Fliperama

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fliperama Edição nº 1 Julho/2019

A MORTE NOS JOGOS Reflita sobre o tema com a entrevista com os especialistas Flávia Gasi e Henrique Sampaio

QUAL O JOGO MAIS MACHISTA?

A equipe do Fliperama faz um duelo entre Harvest Moon Back to Nature e Duke Nukem Forever

SAUDADES, FLIPERAMA! Relembre o jogo Pinball 3D, o predecessor dos games online


>>>ao leitor

Fliperama Expediente: N° 1 julho de 2019 Editora: Iraci Falavina Projeto gráfico-editorial: Iraci Falavina Textos: Luiz Fernando Menezes, Mateus Mognon, Iraci Falavina, Tadeu Mattos, Willian Ferreira, Josué Maia Fontes: Raleway (títulos), Playfair Display (corpo de texto), Upheavel TT (cartolas), Earth Orbiter (capa), Joystix (sumário) Imagens: Imgur, IMDB, Freepik, Deviantart, Google Imagens, Unsplash, Insira a Ficha, Tumblr Esse trabalho é experimental, sem fins lucrativos e de caráter puramente acadêmico, criado e editado pela acadêmica Iraci Falavina como exercício de projeto gráfico-editorial para a disciplina de Laboratório de Produção Gráfica do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) no semestre 20191. Não será distribuído, tampouco comercializado. Seu conteúdo e suas opiniões são de inteira responsabilidade dos acadêmicos , isentando assim a UFSC e o docente da disciplina de qualquer responsabilidade legal por essa publicação.

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Se você chegou a folhear estas páginas, é bem possível que se interesse por jogos, ou, talvez, apenas tenha simpatia pela minha pessoa (nesse caso, obrigada). Caso a primeira opção seja verdade, bem-vindo(a) à Fliperama. Você está prestes a descobrir como os jogos vão além dos pontos, conquistas, itens e combates. Caso a verdadeira seja a segunda hipótese... bem vindo(a) à Fliperama. Você está prestes a descobrir como os jogos vão além dos pontos, conquistas, itens e combates. Brincadeiras à parte, você precisa de uma pequena introdução a esse universo, e fico feliz que minha revista faça parte disso. Videogames são, sem dúvida alguma, um ramo do entretenimento, porém abarcam questões muito mais profundas. Por exemplo, ser uma mulher gamer exige muito mais paciência e cuidado do que ser homem, principalmente em jogos online, o que acaba nos fornecendo um ponto de vista diferente sobre vários assuntos. Sob a minha perspectiva, curadoria e (experimental) diagramação, bem vind@ ao mundo dos jogos!

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Iraci Falavina

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Sumário 4.DLC

4. Razer demonstra machismo na comunidade gamer 5. Saudades, fliperama!

8.fight

8. Qual é o jogo mais machista?

Duelo entre Harvest Moon e Duke Nukem

12.coop

12. Fizemos um bom trabalho?

O que os leitores acharam da última edição

13.loot 13. Descobertas de Janeiro

Os mais notáveis games jogados pela primeira vez pela equipe no mês passado

17.poção

de hp

17. Quente ou Frio?

Receitas de I Am Bread e Kingdom Hearts

19.feed

19. Como os jogos retratam a morte?

Entrevista com Flávia Gasi, colunista do IGN Brasil, e Henrique Sampaio, co-fundador do site Overloadr

22. Girl Power nos videogames

As personagens femininas mais fortes e independentes

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>>>DLC

Razer demonstra machismo gamer IRACI FALAVINA

Gabi Cattuzzo, antes patrocinada pela fabricante Razer, perdeu seu contrato e recebeu como pagamento ameaças e machismo

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IMAGENS: TWITTER

Após uma piada sem cunho sexual com uma foto de touro mecânico, Gabi Cattuzzo sofreu assédio no Twitter. A foto mostrava ela sentada em cima do touro, com a legenda “Eu tô montada no chat”, brincando. Uma das respostas ao tweet dizia “pode montar em mim a vontade”. Ela se pronunciou em sua conta após o ocorrido, dizendo que situações assim são comuns e “por isso que homem é lixo”. A resposta dela ao assédio teve enorme repercussão, ficando nos Trending Topics da rede social. Entre clientes da Razer, fabricante de equipamentos de jogos eletrônicos pela qual Gabi era patrocinada, a atitude da streamer foi vista de modo negativo, o que gerou diversas ofensas à influenciadora. A empresa, por sua vez, fez um pronunciamento em sua conta oficial do Twitter no dia 24 de junho, anunciando a suspensão do patrocínio da gamer. Na nota postada, diziam querer “deixar claro que a influenciadora Gabi Cattuzzo não é portavoz da Razer e nunca foi embaixadora da marca.” A nota diz ainda que “Estamos, desde o começo, como gamers, enfrentando todo tipo de preconceito e estereótipo, e continuaremos lutando para que esse tipo de situação não se repita”, explicitando que a opinão de seus influenciadores não condiz com a da marca. No mesmo dia, Gabi se desculpou e disse que se afastaria temporariamente das redes sociais, devido a ameaças de morte à sua família e amigos.

