TADZIO

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TADZIO Edição Zero - Dezembro 2018

A sua revista gay

Amor e Web

Como são os apps gay de sexo

Conversa com Mott

Como resistir a um governo intolerante?

O corpo

Fotografias de um homem dito caótico -1-

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TADZIO A sua revista gay

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TADZIO A sua revista gay

Edição Zero

Editor(es):

Erick Vinicius Felipe Bottamedi

Projeto gráfico-editorial:

Erick Vinicius Felipe Bottamedi Textos:

Erick Vinicius, Felipe Bottamedi, Matheus Moura, Jean Carlos Machado

Imagens: Erick Vinicius, Felipe Bottamedi, History Answers, Luiz Mott, Katie Albertson, Jonathan Brady / PA Images via AP, Chappy (OUT), Levi’s (loja virtual) Endereço da Redação: Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC, Campus Reitor João David Ferreira Lima, s/n - Trindade, Florianópolis - SC, CEP - 88040-900 Centro de Comunicação e Expressão, Departamento de Jornalismo, Curso de Jornalismo

Esse trabalho é experimental, sem fins lucrativos e de caráter puramente acadêmico, criado e editado pelos acadêmicos Erick Vinicius e Felipe Bottamedi como exercício de projeto gráfico-editorial para a disciplina de Laboratório de Produção Gráfica do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) no semestre 2018-2. Não será distribuído, tampouco comercializado. Seu conteúdo e suas opiniões são de inteira responsabilidade dos acadêmicos , isentando assim a UFSC e o docente da disciplina de qualquer responsabilidade legal por essa publicação.


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Beijo entre Erastes e Eromenos

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Sumário

Editorial

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Clima de final de ano, relacionamentos casuais, ideias voltadas para a situação política de 2019 e aplicativos marcam o número zero da Tadzio, uma revista gay diferente!

Entrada

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Por que não Seu João e seus dois maridos? Nossa publicação diz seu primeiro “oi” com uma provocação de Jean Carlos Machado, que escreve no blog “Sobre ela” (http://www.abouther. com).br/).

Thread

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A ascensão de aplicativos geosociais marcou transformações na forma como homossexuais se relacionam. além de ser um espaço onde conflitam diferente intenções. Por Erick Vinicius e Felipe Bottamedi.

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14 O corpo 18

Cotidiano Matheus Moura escreve sobre seus diversos companheiros de sexo casual, enquanto passa pela angústia da espera do resultado do teste de HIV.

O ensaio desse mês traz o modelo Lucas Lisboa, com fotos tiradas na cachoeira do Poção, em Florianópolis. Seus traços negros em contraste com a luz do dia é a coisa mais bonita que você verá em dezembro. Fotos por Erick Vinicius e Felipe Bottamedi.

Conversa

24 Seleção 30

Felipe Bottamedi entrevistou Luiz Mott, um dos maiores nomes do movimento gay brasileiro, sobre o nosso presente e as perspectivas diante do próximo governo.

Trazemos uma lista com seis ideias para presentear aquele amigo homossexual exigente. Pode ser arte, moda ou sexo: nossa lista atende a todos os gostos!

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Editorial

Caro leitor, você tem em mãos o número zero da revista Tadzio! Nossa publicação nasce de dois impulsos. O primeiro é atender uma exigência: conceber uma revista, desde a ideia até o produto bruto. Somos alunos do Laboratório de Produção Gráfica, uma matéria do curso de jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina. Ministrada pelo professor Ildo Francisco Golfetto, ela tem como trabalho final esta revista. A segunda intenção que permeia este esforço é desenvolver uma revista gay. Mas não só. Queremos ter a proeza de fazer jus a uma comunidade tem um cultura com enraizada força de existir, mesmo diante de toda proibição; e que encontra suas particularidades no amor construído exclusivamente por dois homens. Ou três, ou quantos quiser, como nos diz Jean Carlos Machado, em seu texto Nós Três. O uso de aplicativos como o Grindr™ se tornou uma das principais formas de conhecer companheiros. Mas seu uso divide opiniões. Na reportagem Vontades e Interesses trazemos a forma como a virtualidade vem transformando as relações que construímos. Na entrevista com Luiz Mott, discutimos um pouco os dilemas que encontramos com a ascensão de um dos governos mais homofóbicos de nossa história. Temos também fotos de Lucas Lisboas, um conto sobre um homem na angústia da espera do resultado do teste de HIV e uma lista fantástica sobre presentes para as festividades de final de ano, que estão chegando. Uma ótima leitura! Editores: Erick Vinicius e Felipe Bottamedi

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Entrada

Nós

Três

É possível amar duas pessoas simultaneamente? Refiro-me ao amor romântico. Bem, se me perguntassem isso há algum tempo atrás, eu diria que não; que isso é algo impossível de acontecer. Inaceitável. Porém agora, agora que estou nessa situação, vejo que sim, é possível. Talvez meu coração seja grande demais e precise de mais pessoas para distribuir amor. Talvez eu esteja confusa. Talvez seja minha enorme carência; Ainda não sei ao certo o que é; tudo que sei é que sim, é amor. Amo dois. O amor que sinto por eles é puro, sincero. Foge de qualquer malícia e vai muito além de sexo ou carícias. É um amor tão leve quanto uma pena, tão quente como o sol e tão cristalino como cristal. Eles complementam um ao outro, enquanto, ao mesmo tempo, me completam. É como um coração divido em três partes ao invés de apenas duas. Seria impossível para mim não amar ambos. Um é meu Norte, Sul e o outro meu Leste, Oeste; Um me faz sentir-se nas nuvens e o outro me faz sentir-se com os pés no chão; Um é meu sol quente nos dias frios de inverno e o outro minha brisa fresca nas tardes quentes de verão. Meu coração é tão inconsequente, amou ambos igualmente e agora quem sofre sou eu. “Não é possível amar dois”, isso é o que me dizem, mas se soubessem Texto por: como me sinto não iriam julgar. Se as pessoas não conseguem aceitar minha maJean Carlos neira de amar, talvez nem sequer saibam o que é amor. Machado

