O ambiente é o meio

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O AMBIENTE É O MEIO

Diversos olhares sob a ótica da educação ambiental, Guarapuava - PR

Adriana Massaê Kataoka, Rosilene Rebeca, Patrícia Carla Gioni de Lima, Ana Lucia Suriani Affonso, Marquiana de Freitas Vilas Boas Gomes (Org.)


O ambiente é o meio Diversos olhares sob a ótica da educação ambiental, Guarapuava – PR

2ª edição


Adriana Massaê Kataoka, Rosilene Rebeca, Patrícia Carla

Editora UNICENTRO Rua Salvatore Renna, 875, Santa Cruz, CEP 85015-430 - Guarapuava - PR. Fone: (42) 3621-1019 editora@unicentro.br www.unicentro.br/editora

Giloni de Lima, Mauricio Camargo Filho, Ana Lucia

Suriani Affonso, Marquiana de Freitas Vilas Boas Gomes (Orgs.)

Publicação aprovada pelo Conselho Editorial da UNICENTRO

O ambiente é o meio Diversos olhares sob a ótica da educação ambiental, Guarapuava – PR

2ª edição


Universidade Estadual do Centro-Oeste Reitor: Aldo Nelson Bona Vice-Reitor: Osmar Ambrosio de Souza Editora UNICENTRO Direção: Denise Gabriel Witzel Assessoria Técnica: Beatriz Anselmo Olinto, Ruth Rieth Leonhardt, Suelem A. de Oliveira Lopes, Victor Mateus Gubert Teo, Waldemar Feller Divisão de Editoração: Renata Daletese Correção: Níncia Cecília Ribas Borges Teixeira Diagramadores: Helana Wichinoski, Roger Ongaratto Nunes, Thomas Volski, Victor Gubert Teo Diagramação: Helana Wichinoski Capa: Renata Daletese Fotos da capa: Maria Antonieta Giacomet Gráfica UNICENTRO Lourival Gonschorowski, Marlene dos Santos Gonschorowski, Agnaldo Dzioch

Ficha Catalográfica Catalogação na Publicação Fabiano de Queiroz Jucá – CRB 9/1249

A492

O AMBIENTE é o meio: diversos olhares sob a ótica da educação ambiental, Guarapuava - PR / organizado por Adriana Massaê Kataoka, Rosilene Rebeca, Patrícia Carla Giloni de Lima, Mauricio Camargo Filho, Ana Lucia Suriani Affonso, Marquiana de Freitas Vilas Boas Gomes -– 2. ed. -– Guarapuava: Unicentro, 2015. 208 p. : il. ISBN 978-85-7891-176-8 Bibliografia 1. Educação ambiental - Guarapuava (PR). 2. Meio ambiente. I. Título. CDD 372.357

Copyright © 2015 Editora UNICENTRO Nota: O conteúdo desta obra é de exclusiva responsabilidade de seus autores.

Dedicamos este trabalho aos professores, educadores e mestres, que em sua árdua tarefa de ensinar, sempre encontram esforços para superar os problemas com determição, superar as dificuldades com criatividade; superar o desânimo com amor ao seu trabalho, aceitando sua profissão, pois quando ensinamos também aprendemos.


Sumário Introdução. ..................................................................9 Adriana Massaê Kataoka Rosilene Rebeca

O

ambiente de guarapuava sob a ótica da educação

ambiental. ...................................................................17

Adriana Massaê Kataoka João Fernando Ferrari Nogueira Ana Lúcia Suriani-Affonso

Contextualizando a dimensão física do ambiente......33 Caracterização geológica e geomorfológica de Guarapuava e região..................................................37 Maurício Camargo Filho Deyvis Willian da Silva Luís Angelo Guerreiro Junior

Contextualizando a diversidade biológica................67 Caracterização da diversidade biológica de Guarapuava e região.......................................................................71 Patrícia Carla Giloni-Lima Ana Lúcia Suriani-Affonso Adriana Massaê Kataoka Gustavo Sene Silva Rosilene Rebeca

Contextualizando a apropriação social da natureza em Guarapuava-PR........................................................ 107 Leitura geográfica da apropriação social da natureza em Guarapuava......................................................... 111 Marquiana de Freitas Vilas Boas Gomes


Contextualizando a dimensão histórica. ................. 145 História

ambiental e educação ambiental: pensando

intersecções. ............................................................. 149

Jó Klanovicz

Propostas de atividades práticas..............................183 Fotografando as matas em Guarapuava.................185 Sílvia Zanette de Aragão

