ISSN 1808-7191
A REVISTA DO MÉDICO VETERINÁRIO
ANO 18 - Nº 103 - JAN/FEV 2015
Nutrição na clínica de pets exóticos
• Apicectomia como alternativa ao tratamento convencional de canal radicular em duas sessões: relato de caso ENCARTE:
Clínica de Marketing • Tratamento e manejo de feridas cutâneas em cães e gatos COLUNAS: Dicas do Laboratório • Fisioterapia em pós-cirurgia de ruptura de ligamento cruzado • Conhecimento Compartilhado cranial após realização da técnica de TPLO: relato de caso • Bem-Estar Animal • Terapia Celular • Herpesvírus simplex em Sagui-de-tufo-preto • Nutrição Animal • Gestão Empresarial • Estudo retrospectivo da ocorrência do prolapso • Medicina Tradicional Chinesa de glândula da terceira pálpebra em cães • Pets, Famílias e Veterinários • Comparação diagnóstica da Leishmaniose canina em • Endocrinologia • InfoPet • Medicina Felina diferentes situações clínicas utilizando exame • Fisioterapia sorológico e parasitológico direto
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Indexação Qualis
GIARDÍASE
Você Sabia ?
Giardíase, uma infecção frequente Dentre as infecções parasitárias que acometem os animais de companhia, destaca-se a giardíase, causada pelo protozoário Giardia duodenalis, e considerada zoonose pela Organização Mundial de Saúde (OMS), desde 1979. A transmissão ocorre pela a ingestão de cistos eliminados pelas fezes de portadores sãos ou sintomáticos, que contaminam o ambiente, água, alimentos ou fômites (utensílios, brinquedos, casinhas). Tais cistos são extremamente resistentes no ambiente e à maioria dos desinfetantes, o que estabelece uma alta taxa de reinfecção, que se torna ainda maior devido à presença de fontes de infecção assintomáticas que disseminam permanentemente ou intermitentemente essas estruturas. A apresentação de sintomas (passa a se chamar giardiose) depende da carga infectante, virulência da cepa, estado imunológico e nutricional do animal infectado, aliado à dieta e existência de comorbidades. No cão, os sintomas se referem a uma Síndrome Mal Absortiva, caracterizada por enteropatia de Intestino Delgado (fezes pastosas a aquosas, fétidas, em grandes volumes, com esteatorréia e flatulência), geralmente sem muco ou sangue. Cãezinhos muito jovens podem vir a óbto pela desidratação, hipovolemia e endotoxemia. Já os felinos podem apresentar comprometimento conjunto ou compartimentalizado dos diferentes segmentos do intestino, podendo apresentar clínica semelhante à dos cães, apenas sintomas de enterite de Intestino Grosso (tenesmo, urgência, muco e hematoquezia) ou um quadro misto. Apesar de ser amplamente difundida, pode ser facilmente confundida com outras enfermidades intestinais e tratada de maneira incorreta. Para tanto, o diagnóstico pode ser realizado por meio de exame coproparasitológico pela técnica de Faust (centrífugo flutuação em sulfato de zinco) ou imunoensaios comerciais (testes rápidos) como imunocromatografia ou ELISA. Para a pesquisa de cistos nas fezes, recomenda-se a utilização de amostras seriadas (três) devido à intermitência de excreção do agente. O tratamento se baseia na administração de antiparasitários como albendazol, fembendazol, metronidazol, sec68 • Nosso Clínico
nidazol, ronidazol, tinidazol, furazolidona, nitazoxanida ou associações como pirantel, febantel e praziquantel. Como o ciclo vital do parasita é direto, não há necessidade biológica de tratamento em fases; no entanto, a alta taxa de reinfecção pela contaminação ambiental e contactantes assintomáticos sugere que se repita a administração dos fármacos em um intervalo variável entre 2 a 4 semanas. Ambiente e contactantes devem ser tratados conjuntamente com o paciente enfermo. Para a desinfecção, recomenda-se a utilização de compostos amoniacais ou fenólicos, ou água fervente, ressaltando que os desinfetantes só devem ser aplicados após a retirada mecânica de toda a matéria fecal e limpeza das superfícies com água e sabão, pois as fezes inativam o amoníaco. Devido à alta contaminação ambiental, existência de um grande número de portadores sãos (que atuam com fontes de infecção) e a possibilidade de transmissão zoonótica, há uma vacina disponível no mercado, para cães. A GiardiaVax é elaborada a partir de extratos de trofozoítos e tem como objetivo minimizar a infectividade do parasita, abrandando ou evitando o desenvolvimento de sintomas, e, principalmente, diminuindo a contaminação ambiental por meio de uma redução drástica da eliminação de cistos, além da sua inviabilização. A vacina é indicada para cães saudáveis, a partir de 8 semanas de idade, com intervalo de duas a quatro semanas entre as doses, e reforços anuais. A proteção é conferida após 15 dias após a aplicação da segunda dose. Portanto, animais sob esquema vacinal não devem ser desafiados em passeios à rua, acesso ao jardim ou quintal, idas a Pet Shops, canis ou parques.
Dra. Maria Alessandra Martins Del Barrio Médica Veterinária graduada pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP/SP, residência em Clínica e Cirurgia de Pequenos Animais e Mestre em Clínica Veterinária pela Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP/SP
................................................................................... Colaboração:
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FISIOTERAPIA, FISIATRIA E REABILITAÇÃO M.V. Maira Rezende Formenton Fisioanimal / Hovet Pompéia maira@fisioanimal.com www.fisioanimal.com
Importância do na Reabilitação Alongamento de musculatura de membro anterior
O alongamento e a flexibilidade do sistema músculoesquelético consistem em uma das partes mais importantes no processo de prevenção e tratamento de lesões, além de melhorar o desempenho em atividades diárias e desportivas. Quando realizado de forma adequada e regular, o treino de flexibilidade promove a diminuição de tensões musculares, relaxamento, melhora da coordenação motora como efeito secundário e também aprimora a consciência corporal. Contribui indiretamente na redução do acúmulo de ácido lático pós exercício, além de proporcionar ganho na fase elástica da contração muscular, aumentando a capacidade do músculo de gerar força. A elasticidade muscular é uma propriedade dos componentes musculares (fibras) de deformarem-se perante à influência de forças externas, aumentando seu comprimento e retomando seu tamanho original quando cessado o estímulo. O músculo tem também propriedades plásticas, sendo que o estímulo do alongamento pode permanecer e conferir um ganho elástico das fibras mesmo depois de cessado o estímulo (Dantas, 2005). Estas propriedades fazem com que após poucas sessões do treino de flexibilidade seja possível perceber as diferenças em tratamentos de encurtamentos, contraturas e alterações posturais. Existem diversos tipos de treinos de elasticidade, mas os principais dividem-se em estático, balístico e passivo. Nos animais o mais comum é a realização da modalidade passiva, onde o terapeuta irá gerar uma tensão alongando o músculo até a amplitude desejada, mantendo-a por algum tempo e voltando à posição original.
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Alongamento de musculatura em bola suíça ......................................................................................................................
