

117,58

4,42%

103

63,74

300,82

290,76

10,06

227,02

4,43%

MÉDIA

4,9%

AMOSTRA 3 MÉDIA

4,4%

Fundações e Obras Geotécnicas | 61


| Notas | Artigo | Em foco

6.2.1.2 Umidade prevista de 10% | Livro

Tabela 8 – Umidade Prevista de 10% | Agenda

AMOSTRA 1

| Geotecnia Ambiental CAP CAP (G)

C+S+A

C+S

ÁGUA

SOLO

UMIDADE %

17

64,6

274,06

255,28

18,78

190,68

9,85%

67

61,92

257,72

240,03

17,69

178,11

9,93%

106

63,76

206,43

193,92

12,51

130,16

9,61%

| O que há de novo | História

MÉDIA

9,8%

AMOSTRA 2 CAP

CAP (G)

C+S+A

C+S

ÁGUA

SOLO

UMIDADE %

12

52,54

251,82

233,89

17,93

181,35

9,89%

27

58,34

221,18

206,47

14,71

148,13

9,93%

48

60,91

240,92

224,5

16,42

163,59

10,04%

MÉDIA

9,9%

AMOSTRA 3 CAP

CAP (G)

C+S+A

C+S

ÁGUA

SOLO

UMIDADE %

99

61,34

234,26

219,28

14,98

157,94

9,48%

32

58,21

210,85

198,2

12,65

139,99

9,04%

10

49,71

267,65

248,84

18,81

199,13

9,45%

MÉDIA

9,3%

6.2.1.3 Umidade prevista de 20% Tabela 9 – Umidade prevista de 20% AMOSTRA 1 CAP

CAP (G)

C+S+A

C+S

ÁGUA

SOLO

UMIDADE %

80

60,6

259,16

226,47

32,69

165,87

19,71%

24

61,93

254,05

222,55

31,5

160,62

19,61%

21

61,55

260,45

227,55

32,9

166

19,82%

SOLO

UMIDADE %

MÉDIA

19,7%

AMOSTRA 2 CAP

CAP (G)

C+S+A

C+S

ÁGUA

8

57,88

232,3

203,41

28,89

145,53

19,85%

49

61,56

260,79

227,33

33,46

165,77

20,18%

S/N

57,95

275,99

239,67

36,32

181,72

19,99%

MÉDIA

20,0%

AMOSTRA 3 CAP

CAP (G)

C+S+A

C+S

ÁGUA

SOLO

UMIDADE %

18

64,02

259,6

227,94

31,66

163,92

19,31%

44

57,8

251,24

220,01

31,23

162,21

19,25%

79

57,98

255,98

224,2

31,78

166,22

19,12%

62 | Fundações e Obras Geotécnicas

MÉDIA

19,2%


6.2.1.4 Umidade prevista de 30% Tabela 10 – Umidade Prevista de 30% AMOSTRA 1 CAP

CAP (G)

C+S+A

C+S

ÁGUA

SOLO

UMIDADE %

105

54,39

327,35

265,14

62,21

210,75

29,52%

77

59

250,66

207,54

43,12

148,54

29,03%

21

54,4

227,35

188,43

38,92

134,03

29,04%

MÉDIA 29,2%

AMOSTRA 2 CAP

CAP (G)

C+S+A

C+S

ÁGUA

SOLO

UMIDADE %

47

59,83

236,22

196,11

40,11

136,28

29,43%

13

61,96

265,34

219,04

46,3

157,08

29,48%

22

56,46

215,59

179,41

36,18

122,95

29,43%

MÉDIA 29,4%

AMOSTRA 3 CAP

CAP (G)

C+S+A

C+S

ÁGUA

SOLO

UMIDADE %

10

59,34

236,64

196,83

39,81

137,49

28,95%

55

53,88

287,23

235,21

52,02

181,33

28,69%

402

58,43

279,1

229,72

49,38

171,29

28,83%

28,8%

6.2.2 Método do forno de micro-ondas

6.2.2.1 Umidade prevista de 5%

Tabela 11 – Umidade Higroscópica

Tabela 12 – Umidade Prevista de 5%

AMOSTRA 1

MÉDIA

AMOSTRA 1

S+A

S

ÁGUA

UMIDADE %

50

49,37

0,63

1,28%

50

49,44

0,56

1,13%

MÉDIA 1,2%

S+A

S

ÁGUA

UMIDADE %

50

47,29

2,71

5,73%

50

47,69

2,31

4,84%

MÉDIA 5,3%

AMOSTRA 2

AMOSTRA 2 S+A

S

ÁGUA

UMIDADE %

50

49,74

0,26

0,52%

50

49,74

0,26

0,52%

MÉDIA 0,5%

S+A

S

ÁGUA

UMIDADE %

50

46,98

3,02

6,43%

50

47,13

2,87

6,09%

MÉDIA 6,3%

AMOSTRA 3

AMOSTRA 3 S+A

S

ÁGUA

UMIDADE %

50

49,15

0,85

1,70%

50

49,30

0,70

1,42%

MÉDIA 1,6%

S+A

S

ÁGUA

UMIDADE %

50

47,55

2,45

5,15%

50

47,45

2,55

5,37%

MÉDIA 5,3%

Fundações e Obras Geotécnicas | 63


| Notas | Artigo | Em foco

6.2.2.2 Umidade prevista de 10%

6.2.2.3 Umidade prevista de 20%

Tabela 13 – Umidade Prevista de 10%

Tabela 14 – Umidade Prevista de 20%

| Livro

| Agenda

AMOSTRA 1

| Geotecnia Ambiental S+A S ÁGUA

AMOSTRA 1

UMIDADE %

| O50que há de novo 45,44 4,56

MÉDIA

10,04%

S+A

S

ÁGUA

UMIDADE %

50

41,98

8,02

19,10%

50

42,35

7,65

18,06%

18,6%

9,6% 50 45,78 | História

4,22

9,22%

AMOSTRA 2

AMOSTRA 2 S+A

S

ÁGUA

UMIDADE %

50

45,55

4,45

9,77%

MÉDIA

S+A

S

ÁGUA

UMIDADE %

50

41,75

8,25

19,76%

50

41,83

8,17

19,53%

45,66

4,34

9,51%

AMOSTRA 3

AMOSTRA 3 S+A

S

ÁGUA

UMIDADE %

50

45,74

4,26

9,31%

50

45,98

4,02

8,74%

MÉDIA

S+A

S

ÁGUA

UMIDADE %

50

41,98

8,02

19,10%

50

42,30

7,70

18,20%

MÉDIA

18,6%

9,0%

6.2.2.4 Umidade prevista de 30% Tabela 15 – Umidade Prevista de 30% AMOSTRA 1 S+A

S

ÁGUA

UMIDADE %

50

39,08

10,92

27,94%

50

39,29

10,71

27,26%

MÉDIA

27,6%

AMOSTRA 2 S+A

S

ÁGUA

UMIDADE %

50

39,10

10,90

27,88%

50

38,97

11,03

28,30%

MÉDIA

28,1%

AMOSTRA 3 S+A

S

ÁGUA

UMIDADE %

50

38,59

11,41

29,57%

50

38,89

11,11

28,57%

MÉDIA

29,1%

64 | Fundações e Obras Geotécnicas

MÉDIA

19,6%

9,6% 50

MÉDIA


6.3 Comparativo

Seguem abaixo os dados da comparação entre as diferentes metodologias, representados na tabela Tabela 16 – Comparativo entre os Métodos da Estufa e do Forno de Micro-ondas COMPARATIVO ENTRE OS MÉTODOS

Umidade

AMOSTRA 1

AMOSTRA 2

ESTUFA MICRO-ONDAS VARIAÇÃO

ESTUFA

AMOSTRA 3

MICRO-ONDAS VARIAÇÃO

ESTUFA

MICRO-ONDAS

VARIAÇÃO

Higroscópica

0,4%

1,2%

0,8%

0,6%

0,5%

0,1%

1,6%

1,6%

0,0%

5%

3,1%

5,3%

2,2%

4,9%

6,3%

1,4%

4,4%

5,3%

0,9%

10%

9,8%

9,6%

0,2%

9,9%

9,6%

0,3%

9,3%

9,0%

0,3%

20%

19,7%

18,6%

1,1%

20,0%

19,6%

0,4%

19,2%

18,6%

0,6%

30%

29,2%

27,6%

1,6%

29,4%

28,1%

1,3%

28,8%

29,1%

0,3%

Figura 5 – Comparação entre os Métodos – Amostra 1 Fundações e Obras Geotécnicas | 65


| Notas | Artigo | Em foco | Livro | Agenda | Geotecnia Ambiental | O que há de novo | História

