Revista Nosso Clinico nr 104 - Colunas MAR/ABR 2015

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ISSN 1808-7191

A REVISTA DO MÉDICO VETERINÁRIO

ANO 18 - Nº 104 - MAR/ABR 2015

Estudo retrospectivo das principais afecções GASTROINTESTINAIS em roedores e lagomorfos em uma clínica veterinária de São Paulo

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• Tratamento cirúrgico de não-união óssea em rádio e ulna de cão (revisão de literatura e relato de caso) ENCARTE:

Clínica de Marketing • Glossectomia total em cadela (relato de caso) COLUNAS: Dicas do Laboratório • Diferentes aplicações do pericárdio bovino preservado em • Conhecimento Compartilhado glicerina 98%, em cães (relato de 22 casos) • Bem-Estar Animal • Terapia Celular • Ablação total de conduto auditivo e osteotomia de bula • Nutrição Animal • Gestão Empresarial timpânica em cão (relato de caso) • Medicina Tradicional Chinesa • Evolução clínica e ecocardiográfica em um cão da • Pets, Famílias e Veterinários raça Boiadeiro Australiano, portador de comunicação • Endocrinologia • InfoPet • Medicina Felina interventricular congênita (relato de caso) • Fisioterapia • Diagnóstico por imagem em felino politraumatizado

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Indexação Qualis


Você Sabia ?

O anti-inflamatório para a cirurgia: herói ou vilão? Como extrair o máximo de resultado de seu uso? Entendendo o conceito de medicina perioperatória. Todos nós nos preocupamos com a dor causada por um procedimento cirúrgico, porém muitos colegas só entendem o processo álgico após o término da intervenção. É sabido que a analgesia deve ser buscada antes mesmo do início do estímulo doloroso. Este conceito de analgesia preemptiva é parte integrante de um processo mais complexo denominado medicina perioperatória. Entender seu paciente desde o momento da consulta inicial, identificando a moléstia primária para qual o procedimento cirúrgico será indicado, verificando se há qualquer outra disfunção orgânica (de modo a compreender o paciente como um todo e oferecer a ele o melhor tratamento possível) e acompanhando-o até a alta clínica, é premissa fundamental deste conceito. Deste modo, exames hematológicos, perfis bioquímicos, exames de imagem e avaliações cardiológicas não são meramente uma rotina a ser cumprida, nem tampouco obrigação formal para o procedimento anestésico. Fazem parte da rotina da equipe cirúrgica a avaliação e tomada de decisão sobre qual o melhor caminho para tratar este paciente. A dor entra como parâmetro fundamental neste processo de cura ou remissão da moléstia. Tratar a dor não é tratar somente um componente do ato cirúrgico, mas sim, fornecer condições de recuperação mais adequada aos pacientes. Um paciente sem dor recupera-se mais rápido, apresenta menor índice de respostas catabólicas, como deiscência de sutura, febre, vômito, letargia e anorexia, além de retornar às atividades rotineiras de forma mais precoce. O anti-inflamatório pode ser usado para esta finalidade de forma muito importante. Uma vez que a 66 • Nosso Clínico

dor decorrente do ato cirúrgico é de natureza inflamatória, ao aplicar o medicamento antes do procedimento, a equipe estará modulando esta resposta, podendo reduzir inclusive a necessidade de anestésicos e analgésicos no trans-operatório. Para tanto, mais uma vez, fica clara a necessidade do conhecimento do paciente como um todo, de modo a assegurar que suas condições permitam que ele receba o medicamento. A escolha adequada de um agente anti-inflamatório que atue seletivamente na fase indutiva da inflamação e não nas relações constitutivas do organismo, como homeostase de mucosa gástrica, mecanismos de agregação plaquetária, entre outras, é muito importante. Deve ser ressaltado ainda que, ao contrário do postulado por alguns, os anti- inflamatórios não esteroidais modulam mas não inibem a síntese de tecidos, inclusive o tecido ósseo. Portanto, podem e devem ser utilizados no período perioperatorio, inclusive de cirurgias ortopédicas. O anti-inflamatório não esteroidal é um agente antiálgico indispensável para a medicina perioperatória. Conheça seus pacientes como um todo, tenha uma equipe cirúrgica em consonância e faça bom uso de todo o arsenal que temos à nossa disposição.

Dr. Alexandre Schmaedecke Médico Veterinário / Doutor em cirurgia

................................................................................... Colaboração:


FISIOTERAPIA, FISIATRIA E REABILITAÇÃO M.V. Maira Rezende Formenton Fisioanimal / Hovet Pompéia maira@fisioanimal.com www.fisioanimal.com

MICROFISIOTERAPIA VETERINÁRIA A Microfisioterapia é uma técnica de terapia manual desenvolvida na França pelos fisioterapeutas e osteopatas Daniel Grosjean e Patrice Benini. Sua elaboração e formulação foram iniciadas na década de 80, baseando-se na embriologia, na filogênese e na ontogênese. Parte do princípio que todas as células do nosso corpo são capazes de armazenar memórias em todos os períodos da vida, e até mesmo informações ancestrais. E que todo ser vivo possui uma capacidade de se adaptar, se defender e se auto-corrigir buscando um equilíbrio para se proteger e se equilibrar ao meio exterior. O corpo sofre agressões de todas naturezas (tóxica, química, física, emocional ou ambiental) e em diferentes intensidades. No entanto, se as agressões não forem identificadas ou forem muito intensas, o corpo não reage de maneira eficaz a esta agressão, a qual registra uma memória, ou cicatriz patológica, do acontecimento nos tecidos. Esta cicatriz altera a vitalidade e função do tecido agredido, que é palpável ao terapeuta, podendo manifestar um ou mais sintomas sobre o local de agressão ou à distância gerando desordem física psíquica ou emocional. A Microfisioterapia permite o terapeuta identificar os rastros deixados por essas agressões nos diferentes tecidos do organismo. Uma vez identificada e localizada a cicatriz, o terapeuta reinforma o corpo, para que então seja estimulado a desencadear os processos de auto correção, auxiliando no restabelecimento da vitalidade e função tecidual. O mecanismo de auto correção é obtido desta maneira, igualmente tanto nos adultos como nos bebês ou animais. Todo processo de identificação da causa primária de uma doença ou disfunção e estimular o equilíbrio e manutenção da saúde, é realizado através de diferentes micro movimentos palpatórios específicos seguindo mapas cor-

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Alongamento de musculatura de membro anterior

Satine em sessão de microfisioterapia com Dra. Thiana Tanaka ..................................................................................................................

porais desenvolvidos para pacientes humanos pelos criadores da técnica. E para os animais, Michel Zaluski – fisioterapeuta e osteopata francês desenvolveu outros mapas e movimentos palpatório específicos. O trabalho de “faxina” que o corpo inicia pode provocar um ligeiro cansaço durante um ou dois dias, sendo indicado que o paciente não faça esforço físico. Sintomas físicos como diarreia, vômito, aumento da dor, febre, crise emocional podem ocorrer até os dois dias após a sessão. Estas manifestações ocorrem como um sinal de liberação das memórias agressoras. Para minimizar os efeitos, é aconselhado se manter bem hidratado principalmente nos dois próximos dias que seguem a sessão, para facilitar o trabalho de eliminação. O paciente, portanto, deve repousar e permitir a auto correção do corpo, com o mínimo de interferência medicamentosa possível.

Texto: Dra. Thiana Tanaka, médica veterinária da Equipe Fisioanimal, fez o primeiro curso de Microfisioterapia Veterinária no Instituto Salgado


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DICAS DO LABORATÓRIO

DR. LUIZ EDUARDO RISTOW tecsa@tecsa.com.br MV, Mestre em Medicina Veterinária UFMG CRMV-SP 5540 V CRMV-MG 3708

Fatos, Falácias e Fantasias sobre Leishmaniose Canina Muitas vezes no dia a dia da clínica, existe um bombardeio de informações de todos os lados e por vezes fica difícil separar o que é “achismo” de verdades científicas. Então no contexto da Leishmaniose muita coisa é Fato – verdade científica – muita coisa são Falácias – verdades construídas de forma empírica sobre falsos pressupostos – outras são simplesmente fantasias.

- RIFI. Portanto, caros colegas, não podemos ir na contra mão do mundo e achar que só aqui é tudo diferente – a Sorologia é barata, é muito sensível e muito específica sim! Qualquer um que dizer o contrário deve ser questionado e investigado, pois pode estar com interesses financeiros por trás disto. São centenas de publicações científicas respaldando este fato. Use a Sorologia para o diagnóstico laboratorial da Leishmaniose!

EPIDEMIOLOGIA Diagnosticar a Leishmaniose canina, em regiões de alta incidência da doença, pode parecer complexo, mas existe um pensamento lógico que pode nos ajudar muito na hora de construir este diagnóstico. Em primeiro lugar se a região é de alta incidência já temos um ponto a favor do diagnóstico: EPIDEMIOLOGIA POSITIVA. SINAIS Sinais da Leishmaniose são mais difíceis e somente irão se manifestar aos olhos do veterinário quando o curso da doença já é avançado – uma vez que a doença é interna, visceral. Não espere achar sinais externos para poder fechar o seu diagnóstico. Se o cão falasse, poderia manifestar sintomas o que facilitaria, mas não é o caso. Procurar sinais nem sempre ajuda, mas quando estão presentes são um ponto a mais para o diagnóstico: SINAIS EXTERNOS sugestivos de Leishmaniose (não espere encontrar isto na maioria dos casos atuais). DIAGNÓSTICO LABORATORIAL: SOROLOGIA Em todo o mundo, a Sorologia é o exame eleito como o mais sensível para um diagnóstico laboratorial da Leishmaniose Canina. Em todos os países onde esta doença está presente o que se realiza em primeira instância é a Sorologia por ELISA e Imunofluorescência Indireta 70 • Nosso Clínico