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Reprodução: Javier Zarracina (Vox)

VONTADES &

INTERESSES

Aplicativos se tornam um dos principais meios para viabilizar o sexo entre homens - 10 -

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Reprodução: Katie Albertson

É 2006, ele caminha até o hipermercado do centro da cidade. Ao entrar no banheiro do primeiro andar, por sorte, se depara com um homem no mictório que não está ali para urinar. Fixa as pupilas nele e recebe um olhar de volta. Os olhos por cima encaram o órgão sexual do outro. Eles se tocam. Entram na cabine do vaso sanitário, e mesmo com todo o desconforto e o mau cheiro de descargas não puxadas, tiram a roupa e consumam o ato. Já foi sorte o bastante se encontrarem. Voltam para casa, envergonhados ou satisfeitos. Mas pelo menos sem a Texto por: frustração de ter suas Erick Vinicius e intenções fracassadas e o Felipe tempo perdido. Para hoBottamedi mossexuais que não queriam se expor em meios Orientação: gays, frequentar banheirões era um das poucas Melina Ayres formas de conseguir sexo casual. Imagem: Hoje, através de um celular, homens Getty Image, assumidamente gays ou que vivem no sigilo da Vox sua sexualidade podem marcar encontros entre

si. É possível baixar aplicativos que apresentam possibilidades de sexo, como um grande catálogo, onde nem sempre é necessário se identificar ou criar qualquer vínculo além do sexo casual. Perfis ordenados pela distância e filtrados por preferência, seja pela aparência ou posição sexual. Com o avanço da tecnologia, o sexo sem compromisso nunca foi tão fácil. Dos 15 anos, quando experimentou o sexo pela primeira vez, até seus atuais 21 anos, Matheus Silva conheceu todos os homens com quem dormiu pelos apps. No seu primeiro ano do ensino médio, optou pelos aplicativos por não saber lidar com a própria timidez e as inseguranças com o corpo, que o barrava na construção de laços no “mundo real”. Desde então, toda a sua vida sexual têm sido concretizada por intermédio dos smartphones. “[Nos aplicativos] quem é tímido tem mais coragem de chegar nas pessoas. Para quem tem preguiça de

É possível baixar aplicativos que apresentam possibilidades de sexo, como um grande catálogo, onde nem sempre é necessário se identificar ou criar qualquer vínculo além do sexo casual.

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passar por toda uma etapa para conhecer alguém, de descobrir o que ela gosta, você entra num perfil e já está dizendo tudo” ele afirma, convicto. Entre sexo com penetração, apenas oral, mão amiga e os demais pequenos atos, tem dificuldade de contabilizar quantos casos já viveu. Motivado por necessidades físicas, solidão ou tédio, ele busca no meio dos perfis saciar seus desejos imediatos.

Com a expansão da sociedade consumista, os corpos também se submetem à lógica do mercado, “as pessoas passam a lidar com as estruturas do corpo de outra forma. E os aplicativos reafirmam: eu pego um corpo e cuspo”

que alguém se encontra. Filtros dividem esse universo em tribos (os gordos, magros, mais velhos, barbies, etc.) e idade, além de possibilidades pagas: aumentar o alcance, número de perfis visíveis e utilizar filtros mais específicos, a depender do aplicativo. Conhecer pessoas mais velhas é um dos Ainda menor de idade, Matheus teve motivos de Cássio Bauer, de 19 anos, que através sua primeira experiência sexual via app, com dos filtros consegue evitar as pessoas da sua um homem trinta anos mais velho. Apesar da idade, com quem diz não se identificar. Usa o exigência da maioridade para qualquer um Grindr o dia inteiro. Pela manhã durante a aula, desses aplicativos, a criação de um perfil requer à tarde no trabalho e à noite, jogado na cama do somente email e senha. O usuário tem liberdaseu quarto. Costuma ir, entre conversas e enconde para adicionar as informações que considerar tros, atè às 2h da manhã. Para depois acordar no relevantes e atraentes para os seus futuros parceiros, dia seguinte às 7h e repetir todo o ciclo. sem nenhuma verificação dos dados inseridos. A voz lenta, o olhar cabisbaixo e os gestos bem Usa o Grindr, que junto ao Hornet e o relutantes marcam sua personalidade tímida, encontranScruff são os três grandes nomes no ramo dos do no app um meio seguro para não ter que enfrentar aplicativos voltados aos relacionamentos hoas tensões de interagir pessoalmente. Longe da busca mossexuais no Brasil. Todos de uso gratuito. Ao apenas por sexo, Cássio utiliza os aplicativos como forma abrir qualquer um deles, surge uma lista de, em para fazer novos contatos, mas se frustra no desencontro torno, cinquenta perfis, ordenados dos usuários de interesses com os outros usuários. “Queria conversar mais e o pessoal só quer saber de foder”. mais próximos aos mais distantes do local em

