Revista Literária Upbooks Março 2021

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VIVEMOS NUM MUNDO DOENTE A

palavra que melhor define o momento atual é hipocrisia! Pelo dicionário significa: característica do que é hipócrita; falsidade, dissimulação; ato ou efeito de fingir, de dissimular os verdadeiros sentimentos, intenções; fingimento, falsidade. Em sua raiz grega, tem os significados de interpretar usando máscara, atuar, representar um papel teatral. Uma observação atenta permite verificar a dualidade de valores, interpretações, pensamentos, sentimentos e atitudes, ainda que partam do mesmo fato, distorcido no seu entendimento e propagação ao sabor do momento, desde que com benefício, pela manobra de dissimulação, em favor de quem a faz. A sociedade (e seus vários co-sistemas como governo, iniciativa privada e terceiro setor) está doente, o ser humano está doente. Falando em gregos, aquele que é por eles considerado o pai da medicina – Hipócrates (460 a.C.-377 a.C.), procurava explicação das doenças no mundo que os cercava e não nos caprichos dos deuses, ensinando que o médico deve observar cuidadosamente o doente e registrar os sintomas da doença. Organizou uma norma que mostrava como o doente poderia ser curado, pois dizia que o poder da cura está nas mãos do doente, e não nas mãos do médico ou dos deuses. Mas, o que seria uma sociedade saudável, um ser humano saudável? A hipocrisia, a doença de nosso tempo como um todo, fica clara com dois exemplos vividos por duas pessoas comuns, no sentido

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que não são nobres nem da alta hierarquia às quais pertencem: Tom Moore, morto recentemente aos 100 anos de idade, vítima da Covid-19, capitão inglês veterano da II Guerra, que arrecadou milhões para o Sistema de Saúde britânico (público); e o padre Júlio Lancelotti quebrando pedras, colocadas pela prefeitura, para proibir o uso como abrigo, do local, por moradores de rua, com uma marreta em São Paulo (reportagem no El País online em 21/02/21). Um ancião, herói de guerra, de quem se espera sentar-se, ler um livro, tomar um chá com acompanhamentos, mas, algo mexia dentro de si impelindo-o a ser útil, a ser exemplo, a ensinar com suas voltas ao redor do jardim que, entre viver e vegetar, existe grande diferença!

“...vivemos na sociedade do comodismo, do consumismo, da transformação do ser humano em coisa. Da invisibilização do sofrimento de quem não se encaixa em algum sistema, só percebido enquanto útil na manutenção do sistema.” Impossível não fazer um paralelo com Simeão, idoso, esperando a consolação de Israel, a quem por sua fidelidade foi prometido não descansar sem antes ver o Ungido do SENHOR! (Lc. 2.25-38). Quando


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