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UM SONHO DE SUCESSO
É preciso ter os pés no chão para sonhar alto. Saber dosar a mistura certa de coragem e cálculo… Foi assim — com muito planejamento e entusiasmo de sobra — que Renato Matiolli traçou seus sonhos de velejar pelo mundo afora
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Por Monica Schalka
Engenheiro formado pela Escola Politécnica da Universida- de de São Paulo, com mestrado em Wharton e longos anos como executivo no BCG, renomada consultoria internacional, Renato não teve medo de seguir novos rumos. Apaixonado por mar desde seus tempos de garoto, sentiu que era chega- do o momento de ir além do sucesso profissional que pare- cia tão bem delineado. Queria mais.
O desejo maior era conhecer o mundo pelo mar. Surfista afic- cionado, sabia que não suportaria ficar longe das ondas por muito tempo. Velejar seria a forma de unir suas paixões.
Foram meses de busca por um bom barco que abrigasse conforto, praticidade técnica e adequação aos futuros per- cursos. Um catamarã Lagoon de 45 pés, que boiava tranqui- lo nas águas da Croácia, foi o modelo escolhido.
tinha mais um importante e decisivo passo a cumprir: convencer Sarinha, sua eterna namorada, a entrar no sonho e, literalmente, embarcar com ele nessa viagem sem prazo de retorno.
Sarah, filha única de uma família de hoteleiros, já tinha tradição de “estrada”. Formada em Hotelaria em Les Roches de Marbella, já havia morado em Lisboa, Panamá e Rio, além de ter trabalhado em Londres, Algarve, entre outras cidades. Aceitou sem grandes hesitações mas com uma condição: que tivessem a bordo um cão para fazer companhia.
Feijão, o doido/doce bull terrier que os acompanha desde o primeiro embarque, foi escolhido de forma meticulosa e estudada. Era necessário ser um cão tranquilo, sem necessidade de grandes espaços para correr; que não fosse alucinado por água, para não se jogar do barco; que não tivesse muito pelo, para aguentar o calor dos trópicos… Enfim, algumas características que facilitassem a vida a bordo.
E assim a tripulação do Sail Ipanema foi formada: Renato no comando operacional, Sarah no receptivo geral e Feijão encarregado de fazer nada.
Sem tradição e prática na vela, Renato usou de seus conhecimentos de engenharia e surf para tornar-se o bom capitão que é hoje. Foram quatro meses de reconhecimento e aprendizado no manejo do catamarã em águas mediterrâneas. Grécia, Itália, Espanha, Portugal e, obviamente, Croácia, onde o barco foi comprado, foram os primeiros destinos visitados. Após esse período, sentiu-se pronto para abandonar as águas protegidas do Mediterrâneo, atravessar o Estreito de Gibraltar e realizar a primeira e grande travessia: cruzar o Atlântico e levar o Sail Ipanema para as águas tranquilas do Caribe.
Quando perguntado sobre o que fazer durante todo o longo percurso de uma travessia oceânica, Renato responde de forma simples e emocionada: “As pessoas nos perguntam o que é que a gente faz durante as travessias! Bom, para ser sincero, além de curtir a companhia um do outro, entreter o Feijão, velejar, pescar, cozinhar, ler, dormir e admirar o planeta (as ondas, o vasto oceano, os golfinhos, os peixes voadores, as estrelas cadentes, o nascer e pôr do sol e da lua a cada dia/noite) não fazemos muita coisa. Eu penso na vida. Penso nas minhas escolhas do passado e nas pessoas. Penso na minha família, meus avós que já faleceram, meus antigos e novos amigos. Também ouço muita música e presto atenção nelas de forma diferente; é interessante como nosso gosto muda e como algumas músicas agora têm um significado completamente diferente, é difícil explicar. Também penso bastante no Brasil, no Rio de Janeiro, e como é complexo e complicado esse mundo em que a gente vive. Também penso como a vida é injusta para tanta gente. Penso sobre por que nós conseguimos e merecemos tirar esse tempo para curtir a vida, e penso como podemos retribuir algum dia”.
Mas engana-se quem imagina que a vida a bordo resume-se apenas em um mar azul profundo, sol dourado e horas de descanso ouvindo música. O trabalho é constante — prin-
cipalmente nas escalas prolongadas — e pode ser pesado. É preciso um cuidadoso planejamento e execução das tarefas de manutenção e conservação para o sucesso do sonho. Renato administra o Sail Ipanema com o mesmo rigor que administrava seus projetos de consultoria. Sarah cuida das cabines, da cozinha, dos detalhes do enxoval do barco seguindo padrões detalhistas de uma boa hotelaria. O resultado é gratificante na opinião dos dois: “O Ipanema continua com cara de novo! Não podíamos estar mais felizes!”.