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donado o emprego para acompanhar o ex companheiro no seu doutorado na França. Ao chegar no exterior descobriu que o coração do esposo já não era mais seu, “ele estava apaixonado por outra pessoa, e aí eu voltei, com uma mão na frente outra atrás e sem amor”. O anseio para conhecer novas pessoas e transpor o abandono foi o motor da sua entrada para o mundo dos dates via aplicativos. O segredo para a sua boa experiência reside na sua facilidade de negociar e deixar claro o que se pretende, “se eu entrava no aplicativo com necessidades única e exclusivamente fisiológicas era essa a negociação que eu tinha com outros sujeitos. Se eu queria bater papo, era diferente. Se eu queria tomar um café, ou… era outra lógica”. Com o desejo único de sexo casual, Marcelo, de 20 anos, instalou o Grindr ao mesmo tempo da apuração desta reportagem. Reprodução: Jonathan Brady / PA Images via AP Acompanhamos suas conversas, e conversamos sobre as suas experiências numa cidade do litoral catarinense por, em torno, de 24 horas. Nesse De acordo com ele, existe uma valorização de corpos sarados que o incomoda, tempo, teve três encontros. Mesmo com um perjustamente por possuir corpo baixo e franzino. fil sem foto e quase sem informações, apareceu “Querendo ou não acaba mexendo com a minha um usuário que o contatou: autoestima, porque eu não to dentro de nenhum — Oi — disse, acompanhado de uma foto do padrão”. Mais do que determinarem novas formas de socialização, os aplicativos refletem corpo nu. muitos dos valores da sociedade que se insere. — Oi — respondi. — Fotos ? ? Com a expansão da sociedade consumista, os corpos também se submetem à lógica do mercaEle atendeu ao pedido, e mandou sua do, “as pessoas passam a lidar com as estruturas do corpo de outra forma. E os aplicativos reafir- foto. As conversas geralmente seguiam esse pamam: eu pego um corpo e cuspo” reflete Rafael drão com quase todo mundo: se a pessoa gosSaldanha, doutor especialista em estudos sobre a tasse da aparência dele, continuaria a conversa, relação entre homossexualidade e tecnologia, “aí se não, não responderia ou mesmo bloquearia que se tornou a prática de não ter paciência com (o que faz a conversa e o perfil do outro sumir). o outro e não tolerar as diferenças”. Os objetivos são sempre evidentes. Ferramentas O que não impede de ser uma ferramenta dentro do aplicativo, como o tap, no caso do Grindr, são utilizadas para sinalizar interesse para formar relações duradouras. Em torno de 15 amigos e o atual marido fazem parte da soma de entre um usuário e outro. Ao clicar no ícone, pessoas que Rafael, de 38 anos que além de pesqui- um símbolo de fogo é destacado, e o perfil do sador é também usuário, formou pelos apps. Sua usuário destinatário fica visível para o remetente, deixando óbvio o interesse. experiência começou em 2012, depois ter aban-

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Marcou seu primeiro encontro às 19 horas, no limite da cidade com a BR 101. Chegou um pouco atrasado de ônibus, e com o coração disparado com a ideia de pisar na casa de alguém que nem conhecia. Quando o viu, perto do ponto de ônibus, percebeu que a sua aparência era distante daquela que se mostrava no perfil. A pele que cobria seu rosto estava degradada, e como comprovou depois, sua foto datava de dois anos antes, anterior a um acidente que acabou com sua face. Apesar de tudo, seguiu em frente.

“É uma forma de ampliar o armário, mas não necessariamente sair dele. [...]Porque os apps são um espaço de sigilo, mas ao mesmo tempo podem não ser” Em menos de 24 horas, às 18h do dia seguinte, já se dirigia para o apartamento do segundo encontro. Seu nome era Carlos. Sua foto era um peitoral e seu nickname era acompanhado da palavra “sigilo”. Ninguém podia saber que ele gostava de ter sexo com outros caras. No seu prédio se dirigiram para o salão de festa, onde transaram no banheiro, porque seus pais estavam em casa. “Sua voz doce criava um contraste estranho com seus quase dois metros de altura”, contou Marcelo, e quando terminaram ele teve que sair sozinho, para não dar sinais daquilo que o outro homem queria esconder. A rotina de Carlos, de 35 anos, era dar aulas de Educação Física, frequentar a acade-

mia e passar o tempo com os pais. Perguntou a Marcelo se a família e amigos sabiam da sua sexualidade. Respondeu que sim, e perguntou o mesmo, tendo como uma resposta uma mexida de cabeça em sinal negativo. É através dos aplicativos que consegue o calor do corpo de um outro homem, sem precisar encarar o preconceito de uma sociedade proibitiva que ele teme. A forma como ele se relacionava simboliza um processo em que a internet acabou por facilitar relações sexuais sem sua exposição no espaço público. Inúmeros homossexuais não tem mais que viver com a depressão e as angústias da vida solitária, mas continuam vivendo de forma mais confortável nos seus armários, ainda que na possibilidade de serem descobertos. “É uma forma de ampliar o armário, mas não necessariamente sair dele. E é por isso que os sujeitos que usam o aplicativo entram em conflito direto. Porque os apps são um espaço de sigilo, mas ao mesmo tempo podem não ser”, destaca Rafael Saldanha, doutor, que estuda as relações entre a homossexualidade e a tecnologia. As interações nesses ambientes não se limitam à esfera sexual, apesar de ser esta o enfoque. Há quem prefira denominar estes espaços como “homossociais”, pois as pessoas os usam para os mais diferentes fins que envolvam a relações entre homossexuais. Tem aqueles que buscam companhia para viajar, companheiro de apartamento, guia turístico, ou até um outro homem para conversar. Das experiências mais inusitadas que Rafael vivenciou, destaca uma vez que passou a tarde inteira conversando com um outro homem unicamente com a intenção de convencê-lo a não cometer suicídio. Contra toda a polarização que existe em torno do uso da virtualidade, ele coloca que os apps são um mundo de potencialidades: “As vezes eu vejo que existe uma certa demonização desses espaços que me incomoda. São tão bons e ruins como qualquer outro espaço”.