Em encurtamentos e contraturas musculares, recomenda-se que o músculo seja massageado ou aquecido antes para diminuição do desconforto e melhor aproveitamento do tratamento. Porém, este aquecimento também pode gerar uma diminuição do reflexo de proteção ao estiramento excessivo, portanto recomenda-se que o terapeuta seja neste caso experiente para não causar lesões. Por fim, o treino de flexibilidade é essencial para qualquer paciente em processo de reabilitação, seja ele atleta ou não. Nunca deve ser deixado de lado e sempre realizado na posição e duração corretas, para o máximo aproveitamento da terapia. Leitura recomendada: Dantas EHM. Alongamentos e Flexionamento. 5.ed., Rio de Janeiro: Shape, 2005
DICAS DO LABORATÓRIO
DR. LUIZ EDUARDO RISTOW tecsa@tecsa.com.br MV, Mestre em Medicina Veterinária UFMG CRMV-SP 5540 V CRMV-MG 3708
Alopecias não inflamatórias em gatos A alopecia felina é o termo médico para a perda excessiva de pelo, algo que pode ser bastante comum num determinado número de animais, incluindo os gatos. Perder umas mechas de pelo não é uma doença grave, mas a perda excessiva pode indicar uma série de problemas de saúde no gato. A perda de pelo pode causar regi-
ões de calvície na superfície do corpo, enquanto a pele pode permanecer sem mudanças ou apresentar uma cor avermelhada com pequenas bolhas, dependendo da causa subjacente à alopecia. Na continuação estão as possíveis causas de alopecia felina não inflamatória com causas muito variadas. Sabe-se que a anormalidade pri-
mária é um excesso na higiene dos pelos, que pode ser resultado de uma ansiedade do gato. A ansiedade pode ser causada por fatores psicológicos como fenômenos de deslocamento. Alguns gatos lambem vigorosamente uma área particular até que farpas curtas na língua produzam alopecia, abrasão, ulceração e infecção secundária. Outros gatos lambem e mor-
Quadro 1: Diagnósticos diferenciais, locais mais afetados, testes diagnósticos recomendados e prognóstico em um gato com alopecia não inflamatória Afecção
Locais mais Afetados
Provas diagnósticas
Prognóstico
Hipersensibilidade a picada de pulgas
Área dorsal e lombossacral, metade caudal do corpo ou afecção generalizada
Tricograma (cód. 736) e Teste alérgico a picada de pulgas (cód. 684)
Bom para o paciente com a administração continuada de imunoterapia
Atopia (hipersensibilidade a aeroalérgenos como pólen, ácaros ou esporos de fungos)
Metade cranial do corpo, ventre, flancos ou doença generalizada
Diagnóstico baseado na história, exame físico, diag. Diferenciais e Teste Alérgico permite a formulação de imunoterapia (cód. 685)
Bom para o paciente com a administração continuada de imunoterapia
Reação adversa a Alimentos (pode ou não ser alérgica, reação a uma proteína e raramente a um aditivo, indistinguível da atopia)
Metade cranial do corpo, abdômen ventral ou doença generalizada
Tricograma (cód. 736) e dieta restritiva
Excelente, se a proteína é identificada e evitada. Bom com o manejo contínuo se as proteínas não são identificadas. Reservado para a cura
Dermatofitose (esta forma é causada tipicamente pelo M. canis)
Focal ou generalizada
Tricograma (cód. 736), Citologia (cód. 87), Cultura para fungos (cód. 255) e Biopsia (cód. 86)
Reservado para a cura
Alopecia psicogênica (devido à limpeza excessiva causada por fatores psicológicos)
Parte medial e caudal do abdômen, patas dianteiras e virilha
História clínica e Tricograma (cód. 736)
Bom
Alopecia por interferência com drogas antifúngicas, produzindo hastes anormais, fazendo com que o pelo quebre inesperadamente
Alopecia sem locais prediletos, mas de iniciação repentina
História clínica e Tricograma (cód. 736)
Excelente se remover a causa
Alopecia por estresse severo como o choque, provoca a interrupção do crescimento do pelo mudando a fase telógena
Alopecia focal a generalizada
História clínica e Tricograma (cód. 736)
Excelente
Hiperadrenocorticismo (muito rara, semelhante as condição em cães)
Polidipsia, poliúria, perda de peso, anorexia, polifagia, depressão, perda de massa muscular, alopecia (flancos, barriga ou em torno do tronco) e pele frágil
Teste de estimulação ACTH (cód. 630), Teste de supressão com dexametasona (cód. 621)
Reservado
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.
Quadro 2: Esquema diagnóstico de gato com alopecia não inflamatória
dem delicadamente uma área mais disseminada, de forma que a alopecia é a lesão predominante. Ainda existem aqueles que mastigam seu pelo ou pele, ao passo que outros mastigam e arrancam seus pelos. Antes de diagnosticarmos uma alopecia de causa não inflamatória devemos responder algumas questões, como: 1. Qual era a idade do paciente quando os primeiros sinais foram reconhecidos? 2. Quanto a doença progrediu desde que foi detectada? 3. Em qual parte do corpo o problema começou? 4. A doença é sazonal? 5. Existem outros sinais clínicos tais como espirros, tosse ou diarreia? 6. Com que o animal é alimentado. Alguma dieta animal especial foi usada no passado? 7. Existem outros animais em casa? 8. Alguém na família possui alguma alteração de pele? 9. O animal foi previamente tratado de
alguma doença? Se sim, que tipo de droga foi usada e o tratamento foi bem sucedido? 10. Qual é o método utilizado para controlar pulgas? 11. Quando a última medicação que foi administrada no animal? DIAGNÓSTICO Alopecia não inflamatória é um padrão de reação cutânea felina que pode ter várias causas. A alopecia
hormonal é bastante rara em gatos e, normalmente, os gatos afetados apresentam outros sinais graves. A condição geralmente afeta gatos de raça pura com uma disposição nervosa. As mudanças ambientais, tais como um novo parceiro, um filho, animal de estimação ou se mudar para uma casa nova podem predispor aos sinais clínicos. Os diagnósticos diferenciais para alopecia não inflamatória felina estão listadas nos quadros.
Exame para diagnóstico de gato com alopecia não inflamatória MATERIAL
COD/EXAMES
PRAZO
Tubo Tampa Vermelha
686 - Teste Alérgico Painel c/ 24 Alergenos
7 dias
Tubo Tampa Vemelha
685 - Teste Alérgico Painel c/ 36 Alergenos
7 dias
Tubo Tampa Vermelha
683 - Teste Alérgico Triagem Screening
2 dias
Tubo Tampa Vermelha + Tampa Roxa
334 - Perfil Hiperadrenocorticismo
3 dias
Tubo Tampa Vermelha
620 - Cortisol Pós Supressão Dexa 2 Dosagens (Radioimunoensaio)
2 dias
Tubo Tampa Vermelha
621 - Cortisol Pós Supressão Dexa 3 Dosagens (Radioimunoensaio)
2 dias
Tubo Tampa Vermelha
631 - Dosagem de Cortisol Pós ACTH (Basal + Pós ACTH)
2 dias
Pelos Arrancados
736 - Tricograma (Avaliação Morfológica Microscópica de Pelos)
3 dias
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MEDICINA FELINA
PERITONITE INFECCIOSA FELINA um pesadelo na clínica de felinos (parte 2) Dando continuidade à nossa coluna, teremos o discernimento de mais alguns tópicos acerca da peritonite infecciosa dos felinos, a doença infecciosa mais comum da espécie felina. Na primeira parte, características do vírus e fisiopatogenia da doença foram citadas. Nesta edição, abordaremos os principais achados clínicos.
Achados clínicos - Forma não efusiva Na forma não efusiva da doença, granulomas desenvolvem-se em diversos locais, sendo as manifestações clínicas extremamente variáveis, geralmente direcionadas ao órgão envolvido. Os principais órgãos envolvidos são o fígado, rins, pâncreas, linfonodos mesentéricos, omento, olhos e o sistema nervoso central. Manifestações comuns e inespecíficas destes casos são febre, perda de peso, letargia e disorexia. 74 • Nosso Clínico
FOTO: ALEXANDRE G. T. DANIEL (ARQUIVO PESSOAL)
Figura 1: Achado característica da PIF predominantemente efusiva – ascite – caracteristicamente um exsudato asséptico
Figura 2: Múltiplos granulomas distribuídos em superfície visceral abdominal, mais visíveis em omento e fígado, em gato acometido pela PIF FOTO: ALEXANDRE G. T. DANIEL (ARQUIVO PESSOAL)
Achados clínicos - Forma efusiva A doença efusiva é caracteristicamente classificada pelo acúmulo de exsudato fibrinoso e formação de pequenos piogranulomas em omento e nas superfícies serosas da maioria dos órgãos abdominais, além das superfícies pleurais e pericárdica. Os gatos podem formar efusões em cavidade abdominal (62% dos casos) e cavidade torácica (17% dos casos) isoladamente, ou formar efusão em ambas as cavidades (21% dos casos). A forma efusiva é responsável por cerca de 60% dos casos de PIF. Em gatos com a forma efusiva peritoneal, o aumento de volume abdominal, sendo este de consistência macia e flutuante, é relatado pelo proprietário. Massas abdominais podem ser palpadas, refletindo a aderência do omento às vísceras abdominais ou aumento de linfonodos mesentéricos. As efusões torácicas normalmente geram dispnéia e taquipnéia, podendo chegar a gerar cianose e respiração com a boca aberta. A auscultação revela sons cardíacos abafados. Alguns gatos com a forma efusiva encontram-se alertas e ativos, enquanto outros podem apresentar-se prostrados e apáticos. É achado comum febre e perda de peso.
O acometimento hepático pode ocorrer pela formação de granulomas ou por hepatite viral. Nestes casos, o gato pode apresentar-se ictérico. Quando presentes granulomas pulmonares, os animais podem apresentar dispneia. Radiografias torácicas evidenciam áreas focais de maior densidade radiográfica. Aumento dos lifonodos mesentéricos e nefromegalia podem ser encontrados na palpação abdominal. A manifestação neurológica da PIF ocorre em cerca de 30% - 50% dos gatos acometidos pela doença, e apresenta manifestações como ataxia, convulsões, hiperestesia, hiper-reflexia, propriocepção reduzida, paralisia de cauda, head tilt (cabeça pendente para a direita ou para a esquerda), depressão mental, paralisia, entre outras manifestações. Gatos com PIF geralmente apresentam lesões oculares, sendo as mais facilmente observadas as uveítes, assim como precipitados queratóticos. Na ausência de uveíte e/ou manifestações neurológicas, as manifestações tendem a se tornar extremamente vagas e não específicas; podem caracterizar-se por febre intermitente, não responsiva a antibióticos, perda de peso progressiva e disorexia. A icterícia, nesses casos, é o achado mais comum.
Mas é fundamental ressaltar - a PIF sempre apresenta manifestações efusivas e granulomatosas, em maior ou menor grau. Não existem “entidades separadas” com manifestações somente efusivas ou somente granulomatosas! A divisão visa facilitar a explicação e entendimento categorizado das principais manifestações clínicas!