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Saudades, fliperama! Análise do jogo Pinball 3D, anterior ao rótulo de jogos indie, e que você provavelmente conhece caso tenha pelo menos uns 20 anos. Afinal, uma parte do game foi incorporada pela Microsoft ao sistema Windows, da versão 98 à XP. Nós chegamos ao consenso de que poderíamos considerá-lo “indie”, já que foi desenvolvido por um estúdio independente que contava com nada mais do que três caras

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IMAGEM: UNSPLASH

A ideia do jogo é bem simples: reproduzir virtualmente a partida de um pinball real. Sendo assim os comandos são os mesmos que você encontraria numa máquina de verdade, dois botões para bater com as rebatedoras na bolinha, um para lança-la no começo da rodada e o famigerado botão do TILT, provavelmente o mais inútil que já vi na vida. O negócio é o seguinte, quem já frequentou fliperamas provavelmente sabe do que eu tô falando, afinal não é fácil resistir à tentação de tentar inclinar a máquina pra evitar que a bolinha caia no buraco. Pra impedir e ssas trapaças, as máquinas possuíam um sistema com um sensor de movimento que travava o jogo quando a máquina mudava de posição. Acontece que na busca por tornar tudo o mais parecido possível com jogar em um fliperama de verdade, resolveram colocar um botão que fazia a tela simular uma chacoalhada e travava todos os controles. O visual do game é bem legal, as mesas realmente lembram bastante as que você ainda encontra em alguns parques por aí. Felizmente a simplicidade do game ajuda também com essa parte, já que sem uma engine com mecânicas trabalhosas o design não exige muito. O problema é a parte que contém texto do lado direito, as escolhas de cores e fontes foram muito ruins, a

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IMAGEM: GOOGLE IMAGENS

TEXTO: LUIZ FERNANDO MENEZES

Pinball 3D, um jogo da infância de crianças dos anos 1990


legibilidade do texto é bem baixa e levando em consideração que as informações que aparecem ali durante o jogo devem ser lidas rapidamente pra não tirar os olhos por muito tempo da bolinha isso atrapalha muito. Quanto ao som....bom, não rola música nem nada, é só o som de uma máquina de pinball, e sinceramente isso era tudo que eu poderia querer de um jogo como esse, ficar ouvindo aqueles barulhos nostálgicos que te fazem lembrar da época de moleque comprando ficha pra jogar. Bom, agora se você nunca jogou, ou mais provavelmente, ficou com vontade de matar as saudades, tenho uma boa e uma má notícia. 19 anos após seu lançamento Full Tilt! Pinball acabou sofrendo o aparentemente inevitável destino da maioria dos jogos eletrônicos, tornarse um abandonware. O estúdio que a produziu, atualmente faz parte da Eletronic Arts, que nunca deu atenção ao software, o que significa que não existe uma forma legal de conseguir o jogo (a não ser comprar o cd usado de outra pessoa, ou algo do tipo). Por outro lado isso também significa que não existem mais políticas de proteção ao jogo, e por conta disso é muito fácil encontrar versões para download na internet que não precisam de “crackeamento” nem nada. No fim das contas posso dizer que recomendo muito o jogo, seja para um nostálgico dos fliperamas ou alguém que nunca chegou a conhecêlos. Tantos anos depois ele continua sendo um dos melhores jogos para passar o tempo que já conheci. O tipo de coisa que você gostaria de ter instalada no computador quando tiver uns 20 minutinhos esperando sem nada pra fazer. E o melhor (ou não) sem ter que ficar se preocupando com não ter dinheiro pra comprar mais ficha.

IMAGEM: UNSPLASH

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>>>fight

Qual é o jogo

–MACHISTA? fonte: insira a fichA

DUKE NUKEM FOREVER VERSUS HARVEST MOON BACK TO NATURE 8

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Mateus Mognon — Harvest Moon Back to Nature Duke Nukem é machista, mas é difícil bater uma sociedade patriarcal do interior nesse quesito. Quando você joga o icônico game de tiro protagonizado por um cara badass, já sabe que vai encontrar violência, objetificação e desigualdade, porém, em Harvest Moon isso não fica evidente, pois todo o machismo está incrustado na sociedade e nos fatores culturais do game. Com toda a felicidade e animais sorridentes, Harvest Moon mostra um homem vivendo em sua fazenda e, depois de um tempo, se casando com a filha de outro homem igual a ele, um pai que coloca comida na mesa e comanda a família de forma arbitrária. Além disso, não existe a possibilidade de ser uma fazendeira. Uma jogabilidade tão boa, divertida e bonitinha, mas sem opção de escolha de gênero, assim não tem como defendê-los, desenvolvedores. Eu não ainda não tinha parado para pensar em Harvest Moon por esse lado e, caramba, o jogo é muito machista. Tá na hora de lançarem um novo game da franquia e ajeitarem isso, pois uma jogabilidade tão boa não merece ficar marcada com uma das campanhas mais machistas da história dos videogames.