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• Por que utilizamos dois métodos sorológicos na Leishmaniose ? Pelo mesmo motivo que o Ministério da Saúde padronizou dois métodos no diagnóstico da AIDS – para aumentar a certeza do diagnóstico laboratorial uma vez que se trata de doença grave e de uma zoonose. Um método sorológico (ELISA) complementa o outro (RIFI) em sensibilidade e em especificidade, a análise dos dois em conjunto é que vai nos dar um diagnóstico laboratorial. • Quando tenho os dois métodos divergentes, isto quer dizer que a sorologia é uma droga? Não, muito pelo contrário, temos de analisar cada método de forma separada e manter um estreito relacionamento com seu Laboratório de escolha para discutir os casos. Atualmente o método ELISA se encontra bastante específico e por vezes conflita com o método de RIFI, que está mais sensível do que específico. Na RIFI dificilmente vai passar um cão reagente sem que seja diagnosticado. • Existe reação cruzada? Pode haver alguns animais reagentes na RIFI e Não reagentes ou Indeterminados (Zona Cinza - perto do Cutoff do teste) no ELISA, pois o excesso de sensibilidade da RIFI pode levar (em títulos baixos sempre) a resultados que espelham uma reação cruzada com outras patologias. O melhor a fazer nestes casos é

solicitar a Sorologia com Diluição Total para ver até que ponto está o titulo no exame de RIFI, caso esteja acima ou igual a 1/160 descarte reação cruzada – este cão tem Leishmaniose, mesmo se o ELISA tiver indeterminado – isto vai ser possível pois o ELISA está menos sensível do que a RIFI. Siga o resultado da RIFI. No caso de suspeita de reação cruzada a primeira coisa a fazer são os testes diagnósticos de patologias que podem levar a este quadro. Pesquise a presença de hemoparasitas, inclusive a presença de Tripanossoma. Não se esqueça de situações como Prenhez, Dermatopatias crônicas, etc. • Deu um resultado Reagente no ELISA e Não reagente na RIFI o que pode ser? Pode ser erro do laboratório (geralmente pessoal mal treinado em RIFI ou com pouca experiência) ou algum problema sério na conservação desta amostra – por exemplo amostra hemolisada – repita o exame em outra amostra. Discuta com o Patologista do Laboratório. • Deu um resultado Reagente no RIFI e Não reagente ou Indeterminado no ELISA o que pode ser? a) Pode ser Reação cruzada com outra patologia, pesquise as patologias que mais frequentemente dão reação cruzada. b) Pode ser animal vacinado que em alguns raros casos apresenta RIFI reagente em títulos de até 1/80, porém ELISA sempre Não reagente. c) Pode ser o início de uma soro conversão de animal infectado pois com a RIFI mais sensível do que o ELISA, nós podemos começar a ter reagentes apenas no RIFI. Repita o exame após 21 a 30 dias – neste intervalo este animal pode ser considerado suspeito, use coleira + repelentes, etc. Caso se mantenha da mesma forma parta para um exame Parasitológico.


d) Caso o título da RIFI seja 1/80 solicite diluição Total ao laboratório, caso venha maior ou igual a 1/160, descarte reação cruzada e considere este animal como Reagente. e) Este resultado também pode ocorrer quando existe uma hemólise muito acentuada da amostra. f) Animal em tratamento que consegue “negativar” o ELISA mas mantém a RIFI com baixos títulos. Lembre-se que existem proprietários administrando Alopurinol por conta própria e isto causa uma mudança total na interpretação dos resultados dos exames. • Sorologia com Diluição total, o que é isto? O exame de Reação de Imunofluorescência Indireta - RIFI, é o exame sorológico que sai com títulos se der Reagente. Começando com 1/40 - que é considerado um título baixo e na zona cinza da RIFI, e indo até títulos como 1/1280 ou mais. Quanto maior o título da RIFI, pior o prognóstico, segundo a literatura científica. Portanto saber em qual patamar, com qual título está o animal que eu encaminhei, é muito importante. No TECSA você pode solicitar a diluição TOTAL - na rotina diluímos até 1/80, mas se solicitar diluição Total vamos diluir até o máximo. Com isto você pode acompanhar este animal se o mesmo for ser submetido a tratamento - pois sabemos que muitos colegas estão optando pelo tratamento. Títulos maiores ou iguais a 1/160 já afastam a possibilidade de ser uma reação cruzada, as reações cruzadas são quase sempre com títulos de 1/40. MOMENTO DA VERDADE: LEISHMANIOSE CANINA 1) Métodos Sorológicos Primeiramente, para o diagnóstico sorológico da Leishmaniose canina é necessário e imperativo que sejam empregadas duas técnicas sorológicas: ELISA e a IMUNOFLUORESCÊNCIA INDIRETA (IFI). Essas duas técnicas são recomendadas pelo Ministério da Saúde e em caso de divergência entre as duas, considerase o método de IMUNOFLUORESCÊNCIA INDIRETA como o método confirmatório. Não aceite exame apenas com o método ELISA, pois sozinho pode levar a resultado falso - negativo.

2) O exame de Imunofluorescência Indireta - IFI • Este método depende de uma leitura visual e para isto é necessário que o técnico seja extremamente competente e com muita experiência. Além disto, é importante uma leitura em duplicata, por observadores diferentes e sem saberem os resultados um do outro. • Todos os casos conflitantes devem ser revistos (Retestados) por um terceiro profissional experiente. No TECSA nossas leituras são realizadas por Profissionais com vários anos de experiência em Leitura de Leishmaniose e todos são supervisionados e liberados na bancada por um Médico Veterinário. Com 20 anos de experiência em Laboratório diagnóstico e com centenas de milhares de exames de Leishmaniose já realizados, muita coisa já vimos e muitos casos raros e inusitados também, o que nos dá um bagagem enorme para compartilharmos com os colegas.

tentes. Peça sempre junto ao exame de Leishmaniose. 5) Exame com Diluição Total • O exame de Imunofluorescência Indireta de rotina foi padronizado, em acordo com a FUNED, para diluição até 1/80. À partir daí apenas faremos uma diluição maior nos casos em que o Veterinário solicitar o exame Leishmaniose Diluição Total – desta forma iremos diluir até o ponto máximo. Neste caso é cobrado o preço de dois exames de LVC. 6) Exames Sorológicos de animais vacinados

• Não podemos esquecer que testes sorológicos requerem correlação clínica e epidemiológica e em caso de dúvida, se faz necessário a realização de outros testes diagnósticos como: PESQUISA DIRETA DO AGENTE através de Citologia / Biópsia de Linfonodo, de Pele, ou ainda de Punção de Medula e a IMUNO-HISTOQUÍMICA.

• Até o momento, na nossa experiência acumulada de centenas de exames de animais vacinados com até quatro doses, nós observamos que aqueles cães que apresentaram sorologia Reagente estavam realmente infectados com a Leishmania. Ou seja, ao contrário do que se supunha a vacinação não parece tornar o animal soropositivo ao exame. Desta forma continua sendo válido solicitar a Sorologia para o diagnóstico de doença mesmo em animal vacinado. Recomendamos solicitar o exame com a Diluição Total, pois quanto maior o título mais certa a chance de ser um animal infectado (falha vacinal?). Segundo o fabricante da única vacina existente no mercado há um Kit sendo testado para que se possa detectar os títulos de IgG que são produzidos pela vacinação.

4) Proteína Total e Frações - Relação A/G

7) Alerta: a Hemólise pode afetar o resultado

• A importância deste exame como mais um exame complementar no diagnóstico da LVC, está comprovada por trabalhos científicos publicados. Nós, do TECSA, relatamos esta correlação há muito tempo e agora diversos pesquisadores corroboram nossa experiência. Solicite sempre junto à Sorologia para Leishmaniose o exame Proteínas Total e Frações, que vem com a relação A/G. Utiliza-se o mesmo SORO e o preço é muito acessível. Fique de olho na relação A/G, caso seja menor do que 0,60 a chance de ser uma infecção por Leishmânia é grande, embora NÃO SEJA PATOGNOMÔNICO. Trata-se de mais um parâmetro que pode nos auxiliar nos casos Indeterminados ou com resultados de RIFI com 1/40 persis-

• Em um belo trabalho publicado nos Anais da X Reunião de Pesquisa em Leishmaniose - em Uberaba (outubro de 2006) concluiu-se que a hemólise afeta a sensibilidade dos métodos - sobretudo do ELISA. A mesma cai para 75% em soros hemolisados. Isto pode explicar diversos resultados que acompanhamos na prática diária e que apresentam variação de sensibilidade em um mesmo cão em amostras diferentes. Portanto, garanta que o processo de retração do coágulo seja muito bem feito no momento da coleta. O Soro não deve estar hemolisado e isto consegue-se com uma boa coleta.

3) Outros Métodos Diagnósticos para Leishmaniose

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TERAPIA CELULAR

DR. MARCELO NEMER XAVIER Coordenador Curavet (curavet.terapia@gmail.com) www.curavet.com.br

Efeitos da terapia celular (Parte 1) IMUNOMODULAÇÃO A imunomodulação é a alteração de uma resposta imunológica de um paciente ou indivíduo perante a uma determinada doença, lesão ou moléstia e esse efeito imunomodulador das células tronco é um fator determinante para o sucesso na reabilitação de algumas doenças como a aplasia de medula imunomediada e sequela neurológica da cinomose. As células tronco mesenquimais (CTMs), através de diferentes moléculas e citocinas, atuam em todo o sistema imunológico do paciente causando uma imunossupressão inicial para uma reprogramação, que tenderá a não reconhecer os tecidos e sistemas do paciente como invasores e por isso atua com tanta eficácia em doenças imunomediadas e degenerativas. Muitas doenças auto imunes são controladas pela terapia tradicional com imunossupressores por dias, meses e até anos, o que traz um benefício ao paciente, contudo leva a lesões em órgãos que podem ser prejudiciais a longo prazo. O que diferencia as CTMs desses imunossupressores é exatamente o fato de não trazerem efeitos colaterais e ainda proporcionarem a modulação final através de estímulos das células estromais da medula óssea, que auxiliarão em todo o sis-