Importância das microbacias na área de Biologia. ..191 Rozeli Tonete

Introdução Adriana Massaê Kataoka Rosilene Rebeca

Compreender a intrincada rede de interações que envolve a busca de soluções para a problemática ambiental é um grande desafio para a humanidade contemporânea. Este desafio tem provocado profundas reflexões levando os diversos setores da sociedade a pensarem sobre o seu papel nesse contexto, num movimento novo de diálogo com áreas diferentes do conhecimento que, até então, raramente se aproximavam. Uma das áreas que tem se dedicado intensamente à reflexão deste tema é a Educação Ambiental (EA), cujos conceitos e objetivos foram definidos na Conferência de Tblisi (1977), chegando ao Brasil praticamente na década de oitenta. No início, a EA esteve fortemente ligada à área da biologia, sendo muitas vezes confundida com a ecologia. Desde então, tem evoluído no sentido de uma aproximação entre a dimensão ecológica e social. A Educação Ambiental pode ser entendida como um processo educativo e social que tem por finalidade a construção de valores, conceitos, habilidades e atitudes que possibilitem o entendimento da realidade e a atuação consciente e responsável de atores sociais individuais e coletivos no ambiente, tendo em vista a qualidade de vida individual e coletiva do planeta (LOUREIRO, 2002). Diferenciando-se do conceito de ecologia, que pode ser definido como o estudo da casa, incluindo todos os organismos contidos nela e todos os processos funcionais que a tornam habitável (ODUM, 1883), ou segundo Ricklefs (2003), a ciência pela qual estudamos como os organismos (animais, plantas e micróbios) interagem entre si e com o meio natural. Assim, percebemos que a ecologia focaliza a dimensão física e biológica do ambiente, diferente da educação ambiental que, além de considerar as dimensões abordadas pela biologia,


dá uma ênfase maior à dimensão humana, levando em conta os aspectos culturais, sociais, políticos, éticos e estéticos no transcurso do viver diário. A educação ambiental tem se pautado em um discurso marcado pela crítica ao paradigma cartesiano, positivista, na racionalidade econômica, na razão instrumental e na busca da prática da interdisciplinaridade. Através dessa reflexão, algumas possíveis causas para a crise civilizatória que nos deparamos são consideradas. O paradigma cartesiano mecanicista formulado pelo filósofo René Descartes (1596 – 1650), no século XVII, inaugurou a chamada revolução científica dando início a modernidade. Foi a partir do paradigma cartesiano mecanicista que houve a separação do sujeito em relação ao objeto, e da alma em relação ao corpo orgânico, desdobrando-se em outras polaridades excludentes com as quais aprendemos a pensar o mundo: natureza/cultura, corpo/ mente, sujeito/objeto, razão/emoção. Esse modelo tem entrado em crise, justamente por não conseguir responder adequadamente aos novos problemas teóricos e práticos que atravessam a vida contemporânea, dentre eles os ambientais (CARVALHO, 2004). Nesse contexto, conceituar meio ambiente se revela uma tarefa importante para exercitar a reflexão em torno da problemática ambiental. Ao procurar o significado de “meio ambiente”, verificamos que meio possui o mesmo significado que ambiente e, portanto, ao utilizarmos a terminologia meio ambiente, estamos sendo, no mínimo, redundantes. Sendo assim, a partir daqui a terminologia adotada será apenas de ambiente. A concepção de ambiente sofre forte influência da área de conhecimento a qual a pessoa está vinculada, em alguns momentos, mais física do que biológica, em outros ao contrário. Também encontramos concepções naturalizantes que apenas envolvem a dimensão física (atmosfera, substrato...) e biológica, sem considerar o ser humano como parte integrante desse meio. Leff (2002) chama à atenção para o surgimento de novos fenômenos físicos e sociais que ultrapassam a capacidade de conhecimento e efeitos previsíveis pelos paradigmas das disciplinas