Mas, tarefas cumpridas e barco reluzente, é hora de voltar ao sonho.
Quando Sarah e Renato decidiram por um caminho diferente, sabiam o que buscavam: uma vida saudável, proximidade com a natureza, novos amigos e novos lugares. Buscavam, acima de tudo, paz em dias mais tranquilos do que os vividos nas grandes cidades onde moravam. Queriam trabalho, sim, mas não queriam mais a pressão da vida executiva, da rotina exaustiva dos grandes hotéis.
Chegaram lá! Quase dois anos após o início da aventura, já passaram por inúmeros locais, entre eles Barbados, St. Lucia, Antigua & Barbuda, Ilhas Virgens Britânicas, Por- to Rico, Ilhas Turcas e Caicos, Bahamas, Cuba, Jamaica, Cartagena, Aruba, Curaçao… Fizeram amizades com pes- soas dos mais variados estilos e nacionalidades. Pratica- ram esportes como scuba (onde nadaram com simpáticos golfinhos nas Bahamas), longas saídas de stand-up (com Feijão como proeiro!), kitesurf onde quer que tenha um bom vento à disposição, snorkeling em coloridos corais e, obviamente, a paixão inicial, o surf, agora acompanhado do bodyboard puxado pelo ding do veleiro.
No entanto, a atividade mais prazerosa na vida diária do casal de velejadores-esportistas é, sem dúvida, mimar o Feijão, um cão-marujo nato. Acostumado desde filhote a vi- ver a bordo (carioca, tirou seu primeiro passaporte aos dois
meses de idade para embarcar na Croácia!), Feijão transita tranquilamente por entre os decks do catamarã, sentindose seguro e totalmente à prova de enjoos. Um tanto preguiçoso, não gosta de acordar cedo, porém está sempre disposto a um passeio de stand-up, não importando a hora ou destino.
Talvez pela pouca convivência com outros cães, Feijão não tem a completa percepção de ser um animal, o que o faz ter um comportamento peculiar. Feijão está mais para um tripulante do que para um pet. Quando levado para terra firme, dá alguns passos, cheira alguns arbustos mas logo se mostra pronto para embarcar novamente. O Sail Ipanema, o horizonte sem fim, o vento no focinho, juntos, formam o seu mundo mais querido.
A aventura do trio de velejadores continua e sem prazo para acabar. Nestes últimos meses o Sail Ipanema está baseado em San Blas, desconhecido arquipélago na costa do Panamá, lar dos índios Kunas, que ocupa um lugar especial no coração de Renato e Sarah. Foi nesse ponto exuberante do mundo, há três anos, que os planos de uma vida mais significativa começaram a tornar-se realidade ao encontrarem um casal de suecos — Daniel e Anna — que estavam dando a volta ao mundo, acompanhado de sua cadela, Vera. Escutaram sobre a vida no mar, aprenderam sobre vela, pesquisaram os barcos à venda e seguiram os passos dos amigos.
Ainda faltam muitas etapas nessa aventura dos três. Sarah, Renato e Feijão têm uma agenda cheia para os próximos meses: cruzar o Canal do Panamá, relaxar em Ilhas Pérola, explorar as belezas de Galápagos e de lá rumar firme para o Pacífico Sul com proa para Polinésia Francesa e Ilhas Gambier.
Nesta próxima etapa, o Sail Ipanema continuará sua vocação mesmo velejando pela primeira vez no hemisfério Sul. Dias lentos entremeados de muito sol, mar azul, trabalho, planejamento minucioso (sempre essencial em longas travessias!), novas culturas, novos amigos e muita, muita paz. Com sorte, Feijão será contemplado com seu petisco predileto: atum fresco, pescado por seus pais. Sarah fará sua yoga em pleno Pacífico e Renato poderá, finalmente, surfar em ondas com as quais sonhou desde sua infância. Planejaram detalhadamente esse sonho. Nada mais justo do que também curti-lo em detalhes inesquecíveis!
Vale lembrar que um pouco dessa paz pode ser vivida por quem quer que se entusiasme em ser aventureiro, mesmo que só por alguns dias. O Sail Ipanema aceita convidados em busca de um turismo não-tradicional. Longas velejadas e banhos curtos estão inclusos nos pacotes anunciados no site do barco. Vale conferir.
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