João Bosco Cyrino — Harvest Moon Back to Nature De toda a franquia Harvest Moon temos que ser realistas: seu machismo dá nojo. Felizmente muitas das críticas já foram resolvidas nos jogos mais recentes, porém nem isto é suficiente para apagar o passado da franquia. Vamos aos fatos: homem, da etnia dominante do universo do jogo com terra, casa, e um capital inicial para começar a vida. Qual é o papel da mulher nessa ascensão e “luta por um futuro melhor” do homem dominante? Distração, diversão, comodismo, alguém pra lavar as ceroulas — escolha

qualquer opção porque, ao final, todas estão certas. Em Harvest Moon o personagem não se apaixona e se casa, ele “se acomoda” na vida. Trabalha o dia todo para conseguir o sustento da família e “pede pouco” em troca. Como diria Gaston de A Bela e a Fera, ao tentar pedir Bela em casamento: “Imagine: uma cabaninha rústica, minha última caça assando no fogo. Minha esposinha… Massageando os meus pés”. Isso é o mínimo que o homem trabalhador da sociedade patriarcal pede em troca. E não para por aí, uma das características é que a pretendente escolhida determina também qual será a profissão do seu futuro filho. Ou seja, se o jogador sentir atração por pretendete X, mas não quiser que o filho seja, por exemplo, um pintor, terá que casar com Y para que ele seja fazendeiro e “siga os passos do pai”. Vale lembrar que nos primeiros jogos da franquia não importava a esposa, o bebê SEMPRE seria homem.

Willian Ferreira Vieira — Duke Nukem Forever A franquia Harvest Moon se salva de ser totalmente machista por permitir que você escolha jogar com uma personagem feminina. Já Duke Nukem Forever é só machista mesmo. Sem desculpas de ser de uma sociedade diferente, onde ninguém brigou por igualdade ainda, pois o jogo já se passa depois de 1997 numa sociedade onde já tinha briga por igualdade. Mesmo assim ele continua a ser muito machista. Não tenho muito a falar do jogo, só jogue e você vai ver porque acho que Duke Nukem Forever é o jogo mais machista.

Luiz Fernando Menezes — Harvest Moon Back to Nature A primeira vez que joguei Duke Nukem foi bem parecida com a primeira vez que eu joguei Mortal Kombat 3 Ultimate: escondido da minha mãe, com o volume baixinho pra ela não ouvir.

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A capa do jogo, o cara da locadora e até meus amigos falavam que se tratava de um jogo para adultos e que não devia ser jogado por crianças. Ou seja, eu fui jogar sabendo que tudo que aparecia era errado, que não devia ser “copiado”. Já Harvest Moon não. Harvest Moon era visto como um jogo educativo ou até “bonitinho” como diziam meus pais. Eles compraram uma cópia sem eu pedir. Eles deixaram claro que o jogo era “certinho” e que tudo que estava lá era bem próximo do real. E aí, meus amigos, é que vem o problema. O que é Harvest Moon? Um jogo onde um homem rala o dia inteiro para poder ganhar dinheiro e dar flores ou itens valiosos para mulheres brancas interesseiras que só se apaixonavam por quem lhe dessem presentes (e tivessem a casa com upgrades no máximo). Um jogo que acaba logo depois de você casar, deixar a esposa trancafiada em um quarto sem comida e sem entrada de luz. Um jogo que o filho sempre é homem, sempre um herdeiro de sua fortuna e de sua cultura machista. E onde que isso é “certinho”? Duke Nukem é machista? É, e muito. Mas ele deixa isso bem claro. Harvest Moon é machista? É, e muito também. Só que ele se fantasia de jogo educativo e ensina essas coisas pra milhares e milhares de criancinhas inocentes por aí.

João Vítor Roberge — Duke Nukem Forever Para começar, Harvest Moon tem várias versões com protagonistas mulheres. Ainda assim, as mulheres do jogo com protagonista homem têm todas um papel importante em Mineral Town. Falando de Back to Nature, que é o que eu jogo: - A mãe da Popuri é uma empreendedora, tem uma empresa na indústria aviária. Rala sozinha pra sustentar dois filhos e ainda assim a saúde dela não é das melhores - A Manna vende os vinhos que faz com o marido dela, os dois trabalham juntos. - A Ann é cozinheira e garçonete no Inn do pai dela.

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“O que é Harvest Moon? Um jogo onde um homem rala o dia inteiro para poder ganhar dinheiro e dar flores ou itens valiosos para mulheres brancas interesseiras que só se apaixonavam por quem lhe dessem presentes (e tivessem a casa com upgrades no máximo).” - A Elli teve que lidar com a perda dos pais e cria o irmão pequeno sozinha com a ajuda da vó. É enfermeira. - A Mary é bibliotecária - A Karen trabalha no supermercado. - A mãe da Karen dá sermão no marido porque ele é um banana que sempre faz fiado. É a cabeça pensante da família. - Tem apresentadoras de TV - Tem vendedora em “Polishop”. Todas as principais têm personalidades diferentes e gostos diferentes, e é possível criar amizades com todas. A mulher em Harvest Moon não é apenas um objeto aleatório para cumprir um objetivo no jogo. Várias delas exercem um papel importante no enredo e em Mineral Town, e mais ainda, são independentes e participativas. É forçar a barra dizer que elas só servem para casar e cuidar da casa do protagonista. O mesmo Back to Nature tem versão com protagonista mulher. Nesta versão, você também conquista a pessoa com presentes, da mesma forma que a versão com protagonista homem. Levando em consideração os poucos recursos nos primeiros jogos da franquia, não existiriam muitas formas de “conquistar” alguém além de uma mecânica simplória de presentear. Os pontos que realmente pegam se quisermos a todo custo ver machismo em Harvest Moon Back to Nature é:


A partir do momento em que o protagonista tem uma esposa, ela fica na casa cuidando dos filhos. Você não mais a vê dando rolês pela vila e ela parece se tornar essencialmente uma dona de casa. (Isso acontece também na versão “para meninas”: o cara fica com os papéis domésticos e a moça é que vai ralar pra sustentar a família). O filhote do casal sempre será menino. Algo que me frustrou muito durante o jogo. Mas aí na versão feminina é a menina que rala o dia inteiro pra sustentar marmanjo e dar presentinho? Se quiser ver por esse lado, aí não tem o que fazer mesmo (lembrando que o matrimônio não é obrigatório no jogo). Podemos problematizar tudo, seria um jogo racista porque o Kai é o único personagem negro no jogo (e ainda só aparece no verão), que seria um jogo homofóbico pela ausência de personagens homossexuais e pela impossibilidade de casamento homoafetivo. Um jogo sem laicidade, porque existe uma única igreja, evidentemente cristã, e que tem um poder de influência no desempenho do protagonista. Ou mesmo questionar a protagonista em Harvest Moon: branca, cabelos lisos, padrão de beleza, etc. Ou o festival da primavera, com as meninas dançando. E daí em diante. Há quem diga que esta discussão por si só não faça muito sentido, porque a maioria do IaF é homem, tomando o “lugar de fala” da mulher e assim roubando seu protagonismo nessa questão. A palavra que mais vale é mesmo a da Mariela. Damos pitacos aqui com os argumentos que podemos dar. Radicais dirão que “ozomi querem dar pitaco e cagar regra”, ao mesmo tempo em que acho legal estarmos trazendo este tipo de discussão à tona. Entretanto, me parece desonesto avaliar o sexismo em Harvest Moon sem especificar a versão ou levar em consideração as versões de protagonismo feminino que foram feitas também para quebrar essa sina de jogo sexista. Quando se fala em Harvest Moon, se fala de toda a franquia, que contém sim, cada vez mais opções para o público feminino.

Meu voto em Duke Nukem é na verdade por ser impossível de eu votar em Harvest Moon como um jogo essencialmente machista. Por que não South Park - The Stick of Truth (em que as meninas são apenas uma instituição distante e figurante), GTA, Mafia, a franquia Mario, se quisermos mesmo pegar no pé nesse sentido? O sexismo na franquia Harvest Moon é muito fraco se comparado a outros games.

Harvest Moon Back to Nature: 3 VS Duke Nukem Forever: 2 Fomos surpreendidos novamente: Duke Nukem Forever, considerado o “Game mais Sexista” já criado, perdeu para o clássico de Playstation. Harvest Moon Back to Nature é o quinto título da franquia e foi lançado no Japão em 1999, chegando aos Estados Unidos um ano depois. Assim como disseram alguns dos votantes acima, ouve o lançamento de uma versão “For Girls”, lançada apenas no Japão em 2004. Mas agora vamos à parte séria: não estamos dizendo para os leitores pararem de jogar nenhum dos jogos por causa do machismo, seja ele aparente ou implícito (do mesmo jeito que as pessoas ainda podem ler Ernest Hemingway, Rubem Fonseca ou, sei lá, Jane Austen). É necessário que pensemos no contexto de cada jogo e no objetivo de cada um. Harvest Moon foi criado no Japão e para o Japão, e retratava uma sociedade rural do interior. Já Duke Nukem é uma paródia dos herois masculinos clássicos de filme de ação(Rambo, Chuck Norris...).

A questão é outra...

O videogame, acima de tudo, é um meio de comunicação de massa, é uma mídia em que crianças, adolescentes e adultos consomem histórias e, consequentemente, discursos. Sendo assim, fica claro que devemos discutir sobre o conteúdo dos games para não ir compartilhando ideias retrógradas como machismo, racismo, padrões de beleza etc.

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>>>coop

Fizemos um bom trabalho? Nossos leitores jogaram algumas das sugestões presentes nas descobertas do mês passado e deram as próprias opiniões e sugestões para os jornalistas da equipe

Late Shift

Kerbal Space Program

Joguei o game Late Shift e gostei muito da experiência! Sou fã do gênero de jogos de escolha e gosto de uma boa história. Em inúmeros momentos fui surpreendida com as consequências das minhas decisões, o que tornou a interatividade e imersão ainda mais presente e relevante. Recomendo e mal vejo a hora de jogar novos games nesse estilo! Trago como sugestão o game Contradiction, outro FMV que coloca o jogador numa investigação em busca de contradições nos discursos dos personagens.

Joguei Kerbal Space Program recomendado pela Iraci no mês passado. O fato do jogo não ter tutorial em português atrapalhou um pouco na jogabilidade e, assim como os Estados Unidos e a Rússia na Corrida Espacial, foi através de muita explosão de nave e morte de astronauta que aprendi a desbravar o espaço. Joguei diversas horas do jogo durante o mês e me diverti muito com essa dica, o jogo é bem difícil mas muito divertido, assino embaixo a recomendação da jornalista.