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tradicionais e que escapam de seu controle por meio de mecanismos de mercado, provocando assim o surgimento de uma noção de ambiente associada à degradação de sistemas produtivos, à poluição pela acumulação de dejetos, ao esgotamento ou superexploração de recursos naturais, a deterioração da qualidade de vida e a desigualdade na distribuição de custos ecológicos, concepção essa que associa ambiente a problema. Sauvé (2005) ainda relata uma concepção de ambiente associada a recurso. Essa concepção, apesar de ser muito utilizada nos discursos que versam sobre a conservação ambiental como economia de água, esgotamento de recursos naturais renováveis e não renováveis traz limitações por se tratar de uma concepção antropocêntrica. Pensar sobre a diversidade de concepções de ambiente, nas suas consequências, nas limitações do paradigma cartesiano e na racionalidade econômica e instrumental nos motivou a sonhar com uma obra que integrasse a contribuição de diferentes áreas do conhecimento de forma integrada, problematizando a temática ambiental através de uma estrutura não linear. A idéia de caracterizar o ambiente através de suas múltiplas dimensões nos pareceu uma ideia bastante atraente. A partir de então, em contato com aqueles que ensinam esses conceitos no nível fundamental e médio, outras ideias começaram a brotar, desenvolvendo-se quase que organicamente. Associada à concepção multidimensional de ambiente, agregou-se a ideia de utilizarmos o conhecimento produzido por pesquisadores de diferentes áreas da UNICENTRO, os quais, na maioria das vezes, encontravam-se dispersos em publicações específicas e não raro tratavam de temas próximos e até em uma mesma localidade, mas que se encontravam separados devido à fragmentação do conhecimento. Como exemplo dessa fragmentação temática e espacial, é possível citar estudos envolvendo uma determinada área de floresta, que foram foco de pesquisa de um especialista em vegetação, de outro que estudava aves, de outro ainda que investigava sua formação geomorfológica e cada um desses estudos foram publicados em revistas especializadas, distantes física e tematicamente do mes-

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mo assunto. Associada a essa questão, a possibilidade desse material ser utilizado para consulta de professores da rede de ensino pareceu-nos extremante útil, já que uma das críticas recorrentes ao material utilizado em sala de aula pela rede de ensino se refere à carência de exemplos que estejam inseridos no universo contextual do aluno. Ao mesmo tempo em que uma nova possibilidade surgia, um novo desafio se impunha. Nesse caso, seria a linguagem pela qual deveria ser escrito o texto. Teríamos que nos preocupar em traduzir esses estudos através de uma linguagem acessível e com o cuidado e a preocupação em não perder a cientificidade. Nosso mais difícil e último desafio foi a preocupação em organizar o livro de forma não linear e cartesiana. Essa preocupação se apoia no fato de que professores de áreas diferentes poderiam ter interesse de aprofundamento diferente. Portanto, o livro foi dividido em eixos temáticos, de forma que cada área pudesse encontrar seu aprofundamento, sem que fosse necessário ler o livro todo, para se ter uma noção do contexto em que se insere a sua área específica. Assim, acredita-se que estamos oportunizando o leitor a possibilidade de que o livro seja lido integralmente ou em partes, respeitando-se o interesse de cada um, sem prejuízo ou perda das demais dimensões. Considerando que o público alvo são os professores da rede ensino, também se pretendeu que eles fossem ouvidos, principalmente no que se referiam às dificuldades que encontravam no trabalho com a temática em questão e as expectativas que possuíam com relação ao projeto do livro. Como a clientela do ensino médio e fundamental está envolta numa rotina midiática e tecnológica, a idéia de se fazer um documentário que pudesse ser utilizado em sala de aula diretamente com os alunos nos pareceu necessária e eficiente. Assim como o material escrito, esse material audiovisual está disposto em uma perspectiva não linear e poderá ser utilizado em sala de aula como material de apoio para o desenvolvimento dos conceitos multidisciplinares relacionados à Educação Ambiental. Este livro foi pensado e construído artesanalmente a muitas mãos. Digo artesanalmente no sentido que nos propusemos

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a fazê-los de uma nova forma. Ou seja, não seguindo o padrão clássico de obras multidisciplinares em que cada autor faz a sua parte de maneira isolada, sem saber muitas vezes o assunto tratado pelo colega e o modo como se conectam. É importante destacar que a presente obra pode causar a falsa impressão de uma obra geral e não específica. Essa impressão por ser causada pelo fato de que reúne um apanhado de informações de diferentes áreas do conhecimento, tendo como eixo a caracterização do ambiente local. Entretanto, é necessário tecer algumas considerações sobre essa questão. Quando falamos em geral e específico implicitamente se traz a noção de que o específico é o mais aprofundado e, portanto, mais importante, mais científico e o geral mais superficial e menos importante. Essa é uma herança do pensamento cartesiano que fragmentou, aprofundou e supervalorizou o específico. Concordo que essa obra, nesse sentido não é específica, pois não é fragmentada e ao mesmo tempo não é geral, porque não é superficial e mantém o rigor característico da prática científica. Sendo assim, pode-se afirmar que esta é uma obra aberta,pois pode contar com a participação do leitor na construção dos enunciados. A temática ambiental envolve a possibilidade da integração entre informações reducionistas holísticas, ela não é excludente e sim integradora. No que se refere à presente obra, encontraremos desde informações sobre a biologia de uma espécie até informações sobre o processo de ocupação do território local e suas consequências ambientais. Ou, usando as palavras de Morin (2005, p.13): “a um primeiro olhar a complexidade é um tecido de constituintes heterogêneas inseparavelmente associadas: ela coloca o paradoxo do uno e do múltiplo. Num segundo momento, é um tecido de acontecimentos, ações, interações, retroações, determinações, acasos que constituem nosso mundo fenomênico”. Não apenas a concepção de meio envolvida é complexa, mas também a sua construção. A escolha das dimensões a serem abordadas foi uma tarefa difícil. Elegemos a dimensão física,