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Saiba mais

MINUTOS POR USUÁRIO ATIVO

SESSÕES POR USUÁRIO ATIVOS

GRINDR

GRINDR

BADOO

BADOO

TINDER

TINDER

PLENTY OF FISH

PLENTY OF FISH

OKCUPID

OKCUPID

LOVOO

LOVOO

TANTAN

TANTAN

IPAIR

IPAIR

HAPPN

HAPPN

PAKTOR

PAKTOR

BUMBLE

BUMBLE

Reprodução: 7park

Segundo pesquisa da empresa 7Park Data, usuários do Grindr gastam uma média de 165 minutos, ou 2,75 horas, por semana, com os usuários gastando em média 68 minutos. e 55 minutos por semana usando esses aplicativos, respectivamente.

O 7Park Data utiliza dados de usuários móveis anônimos de dispositivos smartphone Android durante os anos 2015 e 2016 em 16 países, incluindo Argentina, Austrália, Brasil, Canadá, China, França, Taiwan, Reino Unido e Estados Unidos.

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Cotidiano

Polytès, filho de Príamo, observando os movimentos dos gregos (1833-34)

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Sexo enlatado COTIDIANO

Ato de transar com pessoas pelo simples contato humano. Não há sentimentos a não ser o tesão. É fácil, rápido e sem gosto.

Texto por: Matheus Moura Edição: Felipe Bottamedi Imagem: Domínio público

Está escuro no meu quarto e eu não escuto nada além do barulho do vento. Por mais que o silêncio abrace a madrugada, minha cabeça permanece a mil. Penso em uma série de coisas: como vou reagir se der positivo, quais são as chances de que isso aconteça e principalmente: por que preciso fazê-lo. Amanhã é o grande dia do exame. A ansiedade me corrói. Ok, é difícil descrever em palavras, mas sei que posso tentar: o gatilho desse sentimento é pensar na possibilidade de aparecer dois risquinhos ao invés de um. Geralmente a minha barriga costuma “reclamar” depois que esses pensamentos surgem. A respiração forte costuma se tornar rápida e superficial. A minha visão, que é sempre focada e atenta, parece se perder junto com os pensamentos. Não, não estou falando de gravidez. Estou falando do outro exame. Aquele cujo as pessoas como eu, gays, costumam se preocupar um pouco mais do que os héteros. É quando vou ao médico pra saber se tenho HIV. Tive inúmeras relações sexuais com muitas pessoas desde os dezessete anos e já fiz este exame outras vezes. Em todas elas eu prometi que seria a última vez que faria, mas sempre acabo demonstrando o contrário para

mim mesmo. O fato é que acabo escorregando uma hora ou outra. Quando isso acontece, eu paro de transar, fico só na punheta e espero dar o tempo certo pra correr até um postinho de saúde fazer uma consulta. Mas sabe o que é uma merda nisso tudo? Precisar lidar com a disponibilidade de horários. Nem toda cidade consegue fazer esse exame a hora que bem entende. É frustrante. Fica difícil deixar o nervosismo reservado apenas para o grande dia se precisarmos marcá-lo para daqui um mês e meio. Quando chega a ocasião, você para na recepção e fala o que está fazendo alí. É bem provável que algum paciente que está na fila de espera, para qualquer outra coisa aceitável, te olhe com curiosidade (e às vezes desprezo). Você espera até que alguém lhe chame. Talvez, se tiver sorte e se lembrar, levará seu fone de ouvido pra passar o tempo, mas se não tiver, quem sabe você consiga fazer amizade com algum tagarela desses que amam conversar com desconhecidos em filas demoradas. Ao ser chamado você entra numa sala e se senta. Estica o braço e espera que façam um furo no seu dedo e vê escorrer aquele líquido vermelho grosso que contém toda a in-

Aquele cujo as pessoas como eu, gays, costumam se preocupar um pouco mais do que os héteros. É quando vou ao médico pra saber se tenho HIV.

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formação que precisam. Provavelmente você vai estar tentando agir com naturalidade, embora existam um bilhão de coisas passando pela sua cabeça, enquanto espera que os pequenos aparelhinhos brancos, cujo o seu sangue está depositado, lhe entreguem alguma resposta. Começa o interrogatório: você se relaciona com homens ou mulheres? Os dois, quem sabe? Costuma fazer sexo desprotegido? Faz uso de substâncias químicas? Sabe como se transmite HIV? E sífilis? Perguntas que já me acostumei a responder. Qualquer, e eu repito novamente, qualquer pessoa que queira saber seu status sorológico precisa passar por esses nervosismos. Infelizmente sofro com um severo transtorno de ansiedade, é sempre um pouco pior. O exame passa a se tornar um medo: parece ter o poder

A verdade, difícil de ser assumida, é que da última vez que transei, pensei que justamente ele, que não é assumido e tem namorada, estava apaixonado por mim. Às vezes queremos viver nossa própria comédia romântica e tudo o que conseguimos é um filme de terror barato. Sou um rapaz gay, desses que tem Tinder, Hornet, Grindr e às vezes até o Scruff. O conheci em um desses aplicativos. No seu perfil não tinha nome nem foto de rosto. O que eu sabia era que tinha um pau enorme, um corpo definido e sua preferência em ser ativo. Saímos umas dez vezes até que, por descuido, ele me comeu sem camisinha e gozou dentro. Pra mim, que sabia do meu status sorológico até o momento, estava tranquilo, mas pra ele foi um pesadelo.