Figura 6 – Comparação entre os Métodos – Amostra 2

Figura 7 – Comparação entre os Métodos – Amostra 3 66 | Fundações e Obras Geotécnicas


6.4 Análise dos resultados

Após a conclusão de todos os ensaios de umidade nas suas respectivas metodologias, constitui uma informação relevante a ser destacada, a constatação de que os solos que continham maiores teores de umidade, ou seja, índices superiores a 20% e 30%, apresentaram-se em forma de torrões após a conclusão do ensaio, inclusive àqueles submetidos à temperatura e ambiente interno da estufa. Em relação aos solos com umidade 5% e 10% observouse que eles apresentaram a textura original após a conclusão dos ensaios na estufa e no forno de micro-ondas. Para analisar os resultados obtidos entre os teores de umidade encontrados nas duas metodologias será feito uma analogia utilizando-se das recomendações das normas técnicas do Departamento Nacional e Infraestrutura e Transporte em suas ES (Especificação de Serviço) para a construção e controle de umidade de aterros e camadas de pavimento. Segundo as especificações DNIT 108/2008 ES (para camadas de terraplenagem) e da DNIT 141/2010 ES (para camadas de pavimento base e sub-base), é recomendado que o desvio de umidade máximo seja de + ou - 3% para as primeiras estruturas e de - 2% e + 1% para a segunda. Se tomarmos como referência estes dos parâmetros utilizados para aprovação de controle de umidade de campo em confronto com a umidade de compactação obtida em laboratório, percebe-se que a utilização do micro-ondas que obteve uma variação de umidade menor do que 1% não acarretaria erro da determinação e na análise do desvio de umidade. A variação de umidade, no caso, inferior a 1%, seria perfeitamente aceita como tolerância para avaliar a qualidade da compactação realizada no campo em função do parâmetro umidade. Portanto, o grupo entende que os resultados obtidos foram muito satisfatórios, e que o micro-ondas demonstrou bom desempenho quando aplicado nestes solos em estudo. Considerando que foram realizadas cinco investigações de umidade para cada tipo de solo, e tomando como parâmetro as exigências dos órgãos de fiscalização rodoviários e práticas de campo que exigem que a variação da umidade entre métodos seja em torno de 1%, segundo a norma DNIT 141/2010 ES, podemos concluir que:

• A Amostra 1 não atende a exigência na maioria dos pontos de umidade, pois das cinco investigações, apenas 20% dos ensaios atenderam às especificações requeridas; • A Amostra 2 atendeu em 60% as exigências, três ensaios satisfatórios; • A Amostra 3 apresentou 100% de acerto, segundo as exigências apresentadas acima. A amostra 1 e a amostra 2 apresentaram o mesmo comportamento, pois possuem teores elevados de pedregulho (Amostra 1 = 72,60%, Amostra 2 = 57,52%) e teores semelhantes de areia (Amostra 1 = 21,63%, Amostra 2 = 20,66%). A amostra 3, mais arenosa (56,99% de areia), apresentou um resultado satisfatório e mais confiável em relação aos outros tipos de solo, utilizando o forno de micro-ondas em potência máxima por um período de 20 minutos, pois atendeu em 100% as especificações requeridas, comprovando, assim, a revisão bibliográfica, que mostra que os solos arenosos apresentaram excelentes resultados quando comparados os dois métodos aqui apresentados.

CONCLUSÕES

A partir da análise dos resultados experimentais deste trabalho podemos concluir que: 1. O uso de estufa é um método consagrado para a determinação da umidade em solos. Entretanto, quando se pretende rapidez em se conhecer a umidade, tal método não é eficiente, pois há controvérsias até mesmo no intervalo de tempo adequado para se realizar a secagem. Diferentes alternativas ao emprego da estufa têm sido propostas, sendo uma delas a aplicação de micro-ondas. Miller, Smith e Biggar (1974) propuseram o uso do forno de micro-ondas comercial, o que diminui sobremaneira o tempo de secagem, o qual é função do número de amostras, do tamanho e potência do forno, do teor de umidade inicial, da massa da amostra e do tipo de solo. Sabendo-se que as moléculas de água são dipolos elétricos naturais, sabendo-se ainda que sofrem rotações quando expostas a campos eletromagnéticos, podemos basear o processo de secagem do solo através do uso de radiação eletromagnética. Conforme Aguilar (2001), o atrito molecular resultante gera calor instantâneo e uniformemente na amostra de solo, reduzindo a umidade. Fundações e Obras Geotécnicas | 67


| Notas | Artigo | Em foco

Já o comportamento de materiais ferromagnéticos | Livro na presença de campos elétricos externos, tais como o campo magnético de uma onda eletromagnética do | Agenda tipo micro-ondas (Guimarães, 1988) é determinado pela origem de seus dipolos magnéticos e pela natureza | Geotecnia Ambiental da interação entre eles. Assim, solos com altos teores de ferro apresentam comportamento peculiar quando | O que háàde novo eletromagnética. submetidos radiação | História 2. Apresentamos aqui que a secagem de solos em forno de micro-ondas pode ser empregada com sucesso, embora os resultados possam variar em relação a outras análises. Tomé e Dechen (1995) mostraram que a irradiação por micro-ondas pode acarretar mudanças nos resultados de análises químicas e mineralógicas.

3. Concluímos que o uso do forno de micro-ondas para determinação do teor de umidade dos solos arenosos apresentou resultados confiáveis e compatíveis com os resultados da estufa para solos com alto teor de areia, tornando assim possível, desde que testado, o uso do primeiro método em ensaios de determinação do teor de umidade.

REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NOTAS TÉCNICAS. NBR 7181: Solo – Análise granulometria. Rio de Janeiro: ABNT, 1984a. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NOTAS TÉCNICAS. NBR 7180: Determinação da massa específica dos grãos. Rio de Janeiro: ABNT, 1984b. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NOTAS TÉCNICAS. NBR 6454: Solo-Determinação do limite de liquidez. Rio de Janeiro: ABNT, 1984d. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NOTAS TÉCNICAS. NBR 6457: Amostras de Solo – Preparação para ensaios de compactação e ensaios de caracterização. Rio de Janeiro: ABNT 1986. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NOTAS TÉCNICAS. NBR 6457: Teor de Umidade, Anexo. Rio de Janeiro: ABNT, 1986. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NOTAS TÉCNICAS. NBR 6508: Massa Específica. Rio de Janeiro: ABNT, 1984.

68 | Fundações e Obras Geotécnicas

AGUILAR, J. A. G. Procesamiento de materiales por medio de micro-ondas em la FIME. Ingenierías, Nuevo León, v. 4, n. 13, n., p. 32-39, 2001. BATALIONE, G. (2007) Estabilização de solos tropicais com a utilização de rejeitos finos de pedreira de uma rocha granítica. Dissertação de Mestrado em Geotecnia, Departamento de Engenharia Civil e Ambiental, Universidade de Brasília, Brasília, 2007. CAPUTO, H. P. Mecânica dos Solos e suas Aplicações Vol. 2. São Paulo, SP, 3a edição – revista e ampliada, Editora LTC, 456p 1977. DEPARTAMENTO NACIONAL DE ESTRADAS DE RODAGEM. Solos e agregados miúdos – Determinação da umidade com emprego do “speedy”. Rio de Janeiro: DNER, 1994. DEPARTAMENTO NACIONAL DE INFRAESTRUTURA DE TRÂNSITO. “Manual da Pavimentação”. São Paulo: DNIT, 2006. GUIMARAES, A. P. Magnetism and magnetic reso­nance in solids. New York: John Wiley & Sons, 1998. KINGSTON, H . M.; JASSIE, L. B. (Ed.) Introduction to Microwave Sample Preparation – Theory and Practice. Washington: ACS Professional Reference Book, 1988. 263p. KRUG, F. J. (Ed.) Workshop sobre preparo de amostras – métodos de decomposição de amostras, 3., 2000, São Carlos, SP. São Carlos: Embrapa Pecuária Sudeste, 2000. 149 p. LOLLO, J. A. de, (2007). Controle de Compactação, Manuscrito submetido à publicação, 2007. MILLER, R. J.; SMITH, R. B.; BIGGAR, J.W. Soil water content: microwave oven method. Proceedings Soil Science Society of America, Madison, v. 38, n. 3, p. 535-537, 1974. TOMÉ, J. B.; DECHEN, A. R. Microwave oven-drying of soil samples for chemical testing in Brazil. Communications in soil science and plant analysis, New York, v. 26, n. 3-4, p. 515-529, 1995.