Kingdom

G-Switch 3

Sem nenhum tutorial, boa parte da diversão que Kingdom oferece envolve o aprendizado em administrar uma pequena aldeia com uma jogabilidade limitada, simples e intuitiva. Mas, infelizmente, quando você entender como funciona as mecânicas de kingdom, a “magia” deste pequeno game indie irá sumir. Em vez de descobrir um ciclo de jogabilidade interessante e profundo, você vai continuar a repetir as mesmas ações durante horas. Estas poucas horas gastas em aprender os detalhes de Kingdom valem mais do que a corja de mediocridade e ideias repetidas que o mercado de games tem oferecido nos últimos meses.

Segundo sugestão do Zé Maia no mês passado, joguei G-Switch 3 e sinceramente, foi uma completa perda de tempo. O jogo é obviamente enfadonho, repetitivo e sem graça, odiei os carrinhos voando por aí (se eu quisesse algo assim usaria as manhas de GTA pra fazer carros voarem). Acho que o meu pavor por motos pode ter contribuído para uma opinião tão negativa. Bem, não volto atrás no que disse. Detestei o jogo e não pretendo dar uma nova chance. Porém, confio no gosto do Zé e nutro muita admiração, por isso trago como sugestão o jogo Midnight Club, espero que ele goste.

por Lara Correia

por Anderson Falavina

por Thadeu Mothos

por Eremícia Carvalho

IMAGEM: KENZE WEE

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>>>loot

DESCOBERTAS DO MÊS Nossa equipe analisa os melhores (ou piores) jogos que experimentaram pela primeira vez no mês passado Conheça e descubra para sua próxima jogatina

IMAGEM: FREEPIK

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IMAGEM: IMGUR

Realm Royale POR ZÉ MAIA

O primeiro jogo avaliado por mim aqui no Descobertas do Mês foi o tão aclamado (e também criticado) Fortnite. Apesar dos membros do Insira não serem apreciadores de Battle Royale, nesse mês de janeiro descobri e joguei mais um game desse gênero: Realm Royale. Ele é um Battle Royale básico, que apresenta características semelhantes a outros jogos do estilo. Cada partida é composta por 100 players, onde o último sobrevivente é o vencedor. Apresenta 3 modos de jogo: Esquadrão. Onde grupos de 4 jogadores se enfrentam pela sobrevivência; Sozinho. Modo clássico de Battle Royale, todos contra todos; Dupla. Mesma lógica do Esquadrão mas organizada em duplas. Para a disputa de uma partida, você pode escolher uma entre quatro classes de personagens: Guerreiro, Caçador, Assassino ou Mago. Cada classe apresenta benefícios e pontos negativos, como restabelecer a vida rapidamente e, como consequência, ser menos ágil. Cada classe tem um nível de acordo com a frequência que você joga com ela. Quanto mais vezes você jogar com uma classe, mais poderosa ela será. Além disso, você também tem um nível geral no jogo, que serve para desbloquear novas habilidades, skins, montarias e assim por diante.

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O mapa mescla um cenário medieval com características modernas. Dentro dele, você encontrará baús com itens necessários para a jogatina, como armas e habilidades. Se tiver sorte, poderá encontrar itens lendários, que são os mais fortes do jogo (esses itens são encontrados de forma aleatória, sem nenhuma influência do seu nível geral). Com o passar dos minutos, o jogo vai delimitando uma área de combate. A chamada “névoa”. E, logicamente, se você não seguir a demarcação do mapa, YOU DIED. Falando em morrer, um detalhe interessante do jogo é a forma que você é eliminado pelo adversário: quando sua barra de vida é esvaziada, você se torna uma galinha. Nesse momento, você tem alguns segundos para somente fugir, e tentar voltar a partida. Caso o seu adversário mate você, na forma de galinha, sua participação acaba ali. E claro, entre as possibilidades de customização do jogo, você pode adquirir skins para a sua galinha. Para quem não é fã do gênero, é um bom game introdutório, fácil de jogar, e cativante. Smples e básico, diverte por algumas horas. Disponível: Playstation 4, Xbox One, Windows


IMAGEM: IMGUR

Apex Legends

POR WILLIAN FERREIRA Lançado no começo de fevereiro (sim, conta como descoberta de janeiro por motivos de: eu que mando) o jogo foi anunciado e lançado no dia 4, e alcançou o marco de 1 milhão de jogadores no mesmo dia. Apex é um battle royale gratuito para jogar desenvolvido pela Respawn e se situa no universo de Titanfall, também desenvolvido pela empresa. E o jogo já vem com uma árdua missão pela frente: Bater de frente com um dos jogos mais populares da atualidade, o Fortnite. Mesmo se situando no mesmo universo de Titanfall, não tem titãs enormes caindo do céu e matando geral, (In)felizmente a jogabilidade de Apex Legends lembra alguns jogos mais recentes da franquia Call of Duty, principalmente o Blackout, e se difere do gameplay dos seus rivais: não é tão realista como PUBG e nem tão arcade quanto Fortnite. O jogo conta com um sistema de heróis, que lembra bastante alguns Mobas e principalmente Overwatch o menu do jogo é muito Overwatch mesmo. Os 8 heróis presentes no jogo são diferentes, cada um com próprio estilo de jogo e suas habilidades únicas. Devido ao sistema de heróis, outro ponto

interessante em Apex é o fato dele possuir um background e, talvez pela primeira vez, uma “história” para o battle royale. Apex é um grande investimento da Respawn e da EA, tanto que o jogo “tomou” o lugar de desenvolvimento da principal franquia da Respawn e seu irmão Titanfall 3, a desenvolvedora que se inspirou muito no sucesso de PUBG e conseguiu juntar o melhor de cada jogo concorrente para criar um battle royale mais competitivo e diferente dos atuais. Assim como Fortnite, Apex vai seguir o sistema de temporadas e passes de batalha, com a primeira já programada para março. Devido a isso, Apex está apenas começando, novos heróis provavelmente irão ser adicionados no futuro e o jogo deve sofrer mudanças significativas no seu gameplay durante as temporadas, o jogo tem um potencial muito bom e agora só depende da Respawn lapidar melhor o diamante que tem na mão (falei Respawn, hein!! Não deixa a EA por a mão nesse jogo). Disponível: Playstation 4, Xbox One, Windows