O sexo casual não é gostoso sempre. [...] É tipo comer comida enlatada. A gente enjoa uma hora outra, mas, na falta de algo melhor, sempre vem a calhar. de definir o meu futuro, mesmo que não seja mais tão grave como foi em outras épocas. Mas é como um peso. Que não faz eu esquecer a inconsequência do meu próprio descuido. Aqui, deitado no escuro do meu quarto, olho pro teto e penso como gostaria de mudar o passado. Mas é claro que é fácil falar agora. Estou sofrendo com esse transtorno que me faz pensar num amanhã que de forma alguma se apressa para me satisfazer. A verdade dolorosa e incômoda (que às vezes ignoro) sempre aparece. Se, de fato, eu pudesse mudar o passado, provavelmente não o faria. Nos tornamos refém das memórias. Tentamos avaliar as chances de ter contraído alguma IST (Infecção Sexualmente Transmissível) como se fosse possível prever. Muito tempo se torna sinônimo de muita preocupação e tento desviar o rumo dos meus pensamentos e refletir sobre os motivos que me levam a precisar realizar o exame.

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Assim que gozou disse que não poderíamos mais nos ver, que era errado e que não queria magoar sua namorada. Um fofo! Pela primeira vez, depois de nove vezes, ele decidiu ter consciência e pensar na namorada dele. Sim, pra ele chegamos longe demais, mas estão enganados se pensam que o motivo é o namoro que ele finge respeitar. Para eles, homossexuais são um “poço de DST’s” e é por esse motivo que preferem comer com camisinha. E eu, particularmente, tô tentando ignorar quem curte bareback - sexo desprotegido com desconhecidos ou não. É claro que errei ao sair com alguém cujo o status de relacionamento provavelmente estava como “sério” no Facebook. Aí entra a ansiedade novamente: se errei, existe alguma chance de ser “punido” por isso? É cruel deixar que a mente da gente esqueça das coisas mais básicas: não, ter alguma IST não é uma punição. Tem mais a ver com probabilidade e sorte. Você

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COTIDIANO

Por que? O que faz com que o desejo seja mais forte do que a razão? Eu ainda não sei, mas tento buscar essa resposta vasculhando o meu histórico sexual. Como dito anteriormente, sou um rapaz de aplicativos. Neles o sexo casual reina. Porém, o que preencheu no fim das contas? Qual é o verdadeiro buraco que tentei tapar com um pau ou vários? O que o faz ser tão irresistível até o ponto em que esqueci de ser prudente? Só consigo pensar em uma resposta: a facilidade. Nesses lugares virtuais não precisamos de muito tempo até achar alguém procurando por sexo. Existe um cardápio de pessoas disponíveis. Cada uma com a sua história, cada uma carregando marcas da vida que lhe induzem procurar por uma relação fácil e Com o avanço dos tratamentos superficial. Quase sempre fogem dos sentimenmedicinais, as pessoas acreditam que podem tos intensos, já que esses costumam ser mais esbanjar relações sexuais desprotegidas. Se há complicados de se lidar. cura para sífilis, por exemplo, por que se pre- O sexo casual não é gostoso sempre. ocupar com ela? Simples! (até então). BactéPra mim, na verdade, já deixou de ser ótimo a rias são mais inteligentes do que parecem: elas muito tempo. Mas se tornou cômodo. É tipo aprendem a se defender, se tornam cada vez comer comida enlatada. A gente enjoa uma mais resistentes aos antibióticos e desarmam hora outra, mas, na falta de algo melhor, semnossas possibilidades de cura. Mesmo assim pre vem a calhar. preferimos arriscar. pode transar quinze vezes e não contrair nada, assim como pode transar uma única vez e adquirir duas infecções diferentes. Talvez mais. Daí a importância de se prevenir! Mas, mesmo assim, não nos previnimos. Se formos mais a fundo, talvez encontremos a raíz do problema… Existe uma falta de responsabilidade nossa com o sexo.

É tipo comer comida enlatada. A gente enjoa uma hora outra, mas, na falta de algo melhor, sempre vem a calhar.

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O corpo

SIGNO DO CAOS Fotos: Erick Vinicius e Felipe Bottamedi

Foi apenas quando subiu as pedras e chegou no meio do verde que Lucas Lisboa se sentiu plenamente confortável para expor seu corpo, e lidar com a ideia de ver sua própria imagem. Nos seus 21 anos sempre foi tomado por um furor que entrelaça tudo que é emoção extremada: uma ira intensa, bondade ou expansividade festiva. As imagens, entretanto, nada expressam dessa característica. Seu olhar é tão camaleônico que se afoga na ambiguidade: as vezes reflete uma melancolia sensual, mas em outras é só um forte branco que entrecorta a escuridão, e nada sobra senão o mistério. Como aquele que evocado pelo infinito das matas.