| O que há de novo | História

Obra: A Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Nossa Senhora do Patrocínio, na época de sua construção Local: Itu / São Paulo Data: Século XX (Conclusão da obra em 1959) Esta imagem foi retirada do banco de imagens Arquigrafia da USP (Universidade de São Paulo)

70 | Fundações e Obras Geotécnicas


Obra: Construção da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Nossa Senhora do Patrocínio, no interior de São Paulo Local: Itu / São Paulo Data: Século XX (Conclusão da obra em 1959) Créditos: Acervo de João Walter e Odiléa Setti Toscano Esta imagem foi retirada do banco de imagens Arquigrafia da USP (Universidade de São Paulo)

Fundações e Obras Geotécnicas | 71


| Artigo | Em foco | Livro

GESTÃO DE RISCO EM GEOTECNIA AMBIENTAL

| Agenda

| Geotecnia Ambiental | O que há de novo

A

| História

ocorrência de processos geológicosgeotécnicos (escorregamentos, erosão, solapamento de margens, assoreamento, inundação, colapsos e subsidências) afeta praticamente todas as regiões brasileiras, tanto em áreas urbanas como rurais e empreendimentos. Esses processos, além dos evidentes danos econômicos e ambientais, podem levar à perda de vidas.

Há também características do relevo, destacando a declividade (inclinação do terreno), amplitude, forma do perfil das vertentes (retilíneo, convexo e côncavo); comportamento e nível do lençol freático; e características do uso e ocupação do solo (áreas urbanas consolidadas e em consolidação, cortes, aterros, entre outros, incluindo cobertura vegetal.

O mapeamento desses processos e análise dos riscos a eles associados, a realização de pesquisas e serviços para a elaboração de diagnósticos e prognósticos para a prevenção de acidentes, estabilização e recuperação de áreas atingidas, propondo medidas de prevenção e mitigação estruturais e não -estruturais, dentre outros, constituem a gestão de risco em geotecnia ambiental.

Os processos geológico-geotécnicos ou de dinâmica superficial que se manifestam na forma de movimentos gravitacionais de massa, erosão, solapamento de margens fluviais, dentre outros, podem, de acordo com Varnes (1978) ser deflagrados por agentes predisponentes ou condicionantes naturais e agentes efetivos, que incluem a ação antrópica. Em síntese, os principais condicionantes de escorregamentos e processos correlatos consistem em: características do comportamento climático, com ênfase ao regime pluviométrico; características, comportamento e distribuição dos materiais que compõem o substrato das encostas ou taludes, abrangendo os diferentes tipos de solos, rochas, depósitos e estruturas geológicas (xistosidade, fraturas etc.). 72 | Fundações e Obras Geotécnicas

Exemplo de utilização do mapeamento no bairro Jardim Dulce, São Paulo (SP), em 2004

Arquivo Kátia Canil

Definição

Segundo o Ministério das Cidades (2008), os deslizamentos planares ou translacionais em solo são processos muito frequentes na dinâmica das encostas serranas brasileiras, ocorrendo predominantemente em solos pouco desenvolvidos das vertentes com altas declividades. Sua geometria caracteriza-se por uma pequena espessura e forma


retangular estreita (comprimentos bem superiores às larguras). Este tipo de deslizamento também pode ocorrer associado a solos saprolíticos, saprolitos e rocha, condicionados por um plano de fraqueza desfavorável à estabilidade, relacionado a estruturas geológicas diversas (foliação, xistosidade, fraturas e falhas). Por sua vez, processos de erosão hídrica (desagregação e remoção do solo ou fragmento e partículas de rocha pela ação combinada da gravidade com a água, vento, gelo e/ou organismo, plantas e animais, segundo IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas, 1986). Resultam da combinação de agentes naturais e antrópicos e são deflagrados principalmente pela ação concentrada do escoamento superficial, que provocam sulcos no terreno e evoluem para feições dos tipos ravinas e boçorocas. As boçorocas ou voçorocas são a expressão máxima do processo, e se desenvolvem quando o nível d’água (ou lençol freático) é interceptado. Nos Estados de São Paulo e Paraná este processo é muito comum e ocorre principalmente em solos de textura arenosa e areno-argilosa (argissolos). Os processos de solapamento de margem fluviais correspondem à ruptura de taludes marginais do rio por erosão e ação inconsistente das águas durante ou logo após processos de enchentes e inundações. O evento pode gerar situações de risco quando há presença de assentamentos precários (favelas) situados ao longo das margens dos córregos.

Áreas afetadas

Segundo o Plano Nacional de Gestão de Riscos e Respostas a Desastres Naturais (2012 – 2014), são reconhecidos no Brasil 821 municípios suscetíveis a processos de caráter geológicogeotécnicos e hidrológicos distribuídos por 17 Regiões Metropolitanas e bacias hidrográficas prioritárias, nos Estados do Amazonas, Bahia,

Exemplo de utilização do mapeamento no bairro Jardim Dulce, São Paulo (SP), em 2009

Espírito Santo, Minas Gerais, Pernambuco, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. Nesses municípios, a gravidade do problema torna necessário incluir, no rol das políticas de desenvolvimento urbano, um componente específico de gerenciamento de risco associado aos programas de urbanização de assentamentos precários.

Mapeamento O gerenciamento de áreas urbanas com risco de deslizamentos, solapamento e margens de córregos, tem como base quatro questões, a partir das quais o trabalho é desenvolvido. A primeira questão é relativa ao tipo de processo a ser mapeado Fundações e Obras Geotécnicas | 73


Arquivo Kátia Canil

| Artigo | Em foco | Livro

Após a definição, o mapeamen| História to identifica onde estes ocorrem e, por meio de estudos de correlação e monitoramento, serão definidos os momentos de maior probabilidade de deflagração do processo. Sabendo o tipo de processo, como, onde e quando ele poderá ocorrer, serão definidas as medidas a serem tomadas, sejam de caráter estrutural ou não estrutural e quem será o responsável por elas. Em linhas gerais, o quadro abaixo sintetiza as cinco perguntas básicas: 1. O que e como ocorre? – Identificação da Tipologia dos Processos. Identificar os tipos de movimentos de massa (rastejos, deslizamentos planar, circular e em cunha), quedas de blocos e corridas (que ocorrem em encostas naturais e/ou taludes de corte); 2. Onde ocorrem os problemas? – Deve-se realizar o mapeamento das áreas de risco; 3. Quando ocorrem os problemas? – Correlação com condições hidrometeorológicas adversas, monitoramento; 4. O que fazer? Indicar medidas estruturais (obras de intervenção) e não estruturais (planos de gerenciamento, planos preventivos); 5. Quem irá fazer? Responsáveis pela implantação das medidas. De acordo com os programas de Mitigação de Desastres da 74 | Fundações e Obras Geotécnicas

UNDRO (United Nations Disaster Relief Coordinator), a sequência de ações de prevenção e preparação para eliminar/reduzir os riscos consiste em: 1. Identificação dos riscos; 2. Análise dos riscos; 3. Medidas de prevenção; 4. Planejamento para situações de emergência; 5. Informações públicas e treinamento.

tipos de processos previamente reconhecidos. Esse tipo de análise pode ser realizado tanto para uma área restrita, quanto para um conjunto de áreas, envolvendo: a) Zoneamento ou setorização das áreas; b) Quantificação relativa e/ou absoluta do risco; c) Cadastramento de risco; d) Carta de risco; e) Hierarquização de risco; f) Avaliação de possíveis cenários de acidentes. Arquivo Kátia Canil

ou identificado. Devem ser de| Agenda finidos quais são os processos presentes e como eles ocor| Geotecnia Ambiental rem, identificando quais são seus condicionantes naturais | O que há de novo e/ou antrópicos.

Identificação dos riscos

A identificação dos riscos envolve a realização de estudos fenomenológicos dos processos e a pré-setorização das áreas mapeadas.