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com os dados da geografia física, da biologia, da geografia humana, e da história. A delimitação da abrangência da descrição, se local ou regional foi outra escolha difícil. Se regional, qual conceito seria adotado? O da geografia, baseado nas características geomorfológicas por bacia hidrográfica, ou o da região fitogeográfica, ou o do histórico de colonização? Qualquer uma das escolhas implicaria abrangências distintas. Devido às limitações e heterogeneidades impostas por qualquer critério, nossa abordagem se configurou nos exemplos locais. Consideramos que o que se apresenta nessa localidade não é exclusivo daqui, salvo algumas exceções. Para que a presente obra pudesse atender às reais necessidades dos professores, foi organizado um Workshop, dividido em duas etapas, que contou com a participação de professores da rede municipal, estadual e de alguns representantes do ensino privado. Na primeira etapa do workshop, houve a explanação dos objetivos do projeto. Em seguida, os professores relataram qual era a sua concepção de meio ambiente, suas dificuldades com o trabalho da temática e suas expectativas. Na segunda etapa, os professores tiveram a oportunidade de ter contato com as primeiras versões dos textos e documentários produzidos, e tecer seus comentários, suas críticas e sugestões. Para atender às expectativas e opiniões dos professores da rede pública e privada e, ao mesmo tempo atingir os objetivos estabelecidos pela equipe do projeto, estabeleceu-se um árduo exercício de diálogo e de pesquisa. Os conflitos oriundos desse procedimento conduziram a equipe a um rico exercício de interdisciplinaridade. Esse processo promoveu um crescimento de todos os envolvidos, desafiando-os a se aventurar para além do conforto e da segurança de suas áreas de atuação e pesquisa, incentivando-os na busca da construção de um saber interdisciplinar, superando barreiras epistemológicas quase que intransponíveis. Por outro lado, consideramos que mergulhamos num processo de construção que não terminou com a finalização do

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projeto. As limitações impostas por prazo de encerramento e orçamento limitado impôs uma finalização que pode ser entendida como o início de um novo projeto. Hoje, já não somos os mesmos que iniciaram o projeto, transformamos-nos à medida que o projeto se concretizava e assim enxergávamos novas possibilidades para sua execução. A consciência da complexidade que envolve a temática ambiental a partir dessa experiência é mais clara. Percebemos que existem muitas lentes pelas quais podemos olhar para o ambiente e algumas dessas visões não puderam ser contempladas. Acreditamos que a presente obra poderá contribuir tanto para os professores e alunos da rede de ensino, como para com todos que de alguma forma, trabalham ou se interessam pela temática ambiental e desejam elevar o nível de compreensão sobre nossa responsabilidade individual e coletiva. Os dois capítulos iniciais abordam as dimensões física e biológica do ambiente respectivamente, o terceiro e quarto capítulos a dimensão humana. Antecedendo aos quatro primeiros capítulos, foi organizada uma breve contextualização a qual utilizou informações dos próprios autores deste livro. Essa contextualização objetivou fornecer ao leitor, a possibilidade de ler apenas um capítulo, ou mais, sem perder as outras dimensões do ambiente contidas nesta obra. Na sequência, são apresentadas duas propostas de atividades práticas realizadas por duas professoras da rede de ensino que participaram do workshop, o qual culminou no convite aos participantes para produzirem um material a partir do contato com os textos iniciais desta obra.

Referências CARVALHO, I. C. M. Educação ambiental: a formação do sujeito ecológico. São Paulo: Cortez, 2004. LEFF, E. Epistemologia ambiental. 2 ed. São Paulo: Cortez, 2002.

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