Prof. Msc. Alexandre G.T. Daniel Consultoria e atendimento especializado em medicina felina; Coordenador do curso de aprimoramento em Medicina Felina do Cetac - Centro de Treinamento em Anatomia e Cirurgia Veterinária; Proprietário da Gattos - Clínica Especializada em Medicina Felina. (www.gattos.vet.br) (alexandre.daniel@gattos.vet.br)
NUTRIÇÃO ANIMAL foto
Keila Regina de Godoy - keila@premierpet.com.br M.V., Gerente de Desenvolvimento e Capacitação Técnica da PremieR pet www.premierpet.com.br
Estratégias para maior adesão do proprietário ao tratamento com alimentos coadjuvantes Falamos muito nas últimas edições sobre diversas condições nas quais cães e gatos se beneficiam de uma alimentação específica. Só é possível oferecermos esses cuidados porque, assim como em outras áreas da Medicina Veterinária, a Nutrição dos animais de companhia passou por uma evolução muito evidente nas últimas décadas. Um forte reflexo desta evolução são os alimentos coadjuvantes, que se destinam a auxiliar no tratamento ou prevenção de distúrbios fisiológicos ou metabólicos em cães ou gatos através de níveis diferenciados de nutrientes específicos e de ingredientes funcionais, sendo necessariamente isentos de agentes farmacológicos ativos. Os alimentos coadjuvantes são imprescindíveis em muitos casos e têm sido amplamente prescritos na rotina clínica. No entanto, relatos de dificuldades para obter a adesão ou manutenção do proprietário na dieta prescrita ainda são frequentes. Por ser este o primeiro ponto a ser enfrentado pelo clínico ao instituir uma nutrição adequada, vamos relembrar aqui os principais pontos que precisam ser observados para melhorar o entendimento dos proprietários e sua adesão ao tratamento proposto. A Professora Andrea J. Fascetti, da Universidade da Califórnia, em seu livro Applied Veterinary Clinical Nutrition, edição de 2012, dedica grande parte do primeiro capítulo a tratar do tema, dada a sua relevância. Reforçamos aqui as principais recomendações com o intuito de chamar a atenção para o assunto e colaborar com os clínicos para uma plena efetividade nos tratamentos propostos. Os principais
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pontos considerados para aumentar a adesão do proprietário são: • O estabelecimento e alinhamento das expectativas; • O monitoramento da resposta do paciente; • O fornecimento de opções e variedade.
usados pelo resto da vida. Os casos de obesidade também requerem atenção máxima a este ponto, dado que o tratamento dura em média 6 a 8 meses, podendo se estender. Calcular o tempo estimado para atingir o peso ideal é imprescindível. Monitorando a resposta do paciente
Estabelecendo e alinhando as expectativas Muitos clientes não iniciam ou ainda interrompem a dieta porque não entenderam claramente o que podem esperar do alimento. Para que isso não ocorra é necessário explicar a eles o mecanismo pelo qual o alimento promove o benefício e por que está sendo indicado. Por exemplo: um proprietário que entende que dietas com alto teor de fósforo podem promover a piora do dano renal, e que a maior parte do fósforo da dieta vem de ingredientes ricos em proteínas, entenderão melhor por que não administrar os alimentos não prescritos. Estudos mostram ainda que pacientes humanos que receberam, além da orientação verbal uma orientação por escrito, retiveram melhor a informação e orientação, sendo portanto útil o uso de pequenos manuais de recomendação com linguagem adequada ao proprietário. Igualmente útil é reforçar todos os pontos chaves do tratamento a todos os membros da família que podem interferir sobre a alimentação do animal. Vários são os casos de familiares ou funcionários da casa não orientados que, por desconhecimento, fornecem alimentos proibidos. O tempo de uso do alimento também deve ser deixado claro. Especialmente nos casos crônicos, nos quais devem ser
Por mais que uma dieta seja efetiva, ela não terá desempenho idêntico em todos os pacientes. O primeiro ponto a monitorar é se o animal aceitou a dieta prescrita. A recusa mantida, mesmo sob alternativas de manejo que favoreçam a aceitação, exige uma rápida e efetiva nova prescrição. A demora pode promover a desistência do tratamento. Frequentemente uma primeira recusa pode ser manejada com recomendações apropriadas para transição ao novo alimento, bem como estimulando um retorno por parte do proprietário, seja por e-mail ou telefone. A visita pessoal à residência pode ser necessária em alguns casos, ocasião na qual pode-se examinar melhor ambiente e condições de manejo que possam desfavorecer o tratamento. O follow up frequente é fundamental para reforçar a importância da recomendação dietética em conjunto com o tratamento. Recomendações que não têm nenhum follow up são susceptíveis de serem consideradas como não sendo tão cruciais ou importantes. Por fim, checar o progresso do tratamento é uma oportunidade para discutir e selecionar uma alternativa que seja compatível caso o primeiro alimento tenha sido recusado. A equipe de apoio da clínica ou hospital, quando bem treinada, pode auxili-
ar neste acompanhamento. Muitos telefonemas podem ser conduzidos por funcionários da recepção, passando na medida do necessário para enfermeiros e, quando for o caso, ao médico veterinário. Esta triagem pode aumentar a eficiência do processo e muitas vezes é bem recebida pelos funcionários, que se sentem ainda mais úteis e participativos. No entanto, o treinamento adequado é fundamental para o sucesso da atividade. Fornecendo uma variedade de opções Uma vez que nenhum alimento vai funcionar em todas as situações igualmente, dado aos fatores individuais de cada animal, é muito importante dar opções adicionais ao cliente. Uma recomendação alternativa pron-
ta e específica reduz a probabilidade de que o cliente selecione um alimento por si próprio, o que resulta em uma potencial escolha inadequada. Uma seleção dos alimentos utilizados para manejo das doenças mais frequentes na prática clínica, juntamente com um atendimento especial, como o serviço de delivery, é provavelmente a melhor abordagem. A opção de ter em estoque embalagens pequenas, que favoreçam a experimentação, também ajuda a aumentar a variedade de alimentos oferecidos sem aumentar substancialmente o custo com estoque. As embalagens menores podem ser oferecidas inicialmente e, após a adaptação, o proprietário adquire então embalagens maiores. Do ponto de vista do médico veteri-
nário, ter para a venda e recomendação uma variedade de produtos para a mesma condição irá lhe proporcionar um aumento da familiaridade com produtos diferentes. A experiência clínica com cada produto aumenta a probabilidade de fazer a melhor recomendação inicial, bem como aumenta a segurança com a mudança para um produto alternativo caso a recomendação inicial não tenha êxito. Por fim, é primordial lembrarmos que os alimentos coadjuvantes não devem ser indicados, e sim prescritos. E prescrever inclui estipular nome completo do alimento, frequência das refeições, quantidade a ser oferecida em cada refeição, orientações de manejo especiais quando for o caso e tempo de utilização do alimento. Até a próxima!
Nosso Clínico • 77
INFOPET comac@comacvet.org.br
Como foi 2014 e o que esperar do mercado de saúde de animais de companhia em 2015 O ano chega ao fim e nesse momento todos co-
“Quando olhamos o cenário econômico e políti-
meçam a realizar seus balanços pessoais e profis-
co que se desenha à nossa frente, podemos ser
sionais. Com o mercado não é diferente, é hora de
um pouco mais conservadores e esperar que o va-
olhar para trás e perceber os desafios que foram
rejo geral – o que afeta diretamente o nosso mer-
superados, identificando também o que precisa
cado – não terá grandes rompantes de crescimen-
mudar para o ano seguinte. Tivemos um Carnaval
to. Especificamente para o mercado de saúde de
tardio, a Copa do Mundo e a eleição mais disputa-
animais de companhia eu acredito que ficaremos
da dos últimos tempos, alguns dos principais even-
na ordem de 8 a 10% de crescimento, basicamen-
tos. E o mercado de saúde de animais de compa-
te repetindo o desempenho desse ano”, afirma Leo-
nhia resistiu a toda essa euforia, contrariando os
nardo Brandão, Diretor de Operação de Animais de
pessimistas de plantão, que imaginaram os pro-
Companhia da Ceva Saúde Animal e Coordenador
prietários escondidos em casa com os seus pets,
do GT InfoPet da comissão.
apenas esperando tudo isso passar. E o que é melhor, não só resistiu, mas também cresceu.
Segundo Brandão, essa expectativa não deve ser vista de forma pessimista, mas sim realista.
Segundo dados do SINDAN (Sindicato Nacional
Mas lembra que os momentos de baixo crescimen-
da Indústria de Produtos para Saúde Animal), o
to no mercado são ideais para que as empresas se
mercado de saúde de animais de companhia (vaci-
reinventem. Pois é nessa hora que os mais prepa-
nas, produtos ectoparasiticidas tópicos, orais e
rados para atender as demandas emergentes do
sprays, antibióticos, anti-inflamatórios, shampoos
mercado poderão se destacar. “Cabe aos clínicos e
terapêuticos, entre outras categorias) deve fechar
empresários do setor de animais de companhia de-
o ano com um crescimento na ordem de 10% em
senvolver estratégias que atraiam e fidelizem os
relação ao ano passado, puxado pelos segmentos
clientes, ‘blindando’ assim seus negócios contra
de vacinas (13%), produtos endectocidas (19%),
futuras intempéries. Nesse aspecto, sai muito na
antimicrobianos (15%) e endoparasiticidas (14%).
frente quem tem informação e, baseado nelas,
Vale lembrar que esses são dados acumulados até
constrói um plano de ações para o ano”, finaliza.
setembro de 2014, ou seja, até o final do ano deverão mudar.