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tema de coordenação medular (em breve explanaremos a respeito). As CTMs ao entrarem em contato com o interferon-gama iniciam a produção e liberação no líquido extracelular de fatores (PGE-2, IL-4, IL6, IL10, TGF-β, IDO e HGF) atuantes sobre as células do sistema imunológico (células dendríticas apresentadoras de antígeno e linfócitos). Essas moléculas interferem nos linfócitos T, inibindo sua proliferação (TGF-β e HGF), inibindo a produção dos linfócitos T citotóxicos (PGE-2), além da enzima IDO que induz apoptose dos linfócitos T. Os mesmos TGF-β e HGF inibem a proliferação dos linfócitos B e essas moléculas juntamente com o IDO atuam na perda do potencial citotóxico das células natural killer. Por fim as células dendríticas apresentadoras de antígeno são bloqueadas em sua diferenciação, maturação e ativação devido a presença do fator de crescimento estimulador de macrófago e IL-6. As CTMs tem a capacidade de diminuir a inflamação através da supressão de linfócitos B e T citotóxicos. Essa supressão ocorre pois as CTMs liberam fatores, como: prostaglandinas, interleucinas (IL-4, IL-6 e IL-10), fator de cresciemno transformador β (TGF-β), e a enzima indoleamina 2,3-dioxygenase. Através dessa capacidade imunomodulatória, as CTMs são vistas com grande importância nos tratamentos de alergias, problemas auto imunes, mecanismos de rejeiLINF B ção de implantes e as pesquisas NATURAL KILLER MONÓCITO • Inibição da divisão celular em uma ampla gama de doenças • G0/G1 fase presa • Inibição da maturação • Fatores solúveis • G0/G1 fase presa vêm acontecendo por todo o mundesconhecidas envolvidas • Redução de IL-1, CD40, • Inibição da estimulação TNF-α do. Afinal até onde vai a capacidado IL-2 NK • Fatores solúveis • Redução do IFN-y de de imunomodulação das CTMs? envolvidos • Contato envolvendo Essa resposta ainda é incerta, célula-célula mas é sabido que a terapia celular com células-tronco irá acarretar • Inibição de proliferação na diminuição ou substituição de • Bloco de entrada da fase S CÉLULAS • G0/G1 fase presa tratamentos halopáticos, o que leva DENDRÍTICAS • Indução de apoptose da célula T • Contato envolvendo célula-célula a um confronto com a indústria farmacêutica, uma vez que, haverá uma diminuição em seu faturamento com a venda de medicamentos. Na próxima edição traremos + LINF T REG LINF T CD4 o caso da Bulldog Mel exemplifiCD8+ LINF T cando melhor essa importante atuAtuação da célula-tronco sobre as células de defesa do paciente ação.


NUTRIÇÃO ANIMAL foto

Keila Regina de Godoy - keila@premierpet.com.br M.V., Gerente de Desenvolvimento e Capacitação Técnica da PremieR pet www.premierpet.com.br

Envelhecimento e Nutrição do cão

Expectativa de Vida e Envelhecimento Acredita-se que a duração máxima da vida de uma espécie permaneça relativamente fixa, mas a expectativa de vida do indivíduo pode ser afetada pela genética, status sanitário e tamanho corporal na idade adulta. Sugere-se que a vida máxima de um cão seja em torno de 27 anos. O envelhecimento é definido como um processo biológico complexo, iniciado no momento do nascimento, que resulta na redução progressiva da capacidade de o indivíduo manter a homeostasia sob estresses fisiológicos, aumentando a vulnerabilidade a doenças e a óbito. A base biológica do envelhecimento está fundamentada em fatores genéticos, principalmente aqueles que afetam o reparo das células somáticas, a capacidade de resposta ao estresse, a resposta imune e a suscetibilidade às doenças, a supressão de tumores, o estresse oxidativo, o reparo do DNA e a reativação de genes normalmente inativados. Embora ocorram muitas variações individuais entre os animais, cães de raças grandes e gigantes são considerados geriátricos aos cinco anos de idade, ao passo que os de raças pequenas ou médias, a partir dos sete anos. 74 • Nosso Clínico

Manifestações do Envelhecimento O envelhecimento por si só não é uma doença, porém, com grandes variações individuais, um animal sênior pode apresentar diferentes alterações imperceptíveis e manifestações clínicas em praticamente todos os sistemas do corpo, a saber: • Taxa metabólica - Diminui de maneira natural com o passar dos anos. Uma das justificativas está no fato de ocorrer perda de fibras musculares e um aumento na porcentagem de gordura, diminuindo a atividade oxidativa oriunda da musculatura e consequentemente a necessidade energética. Ademais, a maioria dos animais domésticos reduz voluntariamente seu nível de atividade física à medida que envelhece. • Composição corporal - É documentado que, no início da velhice, há alterações como diminuição da massa total de células no organismo, dos estoques proteicos e do conteúdo intracelular de água, com tendência ao aumento das reservas de gordura em detrimento da perda de massa magra. Em cães geriátricos, a obesidade é um dos distúrbios mais prevalentes. Atualmente, cerca de 44% dos cães apresentam excesso de peso, consequência da quantidade excessiva de alimento fornecido, utilização inadequada de energia e/ ou atividade física reduzida5,8. Além da perda de musculatura, no sistema musculoesquelético também ocorrem alterações ósseas, provavelmente pela absorção inadequada de cálcio nos cães velhos1. Outras alterações ortopédicas comuns em animais idosos são as doenças articulares degenerativas e discopatias, que causam dores e diminuem a mobilidade, criando um ciclo vicioso para a obesidade.

• Pele - Com o avanço da idade há um aumento do conteúdo de cálcio e diminuição da quantidade de elastina, resultando em perda de elasticidade, acompanhada por hiperqueratose. Os folículos pilosos podem sofrer atrofia e perda das células pigmentares, gerando áreas alopécicas ou pelos brancos – muito comuns nos focinhos dos animais idosos. • Sistema urinário - O rim é um dos órgãos mais vulneráveis às mudanças associadas ao envelhecimento. Importantes alterações senis, como a nefro esclerose, são frequentes e podem desencadear doença renal crônica, uma das quatro mais importantes em cães idosos. Esse declínio das funções renais é associado com a idade em todos os mamíferos. • Sistema imunológico - Ocorrem mudanças quantitativas e qualitativas na resposta humoral e alterações no número de imunoglobulinas, assim como modificações quanto à especificidade e afinidade dos anticorpos, contribuindo para o aumento da suscetibilidade e severidade de doenças infecciosas, e para a menor eficiência de vacinação. A disfunção imune relacionada à idade pode ser particularmente prevenida por intervenção dietética, pois as deficiências de alguns micronutrientes – vitaminas e minerais – podem estar associadas ao decréscimo na função imune. O estudo abaixo relaciona as principais manifestações clínicas e causas de morte em animais idosos, sendo as neoplasias as principais manifestações clínicas aparentes e a principal causa de morte. A DIETA IDEAL PARA O CÃO SENIL • ALTA PALATABILIDADE E SAÚDE ORAL Com o intuito de estimular a ingestão,

Ranking das principais causas de óbito e manifestações clínicas da senilidade em cães Causas de morte em cães idosos

Manifestações da Senilidade em cães idosos

1º lugar

Neoplasias

Neoplasias

2º lugar

Cardiopatias

Gastrenterites

3º lugar

Alterações Renais e Pancreáticas

Pele, Otite e Piometra

ADAPTADO DE BENTUBO (2007)

A população de cães idosos vem aumentando significativamente. Estima-se que aproximadamente 35% dos cães no Brasil hoje têm mais de sete anos. Isso é o reflexo de um século marcado por grandes avanços na medicina veterinária. Medidas preventivas, progressos científicos e tecnológicos no diagnóstico e tratamento das doenças, bem como na nutrição animal, permitiram um maior controle e prevenção das enfermidades e consequente aumento na qualidade e expectativa de vida dos cães. Numerosos estudos sobre animais geriátricos mostram que conforme os animais envelhecem requerem uma nutrição específica, com uma formulação que leve em consideração as alterações associadas a esta fase da vida.


um alimento para animais senis deve ter uma palatabilidade aumentada e ser formado por partículas de tamanho adequado ao porte do animal. O grão ideal deve ser de fácil mastigação com intuito de facilitar a ingestão mesmo nos cães que já possuam alterações periodontais. Além disso, é interessante que contenha substâncias coadjuvantes da saúde oral, como o hexametafosfato de sódio, que auxilia na prevenção da formação do cálculo dental e, assim, na saúde oral como um todo. • ALTA DIGESTIBILIDADE - Para minimizar os problemas comuns de digestão e absorção, o uso de ingredientes de alta digestibilidade permite ao animal um aproveitamento máximo de todos os nutrientes. • Proteínas: Com a perda de fibras musculares, os animais geriátricos também perdem uma importante forma de reserva proteica. Essa reserva tem grande importância, pois grande parte seria utilizada pelo sistema imune para responder a estímulos estressantes e a todas as alterações orgânicas inerentes a senescência. Não apenas a quantidade de proteína deve ser adequada, mas a qualidade deste nutriente também deve ser considerada. Proteínas de qualidade – com alta digestibilidade e ricas em aminoácidos essenciais, como frango e ovos – além de proporcionarem um maior aproveitamento pelo animal, também reduzem a formação de metabólitos bacterianos (amônia, uréia, aminas biogênicas) no trato digestivo. • Carboidratos: A formação de metabólitos tóxicos também é influenciada pela quantidade e qualidade de carboidratos da dieta. Quando uma dieta possui altos níveis de carboidrato, a digestão das proteínas passa a ser realizada na porção mais posterior do intestino, próximo ao cólon, favorecendo a ação das bactérias e a produção destes metabólitos. • Fibras: Têm papel fundamental como componente de alimentos para animais idosos. Além das funções regulatórias sobre o trânsito gastrintestinal, um pequeno aumento na quantidade de fibras insolúveis atua diminuindo o apetite por aumentar o volume dos alimentos, reduzindo a densidade calórica e facilitando a restrição de energia. Adicionalmente, as fibras de fermentação moderada, como as encontradas na polpa de beterraba, ainda promovem a nutrição dos colonócitos através da sua fermentação e consequente formação de ácidos graxos de cadeia

