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SAFÁRI EM BOTSWANA

O rio Okavango nasce em Angola e atravessa a Namíbia até chegar às planícies de Botswana. Isso faz com que o delta do Okavango seja um dos poucos deltas internos existentes no mundo — ou seja, não corre em direção a nenhum outro rio ou oceano — e o maior deles. A princípio, chega a lembrar as planícies úmidas do Pantanal. Mas, ao sobrevoar a imensidão de terra e água para desembarcar no seu hotel, logo você notará os animais selvagens africanos e constatar: estamos em Botswana, na região que levou o título de uma das Sete Maravilhas da África. E agora você vai entender o porquê

Por Ana Maria Junqueira

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Visitar Botswana é sinônimo de safári. Aqui, não espere encontrar cidades grandes e desenvolvidas, restaurantes da moda, butiques famosas, muito menos praias paradisíacas. A grande riqueza do país é a sua natureza selvagem. O país tem se tornado referência no combate à caça de animais, sobretudo dos rinocerontes, e na implementação do turismo consciente aliado à conservação das espécies.

Se a região é sinônimo de água, é também o habitat de animais, muitos animais. Nas savanas africanas, os bichos buscam sempre pela água. É por isso que é tão fácil avistálos junto aos rios e córregos, seja na África do Sul, no Quênia, na Tanzânia. Com isso, Botswana sai na frente, pois tamanha abundância de água é um enorme facilitador para quem deseja ver de perto espécies como girafas, zebras, veados e, claro, leões, leopardos, guepardos, elefantes, hipopótamos e por aí vai.

A melhor forma de se aproveitar a visita é combinar mais de um destino de safári no seu roteiro. Além de se hospedar em estruturas diferentes entre si, estar em regiões distintas proporciona experiências complementares e únicas. Eu incluí três, num total de uma semana de aventuras, todos operados pela gigante Wilderness Safaris.

A rotina do safári é sempre parecida em todos os lodges e acampamentos. Os predadores saem à caça fora das horas de sol escaldante e é nessas horas que devemos fazer o game drive para avistá-los com mais facilidade. Portanto, é necessário levantar-se bem cedo, antes do nascer do sol, para a primeira saída do dia. Toma-se um café da manhã leve e rápido para subir no 4x4 ao amanhecer. Depois, a segunda saída do dia acontece no final da tarde, de novo quando o sol já deu uma trégua, e o carro retorna já na escuridão da noite.

Por essa mesma razão, não é permitido andar desacompanhado até sua tenda nesses horários — ao ama-nhecer e à noite —, a fim de evitar um encontro desnecessário com animais perigosos. Um funcionário do hotel sempre nos acompanha, mesmo pelas passarelas do hotel.

A primeira parada da minha aventura em Botswana foi o Chitabe Camp. Assim como os demais pontos de apoio da minha viagem, as acomodações são tendas resistentes, construídas sobre pisos de madeira distantes do solo e com janelas de vidro e telas anti-mosquito. A sensação de dormir em acampamentos assim é de conexão com a natureza, pois os ruídos não são abafados pelas paredes de quartos de alvenaria. Isso sem abrir mão de segurança e conforto dos

A sensação de dormir em acampamentos assim é de conexão com a natureza, pois os ruídos não são abafados pelas paredes de quartos de alvenaria

hóspedes, com camas confortáveis, um bom chuveiro, uma decoração charmosa e boa vedação como um todo na tenda. Foi no Chitabe onde tive o privilégio de avistar o maior número de predadores durante a minha viagem. Inclusive, algumas das lembranças mais lindas que trago das minhas idas ao continente africano vêm daqui. Entre elas, merece destaque o safári em que me deparei com um leão rugindo banhado pelos raios de sol do amanhecer. A força do seu estrondo reverbera dentro da nossa caixa torácica e nos parece, ao mesmo tempo, tão familiar — talvez pela famosa e antiga vinheta da MGM?! Mas o que impressionou foi que, depois de soltar a voz, o rei da selva teve seu rugido prontamente respondido por outro leão à distância. Foi quando ele se levantou e, tão elegantemente, saiu em direção ao som do seu semelhante. E, nós, claro, o seguimos devagar com o carro e de maneira discreta.

Min utos depois, o grande encontro aconteceu. Os leões se reconheceram; mas não podiam se aproximar. O irmão perdido

estava acasalando com uma fêmea, deitados lado a lado. Outra cena rara de se ver! Ao avistar o macho que chega, o namorador levanta-se e o frisa com um olhar fixo e aterrorizante, desta vez sem esbravejar. “Eles são irmãos”, explica o guia. E continua: “mas não podem se aproximar mais do que isso, pelo segundo estar acompanhado de uma fêmea. Se o primeiro avizinhar-se, eles têm de lutar”.