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O CORPO

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O CORPO

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O CORPO

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Conversa

Nosso passado Nosso futuro Há quase 40 anos, Luiz Mott fundava o Grupo Gay da Bahia, que é hoje uma das mais importantes e a mais antiga associação na luta dos direitos da comunidade homossexual, responsável pelo principal banco de dados do mundo sobre assassinatos e suicídios de LGBT no Brasil. Nessas quase quatro décadas viu o fim da ditadura militar, o início das eleições diretas, a Constituição de 88, a ascensão e queda dos governos petistas como e a eleição que elegou Jair Bolsonaro.

Outubro, eleições. Casos de violência contra gays foram crescentes, o resultado das urnas empoderou a intolerância. Fomos atrás de Mott pra saber como reagir

Além de militante, Mott é doutor em Antropologia pela Unicamp, mestre em Etnologia pela Sorbonne, professor titular aposentado do departamento de Antropologia da Universidade Federal da Bahia e decano do movimento gay brasileiro. Conversamos sobre as mudanças na condição do homossexual, as conquistas do nosso movimento e como lidar com o que vem pela frente.

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Entrevista por: Felipe Bottamedi Imagens: Arquivo pessoal


CONVERSA

Em uma entrevista para o Passageiro do Mundo, você comentou que no início da sua militância as principais bandeiras eram sair do armário e combater a homofobia da imprensa. Quais são as principais bandeiras de hoje? Quando eu fundei o Grupo Gay da Bahia (GGB), em 1980, o movimento homossexual brasileiro dava seus primeiros passos. O GGB considerou que a prioridade era desclassificar o homossexualismo como desvio e transtorno sexual, como definia o INAMPS (o nosso INSS) através do código internacional de doenças ou a Organização Mundial da Saúde. E nós conseguimos através de uma campanha muito bem articulada: obtivemos mais de 16 mil assinaturas e o apoio de deputados, políticos, artistas e cientistas.

viado, sapatão, traveco). Conseguimos que o Conselho Federal dos Jornalistas proibissem discriminar por orientação sexual e sempre enviamos cartas pros jornais protestando, exigindo que tratassem de assuntos de interesse a comunidade LGBT, que não divulgassem expressões preconceituosas e etc. E quais são as principais bandeiras de hoje? A prioridade do movimento nos últimos anos é, primeiro, a aprovação de leis que equiparem a homofobia ao crime de racismo. Que qualquer discriminação, insulto, agressão aos LGBTs sejam punidas, ilicitos, com a mesma severidade da lei do racismo: um crime hediondo e inafiançável. Por que [julgar] insulto a um gay depende da boa vontade de um delegado ou de um juiz? Enquanto se você insultar um negro é preso imediatamente. Exigimos direitos iguais, nem menos nem mais.

E dá razão [...] a um slogan muito repetido no movimento gay internacional: somos milhões, estamos por toda a parte e o futuro é nosso.

Nesses quase quarenta anos de militância, quais transformações percebe na situação do homem gay aqui no Brasil? Felizmente a história não para. E dá razão a uma expressão, a um slogan muito repetido no movimento gay internacional: somos milhões, estamos por toda a parte e o futuro é nosso. Infelizmente, apesar de toda a luta do movimento, denúncias e de boa vontade de alguns governantes, centros de referência, conselhos LGBTs municipais e estaduais que foram criados, gays continuam morrendo, ou assassinados ou vítimas de HIV/AIDS. Enquanto que entre a população em geral, um homem heterossexual, corre 1,6% de risco de estar contaminado pelo HIV, entre os homens gays isso sobe para 12%. Não conseguimos garantir nossa sobrevivência no que é de mais importante: a saúde e não ser assassinado. Agora, houve progressos substantivos. Primeiro que, embora a constituinte de 1988 não autorizou a inclusão na constituição cidadã de um quesito que pleiteamos: a proibição

Finalmente em 1985 o homossexualismo passou a ser homossexualidade, ou seja, uma orientação sexual tão natural, legal e saudável quanto a heterossexualidade e a bissexualidade. De fato, outra prioridade do movimento LGBT brasileiro, nos seus primórdios, foi ter mais visibilidade. Até hoje as lésbicas comemoram o dia da visibilidade lésbica e as travestis também. Daí nós achamos que era importante estimular as pessoas a saírem do armário, a se afirmarem enquanto gays, lésbicas e etc. e, sobretudo, denunciar quando vítimas de qualquer preconceito ou discriminação. A imprensa era outro problema sério, porque usavam termos extremamente preconceituosos (bicha,

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Reprodução: Arquivo pessoal

Reprodução: Arquivo pessoal

Eu tenho esperança, se aparecer qualquer tipo de retrocesso governamental, nós estaremos alertas e resistentes para impedir perdermos os nossos direitos. Direitos iguais, nem menos, nem mais

de discriminação por orientação sexual, isso não foi aprovado, não obstante em 72 municípios como em três constituições estaduais foi aprovado, ainda nos anos 90, a proibição de discriminar por orientação sexual. Foi um progresso significativo. Um levantamento sobre legislação e normas voltadas para a população LGBT e conseguiu localizar 820 normas e leis dirigidas para nosso seguimento. Sobretudo, ligados ao nome social, à criação de centros de referências, coordenadorias e outras medidas que podem ser encontradas na internet. Fernando Henrique Cardoso (FHC) foi o primeiro presidente da república que pronunciou a palavra homossexual, em 2000, e foi a favor do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Depois, já nos anos 2000 o Lula aprovou o programa “Brasil sem homofobia”, e decretou o dia 17 de maio como o dia nacional contra a homofobia. E em 2002 o casamento homoafetivo, inicialmente projeto da deputada Marta Suplicy, da união estável entre pessoas do mesmo sexo foi evoluindo para parceria civil até chegar, finalmente, a obrigatoriedade dos cartórios de registrar como casamento igualitário. Tivemos vitórias, embora não tanto quanto os países mais civilizados, inclusive alguns vizinhos da América Latina, mas inegavelmente o futuro está mostrando que está do nosso lado.