curta, beneficiando a microbiota entérica. Assim, as fibras ajudam a prevenir doenças, já que tornam o intestino mais saudável, diminuindo a ocorrência tanto de diarreias como de constipações. • Prebióticos: Além das fibras comuns, é interessante que o alimento para animais idosos seja enriquecido com prebióticos como mananoligossacarídeos (MOS) e frutoligossacarídeos (FOS), já que favorecem ainda mais a seleção de microbiota benéfica à saúde intestinal. • Ácidos graxos essenciais: Há necessidade de que a gordura fornecida a cães idosos seja de qualidade superior, rica em ácidos graxos poli-insaturados, principalmente os das famílias Ômegas 6 e 3. Deve ser evitado o uso de gorduras saturadas, como as presentes no sebo bovino, pois estas têm menor digestibilidade, resultando em menor taxa de aproveitamento. Além dos benefícios do ácido linoléico (Ω6) na hidratação da pele e qualidade da pelagem, o EPA (Ω3), presente no óleo de peixe, é muito importante para o cão idoso. Sua capacidade de modular a inflamação faz com que este ácido graxo seja importante para controle de muitos processos inflamatórios e dolorosos, como no caso das osteoartrites, tão comuns em animais senis. • ENERGIA CONTROLADA - Devido à redução da taxa metabólica basal e do nível de atividade física, o animal deve ter o fornecimento de energia diminuído. Assim, a quantidade de alimento deve ser rigorosamente controlada para prevenir a obesidade e, ao mesmo tempo, assegurar que um adequado aporte nutricional será fornecido. Um estudo importante sobre animais que tiveram sua dieta de manutenção restrita em 25% de alimento concluiu que o início da ocorrência de artrose na articulação coxofemoral foi retardado e sua severidade reduzida, favorecendo tanto a duração quanto a qualidade de vida. • INGREDIENTES FUNCIONAIS - O efeito da associação de dois condroprotetores na dieta foi evidenciado claramente em experimentos, resultando na proteção da articulação ao estimular a regeneração da cartilagem articular, diminuir a velocidade de degeneração da cartilagem e, consequentemente, prevenindo ou diminuindo a velocidade de desenvolvimento da artrose3. • Glicosamina: é um constituinte dos proteoglicanos das cartilagens articulares. Alguns trabalhos sugerem que ela pode

alterar o metabolismo dos condrócitos, estimulando a síntese de elementos estruturais da cartilagem. • Condroitina: É uma glicosaminoglicana, fornecedora de monômeros para a síntese de outras glicosaminoglicanas de grande importância para os tecidos de sustentação (tecidos articulares e ósseos) e com a capacidade de inibir a ação de enzimas que prejudicam a cartilagem articular. • β-Glucano purificado: É um composto natural extraído da parede celular da leveduraSaccharomycescerevisiae. Age por estimulação do sistema imune, principalmente em macrófagos, exercendo efeito benéfico contra uma variedade de bactérias, vírus, fungos e parasitas. Seu efeito imunoestimulante está relacionado à interação com receptores específicos do sistema imune presentes em todo organismo. Estudos comprovam que a ação antiinflamatória do β-Glucano é efetiva na diminuição dos sinais clínicos apresentados por cães com osteoartrite. • Cuidado Renal: Muitos animais idosos têm perda de função renal, sem, contudo apresentar os sintomas da doença. A restrição dietética de fósforo é associada ao retardo das lesões renais, por isso sua manipulação na dieta de cães idosos é de suma importância. • Zinco Quelatado: Tem importância clínica, pois sua suplementação auxilia no controle de disfunções comuns em idosos, como distúrbios de comportamento, imunodeficiências e, até mesmo, a cicatrização alterada de feridas. • Antioxidantes: Sabe-se que, além dos radicais livres produzidos naturalmente pelo organismo, nos animais idosos é maior a quantidade de sustâncias oxidantes devido às lesões celulares próprias da idade, em conjunto com a menor capacidade de excreção e detoxificação. Assim, é muito importante o enriquecimento da alimentação destes animais com nutrientes antioxidantes, como zinco, cobre, selênio, β-caroteno, vitamina E, C, taurina, entre outros. Mediante estas particularidades e sendo o envelhecimento um processo biológico de alterações progressivas ao longo da vida do animal, todos os cuidados preventivos devem ser tomados o mais cedo possível. A nutrição ocupa papel fundamental neste programa de prevenção e, portanto, para cada fase do animal, é importante o fornecimento de uma dieta que inclua benefícios específicos. Até a próxima! Nosso Clínico • 75


ENDOCRINOLOGIA E METABOLOGIA MV. MsC. Alessandra Martins Vargas www.endocrinovet.com.br

Definição Segundo a American Diabetes Association, o diabetes mellitus (DM) inclui um conjunto de transtornos metabólicos de diferentes etiologias, caracterizados por hiperglicemia crônica resultante da diminuição da sensibilidade dos tecidos à ação da insulina e/ou da deficiência de sua secreção. Conceitualmente falando, a compreensão da definição do diabetes mellitus é fundamental para se realizar corretamente o diagnóstico e tratamento desta endocrinopatia. O DM caratacteriza-se por alterações no metabolismo de carboidratos, lipídeos e proteínas e consequente hiperglicemia e glicosúria persistentes resultantes da deficiência relativa ou absoluta de insulina. A glicose é o principal substrato energético para a maioria dos tipos celulares. No entanto, para que a glicose seja transportada para o interior das células e seja utilizada como fonte de energia é necessária a ação do hormônio insulina. Em situações nas quais a insulina não consegue agir (resistência insulínica) ou em que há falta de insulina por deficiência da sua secreção, não haverá captação de glicose pelas células e consequentemente ocorrerá hiperglicemia. Etiopatogenia De acordo com a etiopatogenia, pode-se classificar o DM em tipo I (decorrente da destruição imunomediada do pâncreas) e tipo II (decorrente da resistência insulínica). A doença também pode ser classificada de acordo com a necessidade terapêutica em insulino-dependente e não insulino-dependente. É importante destacar que os termos DM insulino-dependente e DM tipo I não devem ser utilizados como sinônimos. Da mesma forma, também é incorreto afirmar que DM não insulino-dependente e DM tipo II são sinônimos. Uma outra classificação proposta, leva em consideração a etiologia da doença:

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• Diabetes insulino-deficiente: caracterizado pela perda primária e progressiva de células B pancreáticas (células produtoras de insulina), ou seja, ocorre uma hiperglicemia secundária à hipoinsulinemia, mas não há resistência à ação da insulina. A etiologia da degeneração celular ainda não está bem elucidada. Tem-se conhecimento de alguns mecanismos envolvidos tais como a hipoplasia ou aplasia congênita de células B, a destruição de células B associada às doenças do pâncreas exócrino, a destruição imune-mediada e idiopática. • Diabetes insulino-resistente: caracterizado pelo antagonismo da ação da insulina por aumento na concentração sérica de hormônios hiperglicemiantes, tais como progesterona (diestro ou diabetes gestacional), glicocorticoides (hiperadrenocorticismo espontâneo ou iatrogênico), hormônio do crescimento (diestro ou acromegalia). A obesidade também pode contribuir para resistência insulínica, entretanto há poucas evidências na literatura que comprovem a obesidade como uma das causas primárias do DM em cães. Neste caso, tem-se inicialmente a resistência à ação da insulina e consequente hiperinsulinemia, a qual cronicamente irá evoluir para uma deficiência relativa ou absoluta de insulina e hiperglicemia. Apresentação clínica Tanto no cão quanto no gato, a incidência do diabetes mellitus varia entre 1:100 e 1:500. A doença acomete cães com idades entre quatro e 14 anos, com pico de prevalência entre sete e 10 anos, sendo as fêmeas mais acometidas em relação aos machos. O DM juvenil (diabetes insulino-deficiente) ocorre em cães com menos de um ano de idade, porém é de ocorrência rara (Figura 1). Entre as raças acometidas destacam-se Poodle, Schnauzer, Beagle, Spitz, Lhasa Apso, Labrador, Golden Retriever, Pastor Alemão, Cocker Spaniel, Rottweiler, Pastor de Shetland, Daschund, Yorkshire. Comumente, o

ENDOCRINOVET

Diabetes mellitus: etiopatogenia e apresentação clínica Figura 1: DM juvenil em canino, macho, Golden Retriever, três meses de idade, no momento do diagnóstico

DM também é diagnosticado em cães sem raça definida. Nos gatos, o diabetes acomete animais de todas as idades, principalmente aqueles com idade superior a seis anos. Não há predisposição sexual e/ou racial, no entanto, em machos, a castração aumenta a incidência. REFERÊNCIAS: 1 - O conteúdo aqui apresentado também constitui parte do informativo Vets Today, n.22 - julho/2014 (Conhecendo melhor o diabetes mellitus em cães) publicado pela Royal Canin e também escrito pela autora desta coluna. 2 - AMERICAN DIABETES ASSOCIATION. Diagnosis and classification of diabetes mellitus. Diabetes Care, v.37, suplemento 1, p.81-90, 2014. 3 - VARGAS, A.M.; SANTOS, A.L.S. Animais de estimação diabéticos, saudáveis e felizes. Você torna isso possível com Caninsulin®. Manual para o médico veterinário, 2012. Publicação da MSD Saúde Animal, unidade global de negócios de saúde animal da Merck & CO, Inc. 0800 70 70 512.