Análise dos riscos

A análise dos riscos é iniciada a partir dos resultados gerados pela identificação dos riscos, objetivando reconhecer mais detalhadamente o cenário de uma área de acordo com os diferentes

Exemplo de utilização do mapeamento no bairro Jaguaré, São Paulo (SP), em 2005

Medidas de prevenção de acidentes

A partir dos dados obtidos nos estudos de análise de risco são realizadas atividades para o gerenciamento das áreas de risco, o que compreende a definição, formulação e execução de medidas estruturais e não-estruturais mais adequadas ou possíveis de serem executadas a curto, médio e longo prazo, no sentido de reduzir o risco de acidentes.


ção. As obras de proteção contra deslizamentos incluem ainda as barreiras vegetais e os muros de espera.

Exemplo de utilização do mapeamento no bairro Jaguaré, São Paulo (SP), em 2010

Medidas estruturais As medidas estruturais são aquelas em que se aplicam soluções da engenharia, executandose obras de estabilização de encostas, sistemas de micro e macrodrenagem, obras de infraestrutura urbana, relocação de moradias etc. Essas ações são normalmente de alto custo, sobretudo quando é necessário conter deslizamentos de grande magnitude, estabilizar grandes blocos de rocha ou evitar processos correlatos de erosão e solapamento de margens de córregos em extensas áreas ocupadas.

Já as obras de drenagem têm como objetivo captar e conduzir as águas superficiais e subterrâneas das encostas, evitando a erosão, infiltração e o acúmulo da água no solo, responsáveis pela deflagração de deslizamentos. Todas as obras de contenção têm a drenagem como uma das suas mais importantes medidas complementares. Em muitos casos, envolvendo áreas de risco de deslizamento com núcleos habitacionais de ocupação precários nas encostas, os sistemas de ordenamento do escoa­ mento da drenagem superficial são as medidas mais importantes para a estabilidade das encostas. Existem diversos tipos de obras de drenagem. A drenagem superficial pode utilizar valas revestidas, canaletas, canaletas pré-moldadas, guias e sarjetas, tubos de concreto, escadas d’água, caixas de dissipação e caixas de transição. A drenagem das águas subterrâneas pode ser realizada por trincheiras drenantes ou por drenos profundos. Todos esses tipos de obras de drenagem devem ser devidamente dimensionados em função da vazão e da quantidade de água que o sistema deve conduzir.

Obras de contenção de encostas incluem retaludamentos e aterros, diversas tipologias de estruturas de contenção e proteção superficial de taludes e sistemas de drenagem específicos. Os retaludamentos compreendem obras de estabilização a partir da mudança na geometria das encostas, por meio de cortes e aterros, com ou sem estruturas de contenção, como os atirantamentos e os aterros reforçados com geotêxtil.

Arquivo Kátia Canil

As obras com estruturas de contenção incluem os muros de gravidade (muros de pedra seca, pedra argamassada, gabião e concreto armado). Obras específicas para deslizamentos em maciços rochosos incluem desde os desmontes manuais de lajes e blocos de rocha, até obras de engenharia mais complexas, e mais onerosas envolvendo atirantamentos e muros de prote-

Antiga Favela do Canivete em São Paulo (SP)

Fundações e Obras Geotécnicas | 75


| Artigo | Em foco | Livro | Agenda | Geotecnia Ambiental | O que há de novo

Arquivo Kátia Canil

| História

devem ser devidamente controlados, levando em consideração as características dos terrenos e sua suscetibilidade para a ocorrência de deslizamentos. Deve-se evitar ou reduzir a necessidade e dimensão de cortes e aterros, localizando as edificações com seu lado maior paralelo às curvas de nível. As moradias com mais de um pavimento devem ser construídas em desnível, acompanhando a

nuir a infiltração de água no maciço. Essa proteção pode utilizar materiais naturais ou artificiais. Sempre que possível, deve-se optar pela utilização de materiais naturais por serem, em geral, mais econômicos. A proteção com materiais naturais inclui a própria cobertura vegetal (devendo ser, de preferência, semelhante à cobertura vegetal natural da área). Arquivo Kátia Canil

Atual Parque Linear do Canivete onde ficava a Favela do Canivete

Na ação de reurbanização de áreas, os projetos devem conter soluções para o sistema viário, água potável, drenagem de águas pluviais e esgotos, fornecimento de eletricidade, coleta de lixo, abertura de espaços de lazer, realocação, melhoria de moradias e obras para diminuir riscos. A regulamentação para a reurbanização de áreas de riscos deve também considerar os estudos específicos de análise de risco.

Arquivo Kátia Canil

Em relação à moradia, em terrenos de encosta em que é possível a ocupação urbana por habitações populares, alguns cuidados e procedimentos devem ser tomados para diminuir o risco de acidentes. As intervenções para implantação de moradias e o projeto construtivo em áreas de encostas

Bairro Jardim Damasceno (SP), em 2004 76 | Fundações e Obras Geotécnicas

Bairro Jardim Damasceno (SP), em 2009

declividade natural da encosta. Os componentes e sistemas construtivos devem incluir materiais mais resistentes, principalmente paredes, muros e estruturas que possam servir como contenção de solo, com impermeabilização, tubulações hidráulicas estanques (não ter vazamentos). As águas pluviais devem ser captadas nos telhados e as áreas livres necessitam de uma destinação adequada, impedindo o despejo sobre terrenos e aterros desprotegidos. A proteção de superfície neste caso visa impedir a formação de processos erosivos e dimi-

Existe também a cobertura com gramíneas, o uso de solo argiloso para preenchimento de trincas, fissuras e sulcos erosivos e o uso de blocos de rocha, tanto assentados sobre o talude, como na forma de gabião. A proteção com materiais artificiais inclui alternativas como a impermeabilização asfáltica, a aplicação de solo-calcimento; de argamassa; de argamassa projetada sobre tela (tela e gunita) e aplicação de telas metálicas sobre a superfície, principalmente para a contenção de blocos de rocha.


São aquelas em que se aplica um rol de medidas relacionadas às políticas urbanas, planejamento urbano, legislação, planos de defesa civil e educação. São consideradas tecnologias brandas e, normalmente, têm custo muito mais baixo que as medidas estruturais (tecnologias duras), além de apresentar bons resultados, principalmente na prevenção dos desastres. Estas ações consistem em: – Planejamento urbano É o conjunto de medidas e ações para o gerenciamento do uso e ocupação do solo do município. Em muitas cidades brasileiras têm ocorrido ocupação inadequada de áreas suscetíveis a processos de deslizamentos e erosões, causando o crescimento de áreas de risco e o número de acidentes com perdas socioeconômicas. O Plano Diretor ou Plano de Ordenamento Territorial é um instrumento que organiza o crescimento e o funcionamento da cidade, indicando o que pode ser feito em cada área, orientando as prioridades de investimentos e os instrumentos urbanísticos que devem ser elaborados. Esses planos devem ser feitos para níveis regionais, metropolitanos e municipais. Uma das bases para os Planos Diretores são as cartas geotécnicas de aptidão à urbanização frente aos desastres naturais (prevista na Lei nº 12.608/12). – Legislação Existe legislação em todos os níveis que tratam do assunto, principalmente relacionadas ao meio ambiente, à regulamentação do uso e ocupação do solo, às normas de construção (principalmente municipais), à Defesa Civil e aos planos diretores, porém, muitas vezes, falta eficácia no seu cumprimento. Mais recentemente foi aprovada a Lei nº 12.608/12 que tem como principal objetivo reduzir os desastres. A nova lei destaca vários instrumentos que devem atender às políticas de ordenamento territorial para evitar a formação de novas áreas de risco (cartas de suscetibilidade aos desastres, cartas geotécnicas de aptidão à urbanização) e controlar as condições de melhoria para as atu-

ais áreas existentes, por meio de mapeamentos e elaboração de Planos Municipais de Redução de Riscos. – Política habitacional A maioria dos casos de desastres causados por deslizamentos está associada à população de baixa renda ocupando áreas não apropriadas, geralmente por falta de melhores opções de moradia. As políticas habitacionais devem contemplar programas para populações de baixa renda, com acompanhamento técnico, projetos e materiais adequados aos espaços que serão ocupados. Esses programas devem estar relacionados aos planos de requalificação de espaços urbanos, urbanização de favelas/assentamentos urbanos precários e mapeamentos detalhados de risco. Arquivo Kátia Canil