Nesse aspecto, a Comac, que foi criada em 2007 com o objetivo de tratar dos interesses do merca-
Olhando o crescimento histórico do mercado de
do de animais de companhia, é uma entidade que
saúde animal (15% em taxa composta de 2008 a
pode auxiliar os empresários. Pois se trata de um
2013), esse não foi um ano dos mais incríveis. Ainda
grupo formado por 15 das principais empresas da
assim, se forem consideradas as turbulências vivi-
área de saúde animal (nacionais e estrangeiras)
das e os resultados pífios de outros mercados, o
com foco no setor. Está sempre de olho nas novi-
setor não pode reclamar.
dades do segmento e publica com frequência pes-
A Comac (Comissão de Animais de Companhia
quisas de mercado com o intuito de fomentar o
do SINDAN) ainda não tem uma previsão oficial
conhecimento e as boas práticas de gestão no seg-
para o mercado de saúde animal pet em 2015.
mento.
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TERAPIA CELULAR
DR. MARCELO NEMER XAVIER Coordenador Curavet (curavet.terapia@gmail.com) www.curavet.com.br
O que são as células-tronco? O avanço da medicina veterinária está correlacionado com o avanço das pesquisas em prol da melhoria na qualidade de vida dos pacientes e a terapia celular com células-tronco (TCCT) tem ocupado um espaço de prestígio dentre as novas modalidades terapêuticas do mercado. A TCCT teve início com uma empresa americana há 12 anos com o foco em equinos e desde 2005 em pequenos animais. Diferentemente do que é transmitido em algumas regiões, a TCCT é uma terapia já consolidada para diversas doenças, com pesquisas, trabalhos e os resultados são independentes da origem tecidual da célula-tronco mesenquimal (CTM) além de inúmeras pequisas com células-tronco hematopoiéticas. Apesar de não serem muito difundidas ainda na medicina brasileira, as células-tronco (CT) já são uma realidade inclusive nos humanos, onde podemos pegar como exemplo o tenista Rafael Nadal que já passou por terapia em seu joelho lesionado e recentemente fez tratamento para uma lesão na coluna devido aos esforços repetitivos de sua profissão.
Filhote de Labrador paraplégico preparando para receber as células tronco
O que são as células-tronco? As CT são células indiferenciadas e não especializadas, com capacidade de diferenciação, alto poder de multiplicação, efeito anti-inflamatório, poder de regeneração e possuem capacidade de estimular as CT inertes do paciente.
Após 12 horas dessa aplicação, Vanilla deu seu primeiro passeio andando com as quatro patas
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Qual a plasticidade das CT? Após a fecundação, temos a multiplicação celular em progressão geométrica, até a composição de oito células temos as chamadas células totipotentes, ou seja, cada célula dessas poderia se tornar um indivíduo completo. As CT germinativas embrionárias são as células do indivíduo até a fase de blastocisto no embrião, cerca de 100 células haverá no embrião nesse momento, de acordo com a espécie do animal essa fase é alcançada pelo embrião em horas, ou dias. Essas células são chamadas de pluripotentes e têm a capacidade de se diferenciar em qualquer tecido do animal, exceto placenta e tecidos de sustentação do feto, porém são células não utilizadas nas terapias celulares a nível comercial, por diversos motivos inclusive a alta capacidade carcinogênica. As CT adultas tem origem no epiblasto de onde serão gerados o endoderma, o ectoderma e o mesoderma do embrião, chamados de folhetos embrionários. De acordo com sua origem nos folhetos as CT têm uma pré-determinação a se diferenciar em determinados tecidos, com por exemplo: Ectoderma: neurônios do cérebro, células da derme e epiderme. Mesoderma: células musculares cardíacas, de músculos estriados esqueléticos e células sanguíneas. Endoderma: células do pâncreas e tireoide. 80 • Nosso Clínico
Qual origem das células comercializadas? Hoje em dia as células comercializadas nos tratamentos pelo Brasil, são CTM retiradas da gordura, devido à grande concentração de CTM no tecido, fácil obtenção da amostra para cultivo celular, pouco desconforto para o doador em comparação com outras fontes como polpa dentária, medula óssea e outros tecidos que também são ricos nessa mesma variedade de CT. Essas células podem ser coletadas do próprio paciente, o que o submete a uma sedação prévia para retirada do tecido e encaminhamento da amostra ao laboratório, após o cultivo, análises e multiplicação (período que pode durar até 5 semanas) as células são transplantadas no próprio paciente. Outra opção que vêm sendo muito aceita e altamente difundida é a utilização de células vinda de um banco de célulastronco, onde os doadores são pré-selecionados, as amostras estudadas no sentido de multiplicação, diferenciação, infecção do doador e da amostra para, após comprovação da qualidade do material, essa célula compor o banco e poder ser aplicada nos pacientes doentes. Isso é possível já que as células-tronco não causam efeitos colaterais e por serem primitivas, ainda não possuem capacidade de causar rejeição por não possuírem os epitopos para tal reação.
Essa amostra vai para o cultivo celular primário, onde migram do tecido para o meio de cultura devido a necessidade de nutrientes e após a retirada dessa amostra são mantidas em cultura contínua, onde serão analisadas a confluência, capacidades de multiplicação, contaminação da amostra, capacidade tumorogênica, diferenciação celular e após todas análises, dar-seá início as passagens e envasamento nos criotubos, ou frascos específicos para o congelamento. Como as células-tronco localizam o tecido lesionado? A terapia pode ser feita de forma sistêmica e local, dependendo da doença a ser tratada. De forma local, as células já são implantadas no(s) local(is) necessários para sua atuação. Mas, na verdade elas só permanecem lá por ter tecido inflamado e as citocinas pró-inflamatórias são as responsáveis pela quimiotaxia e tropismo das células-tronco para o tecido alvo. Essa característica faz com que lesões agudas possuam maior capacidade de tropismo celular devido ao grande número de citocinas próinflamatórias na região, novos estudos têm deixado claro que essa característica não se aplica no tecido nervoso central que mantém sua capacidade de estimular e atrair as células para sua região lesionada, por um período muito longo. O que esperar na TCCT? Nas terapias sempre esperaremos que as células atuem através de suas características e principais capacidades que são: • Anti-inflamatória; • Imunomodulação; • Angiogênese; • Anti-apoptótica nos tecidos lesionados; • Diferenciação tecidual; • Atuação por períodos indeterminados. Em quais doenças as células-tronco já são utilizadas? As CTM em pequenos animais já são utilizadas comercialmente em diversas doenças como: • Artrites e artroses: devido a grande capacidade anti-apoptótica, anti-inflamatória e o efeito parácrino, as células atuam de forma a melhorar a qualidade do líquido sinovial, evitar a progressão natural das lesões, melhorar a circulação na região da cartilagem lesionada, aumento da proliferação celular para regeneração local. • Discopatias: utilizada de forma conservativa e também de forma trans cirúrgica as células possuem um alto poder anti-inflamatório nesses pacientes, induzem a divisão celular local, dificilmente se diferenciando em neurônios, mas auxiliando de forma parácrina a regeneração do tecido no local. • Tendinopatias: em rupturas de tendão as células têm a capacidade de atuar impedindo a formação de fibrose, acelerando a cicatrização local. • Sequelas da desmielinização imunomediada provocada pela cinomose: a alta capacidade das células em imunomodular o paciente, faz com que a progressão da sequela seja cessada e a
atuação direta e indireta das células ajudam na remielinização de alguns neurônios. • Ceratoconjuntivite seca: quando a causa for imunomediada, as células tem alta capacidade de imunomodulação, além de melhora na capacidade da glândula de produção de lágrimas. • Aplasia de medula: seu efeito parácrino estimula a medula a retornar sua função, caso seja imunomediada, além do estímulo parácrino, teremos a capacidade imunomoduladora juntamente para o reestabelecimento da função. • Doenças renais: as doenças renais, agudas ou crônicas podem ter o auxílio das células-tronco no intuito de utilizarem suas capacidades anti-apoptóticas, de estímulo as células-tronco do tecido em diferenciação e diminuição da formação de fibrose. • Úlcera de córnea: além da alta capacidade angiogênica que ajuda a nutrir o local da lesão, há a capacidade anti-inflamatória e o efeito parácrino para a aceleração da cicatrização. • Hepatopatias: as células mesenquimais produzem as mesmas substâncias produzidas pelos hepatócitos quando há lesão hepática, o que promove a regeneração do órgão, além de atuar com o efeito anti-inflamatório e imunomodulador. Além disso, várias pesquisas vêm sendo feitas e com uma grande tendência de rapidamente estar sendo comercializado para outras doenças como: • Algumas doenças cardíacas, • Problemas circulatórios, • Doenças neurológicas intracraniana, • Doenças autoimunes de forma geral, • Dermatopatias. Cabe ressaltar que há muitos mitos após meses envolvendo as células-tronco, muitos pro- Vanilla da aplicação fissionais acreditam na regeneração completa dos órgãos e em grande potencial tumorogênico e os dois extremos são mitos. Essa terapia tem grande capacidade de crescimento, simplesmente pelas características já comprovadas das células e já expostas nessa matéria, nenhuma terapia é indicada sem o acompanhamento de um profissional qualificado e especializado naquela especialidade ou doença. Afinal, o intuito da terapia é criar um ambiente favorável para a reestruturação tecidual, acelerar o processo de reparação, recrutar as células do próprio indivíduo e com isso chegar a qualidade de vida possível para aquele paciente. Com essas informações, percebe-se que a terapia vem mostrando ótimos resultados, contudo há a possibilidade de otimizar caso haja intervenção precoce e trabalho em equipe com o clínico e/ou especialista, não retirando os tratamentos convencionais e sim potencializando os resultados. Nas próximas edições estaremos explanando mais detalhadamente sobre cada doença, as formas de atuação, suplementos que auxiliam no direcionamento celular e as novidades terapêuticas.