EVENTOS PARA 2015 • II SIMPÓSIO INTERNACIONAL DE ENDOCRINOLOGIA E METABOLOGIA EM PEQUENOS ANIMAIS Data: 01/11/2015 Local: São Paulo, SP Organização: ANCLIVEPA-SP Informações: Tel.: (11) 3813-6568 / www.anclivepa-sp.com.br NOVIDADES PARA 2016 • CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO (pós-graduação lato sensu) em ENDOCRINOLOGIA E METABOLOGIA EM PEQUENOS ANIMAIS Turma 04 ( 2016 - 2017 ) Local: São Paulo, SP Organização: ANCLIVEPA-SP em parceria com UNICSUL Processo seletivo: 8 novembro 2015 Informações: Tel.: (11) 3813-6568 / www.anclivepa-sp.com.br


MEDICINA FELINA

PERITONITE INFECCIOSA FELINA um pesadelo na clínica de felinos (parte 3) Nesta última parte, os principais tópicos sobre achados laboratoriais, diagnóstico e tratamento, bem como prevenção, serão abordado. Achados Laboratoriais e Diagnóstico Existem diversas alterações laboratoriais comumente encontradas em gatos com PIF, no entanto, nenhuma delas é patognomônica da doença. Sendo assim, o diagnóstico definitivo da PIF não pode ser dado baseado nesses achados, sendo estes uma ferramenta presuntiva no levantamento da possibilidade diagnóstica. Os animais podem ter hemograma normal, discreta anemia, neutrofilia e linfopenia (leucograma de estresse), podendo ocorrer desvio a esquerda. Em mais de 65% dos gatos com PIF, a anemia está presente, muitas vezes observada somentepela redução do hematócrito. Trombocitopenia é um achado comum, resultante do consumo mediante a vasculite. O achado de bioquímica sérica mais consistente com a PIF é o aumento na concentração da proteína total. Esse achado é presente em 50% dos gatos com a forma efusiva e 70% dos gatos com a forma não efusiva. No entanto, esse aumento pode ser observado em outras reações inflamatórias agudas, não sendo considerado achado exclusivo da PIF. Hiperbilirrubinemia e aumento das enzimas hepáticas são observados frequentemente em casos de acometimento hepático, principalmente quando existe necrose hepática. A análise laboratorial da efusão dos gatos com PIF é considerada típica, consistindo de efusão amarelada, podendo ser viscosa, com alta concentração protéica (densidade > 1,017 ou 12 g/dL) e celularidade moderada. A concentração protéica elevada deve-se principalmente a presença de globulinas. Se a relação albumina : globulina for menorque 0,8, a probabilidade do gato estar com a doença é alta (valor preditivo positivo de 92%). No entanto, se essa relação for maiorque 0,8, a probabilidade do gato estar com a doença é baixa.

Figura 1: Achado característico de efusão abdominal de gatos com PIF. Efusão de coloração amarelo citrino 78 • Nosso Clínico

A citologia do líquido revela presença de neutrófilos e macrófagos não degenerados, constituindo-se como um exsudato asséptico. Pode haver a deposição de precipitado protéico ao fundo da lâmina. A sorologia pode auxiliar o diagnóstico, no entanto, é frequentemente interpretada de maneira errônea, valendo ressaltar a importância da interpretação da mesma com cautela. A sorologia não diferencia a infecção pelo FCoV da infecção pelo vírus da PIF, não é correlacionada com a gravidade da doença e não é indicativa de infecção ativa. Em abrigos e criatórios, filhotes normalmente possuem títulos altos (1:400 a 1:6.400), embora a maioria não desenvolva a doença. A análise do líquor, principalmente em gatos com a manifestação neurológica da doença, pode evidenciar aumento da concentração de proteínas e pleocitose com predominância de neutrófilos não degenerados. A confirmação da PIF é feita por biópsia e histopatológico ou amostras de necrópsia de piogranulomas e detecção do antígeno em macrófagos locais. O aspecto da vasculite e formação de piogranulomas induzidos pelo vírus da PIF são únicos, caracterizando-se por manguitos perivasculares de células inflamatórias, principalmente macrófagos. Esses piogranulomas podem ter tamanhos variáveis, normalmente com áreas necróticas ao centro. A imuno histoquímica positiva de macrófagos lesionais é considerada o teste diagnóstico mais confiável para a PIF. Baseado no fato de que somente os FCoV mutados se replicam em monócitos, esse teste é considerado de grande significância diagnóstica. Tratamento A PIF é uma doença invariavelmente fatal. Quando a doença se desenvolve, com manifestações clínicas características, torna-se incurável. O tratamento dos gatos acometidos geralmente é de suporte e sintomático. Terapias antivirais têm pouca aplicabilidade e funcionabilidade. Diversos protocolos de combinações antivirais e imunomoduladoras são propostos, no entanto, nenhuma se mostra aplicável e com bons resultados. O tratamento que propicia melhor qualidade de vida ao paciente é a administração de fármacos imunossupressores (que visam reduzir a agressividade das reações imuno mediadas). Os mais utilizados são a prednisolona (4 mg/kg SID) e o clorambucil (20 mg/m2 a cada 2 a 3 semanas). Esses fármacos reduzem a velocidade de progressão da doença, mas não promovem a cura. Recentemente, foi lançado no mercado o Interferon-ω felino, sendo este específico para a espécie. O uso é permitido em alguns países da Europa e Japão, tendo o produto a vantagem de não criar anticorpos. Sendo assim, seu uso é tido como


mais eficiente. No entanto, nenhum estudo comprova sua eficácia frente a gatos com PIF, não aumentando a expectativa e qualidade de vida emgatos acometidos. A abdominocentese é indicada para alívio do paciente, e melhora o padrão respiratório. O uso de antibióticos também é indicado, principalmente quando o tratamento imunossupressor é instituído, visando prevenir infecções oportunistas. Tratamento suporte, com manutenção da hidratação e suporte nutricional também são indicados. Prevenção A prevenção da PIF é extremamente difícil e trabalhosa. Se um gato do local desenvolver PIF, os contactantes certamente já tiveram contato com o coronavírus. No entanto, somente 5% a 10% dos animais desenvolvem a doença. Poucos são os gatos imunologicamente sadios que desenvolvem a doença. Isso pode ser alterado por fatores de estresse, como a separação de ambiente ou isolamento dos gatos não acometidos em cômodos diferentes da casa. Após o aparecimento da doença em um local, a probabilidade de outros gatos do mesmo local de desenvolver a doença é igual a qualquer outro criatório de gatos.

Medidas gerais a serem tomadas envolvem: • Pelo menos uma bandeja sanitária por gato, e em locais diferentes; de preferência, bandejas de fácil limpeza e desinfecção. • Bandejas em locais diferentes de onde é oferecido alimento, para prevenir a reinfecção. • As fezes devem ser removidas diariamente da bandeja, com limpeza e desinfecção da mesma pelo menos 2 vezes por semana. • Manutenção de gatos em pequenos grupos, visando com isso minimizar o estresse. Grandes números de gatos dificultam a manutenção da higiene do local. • Minimizar fatores estressores.

Prof. Msc. Alexandre G.T. Daniel Consultoria e atendimento especializado em medicina felina; Coordenador do curso de aprimoramento em Medicina Felina do Cetac - Centro de Treinamento em Anatomia e Cirurgia Veterinária; Proprietário da Gattos - Clínica Especializada em Medicina Felina. (www.gattos.vet.br) (alexandre.daniel@gattos.vet.br)

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COMPORTAMENTO EMPRESARIAL Prof. Dr. Marco Antonio Gioso FMVZ-USP www.usp.br/locfmvz

Você já pensou em oferecer mais cuidados aos animais idosos gerando novas oportunidades para você? Quando se trata de nossos amigos de quatro patas, há uma expressão que diz: “a vida é muito curta, o que é a parte ruim desta história”. É uma mensagem simples, mas eficaz. Nossos animais de estimação significam muito para nós, e é difícil reconhecer que seu tempo na Terra pode ser tão limitado. Claro que, com o aumento da idade vem um maior risco de doenças e lesões, mas os proprietários de pets tem a tendência em acreditar que essas doenças são parte da vida. Todavia, com o avanço da tecnologia veterinária de hoje, muitos problemas podem ser evitados. Envelhecer é parte da vida de qualquer animal de estimação, mas a falta de comunicação adequada com o cliente pode fazer com que eles aceitem facilmente a falsa ideia de que uma diminuição da qualidade de sua vida é parte da equação. Quando se trata de tratamento de animais mais velhos, a importância da educação do cliente não pode ser negligenciada. Como veterinário, você é mais do que “o mais informado” sobre as formas de preparar nossos amigos caninos e felinos para os seus anos dourados, mas o que acontece com seus clientes? Por exemplo: tosse persistente, aumento significativo do apetite, feridas abertas ou crostas e diminuição da visão, são todos sintomas de doenças associadas com um animal de estimação idoso. Sabemos que os proprietários de tais animais tendem a ignorar ou negar estes sintomas. Na maioria dos casos isso se deve à falta de conhecimento e de motivação para cuidar do que está por trás destes problemas. Educar seus clientes sobre o que avaliar num animal de estimação idoso não é só ajudar a prolongar a vida, mas também pode gerar mais receita para a sua clínica. Abordar os problemas reais de animais mais velhos é uma oportunidade que nunca termina, sendo que a cada ano, mais animais de estimação chegam a sua terceira idade. Os “testes sênior de bem-estar” são ótimas maneiras de gerir a saúde de um animal de estimação a longo prazo. O teste de bem-estar sênior não lhe dá unicamente a chance de se conectar e educar 80 • Nosso Clínico

seus clientes sobre a forma de ajudar os seus animais a viver um estilo saudável de vida durante esta etapa da vida, mas também lhe dá a oportunidade de fazer testes importantes que podem prevenir novas lesões ou doenças. Infelizmente a maioria dos proprietários parece estar contente com os exames anuais que realizam nos seus pets. Mas da mesma forma que a idade do animal avança, os exames “anuais” precisam acontecer com mais frequência. O recomendado para cães e gatos saudáveis é ter exames de bem-estar e testes de laboratório a cada seis meses. Isso pode ajudar a prevenir problemas de saúde e pode diagnosticar afecções antes que estas avancem. Como veterinário, portanto, é sua obrigação ajudar os seus clientes a entender a importância dos exames de bem-estar em animais idosos que podem ser de muita ajuda para os pets nesta etapa da vida. A boa notícia é que educar os seus clientes nunca foi tão fácil. Atualmente há mais caminhos do que antes para se comunicar com seus clientes e oferecer o conhecimento que eles precisarão para garantir vida saudável e longa a seus pets. Manter sessões constantes de educação dos proprietários de cães idosos na sua clínica, além de oferecer treinamento direcionado, pode atrair novos clientes, os quais não tenham recebido este tipo de atendimento por parte de outros serviços veterinários. Isto pode ser uma ação de muito sucesso se anunciada apropriadamente, utilizando seu website ou escrevendo artigos submetidos a revistas e jornais locais, abordando problemas de saúde de animais idosos. Claro que poucas coisas são tão efetivas na educação dos seus clientes como o marketing direto. O que queremos é que você identifique dentro da sua carteira de clientes, os que são proprietários de animais de estimação idosos; identifique entre eles os que mais gastaram dinheiro com serviços veterinários no ano passado, para logo entrar em contato com eles para comunicar-lhes a importância de prevenir e tratar problemas de saúde relaci-