Mas eles não estavam no clima de brigar pela leoa, não. O primeiro leão, aquele que vi rugir com sua juba dourada pelos raios do primeiro sol da manhã, deitou-se a algumas centenas de metros de distância. O segundo relaxou e fechou os olhos, parecendo-me feliz da vida de estar próximo (mas não muito...) do seu consanguíneo e, também, claro, da sua pretendente. Ah, e a mocinha nem se abalou durante toda essa passagem e manteve sua cara de paisagem, seguida de um belo cochilo! São cenas assim cheias de vida selvagem que nos deixam fascinados pela autenticidade de Botswana.

A força do seu estrondo reverbera dentro da nossa caixa torácica e nos parece, ao mesmo tempo, tão familiar — talvez pela famosa e antiga vinheta da MGM?! Mas o que impressionou foi que, depois de soltar a voz, o rei da selva teve seu rugido prontamente respondido por outro leão à distância

De lá, segui viagem ao Duma Tau, outro acampamento que não tem sua localização exatamente no delta do Okavango, mas na Linyanti Wildlife Reserve, que faz fronteira com o Chobe National Park, e fica junto ao canal Savute na lagoa Osprey, uma das muitas lagoas do sistema de pântanos do Linyanti. De novo, água e mais água.

A sua estrutura fica na margem do rio e tem decks e plataformas, que incrementam a bela vista e, também, protegem (um pouco, ao menos) do acesso de animais ao local. Digo “um pouco, ao menos” porque facilmente se vê elefantes cruzando o rio em frente ao acampamento, de margem a margem, até desaparecerem sobre a água. Apesar de contar também com o safári terrestre no 4x4, não dá para deixar de curtir no Duma Tau os passeios de barco a motor. Vinho branco sul-africano, petiscos, e o pôr do sol que começa em tons de rosa até tornar-se vermelho vivo rabiscando o céu, são os grandes protagonistas desse passeio tranquilo e agradável.

Nas tendas, o metal usado é cobre e o espaço do chuveiro tem uma janela de vidro que permite apreciar a vista. Simples e charmoso. As noites têm a sinfonia dos hipopótamos que estão bem perto. Na água, para ficar bem claro.

Por fim, a última hospedagem da viagem foi no Vumbura Plains, de volta ao delta do Okavango. O mais luxuoso entre os três acampamentos em que estive, com tendas de 95m 2 , piscininha privativa e um chuveiro central protagonista da acomodação, envolto por enormes cortinas brancas, que deixam ao gosto do freguês o quanto deseja banhar-se apreciando a natureza. Dá, ainda, para fazer uma massagem

no deck da sua piscina, como um convite a relaxar ao ar livre e esquecer-se de ficar de olho se algum animal se aproxima!

A gastronomia estilo buffet dos demais hotéis aqui é substituída por à la carte e facilmente nota-se um pouco mais de sofisticação no menu e no serviço. Mas, além do upgrade em termos de estrutura, o que é bem bacana no Vumbura Plains é a experiência com mokoro.

Mokoro é uma canoa típica de madeira, sem motor, usada pelas tribos para deslizar pelas águas calmas e cristalinas do delta do Okavango. O nosso passeio acontece em réplicas de fibra que garantem a mesmíssima sensação.

A minha preocupação eram os hipopótamos, animais territorialistas que mais matam na África e que têm as águas como sua casa. Cheguei até em pensar em desistir, mas acabei topando o desafio.

O passeio, no entanto, foi extremamente tranquilo em todos os momentos e não avistamos nenhum hipopótamo, nem de longe. A razão, segundo os guias, é a profundidade rasa em que a canoa flutua, assim como o guia que vai à frente em uma

canoa só dele, certificando-se de que o caminho está seguro. Faça essa navegação à tarde para aproveitar o pôr do sol. A água lisa o recebe como um espelho, refletindo as cores e nuvens do céu. E, o melhor, num silêncio quase que absoluto, apenas interrompido pelo deslizar suave da canoa e por sapinhos coloridos, tão pequeninos que quase passam despercebidos nos nenúfares (as water lilies), flores lindas que flutuam sobre a água. Uma lembrança inesquecível de um dos momentos mais bonitos e sossegados aos quais já tive a oportunidade de me entregar em uma viagem.

No Vumbura Plains é possível fazer safári de carro também e presenciei muitas cenas que valeram a pena ver. Entre elas, uma alcateia de leões machos e fêmeas repousando na sombra, enquanto os filhotes faziam uma farra entre eles. Corriam, brincavam, rolavam pelo chão. Poderia passar horas e horas apenas os observando; pareciam até animais domesticados e doces!

Vi ainda uma manada de elefantes refrescando-se na água e um filhotinho pequenino mamando, posicionado a menos de dois metros do nosso carro. Um verdadeiro milagre da natureza.

Por fim, mas não menos importante, merece destaque o povo de Botswana. São diferentes tribos, que têm entre si uma cordialidade e um carinho em nos receber que nos tocam o coração e a alma. Aproveite para se desconectar — não tem wi-fi nos acampamentos — e entregue-se a um paraíso fincado no continente africano!

Quem leva:

Magari Blu Viagens www.magariblu.com Tel: 11 3062 7784

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