Medidas não-estruturais

Bairro Chácara Bananal (SP), em 2004

– Sistemas de alerta e contingência (Defesa Civil) O conhecimento acerca dos processos naturais tem permitido a previsão de sua ocorrência, o que possibilita a preparação de Planos de Alerta (ou preventivos) e de contingência específicos para cada tipo de processo (deslizamentos/inundações). Esses Planos baseiam-se no monitoramento das chuvas, nas previsões de meteorologia e nos trabalhos de campo para verificação das condições das vertentes. Na preparação e na operação desses planos devem ser realizadas diversas tarefas, tais como definição do tipo de processo a ser considerado, levantamento das áreas de risco, estruturação logística das ações do plano, definição do aparato tecnológico de recepção e transmissão de dados hidrometeorológicos e geotécnicos (de preferência em tempo real), capacitação das equipes locais para realizar vistorias das áreas durante todo o período das chuvas, difusão do Fundações e Obras Geotécnicas | 77


| Artigo | Em foco

sistema para a população por meio de pa| Agenda lestras, folhetos, cartilhas e a realização de simulados de evacuação de áreas atingidas. | Geotecnia Ambiental

Planejamento para situações de | O que há de novo emergência

Esta etapa trata principalmente da deter| História minação de como uma dada população em uma área de risco deve ser preventivamente evacuada ou protegida quando o risco é muito alto. Dentre os trabalhos que precisam ser realizados, constam: a) Determinação da fenomenologia preliminar, causas, evolução e área de impacto; b) Delimitação da área de risco para remoção da população; c) Abrigo da população; d) Orientação do resgate; e) Obras emergenciais; f) Sistema de monitoramento da área; g) Recomendações para o retorno da população.

Informações públicas e treinamento

A existência de um sistema educativo eficaz para disseminar a cultura de prevenção é o melhor instrumento para reduzir os desastres. Esse sistema deve abranger todos os níveis de ensino, com a inclusão de conhecimentos e experiências locais e soluções pragmáticas, com o intuito de serem colocadas em prática pela própria população. Devem ser elaborados e organizados cursos, oficinas, palestras, manuais, livros e cartilhas

Bairro Chácara Bananal (SP), em 2009 78 | Fundações e Obras Geotécnicas

que possibilitem a capacitação de equipes locais e da população. Com o mesmo propósito, deve ser incentivada a utilização de diversas mídias, tais como rádio, TV, jornais, revistas e mídias sociais. O conteúdo desses instrumentos deve abranger a identificação dos perigos, vulnerabilidades, medidas de prevenção e mitigação, legislação e sistemas de alerta.

Prevenção

A Lei nº 12.608/12 que institui a PNPDEC (Política de Prevenção Política Nacional de Proteção e Defesa Civil) abrange as ações de prevenção, mitigação, preparação, resposta e recuperação voltadas à proteção e defesa civil. Em seu parágrafo único, a PNPDEC deve integrar-se às políticas de ordenamento territorial, desenvolvimento urbano, saúde, meio ambiente, mudanças climáticas, gestão de recursos hídricos, geo­ logia, infraestrutura, educação, ciência e tecnologia e às demais políticas setoriais, tendo em vista a promoção do desenvolvimento sustentável. De acordo com Plano Nacional de Gestão de Riscos e Respostas a Desastres Naturais (2012 – 2014), destacam-se as seguintes ações: – Prevenção: Obras estruturantes; – Mapeamento de áreas de ris-

co: elaboração de mapas de áreas de risco para os 821 municípios e formulação dos Planos Municipais de Redução de Riscos; cartas de suscetibilidade e cartas geotécnicas de aptidão à urbanização frente aos desastres naturais; – Monitoramento e Alerta: estruturação da rede nacional com a criação do CEMADEN (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais) que abrange as principais ações: ampliação da rede de observação; instalação de radares meteorológicos, instalação de pluviômetros automáticos e estações hidrológicas automáticas. Criação do Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos de Desastres que tem como principais ações: comunicação dos alertas para estados e municípios; promoção da articulação entre os órgãos federais, estaduais e municipais na resposta a desastres, além do compartilhamento das informações produzidas e gerenciadas; – Resposta: Socorro, Assistência e Reconstrução: envolve a Força Nacional do SUS (Sistema Único de Saúde), de emergência, Forças Armadas, fortalecimento das defesas civis, capacitação em defesa civil e gestão de riscos que engloba recursos para atender a assistência, socorro e reconstrução.

Crédito: Arquivo Kátia Canil e Arquivo pessoal

| Livro


Pós-evento

Nos momentos imediatamente posteriores aos acidentes ou desastres, as equipes técnicas devem iniciar os trabalhos com a determinação da fenomenologia preliminar, causas, evolução e estabelecer a área de impacto em caso de continuidade do processo. Feito isso deve-se delimitar da área de risco para remoção da população o que é indicado para as equipes municipais responsáveis pela remoção e abrigo da população. Em seguida, a equipe técnica deve avaliar a necessidade de obras emergenciais, que podem ser desde ações simples como a colocação de lonas para proteção de taludes até a construção de algum sistema de drenagem provisório. Feitas essas ações as equipes técnicas podem auxiliar as equipes de resgate na orientação dos trabalhos de retirada de vítimas. Ao mesmo tempo, um sistema de monitoramento da área de risco deve ser instalado. Tal sistema pode ser mais simples, como a instalação de marcos até mais sofisticados como instrumentos de medição. Finalmente, a equipe técnica deve fazer recomendações para o retorno da população. Quando as ações de emergência estiverem conclusas, as equipes técnicas devem trabalhar na recuperação das condições da área, seja no projeto e construção de obras de contenção ou na determinação de demolições necessárias.

Exemplos

No Brasil é possível citar por proximidade os mapeamentos realizados na cidade de São Paulo (SP), principalmente nos anos de 2003 e 2010. Os mapeamentos de áreas de risco de deslizamentos e solapamentos de margens de córregos apontaram em 2010, 407 áreas com níveis de risco variando de baixo, médio, alto a muito alto (de R1 a R4). A partir desse resultado, a Prefeitura de São Paulo decidiu realizar ações de mitigação dos riscos mais elevados (R3 e R4) em várias áreas. Os trabalhos seguiram o proposto pelas fases da ONU (Organização das Nações Unidas) com a identificação e análise de riscos, propostas de medidas estruturais e não-estruturais. Estas ações passaram por demolição de moradias e realização de obras de estabilização. Vários exemplos podem ser vistos nas imagens ilustrativas dessa seção.

Arquivo pessoal

Eduardo Soares de Macedo é geólogo pelo Instituto de Geociências (1981), possui gradu­ ação em História pela USP (Universidade de São Paulo) (1987) e doutorado em Geociên­ cias e Meio Ambiente pela UNESP (Univer­ sidade Estadual Pau­ lista Júlio de Mesquita Filho) (2001). Atuou como ex-diretor do Centro de Tecnologias Ambientais e Energéticas. Atual­mente é pesquisador do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológi­ cas), professor do mestrado profissional em Tecnologia Ambiental, coordenador da área de Concentração Ges­ tão Ambiental do Mestrado Profissional em Tecnolo­ gia Ambiental, professor do mestrado profissional em Tecnologia da Habitação e delegado brasileiro na Rede Iberoamericana de Habitat en Riesgo. Tem experiência nos seguintes temas: riscos geológicos, escorregamentos, erosão, inundação, defesa civil, plano preventivo de defesa civil, mapeamentos de risco, reurbanização de áreas e cadastro de riscos. Kátia Canil é geógrafa pela USP (Universidade de São Paulo) (1991), possui mes­ trado e doutorado em Geo­ grafia Física pela mesma universidade. Em 2006 par­ ticipou do Projeto Bacias Irmãs – Construindo Ca­ pacidade na Sociedade Ci­ vil para a Gestão de Bacias Hidrográficas, por meio de um intercâmbio na Uni­ versidade de York, em Toronto, no Canadá. Atuou como pesquisadora do IPT por 22 anos e foi docente do Mes­ trado Profissional em Tecnologia Ambiental do instituto no período 2008 a 2013. Atualmente é diretora de eventos adjunto da ABGE (Associação Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental) e é membro do corpo editorial da Revista Brasileira de Geologia de Engenharia e Am­ biental. Desde 2013 é professora-adjunta da Universidade Federal do ABC nos cursos de graduação em Planejamen­ to Territorial e Engenharia Ambiental e Urbana. Integra os programas de pós-graduação em Ciências e Tecnologia Ambiental e Gestão do Território. Tem experiência na área de Geociências, com ênfase nas questões ambientais, atuando principalmente nos seguintes temas: riscos geo­ lógicos, mapeamento e gerenciamento de áreas de risco, processos de dinâmica superficial (erosão, escorregamento e inundação), indicadores ambientais, cartografia geotéc­ nica e planejamento urbano.