onados a idade. Sim, é preciso um investimento inicial de tempo, porém, uma vez você cria material educativo de boa qualidade, pode usá-lo sempre. Tais ferramentas podem incluir e-mails aos clientes proprietários de pets idosos, explicandolhes por meio de perguntas dirigidas sobre seus animais; o que significa ter um animal deste tipo em casa. Este questionamento irá sensibilizar ainda mais os clientes em relação à condição dos seus pets. Enviando cartões postais personalizados, explicando brevemente a importância da saúde dos seus animais, e dandolhes um incentivo para visitar seu serviço veterinário. Chegar a um seleto grupo de clientes por telefone para envolvê-los numa conversa sobre o fato de seus animais de estimação podem ter problemas de saúde, e que, embora eles não sejam aparentes no momento, eles poderiam estar incomodando-os. Estas ligações sobretudo devem estar focadas em educar esses clientes de que a prevenção é o melhor curso de ação nessa idade. Outra ação é notar quem, entre os muitos clientes, você vê devido a diferentes razões todas as semanas e meses, e lembrar de educá-los em relação à especial condição de seus animais de estimação. Tal como acontece com os seres humanos, um estilo de vida saudável combinado com medidas preventivas pode fazer maravilhas para a preparação de nossos animais de estimação para verdadeiramente apreciar seus anos dourados. Educar seus clientes no bem-estar sênior é realmente simples. Não só mantem seus clientes próximos a sua clínica nos próximos anos, bem como fornece a eles uma vida feliz e saudável durante os seus anos mais avançados. A curta vida de um animal de estimação pode ser de fato sua única falha, mas com uma comunicação adequada com o cliente, isto talvez seja bastante amenizado.

Marco Antonio Gioso, Maria das Graças, Steve Kornfeld (EUA)


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CONHECIMENTO COMPARTILHADO Christiane Prosser (christiane.prosser@royalcanin.com) M.V., Membro da Equipe de Comunicação Científica da Royal Canin Brasil

Alimentos úmidos para gatos: qual sua importância? Os proprietários de gatos são unânimes: felinos são de fato animais muito diferenciados e não devem – nunca – ser confundidos com cães pequenos. Que estas espécies são bastante diferentes entre si é algo bastante notório, e as particularidades vão desde as atitudes sociais e comportamentais até a ocorrência de sensibilidades e reações orgânicas a fármacos específicas. O padrão alimentar e as necessidades nutricionais dos felídeos são também distintos. Por esta razão o estudo da nutrição dos gatos domésticos é de suma importância, e é considerado hoje uma das razões para o aumento da expectativa de vida destes animais. Os gatos são considerados carnívoros estritos, e dependem de aminoácidos específicos para sobreviver (também chamados de “essenciais”, como taurina, arginina, metionina e cisteína). Estes são adquiridos pela ingestão de tecidos de origem animal (na natureza, gatos domésticos alimentam-se de pequenos roedores e aves, principalmente). O organismo destas presas possui altos teores de proteína, moderados teores de gordura e mínimos teores de carboidrato. Carnívoros estritos possuem um metabolismo desenhado para, preferencialmente, obter a energia vinda de proteínas e gorduras e, em menor escala, de amido, quando comparados a outros onívoros como o cão, por exemplo. Cabe ressaltar também que, ao comer a presa, o gato não se alimenta apenas da carne: há o consumo de água, vitaminas e minerais específicos (eles ingerem certa quantidade de ossos e cartilagens ao fazer a refeição). Portanto, pode-se dizer que alimentar um gato exclusivamente com carne não fornecerá a ele uma nutrição adequada, acarretando em desnutrição. Os gatos também apresentam hábitos bastante particulares quando se trata de ingestão de água. Quando comparados aos cães, os gatos tomam menos água, e estimula-los a ingerirem líquidos pode ser bastante difícil em alguns ca82 • Nosso Clínico

sos. Acredita-se que esta baixa ingestão hídrica seja decorrente da evolução da espécie, uma vez que os ancestrais do gato doméstico habitavam o norte da África, uma região desértica e com escassez de água. Fisiologicamente, seu organismo se adaptou a conservar água: ao avaliarmos os néfrons do gato, observamos que a Alça de Henle (porção responsável principalmente pela reabsorção de água e solutos) é bastante longa, conferindo assim uma capacidade maior de concentração urinária para esta espécie. Por este motivo, a urina de gatos saudáveis pode apresentar uma densidade urinária de até 1,080, demonstrando assim sua grande capacidade de não eliminar água através da urina, mantendo-a em seu organismo para uso em seu metabolismo. É de se imaginar, portanto, que gatos se adaptem melhor que cães à privação de água. Porém, algumas condições clínicas requerem que os gatos ingiram maior quantidade de água, como as doenças do trato urinário inferior dos felinos (DTUIF) e a doença renal crônica (DRC), por exemplo. Em casos de DTUIF causada por urolitíase, a excessiva concentração urinária com componentes que formam cálculos (p. ex, cálcio, oxalato, fosfato etc) é um fator predisponente para a ocorrência da doença. Sabe-se que, quanto mais urina o gato produzir e, efetivamente, urinar, menor a chance de recorrência do problema. Gatos com DRC também necessitam ingerir grandes quantidades de água. Com a perda de capacidade de concentração urinária pelos rins doentes, o gato se torna poliúrico (passa a urinar em excesso) e, por sua vez, desidratado. Por mais que o gato comece a ingerir mais água que o normal (polidipsia) para compensar a grande perda hídrica pela micção, a quantidade geralmente não é suficiente, e a desidratação acontece. As crises urêmicas (agudizações do paciente crônico) ocorrem principalmente por desidratação excessiva. O aumento da ingestão hídrica pode ser feito por meio de estímulos como o

fornecimento de água sempre limpa e fresca, distanciar o pote de água da liteira (no mínimo 50 cm), oferecer água em fontes de água corrente etc. Cabe ressaltar que, além de estimular a ingestão de água, o gato não pode ter qualquer aversão à caixa de areia. Ela tem de estar posicionada em locais tranquilos, ser higienizada frequentemente, e preconiza-se que haja uma caixa a mais de areia do que a quantidade de felinos na casa (p. ex. 5 liteiras atenderão 4 gatos). Porém, mesmo com todos estes estímulos, a ingestão hídrica de alguns animais fica aquém de suas necessidades, e o alimento úmido, além de fornecer água, traz consigo os nutrientes fundamentais específicos para animais doentes. Os alimentos úmidos são divididos em duas categorias: os alimentos completos e os que fornecem suplementos ou que são considerados petiscos. Os alimentos úmidos (principalmente os comercializados em latas) são submetidos a um processo de esterilização, responsável por eliminar grande parte das bactérias nocivas aos animais. Porém, tal processo também acarreta em algumas perdas nutricionais, e por esta razão os fabricantes de produtos de alta qualidade estudam minuciosamente tais perdas e ajustam as formulações visando compensá-las, garantindo que os animas recebam as quantidades nutricionais recomendadas para cada caso. Em linhas gerais, os alimentos úmidos são mais palatáveis e digestíveis que os alimentos secos, e possuem menor quantidade de carboidratos. São alimentos mais caros, porém isto não aparenta ser um problema para a alimentação de felinos ou de cães pequenos, sendo uma preocupação maior aos proprietários de cães grandes. A utilização de alimentos úmidos como fonte única de alimento ou como parte da alimentação (também chamado de mix feeding) dos felinos é uma excelente estratégia para estimular a ingestão hídrica destes animais. Em média, alimentos úmidos possuem 75% de água, enquanto produtos secos apresentam entre 6% e


10%. O alimento úmido também pode corrigir casos de anorexia e hiporexia, pois é mais palatável e acaba estimulando o animal a comer. Gatos são extremamente sensíveis à falta de apetite, e grande parte das doenças – se não todas – acarretam em inapetência. Um estudo feito na Universidade Estadual de São Paulo, Campus Jaboticabal, comprovou que pacientes desnutridos (com escores corporais considerados magros e caquéticos) apresentam taxas de morbidade e mortalidade maiores que pacientes com escore corporal ideal. Logo, observa-se que a desnutrição é um fator agravante no estado de saúde do animal. E o leite, poderia ser uma fonte de água para gatos? O fornecimento de leite é um dos grandes mitos sobre a nutrição felina. Sabe-se que o leite de vacas e cabras possui menor teor de gorduras, proteínas e energia quando comparados ao leite da gata. Logo, a substituição do leite de uma espécie pelo leite de outra não deve ser realizado, pois cada espécie possui uma necessidade nutricional diferente para se desenvolver de maneira

adequada. O fornecimento de leite após a fase de desmame também não deve ser realizado, pois o trato gastrintestinal do filhote amadurece com seu crescimento, e perde a capacidade de digestão da lactose. Assim, muitos gatos podem passar a ter diarreia secundária à ingestão de leite. Sabe-se hoje que parte dos hábitos alimentares adquiridos pelos filhotes é aprendida com a mãe. Isto significa dizer que, caso a mãe aceite ou tenha hábito de comer determinado alimento, há grande chance de que seus filhotes façam o mesmo. Os hábitos do filhote são adquiridos principalmente quando muito jovens, e recomenda-se que até os 4 meses de vida o gatinho seja exposto às diversas situações, pessoas, animais e, também, aos diversos tipos de alimento (pensando aqui especialmente em sua consistência). Desta forma, o gato reconhecerá formas diferentes de produto como alimento, facilitando seu manejo futuramente. Concluindo, oferecer alimentos úmidos para gatos apresenta diversas vantagens. Além de ser possível garantir o fornecimento balanceado de todos os nutrien-

tes fundamentais para o animal (quando utilizados alimentos completos), esta é uma forma bastante eficaz de estimular a ingestão de água, essencial não somente para a manutenção da saúde em indivíduos sadios, mas especialmente importante em casos de doenças de trato urinário inferior e de doença renal crônica. Além disso, o alimento úmido facilita muito o manejo da inapetência em vários outros quadros clínicos. REFERÊNCIAS 1 - A ENCICOLPÉDIA DO GATO ROYAL CANIN. Disponível em: http://enciclopedia gato.royalcanin. com.br/. Acessado em: 2 fev 2015. 2 - CASE, L. P. et al. Canine and feline nutrition. 3 .ed., Mosby Elsevier: Missouri, p.163-176, 2011. 3 - CHEW, D.J.; DIBARTOLA, S.P.; SCHENCK, P.A. Urologia e Nefrologia do Cão e do Gato, 2.ed., Saunders: Rio de Janeiro, p.271-305, 2011. 4 - OSBORNE, C. A. et al. Paradigms changes in the role of nutrition for the management of canine and feline urolithiasis. Vet Clin Small An. v. 38, p.127-141, 2008. 5 - ZORAN, D. L. The Carnivore connection to nutrition in cats. J Am Vet Med Assoc, v. 221, n. 11, p.15591567, 2002.