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IMAGEM: IMGUR

Child of Light POR IRACI FALAVINA

Child of light é basicamente um conto de fadas, com narradora e tudo. É um side-scroller com elementos de RPG. Você pode jogar sozinh@ ou em modo coop, com outra pessoa controlando o Igniculus. Os diálogos são sensacionais: os personagens e a narradora SEMPRE FALAM RIMANDO (exceto a Rubella, que sempre quebra as rimas Aurora e Igniculus tentam “amenizar o dano” toda vez). Isso contribui para a ideia de que estamos dentro de um livro de histórias. E por falar em história, vamos a ela: Aurora é uma princesa que se perde de seu reino e vai para uma terra distante. Aos poucos ela descobre seus poderes de luz e faz amigos: Igniculus, o vagalume; Rubella, a boba; Finn, o elfo e por aí vai. A terra de Lemuria foi afetada pela Rainha Umbra, que trouxe a escuridão ao mundo. Você vai explorando e descobrindo os detalhes aos poucos. Recomendo fazer todas as side quests se tiver paciência, acho que elas dão um incremento à imersão. Mas voltando, o objetivo principal é fazer nossa heroína voltar ao seu reino e lutar contra a escuridão imposta por Umbra. Para isso, ela deve reunir uma turminha do barulho que vai aprontar muita confusão! (caham) OK, ela deve reunir a lua, o sol e as estrelas. O jogo tem um visual bem bonito, cores bem vivas e adoro o modo como o cabelo da Aurora

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se “desfaz” num degradê, parecendo aquarela, quando ela corre ou voa. Outro detalhe que achei sensacional foi, após o fim de cada luta, ela erguer a espada no ar e deixar cair porque não aguenta. Uma gracinha. As batalhas em geral são tranquilas, mas os bosses dão um pouco de trabalho e são incrementados pela incrível BGM ULTRA ÉPICA. A música tema do jogo é muito linda, traz uma sensação muito boa mesmo. Ah, uma curiosidade nada a ver: meu irmão sabia da existência da música sem conhecer Child of Light e reconheceu quando comecei a jogar. Um ponto negativo para mim é não exibir o HP dos monstros, fico agoniada sem saber direito onde estou (porém você tem uma noção se falta pouco porque o bicho fica com aparência de cansado). Outra coisa: O JOGO GOSTA MUITO DE ARANHAS, e confesso que eu não sou fã, tinha aranha de tudo quanto é elemento, eu hein. Mas enfim, se você curte uma história bacana, esse é um jogo lindo que recomendo demais! Disponível: PlayStation 3,4 w Vita, Nintendo Switch, Xbox One e 360, Wii U, Windows


>>>POÇÃO DE HP

QUENTE OU FRIO? Você que escolhe! Nesta edição, nossos queridos Mateus Mognon e Tadeu Mattos trazem deliciosas receitas do mundo dos games para você tentar em casa e recuperar suas energias, de acordo com as suas preferências alimentícias (spoiler: a receita do Tadeu Mattos exige coragem)

Sea Salt Ice Cream (Picolé do Kingdom Hearts) POR MATEUS MOGNON Todo fã de Kingdom Hearts já quis um picolé de sal do mar, que pelo nome deve ser horrível, mas todo mundo no game adora. Graças à internet, agora podemos descobrir se o picolé do RPG da Disney é bom mesmo.

Ingredientes:

• 2 ovos • 2 copos de leite • 1/3 de copo de açúcar • 1 colher de baunilha • 1 copo de creme chantili • sal do mar a gosto • corante azul (opcional)

IMAGEM: GOOGLE IMAGENS

Você e teus amigos quando o picolé estiver pronto

Modo de preparo: 1. Separe os ovos em duas tigelas e bata a clara em neve (até ela ficar branquinha). 2.Misture a gema com o açúcar até engrossar. Coloque o leite para ferver e, em seguida, misture com a gema e faça um creme. 3.Junte a clara em neve com o restante e coloque o sal do mar. 4.Leve ao congelador e, se possível, utilize magias para congelar mais rápido. • Quando a mistura estiver fria, coloque a baunilha e o corante. 5.Se tiver forminhas para picolé, coloque o resultado dentro e leve, novamente para o congelador. Espere um tempo significativo e realize o sonho de ter os picolés do Kingdom Hearts

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Bread (I am Bread) POR TADEU MATTOS

Pão I am Bread: True Edition

Ingredientes:

• Pão de forma (pode ser de qualquer marca, mas eu recomendo da Wickbold. Essa receita não é patrocinada pela Wickbold, eu só gosto dos pães deles)

Esse é somente para aqueles que querem se aventurar profundamente nas receitas Gourmet.