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ENDOCRINOLOGIA E METABOLOGIA MV. MsC. Alessandra Martins Vargas www.endocrinovet.com.br
Diabetes Mellitus O renomado médico Drauzio Varella, em um de seus inúmeros textos, faz referência ao diabetes mellitus como uma epidemia que se espalha pelo Brasil e por muitos países. Tal afirmação parece estranha porque costumeiramente se emprega o termo epidemia apenas no que se refere às doenças infecto-contagiosas. Entretanto, a atual explosão de casos de diabetes obedece a todos os critérios epidemiológicos necessários para a caracterização de uma epidemia. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) a incidência de diabetes aumenta não apenas nos países industrializados, mas também nos que adotaram estilos de vida e hábitos alimentares “ocidentalizados”. A OMS estima que cerca de 5,1% da população mundial entre 20 e 79 anos sofra da doença. E faz previsões nada otimistas: o número atual de 194 milhões de casos duplicará até 2025. Na medicina veterinária, o diabetes mellitus é comum tanto em cães quanto em gatos. Infelizmente também temos observado o aumento na incidência da doença em nossos pacientes. O conhecimento desta endocrinopatia associado à adequada instituição do tratamento e orientações aos tutores possibilitam um melhor controle da doença, e consequentemente, o aumento na qualidade e expectativa de vida do paciente. Um breve histórico... O diabetes mellitus (DM) pode ser considerado endocrinopatia tão antiga quanto a própria humanidade. Os primeiros relatos da sua existência constam no papiro Ebers, documento médico egípcio escrito há aproximadamente 1.500 anos antes de Cristo, o qual faz referência a uma doença caracterizada por emissão frequente e abundan-
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te de urina. No entanto, foi o médico romano Aretaeus (30-90 da era cristã) que criou o termo diabetes, que significa “passar através”, pelo fato da poliúria, sintoma característico da doença, assemelharse à drenagem de água através de um sifão. Outros relatos semelhantes foram descritos nos séculos seguintes, porém foi Cullen (1709-1790) quem acrescentou ao termo diabetes o adjetivo mellitus, com o objetivo de distinguir a doença do diabetes insipidus. Mesmo sem conhecimento da etiologia do DM, em 1796, Rollo foi o primeiro médico a propor a restrição dietética no tratamento de pacientes diabéticos, teoria esta reiterada por Bouchardat (1806-1886) ao enfatizar a restrição de carboidratos e propor a sua substituição por vegetais verdes. Somente em 1900 Opie correlacionou o diabetes com a degeneração das ilhotas pancreáticas (descritas por Langerhans em 1869). Já a primeira aplicação de insulina no homem com finalidade terapêutica foi realizada em 1922, e no ano seguinte, foi lançada a primeira insulina comercial. Desde a descoberta da insulina até os dias atuais, importantes progressos foram conduzidos no campo da Diabetologia. Consideráveis avanços também foram observados na medicina veterinária, com o lançamento da insulina Caninsulin® (única insulina de uso veterinário disponível no mercado veterinário) e também com o desenvolvimento de alimentos coadjuvantes para o tratamento do DM canino. Durante as próximas edições iremos discorrer sobre a definição da doença, manifestações clínicas, diagnóstico, tratamento, monitorização do paciente, orientações que devem ser transmitidas aos tutores, doenças concomitantes, possíveis complicações, prognóstico
para assim auxiliar você leitor a responder as principais questões envolvendo o diabetes mellitus. Aproveito o ensejo para desejar a você que acompanha a nossa coluna bimestral um Feliz 2015, repleto de conquistas e realizações! Sucesso!
Referências: 1 - O conteúdo aqui apresentado também constitui parte do informativo Vets Today Nº22 - Julho/2014 (Conhecendo melhor o diabetes mellitus em cães) publicado pela Royal Canin e também escrito pela autora desta coluna. 2 - VARELLA, D. Doença Crônica. A epidemia de diabetes. Disponível em: <http://drauziovarella.com.br/diabetes/aepidemia-de-diabetes> Acesso em: 18/ 12/2014, 09:13. 3 - Caninsulin® - MSD Saúde Animal é a unidade global de negócios de saúde animal da Merck & CO, Inc. 0800 70 70 512 (A orientação do médico veterinário é fundamental para o correto uso dos medicamentos).
EVENTOS PARA 2015 • II SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE ENDOCRINOLOGIA E METABOLOGIA EM PEQUENOS ANIMAIS Data: 01/11/2015 Local: São Paulo, SP Organização: ANCLIVEPA-SP Informações: Tel.: (11) 3813-6568 / www.anclivepa-sp.com.br NOVIDADES PARA 2016 • CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO (pós-graduação lato sensu) em ENDOCRINOLOGIA E METABOLOGIA EM PEQUENOS ANIMAIS Turma 04 ( 2016 - 2017 ) Local: São Paulo, SP Organização: ANCLIVEPA-SP em parceria com UNICSUL Processo seletivo em 2015 Informações: Tel.: (11) 3813-6568 / www.anclivepa-sp.com.br
CONHECIMENTO COMPARTILHADO Christiane Prosser (christiane.prosser@royalcanin.com) M.V., Membro da Equipe de Comunicação Científica da Royal Canin Brasil
Hábitos e características nutricionais do gato doméstico Há poucos anos os gatos ainda eram considerados por muitos como “cães pequenos”. Hoje, com a evolução da medicina felina e da etologia da espécie, sabese que as diferenças entre eles são notórias. As atitudes sociais, o comportamento alimentar e as necessidades nutricionais dos gatos são específicas. Para que manifestem seu comportamento natural (etograma), os gatos precisam se sentir seguros em seu ambiente. Os proprietários devem permitir que os animais exteriorizem seu etograma normal: comer, dormir e brincar, bem como garantir que o gato tenha a oportunidade de se esconder e de ficar em posição de recuo ou retirada em caso de estresse. Quando a mobília da casa onde o gato vive é planejada e o ambiente bem arrumado, ele terá pouquíssimos lugares para se esconder em caso de perigo. Consequentemente, o gato se sentirá exposto e vulnerável. É preciso, portanto, promover seu bem-estar, adaptando, sobretudo, seu ambiente. O mesmo deve ser constante e previsível, tanto em termos de estrutura física como de odores; o acesso a prateleiras de repouso em locais altos e seguros diminui o risco de que o gato tenha comportamentos de escape, visando aliviar a ansiedade, tal como o excesso de auto-higienização e a superalimentação. Uma possibilidade de enriquecimento ambiental é fixar prateleiras ou estantes para que o gato suba e observe o ambiente do alto, ou esvaziar uma parte de um armário a fim de oferecer um espaço para que ele se sinta seguro e possa se esconder quando desejar. O gato foi domesticado há quase 6 mil anos, mas seu etograma permanece relativamente o mesmo. Ainda que a domesticação produza mudanças na duração de cada uma das sequências, até o gato de vida doméstica é um “gato com uma vida de gato”! As nove necessidades comportamentais básicas são idênticas, independentemente do estilo de vida do gato. São elas: brincar, comer, esconder-se, observar, explorar, marcar território, dormir, higienizar-se e caçar. 84 • Nosso Clínico
Predação e Caça O gato é um caçador solitário, mas tende a se reunir em pontos de alimentação e reprodução em grupos urbanos selvagens. O território é transitório e variável ao longo do tempo e do espaço, ou seja, é possível que o território se sobreponha entre dois gatos, mas em diferentes momentos. A hierarquia na espécie felina depende do lugar e da hora do dia, ou seja, existe uma dominância relativa, e o território pode deflagrar agressões e brigas com facilidade. Ao contrário dos cães, os gatos domésticos costumam comer sozinhos e não parecem ser afetados pela presença de outro gato. Alguns gatos até compartilham sua tigela com outro animal, enquanto outros podem se sentar tranquilamente e esperar por sua vez. Diferentemente do cão doméstico, o biotipo do gato doméstico não está longe de seus ancestrais selvagens. Contudo, diferenças nos tamanhos das presas induziram mudanças significativas, p. ex., os gatos domésticos usam menos os incisivos, embora as refeições sejam mais frequentes. O comportamento predatório é inato: todos os gatos provavelmente sabem como caçar, mas certos aspectos parecem ser aprendidos. A abordagem/aproximação e a perseguição/busca são estimuladas pelos companheiros de ninhada. O comportamento de caça é mais provavelmente observado em filhotes de uma gata que tenha esse tipo de atitude. Durante o desmame, existe um surpreendente programa de adestramento de caça exibido pela gata: - 4ª semana: a gata traz pedaços de carne para os filhotes - 5ª semana: a gata come a presa morta na frente de seus filhotes - 6ª ou 7ª semana: a gata deixa seus filhotes comerem a presa - 8ª semana: a gata traz uma presa viva para que os “jovens caçadores” aprendam a matar. As primeiras sessões (aulas) de caça ocorrem aos 3 meses. A falta de experiência predatória não parece interferir nas