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MEDICINA TRADICIONAL CHINESA

Dieta complementando o tratamento com Acupuntura Cientificamente e na prática, cada vez mais a acupuntura vem se consolidando como uma técnica eficiente e reconhecida para o tratamento dos mais diversos tipos de problemas nos animais e nas pessoas. Porém em alguns problemas mais complexos as técnicas de acupuntura são ineficientes para que se consiga os efeitos necessários para uma recuperação maior e efetiva, principalmente em problemas com mais de uma sistema envolvido, ou em animais muito debilitados e comprometidos em nível sistêmico. Assim se deve adotar outras técnicas que melhoram o efeito da acupuntura fazendo com que os animais se recuperem melhor e mais rapidamente. Por isso falamos geralmente em Medicina Chinesa e não em apenas Acupuntura, pois existe uma complementação de conhecimentos que potencializam os efeitos para a cura. Mas porque isso ocorre? Vamos partir do básico. A acupuntura seria como um catalizador para que as reações químicas, físicas, bioquímicas e biofísicas que ocorrem em nosso corpo para a manutenção da vida ocorram em uma forma mais eficiente, com maior rapidez e qualidade na geração dos efeitos e com resultados na recuperação dos animais doentes melhores e maiores. Como ela faz esta ação? A acupuntura atua sobre o sistema nervoso que no geral é quem comanda a maioria das reações orgânicas. Não só o sistema nervoso central (cérebro e medula) através de neurotransmissores, neuromoduladores e neurohormonios atua em todo o corpo e faz com que este se equilibre e realize as funções em uma grau de eficiência mais aprimorado e preciso, mas também atua equilibrando e trabalhando através dos mesmos componentes o sistema simpático e parassimpático que mantem a vida e atuam sobre o nosso corpo mantendo a sua homeostase. Assim o efeito da acupuntura é rápido, preciso e serve para intervir em qualquer reação, local ou doença. Aonde entra a dieta então? Para produzir todos estes mediadores, enzimáticos, hormonais e neurais além do estimulo temos que ter nutrientes, ou seja, matéria prima para que estas substâncias estejam presentes e atuando de forma qualitativamente eficiente. Assim, é através da dieta que conseguimos os vários componentes que vão ajudar a mediar e realizar as reações orgânicas. Por exemplo: se temos um animal com imunodeficiência muitas vezes teremos o estimulo da acupuntura a nível central / neuro-humoral para produzir anticorpos, lembrando que cada vez mais o papel dos receptores morfoninérgicos tem sido descoberto como imunomoduladores e, por conseguinte, o que cientificamente se comprova que a acupuntura atua neles, vide experimentos em ratos com o uso da naloxona que inibe o efeito da acupuntura comprovando a ação desta técnica na expressão e ação nestes receptores, usamos acupuntura e temos um resultado excelente em 60% dos animais. Mas como atingir os outros 40% que não responderam ao estimulo da agulha? Porque não conseguimos resultados nestes casos? Na verdade o estímulo foi dado e houve resposta, porém provavelmente pela falta de nutrientes em quantidade e disponibilidade suficiente para a produção dos mediadores bioquí84 • Nosso Clínico

micos e de formação dos receptores teremos o estimulo, mas também a falta do local onde estimular e /ou do ativador destes receptores. Este é o momento que entra a dietoterapia, e em alguns casos a fitoterapia chinesa (que é considerada como um ramo da dietoterapia chinesa), fornecendo o substrato e os componentes adjuvantes das reações bioquímicas e biofísicas, permitindo assim que o estimulo se manifeste e seja efetivo. Como exemplo podemos usar uma alimentação a base de sardinha com castanha e natô que são imunoestimulantes e vão fazer o efeito da acupuntura e a resposta imunológica do animal ser maior e mais eficiente. Na medicina chinesa a sardinha, que vem de águas profundas e frias, é um alimento frio, salgado e neutro. E, segundo os conceitos chineses, frio combate o calor (inflamação), salgado faz a essência (metabolismo basal) funcionar e neutro que equilibra a função digestiva (local de maior quantidade de células de defesa). Assim a sardinha combate a inflamação, acelera e equilibra o metabolismo basal e atua na resposta imunológica, que na nossa medicina se relacionam ao ômega 3, conhecido antioxidante e imunomodulador e ao iodo essencial no metabolismo da tireoide. A castanha do Pará entre outras coisas é um dos alimentos mais ricos em Selênio, catalizador e potencializador dos efeitos do ômega 3 / sardinha. Na Medicina chinesa por se parecer com o aspecto físico do Pulmão, e este ser este considerado a origem de toda a defesa do corpo, também é considerado um imunomodulador e um tônico do Pulmão / imunidade. O natô age nos intestinos e geram a essência segundo a medicina chinesa atuando no equilíbrio do pulmão (imunidade) e dos rins (metabolismo basal), assim por ser rico em vitamina K2 atua diretamente na cascata orgânica de produção de imunomoduladores e de receptores imunológicos celulares, regulando todo o metabolismo imunológico. Quando se estuda os alimentos e compara os efeitos que os antigos chineses de uma forma metafórica conferiam a eles, conseguimos entender a metáfora e traçar uma comparação aos achados científicos atuais, entendendo também porque o chinês tem um complexo sistema de diagnóstico e tratamento, aonde a dietoterpia chinesa é cada vez mais relevante ao médico veterinário no tratamento e na melhora de quadro clínicos mais complexos, tendo resultados mais eficientes e sem os efeitos colaterais que a maioria dos fármacos com os componentes destes alimentos podem causar. Troque informações com um veterinário que trabalhe com dietoterapia chinesa e se surpreenda com os resultados que poderá conseguir não só em animais com problemas e patologias, mas também nos animais saudáveis para manter sua qualidade de vida e na maioria das vezes aumentarmos sua longevidade. Eduardo Lobo / Rodrigo Gusmão: Médicos-Veterinários, com cursos de especialização em Acupuntura Veterinária, Dietética e Fitoterapia Chinesa. Coordenadores e professores em cursos e palestrantes na área por todo o Brasil


INFOPET comac@comacvet.org.br

Desafios e oportunidades para quem quer faturar no mercado pet Com uma população de 21,5 milhões de cães e gatos domiciliados, o mercado pet brasileiro cresce, em média, 8% por ano desde 2011, ultrapassando importantes setores do varejo brasileiro. Segundo o Estudo Pet Brasil, realizado pela consultoria GS&MD (Gouvêa de Souza) em parceria com a Comac (Comissão de Animais de Companhia do SINDAN), o segmento movimenta anualmente mais de R$10 bilhões, tendo nos estabelecimentos com serviços veterinários uma grande oportunidade de negócio. Trata-se de um mercado de baixíssima concentração. Os grandes players representam apenas 7%, enquanto 93% ficam diluídos entre pequenos empresários. Pet shops que possuem um profissional da saúde, hospitais e clínicas veterinárias são responsáveis por 47,3% do faturamento do setor. Com tantos números positivos, é natural que investidores apostem suas fichas neste segmento, muitas vezes sem saber detalhes sobre o ramo que estão investindo. Eis o primeiro erro. Segundo André Prazeres (foto), especialista em varejo da Comac, estudar o mercado a fundo é essencial para a consolidação do negócio. “É imprescindível que o proprietário conheça as praças em que pretende abrir e sua dinâmica do consumo”. Ainda de acordo com o profissional, que há mais de uma década atua no setor, quem deseja investir precisa oferecer diferenciais de serviço, preços bem praticados, cuidado com o cliente e seu pet, boa gestão e, principalmente, profissionalização. O mercado é bastante promissor. Devido à ascensão das classes, a demanda, até então retraída, passou a consumir. A exigência daqueles que já utilizam os serviços e que agora buscam diferenciais bastante específicos também contribui para que o cenário seja positivo. A pesquisa Árvore de Valor do Negócio Pet, encomendada pela Comac (Comissão de Animais de Companhia do SINDAN) revela o que os varejistas precisam adequar para rentabilizarem ao máximo seus negócios. “Quem decide onde levar o animal é o tutor, por isso o proprietário de

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clínica e pet shop precisa entender as duas necessidades, tanto do animal quanto do seu dono”, afirma Prazeres. Entre os pontos sugeridos, fica estabelecido que mais importante do que preço são os cuidados com a comunicação, instalações e diagnósticos precisos. Ou seja, as facilidades oferecidas ao cliente, flexibilidade nos horários de atendimento, boa localização, higiene, funcionários que auxiliam no atendimento, condução e contenção do animal, uma sala de espera confortável, salas de atendimento amplas e organizadas e tempo de espera pequeno. Estar atento ao atendimento por meio das diversas plataformas de comunicação, promoções, programas de fidelidade, lembrar os clientes da próxima consulta, entre outros benefícios também foram ressaltados pelo estudo. Além é claro das técnicas e competências relacionadas à saúde do animal. Há muito a se fazer no Brasil em termos de inovação. A retenção dos clientes nos varejos pode ser cada vez maior, desde que haja atenção ao layout da loja, por exemplo. “Se a ração é o que mais se vende, não posso deixa-la na porta do meu estabelecimento. É necessário criar uma disposição de produtos de maneira que o consumidor circule pelo ambiente”, diz Prazeres. Outro exemplo é o dos espaços aconchegantes e informativos voltados aos donos de filhotes. Nos EUA e Austrália, as lojas passaram a criar departamentos exclusivos para esse público, prestigiando-os e estimulando-os a consumir. Para o especialista, a chave do sucesso para o novo empreendedor está na saúde animal, já que os mercados de toys, alimentação e estética estão amadurecidos. “O mercado pet brasileiro com foco em saúde tem dois extremos, o grande varejista e o pequeno. Está faltando o varejista intermediário. Hoje temos os hospitais veterinários que, devido à altíssima qualidade e profissionalização, cobram caro. Empregam mais, investem mais, desenvolvem mais e inovam mais. O outro é o pequeno, que cobra muito barato. Porém, não apresenta bons diagnósticos, não oferece diferencial de serviços e benefícios, tendo dificuldades em se manter”, finaliza.