Arquivo pessoal

A lei pode ser acessada no site: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/ L12608.htm Os artigos 4 e 5 tratam respectivamente das diretrizes e objetivos.

Fundações e Obras Geotécnicas | 79


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WaterGEMS

é alternativa para criar, comparar e melhorar cenários de modelagem hidráulica O aplicativo atua em sistemas de distribuição de água com interoperabilidade avançada, construção de modelos geoespaciais e ferramentas de gerenciamento de redes por Dellana Wolney

80 | Fundações e Obras Geotécnicas


Divulgação Bentley

Bairro Chácara Bananal (SP), em 2009

A

operação em grande parte das companhias de saneamento é baseada normalmente na experiência dos operadores. Os projetos de novas obras e melhorias dos sistemas de abastecimento necessitam de estudos, muitas vezes onerosos. Atualmente no mercado é possível potencializar todo o planejamento e operação do sistema por meio de modelos hidráulicos, utilizando plataformas tecnológicas para este serviço. O WaterGEMS da empresa Bentley, por exemplo, é um aplicativo de modelagem hidráulica para sistemas de distribuição de Fundações e Obras Geotécnicas | 81


| Geotecnia Ambiental | O que há de novo

Divulgação Bentley

| História

água com interoperabilidade avançada, construção de modelos geoespaciais e ferramentas de gerenciamento de redes. Além das análises multicenários (recorrentes pelo crescimento de cidades na rede existente), ele é composto por análises da concentração de componentes ao consumo de energia e gerenciamento de custos. A solução oferece facilidade para os engenheiros projetarem e melhorarem os sistemas de distribuição de água. Os usuários também desfrutam da versatilidade proporcionada pelo CAD (Computer Aided Design), GIS (Geographic Information System) e plataformas independentes, enquanto acessam uma única fonte de dados de projeto compartilhada. Com o aplicativo, concessionárias e consultores dispõem de suporte para quatro plataformas interoperáveis, tudo em um único produto. De acordo com o engenheiro de aplicações da Área de Modelagem Hidráulica de Redes de Água e Esgoto da Bentley Systems, Douglas Miranda, não é necessário escolher por uma plataforma, pois todas já estão incluídas no aplicativo: plataforma independente para Windows com facilidade de uso, acessibilidade e desempenho; ArcGIS (plataforma de mapea­ mento baseado em nuvem completa) para integração GIS; mapeamento temático e publicação MicroStation® para interligar com ambientes de planejamento geoespacial e engenharia; por fim, AutoCAD para layout e desenho prático do CAD. “É possível compartilhar um único conjunto de dados por meio de diferentes interfaces. Equipes de modelagem podem alavancar as habilidades dos engenheiros de diferentes 82 | Fundações e Obras Geotécnicas

departamentos, que por sua vez conseguem reduzir curvas de aprendizagem, escolhendo o ambiente que já conhecem e produzindo resultados que podem ser visualizados em múltiplas plataformas”, explica Miranda.

Funcionalidades

A interface com o ArcGIS do WaterGEMS potencializa a arquitetura de geo­ database da ESRI (Environmental Systems Research Institute) para garantir um único conjunto de dados para modelagem e GIS. Pode-se criar, editar, calcular e visualizar modelos do WaterGEMS diretamente, a partir do ArcMap, com acesso total às ferramentas de modelagem hidráulica, bem como recursos de geoprocessamento que aceleram o processo de construção do modelo. Dentre as diversas funcionalidades do WaterGEMS estão as conexões de bancos de dados sincronizadas, links geoespaciais e módulos avançados de construção do modelo que se conectam a praticamente qualquer formato de dados digitais. O WaterGEMS inclui


os módulos LoadBuilder™ e TRex™ que ajudam a distribuir demandas de água e elevações de nós, baseado em dados geoespaciais encontrados em shapefiles, geodatabases e diversos tipos de DEMs (Digital Elevation Model), ou até mesmo desenhos em CAD. Estes módulos evitam erros de entrada de dados manuais e aceleram o processo de construção do modelo. Segundo Miranda, o WaterGEMS fornece ferramentas de desenho e de revisão de conectividade para garantir um modelo hidraulicamente coerente. O software Skelebrator remove automaticamente a complexidade da rede, mantendo a equivalência hidráulica para lidar eficazmente com diversos aplicativos de modelagem. A composição do aplicativo da Bentley inclui algoritmos genéticos avançados e núcleos de cálculo melhorados para calibração automatizada, projeto, recuperação e operações de bombeamento. Toda a rede do sistema é construída e abastecida com informações oriundas dos próprios usuários, por meio de levantamento em campo e bases disponibilizadas por órgãos estaduais. Com a solução é possível detectar possíveis pontos de vazamento de água, visto que muitas vezes isso acontece no subterrâneo e não pode ser visto a olho nu; projetar a demanda por abastecimento de uma região em crescimento, ou que terá um novo conjunto habitacional, shopping, ou até mesmo como será a demanda de uma determinada região dentro de até 30 anos, dependendo do seu crescimento populacional. O WaterGEMS pode integrar diferentes tipos e formatos de banco de dados como Oracle e SQLserver, a fim de deixar o modelo hidráulico sincronizado. Esta tarefa pode ser feita independente de uma plataforma GIS, usando o WaterGEMS diretamente sobre o Windows. A vantagem está na economia gerada com o parque de softwares que não obriga o usuário a possuir o GIS rodando por baixo para executar modelos hidráulicos, o que é recorrente em outros modelos similares.

Case de sucesso

A filial do Grupo Aegea Saneamento, Prolagos, responsável pelo fornecimento de água e serviços de saneamento básico a cinco municípios na Região dos Lagos, Rio de Janeiro, empreendeu um programa importante chamado “Plano Diretor de Água Região dos Lagos (RJ) – Ano 2041” que tem como finalidade expandir o sistema de abastecimento

de água a curto e longo prazo para um futuro mais sustentável. Para colaborar com este projeto, a Prolagos usou o WaterGEMS para criar, comparar e melhorar mais de 50 cenários de modelagem hidráulica, com intuito de reduzir o consumo de energia e de água não faturada, calibrar o modelo da rede e permitir a tomada de decisão colaborativa para o novo sistema de distribuição de água. O engenheiro Douglas Miranda diz que neste caso, o desafio era fornecer água potável na região. Com a utilização do WaterGEMS, a Prolagos reduziu o consumo de energia em 59%, possibilitou o aumento das receitas em 30% e gerou uma redução de 17 milhões de reais. Estima-se que o retorno do investimento foi de 323%. Diante de casos que tiveram tanto sucesso, para ele o mercado de softwares no Brasil está em plena expansão. “Hoje nós temos além das empresas projetistas, grandes concessionárias do norte ao sul do Brasil aderindo ao WaterGEMS como base para análise, modelagem e gerenciamento de redes de água. Empresas concessionárias podem fazer o plano diretor para os seus municípios e regiões; calcular os horários de pico de consumo, em que necessitam de uma pressão maior ou bombeamento da água, e reduzir o consumo de energia usado para o bombeamento”, enfatiza. Miranda completa que situações de estudos de planos diretores e análises operacionais não são possíveis de serem executadas de forma adequada e integrada no Epanet (programa licenciado como domínio público para simulação de sistemas de distribuição de água) e em outras soluções mais simples do mercado. Fundações e Obras Geotécnicas | 83


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Projeto de molhe é idealizado para a praia de Gravatá A futura estrutura ajudará a controlar o assoreamento da foz e trará vantagens econômicas, turísticas e ambientais por Dellana Wolney

A

FUMAN (Fundação do Meio Ambiente de Navegantes) está concluindo o processo de licen­ciamento da primeira etapa de implantação de um molhe na Praia de Gravatá, próximo à foz do rio que limita as cidades de Navegantes e Penha, em Santa Catarina. A ideia é que a estrutura consiga controlar o assoreamento da foz e a interferência na balneabilidade. O projeto elaborado pela empresa Alianza, de Joinville (SC), em conjunto com a DHI, de Florianópolis (SC), multinacional com sede na Dinamarca, foi apresentado para a comunidade no dia 12 de julho. A previsão é que o investimento seja de 573 mil reais. Estima-se que os 486 mil reais, maior parte da verba, venha do Governo Federal por meio do Ministério

84 | Fundações e Obras Geotécnicas


da Integração Nacional e o restante ficará a cargo da prefeitura.