habilidades motoras, mas frequentemente revela questões de seletividade da presa. De fato, um filhote precisa ser ensinado que um camundongo pode ser consumido. Se isso não for feito antes dos 3 meses de vida, o gato poderá passar fome mesmo na presença da presa. Contudo, até mesmo os gatos que não tiveram acesso a presas quando eram filhotes podem aprender a se tornar caçadores proficientes. Sessão de Caça Na vida selvagem, os gatos podem sobreviver facilmente graças ao seu instinto de caça. Ao contrário dos cães, os gatos são caçadores solitários, que capturam pequenas presas, ingerindo-as sozinhos. Em consequência disso, eles comem várias vezes durante o dia e a noite. Essa atividade requer a manutenção de um peso ideal, o que explica o motivo pelo qual os gatos ativos regulam seu consumo calórico e raramente ficam obesos. Os gatos caçam por instinto e não por fome: como cada presa atende apenas a uma pequena parte de suas necessidades, o ato de esperar sentir forme antes de caçar pode vir a ser fatal. As observações mostram que os gatos frequentemente falham em suas tentativas de capturar a presa: apenas 13% das presas rastreadas são, na verdade, capturadas, mas cada captura bem-sucedida é resultado de 3-5 tentativas. Um gato leva para casa 0,7 presas em média por semana. As sessões de caça podem durar 30 minutos, em distâncias entre 600 e 1.800 metros em seu território. Existe uma variabilidade individual óbvia: por exemplo, os gatos machos caçam mais longe e por mais tempo que fêmeas. Em condições naturais, os gatos gastam dois terços de seu tempo acordados para caçar. O comportamento de caça é composto por várias sequências: • Procurar e espreitar a presa • Aproximar-se e perseguir a presa • Capturar a presa • Matar a presa • Consumir a presa
O consumo raramente ocorre no local da captura (por uma questão de tranquilidade e sossego). Cada etapa induz à seguinte, o que permite a sucessão de todas as sequências por estímulos diferentes. A fome não desencadeia/aciona a busca pela presa. O gato doméstico caça com frequência, mas raramente come sua presa. O fato de levar a presa ao proprietário pode ser interpretado erroneamente como uma prova de ligação quase materna. Os gatos raramente enterram sua captura para um consumo tardio. Geralmente comem com muita rapidez e, depois, regurgitam os pelos e os ossos. O gato fragmenta os ossos e mastiga com seus grandes pré-molares, e pode comer um camundongo inteiro em menos de 1 minuto. Os gatos domesticados conservaram seu instinto de caça e reagem à presença da presa em movimento, mesmo se estiverem no processo de alimentação. Tais gatos conservam o hábito de fazer pequenas e inúmeras refeições, pegando o alimento com delicadeza. Observações do comportamento alimentar: de que forma o gato come A regulação do consumo é um fenômeno complexo e ainda pouco compreendido, e a frequência e o tamanho das refeições representam dois parâmetroschave do comportamento alimentar. • Número de refeições por dia Cada gato tem seu próprio jeito de fazer suas refeições ao longo do dia. Geralmente, um gato necessita de 3 semanas para formar seu hábito. Em um esquema ad libitum, a alimentação varia de 3 a 20 refeições por dia. • Tamanho, duração das refeições e velocidade de alimentação O tamanho das refeições aumenta com a palatabilidade (especialmente a primeira refeição) ou quando o comedouro automático passa de uma alimentação programada para uma alimentação ad libitum. A duração média de uma refeição é de quase 2 minutos. A velocidade de alimentação é um critério importante para a percepção do proprietário. Na verdade, essa velocidade é muito mais influenciada pela composição do alimento do que pela palatabilidade. Gato, um carnívoro estrito com particularidades nutricionais Os gatos são carnívoros estritos e dependem de nutrientes específicos origi-
Tabela 1: Diferenças fisiológicas do sistema digestório entre gato e cão Peso do trato digestivo / Peso corporal
2,7% para cães gigantes e 7% para cães de pequeno porte
Área das membranas olfativas Células olfativas Papilas gustativas
2,8 a 3,5%
60 a 200 cm2
20 cm2
80 a 220 milhões
60 a 70 milhões
1.700
500
Dentição
42 dentes
30 dentes
Mastigação
muito curta
sem mastigação
Enzimas salivares digestivas Tempo de ingestão de alimentos Necessidade energética diária pH estomacal Comprimento do intestino delgado
NÃO
NÃO
1 a 5 minutos
múltiplas refeições pequenas
130 a 3.500 kcal/dia
200 a 300 kcal/dia
1a2
1a2
2a6m
1 a 1,7 m
Comprimento do intestino grosso
20 a 80 cm
20 a 40 cm
Tempo médio de trânsito intestinal
24 a 48 horas
24 a 36 horas
Recomendação de ingestão de carboidratos para adultos
muito baixa
muito baixa
Recomendação de ingestão de proteinas para adultos
20 a 40% da matéria seca
25 a 40% da matéria seca
Recomendação de ingestão de gorduras para adultos
10 a 65% da matéria seca
15 a 45% da matéria seca
semi-carnívoro
carnívoro
Dieta
nalmente encontrados na presa. A presa não é somente composta por carne (proteína), dessa forma pode-se dizer que quando um felino consome uma presa ele ingere: água, proteína, gordura, carboidratos, vitaminas e minerais. Em relação à necessidade proteica, por exemplo, um gato adulto requer de 2 a 3 vezes mais proteína que um onívoro adulto. Cabe ressaltar que os gatos domésticos necessitam de 11 aminoácidos essenciais: arginina, histidina, isoleucina, leucina, lisina, metionina, fenilalanina, triptofano, treonina, valina e taurina. Aminoácidos essenciais são aqueles que não são sintetizados pelo organismo, assim, devem ser obrigatoriamente incluídos na alimentação. No seu habitat natural os gatos consomem altas quantidades de proteína, moderada quantidade de gordura e baixa quantidade de carboidrato (Tabela 1). Ainda, seu metabolismo é adaptado para produzir energia principalmente a partir de proteínas. O carboidrato também fornece energia, porém é utilizado em menor quantidade nessa espécie quando comparada aos cães. Com a domesticação e a inclusão progressiva de alimento industrializado, o metabolismo dos gatos se ajustou a um consumo um pouco maior de carboidrato na dieta. Na dieta dos carnívoros a gordura provê grande parte da energia,e também é importante para gerar palatabilidade no alimento. Cabe ressaltar que as fontes de gordura devem prover ainda os ácidos graxos essenciais que incluem os ácidos graxos ômegas 3 e 6. Dentre os ácidos
graxos ômega 6 está o ácido araquidônico que é considerado um ácido graxo essencial para gatos, uma vez que sua síntese não é realizada a partir de seus precursores. O EPA (ácido eicosapentaenoico) e o DHA (ácido docosahexaenoico) são ácidos graxos ômega 3 e sua produção também não ocorre na espécie felina a partir de seus precursores, assim também são considerados ácidos graxos essenciais para a espécie. A alimentação do gato deve ser prescrita por um Médico-Veterinário, profissional que detém maiores informações sobre as necessidades e manejo nutricionais mais específicos e adequados a essa espécie.
REFERÊNCIAS 1 - BATESON, P.; BATESON, M. Post-weaning feeding problems in young domestic cats - a new hypothesis. Vet J; v.163, p.113-114, 2002. 2 - DEHASSE, J.; DE BUYSER, C. Socio-écologie du chat. Prat Med Chir Anim Comp; v.28 p.469478, 1993. 3 - FITZGERALD, B.M.; TURNER, D.C. Hunting behavior of domestic cats and their impact on prey populations. In: TURNER, D.C.; BATESON, P. The Domestic Cat: the biology of its behavior. 2.ed. Cambridge University Press, p.152-175, 2000. 4 - LEYHAUSEN, P. Cat Behavior: the predatory and social behavior of domestic and wild cats. Garland Press, New York, 1979. 5 - RABOT, R. Le comportement alimentaire et dipsique du chat et ses troubles. In: Proceedings Séminaire Société Féline Française, p.42-47, 1994. 6 - ZORAN, D. L. The carnivore connection to nutrition in cats. J Am Vet Medicine Association, v.221, n.11, 2002.