BEM-ESTAR ANIMAL

Torturas de Artifício O Brasil é, sem dúvida, um país festeiro. Começamos o ano festejando sua entrada, temos o Carnaval, as Festas Juninas, os dias santos, o futebol e outras festas, regionais ou não, que sempre inserimos no nosso calendário. Não podemos reclamar por viver em um país como o nosso, apesar dos políticos. Porém, não vou entrar nessa discussão agora. Mas, o problema para os nossos amigos animais é que todas essas datas, e mesmo os jogos de futebol, são comemoradas com fogos de artifício. E não são poucos. Parece que sempre há uma disputa entre as torcidas, igrejas, cidades e etc. para demonstrar maior poder de fogo no momento da comemoração. Também não podemos negar que é um espetáculo bonito de se ver, apesar de muito perigoso, haja vista as mortes e mutilações que aparecem nos jornais após essas comemorações. Porém, isso é problema do ser humano que é responsável por seus atos. Se ele se coloca em risco, o prejuízo deve caber somente a ele. Contudo, não é dessa forma que os fatos ocorrem. Os animais também são prejudicados, seja pelos acidentes em menor escala ou pelo som produzido. Vamos começar pelos cães. Ao ouvir uma explosão, o pobre animal não sabe de onde veio o barulho, sua origem e muito menos suas consequências. Além de ser um som muito alto para seus ouvidos sensíveis, ainda há a reação de seus proprietários, que não raramente, os pegam no colo ou abraçam na tentativa de acalmá-los. Porém, esse ato serve somente para reforçar ao cão que aquele barulho é realmente uma ameaça em potencial, caso contrário o seu proprietário não teria se aproximado para defendelo. E isso perpetua o medo do cachorro em relação aos fogos. O mesmo pode ser aplicado ao som dos trovões com o acréscimo dos proprietários que também sentem medo e deixam transparecer aos seus amigos de estimação. Todos os animais são afetados pelo barulho dos fogos, e podemos incluir nessa lista os animais que vivem em florestas próximas às cidades ou mesmo aqueles que vivem nos centros urbanos. Esses também não sabem o que significa o barulho que estão ouvindo e o tem como uma grande

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ameaça, provocando grande estresse que pode acarretar acidentes durante as fugas ou mesmo doenças causadas pela baixa resistência resultante desse estado de medo. Achei muito interessante a atitude de um condomínio de classe média-alta na região da Serra da Cantareira, aqui na cidade de São Paulo. Uma das proprietárias de imóvel no condomínio me disse que em reunião na assembleia geral, os proprietários decidiram modificar o regulamento interno e impor multas pesadas a quem soltar fogos de artifício, seja durante jogos esportivos, festas religiosas ou comemorações em geral. Para quem não conhece São Paulo, a região da Cantareira é uma área de pseudo-preservação ambiental. Uso o termo pseudo porque existem barbaridades contra a mata local como ocorre em qualquer outro local do nosso Brasil. Essa região é cercada de florestas nativas, com diversas espécies animais vivendo por lá, inclusive algumas em risco de extinção. Então a ideia dos condôminos é preservar esses animais, não impondo medo a eles por uma brincadeira que, no meu ponto de vista, remete o ser humano à idade média. Vamos fazer a nossa parte. Quem sabe plantar uma semente aqui e outra acolá, tentando sensibilizar os proprietários de animais e convencê-los a comemorar de outra forma o gol do seu time ou a entrada do novo ano. E por falar nisso, mesmo atrasado, feliz ano novo a todos os colegas que tanto trabalham por um mundo com mais humanidade e saúde.

Sidney Piesco de Oliveira (sidney@ibravet.com.br)

Diretor Científico do Instituto Brasileiro de Recursos Avançados - IBRA Graduado pela FMVZ- USP Mestre em Clínica e Cirurgia de Pequenos Animais - FMVZ- Unesp - Botucatu Pós-Graduado Lato Sensu em Fisioterapia Veterinária – UNIP Pós-Graduado Lato Sensu em Acupuntura Veterinária - FACIS - IBEHE Membro da Comissão Especial de Fisioterapia Veterinária – CRMV-SP Membro Fundador da ANFIVET Coordenador da divisão de Acupuntura Veterinária do IBRA Coordenador geral de cursos IBRA


PETS, FAMÍLIAS E VETERINÁRIOS

LUCIANA ISSA

1º CURSO DE TAA - TERAPIA ASSISTIDA POR ANIMAIS, NA AACD O IBETAA - Instituto Brasileiro de Educação e Terapia Assistida por Animais, com o apoio de seus mantenedores, no final de janeiro, ministrou o 1º Curso de Terapia Assistida por Animais (TAA), para uma equipe de terapeutas da AACD, na unidade da Mooca, em São Paulo. Em outubro de 2013, a AACD e o IBETAA deram início ao projeto de TAA e foi criada uma equipe multidisciplinar composta por psicólogos, fisioterapeutas, pedagogos, fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais, que passaram a trabalhar juntos com a equipe do IBETAA, assistindo às crianças com deficiência selecionadas pelos terapeutas para as sessões de reabilitação tendo o cão como um grande instrumento facilitador, despertando o interesse dos assistidos e potencializando as terapias. O curso “Fundamentos Teóricos e Modelos Práticos” apresentou a fundamentação científica a partir de pesquisas realizadas no exterior, onde o “poder” da cinoterapia (uso do cão em terapia) evidenciou o papel do cão como coterapeuta sendo uma ferramenta para os terapeutas no processo diagnóstico e de intervenção nassessões de terapia. O conceito e o objetivo da TAA - Terapia Assistida por Animais, ainda hoje, no Brasil, tem sido confundidos com o conceito de AAA – Atividade Assistida por Animais ou outras ações que incluem a presença do animal. A melhor forma de nos aproximarmos desse tema é fazer uma reflexão ampla de toda a terapia e a peculiaridade que cada uma nos oferece. A palavra terapia de origem grega therapeia significa tratamento ou assistência. Pode ser compreendido, também, como todo um conjunto de cuidados que tem por objetivo a cura para a doença ou minimizar os sintomas oriundos de uma patologia, tendo papel paliativo. Pode ser concebida, ainda, como todo tipo de “remédio” técnico posto à disposição para uma ação curativa. Assim, a TAA – Terapia Assistida por Animais como outros tipos de terapia apresenta uma singularidade terapêutica e gera um conjunto de benefícios para os assistidos. É importante evidenciar que a relação pessoa-animal não é equivalente a relação terapeuta-paciente e que o objetivo da TAA só pode ser alcançado quando existe antes de tudo, a relação terapeuta-paciente, isto é, o estabelecimento do vínculo interhumano é prioritário e o animal é o mediador, auxiliando nesse estabelecimento. A interação pessoa-animal e seus benefícios servem para enriquecer e completar o elo essencial da relação paciente-terapeuta, por isso, não se pode utilizar, nem de forma metafórica a expressão “DOUTOR CÃO” porque o animal é considerado coterapeuta. Enfim, o caráter primário e básico da TAA apresenta duas obrigatoriedades: relação terapeuta-paciente e a relação pessoa-animal devidamente integrados. São os elementos constitutivos da TAA: 1. O próprio sujeito - paciente com sua patologia; 2. Patologia - diagnosticada, previamente, com análise de todo conjunto de suas circunstâncias; 3. Terapeuta - especialista, com formação técnica, capaz de estruturar e programar a formação da relação básica com os efeitos que existem na interação pessoa-animal; 4. O animal - preparado adequadamente para o encontro e para a relação com o paciente, o qual possui qualidades intrínsecas que facilitam o processo terapêutico – um instrumento vivo, fonte de motivação e foco de interesse. 90 • Nosso Clínico

A TAA é, portanto, um conjunto de estudos que devido às suas peculiaridades implica ser considerada como uma “ecoterapia” representada pela natureza (animal), mas, ligada ao mesmo tempo ao mundo das psicoterapias devido a existência da relação terapeuta-paciente. “Um animal não pode ocupar o lugar de um profissional, por outro lado, às vezes, o papel do animal é tão importante, tão único, que um ser humano não pode ocupar seu lugar.” (Odean Cusack – Animais de compañia y salud mental) O diretor presidente do IBETAA, Carlos Pires, agradece os mantenedores do IBETAA que viabilizaram o 1º Curso de Terapia Assistida por Animais, na AACD, o maior centro de reabilitação de crianças com deficiências da América Latina. Ao mesmo tempo, parabeniza a todos os terapeutas participantes do curso e integrantes da equipe de TAA “Luciana Issa (contato@ibetaa.org.br), psicopedagoga clínica, diretora técnica do Instituto Brasileiro de Educação e Terapia Assistida por Animais e autora do livro “Kíon Branquelo, Joe Caramelo & Amigos. As aventuras e o trabalho de quatro cães terapeutas.”

Parceria: Com download gratuito, os leitores podem ter o livro digital acessando o site www.ibetaa.org.br e conhecer um pouco mais o trabalho de TAA

Patrocinadores do IBETAA que apoiaram o curso:


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