seja para cima ou para baixo do espaço literário (...). O tempo e o espaço do conto têm de estar como que condensados [...]” No conto, dado seu limite físico, o tempo e o espaço estão concentrados no engendramento de um só momento. A leitura, por sua vez, caminhando pela descontinuidade do ensaio e pela momentaneidade do conto, é convidada a criar essas temporalidades através do tempo da leitura, aquele tempo que opera uma síntese memorial, como afirmou Nunes anteriormente. Até aqui, as várias simultaneidades: simultaneidade de autor e leitor; narrativa e leitura; poética da narrativa e poética da leitura; ensaio e conto. No interior dessa simultaneidade: tempo da linguagem; tempo da escritura; tempo da leitura; tempo do ensaio e tempo do conto. Falta entender esses tempos em relação ao tempo-tema, e todos no interior da simultaneidade da poética. Para tanto, serão lidos contos que tematizem certa temporalidade, e ensaios que reflitam sobre alguma questão temporal, levando em consideração como os tempos mencionados relacionam-se nesses contos-ensaios.
A histórica eternidade O ensaio Historia de la Eternidad (Borges, 1994a, p. 353-367), do livro homônimo, tem como objeto principal o conceito de eternidade, e por isso pode ser escolhido nesta etapa de nossa reflexão que introduz o tempo-tema na discussão acerca da relação entre os tempos no interior da simultaneidade da poética. Mas, para compreender o tempo-tema em relação aos tempos anteriormente mencionados, é preciso que o tempotema faça parte também da simultaneidade ensaio-conto. Por isso, ao lado do ensaio leremos o conto Aleph, que também apresenta um tempo-tema, a simultaneidade, uma das qualidades da eternidade. Em Historia de la Eternidad, o autor declara o propósito de historiar a eternidade, entendendo-a como imagem “[...] hecha con sustancia de tiempo” (Borges, 1994a, p. 353). Por isso, para falar de eternidade, é preciso, primeiro, falar sobre o tempo: “[...] misterio metafísico, natural, que debe preceder a la eternidad, que es hija de los hombres” (Borges, 1994a, p. 353). Além de que, só se pode pensar a eternidade pela linguagem, que é temporalmente sucessiva, 35