Ingredientes:

• Pão de forma • Um chão com poeira

Modo de preparo:

Modo de preparo:

1.Pegue o pacote de pão com as suas duas mãos 1. Siga os mesmos passos da receita básica 2.Tire aquele lacrezinho que fecha a embalagem; 2. Procure um lugar de sua casa que você não porém, não jogue fora, aquilo é extremamente util varre há muito tempo para outras coisas 3. Jogue seu pão no chão 3.Retire um ou mais pães da embalagem 4. Coloque seus dedos indicadores em cada 4.Coma sua obra de arte diagonal do pão Existem variações desta receita caso você seja Edit: Essa parte não é extremamente um cozinheiro experiente. necessária.Você pode usar seu pé;porém, não haverá conexão emocional com a receita. 5. Varra o chão de sua casa com o pão 6. Coma 7. Procure na internet o telefone do hospital mais próximo 8. Se interne 1. Siga os mesmos passos da receita básica 2. Pegue uma faca SEM CORTE da gaveta 3. Abra um pote de geleia (De preferência morango, mas pode ser qualquer um) OBS: O passo 3 é problemático para alguns. O pote de geleia geralmente é aberto girando a tampa em sentido anti-horário 4. Lembra do passo 2? Bem, agora você vai usar a faca para tirar CUIDADOSAMENTE uma fina camada da geleia OBS: Não me responsabilizo por acidentes que podem acontecer com a faca 5. Passe a faca com geleia pelo pão de sua escolha OBS: Esse é o clímax da receita, procure preencher toda a área do pão 6. Coma

Pão I am Bread: Geleia Edition

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>>>Feed

Como jogos retratam

A MORTE?

Já passou pela sua cabeça quantas vezes você enfiou uma espada no bucho dos inimigos? Existem similaridades entre a morte nos games e o tal mundo real? Essas e outras reflexões foram levantadas pela equipe do Insira a Ficha, o programa de games da Rádio Ponto UFSC. Entrevistamos Flávia Gasi, jornalista, doutora em Semiótica, colunista do site IGN Brasil e sócia do blog Garotas Geeks e Henrique Sampaio, jornalista, ex-editor freelancer da Revista Mundo Estranho Games e co-fundador do site Overloadr INSIRA: Nós da equipe do Insira não compartilhamos da visão de que os jogos tornam pessoas violentas. Matar alguém num jogo não significa que você tem tendências homicidas. Porém, a presença frequente da morte nem sempre nos induz a refletir. Essa banalização da morte traz que tipo de consequências?

IMAGEM: IMDB

FLÁVIA: Bom, em termos de pesquisa, desde a década de 1970, também são feitos estudos para provar que existe algum tipo de “banalização” de mortes nos videogames e que isso há consequências, até hoje nenhuma pesquisa conseguiu provar a causalidade de violência entre games e a atos violentos, e tem uma correlação no sentido de pessoas que tendem a gostar de outras coisas que tem violência, como filmes ou séries, também gostam de games violentos. HENRIQUE: É, cientificamente não existe nenhuma comprovação mesmo, como a Flávia disse, o que é possível, o que eu gosto de olhar, é tentar entender historicamente como os jogos evitaram conflitos e como isso evoluiu pros videogames. O que a gente tem neles que é essa, digamos “banalização da morte”? E a verdade é meio que uma evolução da própria linguagem dos videogames; como você tem o conflito como o elemento básico desta linguagem, e uma camada de narrativa, normalmente esse

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conflito é traduzido dessa maneira, no confronto direto, no aparecimento de inimigos. E isso acaba sendo, digamos, a maneira mais clássica de se falar de video games. Daí você começa a ter uma diferenciação como jogos cross country e IO, e outros como Duck Games, que elimina completamente o conflito no jogo. FLÁVIA: Acho até importante falar isso um pouco mais, que o Henrique trouxe, que é muito legal, porque a gente tende a associar o combate e morte aos videogames, mas existe toda uma gama de gênero de games que o sistema de regras não é baseada no combate. Jogos de escolha, jogos narrativos, puzzles e essa mistura entre tudo isso, gêneros novos, que vão surgindo por conta dessa onda mais narrativa, que também não são focados no combate. Sim, existe uma grande quantidade de games que usam a morte como forma de indicar falhas, mas também existe um bando de jogos que não vão tratar disso dentro do seu sistema de ideologia, seu sistema de regras.

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“O que eu entendo nesse tópico é que nos videogames a gente passa pelo processo de dessensibilização, mas dessa violência virtual, digamos assim”

INSIRA: Um ponto importante também a se trazer é o debate de quem tenta fazer essa correlação de que games são violentos em si. Nos jogos, quando você mata alguém, você é um ator ativo, o jogador está fazendo esse ato, enquanto em filmes e séries você é um ator passivo. Eu gostaria de saber, principalmente da Flávia, como está exatamente o estudo ou o trabalho, a desenvolver essa correlação, entre ativo e passivo que é inerente ao game.

outras regras e outras realidades, de forma que isso exclui de certa forma seu cotidiano (mas não necessariamente exclui tudo). É por conta desse escoamento, dessa questão da atuação, que você fica tranquilo em relação ao combate e morte em games. É uma vasta gama de benefícios cognitivos, de criatividade, de liderança, de sonhos lúdicos, que os games podem trazer. O game não é ativo, ele não cria pernas e sai andando, então a gente não tem como tratar o game como uma persona, ou pessoa, ele é um objeto; a maneira como você entra em contato com esse objeto conta, seu mundo, sua educação e sua vivência material contam. Como o game não é um ser material, é muito difícil você chegar ou assumir que existe uma banalização de morte no sistema, ou falando de algo que não é ser, ele só é essencial de um ser.