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COMPORTAMENTO EMPRESARIAL Prof. Dr. Marco Antonio Gioso FMVZ-USP www.usp.br/locfmvz
Somos eficazes e eficientes? O trabalhador braçal e operário de fábrica trabalham muito, constantemente, duramente, e digamos com eficiência, isto é, fazem bem o que se propuseram a fazer. Ele terá independência financeira um dia? Terá uma vida confortável na velhice? Provavelmente, não. A razão é não ser “eficaz”, isto é, não saber fazer as escolhas certas. Muitos microempresários patinam em suas vidas empresariais exatamente porque fizeram escolhas erradas no passado, e continuam a ser ineficazes. O segredo é pensar assim: o que eu estou disposto a fazer agora, considerar esta proposta, ou ideia, me levará a que no futuro? Por isto Stephen Covey criou o excelente livro “ Os 7 hábitos das pessoas altamente eficazes”. Perceba: ele não se refere a pessoas altamente eficientes! Pode-se construir uma ponte com muita eficiência, antes do prazo, e que fique bonita e segura, porém, ligando a lugar nenhum, e ninguém usa a tal ponte. Ou seja, não houve eficácia, não se pensou na necessidade da ponte.
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“Uma dica do Stephen Covey é rever seus valores de vida. Quando sabemos muito bem nossos princípios e valores e vivemos em função deles, fica mais fácil fazer escolhas.” Muitas empresas não saem do lugar, não crescem em faturamento ou lucro porque erraram nas suas escolhas. Compram equipamentos que não geram lucro, contratam pessoas que não geram faturamento, criam serviços que não trazem rentabilidade alguma, fazem cursos que não trazem incrementos, promovem reformas inúteis, etc. Os exemplos são muitos. O que se pode fazer é refletir sua empresa totalmente, bem como sua vida. Deve-se parar tudo por uns dias, e re-significar suas atitudes frente aos resultados que você anda colhendo na vida e projetar o futuro. O que você faz hoje, da
forma que faz, as escolhas que você tem feito, vão levá-lo aonde em cinco anos ou 20 anos? Uma dica do Stephen Covey é rever seus valores de vida. Quando sabemos muito bem nossos princípios e valores e vivemos em função deles, fica mais fácil fazer escolhas. Quando sabemos nossa visão arquetípica, onde queremos chegar, que tipo de vida queremos ter, as várias possibilidades que aparecem em nosso caminho tornam-se claras, pois a escolha será baseada em: escolhendo este caminho, chegarei mais rápido ou mais devagar aonde quero chegar? Será um desvio ruim? Por isto deve-se criar a visão e manter-se na rota. Muito de nossa vida não ocorre como foi planejado. Não temos controle sobre muitas coisas, mas podemos ter sobre muitas outras, em especial traçar uma rota, para a vida familiar e para a empresa. Isto facilitará fazer escolhas com eficácia, para não reclamarmos no futuro do que fizemos com nossas vidas. A decisão é sua!
MEDICINA TRADICIONAL CHINESA
Porque Medicina Veterinária Tradicional Chinesa Nos últimos 30 anos tivemos um crescente aumento da acupuntura veterinária no Brasil. Graças a nomes como o Dr. Tetsuo Inada e o Dr. Stelio Luna, da universidade Rural do Rio de Janeiro e da Universidade Paulista de Medicina de Botucatu, tivemos a formação cada vez mais de profissionais que difundiram e compartilharam seus conhecimentos culminando com o reconhecimento pelo CFMV da especialidade de Acupuntura Veterinária. Porém como tudo na vida e conforme o ensinamento da medicina tradicional chinesa tudo muda e tudo progride. A acupuntura desta forma começou a ser mais estudada e compreendida e ficou claro que ela faz parte de algo maior que se chama Medicina Tradicional Chinesa (MTC) ou Medicina Veterinária Tradicional Chinesa (MVTC). Mas o que é uma Medicina Tradicional? Este termo se refere aos conhecimentos de um povo, raça ou nação, que através de suas experiências e tradições usa diferentes recursos para praticar medicina. Lembrando que medicina pela origem latina da palavra tem como significado a arte da cura. Assim temos a prática de uma medicina tradicional como a arte da cura praticada da forma que um grupo de pessoas usa através de sua experiência. Os chineses têm grandes populações e grande conhecimento adquirido pelo extenso comércio que praticam há muito tempo. Então a MTC se baseia em conceitos adquiridos a mais de 4.000 anos, que apesar de ainda não se encaixarem na medicina cientifica ocidental atual, que tem em torno de 150 a 200 anos, tem um uso e uma eficácia bastante provada. É o que vemos refletido no reconhecimento da especialidade médica de “acupuntura” pelos conselhos das classes médicas humana e veterinária. A MTC se compõe de mais ingredientes para a cura que muito tem sido utilizados, e assim mostrado que seu uso isolado ou em conjunto com as terapias ocidentais médicas, resulta em benefícios e resultados cada vez maiores, levando a curas antes mais difíceis ou até impossíveis, e principalmente melhorando a qualidade de vida de pessoas e animais. Se dividíssemos a MTC, então teríamos as áreas de: dietética chinesa, fitoterapia chinesa, manipulação energética do organismo através de massagens Tuiná e do Qi gong e o controle do ambiente aonde o animal vive que os chineses chamam de Feng shui. Quanto à dietética, temos notado nos últimos anos, em especial nos grandes centros como Estados Unidos e Europa, que está acontecendo uma mudança na forma de alimentar o animal, passando da ração comercial “pasteurizada e homogeneizada” (que teve um grande aumento também nestes últimos 30 anos, porém vem sendo muito questionada), para alimentação natural e dietas caseiras. Isto vem acontecendo no Brasil e temos cada vez mais proprietários e veterinários procurando um alimento diferente e de melhor qualidade para o animal. Desta forma, podemos considerar a experiência da MTC, que há mais de 4000 anos faz utilização de alimentos para tratamentos, com técnicas sólidas e bem comprovadas de preparação, conservação e da composição do tipo de alimento, permitindo ao veterinário que trabalhe nesta área produzir alimentos compatíveis com uma boa qualidade nutricional, sem 88 • Nosso Clínico
se esquecer da qualidade energética. Da dietética chinesa veio a fitoterapia chinesa. Os chineses viram que os alimentos tinham seus efeitos nas diferentes doenças, porém muitas vezes era preciso uma dose mais alta destes alimentos e uma combinação mais complexa difícil de atingir somente com o uso da dieta. Assim criaram maneiras de combinar ingredientes de origem animal, vegetal e mineral e fizeram compostos naturais medicamentosos que testados conforme o uso se mostram altamente eficientes. Vale lembrar que os remédios atuais que se compram nas farmácias são todos derivados de componentes animais, vegetais ou minerais, de onde eles extraem ou descobrem os princípios ativos e posteriormente produzem de forma sintética. Dentro da química, para se estabilizar um composto temos que usar varias reações e componentes, utilizando energia e combinações pouco estáveis que geram radicais e resíduos podendo estes serem tóxicos ao ser separado em nosso corpo o princípio ativo funcional dos estabilizantes usados. Este processo torna um medicamento tóxico e com efeitos colaterais. Já usando os componentes in natura, oriundos diretamente das plantas, dos animais ou do ambiente, evitamos estas reações adversas e diminuímos em muito os efeitos colaterais. Temos também a manipulação de energia no corpo. É do conhecimento de todos os efeitos de relaxamento com uma boa massagem, e como este tipo de manipulação também ajuda na recuperação de doenças, os chineses desenvolveram a Tuiná, uma técnica de massagem que além de movimentar a parte física muscular e nervosa, trabalha também as reações químicas e suas formações de resíduos produzidas em especial quando estas reações estão incorretas devido às doenças do animal. As reações químicas e seus resultados são chamadas pelos chineses de energia ou Qi. Assim, a manipulação da energia / Qi melhora o funcionamento orgânico e ajuda na cura do animal. O Qi gong é o uso de atividades físicas para que através do exercício este Qi consiga fluir por todo o corpo de forma uniforme, fortalecendo nos locais onde estiver alterado (ou como dizemos, nos locais doentes) e ajudando na recuperação mais rápida da doença. Por último temos o ambiente. Sabemos que um animal com doenças articulares não deve ficar em um piso liso e escorregadio, ou que um animal doente com rinotraqueite não deve ser exposto ao frio ou ficar em lugar muito úmido. Intuitivamente ou por meio da informação que ouvimos de colegas e pessoas tentamos corrigir o ambiente onde fica o animal para que tenha melhores condições de recuperar. Os chineses fazem isso há 4000 anos através do feng shui, que se tornou uma arte e uma ciência em corrigir e melhorar a qualidade do ambiente para que este fique menos propenso ao desenvolvimento de doenças e também que ajude em sua recuperação. É isto que iremos discutir nesta coluna, tentando ampliar ainda mais a ação do veterinário em novas áreas e de novas formas, mas principalmente melhorando a qualidade de vida e a saúde dos animais. Rodrigo Gusmão / Eduardo Lobo: M.V., com cursos de especialização em Acupuntura Veterinária, Dietética e Fitoterapia Chinesa. Coordenador e professor em cursos e palestrante na área por todo o Brasil
