Otto encerra hoje Festival Móbile, em João Pessoa DOMINGO 2, NOVEMBRO, 2014
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EDITOR: ANDRÉ CANANÉA
Um biógrafo de lentes Em visita a João Pessoa, o argentino Eduardo Montes-Bradley faz revelações sobre Cortázar e série com escritores brasileiros
'WRITERS MADE IN BRAZIL'.
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Próxima etapa de produção com autores nacionais pode ser filmada na Paraíba, afirma o biógrafo e cineasta que veio à capital para eventos na UFPB
Tiago Germano
Houve um tempo em que os grandes professores eram chamados de 'lentes'. Neste sentido, o argentino Eduardo Montes-Bradley é um biógrafo que tem lentes como principal material de trabalho: são elas seu instrumento, acopladas à sua câmera; são eles seu objeto de interesse, dados os mestres da literatura com os quais já trabalhou. Biógrafo do escritor Julio Cortázar (1914-1984), Montes-Bradley esteve esta semana em João Pessoa participando de dois eventos acadêmicos, um simpósio nacional de jornalismo e um congresso dedicado ao centenário de nascimento e aos 30 anos de morte do seu compatriota. Em entrevista ao JORNAL DA PARAÍBA, o autor de Cortázar Sin Barba (2005) chamou de "fofoca antiga" a notícia que se espalhou no início do ano de que seu biografado tenha morrido de Aids.
"Isso absolutamente não é verdade e há evidências médicas suficientes apontando o contrário", diz ele, contestando a versão dada por uma ex-amante de Cortázar, Cristina Peri Rossi, ao jornal 'Clarín', em fevereiro. "Eu ouvi pela primeira vez esta versão nos dias em que ele estava doente. Eu acho que isso é parte da fábula em torno de Cortázar que eu tento confrontar com a minha biografia." Ainda não traduzida para o português, a biografia foi escrita após a realização de um filme, o longa-metragem Cortázar: Apuntes para un Documental (2012). "Eu acredito que a biografia foi uma consequência imediata do filme. Sou muito orgulhoso dos dois, particularmente do livro, que já está em sua terceira edição. Seria muito legal vê-lo e lê-lo em português", afirma Montes-Bradley, que mora nos EUA desde a juventude e estreitou relações com o Brasil mais recentemente.
Seu primeiro documentá- do Brasil em Washington para rio sobre a cultura brasileira concluir o projeto e está finalifoi Samba On Your Feet (2005), zando, este fim do ano, o retraque teve première no Festival to de dois escritores que atuam do Rio, em em Pernambu2006. Do samco: o cearense ba, partiu para Ronaldo Cora literatura: reia de Brito e atualmente, o pernambuo diretor per- Escritores devem cano José Luiz ser lembrados corre o país à Passos. cata de escriA primeira como se tores para o produção da fizessem parte projeto Writers série, Lisboa de nossa árvore Made in Brazil, (2012), já está uma série de disponível genealógica curtas-mepara visualiE M-B, tragens que zação na web, já traçou perno canal oficial fis de nomes do cineasta do como Adriana Vimeo (http:// Lisboa, Carola Saavedra, Luiz vimeo.com/heritagefilmproRufatto e Milton Hatoum. ject). Lá, Montes-Bradley narra "Eu tenho produzido e di- como entrou em contato com rigido filmes sobre escritores a obra de Adriana Lisboa a da América Latina há mais de partir de uma tradução para o 20 anos e a recente expansão- espanhol de Azul-Corvo (Alfa-explosão das figuras literárias guara), novo romance da brano Brasil atiçou a minha curio- sileira que hoje vive também sidade", explica o cineasta, que nos EUA: "O romance causou recebeu apoio da embaixada tal impressão que decidi, quase
que imediatamente, procurar Lisboa com a ideia de fazer um documentário sobre ela." 'WRITERS MADE IN PB' Na visita a João Pessoa, Montes-Bradley fez um relato profissional na programação de encerramento do Simpósio Nacional de Jornalismo, Participação e Cidadania, na terça-feira passada, na Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Na quinta-feira, participou de uma tertúlia literária no congresso '30 Anos Professando Cortázar', promovido pela mesma instituição. O contato com os pesquisadores, escritores e com o público daqui o estimulou a incluir também na lista de entrevistados do projeto Writers Made in Brazil ficcionistas contemporâneos em atividade na Paraíba. "Acho que vou continuar viajando o Nordeste assim que eu terminar as gravações com Brito e Passos. A próxima etapa poderia ser muito possivelmente com autores da Paraíba", antecipa.
Construindo uma plêiade que passa por Julio Cortázar e por Jorge Luís Borges (18991986), outro compatriota que paira por suas várias empreitadas literárias e cinematográficas, Eduardo Montes-Bradley pretende homenagear sujeitos que ele trata como se fossem parentes próximos. "Eu acho interessante a ideia de que os escritores devam ser lembrados como se fizessem parte da nossa árvore genealógica", compara. "Não lembramos do aniversário de Shakespeare ou de sua morte, ou de Goethe, ou de Walt Whitman. No entanto, Cortázar parece ser uma exceção, já que o tratamos como um filho, ou como um pai, ou como um membro da família." Para ele, a melhor homenagem que se pode fazer a estes parentes é ler tudo o que eles escreveram, e tudo o que já se escreveu sobre eles. "Na verdade, nós vamos nos lembrar do trabalho deles independente de qualquer recomendação."
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