De acordo com o superintendente da FUMAN, Paulo Celso Mafra, a primeira etapa de implantação do molhe prevê a construção de uma estrutura de 70 metros com blocos de pedras naturais. O projeto total prevê um molhe de 295 metros. Não há previsão para início das obras, pois o projeto ainda está na fase de licenciamento ambiental. Após seu início, a previsão de conclusão desses 70 m é de quatro meses.

Estrutura

De acordo com o engenheiro sênior de engenharia costeira e dragagem, do Grupo de Portos e Terminais Marítimos da Stantec, Otavio Sayão, os molhes são utilizados para dar abrigo às instalações portuárias sujeitas à ação de ondas e de correntes ou concebidos para estabilizar canais de navegação junto à foz dos rios e embocaduras. Essas obras de abrigo constam de dois tipos básicos: molhes e quebramares. Os molhes são obras que têm uma de suas extremidades ligadas em terra, isto é, enraizadas no litoral. Já os quebramares são obras sem conexão com o litoral, localizados na área offshore de um porto. Nas embocaduras de rios, em que os canais de navegação são necessários para a entrada de navios em portos abrigados, os molhes exercem duas funções, a de guia-correntes e a de oferecer abrigo. Os molhes também podem exercer a função de cais de atracação, que são estruturas perpendiculares ao litoral e servem para a atracação de embarcações em suas faces internas.

Google Earth, 2012

A estabilização do canal para evitar formação de bolsões de areia tem objetivos econômicos e também ambientais. A intenção é que ocorra uma recuperação futura da vegetação de restinga com o engordamento da praia, impedindo a erosão. O molhe pode influenciar até no turismo da região e melhorar a qualidade da água da praia.

Na imagem, o Porto de Salvador, cujas instalações de acostagem são protegidas por duas obras de abrigo, sendo uma um molhe, na parte Sul com 920 m de extensão e a outra um quebramar, na parte Norte, com 1.370 m de extensão

“Como todas as obras marítimas, ao se iniciar o projeto de um molhe, a maioria dos elementos existentes nas imediações da localidade em estudo deve ser pesquisado. Também é necessário realizar novas coletas de informações sobre os principais elementos tais como: topografia e batimetria da área marítima para definir profundidades existentes; condições climáticas (ventos, temperatura, precipitações etc.); condições oceanográficas (ondas, marés e correntes); condições do litoral ou embocadura na região do projeto e as condições geotécnicas da área de implantação do molhe”, descreve Sayão. Ele diz que, normalmente, as investigações do solo para a etapa de fundação de um projeto de molhe utilizam todos os métodos convencionais de amostragem, sondagens e testes usados em projetos em terra, tendo apenas alguns métodos específicos para a coleta de dados no mar, como o uso de plataformas marítimas. Os tipos de sondagens podem ser convencionais de percussão, vibratórias e jet-probe (sondagem baseada na perfuração do solo, por meio da penetração de uma coluna tubular sob pressão de jato d’água, que expulsa pelo lado externo do tubo todo o material desagregado), dependendo do local do projeto e do subsolo. Fundações e Obras Geotécnicas | 85


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Execução

Sayão explica que as obras de abrigo, tanto molhes quanto quebramares, são construídas no mar, diante das instalações portuárias que irão proteger. Dois tipos de construção podem ser empregados nestes casos: a construção por via terrestre e a construção por via marítima. Ele diz que informações mais detalhadas sobre métodos construtivos de enrocamentos são apresentados no Manual da CIRIA (Construction Industry Research and Information Association) de 2007. “Para a construção de molhes os equipamentos típicos de construção pesada são utilizados, desde as operações de exploração da pedreira, assumindo que o molhe será construído com enrocamento, até o transporte por via terrestre por meio de caminhões, ou por via marítima, com barcaças, o estoque de material no local da obra e a colocação do material no corpo do molhe por meio de tratores (bulldozer) pá mecânica (retroescavadeira) e guindaste. Na pedreira, as pedras são carregadas em caminhões por meio de pás mecânicas”, elucida.

Arquivo Otavio Sayão

Extração de pedras para construção de molhe

86 | Fundações e Obras Geotécnicas

Na construção por via terrestre, o molhe vai avançando em direção ao mar por ponta de aterro, na qual os caminhões despejam as pedras que são separadas e colocadas no corpo do molhe, de acordo com o que é especificado no projeto detalhado de engenharia. Na construção por via marítima são utilizados equipamentos flutuantes para o transporte das pedras do molhe, entretanto, essa metodologia se aplica na construção de quebramares offshore, pois não possuem enraizamento no litoral. Segundo o engenheiro Otavio Sayão, esse tipo de construção é geralmente o mais oneroso, visto que os equipamentos flutuantes são relativamente mais sofisticados. Quanto aos materiais de construção, os mais utilizados são os enrocamentos, isto é, pedras obtidas em pedreiras e os blocos de concreto, preparados especificamente para cada localidade, de acordo com o projeto detalhado. Cubos de concreto (10 t e 145 t) utilizados na expansão do molhe do Porto de Gijon, na Espanha

Arquivo Otavio Sayão

As sondagens convencionais contribuem para do subsolo, assim como das propriedades das faixas dos diferentes tipos de solo embaixo do molhe. Inicialmente ao se realizar a batimetria, deve-se obter também um levantamento geofísico do fundo do mar, usando sondas que emitem ecos de baixa frequência e alta energia. Elas permitem identificar os substratos de solo de maior resistência. Essa informação do subsolo ajuda a definir a extensão do levantamento geotécnico.

| História o conhecimento

Diferença

De forma detalhada, o engenheiro sênior de engenharia costeira e dragagem, Otavio Sayão enfatiza que os quebramares flutuantes (floating breakwaters) são estruturas igualmente utilizadas para a dissipação da energia das ondas, possuindo características que proporcionam resultados satisfatórios quando implantadas em zonas sujeitas a ondas com energia relativamente baixa, como em baías protegidas ou lagos. Logo, os molhes fixos são os construídos com seção transversal ocupando toda a profundidade do local do projeto. Como o molhe é enraizado, as profun-


didades vão aumentando até a sua extremidade no mar, chamada de “cabeço” do molhe. Já o quebramar flutuante, geralmente tem uma seção transversal constante, que flutua na superfície do mar e que é ancorada no fundo. “Os quebramares flutuantes são usualmente constituídos por elementos celulares em concreto, ou tubulações circulares mantidas juntas por meio de espaçadores de aço ou com o reuso de pneus descartados”, completa.

borda livre. Variações de peso das unidades flutuantes precisam ser ajustadas pelos sistemas de lastro. Os quebramares flutuantes de aço (A-frames ou similares) e os de pneus podem ser preparados em terra e rebocados para o local de instalação.

Consultoria e Projetos em Geotecnia

PIANC 2014

Fundações - Contenções

Principais tipos de quebramar flutuante

Quebramar flutuante na marina em Saltspring Island, Canadá

Google Earth, 2012

www.geomec.com.br

Por fim, ele afirma que os quebramares flutuan­ tes são construídos por via marítima, com barcaças e guindastes flutuantes. Os flutuantes de concreto (pontões) podem ser montados enquanto flutuam no mar. As hastes de pós-tensionamento devem ser ajustadas quando todas as unidades estiverem flutuando com a mesma Fundações e Obras Geotécnicas | 87


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GEOLOGIA E GEOTECNIA BÁSICA PARA ENGENHARIA CIVIL

R

esultado dos mais de 20 anos do autor como professor das disciplinas de Geologia Básica e Aplicada I e II (teoria e laboratório) e de Geologia de Engenharia (teoria e laboratório), o livro “Geologia e Geotecnia Básica para Engenharia Civil” surge no mercado para suprir algumas lacunas na área. Desenvolvido a partir das apostilas escritas para essas aulas do professor Rudney Queiroz, o livro aborda os conceitos básicos de geologia de engenharia e de geotecnia, com base na necessidade destes assuntos na grade dos cursos de graduação de engenharia civil. A linguagem é prática e didática, com o intuito de orientar estudantes. Composto por dez capítulos, o livro mostra com aspectos históricos a relação entre geologia, engenharia civil e geologia de engenharia, dando destaque às noções de geologia geral aplicada. Durante a obra, o autor também exibe vários métodos utilizados para

Autor: Rudney C. Queiroz Editora: Blucher Ano: 2016 88 | Fundações e Obras Geotécnicas

sua investigação e mostra correlações entre os valores obtidos nos procedimentos e as propriedades de mecânicas dos solos. No primeiro capítulo, o autor discorre sobre os principais temas da geologia, com ênfase ao uso na engenharia civil. Ao longo dos outros capítulos são abordados assuntos relativos ao reconhecimento do subsolo, mecânica dos solos e das rochas, água superficial e subterrânea, movimentos de massas e estruturas de contenção, algumas noções de barragens e de túneis, explicações de características tecnológicas de rochas para a construção civil e de geossintéticos na engenharia civil, com exemplos práticos e didáticos. Destinado aos estudantes de graduação de engenharia civil que estejam no início do curso (do segundo ao quarto semestre), o livro também pode ser útil para alunos e profissionais de áreas relacionadas, como construção civil e meio ambiente, que necessitam conhecer ou rever os conceitos básicos de geologia de engenharia e geotecnia.