Como você vê a ascensão de uma direita conservadora e intolerante ao poder? A homofobia tem raízes históricas e culturais muito profundas na cultura brasileira. O Brasil seguindo a mesma legislação civil e religiosa de Portugal considerava a sodomia, homossexualidade, como um crime equiparado ao regicídio (assassinato de rei ou rainha) ou a traição nacional, e os capitães mores, logo no início da colonização do Brasil, tinham autorização para executar os sodomitas sem mesmo consultar o rei. É comum se ouvir de norte ao sul do país a expressão: “Viado tem mais é que morrer.” Ou

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então “Prefiro um filho morto do que viado.” O próprio Bolsonaro disse que prefere ter um filho morto em um acidente de automóvel do que aparecer em casa com um bigodudo do lado. Portanto, a homofobia existia antes da ditadura militar, permaneceu durante o regime ditatorial e persiste em nos nossos dias, a ponto da ex-presidente da República, Dilma ter dito que não faria propaganda de opção sexual, expressão que ela mesma usou. Vetou o kit anti homofobia produzido pela ABGLT (Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Intersexos), gastando dois milhões do Ministério da Educação. Nas últimas eleições Haddad, que foi um dos que assumiu ter vetado o kit, negou sua existência. Na verdade aquele livreto mostrado por Bolsonaro não existia, mas está lá nos porões do ministério da educação uma série de folhetos, vídeos, livretos e cartilhas destinados a mais de cinco milhões de estudantes que deveriam ser capacitados contra a homofobia e que não foram distribuídos. Isso eu considero o maior atentado contra o movimento LGBT no Brasil, a proibição de um material que era a menina dos olhos do movimento. A ABGLT investiu muito tempo e dinheiro nisso, e até hoje [o esforço foi] sem efeito, o material foi empastelado nos porões,

isso por pressão dos evangélicos para proteger o palote contra denúncias, e finalmente palotes a preço. De modo que o discurso ultrahomofóbico de Bolsonaro é assustador. Ele revelou nos últimos quase 30 anos ser um homofóbico radical de carteirinha. Tanto que, embora eu continue a ser um antipetista assumido, pelos

Nós consideramos que essa naturalização do medo, do pânico, em relação a essa mudança não é producente. Pelo contrário, o pânico imobiliza, paralisa as pessoas. desmandos, pelas mentiras capitaneadas por Lula, Dilma e pelos 12 milhões de desempregados deixados pela presidenta Dilma, não obstante eu apoiei Haddad, dizendo que ele era a salvação da pátria frente ao risco da barbárie representado por Bolsonaro.

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Muitos movimentos aconselharam homens homossexuais a se casarem antes da virada do ano, apreensivos com a perda deste direito. Existe um risco real? Como podemos resistir?

Porém, desde que foi eleito, Jair, tanto quanto seu vice presidente, fizeram declarações que nós podemos cobrar deles. Dizendo que a Constituição vai ser o norte do governo, chegou a dizer que crimes de ódio contra homossexuais devem ser agravados, aumentado a pena. O Moro falou que, como ministro da justiça, não permitirá qualquer crime de ódio contra as minorias sociais, o ministro do STF, Moraes, também disse, assim como o Luiz Roberto Barroso, do STF, disse que o Supremo impedirá qualquer tipo de retrocesso contra os direitos dos homossexuais, a OAB idem, de modo que, eu tenho esperança, se aparecer qualquer tipo de retrocesso governamental, nós estaremos alertas e resistentes para impedir perdemos os nossos direitos. Direitos iguais, nem menos, nem mais

A proposta da desembargadora Maria Berenice do Rio Grande do Sul, grande amiga e aliada do movimento LGBT, sugeriu que os casais que quisessem oficializar o casamento o fizessem logo antes da posse de Bolsonaro porque ela temia que houvesse um retrocesso já que não é lei federal, mas são decisões judiciais. Eu imediatamente protestei junto a doutora Berenice dizendo que, invés de ser pitonisa do apocalipse, que ela apresentasse sugestões práticas e estratégias de como enfrentar um eventual retrocesso no que se refere aos direitos de jurisprudência consagrados em relação ao casamento entre pessoas do mesmo sexo. Saiu recentemente uma excelente matéria no Correio da Bahia em que outras personalidades da militância LGBT assumem a mesma posição minha, ou seja, o coordenador do Núcleo LGBT da OAB da Bahia, Felipe Bertoleto o presidente do Grupo Gay da Bahia, Marcelo Cerqueira e outras pessoas mais, como o professor Alípeo, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, diretor da revista Bargoa, a principal publicação gay brasileira. Pois bem, nós consideramos que essa naturalização do medo, do pânico, em relação a essa mudança não é producente. Pelo contrário, o pânico imobiliza, paralisa as pessoas. Então, nós, como o próprio ministro Barroso externou, o Supremo Tribunal Federal estará atento para que os direitos garantidos e conferidos às minorias sociais não sejam alterados.