BEM-ESTAR ANIMAL
Brincadeiras Inocentes Não é novidade para os colegas que os cães necessitam da atenção do ser humano e que a reciproca é verdadeira em muitos casos. Também é sabido que os animais em fase de crescimento precisam brincar para desenvolver o equilíbrio, coordenação motora e força muscular. Porém, temos que ter em mente que nem todas as brincadeiras são benéficas aos cães, tanto na fase de crescimento quanto em toda a sua vida adulta. Uma das brincadeiras mais comuns e que os cães mais gostam, seja pela dinâmica, seja pela interatividade com o dono, é a famosa bolinha. Essa é uma das formas de distração mais comuns e que costumam trazer sérios problemas aos animais de estimação se não for empregada de forma correta. A brincadeira, como todos sabem, consiste em pegar uma bola que caiba na boca do cão e jogar longe, incentivando o animal a pegá-la. Quanto mais essa bola tiver a propriedade elástica que a faça quicar, melhor. Mas essa modalidade de distração para nossos amigos normalmente é feita dentro de casa, com quatro paredes limitantes e um chão liso e escorregadio. Sendo assim, o cenário para um acidente está formado e, caso ele não ocorra, a força empregada sobre as estruturas esqueléticas é tão intensa que provocará problemas no futuro. Imagine uma bola sendo atirada em uma sala, mesmo que ampla, batendo contra a parede e voltando. O cão, ao tentar segui-la, esquece que seu corpo é frágil e, no calor da brincadeira escorrega no piso, bate contra a parede e torce intensamente a coluna cervical, torácica e lombar. Tudo para alcançar a bolinha que parece ter vida própria. Não vamos negar que a brincadeira é divertida, mas tentemos imaginar o quanto os tendões, ligamentos, articulações, ossos e músculos são exigidos durante essa modalidade. Os traumas agudos mais comuns decorrentes dessa brincadeira são o rompimento de ligamentos - principalmente o cruzado - distensões musculares, torções
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e até fraturas. Os traumas crônicos também aparecem, mas esses são mais lentos e não costumam ser relacionados à brincadeira com bolinha. São eles as artroses, as tendinites e as discopatias. Outra brincadeira que costuma provocar muitas lesões nos animais, principalmente os de médio a grande porte, que são os que mais gostam de participar, é o cabo de guerra, que consiste em o proprietário segurar algo como um pano, uma camiseta ou uma toalha enquanto o cachorro a segura com os dentes e cada um puxa para o lado oposto. As lesões mais comuns são as discopatias cervicais, mas outras lesões podem aparecer, como o rompimento de ligamentos e as tendinites. Eu sei que a essa altura do texto os colegas estão pensando que essas são as brincadeiras mais populares e que será muito difícil convencer o proprietário a não empregá-las, pois o principal argumento é que o animal gosta muito e sentirá muita falta. O argumento procede, mas cabe a nós instruirmos os proprietários e mostrarmos a eles os perigos de tais brincadeiras, que podem parecer inocentes, mas são muito lesivas às estruturas corporais. Precisamos ser criativos e ensinar aos nossos clientes brincadeiras que podem substituir essas sem nenhum prejuízo aos seus amigos.
Sidney Piesco de Oliveira
(sidney@ibravet.com.br) Diretor Científico do Instituto Brasileiro de Recursos Avançados - IBRA Graduado pela FMVZ- USP Mestre em Clínica e Cirurgia de Pequenos Animais - FMVZ- Unesp - Botucatu Pós-Graduado Lato Sensu em Fisioterapia Veterinária – UNIP Pós-Graduado Lato Sensu em Acupuntura Veterinária - FACIS - IBEHE Membro da Comissão Especial de Fisioterapia Veterinária – CRMV-SP Membro Fundador da ANFIVET Coordenador da divisão de Acupuntura Veterinária do IBRA Coordenador geral de cursos IBRA
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LUCIANA ISSA
PETS, FAMÍLIAS E VETERINÁRIOS
PROGRAMA DE LEITURA ASSISTIDA POR ANIMAIS Para que um indivíduo adquira o hábito da leitura é preciso que ele construa uma imagem positiva acerca dela, tornando-a parte de sua vida diária e para isso acontecer, o desejo do leitor deve existir sempre. Se a leitura for construída de forma a não trazer prazer ao indivíduo, sendo transformada em uma obrigação, certamente, ela se constituíra em um enfado. É imprescindível que o caminho para a construção desse desejo seja propiciado. Contudo, nem todas as crianças trilham um caminho sem dificuldades no processo da leitura. Os fracassos contínuos ao ler, o enorme esforço para decodificar as letras, palavras, frases, acabam por impedir que o prazer pela leitura venha nascer. Com o tempo, as crianças começam a demonstrar medo, em razão de uma leitura vacilante, com erros, sentem-se inferiores, chegando ao ponto de se sentirem ansiosas e emocionalmente abaladas ao terem que enfrentar a leitura diante das pessoas. Métodos e técnicas de leitura diferentes e motivadoras são fundamentais no despertar do desejo pela leitura, além de auxiliarem na superação de possíveis obstáculos que possam surgir nessa caminhada. Nesse sentido, por que os animais são companheiros ideais para leitura? 1. QUAL O OBJETIVO PRINCIPAL DO PROGRAMA DE LEITURA? Ajudar crianças a superem suas dificuldades e a descubram o prazer pela leitura, com a participação do cão como instrumento facilitador, um aliado da professora. 2. QUAIS SÃO OS BENEFÍCIOS DO PROGRAMA DE LEITURA COMPARTILHADA? Alguns dos benefícios documentados de terapia com animais incluem redução da pressão arterial, o aumento de relaxamento, além de induz a criança ao esquecimento de suas limitações, etc. Por parte das crianças, o cão é digno de confiança e elas não têm com o que se preocupar, não há constrangimentos, em razão dessa confiança existir. Às vezes, as crianças que estão aprendendo a ler ficam estressadas não porque elas não têm capacidade de ler, mas, porque ficam nervosas e se preocupam em não cometer erros. Sentem pavor em ler perante os outros. Elas ficam como que mudas, “congeladas” e as coisas só pioram. Quando a criança começa a ler para o cão, antes que perceba, ela está aproveitando a experiência de leitura em vez de temer. Sai da sala pensando na próxima sessão. O pesquisador Aaron Katcher registrou que um ambiente terapêutico saudável conta com a presença de um animal que chama a atenção da criança, isto é, tira o foco da criança de suas dificuldades, assim, ela se “desliga” da ansiedade, raiva e depressão, cria segurança e intimidade, aumenta as expectativas positivas de ambos; além do mais, experimenta mudançasterapeutas. Outros pesquisadores e fontes produziram a seguinte lista: Animais de terapia proporcionam conforto, reforçam a aprendizagem; motivam o discurso; motivam o movimento e exercí-
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cio; estimulam os sentidos; facilitam o aconselhamento e incentivam comportamentos positivos sociais, sentimentos de segurança e de acolhimento, aceitação; aumentam a autoestima; diminuem a solidão, oferecem a oportunidade de contato; proporcionam a oportunidade de dar em vez de receber; inspiram as pessoas a sorrir e a se divertirem; oferecem amor incondicional e normalizam extremos em uma direção saudável, levam as pessoas a esquecer a sua dor e limitações, focando o exterior; fornecem conexões para casa e um ambiente doméstico. Professores relataram que no programa de leitura assistida por animais observaram que as crianças sentiam alegria e prazer no momento da interação com o animal e não pensavam em suas próprias insuficiências. O programa reconhece que problemas na leitura, normalmente, não é meramente de ordem intelectual. Sabemos que a presença do cão ajuda mais do que a leitura em si, mas, também, no aspectos das habilidades. As crianças começam a ir à escola de forma mais consistente, raramente, chegam atrasadas, fazem as lições de casa, mostram melhoria na autoestima, constroem relações de confiança, etc. Durante as sessões existem ilimitadas oportunidades para discutir coisas como: respeito aos animais, posse responsável, higiene pessoal e problemas pessoais. Os professores são muitas vezes surpreendidos, ao ouvirem revelações surpreendentes de crianças tendo que informar os diretores das escolas. 3. O QUE TORNA O PROGRAMA DE LEITURA ASSISTIDA POR CÃES UM PROGRAMA DIFERENTE DOS DEMAIS PROGRAMAS DE TERAPIA? O programa atua na área educacional enquanto outros programas estão voltados para assistir a pessoas com problemas de saúde mental ou física. Uma boa parte da mágica no programa gira em torno de deixar o foco da criança sobre o cão. Quando ela acha que está ajudando o cão a entender as palavras e a história, a criança se sente capaz de ser um auxiliar e professor, em vez de se preocupar com sua falta de habilidade. Essa mudança crítica no foco faz uma diferença incrível no fluxo de processos de aprendizagem da criança. É muito mais divertido ler com um amigo que escuta atentamente e não julga do que ler para seu professor, na frente de seu colegas. Luciana Issa (contato@ibetaa.org.br), psicopedagoga clínica, diretora técnica do Instituto Brasileiro de Educação e Terapia Assistida por Animais e autora do livro “Kíon Branquelo, Joe Caramelo & Amigos. As aventuras e o trabalho de quatro cães terapeutas”
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