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NACIONAL | O que há de novo

EXTERIOR

8 a 10 DE NOVEMBRO

4 a 6 DE JANEIRO DE 2017

| História FEIPLAR COMPOSITES & FEIPUR – FEIRA E CONGRESSO INTERNACIONAIS DE COMPOSITES, POLIURETANO E COMPOSTOS TERMOPLÁSTICOS / PLÁSTICO DE ENGENHARIA

São Paulo, São Paulo www.feiplar.com.br/ Durante os três dias da feira, os visitantes poderão conferir novas soluções em matérias-primas, produtos auxiliares, equipamentos e tecnologias aos fabricantes de peças em composites, poliuretano ou plásticos de engenharia/compostos termoplásticos da América Latina. O evento tem como propósito ajudar no crescimento dos mercados de composites, poliuretano e plásticos de engenharia, setor que encontra-se em expansão nos últimos anos.

16 a 18 DE NOVEMBRO

TÚNEIS – INVESTIGAÇÕES, MODELAGEM, PROJETOS E ACOMPANHAMENTO TÉCNICO DA OBRA – SP

São Paulo, São Paulo www.abge.org.br/tuneis Promovido pela ABGE (Associação Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental), o curso tem como propósito transmitir uma visão ampla sobre investigações geológicas e geotécnicas, caracterização geomecânica de maciços para projeto de túneis, conceitos e métodos básicos de dimensionamento de reforços, modelagem numérica e fundamentos para o acompanhamento de obras. As aulas são voltadas para geólogos, engenheiros geotécnicos de minas, gestores, supervisores de obras, profissionais de seguros de obras, entre outros relacionados.

8 DE DEZEMBRO

ENCONTRO DE DIRETORES E GESTORES DA CONSTRUÇÃO – TENDÊNCIAS DA ECONOMIA, PERSPECTIVAS DA CONSTRUÇÃO E PRÁTICAS DE GESTÃO

São Paulo, São Paulo http://migre.me/uFWd2 Voltado para gestores de incorporadoras, construtoras, arquitetos, projetistas, fornecedores de materiais, imobiliárias e demais profissionais relacionados com o setor, o evento tem como finalidade promover o debate sobre a economia e as perspectivas para o mercado imobiliário. Durante o encontro, serão compartilhados cases de sucesso em variados âmbitos, exibidos por líderes do segmento da construção civil.

6 DE ABRIL DE 2017

9TH INTERNATIONAL SYMPOSIUM ON GEO– TECHNICAL ASPECTS OF UNDERGROUND CONSTRUCTION IN SOFT GROUND

São Paulo, São Paulo is-saopaulo.com/welcome.php Evento tradicional da área, sua próxima edição acontece no Brasil, país com necessidade e potencial de construção subterrânea. Especialistas do mundo inteiro se reunirão em São Paulo para apresentar e debater as contribuições e experiências na construção subterrânea em terreno macio (soft ground). Na convenção ocorrerá simultaneamente o Seminário Latino-Americano e o 4º CBT (Congresso Brasileiro de Túneis e Estruturas Subterrâneas), encontros que juntos já somaram mais de 600 especialistas locais e internacionais.

INTERNATIONAL PERSPECTIVE ON WATER RESOURCES AND THE ENVIRONMENT CONFERENCE

Wuhan, China http://bit.ly/2b7gund A conferência tem como objetivo apresentar uma variedade de tópicos relacionados à gestão de recursos hídricos ambientais e sustentáveis. Também haverá sessões técnicas sobre os países desenvolvidos e em desenvolvimento. Entre os temas que serão explorados nas palestras, destacam-se a modelagem e gestão dos pantanais; tratamento de águas residuais; problemas e soluções de abastecimento de água, entre outros.

12 a 15 DE MARÇO DE 2017 GEOTECHNICAL FRONTIERS

Orlando, Estados Unidos geotechnicalfrontiers.com/ Realizada a cada seis anos, a feira é o local onde a indústria se une para compartilhar os desenvolvimentos em engenharia e de tecnologias geotécnicas. Ao longo dos quatro dias de evento, haverá mais de 200 exposições, com cursos de curta duração, painéis de discussão, palestras de formação e trabalhos técnicos apresentados por especialistas do ramo.

21 e 22 DE MARÇO DE 2017

PILED FOUNDATIONS & GROUND IMPROVEMENT TECHNOLOGY FOR THE MODERN BUILDING AND INFRASTRUCTURE SECTOR

Melbourne, Austrália http://bit.ly/2bcy9qP A conferência abrangerá estacas em fundações e obras de melhoramento do solo associado à evolução de construção e infraestrutura, além de incluir requisitos de retenção para porões. Os palestrantes compartilharão suas experiên cias, aspectos de concepção, construção e desempenho para trabalhar com estacas, além de abordar a melhoria do solo e técnicas para construção e obras de infraestrutura.

29 DE MARÇO a 01 DE ABRIL DE 2017

ISM 2017: MICROPILES RESISTING AND REMEDIATING THE EFFECTS OF MOTHER NATURE

Vancouver, Canadá http://bit.ly/2btGTdV Organizado pela ISM (International Society for Micropiles), pela ADSC (International Association of Foundation Drilling) e pelo DFI (Deep Foundations Institute), o evento retorna à América do Norte. O workshop manterá o formato tradicional, com sessões de palestras dos aspectos da tecnologia de microestacas. Haverá também uma competição internacional de microestacas, que selecionará o melhor projeto do gênero no mundo.

6 a 8 DE ABRIL DE 2017 STRUCTURES CONGRESS

Colorado, Estados Unidos www.structurescongress.org Direcionado para engenheiros estruturais e civis, proprietários de negócios, pesquisadores, professores, estudantes, o evento terá mais de 100 sessões técnicas, que darão ao participante DPS (Horas de Desenvolvimento Profissional – “sigal em inglês”), com o propósito de atender às necessidades da comunidade de engenharia estrutural. Ainda oferecerá oportunidades de trocas de contatos e ao mesmo tempo estimulará o entendimento entre a academia e a prática de engenheiros. Fundações e Obras Geotécnicas | 89


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*Telefone celular com atendimento também por WhatsApp: das 10h às 18h

CONSELHO EDITORIAL São Paulo • Paulo José Rocha de Albuquerque • Roberto Kochen • Álvaro Rodrigues dos Santos • George Teles Paulo César Lodi • José Orlando Avesani Neto • Eraldo L. Pastore • Sussumu Niyama • Fernando Henrique Martins Portelinha Minas Gerais • Sérgio C. Paraíso • Ivan Libanio Vianna Pernambuco • Stela Fucale Sukar Bahia • Moacyr Schwab de Souza Meneze • Luis Edmundo Prado de Campos Rio de Janeiro • Bernadete Ragoni Danziger • Paulo Henrique Vieira Dias • Mauricio Ehrlich • Alberto Sayão • Marcio Fernandes Leão Distrito Federal • Gregório Luís Silva Araújo • Renato Pinto da Cunha • Carlos Medeiros Silva • Ennio Marques Palmeira Rio Grande do Sul • Miguel Augusto Zydan Sória • Marcos Strauss Rio Grande do Norte • Osvaldo de Freitas Neto Espírito Santo • Uberescilas Fernandes Polido

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