A prioridade do movimento nos últimos anos é, primeiro, a aprovação de leis que equiparem a homofobia ao crime de racismo. Que qualquer discriminação, insulto, agressão aos LGBTs sejam punidas, ilicitos, com a mesma severidade da lei do racismo: um crime hediondo e inafiançável.

Dessa trajetória de militância, que lições pode passar para nos manter forte e preservar nossa saúde mental, diante dos quadros crescentes de agressão aos homossexuais? O importante é que, logo que ele assumir o poder oficialmente, a partir de janeiro

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Saiba mais

de 2019, se houver manifestações individuais de violência, de ameaças, de agressões contra as populações minoritárias (mulheres, negros, indios, LGBTs) que nos mobilizemos todos. Para exigir do poder constituído, do Supremo Tribunal Federal, da secretaria e de ministérios de Direitos Humanos e Segurança Pública, que garantam a nossa segurança, e que ele próprio, o Bolsonaro, que já disse que não controla o que as pessoas fazem, que ele se manifeste. Claramente, repetindo, que violência, crimes contra homossexuais devem ser agravados, devem ter penas aumentadas. Exigimos que nossos aliados no Congresso, Jean Wyllis, o senador do Espirito Santo, gay assumido, o governador do Rio Grande do Sul, gay, e outros mais, lésbicas e travestis que foram eleitas também, que sejam porta-vozes mais corajosos, mais barulhentos nos seus parlamentos, para que essa frente parlamentar LGBT que já foi fundada e refundada não sei quantas vezes, que ela seja um fator de pressão para evitar repressão e para garantir a expansão dos nossos direitos constitucionais. Aqui nunca houve, depois de nosso primeiro código penal, uma lei que condenasse a sodomia como acontecia durante a colônia ou até o fim da inquisição, em 1821. Embora nossa homofobia cultural seja mais mortífera do que a observada na Rússia, é porque em parte nós vivemos em guerra no Brasil, 60 mil mortes/homicídios por ano, isso não acontece em país nenhum, nem na União Soviética, nem em Cuba, etc. de modo que eu espero que essas novas declarações do presidente eleito dizendo que vai garantir a constituição e vai agravar as penas contra os crimes de ódio, que isso se torne realidade, e depende de nós cobrá-los.

O GGB declara ter três objetivos: 1.Lutar contra a homofobia (e a transfobia), denunciando toda e qualquer forma de preconceito contra gays, lésbicas, travestis, etc. 2.Informar sobre a homossexualidade e trabalhar para a prevenção do HIV e da AIDS junto à comunidade LGBT. 3.Conscientizar os homossexuais acerca de seus direitos para que estes possam lutar por sua cidadania, dando cumprimento ao

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Seleção

Presentes

para hitar no final do ano Seja o amigo secreto da firma ou mesmo o Natal em amigos, nesse final de ano não são raros os momentos que temos que expressar toda a importância de alguém comprando com um presente. Para evitar produtos totalmente impessoais e com cara de desespero, como cuecas ou camisetas básicas, montamos uma lista com cinco ideias que não vai deixar nenhum gay desanimado. Imagens reprodução: Solar Flair Designs

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SELEÇÃO

Bloom Album

Romances por aplicativos, descobertas sexuais e términos marcam o novo trabalho de Troye Sivan. Suas nuances eletrônicas transportam o ouvinte para madrugadas de sexta, em grandes cidades, serenas, dançantes e onde se explodem emoções. Um grande salto na carreira do jovem símbolo da cultura twink. Destaque para a música Bloom, grande poesia sobre o ato de se entregar para um outro, através do cu.

Faixa: 20R$ a 30R$

Jaqueta Jeans Desde de Castro, bairro gay San Francisco, esse outfit virou um dos principais símbolos da cultura homossexual. Independente da tonalidade, ou se é muito justinho ou largadão: essa roupa cai sempre bem, dando um tom despojado, ao mesmo tempo que incrementa a aparência de poder.

Faixa: 150 a 500R$

120 BPM DVD

A luta contra a AIDS foi uma bandeira preponderante do movimento gay no final da década de 80. O filme conta as ações do grupo Act Up, que invadia comíssios federais e exigia respostas e ações contra a doença que matou tantos daquela geração. A trilha sonora traz clássicos das baladas dos anos 80, que envolvem relacionamentos marcados pelo medo do adoecimento.

Faixa: 35 a 45R$ - 33 -

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Argolas

Ducha Higiênica

Das pequenas, podendo ser unitárias ou nas duas orelhas. Sempre caí bem, sendo que numa orelha só acaba dando um ar de juventude no rosto. Há um grande número de materiais e tamanhos, por isso o preço varia tanto.

Esse é para incrementar a vida sexual do presenteado. Ou a sua. Funciona da seguinte forma: você colocar o limpador no buraquinho, e enche de água. Através da bomba, é possível fazer a sucção da água. O aplicador é feito com borracha macia, para tornar toda a experiência mais confortável.

Faixa: 20R$ - 200R$

Faixa - 36R$- 50R$

Me Chame Pelo Seu Nome O romance de Aciman, lançado em 2007 e que inspirou o filme de grande sucesso, traz todos as características da cultura clássica: um amor entre dois homens em diferentes etapas da vida (juventude e vida adulta), a luz do Mediterrâneo e um cuidado primoroso com a forma. De tirar o fôlego!

Faixa - 15R$ - 35R$ - 34 -

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