FLÁVIA: Então, existe toda uma gama de pesquisa que coloca o jogador como ator do processo, então ele atua junto com o game, enquanto ele joga, e essa seria a grande diferença de jogos para outros tipos de mídia. Mas mesmo nesse viés, que é um viés desde a década de 90, não tem como comprovar nenhum tipo de relação. A partir do momento que você aceita as regras do jogo e lida com elas com responsabilidade, você não está no mundo compartilhado com outros seres humanos, você tem o direito de viver

INSIRA: Uma produção recente que traz uma perspectiva peculiar é A Plague Tale: Innocence. A protagonista adolescente, Amícia, vem de uma família nobre, e essa é a justificativa para uma das particularidades do jogo: ela é extremamente frágil, do nível one hit kill. A personagem sofre efeitos negativos quando mata alguém (como tontura, taquicardia). Além dessa resposta diferente ao ato de matar, A Plague Tale explora uma possibilidade maior de morrer, o que torna o jogo mais desafiador, e convenhamos, mais próximo da realidade.

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E ao longo do jogo, Amícia vai se acostumando e passa a não se afetar tanto assim. Existe alguma similaridade com o comportamento dos jogadores?

FONTE: DEVIANTART

HENRIQUE: É a questão da sensibilidade da violência, o que eu entendo nesse tópico é que nos videogames a gente passa pelo processo de dessensibilização, mas dessa violência virtual, digamos assim, para quem joga videogame tem contato com jogos violentos, como CS e Mortal Kombat, jogos de tiro né. Quando você pega por exemplo o primeiro Mortal Kombat, você vê, em comparação com outros jogos, ele é violência exclusiva. Na minha época, ele era extremamente violento, então a gente que costuma jogar, a gente passa pela dessensibilização, mas dentro somente desse contexto virtual, agora uma pessoa que joga Mortal Kombat desde de lá do começo, é uma violência real, uma violência crua. Na realidade, se você for comparar, é muito parecido com o que acontece nas redes sociais mesmo, a gente acompanha em redes sociais outros tipos de violências e isso passa tanto por nós a gente também se dessensibiliza, a gente também vê a morte de alguém, vê uma injustiça. Isso meio que simplesmente passa, a gente meio que não faz nada porque se torna comum de tanto que acontece, ao menos nas redes sociais, quando a gente tá tendo contato com isso através de matérias. Eu acho que é um comportamento parecido, não tem necessariamente a ver com uma dessensibilização concreta de uma violência real.

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GIRL POWER NOS VIDEOGAMES Dentro e fora do mundo virtual, as mulheres são independentes e não precisam de nenhum encanador para salvá-las de uma torre. Confira alguns exemplos de personagens femininas que encheriam você de soco

Agrias Oaks em Final Fantasy

Chloe Price em Life is Stange

Cara, ela é tão foda que é a única guarda-costas da princesa Ovelia e a única Holy Knight que aparece no jogo.

Totalmente livre, rebelde e decidida, Chloe teve uma vida difícil (em várias realidades alternativas) e é a garota que faz Max perceber o poder que tem em Life is Strange, se tornando a peça-chave de toda a história

Rosalina em Super Mario Galaxy

Anna em Valiant Hearts: The Great War

Ela não precisa de um encanador italiano na vida dela pra ser feliz (e nem pra salvá-la de tartarugas uma vez ao ano). Líder do Observatório Cometa, que protege e vigia o cosmos

Sua tenacidade pode ser facilmente percebida pela própria fala do narrador do jogo: “Anna, minha brava guerreira — salvando centenas de feridos sem disparar um único tiro”. IMAGENS: INSIRA A FICHA

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Alicia Claus em Bullet Witch

Ashe em League of Legends

Anterior à Bayonetta, foi Alicia quem começou com essa história de uma bruxa, sozinha, salvando a humanidade (só que, nesse caso, dos demônios).

A atual rainha de Freljord foi a responsável por transformar a sua tribo — Avarosan — no que ela é hoje: a maior e mais forte sociedade do mundo de League of Legends.

The Boss em Metal Gear Solid 3

Alyx Vance em Half Life 2

Uma das personagem mais bem desenvolvidas e profundas já criada para um meio de entretenimento — jogos, livros ou filmes — não pelo que é dito, mas pela sua subjetividade do não dito e colossal carga emocional por ela demonstrada em cada cena e fala que aparece.

Inteligente e nada disposta a baixar a cabeça nem para o maior dos perigos são apenas uma pequena faceta do que torna Alyx Vance muito mais do que só uma personagem: mas sim um ser humano que poderia existir, como faz o jogador desejar que exista por um mundo melhor.

TEXTO: INSIRA A FICHA

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Na próxima edição:

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O LEGADO DE ASSASSIN’S CREED

As conquistas, características e história de uma das franquias mais famosas da Ubisoft


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